Local de Recepção e Mobilidade Residencial em Juiz de Fora, Minas
Gerais – estudo de caso dos indivíduos e famílias do Alto Santo Antônio*
Nathan Belcavello de Oliveira•
Palavras-chave: Local de Recepção; Mobilidade Residencial; Cidade Média.
Resumo
O trabalho faz parte de uma pesquisa realizada durante nosso curso de graduação em
Geografia na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, que culminou em uma
monografia, apresentada para conclusão de nosso curso na modalidade de bacharelado. Tem
como objetivo analisar: a) a mobilidade residencial da população de baixa renda de Juiz de
Fora, Minas Gerais, partindo da primeira localização dos indivíduos nascidos em outros
municípios, principalmente dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro (onde cunhamos o
termo local de recepção, que será desenvolvido neste artigo); b) a formação de suas famílias
em Juiz de Fora e seus deslocamentos entre residências até se localizarem no Alto Santo
Antônio, onde aplicamos um questionário por amostragem que levantou o perfil sócioeconômico das famílias, bem como dados sócio-ambientais e da mobilidade residencial.
Realizamos nossas análises, baseados na dinâmica sócio-econômica do espaço intraurbano juizforano nos dois últimos decênios do século XX e início do século XXI,
relacionada com a inserção da cidade na lógica produtiva do capital globalizado, subsidiada,
por sua vez, pela ideologia neoliberal.
Ressaltamos nossa crença no conhecimento da mobilidade residencial como
potencializador a um planejamento e gestão urbanos mais criteriosos e democráticos, que
gerem as condições de igualdade no oferecimento de infra-estrutura e serviços intra-urbanos a
toda população juizforana, além de compor, juntamente com a Geografia, um conhecimento
aprimorado do espaço intra-urbano, principalmente das cidades médias brasileiras.
*
Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu –
MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.
•
Geógrafo do Ministério das Cidades/ Secretaria Nacional de Programas Urbanos/ Diretoria de Planejamento
Urbano – [email protected]
1
Local de Recepção e Mobilidade Residencial em Juiz de Fora, Minas
Gerais – estudo de caso dos indivíduos e famílias do Alto Santo Antônio*
Nathan Belcavello de Oliveira•
Introdução
O presente artigo é um desdobramento de uma monografia elaborada como trabalho
de conclusão do curso de bacharelado em Geografia, pela Universidade Federal de Juiz de
Fora, defendida em janeiro de 2006.
Tem como objetivo discorrer sobre as relações encontradas entre o local de recepção
dos indivíduos não-nascidos em Juiz de Fora, Minas Gerais, das famílias do Alto Santo
Antônio na Área Urbana do Distrito Sede do município e os eixos de ligação rodoviária com
seus locais de nascimento, em especial os nascidos em municípios do Rio de Janeiro e de
Minas Gerais (excetuando Juiz de Fora). Também procura introduzir o debate relacionado ao
local de recepção e sua importância no estudo do espaço intra-urbano e suas dinâmicas sócioespaciais, tais como a mobilidade residencial, aqui salientada.
Desde já apontamos um problema dos levantamentos que realizados na pesquisa: não
procuramos registrar o município de residência anterior a Juiz de Fora, o que poderia ter nos
auxiliado melhor nas análises que agora elaboramos. Contudo, mesmo tendo somente dados
relacionados com o local de nascimento dos indivíduos, isto não impediu de encontrarmos
relações, no mínimo, interessantes entre o local de recepção e os eixos de ligação da cidade
com os municípios de nascimento das pessoas que habitavam o Alto Santo Antônio em junho
de 2004.
Resolvemos dividir o texto em quatro partes. A primeira trata dos conceitos em
relação à mobilidade residencial e local de recepção. A segunda analisa apresenta algumas
informações sobre Juiz de Fora, relacionados, sobretudo, à dinâmica sócio-econômicoespacial de seu espaço intra-urbano. Por sua vez, a terceira parte analisa os dados do local de
recepção dos indivíduos nascidos em municípios do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Por fim,
fazemos algumas considerações finais sobre o artigo.
