PSICOPEDAGOGIA
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 88 • 2012 • ISSN 0103-8486
EDITORIAL / EDITORIAL....................................................................................................... 1
ARTIGOS ESPECIAIS / SPECIAL ARTICLES
• Diagnóstico psicopedagógico: uma experiência vivida no espaço de
formação do curso de Psicopedagogia................................................................................3
• A prática em evidência........................................................................................................ 10
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
• A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção.......... 15
• Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças
de risco para dislexia...........................................................................................................25
• Desenvolvimento da consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade:
avaliação de habilidades de rima.......................................................................................38
RELATOs DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORTs
• Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor: análise dos diários reflexivos.....46
• Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar..........................55
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE
• Desenvolvimento da inteligência em pré-escolares: implicações para
a aprendizagem..................................................................................................................66
PONTOs DE VISTA / POINTs OF VIEW
• Recomendações psicopedagógicas para o trabalho da equipe educacional com
escolares com síndrome de Williams.................................................................................. 74
• Ponto de vista sobre os sistemas educativos e a perspectiva de
mudança paradigmática ..................................................................................................... 77
• A interface do cotidiano escolar na perspectiva da educação inclusiva:
possibilidades de intervenção psicopedagógica................................................................79
30
ANOS
ANAIS / PROCEEDINGS
• Resumo dos Trabalhos – Categoria Oral – IX Congresso Brasileiro de
Psicopedagogia (ABPp) e I Simpósio Internacional de Neurociências,
Saúde Mental e Educação (CEEP)........................................................................................82
• Resumo dos Trabalhos – Categoria Pôster – IX Congresso Brasileiro de
Psicopedagogia (ABPp) e I Simpósio Internacional de Neurociências,
Saúde Mental e Educação (CEEP)...................................................................................... 146
VOLUME
29
Associação Brasileira
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do Caribe em Ciências da Saúde BIREME
2) Clase - Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades. Universidad
Nacional Autónoma de Mexico
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4) Bibliografia Brasileira de Educação - BBE
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5)Latindex - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas
de América Latina, El Caribe, España y
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6) Catálogo Coletivo Nacional – Instituto
Brasileiro em Ciência e Tecnologia –
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Federal de Psicologia
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Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia /
Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São
Paulo: ABPp, 1991Quadrimestral
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Continuação, a partir de 1991, vol. 10, nº 21 de Boletim da
Associação Brasileira de Psicopedagogia.
1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia.
CDD 370.15
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Diretoria da Associação
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2011/2013
Presidente
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Tesoureira
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Diretora Regional de Comunicação e Divulgação
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Assessorias
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Eloisa Quadros Fagali
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Fabiani Ortiz Portella
Galeára Matos de França Silva
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Luciana Barros de Almeida
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Diretora Científica Adjunta
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Colaboradora
Cristina Vandoros Quilici
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RS
CE
RJ
RJ
GO
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Maria Irene Maluf
Mônica H. Mendes
Neide de Aquino Noffs
Nívea Maria de Carvalho Fabrício
Sp
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Maria Cristina Natel
Maria Helena Bartholo
Maria José Weyne Melo de Castro
Maria Katiana Veluk Gutierrez
Maria Teresa Messeder Andion
Marisa Irene Siqueira Castanho
Quézia Bombonatto
Rosa Maria Junqueira Scicchitano
Silvia Amaral de Mello Pinto
Sônia Maria Colli de Souza
Sônia Maria G. de Sá Küster
Sônia A. Monção Gonçalves
Viviane Massad de Aguiar
Yara Prates
BA
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RJ
CE
RJ
SP
SP
SP
PR
SP
SP
PR
RN
SP
SP
Associação Brasileira
de Psicopedagogia
sumário
EDITORIAL / EDITORIAL
• Maria Irene Maluf.............................................................................................................................1
ARTIGOS ESPECIAIS / SPECIAL ARTICLES
• Diagnóstico psicopedagógico: uma experiência vivida no espaço de formação
do curso de Psicopedagogia
Psychopedagogical diagnosis: an experience that took place at the formation space
of Psychopedagogy course
Anete Maria Busin Fernandes..........................................................................................................3
• A prática em evidência
The practice in evidence
Andréa Carla Machado; Suzelei Faria Bello..................................................................................10
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
• A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção
The effectiveness of the workshop stimulation in a model of response to intervention
Bartira Silva; Thamires Luz; Renata Mousinho.............................................................................15
• Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco
para dislexia
Intervention psychopedagogical phonovisuoarticulatory focusing on children at risk
for dyslexia
Isabella Lencastre Heinemann; Cíntia Alves Salgado-Azoni.......................................................25
• Desenvolvimento da consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade:
avaliação de habilidades de rima
Development of phonological awareness in children 4 to 8 years of age:
rhyme skills assessment
Patrícia Martins de Freitas; Thiago da Silva Gusmão Cardoso; Gustavo Marcelino Siquara....38
RELATOS DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORTS
• Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor: análise dos diários reflexivos
Collaborative partnership between speech therapist and teachers: analysis of reflective journals
Suzelei Faria Bello; Andrea Carla Machado; Maria Amélia Almeida..........................................46
• Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar
Family and school in the comprehension of the meanings in the educational process
Maria Luiza Puglisi Munhoz; Marli da Costa Ramos Scatralhe..................................................55
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE
• Desenvolvimento da inteligência em pré-escolares: implicações para a aprendizagem
Intelligence development in preschoolers: implications for learning
Tatiana Pontrelli Mecca; Daniela Aguilera Moura Antonio; Elizeu Coutinho de Macedo.........66
PONTOS DE VISTA / POINTS OF VIEW
• Recomendações psicopedagógicas para o trabalho da equipe educacional com
escolares com síndrome de Williams
Psychopedagogical recommendations to the work of the educational team with
Williams syndrome scholars
Solange Freitas Branco de Lima; Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira;
Miriam Segin; Luiz Renato Rodrigues Carreiro............................................................................74
• Ponto de vista sobre os sistemas educativos e a perspectiva de mudança paradigmática
Point of view on education systems and the perspective of paradigmatic change
Francisca Francineide Cândido......................................................................................................77
• A interface do cotidiano escolar na perspectiva da educação inclusiva:
possibilidades de intervenção psicopedagógica
The interface of school routine from the perspective of inclusive education:
psychopedagogical intervention possibilities
Fabiani Ortiz Portella.......................................................................................................................79
ANAIS / PROCEEDINGS
• Resumo dos Trabalhos – Categoria Oral –
IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia (ABPp) e
I Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Mental e Educação (CEEP).......................82
• Resumo dos Trabalhos – Categoria Pôster –
IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia (ABPp) e
I Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Mental e Educação (CEEP).....................146
EDITORIAL
É
com imenso prazer que a Associação Brasileira de Psicopedagogia
(ABPp) traz a público um novo número de sua revista, às vésperas da
abertura do seu IX Congresso Internacional e, pela segunda vez, sob
a presidência de Quézia Bombonatto e da atual vice-presidente, Luciana de
Almeida.
Priorizando as mais recentes atualizações científicas, o Conselho Nacional
da ABPp, em parceria com o CEPP/Psiquiatria/Unifesp, elegeu como tema do
IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia – ABPp e do I Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Mental e Educação-CEPP “Diálogos entre
Neurociências, Saúde Mental e Educação” que, no período de 5 a 8 de julho
de 2012, congraçará as duas instituições. Nesta edição da Revista Psicopedagogia, para conhecimento de todos e registro histórico, trazemos um encarte
com os Anais desse importante evento.
Valiosas contribuições de pesquisadores, estudiosos e profissionais integram
a presente edição, com trabalhos de grande interesse e notória atualidade.
Abrimos este número com dois artigos Especiais. O primeiro deles, ”Diagnóstico psicopedagógico: uma experiência vivida no espaço de formação do
curso de Psicopedagogia”, de autoria de Anete Maria Busin Fernandes, além
de um importante registro de conhecimentos acumulados em sua trajetória
profissional, é uma prova de que os cursos, assim como a própria Psicopedagogia, têm atravessado o tempo evoluindo, atualizando-se na medida em que
as demandas e os conhecimentos se modificam, em todas as áreas.
Segue a este, o trabalho de Andréa Carla Machado e Suzelei Faria Bello, da
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, “A prática em evidência”, que
nos contempla com interessante associação entre a prática e os conceitos sobre
a linguagem e apresenta sugestões de ações que podem ser desenvolvidas tanto
em sala de aula pelo professor, como pelo fonoaudiólogo ou psicopedagogo.
Abrindo a seção de Artigos Originais, observamos que a temática alfabetização não se esgota e, ao contrário, cada vez se torna mais enriquecida pela
preocupação de trazer, além dos subsídios teóricos e os achados de pesquisas,
sugestões de ordem da prática, que seus autores tecem ao longo do texto.
Assim acontece com o artigo de Bartira Silva, Thamires Luz e Renata Mou­­­
sinho, ”A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à
intervenção” e também com o trabalho “Intervenção psicopedagógica com
enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia”, de Isabella
Lencastre Heinemann e Cíntia Alves Salgado-Azoni.
Segue-se aos anteriores a pesquisa de Patrícia Martins de Freitas, Thiago
da Silva Gusmão Cardoso e Gustavo Marcelino Siquara, “Desenvolvimento da
consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade: avaliação de habilidades de rima”, em que os autores concluem que a capacidade de crianças em
idade pré-escolar na detecção de aliteração e rima pode predizer o seu sucesso
posterior na aprendizagem da leitura e da escrita.
“Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor: análise dos diários reflexivos” abre outra seção temática, com o relato de experiência das autoras Suzelei Faria Bello, Andrea Carla Machado e Maria Amélia Almeida a respeito 
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 1-2
1
EDITORIAL
da consultoria colaborativa, uma parceria entre uma professora que elabora
diários reflexivos, e um especialista fonoaudiólogo que pode potencializar a ação
da professora e envolver todo o contexto educacional de modo muito positivo.
Integra ainda esta edição, o trabalho de “Família e escola na compreensão
dos significados do processo escolar”, de Maria Luiza Puglisi Munhoz e Marli
da Costa Ramos Scatralhe, que aborda o perfil de uma nova metodologia, que
possibilita a aproximação dos dois sistemas interdependentes, família e escola,
visando minimizar os conflitos existentes entre pais e professores.
Enviado por seus autores, Tatiana Pontrelli Mecca, Daniela Aguilera Moura
Antonio e Elizeu Coutinho de Macedo, o artigo de revisão “Desenvolvimento
da inteligência em pré-escolares: implicações para a aprendizagem” comprova,
por meio de uma revisão dos principais aspectos relacionados, especificidades
e desafios da avaliação cognitiva em pré-escolares, bem como de uma reflexão,
que é possível realizar de intervenções precoces e eficazes.
