Universidade Cândido Mendes
Instituto A Vez do Mestre – AVM
Muito mais que um NÃO!
A afetividade e os limites na educação.
Por:
Karin Machado Griesinger de Corrêa Leite
Rio de Janeiro
2010
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Karin Machado Griesinger de Corrêa Leite
Muito mais que um NÃO!
A afetividade e os limites na educação.
Trabalho apresentado à Universidade
Candido Mendes, Instituto a
Vez do
Mestre, como condição
prévia para a
conclusão do curso
de Psicopedagogia
“Latu Sensu”.
Orientador: Prof. Vilson Sérgio
Rio de Janeiro
2010
2
Agradecimentos
Agradeço à minha família por sempre me apoiar nas minhas decisões.
Agradeço aos meus filhos, que se tornaram a minha escola diária, na
arte de educar.
Às minha amigas de curso, pois, sem elas, esse curso não teria sido tão
prazeroso e significativo.
Por fim, a todos que um dia disseram que eu não iria conseguir,
estes, sem saber, me deram mais combustível para ir além...
Aqui o meu muito obrigada.
Kaká
3
Dedicatória
Dedico essa monografia aos meus filhos,
Nicole e Antonio, que desde que nasceram
ensinaram-me muito.
Ensinaram-me um amor que nunca pude
imaginar existir.
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Resumo
Não é exagero quando ouvimos os mais velhos dizerem que
educação vem do berço. Inclusive podemos acrescentar algo a mais: os
limites vêm do ventre. Muito antes de nascerem, as crianças já se
deparam com limites, por exemplo, físico: o útero materno.
Quando nascem se deparam com uma sociedade cheia de limites
e regras, quer se encontrem escritas ou não, quer
tenham cunho
político
e
ou
social.
Cabe
aos
pais,
cuidadores
professores
determinarem a essas crianças os limites a serem seguidos na
sociedade onde estão inseridos.
Em particular, encontra-se a escola, um ambiente único, que
incorpora limites próprios que são trabalhados diariamente por toda a
equipe
escolar,
professores,
coordenadores,
psicólogos
e
psicopedagogos, junto aos alunos.
Quando
há
alguma
dificuldade
das
crianças
frente
ao
cumprimento de limites, cabe ao psicopedagogo trabalhar com elas, de
forma lúdica, situações aonde os limites são exigidos como a única
forma de êxito da tarefa.
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Metodologia
Foi utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica, bem como a
leitura de artigos que abordassem o tema limite e afetividade.
Durante a leitura foram feitos pequenos resumos, incluindo
nestes, exemplos e praticas a serem adotadas. Foram feitas ligações
com matérias dadas durante o curso de psicopedagogia, bem como
alguns trechos de slides mostrados em sala de aula.
Através desse estudo pude constatar que o NÃO, quando dito
com afeto e respeito, se torna um grande aliado na educação e
formação da criança, preparando-a para a vida em sociedade.
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Sumário
Introdução..............................................................................8
Capitulo I
Limite na dose certa ... faz bem!.........................................................10
Capitulo II
O ambiente escolar ..................................................................20
Capitulo III
Não só “NÃOS”, a importância da afetividade na aprendizagem......24
Capitulo IV
Uma visão psicopedagogica da educação....................................29
Conclusão.............................................................................33
Bibliografia............................................................................35
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Introdução
Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica aonde pude
constatar que educar é promover o crescimento e o amadurecimento da
pessoa humana em todas as suas dimensões: psíquica, cognitiva e
afetiva (corpo).
Por isso, educação não se aprende só na escola, mas
principalmente em casa. Às vezes se ouve dizer: “ele é analfabeto, mas
é muito educado”. Não adianta ser doutor e não saber tratar os outros;
não cumprir com a palavra dada; não se comportar bem; não ser gentil;
não ser afetuoso, etc.
Sem dúvida, a educação é a melhor herança que os pais devem
deixar aos filhos; esta ninguém pode lhes roubar nem destruir.
A educação não é só para as crianças e jovens; é para todos; é
uma tarefa que nunca termina na vida. Aliás, alguém disse que a vida é
uma escola que nunca tem férias. Cada encontro novo, cada conversa
boa, cada aula, cada fato novo, cada livro, acrescenta algo em nossa
educação.
Na vida, aprendemos com a experiência, nossa e dos outros. É
muito mais sábio quem aprende com a experiência intrapessoal, sem ter
que sofrer com os próprios erros.
A educação é responsabilidade, em primeiro lugar, da família. É
evidente que a escola, ao transmitir os conhecimentos sistematizados, o
faz segundo o conjunto de valores que elegeu para si. Isso faz com que
sua filosofia e ética sejam transmitidas também. Não é verdade que se
aprende mais pelo exemplo do que pelas palavras?
Portanto, não é qualquer escola que serve para qualquer criança,
adolescente ou jovem. Hoje, devido ao imenso corre-corre em busca da
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sobrevivência, muitos pais escolhem a escola onde matricular seus
filhos de acordo com o quesito tempo: aquela que é mais próxima de
casa ou da empresa... Mas essa escolha deve ser levada muito a sério e
há mais aspectos a observar que o tempo que se gasta para lá chegar.
