LENDA DA COBRA GRANDE Um roteiro de IVI SIBELI ROCHA DE BARROS DAIANE MONTEIRO POLIANA AGUIAR FERREIRA MARIA LUZIA RODRIGUES DA SILVA CRUZEIRO DO SUL, ACRE, 30 DE ABRIL DE 2012. OUTLINE Cena 1 Externa; dia; casinha de madeira com cobertura de palha à beira do rio; Benilda, mulher morena, linda, cabelos negros, estatura mediana, 35 anos aproximadamente, roupas sujas e simples; Valdisnei, forte, bonito, alto, cabelos pretos, pele marcada pelo sol, roupas sujas e simples. Valdisnei está cuidando da terra, enquanto sua esposa Benilda está estendendo roupas no varal. Os três filhos do casal brincam na terra com galhos e areia. Narrador: Diz a lenda que na cidade de Cruzeiro do Sul, morava um casal de agricultores, de nome Valdisnei e Benilda, em uma casinha pequena, simples, de madeira com a cobertura de palha, às margens do Rio Juruá. O casal tinha 3 filhos homens, mas possuíam um sonho: um dia ter uma filha. Cena 2 Externa; noite; margens do rio Juruá; mata densa e fria do outro lado do rio; Valdisnei está tomando banho na beira do rio e Benilda está lavando roupa. Narrador: Em uma noite de lua cheia, vento frio, onde só se ouviam o barulho das folhas das árvores balançando, o coaxar dos sapos e o som dos grilos, o casal foi tomar banho à beira do Rio Juruá, como costumava fazer, levando apenas uma Poronga para iluminar o caminho. Em meio às conversas sobre como tinha sido o dia de cada um e sobre os problemas que sempre tem que enfrentar, a mulher ouviu um barulho estranho e diferente, como algo se arrastando pelas folhas e indo em direção ao Rio. BENILDA O que foi isso? Que barulho foi esse? (O medo toma conta de Benilda) VALDISNEI Eu não sei, mas pode ser a Cobra Grande. BENILDA O que? Que história é essa, homem? VALDISNEI Quando eu era garoto, meu avô me contou sobre uma cobra enorme, diferente de todas que existem, era grossa, com olhos brilhantes, uma boca grande e encantava suas presas somente pela cor de sua pele, a qual possuía desenhos diferentes, formas geométricas encantadoras e que chamavam a atenção de qualquer pessoa. (imagens irão passando enquanto Valdisnei descreve a cobra grande) Narrador: Enquanto sua esposa fica cada vez mais assustada, Valdisnei continua a história. VALDISNEI A cobra aparece sempre em épocas de cheias do Rio Juruá, principalmente em lua cheia, assim como está agora... BENILDA Chega! Essa história já está me assustando. Isso não é verdade! Pega as coisas, vamos pra casa. As crianças estão sozinhas. (O casal volta pra casa) Cena 3 Interna; dia; cozinha; Benilda está fazendo comida e Valdisnei chega correndo, gritando antes de entrar em casa, muito feliz. Narrador: Passaram-se dois dias, o marido de Benilda voltou da roça muito feliz. VALDISNEI Benilda, Benilda! BENILDA O que foi homem de Deus? VALDISNEI O meu primo Francisco, conseguiu um trabalho pra mim como auxiliar de pedreiro na cidade. O salário é bom e vai dar uma ajudinha aqui em casa. Mas vou ter que passar 7 meses fora de casa. Narrador: Benilda ficou um pouco preocupada por ter que ficar sozinha em casa por muito tempo, cuidando dos filhos e da casa. Além disso, lembrou-se da história que seu marido contou sobre a cobra grande, mas aceitou, pois a situação financeira não era muito boa e esse trabalho os ajudaria financeiramente. Então, ela aceitou. Cena 4 Externa; dia; praia do Rio Juruá; Benilda está estendendo roupa. Narrador: Três dias depois, Benilda começou a sentir alguns enjoos, desejos, mal estar e cansaço. Passou, então, a desconfiar que pudesse estar grávida. Ela, então, aproveitou que havia uma equipe médica atendendo os ribeirinhos e foi confirmar suas suspeitas. Benilda ficou muito feliz ao saber que estava esperando uma menina, a realização do seu sonho estava prestes a acontecer. E com um sorriso estampado em seu rosto voltou para casa e não via a hora de contar a noticia para seu marido. (Benilda se despede do médico com um aperto de mão e sai) Cena 5 Externa; noite; Benilda sai com os filhos segurando vários baldes em direção à beira do rio Juruá para pegarem água. Narrador: Cinco meses se passaram e Benilda sentia cada vez mais saudades de seu marido, mas sua condição financeira havia melhorado com o dinheiro que seu marido estava mandando todos os meses. Entretanto, aconteceu um imprevisto. Valdisnei pensou ter deixado água suficiente para sua esposa não precisar ir até o Rio Juruá, mas não foi o bastante. Dessa forma, Benilda teve que ir à noite, junto com seus três filhos até às margens do Rio Juruá buscar água. No momento em que estavam colocando a água nos baldes, Benilda avistou dois olhos brilhantes em meio à mata escura e o mesmo barulho ouvido meses atrás