“Recomendações psicopedagógicas para o trabalho da equipe educacional
com escolares com síndrome de Williams” é o primeiro ponto de vista dessa
edição, de autoria de Solange Freitas Branco de Lima, Maria Cristina Triguero
Veloz Teixeira, Miriam Segin e Luiz Renato Rodrigues Carreiro. Segue-se a
ele, o artigo “Ponto de vista sobre os sistemas educativos e a perspectiva de
mudança paradigmática”, de Francisca Francineide Cândido, e a “A interface
do cotidiano escolar na perspectiva da educação inclusiva: possibilidades de
intervenção psicopedagógica”, de Fabiani Ortiz Portella.
A todos, desejamos boa leitura e bom Congresso!
Maria Irene Maluf
Editora
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 1-2
2
Diagnóstico
ARTIGOpsicopedagógico
ESPECIAL
Diagnóstico psicopedagógico:
uma experiência vivida no espaço de
formação do curso de Psicopedagogia
Anete Maria Busin Fernandes
RESUMO – O diagnóstico psicopedagógico vem mudando nesses úl­­­ti­­­
mos anos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Os
primeiros diagnósticos seguiam as técnicas de Sara Pain. Atualmente, os
diagnósticos têm se apoiado nas teorias de Winnicott. Winnicott chamava de
“espaço potencial” àquele localizado entre o indivíduo e o meio ambiente.
No setting analítico, o mesmo acontece na sobreposição de duas áreas: a
do paciente e a do terapeuta. No “espaço potencial” estabelecido no setting
psicopedagógico, o uso da Caixa de Areia ajuda as pessoas a expressar o
que é inexprimível em palavras.
UNITERMOS: Psicopedagogia. Diagnóstico. Caixa de Areia.
Correspondência
Anete Maria Busin Fernandes
Rua Carapuruí, 26 – Alto da Lapa – São Paulo, SP,
Brasil – CEP 05059-050
E-mail: [email protected]
Anete Maria Busin Fernandes – Doutora em Psicologia
Clí­­­nica e Mestre em Psicologia da Educação pela Pon­­­
tifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP),
Pedagoga, Psicóloga, Psicopedagoga, Psicanalista pelo
Instituto Sedes Sapientiae. Coordenadora do Curso de
Pós-Graduação Lato Sensu da PUCSP – Psicopedagogia
(1992 -2000); Professora das disciplinas Diagnóstico
Psicopedagógico e Dificuldades de Aprendizagem,
no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu da PUCSP –
Psicopedagogia; supervisora da Clínica Ana Maria
Popovic, da PUCSP, no atendimento aos casos da área
de Psicopedagogia; professora de Graduação em Pe­­­
dagogia da PUCSP, pertencente ao Departamento
de Fundamentos da Educação da Faculdade de Pe­­­
dagogia da PUCSP.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
3
Fernandes AMB
que a metapsicologia dinâmica estrutural não
faz justiça a esses problemas do homem, não
pode abranger os problemas do homem trágico.
Nessa concepção, ademais, há espaço para refletir sobre a construção do pensamento, mas não
sobre a criatividade, não existindo, também, lugar
para tratar do fenômeno da transicionalidade.
É, então, em Winnicott que vislumbro a possibilidade de refletir sobre tais questões, fundamentais na clínica dos problemas de aprendizagem e é em seu referencial que me apoio para
pensar sobre o Diagnóstico Psicopedagógico.
“Ver um mundo em um grão de areia
E o céu em uma flor selvagem
É ter o infinito na palma da mão
E a eternidade em uma hora”
William Blake
INTRODUÇÃO
A concepção de diagnóstico psicopedagógico
tem sido embasada por diferentes vertentes teóricas, no decorrer desses anos, dentro do curso de
Especialização em Psicopedagogia na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).
Inicialmente, marcada pelo modelo de Sara
Pain, construo um referencial que leva em conta
os procedimentos expostos em seu livro “Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem”1. Há um modo de apreender a teoria
de Sara, marcado por mim, pelo fazer técnico,
mais preocupada com os procedimentos a serem
utilizados no processo de diagnóstico por ela
explicitados no capítulo quinto do livro acima
citado, do que com a relação terapeuta-cliente.
Posteriormente, influenciada por Piera Au­
lag­nier2,3 e por suas concepções a respeito da
iden­­­tificação, construo um diagnóstico diferencial re­­­lacionado às questões do saber/não saber.
Passo a chamar de problemas de aprendizagem os que provocam uma detenção no saber.
Nomeio como dificuldades de aprendizagem
àquelas que se dão no conflito neurótico entre
o eu e seus ideais e, de inibição intelectual, ao
conflito polimorfo, em que as crianças inibidas intelectualmente se apresentam, ora como
neu­­­­­­­­­­­­­róticas, ora como psicóticas, estas últimas,
mar­­­­cadas por um conflito identificatório, que se
estabelece no interior do eu, entre suas dimensões: a identificante e a identificada.
Para a Psicanálise tradicional, na qual se in­
sere Aulagnier, a cultura, a sociabilidade, a moral
e a arte são produtos derivados, via sublimação,
do conflito pulsional. Elas têm como base as
pulsões, isto é, os instintos transformados.
Na Psicanálise clássica, ainda, afirma Kohut4
que não há espaço para elucidar a existência humana fraturada, debilitada, descontínua. Afirma
O ENCONTRO COM A VISÃO DE WINNI­
COTT
Em consonância com o acima exposto, na
minha visão atual, Psicopedagogia é a área
que estuda o sujeito epistêmico, sujeito do conhecimento compreendido a partir de Piaget,
perspassado pelas questões do inconsciente, na
perspectiva winnicottiana.
Meu foco concentra-se, dessa forma, na com­­
preensão winnicottiana das questões ligadas
ao duplo vértice – saber/não saber, que marca
a formação do psicopedagogo e a clínica psicopedagógica. Como sujeito da Psicopedagogia,
compreendo o sujeito como um ser em processo
de criação, no seu contato com o conhecimento:
é o sujeito da criatividade, dentro de um enfoque
winnicottiano.
Para Winnicott5, o indivíduo não é criativo
por­que sublima, como na concepção clássica
da Psicanálise, ele é criativo porque é humano.
A criatividade é originária e diz respeito à capacidade, que todo ser humano tem, de criar o
mundo novamente.
Esse ponto marca a minha passagem da Psi­­­
canálise clássica para a winnicottiana, por entender, como pertencente ao indivíduo, aquilo
que ele faz em contato com a experiência.
Winnicott considera, ainda, o brincar como
te­­­rapêutico, não por exprimir conflitos inconscientes, mas, por ser, em si próprio, uma forma
natural de vida e criatividade.
Para Winnicott, ademais, a metodologia do
trabalho inter-humano compreende o espaço
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
4
Diagnóstico psicopedagógico
potencial, espaço de experiência que é compartilhada. O valor da experiência é mais importante
que a interpretação.
Assim sendo, vejo o diagnóstico psicopedagógico como um espaço transicional, onde o jogo coloca o aluno em formação no lugar da ex­­­­­­periência.
Por valorizar tal espaço de experiência como um
lugar privilegiado, introduzi um procedimento
de intervenção para a finalização do diagnóstico
chamado “Jogo de Areia”.
Dessa forma, farei uma reflexão em torno do
Jogo de Areia, como um modo de abrir passagem
para o jogar, como manifestação da criatividade,
tal como penso a clínica psicopedagógica e o espaço de formação. As “cenas psicopedagógicas”,
das quais falarei, serão referenciadas como esse
lugar de experiência e criação.
Passo a discorrer sobre a importância do jogo
de areia, tal como se observa na criação das cenas psicopedagógicas, no processo de formação
do psicopedagogo.
Psi­­cologia Infantil, em Londres, naquela época,
um ambiente fértil para as ideias emergentes
sobre a terapia infantil, compartilhadas por Melanie Klein, Anna Freud e Donald W. Winnicott.
Por acreditar no processo de brincar como uma
possibilidade terapêutica, Lowenfeld desenvolveu essa ideia, levando-a para atuação psicológica. A Técnica do Mundo atraiu terapeutas de
diferentes orientações teóricas7.
O Jogo de Areia seguiu um caminho semelhante, assim explicitado por Ammann8: “Não
digo analista do Jogo de Areia, apesar de eu ser
analista junguiana, mas terapeuta do Jogo de
Areia, pois faz mais jus à minha realidade de que
há (...) terapeutas de Jogo de Areia que chegaram
a esse método através de outra formação básica”.
Dora Kalff, analista suíça, ainda segundo Ammann, enfatizou as possibilidades desse procedimento terapêutico para trabalhar também com
adultos, pois acreditava que brincar livremente,
construir cenas e criar imagens, passo a passo,
reavivava a imaginação e liberava a capacidade
de expressão.
CENAS PSICOPEDAGÓGICAS
Chamo de cenas psicopedagógicas às criações feitas pelos alunos através do procedimento
do Jogo de Areia. No final da disciplina Diagnóstico Psicopedagógico, faço uma atividade com os
alunos com o Jogo de Areia. Peço que montem,
na caixa de areia, uma cena significativa do
encontro que se dá na relação terapeuta-cliente
vivida durante o curso.
A areia
De acordo com Ammann, a areia foi considerada por Kalff material extremamente importante, por conter, como a terra, elementos naturais,
primordiais, que remetem às cenas e às brincadeiras da infância. Além disso, a areia permite
inúmeras sensações táteis e uma grande mobilidade: criar espaços elevados, depressões, fazer
buracos, enterrar objetos. Como diz Ammann8: “A
areia, em seu estado seco, é escorregadia, quase
líquida, é leve e tem no toque com as mãos algo
de macio, carinhoso. Ao mexer com as mãos a
areia seca, tornam-se visíveis formas fluidas
como na água. A areia seca pode, ainda, ser
assoprada, resultando em formações delicadas
que, comumente, só podemos ver na interação
entre areia e o vento”.
Ainda, segundo essa autora8, os movimentos fluidos na areia, ou o deixar simplesmente
escoá-la por entre os dedos, demonstra que algo
começou a mobilizar-se dentro do sujeito. Eu
acrescentaria: e, na língua inglesa, sand (areia)
O Jogo de Areia
O Jogo de Areia é aqui tomado como um
pro­­­cedimento e não como uma técnica. Observam-se nele aspectos, características e relações
que compõem um todo, que pode ser chamado
de conhecimento do fenômeno. Essa visão de
procedimento baseia-se, de acordo com Trinca6,
na visão fenomenológica existencial em que se
procura manter uma visão global do homem,
compreendendo-o em seu mundo e a partir dos
significados e sentidos que lhe são atribuídos.