Atualmente, os pais estão, com freqüência, delegando a terceiros,
escolas, creches e babas, o ato de educar.
Com a justificativa de irem à busca do sustento da família, muitos
se omitem na hora de dizer NÃO aos filhos, acreditando, assim, suprir as
carências afetivas das crianças. As justificativas quase sempre são as
mesmas:
- Cansaço, porisso evitam conflitos
- Culpa, acham que com bens materiais “compram” o amor da criança,
muitas vezes deixada em segundo plano em prol de uma carreira
- Inexperiência, por não saber como lidar com esses filhos, que muitas
vezes não são o estereótipo do filho dito perfeito
- Por quererem proporcionar aos filhos algo que nunca tiveram,
liberdade
Enfim, são inúmeros os motivo para que esses pais não saibam
dizer NÃO aos seus filhos.
No entanto, dentro das escolas, e na vida, há limites e regras a
serem cumpridos por esse individuo, que na maioria dos casos, não
aceitam tais imposicoes de conduta, gerando, em alguns, um
comprometimento pedagógico.
Cabem a nós, psicopedagogos, desenvolvermos projetos e
trabalhos atuando neste campo. Promovendo um ambiente propicio
para a resignificação do conceito de limites e regras, garantindo assim,
um desenvolvimento global desse cidadão.
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Capitulo I
Limite na dose certa ... faz bem!
Diante destas situações, que exigem limites, muitos pais
encontram-se perdidos: O que fazer? Brigar, gritar, conversar, proibir,
exigir, relevar? Em meio a toda esta confusão, acabam depositando na
escola e em outros nos profissionais a esperança de uma solução.
O
que
está
acontecendo
então?
Parece
que
somente
conseguimos passar de um pólo para o outro. E como tudo na vida - e
em educação não é diferente - nem tanto ao mar, nem tanto a terra.
Nem oito, nem oitenta. O ideal é justamente buscar o meio termo.
É importante que todos os pais saibam que dar limites é bom, as
crianças gostam e precisam.
Nesse ponto, faz-se necessário especificarmos o que estamos
denominando de limites. Entendemos limite como aquilo que dá
contorno, que dá forma a algo, que protege o corpo, o cognitivo e o
psíquico, permitindo que este se discrimine do meio.
Ao encararmos o limite dessa forma, percebemos que ele é
fundamental no desenvolvimento de todo ser humano, pois é o que
permite que o mesmo desenvolva uma noção clara de si mesmo na
relação com o mundo, o que envolve perceber até onde se pode ir e
quando começa o espaço e o direito do outro.
Essa percepção é de muito valor para as crianças, pois precisam
de noções claras, seguras e, na medida do possível, constantes a
respeito do mundo, das coisas, das pessoas e das possibilidades de
inserção e interação. Na medida em que as crianças nada sabem a
respeito do mundo, cabe aos adultos essa "apresentação" que, se
realizada de forma clara, objetiva e justa oferecendo às crianças a
sensação de cuidado, de proteção e de segurança.
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O limite situa, dá consciência da posição ocupada dentro de
algum espaço social - a família, a escola e a sociedade como um todo.
A criança precisa de regras: o convívio social exige isso e as
regras dão a sensação de conforto e segurança. É uma tirania deixar à
criança a responsabilidade de, sempre, escolher, segundo suas
motivações e desejos pessoais, o que é bom para ela. A sociedade é
muito complexa, e criança precisa e quer um guia para entrar neste
emaranhado de valores que é a cultura. O valor do limite é levar a
criança ao que o mundo é para que, depois, ela possa transformá-lo se
assim desejar.
Dessa forma, é preciso que nos desvencilhemos da idéia de que
limites são imposições arbitrárias realizadas pelos adultos junto às
crianças de forma vertical e autoritária. É verdade que tal concepção é a
que se encontra presente no senso comum, mas torna-se necessário
diferenciá-la da concepção que aqui tentamos apresentar o que implica
em uma importante distinção entre autoridade e autoritarismo.
A importância dos limites serem dados desde a primeira infância:
Se
entendermos
limites
como
o
contorno
necessário
ao
desenvolvimento saudável das crianças, concluímos que estes devem
ser apresentados desde o momento do nascimento.
Tal afirmação vai de encontro à máxima de que "a criança é que
deve ditar seu próprio ritmo" que, apoiada pelas idéias de respeito,
aceitação e permissividade como facilitadores do desenvolvimento
psicológico, acaba por transformar os lares e as famílias em um
verdadeiro caos, ditados pelo "ritmo” de um recém-nascido que só
possui a referência da vida intra-uterina e que nada sabe a respeito
desse outro mundo, de suas regras e de suas possibilidades de vida e
convivência familiar e social.
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Tais regras e possibilidades devem ser apresentadas por esses
adultos e não podem ser "adivinhadas" ou construídas pela criança que
acabou de nascer.
Um importante limite na primeira infância é a questão dos
horários. É fundamental que as crianças tenham hora para comer,
dormir e brincar. São estes primeiros limites que lhe darão condições de
aceitar os próximos que certamente terão de vir.