1. Mobilidade residencial e local de recepção
Parece-me desnecessário iniciarmos a explanação a respeito da mobilidade residencial
afirmando a importância de tal fenômeno sócio-espacial na estruturação interna da cidade,
“afinal, cada novo imóvel deve ser ocupado por alguém, proveniente de algum lugar, em
geral da própria cidade” (SMOLKA, 1994, p. 241).
Para Cadwallader, citado em Magalhães et Carvalho (2002, p. 1),
a mobilidade residencial urbana pode ser interpretada como sendo fenômeno do
mercado residencial, com as famílias mudando seu estoque de moradias, à medida
que experimentam mudanças, tanto no status familiar, quanto no status
socioeconômico.
*
Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu –
MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.
•
Geógrafo do Ministério das Cidades/ Secretaria Nacional de Programas Urbanos/ Diretoria de Planejamento
Urbano - [email protected]
2
Por sua vez para Simmons, mencionado em Magalhães et Rios-Neto (2004), a
mobilidade residencial viria a ser, por vezes, a concretização espacial da mobilidade social.
Em Luciana Corrêa do Lago (2000), citando Brand et Brulhardt, a mobilidade
residencial seria considerada como um deslocamento à curta distância, parte da mobilidade
espacial que também englobaria as migrações, sendo este o conceito mais aproximado que
encontramos da mobilidade residencial enquanto fenômeno espacial.
Outrossim, a mobilidade residencial pode ser considerada “como uma das muitas
dinâmicas sócio-espaciais intra-urbanas1, caracterizada por um movimento de alteração do
status quo espacial de um indivíduo ou família, quase sempre de direção única, feito de
maneira súbita, entre dois pontos do espaço intra-urbano, ou seja, é o deslocamento entre a
moradia original e a nova; motivado por condicionantes as mais variadas possíveis, sem
dúvidas, parte integrante da mobilidade espacial do indivíduo, a que se acrescentam também
migrações em escalas espaciais maiores (interurbanas, campo-cidade, cidade-campo,
interestaduais, inter-regionais, etc.) e deslocamentos pendulares” (OLIVEIRA, 2006, p. 23).
Neste contexto, o local de recepção surge como sendo o “ponto de ligação” entre a
mobilidade residencial e as demais mobilidades de escalas espaciais maiores, conforme
exemplificadas na citação acima. O local de recepção é a primeira residência do indivíduo ou
família imigrantes no espaço intra-urbano. A partir deste inicia-se os deslocamentos intraurbanos característicos da mobilidade residencial.
Acreditamos que a determinação do local de recepção sofre a influência da segregação
sócio-espacial, uma vez que aquele variará de acordo com a classe social do indivíduo ou
família imigrante. Ou seja, considerando o poder aquisitivo do indivíduo ou família
imigrante, estes serão “levados” a habitarem lugares específicos (favelas, cortiços, entre
outros no caso das classes menos favorecidas e apartamentos, condomínios e loteamentos
fechados, etc. para os de status privilegiado) em detrimento de outros, dada as características
sócio-econômicas. Todavia, outras influências podem ser listadas para a determinação do
local de recepção, entre as quais relacionadas ao parentesco, à cultura, à etnia, entre muitas
outras. Assim notamos que o local de recepção é determinado por características do indivíduo
ou família imigrantes e por características das dinâmicas sócio-espaciais da cidade receptora.
Por último (não expressando que exaurimos a listagem de influências na determinação
do local de recepção, mas que vamos dar destaque às que enfocamos neste artigo),
sublinhamos uma dupla influência que detectamos na determinação do local de recepção dos
imigrantes em Juiz de Fora, arrolada com os eixos de ligação rodoviária da cidade com os
municípios de nascimento dos indivíduos das famílias do Alto Santo Antônio, nosso estudo
de caso, e pela dinâmica sócio-econômica da cidade no último decênio do século XX e início
do século XXI.