A origem do Jogo de Areia é a “Técnica do
Mundo” (World Technique), criada em 1935, pela
médica Margareth Lowenfeld, no Instituto de
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
5
Fernandes AMB
assemelha-se a send (enviar, mandar ou transmitir) uma mensagem7.
Além da areia seca, trabalha-se, também,
com em outra caixa, com areia molhada. Nesta
última, as possibilidades de moldagem são ampliadas, favorecendo o aparecimento de formas
diferenciadas.
Em minhas intervenções com o Jogo de Areia,
tenho utilizado, entretanto, a fotografia digital
para registro das cenas, o que garante qualidade e precisão de imagem na sua visualização
posterior, tanto na tela do computador, para o
trabalho em consultório, quanto nos projetores
digitais (data show), para visualização em salas
de aula ou de eventos.
As miniaturas
As miniaturas são variadas e representam
to­­­­do o universo: pessoas de diversas raças e em
diferentes épocas e funções; animais, vegetação,
pedras, conchas, moradias e construções de
diferentes tipos (casas, castelos, igrejas, pontes,
etc.); mobília, utensílios domésticos, instrumentos de trabalho, meios de transporte, brinquedos
de playground, figuras religiosas e mitológicas
etc. Além das miniaturas, disponibilizo argila e
sucata, para que possam construir aquilo que
desejam, além do que está ofertado.
É importante lembrar que as miniaturas, por
seu valor simbólico, não são apenas analogias de
outras coisas, mas adquirem vida própria, força
real e dinâmica, valor emocional e conceitual.
Além disso, remetem à realidade da vida cotidiana, oferecendo-se, assim, como uma oportunidade para que as pessoas possam questioná-la
e superá-la.
O JOGO DE AREIA E SUA RELAÇÃO COM
O CONCEITO DE ESPAÇO POTENCIAL
Nesse percurso, pude perceber que o melhor
modelo para explicitar o espaço “entre” é ofe­­
recido por Winnicott. É o espaço do ser em experiência, em relação com o outro.
O Jogo de Areia, como venho utilizando na
for­­­­mação psicopedagógica, traz, na sua base, a
noção de jogo como Winnicott5 a propõe. O fazer
psicopedagógico começa na experiência que
inaugura a construção do vínculo afetivo. Ele se dá
no encontro e é, para o psicopedagogo, condição
de um possível apropriar-se de si mesmo e de um
poder recriar o espaço de compreensão do mundo.
Para Winnicott, ainda, o espaço potencial é a
área de toda experiência satisfatória, do brincar,
mediante a qual se pode alcançar sensações
intensas, é espaço de confiança, de troca e de
comunicação significativa. Sobre o jogo como
espaço de comunicação possível, Winnicott diz
que “somente no jogo a comunicação é possível;
exceto a comunicação direta”. Pode-se ver que,
dentro de sua teoria de desenvolvimento, é o
espaço potencial que permite que o indivíduo
se comunique direta e indiretamente, isto é, que
descubra o eu, incluindo-se o potencial inato e
todo senso de real e, também, estar em contato
com o que representa o “outro – além de mim”.
O jogo pertence ao lugar de transição onde a
continuidade está dando lugar à contiguidade5.
Winnicott10, dessa forma, expressa, no Jogo
do Rabisco, o que penso ocorrer no Jogo de
Areia, quando diz que o rabisco é simplesmente
um meio de conseguir entrar em contato com
a criança. No Jogo de Areia, é como se o outro
estivesse lado a lado comigo, é também um modo
de entrar em contato, através do brincar.
Os slides
No trabalho com o Jogo de Areia, após a fi­­­na­
lização dos cenários e a saída dos participantes,
as cenas são fotografadas em slides e apresentadas em um momento posterior. Esse recurso
é utilizado pelos terapeutas do Jogo de Areia
porque apresenta múltiplos efeitos, como diz
Weinrib9 “ajuda a tornar mais concreta a experiência terapêutica, já que o paciente pode ver
literalmente onde estava, assim como o que criou
e, ainda, facilita o reconhecimento das ligações
entre os participantes e os significados simbó­­­­
licos dos cenários”.
Apesar da existência de formas de registro
tecnicamente mais avançadas, alguns terapeutas
preferem utilizar slides tradicionais.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
6
Diagnóstico psicopedagógico
Na vivência com o Jogo de Areia com os alunos em formação, percebo que, ao finalizarem
as cenas, há uma experiência de júbilo, por experimentarem a transformação no processo e na
experiência clínica e, também, por serem criadores, poderem ocupar o lugar de sujeitos-autores.
Assim sendo, acredito que a utilização do Jo­­
go de Areia, na criação das cenas psicopedagógicas, conforme descrevi acima, possa se constituir
em um procedimento valioso na formação do
psicopedagogo como profissional cuja conduta
seja marcada não apenas pelas normas externas
e implícitas à profissão que estará abraçando,
mas por uma verdadeira transformação de dentro
para fora. Além disso, pode propiciar um espaço
de criatividade, confiança e comunicação significativa entre as pessoas envolvidas na atividade.
Finalizo com algumas das ideias de Edith
Stein11 sobre formação, tomando como base o
texto de sua autoria, no qual discorre sobre o
conceito do que denomina “ETHOS”:
“Na acepção do termo, ETHOS exprime algo
duradouro, que regula os atos do ser humano.
Não se trata de uma lei imposta de fora ou de
cima, antes, é algo que atua dentro do ser humano, uma forma interna, uma atitude de alma
constante, aquilo que a escolástica chama de
hábito”.
Por ETHOS profissional, dessa forma, entende-se a atitude constante da alma ou a totalidade
de atos que se destacam na vida profissional e
pessoal, como princípio formador interior.
“Só podemos falar em ETHOS profissional na
medida em que a vida profissional revela uma
determinada marca homogênea que não seja
apenas imposta de fora – pelas leis intrínsecas
do próprio trabalho ou por normas externas – mas
que brote visivelmente de dentro da pessoa”.
“A fidelidade no cumprimento do dever e a
conscienciosidade são atitudes deste tipo que
podem vir a ser decisivas para o ETHOS profissional. Outro elemento essencial é o posicionamento
frente à própria profissão. Quem vê seu trabalho
apenas como fonte de renda ou passatempo,
agirá de forma diversa daquele que entende o
trabalho como profissão abraçada por vocação”.
“É no brincar e, talvez, apenas no brincar, que
a criança ou o adulto usufruem de sua liberdade [...]. Se o terapeuta não pode brincar, então
ele não se adequa ao trabalho. Se é o paciente
que não pode, então algo precisa ser feito para
ajudá-lo a se tornar capaz de brincar, após o que
a psicoterapia pode começar”5.
De acordo com Scoz7, talvez uma das mais
importantes especificidades do Jogo de Areia
seja a possibilidade de transitar “por espaços
intermediários”. O espaço simbólico promove
uma zona de encontro entre sujeito e objeto,
entre mundo interno e realidade externa, entre
emoção e pensamento, entre consciência e inconsciente, discriminando, ao mesmo tempo, uns
dos outros. Além disso, as próprias características do material: as dimensões na horizontal e
vertical da caixa de areia, os cenários representando figuras e paisagens do mundo interior e
exterior, situando-se, aparentemente, entre esses
dois mundos, também contribuem para que isso
ocorra. A existência desse espaço intermediário,
no Jogo de Areia, assemelha-se, assim, ao espaço potencial concebido por Winnicott5, onde se
instala um movimento dinâmico e criativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do acima exposto, considero que, no Jogo de
Areia, realiza-se, em um pequeno espaço, aquilo
que o ser humano precisa fundamentalmente
fazer, no caso, transformar, ou seja, tornar real
a energia do seu mundo interior, por meio do
mundo concreto e transformar novamente essa
criação concreta em uma imagem interior. “Essa
imagem interna agora tem forma nova, é nova
criação, pois a ideia inicial foi se transformando
pela força criativa, levando em consideração o
mundo concreto existente. Dessa forma, com a
força da imaginação e o cenário, cria-se o mundo
pessoal participando-se, ao mesmo tempo, da
contínua criação do mundo”8.
Penso que uma das ações fundamentais do
psicopedagogo é a de buscar essa criação de uma
área intermediária de experiência, o espaço de
encontro com o cliente.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
7
Fernandes AMB
transformação que possa ocorrer de dentro
pa­­­ra fora.
“Só podemos falar em ETHOS profissional
quando se trata deste último caso. Por fim, toda
profissão tem seu ETHOS específico, exigido
por sua própria razão de ser (a solicitude da
en­­­fer­meira, a prudência e determinação do em­­­
presário, etc.). Ele pode estar presente no ser
hu­­­mano por natureza (neste caso, existe uma predisposição natural para determinada profissão)
ou pode ser despertado aos poucos pela execução
frequente das atividades e dos comportamentos
correlatos; nesse caso, começa a determinar o
comportamento de dentro da pessoa, sem que
seja necessária a regulamentação externa”.
Assim sendo, Stein explicita, através da
sua reflexão sobre o ETHOS, o que considero
fun­­­­damental na formação: um processo de
AGRADECIMENTOS
Agradeço à equipe de monitoras da disciplina
“Diagnóstico Psicopedagógico”, pelas colaborações na elaboração deste trabalho, apresentado,
inicialmente, no VII Congresso Brasileiro de
Psicopedagogia: Ana Maria Taveira, Débora
Mansur, Mara Stella Di Vernieri, Maria Alice
Castello de Andrade, Nanci Maria Stephano
de Queiroz, Sandra Marchetti e Silvania Piran.
Agradeço, em especial, a Nanci Maria Stephano
de Queiroz, pela compe­­­tente leitura final do
texto, apontando-me aspectos fundamentais
para a apresentação desta escrita.
SUMMARY
Psychopedagogical diagnosis: an experience that took place at the
formation space of Psychopedagogy Course
Psychopedagogical diagnosis has been changing through the last
few years at Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). First
diagnoses followed Sara Pain’s techniques. Nowadays, diagnoses have
been supported on Winnicott’s theories. Winnicott called “potential
space” the one located between the individual and the environment. At
the analytical setting, it takes place in the overlap of two areas: that of the
patient and that of the therapist. At the “potential space” established at
psychopedagogical setting, the use of Sandplay helps people express what
is inexpressible in words.
KEY WORDS: Psychopedagogy. Diagnosis. Sandplay.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
8
Diagnóstico psicopedagógico
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1984.
11. Stein E. Estructura de la persona humana.
Obras completas (Escritos antropológicos y
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2003.