Por outro lado, isso não significa ignorar e/ou desrespeitar as
necessidades básicas das crianças em cada momento de sua vida.
Equilíbrio entre o que apresentar pronto e o que permitir ser construído é
a peça chave de um desenvolvimento saudável.
À medida que o desenvolvimento é um processo e em cada
momento contamos com os elementos anteriores, não podemos
aguardar uma determinada idade para que limites sejam apresentados;
eles precisam ser apresentados de forma progressiva, sempre
respeitando as possibilidades de cada faixa etária. Uma vez que tais
crianças nunca experimentaram limitações, ou experimentaram poucas
limitações em suas ações, elas costumam apresentar violentas reações
aos limites que "de repente" começam a ser apresentados, sentindo-se
confusas acerca das regras do viver e do conviver e, particularmente,
desconfiando do amor desses adultos que de uma hora para outra
resolveram ser "malvados" e intolerantes.
Infelizmente, essa é a armadilha na quais inúmeros pais
encontram-se presos atualmente. Ao conceberem a idéia de limites
como algo ruim, agressivo e impeditivo para seus filhos, principalmente
quando eles ainda são "tão pequenos', deixam de oferecer experiências
fundamentais de frustração, que servem como "treino' para inevitáveis
limitações e frustrações mais amplas em momentos posteriores da vida,
inclusive na idade adulta. Assim, ao tentar estabelecer limites para uma
criança de seis anos, que nunca teve limites claros e que sempre foi
protegida de toda e qualquer frustração, os pais deparam-se com uma
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enorme dificuldade de aceitação e compreensão por parte da criança e
acabam ficando cansados, confusos e raivosos, tornando toda a
situação ainda mais difícil para todos os envolvidos.
Assim, a partir da primeira infância a criança precisa perceber que
existem coisas que ela pode fazer e coisas que ela não pode fazer. Se
cada vez que a criança apresentar determinada atitude, o adulto agir da
mesma forma, aos poucos a tendência é que ela vá deixando de lado tal
atitude, assumindo outra que lhe dê um retorno positivo. Uma vez que a
necessidade de aprovação costuma ser uma das necessidades
predominantes da criança, ela progressivamente irá aceitando as
limitações apresentadas em sua inserção no mundo.
O pediatra e psicanalista britânico Donald Winnicott dizia:
“É saudável que um bebê conheça toda a
extensão
da
sua
raiva.
Na
vida,
existe
o
princípio do desejo e o princípio da realidade.
Uma
criança
imediatamente,
nada’,
como
frustração.
a
quem
‘a
quem
dizem
os
Muitos
se
cede
nunca
pais,
desses
em
se
suporta
pais
que
tudo
recusou
mal
a
cedem
sempre vêem o filho no presente, ao passo
que aqueles que sabem dar sem mimar vêem
o filho no tempo e no futuro. Eles lhe oferecem
perspectivas, lhe mostram o valor do desejo e da
espera, para melhor saborear o que é obtido.”
Características gerais dos limites. Os limites que fornecem o "contorno"
do qual falamos são:
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- horários organizadores da rotina da criança;
- oportunidades de escolha responsável de acordo com a faixa etária;
- direitos iguais para todos os filhos, guardadas as proporções de cada
faixa etária;
- respeito ás diferenças individuais de cada criança;
- respeito ás necessidades do outro, seja adulto ou criança;
- valores éticos que permeiam a vida em relação à honestidade, justiça e
responsabilidade.
É preciso que o limite seja claro, compreensivel e, de preferência,
argumentado, levando-se em conta a faixa etária da criança, para que
se evite interpretações equivocadas. Firmeza na colocação: sem
hesitações e expressões não-verbais congruentes com a linguagem
verbal, também são de suma importância.
Crianças pequenas não entendem que hoje podem fazer algo e
amanhã não. Tampouco compreendem que a mamãe diz que aquilo não
pode ser feito, mas apresenta uma expressão de satisfação, rindo ou
brincando. "Às vezes", "só um pouquinho", "depende", "só se você fizer
isso ou aquilo", são expressões que confundem e não oferecem
"contorno". Crianças entendem o sim e o não. O que pode, pode; o que
não pode, não pode; uma vez dado o limite é fundamental que ele seja
mantido.
É de crucial importância que não se prometa coisas que não
serão possíveis de executar, nem se façam ameaças que não serão
cumpridas.
Da mesma forma, uma vez dado o limite, é fundamental que ele
seja mantido.
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Quando os pais impõem limite e depois não sustentam, a criança
fica com a sensação de que a palavra do adulto não vale nada, gerando
insegurança
e
desconfiança
e
abrindo
possibilidades
para
manipulações.
"O que
servia para a infância deles já não serve mais para os
filhos. Acho que os pais precisam se educar para
serem pais. Ser pai biológico já não é suficiente. Os
pais não estudam, não se preparam e acham que
serão capazes de educar os filhos em um mundo que é
completamente diferente do mundo em que eles
nasceram" (Tiba,2006)
Se não existir coerência entre os adultos, a criança fica com a
percepção de que aquilo não é tão importante, já que cada um pensa de
uma forma distinta. Se a criança percebe que está ocorrendo
desentendimento entre os adultos, ela pode começar a manipular a
situação de forma a conseguir sempre tudo que deseja "alternando"
entre os adultos de acordo com suas necessidades.
