O cinema independente brasileiro vive uma crise que pode levar ao seu
fim. A crise não é apenas do cinema “autoral”, mas de um vasto leque de
filmes, desde os mais experimentais, passando pelos documentários de
longa metragem, até filmes de médio porte de arte e de gênero; ou seja
tudo que não seja o cinema comercial de grande porte (os blockbusters
nacionais).
Sabemos que no mundo todo esse tipo de filme passa por um momento
difícil, mas também sabemos que diversos países adotaram medidas
eficazes para sua preservação, reconhecendo a importância de se ter um
audiovisual diversificado.
O público e número de salas de cinema no Brasil continuam aumentando
num ritmo maior que a economia mas a participação do nosso cinema
tem diminuído, apesar de resultados expressivos concentrados em
algumas comédias. Bons filmes médios com sucesso em festivais têm
resultados ruins e uma grande parte deles não chega sequer a mil
espectadores nas salas de cinema. Filmes de interesse segmentado nem
chegam ao mercado, ou passam desapercebidos. Não há segunda e
terceira janelas expressivas. Claro que há alguns casos esporádicos de
relativo sucesso de filmes menores, afinal toda regra tem sua excessão,
mas num outro contexto mesmo esses resultados poderiam ser bem
melhores.
Esta é a crise de um modelo que relega o cinema independente a segundo
plano, que não regula o mercado e não investe na formação de público.
Algumas distribuidoras acumulam vários sucessos seguidos e dão a
impressão inicial de fortalecimento do setor, mas esta vertente não tem se
mostrado regular nem consistente e não está promovendo diversificação,
nem mudança.
O caráter e a política do financiamento público atual toma o retorno
econômico imediatista como parâmetro predominante na decisão de
financiamento, mesmo nas linhas não voltadas para filmes comerciais.
Ainda que existam critérios como qualidade artística na seleção dos
projetos, o que se vê na prática é um privilégio ao retorno comercial até
mesmo na linha de "Inovação de Linguagem"(!), o Prodecine 5 do FSA.
Não somos contra o modelo de Fundo Retornável ou o próprio FSA.
Saudamos sua criação e defendemos seu fortalecimento e permanência,
mas com uma reformulação da sua burocracia, tramitação formal,
critérios de avaliação, de retorno financeiro e com novas prioridades.
É também fundamental nos voltarmos à exibição e passar a regular de
fato esta atividade. O que se vê num mercado dominado por grandes
grupos, majoritariamente estrangeiros, é que o cavalo do mercado pegou
o freio nos dentes e disparou solto. E quando, no ano passado, a Ancine
resolveu patrocinar um “acordo de cavalheiros”, visando limitar os mega
lançamentos, ele não durou seis meses. Medidas contra a concorrência
predatória precisam ser implementadas, e são muitas as possibilidades
neste terreno.
Paralelamente ao “laissez faire” adotado para o mercado exibidor, a
Ancine tomou diversas atitudes nos últimos anos para controlar e limitar
o retorno dos resultados da produção, seja nas rendas dos filmes ou nos
próprios orçamentos de produção, com a criação e a reformulação de
várias regras através das Instruções Normativas, diligências punitivas e a
publicação do confuso Regulamento Geral do FSA, onde os próprios
gestores não conhecem ou conseguem explicar diversas regras. Hoje até
quando um filme vai bem e "dá dinheiro", o produtor continua
descapitalizado, pois sua participação na renda é ínfima. Cada vez que
um representante da Ancine fala em "buscar a sustentabilidade" do
mercado cinematográfico, há que se perguntar: “De quem”? Queremos
discutir de forma real como isso é possível para a produção como um
todo, pois nada nos interessa mais do que a sustentabilidade.
As salas de cinema são valorizadas por abrir espaços para as outras
janelas de veiculação, que costumam reproduzir seu sucesso ou fracasso.
Mas com a ampliação dos meios de reprodução audiovisual os meios
eletrônicos tendem a se expandir e criar força própria. É necessário que o
Cinema Brasileiro caminhe junto com esta transformação, pois estamos
atrasados e precisamos recuperar o terreno perdido até aqui.
Como exemplo de possibilidade de atuação em outros segmentos, basta
olhar para a conquista fundamental que foi a Lei da produção audiovisual
brasileira nas TVs por assinatura. Esta iniciativa pioneira tem agora pela
frente o desafio da implementação e consolidação de programação
brasileira que, esperamos, se fortaleça e traga um sopro de independência
e novidade cultural. Que vá além do financiamento concentrador de
produção e recursos nos mesmos e repetidos agentes. Que sirva para o
despertar do entretenimento cultural e artístico original, e vá além do
conceito simplista de volume de participação de mercado em moldes já
pré-estabelecidos e repetitivos.