Trabalho realizado na Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUCSP), São Paulo, SP, Brasil.
Artigo recebido: 18/12/2011
Aprovado: 6/2/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 3-9
9
Machado
& Bello SF
ARTIGOAC
ESPECIAL
A prática em evidência
Andréa Carla Machado; Suzelei Faria Bello
UNITERMOS: Leitura. Pré-escolar. Linguagem.
KEY WORDS: Reading. Child, preschool. Language.
INTRODUÇÃO
Considerando a linguagem como componente basal que canaliza grande parte do desenvolvimento humano, é um grande desafio refletir
sobre práticas educacionais que favoreçam o desenvolvimento da linguagem. Assim, esse texto
tem como objetivo apresentar algumas práticas
que podem ser desenvolvidas tanto em sala de
aula pelo professor, bem como pelo profissional
fonoaudiólogo ou psicopedagogo, cuja função
das mesmas é de associar a prática ao complexo
campo teórico que permeia os conceitos sobre
a linguagem.
Sabe-se que a realidade do contexto escolar
tem revelado números crescentes de crianças
com transtorno de aprendizagem e muitas outras
dificuldades, no entanto, percebe-se que existem
lacunas em associar a teoria à prática, para então
monitorar as atividades e por elas ter a possibilidade de maximizar as potencialidades de cada aluno.
Sendo assim, o processo de compreensão
das atividades perpassa pela importância da
atenção, memória, resolução de problemas,
interações comunicativas, consciência fonológica, percepção e construção da leitura e escrita,
eventos fundamentais para a aprendizagem e o
desenvolvimento de conteúdos na sala de aula.
Cada sugestão de atividade apresentada no
presente texto foi planejada para que ocorra a
interação entre o professor-aluno em ambiente
construtivo, a fim de enfatizar o processo de
ensino-aprendizagem. Espera-se que as estra­
tégias, referentes às atividades descritas, possam
auxiliar como campo norteador, pois ao utili­zálas em sala de aula, por certo, o professor poderá
encontrar caminhos facilitadores e, muitas vezes, adaptar as atividades em função das suas
necessidades destacadas nos seus alunos, bem
como poderá também auxiliar na reflexão e na
construção do planejamento de aula.
Andréa Carla Machado – Pedagoga, Psicopedagoga,
Mestre e Doutoranda em Educação Especial pela Uni­­­
versidade Federal de São Carlos (UFSCar); membro
do Grupo de Pesquisa “Linguagem, Aprendizagem,
Escolaridade” da Faculdade de Filosofia e Ciências
da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho” (FFC-UNESP – Marília-SP); Bolsista FAPESP,
São Carlos, SP, Brasil.
Suzelei Faria Bello – Fonoaudióloga, Mestre e Dou­­
toranda em Educação Especial pela Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar); Bolsista CNPq, São
Carlos, SP, Brasil.
Correspondência
Andréa Carla Machado
Rua Rui Barbosa, 416 – Centro – Neves Paulista, SP,
Brasil – CEP 15120-000
E-mail: [email protected]
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10
A prática em evidência
nizados), a morfologia (estrutura dos vocábulos)
e o fonológico (estrutura sonora). Para aprender
a decodificar a leitura, o sujeito precisa encontrar no subsistema fonológico o entendimento
de que a percepção das palavras faladas pode
ser fracionada em unidades menores da fala:
fonema, ensinando como as letras escritas são
formadas por sons6.
Desse modo, Zorzi7 também ressalta que
“pensar as palavras, não só do ponto de vista
de sua estrutura acústica, mas também a partir de um referencial visual, considerando a
forma gráfica que as palavras têm, ou seja, a
convenção”, é um dispositivo complexo e amplo, que precisa estar envolvido no decorrer do
dia-a-dia educacional por meio de atividades
facilitadoras.
Portanto, observa-se a importância das vias
sensoriais para o processo de desenvolvimento e aquisição da leitura e da escrita, pois em
consonância diversas pesquisas relatam que
a consciência fonológica está relacionada ao
êxito na aquisição da leitura e da escrita8,9.
Compreen­der os aspectos fonológicos vai além
da acuidade auditiva, no entanto, sem essa
atividade de percepção, compreensão e reflexão sobre os aspectos fonológicos da língua e
a consciência do som, o caminho acaba sendo
dificultado para aprendizagem da leitura e da
escrita, consequentemente.
Autores como Share10, Capovilla & Capovilla11
e Adams et al.12 definem a consciência fonológi­­­ca
como uma habilidade de manipular a fala, substituindo ou segmentando em unidades menores
(palavras, sílabas e fonemas), pois envolvem todos
os tipos de consciência dos sons que compõem
uma língua. Essa habilidade metalinguística
pode ser estimulada por meio de diversas formas
lúdicas, tais como as músicas e os jogos.
Pesquisas apontam para formas de estimular
a consciência fonológica, essas investigaram as
relações entre habilidades de processamento
auditivo e de consciência fonológica em crianças
de cinco anos de idade com e sem expe­riência
musical13. Para tanto, utilizaram diversos instrumentos, entre eles: memória sequencial verbal,
O CAMINHO TEÓRICO A SEGUIR
Sabe-se que a disfunção envolvida nas crianças com transtorno de aprendizagem intervém
nos níveis de processamento da informação,
envolvendo processos fundamentais como cognitivo, auditivo, visual, linguístico e integrativo1.
A linguagem consiste em uma função superior
do cérebro, cujo desenvolvimento ampara desde
a estrutura anatomo-funcional, geneticamente,
determinada, até o estímulo verbal que o meio
oferece. O processo de aquisição da linguagem oral, assim como da aquisição da leitura
e da escrita submerge de uma complexa rede
neural e diversas áreas cerebrais, envolvendo
uma interação entre as áreas. Re­­­sumidamente,
na região occipital, o córtex vi­­sual processa o
estímulo visual gráfico e as áreas do lobo parietal processam a noção viso-­es­­­pacial da grafia.
Assim, essas informações são direcionadas à
área de Werneck, responsável por compreender
a linguagem oral e escrita, que ativa a área de
Broca. Já na região frontal do cé­­rebro ocorre o
planejamento, organização e execução do movimento, além do envolvimento de outras áreas
para uma resposta motora2,3.
Com relação ao envolvimento dos estímulos
auditivos, esses são processados e analisados
no lobo temporal, também na área de Werneck.
Já os componentes sintáticos que remetem a
compreensão do tema, de modo geral, são processados no lobo frontal, assim atinge o nível
léxico-semântico e a resposta obtida remete a
entrada do estímulo sonoro4.
Partindo desse pressuposto, e na tentativa
de caminhar para uma interação entre saúde
e educação, destaca-se o complexo fenômeno
biológico e ambiental, além da importância da
integridade motora, sensorial e socioemocional
no favorecimento do processo da aprendizagem
da leitura e da escrita5.
Visto isso, é notório que a linguagem compreende cinco sistemas lingüísticos, sendo eles a
pragmática (utilização adequada da linguagem
em determinado contexto), a semântica (o significado), o sintático (como os termos são orga-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 10-4
11
Machado AC & Bello SF
memória sequencial não-verbal, identificação
de rimas, sintaxe e exclusão de fonemas, percebeu-se que a experiência musical propicia
o aprimoramento de habilidades auditivas e
metalinguagem.
Santos & Maluf14 realizaram uma pesquisa
objetivando verificar a eficácia de um programa
de intervenção baseado no desenvolvimento
das habilidades metalinguísticas, envolvendo
músicas, brincadeiras e jogos. Observaram
que trabalhar as habilidades metalinguísticas
favorece o processo de aquisição da leitura e
da escrita.
Pimenta & Ghedin15 caracterizaram o desempenho de escolares com transtorno fonológico
em tarefas que favoreçam a metalinguagem,
identificação, produção e segmentação de rimas,
observando que os sujeitos com transtornos
fonológicos apresentam dificuldades, principalmente, em tarefas de identificação e de produção
dos sons.
atividade eminentemente mental e intervir é
atividade eminentemente prática, mas ambas
se interrelacionam e fazem com que a prática
se potencialize em beneficio a um aprendizado
construtivo.
Nessa direção, para trabalhar as atividades,
principalmente as de consciência fonológica17,
é importante que os profissionais conheçam
a estrutura da nossa língua, principalmente
os aspectos fonéticos fonológicos, por considerar que existe uma progressão de trabalho
desde os pré-requisitos atencionais até as
propos­­­­­­tas mais elaboradas de leitura e escrita.
Dessa forma, compreender como os fonemas
são ar­­­ti­­­culados e esses sons representados no
sistema de escrita alfabética irá contribuir para
melhor aproveitamento e desdobramento das
estratégias12,17.
As atividades foram baseadas em Adams
et al.12 e Almeida & Duarte18, por considerar
que ocorre uma interlocução entre a teoria e o
processo de atuação no cotidiano educacional
relacionado com a prática.
Assim, as atividades enfocadas nesse texto
seguem a importância de se trabalhar a consciência fonológica no contexto escolar para a
aquisição do processo de leitura e escrita. Entendendo que a consciência fonológica inclui diversas habilidades, as atividades se desenvolvem
desde os aspectos atencionais até as habilidades
de reconhecimento de palavra, incluindo a utilização de rimas e aliterações.
A CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA
O processo de ensino e aprendizagem apre­­
senta-se como um trabalho conjunto entre professor e aluno, perante o qual o professor precisa
relacionar e refletir sobre a dicotomia entre a
teoria e a prática de maneira frequente e intensa, para potencializar de forma significativa, e
atender às diversas habilidades do aluno e às
várias demandas do conteúdo curricular.
A prática docente se constitui por múltiplas
linguagens determinadas pelas circunstâncias
históricas, sociais e culturais. Assim, de acordo
com Demo16, a teoria não se materializa sem
a prática, em contrapartida, a prática sem o
em­­­basamento teórico também não responde
às transformações necessárias do processo de
ensino-aprendizagem, portanto, a teoria e a
prática são indissociáveis.
De acordo com Demo16, é necessário saber
pensar para saber intervir, e pensar não é uma
lógica linear, é um exercício constante de (re)
construir e (re)formular ações que atendam a
uma necessidade. Pensar, para esse autor, é
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Atividade de audibilização
Atividade 1
Objetivo: possibilitar o trabalho com a atenção
e a memória auditiva, praticando a escuta de
sons específicos.
Atividade: oferecer sons por categorias semânticas (sons de animais, meios de transporte,
sons do corpo humano, sons de instrumentos
musicais).