2. Juiz de Fora nos dois últimos decênios do século XX e início do XXI
Juiz de Fora, principal cidade da Mesorregião da Zona da Mata Mineira e uma das de
maior destaque econômico de Minas Gerais, localiza-se no sudeste do estado mineiro,
estando entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte (vide mapa 1). Tem uma população estimada
em 501.153 habitantes residentes (IBGE, 2005).
Como em boa parte das cidades médias, Juiz de Fora experimentou um crescimento
populacional de destaque, sobremaneira no desenrolar das duas últimas décadas. Tal
crescimento se deve, majoritariamente, aos saldos positivos de migração, que já contribui
1
Utilizamos o termo intra-urbano, baseados em Villaça (2001), que justifica seu uso na distinção entre as
dinâmicas relacionadas ao “interno” das cidades, devido ao comprometimento dos termos espaço urbano,
estrutura urbana, dinâmicas urbanas, etc., ou seja, à palavra urbano (que já bastaria como expressão satisfatória
para explicação dos fenômenos e elementos internos de uma cidade) com relação ao estudo regional.
3
historicamente para o crescimento demográfico da cidade, devido, principalmente, à
atratividade que o município exerce na região, uma vez que, entre os imigrantes cerca de 88%
(considerando as décadas de 1980 e 1990) são provenientes do sudeste mineiro e de áreas
fluminenses próximas à divisa do Estado, fortemente polarizadas pela cidade (MACHADO,
1997).
A cidade também possui uma população flutuante2 consideravelmente elevada, que
procura e utiliza os equipamentos urbanos, bens, serviços e empregos nela encontrados.
Juiz de Fora sempre desempenhou atração econômica por questões distintas em cada
período, contudo a atratividade recente está ligada, basicamente, a dois aspectos: a) o
surgimento, sobretudo na década de 1990, de uma série de instituições de ensino superior e
2
“Consideramos como população flutuante toda a população que não possui sua moradia definitiva em Juiz de
Fora, mas que permanece na cidade durante os dias úteis e volta aos seus municípios de origem nos finais de
semana, ou por um período mais longo, para fazer um curso superior, por exemplo, e retornam para os locais
originários, como, também a população que faz a migração pendular, saindo de municípios circunvizinhos para
trabalhar e/ou utilizar os equipamentos urbanos, comércio e serviços” (OLIVEIRA et MENEZES, 2004, p. 6).
4
técnico privadas, além da ampliação de vagas e a criação de novos cursos de graduação e
pós-graduação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), estabelecida desde 1960; e b)
a reestruturação territorial por que o município passou, principalmente na última metade do
quartel final do século XX (preparando-se para sua inserção no sistema produtivo
globalizado), induzindo a investimentos do capital mundial.
O município, no final da década de 1980 e durante o decênio de 1990, assistiu a
preparação de seu território para inserção no sistema produtivo globalizado, com a
esperança de sair de um longo período de decadência econômica e industrial
(OLIVEIRA, LOURES et CASTRO, 2005: 10773).
Todo o movimento de reestruturação territorial e de investimentos do capital mundial
é responsável por um drástico acirramento das alterações do espaço intra-urbano juizforano,
especialmente ao que tange aos interesses imobiliários/especulativos e à segregação sócioespacial. “Em par com a chegada do capital globalizado a Juiz de Fora, as conseqüências
sobre o espaço intra-urbano passam a ser percebidas” (OLIVEIRA; LOURES et CASTRO,
2005: 10774).
A chegada dos investimentos do capital mundial e o surgimento de novas linhas de
financiamento (agraciadas pela entrada da cidade no sistema econômico mundial) dinamiza o
mercado imobiliário, renovando-o com o intuito de abarcar a população vinculada à produção
globalizada, o que provoca a efervescência de novos produtos imobiliários por parte dos
agentes empreendedores deste setor.