Os limites incidem sempre sobre o comportamento e nunca sobre
os sentimentos envolvidos na situação. Os sentimentos precisam ser
experimentados, aceitos e canalizados para formas adequadas e
construtivas de expressão.
Assim, podemos falar em três tempos do limite:
- apresentar o limite;
- reconhecer e validar o sentimento envolvido na situação;
15
- oferecer alternativas para a expressão do sentimento envolvido.
Para dar limites aos filhos, os pais também precisam ter limites.
Ninguém pode dar o que não tem e o exemplo dos pais é fundamental.
Não se pode exigir algo que não se faz, pois a criança tende a percebêlo como um castigo ou discriminação.
Isso é condição necessária para se tornar uma autoridade
legitimada. Comportar-se coerentemente com as regras impostas, pois a
criança precisa de exemplos encarnados dos valores. Não se aplicam
limites a crianças visando seu próprio interesse e/ou prazer pessoal e
nem se deve usá-los como desculpa para pouca paciência ou tolerância
quanto às necessidades da criança.
Para Mônica Donetto Guedes, psicoanalista e psicopedagoga,
existem diversos tipos de pais, abaixo o quadro comparativo.
PAIS MUITO TOLERANTES:
- Não conseguem junto às crianças estabelecerem regras e limites.
- Pensam que um comportamento inadequado é passageiro (não se pode
entender como uma fase que irá passar).
- Justificam-se na sua própria infância (“eu também era assim”).
O Adulto que não lida bem com frustrações é provável encontrar dificuldade
em dizer “alguns nãos” que seus filhos precisam ouvir.
PAIS PERMISSIVOS:
- Deixam por conta da criança a responsabilidade de tomar decisões.
Ex: comer fora de hora, levar um brinquedo para a escola fora do dia
estabelecido.
- Consideram os limites prejudiciais à criatividade
16
Riscos
Viver experiências ou receber informações sem que tenham adquirido
capacidade para filtrar e assimilar e, sendo assim, se proteger físico e
emocionalmente.
Responsabilidade se constrói!
PAIS SUPERPROTETORES:
- defendem os filhos mesmo nas situações onde eles não têm razão
Ex: “é meu filho e sempre terá razão.”
- Cedem, mesmo sabendo que não deveriam... Desautorizam-se: criança que
acaba conseguindo o que quer.
Filhos de pais superprotetores:
EMOCIONALMENTE:
Tornam-se mimados. Não aceitam o “não” como resposta e não atendem às
solicitações.
SOCIALMENTE:
Tornam-se inconvenientes, apresentam dificuldades em relacionar-se, pois se
acham o “umbigo do mundo”.
INTELECTUALMENTE:
Apresentam bons resultados nas áreas de interesse, no entanto, diante das
primeiras dificuldades, são capazes de transferir a responsabilidade.
Ex: para os pais e professores
Risco >
Lembre-se: proteção demais desprotege!
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PAIS AUTORITARIOS:
- São aqueles popularmente conhecidos como “donos da razão”;
controladores, rígidos e inflexíveis. Com idéias pré-estabelecidas.
- Não abrem espaço para que a criança questione.
- Usam com freqüência o castigo e as agressões verbais ou físicas como
instrumento para “coagir” ou “corrigir” o que chamam de desvio de conduta.
Filhos de pais autoritários:
- Tornam-se crianças passivas e passam a incorporar as idéias, sem que
algumas dessas idéias façam sentido.
Ex: repetem este movimento nas relações externas à família ou,
inversamente, podem se colocar a repetir o que os pais fazem, coagindo os
colegas.
- Tornam-se pessoas pouco flexíveis e com dificuldade em aceitar qualquer
tipo de mudança.
- Sentem-se culpadas por não atenderem às expectativas dos pais, que,
mesmo antes de nascerem, já haviam planejado a vida do filho. (escolha
vocacional).
Risco>
Por medo de perder o controle da situação, perde o controle.
Os pais, adultos responsáveis, devem oferecer “OS CAMINHOS”..e não “O
CAMINHO”.
Levando em conta o quadro acima, podemos deduzir que não é
fácil o ato de educar um ser totalmente desprotegido, que reage tão
somente a instintos primários como forma de se relacionar com o mundo
externo.
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Da mesma forma, uma vez dado o limite é fundamental que ele
seja mantido. Assim, repita-se, é de crucial importância que não se
prometa coisas que não serão possíveis de executar, nem se faça
ameaças que não serão cumpridas, pois tais situações levam a criança
ao descrédito em relação à palavra do adulto e abrem possibilidades
para manipulações por parte da criança.
19
Capitulo II
O ambiente escolar
A vida escolar da criança acontece em ciclos. O primeiro deles, o
Ciclo da Educação Infantil, é o mais importante, pois acontece na fase
de seu maior desenvolvimento: do nascimento até os seis anos, período
em que se forma o maior número de sinapses, dizem os especialistas.