1. Oferecer o som isolado e solicitar a nomeação do som;
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12
A prática em evidência
Material: diga ou aponte figuras e a criança
bate palmas para contar a quantidade de sílabas,
podem ser utilizados nomes de pessoas da sala,
da família, de animais, brinquedos e o que for
de mais significativo para o contexto.
2. Oferecer o som associado – figura e fundo,
solicitar que descubra o maior número
de sons, podendo iniciar com dois sons e
aumentar a complexidade.
Atividade de visualização
Atividade 1
Objetivo: discriminação de palavras e ou
figuras
Material: utilizar figuras ou figuras e palavras
Do fonema
Atividade 1
Objetivo: reconhecer os fonemas.
Material: ofereça várias figuras à criança e
solicite:
1. Que conte os fonemas
2. Poderá fazer uma lista de palavras que
as crianças gostem e então solicitar que
descubram quais os fonemas das palavras. Ex: “pé”, “piano”, “boneca”, “mo­­­­
rango”.
3. O adulto fala um fonema e a criança
desco­bre e fala uma palavra que começa
ou termina com o fonema. Ex: /s/.... sino;
/l/...mula
4. Adição ou subtração de fonemas – oferecer tampa de garrafa ou outro material
e solicitar que ela coloque na mesa a
quantidade de fonemas para a palavra
solicitada, depois retira-se um fonema e
solicita-se novamente a quantidade. Ex:
5. Foca -
Linguagem oral – descrições
Atividade 1
Objetivo: evocar fatos e acontecimentos do
cotidiano.
Material: solicitar a descrição verbal de ações
que são realizadas ao acordar, ou a rotina do dia,
ou como se realiza uma compra no supermercado.
Consciência fonológica
Da palavra
Atividade 1
Objetivo: observar que as palavras rimam.
Material: oferecer uma palavra ou figura e
solicitar que as crianças digam com que outras
palavras ou figuras rima.
Retira-se o fonema /f/ oca
Da sílaba
Atividade 1
Objetivo: reconhecer a quantidade de sílabas
que há numa palavra.
Rima
Pode-se utilizar textos do folclore brasileiro,
músicas e delas extrair as atividades.
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13
Machado AC & Bello SF
figura, relembrando que a rima é a semelhança
nos finais das palavras.
Atividade 1
Objetivo: discriminar a terminação de palavras semelhantes.
Material: utilizar figuras e espalhá-las pela
sala ou mesa, confeccionar cartões com diversos
nomes e que serão retirados de uma caixa e a
criança deverá associar as palavras que rimam à
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Trabalho realizado na Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil.
Artigo recebido: 23/11/2011
Aprovado: 5/3/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 10-4
14
A eficácia das oficinas de estimulação
em um modelo de resposta à intervenção
ARTIGO ORIGINAL
A eficácia das oficinas de estimulação
em um modelo de resposta à intervenção
Bartira Silva; Thamires Luz; Renata Mousinho
RESUMO – Introdução e Objetivos: Este trabalho comparou a velocidade de
leitura e compreensão das crianças e adolescentes avaliados, em dois momentos:
antes e depois das oficinas, por meio da proposta de Resposta à Intervenção
fonológica, considerando-se também tipo de intervenção e diferentes diagnósticos.
Metodologia: Foram coletados resultados de avaliação e reavaliação da velocidade
de leitura oral e compreensão tex­­­tual em 19 crianças, do 3º ao 7º ano escolar, que
ficaram em oficina de fo­­­noaudiologia e pedagogia no período 2010-2 a 2011-1.
Foram realizados dois experimentos. Experimento 1: a eficácia das oficinas foi
estabelecida pela comparação pré e pós-teste. Realizou-se o refinamento do
experimento 1 pela análise da eficácia das oficinas por diagnósticos. Experimento
2: dividiu as crianças em dois grupos: intervenção individual (G1) e em grupo (G2).
Resultados: No experimento 1 houve diferença estatisticamente significante na
comparação pré e pós-teste nos parâmetros velocidade e compreensão de leitura.
Ao refinar a pesquisa, não se observou diferença estatística por diagnóstico. Já
no experimento 2 não foi verificada diferença estatisticamente significante entre
G1 e G2. Discussão: Ao considerar a velocidade de leitura oral e a compreensão,
a eficácia das oficinas corrobora outros estudos. Várias pesquisas ressaltam
a importância dos diferentes tipos de intervenção e a relevância deste para a
identificação diagnóstica. Conclusão: Independente do diagnóstico e proposta de
intervenção, todas as crianças apresentaram melhora relevante no pré e pós-teste
em relação a velocidade e compreensão de leitura. A eficácia similar na intervenção
em grupo e individual demonstrou que a primeira proposta pode ajudar a suprir
a alta demanda do SUS na área.
UNITERMOS: Dislexia. Leitura. Aprendizagem.
Correspondência
Renata Mousinho
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de
Neurologia Deolindo Couto. Avenida Venceslau Brás,
95 – sala 18 – Botafogo – Rio de Janeiro, RJ, Brasil –
CEP 22290-140
E-mail: [email protected]
Bartira Silva – Fonoaudióloga, graduada pela Uni­
ver­­­­­­sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de
Ja­­­neiro, RJ, Brasil.
Thamires Luz – Fonoaudióloga, graduada pela Uni­­­­
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de
Ja­­­neiro, RJ, Brasil.
Renata Mousinho – Fonoaudióloga; Pós-doutora em
Psi­­­cologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), doutora e mestre em Linguística pela UFRJ; pro­­­
fessora da Graduação em Fonoaudiologia da Faculda­­­de
de Medicina da UFRJ; Coordenadora do projeto ELO:
escrita, leitura e oralidade UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
15
Silva B et al.
de informações, dificultando um aprendizado
eficaz. Essa alteração pode comprometer os
níveis linguísticos, causando falhas nas habilidades fonológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas. Essas “dificuldades são significativas
na aquisição e uso da capacidade de atenção,
fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades
matemáticas”6.
Ambos os diagnósticos afetam o processamen­
to temporal que contribui para o aprendizado de
leitura e escrita7, entretanto, outros aspectos interferem na aquisição desse processo, como, por
exemplo, o sistema visual, o desenvolvimento
psicomotor e cognitivo, as práticas educativas,
dentre outros.
O processamento temporal é uma habilidade
cortical responsável por discriminar e decodificar os sons8. Este é composto por uma tríade de
habilidades fonológicas: acesso lexical, memória
de trabalho fonológica e consciência fonológica.
O acesso lexical envolve uma busca rápida e
precisa às informações fonológicas existentes
no léxico mental9. Já a memória de trabalho fo­­­
nológica é o armazenamento temporário de uma
informação fonêmica9. A consciência fonológica
é a capacidade de segmentar e manipular estruturas que abrangem o nível silábico e o nível
fonêmico10.
Vários autores têm argumentado que é be­­­
né­­fico para as crianças serem treinadas em
ha­­­bilidades de consciência fonológica antes de
aprenderem a ler11-14. Alguns estudos tiveram
êxito na habilidade de leitura por meio do treinamento de habilidades fonológicas, tais como
o ritmo e a consciência fonêmica13.
A Resposta à Intervenção (Response To Intervention), abreviada como RTI, é uma proposta
de intervenção usada nos Estados Unidos que
consiste em fornecer assistência às crianças que
apresentam dificuldades de aprendizagem15.
Esse método de Resposta à Intervenção busca
identificar precocemente dificuldades no aprendizado através de várias etapas. É constituído
inicialmente por uma triagem universal em que
todas as crianças participam e seguem para as
outras etapas do programa, aquelas crianças
INTRODUÇÃO
A escola é uma construção da sociedade, tem
por objetivo trabalhar com a educação de forma sistematizada e organizada nos padrões da
cultura erudita1. Ainda predomina a visão de
que na escola encontra-se um lugar harmônico
onde o aluno encontrará condições ideais para
desenvolver o seu potencial2.
É considerado sucesso escolar quando o aluno adquire o conhecimento científico e consegue
aplicá-lo, de forma que este contribua para sua
vida, trazendo mais qualidade para si e para os
de seu entorno, tornando-se assim um indivíduo
com condições de refletir e atuar criticamente
na sociedade1.
Fracassar é definido pelo dicionário como
des­­­pedaçar com estrépito; falhar. Fracasso é
estrondo de coisa que se parte ou cai; mau êxito;
malogro3. Como o dicionário aponta, o fracasso
escolar não é um simples mau êxito, é uma estrondosa falha que poderá trazer consequências
desastrosas como reprovação, aprovação com
índice insuficiente de aprendizado e até evasão
escolar1.
A essência para o sucesso escolar está na
aquisição da leitura e da escrita4. Diversos fatores
são responsáveis pela dificuldade no aprendizado da leitura e da escrita, entre eles problemas
emocionais, auditivos, visuais, linguísticos, so­­­­
ciais, dificuldade na fala, ambiente familiar e
escolar pouco estimulante, dentre outros. A li­­­
te­­­ratura relata que crianças com dificuldade de
leitura-escrita não necessariamente têm alguma
dessas comorbidades relacionadas. A dislexia e o
distúrbio de aprendizado destacam-se por serem
dificuldades no aprendizado da leitura-escrita4.
A dislexia é um distúrbio específico de leitura
e de escrita de ordem neurológica devido a má
formações corticais e subcorticais, envolvendo as
áreas de Werneck, Broca e adjacentes5. A questão principal da dislexia está no componente
fonológico5, nas habilidades do processamento
temporal.
Já no distúrbio de aprendizagem há uma
alteração neurológica que influencia na capacidade cerebral de recepção e processamento
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
16
A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção
que não apresentam uma resposta satisfatória.
Essas crianças ficam em estimulação intensiva
num curto prazo de tempo, em que é feito o monitoramento da resposta. Através disso, pode-se
verificar se o mau desempenho está relacionado
a não adequação à metodologia de ensino, questões comportamentais ou dificuldades especí­
fícas de aprendizado16.
Os programas de Resposta à Intervenção
fonológica surgiram no Brasil na década de 801,
por meio desse programa são realizadas avaliações que buscam comparar a aprendizagem da
leitura pré e pós-treinamento. Esse programa
tem por objetivo o treinamento de habilidades
cognitivo-linguísticas17.
Este trabalho objetiva comparar o nível de
lei­­­tura das crianças e adolescentes avaliados,
utilizando como parâmetros a velocidade e compreensão de leitura, em dois momentos: antes
e depois das oficinas. Também visa comparar a
eficácia dos atendimentos individuais com a dos
participantes das oficinas e entre os diferentes
tipos de diagnósticos, além disso, contribui para
o campo de pesquisas nacionais, já que muitos
artigos alegam escassez de publicações na­
cionais nessa área18,19.
idade variou de 9 a 14 anos, com média de 10,6
anos (DP 2,09), e a escolaridade abrangeu do
3º ao 7º ano.