Dessa maneira, no período aqui analisado, vemos se delineando três vetores principais
de pretensão dos interesses imobiliários/especulativos e de importante tendência a
crescimento demográfico (vide mapa 2).
O primeiro abrange a Regiões de Planejamento (RP’s) de Benfica e Barreira do
Triunfo. Uma característica é a concentração da maior parte das indústrias, como a
montadora da Daimler Chrysler e a Paraibuna de Papéis, pois os distritos industriais
se localizam nele, possuindo fácil e direto acesso com a BR 040, sendo a principal
saída da cidade em direção à Belo Horizonte. Estas RP’s, aparentemente, têm se
destinado à construção de residências para classe média, principalmente empregada
nas indústrias ali localizadas local, o que justificaria tal tendência. Por sua vez, o
segundo vetor abarcaria a RP do Grama (com tendência a atender tanto a classes
médias, quanto a altas), principalmente relacionado ao fácil acesso ao Centro em
sua parte mais ao sul. O terceiro, claramente destinado à construção de moradias
para classes com alto poder aquisitivo, compreende a RP de São Pedro e em parte
da RP do Cascatinha, região também denominada de Cidade Alta. Inicialmente o
preço do solo local era relativamente baixo, o que favoreceu em muito a
especulação imobiliária. Contudo, foi se valorizando devido ao fácil acesso com o
Centro e com a BR 040. Também se valoriza pelos equipamentos urbanos ali
locados (campus da UFJF, por exemplo), pelos atrativos naturais (vegetação ainda
protegida, clima mais ameno), além de uma diversidade de locais de
entretenimento, sobretudo, destinados a jovens e adultos (bares e casas de show).
Este vetor é o que concentra o maior número de loteamentos fechados (OLIVEIRA,
2006, p. 61-62).
Não obstante, ressaltamos que todos os vetores de investimentos imobiliários possuem
populações de baixa renda, principalmente em suas áreas mais distantes do Centro e em suas
encostas, muitas das quais, variando a quantidade de caso para caso, estabelecidas em
assentamentos de submoradias.
Sendo assim, de acordo com o período, cada região da área urbana de Juiz de Fora
serviu como local de recepção para determinada classe social, baseando-se em interesses
endógenos e exógenos à cidade e aos indivíduos.
5
6
7
3. Local de recepção dos indivíduos das famílias do Alto Santo Antônio –
estudo de caso
No Alto Santo Antônio, inicialmente uma invasão realizada no início da década de
1990, foi aplicado questionários sobre uma amostra de 124 famílias. Entre estas famílias, 87
possuíam um ou mais indivíduos não-nascidos em Juiz de Fora, totalizando 167 pessoas. Do
total de indivíduos que tiveram outros municípios como local de nascimento, 140 são
provenientes de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. O restante era da Bahia (12 indivíduos),
Ceará (9), Espírito Santo (1) e São Paulo (7). Dada a supremacia absoluta de indivíduos,
resolvemos ater nossas análises ao conjunto de indivíduos nascidos em municípios de Minas
Gerais e Rio de Janeiro. Essa análise em particular também procura salientar um fenômeno
que percebemos quando espacializamos os dados contidos nos questionários. A tabela 1
distribui entre as doze Regiões de Planejamento (RP’s), o Alto Santo Antônio e por período
os 140 indivíduos nascidos em municípios do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.
Tabela 1 – Local de recepção dos indivíduos das famílias do Alto Santo Antônio por
tempo de moradia em Juiz de Fora
Região de
Planejamento
Barreira
Represa
Grama
Linhares
Lourdes
Santa Luzia
Centro
Cascatinha
São Pedro
Santa Cândida
Benfica
Igrejinha
Alto Santo Antônio
Total
Fonte: QASA, 2004.