É também o primeiro contato com outro ambiente fora da família, a
primeira experiência escolar. É o início da socialização, da convivência
com o grupo de iguais, da aquisição da linguagem, de grande
desenvolvimento motor, físico, emocional, afetivo, biológico, cognitivo.
Com isso cabe à escola estabelecer regras, limites próprios e
comuns a todos que ali freqüentam. O limite é essencial nessa fase,
saber o que pode, ou não, é fundamental, o referencial é importante.
Ela precisa disso para se sentir cuidada, amada, protegida e segura
para construir seu caminho sob a supervisão da equipe (na escola) e da
família (em casa). Segundo a educadora Alicia Fernandez, "O limite é a
circulação do afeto".
A iniciação escolar acontece como o segundo desmame, aonde
os pais e a criança precisam se desvincular um do outro, gerando
muitas vezes um desconforto para os pais, que muitas vezes não estão
prontos para tirarem os seus filhos “do colo” e os “entregarem” para a
vida.
Em casa as crianças, atualmente, regem o funcionamento da
estrutura familiar, tudo gira em torno deste pequeno / pequena príncipe
/ princesa, pois as famílias contemporâneas esperam e desejam muito
essas crianças. É papel da escola, colocar essas crianças como mais
20
um individuo dentro de um grupo, logicamente respeitando que cada
um tem suas características e personalidade, mas que ali, há uma regra
comum a todos.
Surgem estão os ditos “combinados” nas turmas de Educação
Infantil. Dentro desses “combinados” podemos abordar inúmeras
formas de limite.
Ex:
- Limites físicos, quando se estabelece que ali o “bater” no colega não é
aceito,
- Limite institucional, quando falamos que devemos tomar conta dos
brinquedos, evitando que se percam peças ou os quebrem.
Com isso a criança vai sendo “preparada” para as exigências e
rigores das leis (limites escritos) que regem a vida adulta.
Dentro da sala de aula os limites são alem de regras e valores,
eles passam pelo corpo. A criança deve saber o entorno do seu corpo,
aonde termina o EU e começa o outro. Isso é um aprimoramento do
contato físico inicial do bebe, quando ele, através do toque, se identifica
como um sujeito desassociado da mãe (seio bom).
Dentro das escolas as crianças se deparam com muitas regras e
limites em vigor, tanto para garantir a integridade física dos alunos ali
presentes, como para que haja uma pratica educativa realmente efetiva.
Na Educação Infantil, é onde se desenvolvem conceitos e limites
tais como:
- Em cima / Em baixo
- Na frente / Atrás
- Grande/ Pequeno
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- Quente /Frio
- Perto / Longe
Que futuramente serão exigidas como conceitos básicos da
matemática, física, química, português, enfim, nas diversas áreas do
conhecimento.
Acolhimento,
aconchego,
vínculo
afetivo,
receptividade,
conhecimento de cada criança e sua família, estimulação, respeito à
individualidade, autonomia, segurança, confiança.
A Neurociência nos mostra que o sujeito só aprende
quando de fato o conhecimento passar por algumas áreas do cérebro.
Segundo a professora Marta Pires Relvas,
“O conceito de plasticidade cerebral
pode ser aplicado à educação,
considerando a tendência do sistema
nervoso em ajustar-se frente às
influências ambientais durante o
desenvolvimento infantil, ou na fase
adulta, restabelecendo e restaurando
funções desorganizadas por condições
Em síntese, é preciso ressaltar os
vínculos dos fenômenos plásticos
cerebrais com o desenvolvimento do
sistema nervoso na sua compreensão
sócio-histórico-educativo,
observando-
se a capacidade de resposta
compensatória frente não apenas a
lesões patológicas, mas também, frente
às influências externas, concluindo-se
que a plasticidade cerebral pode ser
encarada sob vários ângulos, seja
22
mediante abordagem experimental (que
é a mais comum), seja na perspectiva
mais concreta da existência e
expressão funcional do sistema
nervoso, como, por exemplo,
motricidade, percepção e linguagem.”
Entender razão e emoção na criança dentro de um contexto
significativo de aprendizagem/educação; partindo do princípio que temos
duas memórias, uma que se emociona,se comove,sente entusiasmo,
alegria / tristeza, satisfação / insatisfação, agrado /desagrado, ou seja,
reações intensas no organismo ,e outra que compreende, analisa,
pondera, reflete. Trata-se de emoção e razão. Ambas se complementam
e cada pessoa apresentará diferentes reações conforme o contexto,
lugar e pessoas envolvidas.
Segundo Wallon pode não ocorrer um equilíbrio harmônico entre
estas funções e, às vezes, um conflito constante e um domínio de uma
sobre a outra pode ocorrer.
Numa sala de aula, dependendo do estado emocional e/ou
racional da criança, a aprendizagem ocorrerá de maneira subjetiva e
singular, ou seja, de acordo com cada sujeito aprendente, e repleta de
situações positivas e negativas, que influenciarão enormemente o
crescimento desta criança.
23
Capitulo III –
Não
só
NÃOS,
a
importância
da
afetividade
na
aprendizagem.
O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o
desenvolvimento intelectual, podendo acelerar ou diminuir o ritmo de
desenvolvimento, determinando, inclusive, sobre que conteúdos a
atividade intelectual se concentrará.