No experimento 1, foram feitas avaliações e
reavaliações das 19 crianças e adolescentes nas
quais se comparou a velocidade de leitura oral
e a compreensão textual. A partir do princípio
de Resposta à Intervenção, lançou-se mão de
métodos de intervenção na qual se propôs traçar
um comparativo do antes e depois.
Neste experimento, a proposta das oficinas
visou estimular a consciência fonológica e narrativa por meio da leitura-escrita durante um
período de um semestre letivo, com objetivo não
só de alavancar o desenvolvimento, mas também de confirmar o diagnóstico. Por meio de
uma reavaliação e do progresso apresentado, a
equipe interdisciplinar poderia levantar o diagnóstico de dislexia, distúrbio de aprendizagem,
disortografia ou algum outro fator que também
comprometesse o aprendizado, ou descartar
a hipótese diagnóstica e levantar uma série
de questões como: não adequação à proposta
pedagógica escolar, problemas psiquiátricos,
questões emocionais, entre outros.
Numa análise mais refinada do experimento
1, buscou-se comparar a velocidade de leitura
oral e de compreensão, considerando-se a distinção entre os diagnósticos. Ressalta-se que a
conclusão diagnóstica foi dada por uma equipe
interdisciplinar composta por neurologistas,
psicólogos, fonoaudiólogos, neuropsicólogos e
psicopedagogos. Das 19 crianças, 10 apresentaram diagnóstico de dislexia, 6 de distúrbio
de aprendizagem e 3 foram classificadas como
outros diagnósticos. Cabe destacar que ambos
os diagnósticos são considerados transtornos do
aprendizado, mas que a dislexia refere-se a uma
dificuldade específica de leitura, relacionada ao
processamento fonológico, enquanto o distúrbio
de aprendizagem é uma dificuldade que não está
limitada à leitura e que abrange também outros
níveis linguísticos20. Fazem parte do quadro de
outros diagnósticos: disfunção executiva, déficit
cognitivo e transtorno de linguagem oral que
interfere secundariamente no aprendizado.
MÉTODO
O centro de referência de distúrbio de aprendizado e dislexia ELO-UFRJ tem por objetivos,
identificar e diagnosticar crianças com transtorno de aprendizagem. Trata-se de uma proposta
interdisciplinar, envolvendo as áreas de fonoaudiologia, neurologia, neuropsicologia, psicopedagogia, e do processamento auditivo central.
Após a primeira avaliação interdisciplinar, quan­­­­­­­
do se constata que o indivíduo tem perfil pa­­­ra o
atendimento, é convidado a participar de oficinas de fonoaudiologia e psicopedagogia, no qual
permanece por um semestre letivo.
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética do INDC, sob o número 009/10. Foram
coletados os resultados de avaliação e reavalia­
ção de 19 crianças e adolescentes, de ambos
os sexos, que ficaram em oficinas no período
2010-2 e que fizeram reavaliação em 2011-1. A
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
17
Silva B et al.
No experimento 2, os 19 indivíduos foram
divididos em dois grupos, de acordo com o tipo
de intervenção. Seis indivíduos participaram
somente do atendimento fonoaudiológico individual, 50 minutos, uma vez por semana (G1).
Esses indivíduos não participaram das oficinas
de grupo, sendo submetidos ao RTI individualmente. Os outros treze escolares participaram
das oficinas em grupos pequenos (máximo
de 4 participantes), de fonoaudiologia e outra
de pedagogia, de 40 minutos cada uma (G2).
Comparando-se os resultados das reavaliações
e avaliações, quantificou-se, através da diferença entre elas, a evolução na leitura oral e na
compreensão.
Foi utilizada, dentre as avaliações fonoau­
diológicas, a avaliação da leitura oral considerando tempo de leitura e nível de compreensão.
Para tal, lançou-se mão de um texto narrativo
proposto por Capellini e Cavalheiro21, composto
por 732 palavras, cujo parâmetro de análise foi
a média de palavras lidas por minuto (PPM).
Para a compreensão oral, foram realizadas cinco
perguntas eliciadoras relativas ao mesmo texto,
no qual cada uma valia 20% de acerto.
baram disfunção executiva, déficit cognitivo e
transtornos de linguagem oral.
Embora todos os grupos apresentassem
melhora após oficinas, por meio do teste t de
Student para amostras independentes (Tabela 2),
a velocidade de leitura oral não apresentou significância estatística (p=0,368) ao se comparar
dislexia com o distúrbio de aprendizado, tendo o
grupo de dislexia apresentado maiores ganhos.
Quando se comparou dislexia com outros diagnósticos, a velocidade de leitura oral apresentou
significância estatística (p=0,046) e isso se deve
aos resultados bastante positivos em ambos os
grupos, apesar de superiores neste último grupo.
Já comparando distúrbio de aprendizado com
outros diagnósticos não houve significância estatística (p=0,467), uma vez que este último grupo
evidenciou um crescimento bastante superior
ao se comparar a média de antes e depois das
oficinas, obtendo um ganho duas vezes maior
do que antes da estimulação.
Na Tabela 3, verificou-se que todos os grupos
se beneficiaram do RTI ao observar-se a variável
compreensão, pontuada de 1 a 5, sendo este último o melhor resultado possível. A melhora na
compreensão não apresentou significância estatística quando se comparou dislexia com distúrbio
de aprendizado (p=0,091), dislexia com outros
diagnósticos (p=0,940) e distúrbio de aprendizado com outros diagnósticos (p=0,260). Apesar
de não ter apresentado diferença estatisticamente
significante, o nível de compreensão textual, bastante diverso na primeira avaliação, demonstrou-se similar nos três grupos investigados.
No experimento 2, procurou-se comparar a
eficácia das duas propostas de intervenção, na
intervenção individual (G1) e nas intervenções
em grupo em fonoaudiologia e pedagogia (G2),
considerando-se como parâmetros a velocidade
de leitura oral (PPM) e compreensão.
A fim de mensurar os ganhos, utilizou-se
como referencial os valores resultantes da diferença entre as médias anteriores e posteriores à
intervenção (Tabela 4). Quando G1 e G2 foram
comparados, o teste Mann Whitney demonstrou
que não houve diferença estatisticamente signi-
RESULTADOS
O experimento 1 buscou comparar o desempenho de leitura das 19 crianças antes e depois
das oficinas de estimulação, considerando as
va­riáveis: velocidade de leitura oral (palavras
lidas por minuto – PPM) e a compreensão textual
(resposta a 5 perguntas eliciadoras).
Como se pode observar na Tabela 1, por meio
do teste t de Student para amostras pareadas, foi
observada significativa melhora na velocidade
de leitura oral. A compreensão também apresentou significância estatística após as oficinas.
Tais resultados revelam eficácia das intervenções
propostas.
Foi proposto um estudo mais detalhado do
experimento 1, por meio de análise comparativa
entre os diagnósticos. Compararam-se a variável
velocidade de leitura oral e compreensão em
relação ao diagnóstico de dislexia, distúrbio de
aprendizagem e outros diagnósticos, que englo-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
18
A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção
Tabela 1 – Comparação entre velocidade de leitura oral e compreensão textual pré e pós-intervenção.
Antes das Oficinas
Depois das Oficinas
t
p
35,726
-2,660
0,000**
1,273
-5,677
0,012**
Média
DP
Média
DP
PPM
53,11
38,127
64,7
Compreensão
1,53
1,467
3,21
Tabela 2 – Comparação de velocidade de leitura oral entre os diversos diagnósticos.
Antes
Depois
Média
DP
Média
DP
Média
Diferença
Dislexia
59,30
37,730
66,20
35,292
6,9
Distúrbio de aprendizado
55,40
31,437
58,00
37,610
2,6
Outros diagnósticos
34,75
50,474
68,25
44,010
33,5
Tabela 3 – Comparação da compreensão textual entre os diversos diagnósticos.
Antes
Depois
Média
DP
Média
DP
Média
Diferença
Dislexia
2,00
1,633
3,20
1,229
1,20
Distúrbio de aprendizado
1,20
0,837
3,00
1,225
1,80
Outros diagnósticos
0,75
1,500
3,50
1,732
2,75
Tabela 4 – Comparação dos tipos de intervenção pré e pós-intervenção.
Média
DP
M-W
p
18,885
38,000
0,059
1,256
21,000
0,733
G1
G2
G1
G2
PPM*
10,17
9,92
8,023
Compreensão*
7,00
11,38
1,095
*Refere-se à diferença entre o período pré e pós-oficinas de estimulação.
ficante entre os grupos. Apesar de não ter sido
estatisticamente significativa a diferença entre
G1 e G2 no que tange ao ganho na compreensão
de textos lidos, este último grupo apresentou
qualitativa melhora que pode se refletir na
clínica.
Sintetizando-se os resultados dos três experimentos, verificou-se que, no experimento 1,
houve diferença estatisticamente significante
quando se comparou a velocidade de leitura oral
antes e após a intervenção, o que também foi
visto ao se comparar a compreensão. Ao refinar
a pesquisa, comparando-se os diferentes diagnósticos, não houve diferença estatisticamente
significante entre eles, demonstrando que todos
se beneficiaram com a intervenção. No experimento 2, quando se comparou o tipo de intervenção, só fonoaudiologia individual ou oficinas de
grupo nas áreas de fonoaudiologia e pedagogia,
também não foi observada diferença estatisticamente significante, demonstrando ganhos
si­­­milares com ambos os estilos de intervenção.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
19
Silva B et al.
Ao comparar a compreensão do texto lido
me­­­diante a intervenção, também se observou
diferença estatisticamente significativa. Leffa26
afirma que a compreensão do texto depende de
conhecimentos prévios de mundo e da capacidade de relacioná-los com o texto. Porém, assim
como defendem alguns autores, nem todos os
estudos descritos possuem o componente de
compreensão27. O ensino de leitura eficaz incorpora dentre as habilidades de base, a fluência na
decodificação de palavras para a compreensão
do significado destas28. Um estudo com escolares
do primeiro seguimento do Ensino Fundamental sugere a correlação positiva entre fluência
de leitura e compreensão29. Outra pesquisa
realizada com alunos da 8ª série de uma escola
estadual em Minas Gerais demonstra, também,
que mudanças no ensino de leitura, por meio de
oficinas de estimulação, comparando pré e pós-treinamento, promovem significativa melhora
na compreensão leitora dos alunos30. Estudos
concluíram que déficits na consciência fonológica estão relacionados com as dificuldades de
identificação de palavras, que geralmente vão
resultar em dificuldades na compreensão de
leitura de palavras e texto. Portanto, é possível
que a melhora na consciência fonológica tenha
se refletido secundariamente na compreensão31.