de algo se arrastando nas folhas, indo em direção ao rio. A criança que estava em seu ventre começou a se mexer, deixando Benilda ainda mais assustada. (Benilda sai correndo desesperada, junto com seus filhos, mas o filho mais velho fica no local, um garoto magro, com uns 13 anos de idade, aproximadamente, cabelos enrolados, pretos, pele morena, bermuda simples). (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Narrador: O filho mais velho de Benilda fica no local e avista a cobra grande do outro lado do rio com seus olhos brilhantes e hipnotizantes. O menino seguia em direção à beira do rio, quando ouviu o grito de sua mãe (Benilda grita o nome do filho: Joaquim!), que o tirou de tal encanto. Cena 6 Externa; dia; vários vizinhos de Benilda reunidos, conversando. (Os personagens fazem o que está sendo narrado) Narrador: No dia seguinte, Benilda resolveu contar a seus vizinhos mais próximos o que havia acontecido naquela noite para que eles pudessem tomar cuidado ao sair à noite para o Rio Juruá. Seus vizinhos, porém, não acreditaram em tal história e começaram a achar que Benilda estava ficando louca. (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Narrador: No entanto, nas épocas de cheias do Rio Juruá, pessoas começaram a desaparecer inexplicavelmente e a história de Benilda estava, cada vez mais, sendo levada a sério. (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Narrador: A filha de Benilda, Luena, já havia nascido e crescia esbanjando saúde e alegria. Uma menina linda, forte, saudável, cabelos longos e negros como o da mãe, olhos redondos e magra, 10 anos de idade. Em certo dia, uma vizinha de Benilda, preocupada, com o desaparecimento de algumas pessoas daquele pequeno lugar, sugeriu a Benilda que fossem ver um senhor, um velho sábio, para que ela contasse o que realmente havia visto naquela noite e ele diria exatamente o que estava acontecendo. Meio receosa Benilda aceitou e as duas seguiram para a casinha do sábio. Cena 7 Interna; casa de madeira, simples, com poucos móveis; um senhor de idade, com aproximadamente 70 anos, cabelos brancos, sentado em uma cadeira, fumando seu cachimbo; Benilda e sua vizinha se aproximam. VELHO Eu sei o que vocês estão fazendo aqui. Esse é o destino de sua filha, minha senhora. BENILDA Não entendi. Do que o senhor está falando? VELHO Somente sua filha pode livrar nosso povo dessa maldição. A cobra grande só poderá ser morta por sua filha. Ela deverá acertar um golpe na cabeça da cobra que será ferida mortalmente. BENILDA Jamais! O que acontece se ela não conseguir matar essa tal cobra? Lutei muito para ter minha filha comigo e agora não vou perdê-la. O senhor deve estar ficando louco! (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Narrador: Assustada, Benilda sai correndo. Mas ela não podia imaginar o que estava para acontecer naquela mesma noite. (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Era noite de lua cheia, vento frio e o que só se ouvia era o som das folhas das árvores balançando. O filho mais velho de Benilda foi tomar banho no rio, sozinho. De repente, ouve-se um forte barulho seguido de um grito do garoto, e de repente, ele desapareceu. Benilda fica arrasada ao saber do acontecido. (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Alguns dias depois, uma vizinha de Luena, decidida a acabar com todas essas desaparições dos moradores daquele pequeno lugar, conta para a menina que somente ela pode destruir a cobra grande. Ao saber que poderia ter evitado a morte de seu irmão, Luena fica muito brava com sua mãe e resolve, naquela mesma noite, por um fim a toda aquela história, sem que seus pais soubessem. (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) A menina, então, atraiu a atenção da cobra e com um golpe certeiro conseguiu feri-la. O que todos não sabiam é que esse ato heroico teriam graves consequências. Ao matar a cobra grande, Luena se sacrificou para sempre, sendo atraída pelo animal para o fundo do rio Juruá e condenada a viver eternamente com a cobra, mas livrando toda a população ribeirinha e futuras gerações da maldição da cobra grande. (Muda a cena – acontece o que está sendo narrado) Hoje em dia, conta a lenda que a cobra grande e a menina Luena foram levadas pelas correntezas e com o crescimento urbano da cidade de Cruzeiro do Sul, onde as pessoas acabaram por mudar o percurso do Rio Juruá, ambas ficaram enterradas, permanecendo embaixo do antigo fórum Caio Valadares e quando ocorre um tremor de terra na cidade é o momento em que a cobra se manifesta mostrando que ainda está viva e que a qualquer momento pode despertar, à medida em que o rio volto ao seu antigo curso.