Na teoria de Piaget (1987), o desenvolvimento intelectual é
considerado como tendo dois componentes: um cognitivo e outro afetivo.
Onde,
paralelo
ao
desenvolvimento
cognitivo
se
encontra
o
desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos,
tendências, valores e emoções no geral.
O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos
subjetivos (amor, raiva, depressão) e aspectos expressivos (sorrisos,
gritos, lágrimas). Na visão de Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo
sentido que a cognição ou inteligência. E é a responsável pela ativação
do intelecto.
Em
vários
livros
Piaget
descreveu
cuidadosamente
o
desenvolvimento afetivo e cognitivo do nascimento até a vida adulta,
centrando-se na infância. Com suas capacidades afetivas e cognitivas
expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se
capazes de investir no afeto e ter sentimentos validados nelas mesmos.
Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a
motivação ou interesse da criança para aprender.
O afeto é o princípio norteador da auto-estima. A criança após ter
desenvolvido o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a
24
disciplina passam a ser um 'meio' para conseguir o autocontrole pessoal
e seu bem estar.
Segundo Bossa (2002), busca-se melhorar a escola introduzindo
no ideário pedagógico a noção de afetividade, onde segundo a autora a
afetividade sempre esteve e estará presente na relação pedagógica,
pois não há relacionamento humano em que não esteja presente essa
dimensão do ser.
As novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental
apontam para a importância do professor considerar o aluno em sua
dimensão afetiva:
“As escolas deverão reconhecer que as
aprendizagens são constituídas pela interação dos
processos de conhecimento com os de linguagem e
os afetivos, em conseqüência das relações entre as
distintas identidades dos vários participantes do
contexto escolarizado: as diversas experiências de
vida de alunos, professores e demais participantes
do ambiente escolar, expressas através de múltiplas
formas de diálogo, devem contribuir para a
constituição
de
identidades
afirmativas,
persistentes e capazes de protagonizar ações
autônomas e solidárias em relação a conhecimento
e valores indispensáveis à vida cidadã”.
Para Wallon (1992), a afetividade não é apenas uma das
dimensões da pessoa, mas também uma fase do desenvolvimento. Ele
25
considera que, no início da vida, a afetividade e a inteligência estão
misturadas.
Ao longo do processo elas alteram preponderância, isto é, a
afetividade reflui para dar espaço à atividade cognitiva. A construção do
sujeito e a do objeto alimentam-se mutuamente, ou seja, a elaboração
do conhecimento depende da construção do sujeito. As emoções têm
papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas
que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral, são
manifestações que expressam um universo importante e perceptível,
mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. As
transformações fisiológicas de uma criança (ou, nas palavras de Wallon,
no seu sistema neurovegetativo) revelam traços importantes de caráter e
personalidade.
Os primeiros vínculos afetivos entre mãe e bebê permitem que
este se sinta acolhido, cuidado, merecedor desse amor, e, portanto,
possuidor de valor.
No momento em que há uma ruptura drástica desse vínculo, a
criança vivencia rejeição e culpa. Ela cresce com sentimentos de
autopiedade e tendência a vincular-se de maneira dependente, podendo
desenvolver uma identidade vitimizada.
O ser humano é um ser social, sua identidade resulta das
relações com os outros, ou seja, essa identidade começa a ser
construída durante nossa infância, a partir dos primeiros vínculos
formados em nossa família.
“É sempre um vinculo social, mesmo sendo
com uma só pessoa: através da relação
com essa pessoa repete-se uma história de
vínculos em um tempo e em espaços
determinados. Por essa razão, o vínculo se
26
relaciona com a noção de papel, status e
comunicação”. (Pichon)
O conhecimento social, a forma de conhecimento criada na
interação entre as pessoas, é construída pelas crianças a partir de suas
relações sociais e familiares. Diante disso, percebe-se a necessidade de
o aluno estabelecer vínculos com o seu grupo de iguais.
Vygotsky formulou a Lei de Dupla formação, em que considera
que no desenvolvimento da criança, todas as funções aparecem duas
vezes: primeiro, no nível social e depois no nível individual; segundo,
entre as pessoas (interpsicológico) e depois no interior da criança
(intrapsicológico), quando esta apropria-se do conhecimento.
Afirma ainda que a internalização é a reconstrução interna de uma
operação externa, não uma cópia desta. Para Vygotsky essa lei é a mais
importante no desenvolvimento do psiquismo, pois considera que o
desenvolvimento
do
indivíduo
tem
lugar
quando
a
regulação
interpsicológica se transforma em regulação intrapsicológica, onde essa
interação é a origem e o motor da aprendizagem e do desenvolvimento
intelectual.
Bossa (2002) lança um olhar psicopedagógico sobre o fracasso
escolar, considerando-o um sintoma escolar que ainda se impõe de
forma alarmante e persistente no sistema escolar brasileiro, apesar do
muito que já foi discutido e estudado. Considera que o sistema escolar
ampliou o número de vagas, mas não desenvolveu uma ação que o
tornasse eficiente e garantisse o cumprimento daquilo a que se propõe,
ou seja, que desse acesso à cidadania.