Nesse sentido, precisamos dirigir um olhar para as iniciativas que
possibilitem a presença da produção brasileira nos mercados de acesso ao
audiovisual sob demanda. É fundamental a universalização do Cinema
Brasileiro nestas plataformas que podem representar uma vertente de
democratização e diversificação da nossa produção.
A nova diretoria da APACI está focada em garantir a sobrevivência do
cinema realmente independente no Brasil. Nesse sentido atuaremos em
duas frentes principais:
PRODUÇÃO
Lutar para aprimorar e transformar o financiamento da produção de
cinema no Brasil, tanto estruturalmente como pontualmente,
diversificando as fontes de financiamento, valorizando o produtor
independente, desburocratizando e revendo as condições.
Fortalecer a participação na SPCine, reforçar sua independência e a
criação de critérios próprios e adequados ao cinema de São Paulo.
Junto à Ancine, fazer gestões visando a necessidade de transformar o
FSA: júri e regras específicas com mais recursos para cinema
independente e criação de linhas para documentários de longa metragem.
Voltar esforços para fazer valer a necessidade de aumentar os recursos e
estimular alternativas de distribuição para filmes pequenos e médios,
valorizando a possibilidade de formação de novas distribuidoras, e
estímulo às iniciativa dos produtores que empreenderem neste setor.
Atuar para impulsionar as ações para formação de público. Insistir na
importância da volta da recuperação prioritária com cálculo baseado na
rentabilidade real do mercado, para valorizar o produtor como
empreendedor dos filmes.
EXIBIÇÃO / DISTRIBUIÇÃO
Defender a criação e a manutenção de espaço nas salas de cinema para
nossos filmes e trailers, lutar para abrir novas janelas e possibilidades de
exibição, inclusive novas salas.
Cobrar a regulamentação e fiscalização do mercado de exibição,
promover ações de formação de público e promover uma melhor
interface dos cineastas paulistas com os distribuidores e as TVs.
Vamos lutar pela criação de ações de formação de público (a exemplo do
extinto programa Vá ao Cinema), de mais espaço em cinema para nossos
filmes (aumento da cota de tela, criação de cota de trailer de filmes
nacionais, abertura de circuitos alternativos), novas tecnologias (portal de
filmes paulistas no sistema VOD), promover uma maior inserção na TV a
Cabo, incentivar a criação da cota obrigatória de filmes nacionais na TV
aberta, promoção de rodadas de negócios com distribuidores e TVs,
regulamentação para os abusos do mercado (acordo blockbusters, por
exemplo), estabelecimento dos critérios de compra do MEC para filmes
brasileiros em cumprimento à Lei 13.006/2014, que determina a exibição
de filmes nacionais em escolas públicas.
Pretendemos atuar de forma democrática e em constante diálogo com as
entidades do setor, a começar pela própria ANCINE e FSA, SAV/Minc,
CSC, SPCine, Governo do Estado, Abraci, SIAESP, ABPITV, ABD,
entre outras, afinal acreditamos que todos têm a ganhar com a
diversificação de nosso mercado.
Claro que não vamos abrir mão de pontos e bandeiras históricos da luta
no Cinema Brasileiro e ações emergenciais como a luta pela preservação
do Fomento do Estado, a preservação do acervo e da memória de filmes
(principalmente a Cinemateca Brasileira), fortalecimento do
documentário de longa-metragem (com a continuidade do trabalho do
GTDoc e a luta por calhas específicas ou cotas nos editais), a
regulamentação do direito autoral do realizador e dos roteiristas, o
fortalecimento da SAV e do Conselho Superior de Cinema, entre outros.
Para isso tudo, precisaremos contar com a ajuda dos associados em nossa
luta, afinal assim como a maioria de vocês, somos todos cineastas
extremamente atarefados, mas apaixonados pelo cinema.
CHAPA:
Presidente: Flavio Frederico
Vice: Gustavo Steinberg
Secretario Geral: Ricardo Elias
Tesoureiro: Alain Fresnot
Diretoria Federal: Ícaro Martins “Kiko"
Diretoria Federal: André Klotzel
Diretoria do Estado: Roberto Gervitz
Diretoria do Estado/Outras mídias: Marcelo Masagão
Diretoria Municipal: Rubens Rewald
Diretoria TV/ Documentário: Sergio Roizemblit
Diretoria TV/ Documentário: Marcelo Machado
Conselheiros:
Beatriz Seigner
Eric Boullier
Luiz Alberto Gal Pereira
Renata Druck
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Nova Diretoria_ Propostas - APACI – Associação Paulista de