No presente estudo, ao se comparar a intervenção entre os indivíduos que possuíam
diagnósticos diferentes, tendo como parâmetro
velocidade oral, houve diferença estatisticamente signifi­cativa ao confrontar a variável dislexia
com ou­­­tros diagnósticos. É provável que isto
se justifique pelo fato que outros diagnósticos
englobem o déficit cognitivo, que apresenta desenvolvimento que se assemelha a uma criança
típica, porém com o desenvolvimento mais lentificado32. Engloba, igualmente, o transtorno de
linguagem oral, que é uma alteração que se manifesta por imaturidade de linguagem, incluindo
a fonológica, que pode afetar o aprendizado da
leitura e escrita, existindo estudos que já apontam o desempenho desses indivíduos em leitura
abaixo do esperado para a idade33. Também
inclui a disfunção executiva, que se caracteriza
DISCUSSÃO
Este trabalho visou fazer um comparativo
da variável velocidade de leitura (palavras por
minuto – PPM) e da compreensão textual pré
e pós-oficinas de estimulação, entre os diferentes tipos de diagnósticos, bem como em
in­­­­­­tervenções individualizadas e de grupo. A
po­­­pulação desse estudo esteve durante um
se­­­­mestre em estimulação fundamentada em
um método de resposta à intervenção em que
ao final do semestre foram feitas reavaliações
e análise dos ganhos. O RTI é um meio de
intervenção precoce para resolver os problemas acadêmicos, mais especificadamente os
problemas de leitura22.
Descreve-se na literatura que o RTI é um
mo­­­delo de intervenção valioso para as escolas,
porque além de auxiliar na identificação precoce
dos alunos com Dificuldades de Aprendizado,
previne o insucesso escolar. Identificar alunos
que não estão conseguindo acompanhar o nível
da turma, proporcionando intervenções apropriadas, são características que os defensores do
RTI enfatizam. Propõe-se que o RTI pode ter um
papel importante na determinação de qualquer
dificuldade de aprendizagem por assegurar uma
instrução de qualidade e monitorar esse processo. Pondera-se também que indivíduos que
possuem Transtornos do Aprendizado, mesmo
exposto às mesmas oportunidades de educação
e com idades semelhantes de indivíduos que não
as possuem, apesar da melhora, as dificuldades
mantêm-se persistentes23.
No presente estudo, as oficinas de estimulação demonstraram grande eficácia, refletindo em
melhora na vida escolar, quando se comparou a
velocidade de leitura oral em PPM antes e depois
da intervenção fonoaudiológica, o que corrobora
com uma pesquisa em que estudaram a quantidade de palavras lidas corretamente por minuto,
pré e pós-treinamento24. Esses resultados são
si­­­milares a pesquisas realizadas com estudantes com e sem dificuldades de aprendizagem,
os quais após o programa de treinamento de
consciência fonológica e leitura apresentaram
desempenho superior nessas habilidades25.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
20
A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção
por apresentar falhas na atenção e na memória,
além de desordem nas ações34, enquanto a dislexia é uma alteração própria de leitura e não
secundária35. Isso mostra porque ambos tiveram
ganhos, porém outros diagnósticos obtiveram
superior ao de dislexia. Mais persistência na
evolução após intervenção de base fonológica
em crianças com dislexia também foi encontrada em outra pesquisa brasileira, na proposta de
resposta à intervenção36.
Numa análise comparativa de dislexia e
distúrbio de aprendizagem, distúrbio de aprendizagem e outros diagnósticos em relação à
velocidade de leitura oral, não se observou di­­­
ferença estatisticamente significativa, o que
pode demonstrar que distúrbio de aprendizagem
também apresentou ganho estatístico, porém não
obteve a mesma proporção que dislexia e outros
diagnósticos. O distúrbio de aprendizagem afeta
a percepção e a compreensão da informação,
podendo comprometer todos os níveis linguísticos6,37, tem por característica a necessidade
de uma intervenção com uma abordagem mais
diversificada, fatores que podem ser levantados
em hipótese para o seu ganho proporcionalmente menor comparado aos demais em velocidade
de leitura oral6. Considerando-se a compreensão,
ao correlacionar os dados encontrados dos diferentes tipos de diagnósticos, não foi observada
diferença estatisticamente significativa, o que
significa que nenhum grupo se destacou, porém
todos obtiveram ganhos.
Quando se comparou velocidade de leitura
oral e compreensão textual entre as crianças
atendidas individualmente em fonoaudiologia
e as que participaram em oficinas em pequenos
grupos, tanto na área da fonoaudiologia, quanto
da pedagogia, não houve diferença estatisticamente significativa. Esse resultado pode ser de
especial interesse, pois demonstra que com uma
parceria entre profissionais da saúde e da educação, numa abordagem em grupo, é possível
obter sucesso similar às intervenções indivi­­­duais
isoladas, suprindo, assim, parte da demanda de
usuários do sistema de saúde público. Alguns
autores defendem a importância dos educadores
abraçarem o trabalho da Resposta à Intervenção
e avançarem na sua implementação, por considerarem que as práticas serão positivas para
as crianças e jovens38. Estudos com crianças da
educação infantil do 1º grau, em que os alunos
com instrução sistemática divididos em pequenos grupos de consciência fonêmica, decodificação e leitura fluente, também indicaram um
crescimento na compreensão ou vocabulário39,40.
É necessário que as crianças percebam a sua
importância individual em um grupo, como também a do grupo para o seu desenvolvimento41.
CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo comparar o
nível de leitura das crianças e adolescentes avaliados, utilizando como parâmetros a velocidade
e compreensão de leitura, em dois momentos:
antes e depois das oficinas. Também buscou
comparar a eficácia dos atendimentos indivi­
duais com a dos participantes das oficinas.
A proposta de abordagem usado nesse projeto
é conhecida como RTI, Resposta à Intervenção.
Propõe-se que a RTI pode ter um papel importante na determinação das dificuldades de aprendizado, por assegurar instrução de qualidade e
monitorar esse processo. Identificar alunos que
não estão conseguindo acompanhar o nível da
turma, proporcionando intervenções apropriadas, são características que os defensores do
RTI enfatizam.
A partir da pesquisa, foi possível verificar que
as oficinas de estimulação usando o modelo de
Resposta à Intervenção foram eficazes, pois, ao
se comparar as avaliações antes e depois da intervenção fonoaudiológica, verificou-se melhora
nos parâmetros de velocidade de leitura em PPM
(Palavra Por Minuto) e compreensão textual. Em
um detalhamento do experimento 1, em que se
comparou dislexia, distúrbio do aprendizado
e outros diagnósticos, não se obteve diferença
estatisticamente significativa, já que todos os
grupos tiveram ganhos.
No segundo momento do estudo, quando
se comparou a intervenção fonoaudiológica individualizada (G1) com a oficina em grupo de
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
21
Silva B et al.
fonoaudiologia e pedagogia (G2), verificou-se
que não houve diferença significativa entre eles.
Tal resultado pode ser de especial interesse, pois
demonstra que uma parceria entre profissionais
da saúde e da educação, numa abordagem em
grupo, possibilita a obtenção de sucesso similar
às intervenções individuais, suprindo, assim,
parte da demanda de usuários do sistema público de saúde.
Em decorrência da escassez de artigos pu­­­
blicados nessas áreas, e da relevância haja vista os
ganhos nesta população, destaca-se a importância de ampliar o número de pesquisas nacionais
sobre o assunto.
SUMMARY
The effectiveness of the workshop stimulation in a model
of response to intervention
Introduction and Objectives: This study compared the speed of rea­­­ding
and reading comprehension in students evaluated in two periods: before and
after the workshops, through the Response to Intervention - Phonological
Program, considering also the kind of intervention and different diagnoses.
Methods: We collected the results of assessments and reassessments of the
speed of oral reading and reading comprehension in 19 children, from the
3rd to 7th grade, who were in speech therapy and teaching workshops in the
period 2010-2 to 2011-1. Two experiments were conducted. Experiment
1: the effectiveness of the workshops was observed when comparing pre
and post-test. We carried out the refinement of an experiment analyzing
the effectiveness of workshops as diagnostics. Experiment 2: it divided the
children into two groups: individual intervention (G1) and group intervention
(G2). Results: In experiment 1, there were significant differences when
comparing pre-and post-test in reading speed and comprehension. By
refining the search, there was no statistical difference by diagnosis. All
students had increased speed reading and reading comprehension. In
the second experiment was not achieved difference statistical significant
between G1 and G2. Discussion: When considering the speed of oral rea­­­
ding and comprehension, the effectiveness of workshops corroborates
other studies. Several studies highlight the importance of different types
of intervention and the relevance of this for the diagnostic identification.
Conclusion: Independent of diagnosis and intervention proposal, all
students showed significant improvement in pre and post-test in relation
to speed and reading comprehension. The similar efficacy in the group and
individual intervention shows that the first proposal may help to answer the
high demand in the Unified Health System (SUS).
KEY WORDS: Dyslexia. Reading. Learning.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
22
A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção
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Artigo recebido: 2/12/2011
Aprovado: 11/3/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 15-24
24
Intervenção psicopedagógica com enfoque
fonovisuoarticulatório
em crianças de risco para dislexia
ARTIGO
ORIGINAL
Intervenção psicopedagógica com enfoque
fonovisuoarticulatório em crianças
de risco para dislexia
Isabella Lencastre Heinemann; Cíntia Alves Salgado-Azoni
RESUMO – Objetivos: Verificar a eficácia da intervenção psicopedagó­­­
gica baseada no Método das Boquinhas em crianças com dificuldade de
aprendizagem do 1˚ ano do Ensino Fundamental I. Método: Participaram
do estudo 11 crianças do 1° ano do ensino público fundamental municipal
da cidade de Campinas-SP, de ambos os gêneros, faixa etária de 6 a 7
anos de idade, alfabetizados pela metodologia com enfoque silábico.
Todas as crianças frequentaram a educação infantil anteriormente ao
início do 1° ano e pertenciam à mesma sala de aula. As crianças foram
divididas em: GEI - 3 crianças com dificuldades de aprendizagem do 1º
ano do Ensino Fundamental I, que foram submetidas a intervenção psi­­­
copedagógica sob o enfoque fonovisuoarticulatório; GEII - 3 crianças
do 1º ano do Ensino Fundamental I, com dificuldade de aprendizagem,
que não foram submetidas a intervenção psicopedagógica sob o enfoque
fonovisuoarticulatório; e GC - 5 crianças do 1º ano do Ensino Fundamental
I, sem queixas de dificuldades de aprendizagem, não submetidas à
intervenção. Resultados: Verificou-se que as crianças do GEI e GEII
apresentaram dificuldades em todas as provas pré-testagem; o GEI após
intervenção apresentou melhora significativa na leitura e na escrita,
aproximando-se do GC. Conclusão: A pesquisa permitiu concluir que a
intervenção psicopedagógiga sob enfoque fonovisuoarticulatório é eficaz
com crianças que apresentam sinais de risco para dislexia.