Weiss (2003) considera fracasso escolar quando ocorre uma
resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda da escola e
que a não-aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso
escolar. Segundo a autora o fracasso escolar pode ser analisado pelas
diferentes perspectivas: a da sociedade, a da escola e a do aluno.
27
Winnicott,
pediatra
inglês
que
se
dedicou
a
estudar
o
desenvolvimento infantil sob a óptica da Psicanálise, fala da mãe
suficientemente boa que, entre outras qualidades, é aquela que oferece
um holding para permitir o desenvolvimento saudável de seu bebê.
Oferecer holding é dar um limite seguro para a criança se desenvolver,
limite este que precisa continuar existindo, em diferentes níveis, na
infância, no despertar da adolescência e mesmo ao longo de todo Ciclo
Vital.
“desde a idade mais tenra, nas
trocas que faz com a mãe, a
criança
já
está
realizando
aprendizagens, ao mesmo tempo
que vai construindo um estilo
próprio de aprender, modificandoo e ampliando-o à medida que
outras interações vão
acontecendo”. (Visca)
O limite visto num prisma mais amplo é psicológico e socialmente
estruturante. Ele dá a dimensão da realidade, diz o que se pode ou não
fazer/ser, onde começa o desejo e onde termina a possibilidade de
exercê-lo. E, assim, o sujeito constrói uma auto-imagem interna,
aprendendo a perceber a si mesmo em contexto, pois sua existência
não se dá senão em relação a algo.
28
Capitulo IV –
Uma visão psicopedagogica da educação
A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos
naturais e espontâneos do ser humano que desde muito cedo aprende a
mamar, falar, andar, pensar, garantindo, assim, a sua sobrevivência. Com
aproximadamente três anos, as crianças são capazes de construir as primeiras
hipóteses e já começam a questionar sobre a existência.
A aprendizagem escolar também é considerada um processo natural,
que resulta de uma complexa atividade mental, na qual o pensamento, a
percepção, as emoções, a memória, a motricidade e os conhecimentos prévios
estão envolvidos e onde a criança deva sentir o prazer em aprender.
O estudo do processo de aprendizagem humana e suas dificuldades são
desenvolvidos
pela
Psicopedagogia,
levando-se
em
consideração
as
realidades interna e externa, utilizando-se de vários campos do conhecimento,
integrando-os e sintetizando-os. Procurando compreender de forma global e
integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e
pedagógicos que determinam a condição do sujeito e interferem no processo
de aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a aprendizagem em
sua totalidade de maneira prazerosa.
Segundo Maria Lúcia Weiss, “a aprendizagem normal dá-se de forma
integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando
começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem
danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na
aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o
mundo”.
Raramente as dificuldades de aprendizagem têm origens apenas
cognitivas. Atribuir ao próprio aluno o seu fracasso, considerando que haja
algum comprometimento no seu desenvolvimento psicomotor, cognitivo,
29
lingüístico ou emocional (conversa muito, é lento, não faz a lição de casa, não
tem assimilação, entre outros.), desestruturação familiar, sem considerar, as
condições de aprendizagem que a escola oferece a este aluno e os outros
fatores intra-escolares que favorecem a não aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem na escola, podem ser consideradas
uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso escolar. Não
podemos desconsiderar que o fracasso do aluno também pode ser entendido
como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos seus
alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar,
pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter consciência da
importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades
cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e
positivos.
O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem,
muitas
vezes
começa
a
apresentar
desinteresse,
desatenção,
irresponsabilidade, agressividade, etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e
nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria.
Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados
pelo fracasso, sofriam punições e críticas, mas, com o avanço da ciência, hoje
não podemos nos limitar a acreditar, que as dificuldades de aprendizagem, seja
uma questão de vontade do aluno ou do professor, é uma questão muito mais
complexa, onde vários fatores podem interferir na vida escolar, tais como os
problemas de relacionamento professor-aluno, as questões de metodologia de
ensino e os conteúdos escolares.
Se a dificuldade fosse apenas originada pelo aluno, por danos orgânicos
ou somente da sua inteligência, para solucioná-lo não teríamos a necessidade
de acionarmos a família, e se o problema estivesse apenas relacionado ao
ambiente familiar, não haveria necessidade de recorremos ao aluno
isoladamente.
A relação professor/aluno torna o aluno capaz ou incapaz. Se o
professor tratá-lo como incapaz, não será bem sucedido, não permitirá a sua
30
aprendizagem e o seu desenvolvimento. Se o professor, mostrar-se
despreparado para lidar com o problema apresentado, mais chances terá de
transferir suas dificuldades para o aluno.
Os primeiros ensinantes são os pais, com eles aprendem-se as
primeiras interações e ao longo do desenvolvimento, aperfeiçoa. Estas
relações, já estão constituídas na criança, ao chegar à escola, que influenciará
consideravelmente no poder de produção deste sujeito. É preciso uma
dinâmica familiar saudável, uma relação positiva de cooperação, de alegria e
motivação.
