JORNADAS INTERNACIONAIS FICPM – ASSIS 2-5 MAIO 2013
ATELIÊ 7 - «AS PAUSAS»
O ACOMPANHAMENTO DOS FORMADORES NO SEU CAMINHO
COM OS NOIVOS E COM OS CASAIS EM DIFICULDADE
PERSPECTIVAS TEOLÓGICAS
AS CRISES E OS CONFLITOS VISTOS DO PONTO DE VISTA DE DEUS
Coordenador: Carlo Beltramo - CPM Turim (Itália)
Carlo Beltramo, casado desde 1972 com Anna, aposentado desde 2003, entrou para o CPM em
1977, faz parte duma equipa paroquial e com a sua mulher está empenhado em várias
actividades diocesanas no domínio da pastoral da família e da formação dos operadores de
pastoral. Enquanto CPM Nacional com Anna foram casal secretário de 2008 a 2012 e casal
delegado à FICPM de 1996 a 2003. Em 2010 obteve a licenciatura em ciências religiosas na
faculdade de teologia de Turim.
Introdução
Como o P. Raymond disse na sua introdução à « Mesa Redonda », as crises e os
conflitos estão estreitamente ligados à vida. Mas esta afirmação será válida somente
nas relações humanas ou será que Deus também tem qualquer coisa a dizer-nos a
este respeito? Na história, como geriu Ele a sua relação com o ser que tinha criado e
de quem tanto se orgulhava ?
Para ter uma resposta a esta questão basta referirmo-nos às primeiras páginas da
Bíblia. Com efeito, já em Gn 3 esta relação entra em crise e Adão não hesita em
descarregar sobre Eva todas as suas culpas: « Foi a mulher que trouxeste para junto
de mim que me ofereceu da árvore e eu comi ». A culpa é sempre do outro, nunca é
nossa!
Esta crise da relação Deus-homem não termina aqui, e continua até atingir níveis
incríveis. No capítulo 6 vemos Deus que passa de juiz a vingador para resolver o seu
conflito com a humanidade: « Yahvé arrependeu-se de ter criado o homem sobre a
terra e o seu coração sofreu amargamente. E Yahvé disse “Eliminarei da face da Terra
o homem que Eu criei” » (Gn 6,6-7). Mas depois de ter cumprido a sua promessa,
reconheceu a sua derrota e propôs unilateralmente, a Noé e à sua descendência, uma
aliança de reconciliação, que torna visível por um símbolo: o arco da aliança (arcoíris). O tema da aliança aparece muitas vezes na Bíblia e é a maneira que Deus tem
para dizer: Façamos a paz ?!
Há muitos outros exemplos para descrever esta relação entre Deus e o seu povo,
relação que está sempre em tensão, cheia de disputas, mas ao mesmo tempo em
procura contínua, recíproca, e de disponibilidade da parte de Deus para recomeçar: é
sempre Ele que dá o primeiro passo.
O episódio que melhor pode descrever como se desenrola esta relação é o do Êxodo.
Aí está Deus que não é insensível à injustiça sofrida pelo seu povo e que toma a
decisão de intervir, de se envolver : declara-se e garante a sua presença. Mas a
travessia do deserto para a terra prometida estará repleta de momentos de crise e de
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conflitos: « Os filhos de Israel disseram-lhes: “Quem dera que tivéssemos morrido
pela mão de Yahvé na terra do Egipto, quando estávamos descansados junto da
panela de carne, quando comíamos com fartura! Mas vós fizestes-nos sair para este
deserto para fazer morrer de fome toda esta assembleia!” » (Ex 16,3), repleta de
traições, de falta de confiança (a água saída do rochedo): « Ele deu àquele lugar o
nome de Massá e Meribá, por causa do litígio dos filhos de Israel, e por terem posto
Yahvé à prova, dizendo: “Está Yahvé no meio de nós ou não?” » (Ex 17,7). Mas
apesar de tudo Deus oferece ao seu povo a ocasião para a reconciliação propondo-lhe
uma nova aliança. Contudo teve de a renovar imediatamente a seguir por causa da
traição do povo (o bezerro de ouro – Ex 32) no mesmo momento em que Ele a dá.
Esta aliança já não será unilateral e gratuita, mas ficará ligada ao respeito por
«regras» bem precisas, os mandamentos. Mas apesar disso, Deus quer ficar perto do
seu povo e manda construir-lhe uma tenda. Tenda que se torna o lugar de intimidade
com Deus: é a casa de Deus que caminha com o seu povo. Tenda, símbolo não
apenas da precariedade e dum caminho itinerante, mas também símbolo de
acolhimento e de hospitalidade. A tenda é o lugar onde se desenrola a vida, lugar da
formação da consciência, das explicações, das relações, da construção da
comunidade.
Em seguida os profetas, ao ler a história do caminho de Israel à luz da Palavra de
Deus, irão comparar a relação com Deus com uma relação nupcial, nem sempre fácil,
disseminada por momentos de crise, de traição, de conflitos, mas sempre com Deus
que nunca abandonou o seu povo e que sempre procurou educá-lo e fazê-lo voltar a
Si. Um exemplo a este respeito vem-nos do livro do profeta Oseias, que, dirigindo-se
ao seu povo que tinha traído, exclama: « Então, te desposarei para sempre;
desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. Desposar-te-ei
com fidelidade, e tu conhecerás Yahvé. » (Os 2,21-22).
Mas é no Novo Testamento que encontramos a mudança decisiva da iniciativa de Deus
para com a humanidade: a Nova Aliança realiza-se por um dom imenso, gratuito
como foi o primeiro, mas já não sobre dois planos distintos, céu e terra (arco-íris). É o
próprio Filho de Deus que se faz homem para nos dar a conhecer o rosto de Deus.
Jesus diz-nos : « Quem crê em Mim não é em Mim que crê, mas n’Aquele que me
enviou, e quem me vê a Mim, vê Aquele que me enviou » (Jo 12,44-45). E é ainda
Jesus que, no fim da sua vida, nos dá a chave para abrir todas as portas e resolver as
crises e os conflitos : nas despedidas do Evangelho de S. João, diz: « Dou-vos um
novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros
assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos:
se vos amardes uns aos outros. » (Jo 13,34-35).
Algumas questões: na sociedade secularizada em que vivemos, onde a fé é
principalmente vivida como uma experiência pessoal, que incidência pode ter, sobre
os problemas de crise e de conflito, um caminho de reflexão que parte da análise da
relação nupcial Deus – povo eleito, Cristo - Igreja?
Segundo a vossa experiência, que citação bíblica, de entre as mencionadas, ou outras,
será capaz de estimular nos noivos ou nos jovens casais uma reflexão sobre o tema
da crise e do conflito? Como apresentá-la?
Carlo Beltramo
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