Período (anos)
10 |- 15
15 |- 20
0-5
5|- 10
> 20
0
0
5
2
6
7
6
1
0
0
5
0
13
0
0
0
4
19
2
2
3
1
0
4
0
3
0
0
3
2
6
3
3
0
0
0
0
3
0
0
0
0
1
9
0
2
0
0
0
4
0
0
0
0
4
4
6
2
0
0
0
0
5
0
0
45
38
20
16
21
Σ
0
0
12
13
46
14
13
4
1
0
18
3
16
140
Com os dados desta tabela, e considerando o mapa 3, que distribui os municípios de
nascimento dos indivíduos em 4 eixos de ligação rodoviário de Juiz de Fora (MG 353; BR
116; BR 040 RJ – rodovia sentido Rio de Janeiro; e BR 267 BH – BR 040, sentido Belo
Horizonte, além da BR 267, sentido Sul de Minas), elaboramos os mapas 4 a 9, conjugando,
de acordo com a porcentagem de participação, as quatro tonalidades de cada eixo de ligação
(MG 353 – ciano; BR 116 – amarelo; BR 040 RJ – magenta; e BR 267 BH – preto) em cada
RP.
8
O mapa 4 reúne todos os indivíduos, segundo seus locais de recepção, sem considerar
o período de moradia em Juiz de Fora. Como este aparentemente desvela, há uma relação
entre o local de recepção em Juiz de Fora e a ligação rodoviária entre os municípios de
nascimento daqueles naturais de Minas Gerais e Rio de Janeiro. As RP’s que participam no
recebimento de indivíduos imigrantes da amostra do Alto Santo Antônio seguem o
direcionamento dos eixos de ligação rodoviário que estabelecemos. As únicas exceções são a
RP de Lourdes (que tende a um equilíbrio percentual de todos os eixos), e a de Igrejinha (que
apresenta uma tendência acentuada ao eixo da MG 353, mesmo estando mais próxima do
eixo da BR 267 e BR 040, sentido Belo Horizonte).
As RP’s de Santa Luzia, do Cascatinha e de São Pedro receberam a maior parcela de
pessoas provenientes de municípios do eixo da BR 040, sentido Rio de Janeiro (BR 040 RJ)
como as tonalidades de magenta podem confirmar. Entretanto, Cascatinha recebeu também
indivíduos do eixo da BR 116, enquanto Santa Luzia recepcionou, juntamente com aquelas
do eixo BR 040 RJ, as do eixo BR 267 BH.
9
A RP do Grama apresenta patente vinculação ao recebimento de indivíduos nascidos
nas cidades do eixo MG 353, com o matiz ciano preponderando, existindo uma suave
tendência de tonalidade magenta, o que leva a considerarmos o recebimento de população do
eixo BR 040 RJ secundariamente.
Clara também fica o estabelecimento das RP’s de Linhares, Centro e Benfica como
locais de recepção principais dos nascidos em municípios do eixo da BR 116, que é ligada a
Juiz de Fora pelo trecho da BR 267 conhecido como estrada de Bicas. Benfica, como pode
ser visto através da tonalidade mais escura, tende a ser, preferencialmente, também local de
recepção de imigrantes nascidos em cidades do eixo BR 267 BH.
Todas as análises feitas coincidem com os acessos que a área urbana tem com os
quatro eixos estabelecidos, como pode ser visto no mapa 4 do capítulo 4, fundamentando a
relação feita entre os locais de recepção e os eixos rodoviários de ligação de Juiz de Fora com
os municípios de nascimento dos imigrantes do Alto Santo Antônio.
10
Não obstante, ao considerarmos os locais de recepção segundo o período de moradia
em Juiz de Fora, descrito nos mapas de 5 a 9, notamos que a relação inicial com os eixos de
ligação rodoviária se modifica em alguns casos, tendendo muito mais a predominância de
alguns grupos de municípios por período.