Torna-se necessário orientar aluno, família e professor, para que juntos,
possam buscar orientações para lidar com alunos/filhos, que apresentam
dificuldades e/ou que fogem ao padrão, buscando a intervenção de um
profissional especializado. Dicas para os pais:
1. Estabelecer uma relação de confiança e colaboração com a escola;
2. Escute mais e fale menos;
3. Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas
de interesse mútuo;
4. Estabelecer horários para estudar e realizar as tarefas de casa;
5. Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos;
6. Desenvolver estratégias de modelação, por exemplo, existe um
problema para ser solucionado, pense em voz alta;
7. Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar;
8. Valorize sempre o que o seu a criança faça, mesmo que não tenha feito
o que você pediu;
9. Disponibilizar materiais para auxiliar na aprendizagem;
10. É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer
observações e comentários emitidos sobre ele.
31
“A aprendizagem é um processo cuja
matriz é vincular e lúdica e sua
raiz
corporal seu desdobramento põe-
se em
jogo
Inteligência /
através
desejo
assimilação-
da
e
do
articulação
equilíbrio
acomodação.”
(Fernandez)
Cada pessoa é uma. Uma vida é uma história de vida. É preciso saber o
aluno que se tem como ele aprende. Se ele construiu uma coisa, não se pode
destruí-la. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das
dificuldades
que
a
escola
nos
coloca,
trabalhando
com
os
equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender.
32
Conclusão
Ao pensar em educação de qualidade hoje, é preciso se ter em
mente que a família esteja presente na vida escolar de todos os alunos,
em todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação entre escola e
familia. Nesse sentido, escola e familia possuem uma grande tarefa, pois
nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de uma criança.
Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como
falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos.
Nunca se observou tantos professores cansados e muitas vezes,
doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de impotência e
frustração estiveram tão marcantemente presentes na vida escolar.
No entanto, apesar das diferentes metodologias hoje utilizadas, os
aspectos comportamentais não têm melhorado, ao contrário, em sala de
aula, a indisciplina e a falta de respeito só têm aumentado, os problemas
continuam, ou melhor, se agravam cada vez mais, pois além do
conhecimento em si estar sendo comprometido para ensinar o mínimo,
está sendo necessário, antes de tudo, disciplinar, impor limites e,
principalmente, dizer não.
A importância da primeira educação é tão grande na formação da
pessoa que podemos compará-la ao alicerce da construção de uma
casa. Depois, ao longo da sua vida, virão novas experiências que
continuarão a construir a casa/indivíduo, relativizando o poder da família.
Entretanto, é preciso analisar a sociedade moderna, observandose que uma das mudanças mais significativas é a forma como a família
atualmente
se
encontra
estruturada.
Aquela
família
tradicional,
constituída de pai, mãe e filhos tornou-se uma raridade. Atualmente,
existem famílias dentro de famílias. Com as separações e os novos
casamentos, aquele núcleo familiar mais tradicional tem dado lugar a
33
diferentes famílias vivendo sob o mesmo teto. Esses novos contextos
familiares geram, muitas vezes, uma sensação de insegurança e até
mesmo de abandono. Isto é, as crianças e os adolescentes estão cada
vez mais, sofrendo as conseqüências desta enorme crise familiar.
No Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do
Adolescente (BRASIL, 1990), encontramos que "é direito dos pais ou
responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar
da definição das propostas educacionais",
O problema de aprendizado escolar é uma das questões que o
educador e os pais deparam-se constantemente nos dias atuais: O que
é um problema de aprendizado escolar, um distúrbio, uma patologia?
Para que se possa responder essas indagações, penso primeiramente
descortinar alguns termos com a intenção de ampliar a leitura desse
momento do processo educacional, o problema de aprendizado escolar.
Para Beauclair, os profissionais da Psicopedagogia podem
também contribuir para o desenvolvimento do afeto e do amor em nossa
sociedade como um todo, e nas relações de aprendizagem e particular.
E isso é possível quando todos nós, e o psicopedagogo em particular,
pudermos vencer algumas barreiras como o medo e o desânimo,
substituindo-os por esperança, cuidando da vida e construindo a paz nos
espaços em que os educadores têm efetiva inserção.
E ter efetiva inserção pode significar que realmente tenham que
vencer o medo e quebrar paradigmas; é preciso ser ousado, contestador
revendo conceitos e verdades prontas e acabadas, criando projetos, etc.
É na ressignificação de atitudes e práticas subjetivas que é
possível se lançar no desafio de conseguir uma escuta, um olhar
psicopedagógico vinculado às questões do conhecimento e da
aprendizagem humana
34
Nesse sentido, a Psicopedagogia pode e deve contribuir com todo
o processo, onde educar é, em síntese, humanizar o ser humano, dentro
de limites, ampliando assim, o nosso olhar.
Bibliografia
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2000.
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professor. 18. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
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PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Teoria do Vínculo. São Paulo:
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VISCA, J. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia convergente. Porto
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WALLON, Henri. As origens do pensamento na criança.
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Manole, 1989.
35
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão
diagnóstica, Porto Alegre, Artes Médicas, 1992
WINNICOTT, D.W. Conversando sobre crianças [com os pais]. Trad. de
Álvaro Cabral. São Paulo, Martins Fontes, 1993.
36
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AVM Muito mais que um NÃO! A afetividade e os limites na educação.