O mapa 5, que considera os locais de recepção dos que moram na cidade a cinco anos
ou menos, mostra uma certa continuidade na relação entre o local de recepção e os eixos de
ligação rodoviária. A RP do Grama é predominantemente local de recepção de indivíduos
nascidos em municípios da MG 353. Já Linhares, Centro são local de recepção absoluto de
indivíduos naturais de municípios da BR 116. Benfica demonstra forte tendência como local
de recepção dos da BR 262 BH. Santa Luzia, por sua vez, apresenta-se, claramente, como
local de recepção das pessoas nascidas em municípios da BR 040 RJ. A RP de Lourdes
recebeu indivíduos da BR 116, mas também uma boa parcela daqueles da BR 267 BH, dada a
11
tonalidade mais escura. A única RP que destoa da relação com o eixo de ligação no mapa 5 é
a do Cascatinha, que recebeu pessoas exclusivamente da BR 116.
Já o mapa 6, dos que habitam Juiz de Fora a mais de cinco até dez anos, demonstra
uma predominância de pessoas vindas de municípios da BR 040 RJ, coincidindo também
com os eixos de ligação, uma vez que este conjunto teve como local de recepção as RP´s de
Santa Luzia, Cascatinha, São Pedro e Centro, mais próximas à saída para o Rio de Janeiro. Já
os demais não oferecem uma relação clara com as saídas de seus respectivos eixos de ligação.
Também o mapa 7 trás uma similaridade analítica, conforme a anterior, em relação aos
nascidos em municípios da MG 353, sendo o predominante no período de moradia superior
há dez anos até aos quinze.
O mapa 8, do período de moradia na cidade superior há quinze até vinte anos,
concentra os indivíduos na extensão da avenida Brasil, que liga a RP de Lourdes até a de
Benfica, predominando pessoas da BR 116 que, até certo ponto, corroboram para a relação
com a saída com o eixo de ligação rodoviária e o local de recepção.
Por fim o mapa 9, dos que tem tempo de moradia em Juiz de Fora superior há vinte
anos, apresenta uma relação mais lúcida entre o local de recepção e o eixo de ligação no caso
da RP do Grama (MG 353), Benfica (BR 267 BH). Os demais não estariam ligados
consubstancialmente a esta relação.
Tabela 2 – Mobilidade residencial dos indivíduos das famílias do Alto Santo Antônio
por período de moradia em Juiz de Fora
Deslocamentos
Período (anos)
10 |- 15
15 |- 20
0-5
5|- 10
5
13
21
4
7
0
0
3
18
11
6
0
0
0
9
4
3
1
3
0
9
0
6
1
0
0
9
6
5
1
0
Total
45
38
20
16
21
0
1
2
3
4
> 20
Fonte: QASA, 2004.
Por sua vez, a mobilidade residencial (vide sistematizado na tabela 2), estando já
estes indivíduos inseridos na dinâmica sócio-espacial da cidade, passa pela lógica do
enfrentamento, de maneira preponderante, de questões relacionadas à segregação sócioespacial e à especulação imobiliária intra-urbanas, variando o número de deslocamentos de
forma tal ao atendimento precário das necessidades desses indivíduos e suas famílias, até o
ponto de habitarem uma área irregular, ou seja, expulsos da cidade legal.
Considerações Finais
O estudo sobre o local de recepção pode trazer dados interessantes tanto para a
mobilidade residencial, quanto à migração em escalas espaciais mais amplas. Tentamos aqui,
de maneira introdutória e elementar, analisar algumas relações que conseguimos vislumbrar
entre o local de recepção e outros elementos espaciais, no nosso caso os eixos de ligação
rodoviária de Juiz de Fora com os municípios de nascimento dos indivíduos da amostra
pesquisada no Alto Santo Antônio.
Ressaltamos que não exaurimos o que foi aqui proposto, pelo contrário, lançamos a
oportunidade para o debate, a pesquisa e a análise sobre a temática, querendo com isso o
12
enriquecimento do conhecimento sobre o espaço intra-urbano e suas dinâmicas sócioespaciais.
Esperamos que nossa pretensão tenha sido, em parte ou totalmente, alcançada neste
artigo.
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Disponível
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