UNITERMOS: Dislexia. Intervenção. Transtornos de apren­­­dizagem.
Criança.
Correspondência
Cíntia Alves Salgado-Azoni
Av. Dr. Bernardo Kaplan, 123 ap. 52E – Pq. Brasília –
Campinas, SP, Brasil – CEP: 13091-410
E-mail: [email protected]
Isabella Lencastre Heinemann – Pedagoga e Psi­­­co­­­­­­­­
pedagoga pela Puccamp, Especialização em Neu­­­­
ropsicologia aplicada à Neurologia Infantil - Unicamp,
Campinas, SP, Brasil.
Cíntia Alves Salgado-Azoni – Fonoaudióloga, doutora
em Ciências Médicas-UNICAMP, docente dos cursos
de Neuropsicologia e Psicomotricidade da Unicamp
aplicada à Neurologia Infantil- Unicamp, Campinas,
SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
25
Heinemann IL & Salgado-Azoni CA
respeitar esse tempo. Essa espera pode representar para alguns o aumento da defasagem entre
a criança e seus pares10. A identificação precoce
dos problemas envolvidos com a aprendizagem
pode auxiliar o professor ao atendimento diferenciado quanto ao desenvolvimento do processo
de alfabetização da criança.
Atualmente, muitos estudos internacionais
têm demonstrado a importância da identificação precoce das dificuldades de aprendizagem
em crianças em início da escolarização e que
apresentam desempenho abaixo do esperado
quando comparadas com seu grupo-classe nos
pontos considerados pré-requisitos para um bom
desempenho em leitura, como: conhecimento
do alfabeto, nomeação rápida, repetição de
pseudopalavras e habilidades de consciência
fonológica. Essas crianças são denominadas
na literatura internacional como de risco para
dislexia11-14.
Caso as dificuldades permaneçam após a intervenção, essas crianças devem ser submetidas
a avaliação interdisciplinar, para investigação de
possível dislexia13,15.
Nesta pesquisa, a intervenção foi feita por
meio de uma metodologia multissensorial concreta, baseada no Método das Boquinhas10, que
foi aprovado pelo MEC, como tecnologia Educacional em 2009, publicado no Diário Oficial da
União (DOU N°211, 5/11/2009), e já é adotado
em muitos municípios do Brasil.
A motivação inicial para o surgimento do
Método das Boquinhas foi a reabilitação clínica
fonoaudiológica de crianças que apresentavam
dificuldades na aprendizagem da leitura e da
escrita. Com os resultados positivos dessas intervenções, surgiram professores interessados
em aplicar o método com todas as crianças de
suas salas de aula. Aos poucos, os conhecimentos
das diferentes áreas se juntaram com o objetivo
de oferecer novas formas de ensinar e aprender
principalmente em relação ao processo de alfabetização, com resultados eficazes em menos
tempo16.
O ponto de partida do ser humano na aquisição de conhecimento reside na boca, que produz
INTRODUÇÃO
A aprendizagem da língua portuguesa exige
o domínio dos padrões de codificação alfabética.
Infelizmente, a maior parte do nosso sistema de
ensino não prioriza a alfabetização, levando em
consideração a base alfabética do sistema de escrita do português. Assim sendo, frequentemente
os resultados podem não ser positivos. Santos
e Navas1 referem que, na língua portuguesa,
há menos grafemas com vários fonemas do que
fonemas com vários grafemas, justificando a facilidade da aquisição da leitura em comparação
à escrita.
Escrever requer primeiramente codificar caracteres que representam sons, que associados
entre si vão dar origem a palavras, frases e textos.
Depois desse primeiro passo, ligado ao significante, é necessária a compreensão do processo
inverso, a decodificação, que é transformar letra
em som, dando significado para o que foi escrito.
Muitas vezes só acontece o primeiro passo, o
que faz a escrita ser apenas um ato mecânico,
desprovido totalmente de significado2.
O processamento fonológico é considerado
uma habilidade necessária e facilitadora para a
alfabetização, fazendo parte do mesmo a memória de trabalho fonológica, a consciência fonológica e o acesso ao léxico mental, que se referem
à forma como as informações são processadas,
armazenadas e utilizadas3.
Hoje, no Brasil, é assustador o número de
ca­­­sos de insucesso escolar no primeiro ano
do Ensino Fundamental, onde as crianças não
conseguem se alfabetizar. As queixas de dificuldades na aquisição da leitura e da escrita são
constantes no âmbito escolar, clínico e familiar4-7.
O termo dificuldade escolar está relacionado
a um grupo de problemas capazes de alterar as
possibilidades de a criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas
para fazê-lo, ou seja, não há comprometimento
do sistema nervoso central. Essas dificuldades
podem comprometer o aprendizado da leitura,
escrita e cálculo8,9.
É preciso ter consciência de que esperar o
tempo da criança não significa o mesmo do que
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
26
Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia
sons – fonemas, que são transformados em fala,
meio de comunicação inerente ao ser humano e,
assim sendo, acrescentou-se os pontos de articulação de cada letra ao ser pronunciada isoladamente, favorecendo a compreensão do processo
de decodificação, por mecanismos concretos e
sinestésicos, isto é, com bases sensoriais. Dessa
forma, a aquisição da leitura e da escrita passa a
ser acessível a quaisquer tipos de aprendentes,
de maneira simples e segura, pois basta uma
única ferramenta de trabalho, a boca10.
Esse Método Fonovisuoarticulatório, carinhosamente apelidado de Método das Boquinhas,
viabiliza o desenvolvimento da consciência fonovisuoarticulatória, pois utiliza, além das estratégias fônicas (fonema/som) e visuais (grafema/
letra), as articulatórias (articulema/Boquinhas),
contemplando todos os pré-requisitos considerados fundamentais para a aquisição segura e
tranquila da leitura e da escrita10.
O objetivo da presente pesquisa foi verificar
a eficácia da intervenção psicopedagógica baseada no Método das Boquinhas10, em crianças
com dificuldade de aprendizagem do 1˚ ano do
Ensino Fundamental I.
Quanto aos objetivos específicos, foram
com­­­parados: o desempenho no processo de al­­­
fa­­­betização de escolares com dificuldade de
apren­­­dizagem e escolares sem dificuldade de
aprendizagem e os achados dos procedimentos
de avaliação pré e pós-testagem em escolares
com dificuldades de aprendizagem submetidas
e não submetidas ao programa de intervenção.
anteriormente ao início do 1° ano e pertenciam
à mesma sala de aula. As crianças foram selecionadas previamente a partir do encaminhamento
da professora, dentre as quais deveriam ser encaminhadas aquelas com dificuldades de aprendizagem e as que não tiveram dificuldades no
processo de alfabetização. Esse processo ocorreu
no mês de outubro, quando as crianças já deveriam ter iniciado o processo de alfabetização.
Conforme os critérios de inclusão e exclusão,
as crianças não apresentavam deficiência física,
intelectual e/ou sensorial, síndromes genéticas
ou neurológicas, conforme prontuário escolar,
observação da professora e anamnese realizada
com o responsável.
As crianças foram selecionadas pela professora e divididas nos seguintes grupos:
• Grupo Experimental I (GEI) – composto
por 3 crianças (sujeitos 1, 2 e 3) com dificuldades de aprendizagem do 1º ano do
Ensino Fundamental I, que foram submetidas a intervenção psicopedagógica sob
o enfoque fonovisuoarticulatório;
• Grupo Experimental II (GEII) – composto
por 3 crianças (sujeitos 1, 2 e 3) do 1º ano
do Ensino Fundamental I, com dificuldade de aprendizagem, que não foram submetidas a intervenção psicopedagógica
sob o enfoque fonovisuoarticulatório;
• Grupo Controle (GC) – composto por 5
crianças (sujeitos 1, 2, 3, 4, 5) do 1º ano
do Ensino Fundamental I, sem queixas
de dificuldades de aprendizagem, não
submetidas à intervenção.
Inicialmente, todos os responsáveis pelas crian­­­
ças selecionadas passaram por uma entrevista
específica referente ao desenvolvimento/aprendizagem e assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Conforme o CEP, as
crianças do GEII foram submetidas ao processo
de intervenção ao final da pesquisa.
MÉTODO
Participantes
Inicialmente, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade
de Ciências Médicas da Unicamp, sob o parecer
nº 841/2011.
Participaram do estudo 11 crianças do 1° ano
do ensino público fundamental municipal da
cidade de Campinas-SP, de ambos os gêneros,
faixa etária de 6 a 7 anos de idade, alfabetizados
pela metodologia com enfoque silábico. Todas
as crianças frequentaram a educação infantil
Material
Todas as crianças selecionadas para o estudo
foram submetidas aos seguintes instrumentos de
avaliação, pré e pós-intervenção:
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
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Heinemann IL & Salgado-Azoni CA
A) Prova de Consciência Fonológica17 – consiste de dez subtestes, cada qual composto de quatro itens referentes a habilidades
de síntese, segmentação, manipulação e
transposição sílabica e fonêmica, rima e
aliteração;
B) Teste de repetição de não-palavras18 – avalia a memória fonológica de trabalho. É
composto por 30 estímulos de pseudopalavras de uma, duas, três, quatro, cinco
e seis sílabas, em que a criança deveria
ouvir a palavra estímulo e repeti-la;
C) Prova de ditado17 – são ditadas 12 palavras
e 6 pseudopalavras, divididas em palavras
de baixa e alta frequência, regulares,
irregulares e regra com 2 e 3 sílabas. A
correção foi feita sob classificação da
es­­­crita19: pré-silábico, silábico sem valor
sonoro, silábico com valor sonoro, transição entre o silábico com valor sonoro e
silábico alfabético e silábico alfabético;
D)Teste de nomeação rápida de figuras e
dígitos20 – composto dos subtestes de nomeação de figuras e dígitos. O subteste
de figuras é composto por 5 estímulos
diferentes, os quais se alternam entre si,
num total de 40 estímulos e o subteste
de dígitos é composto de dois quadros
compostos por 9 estímulos diferentes,
num total de 120 estímulos.
A avaliação constou de 1 sessão individual de
60 minutos. A intervenção ocorreu com 3 crianças, sorteadas aleatoriamente, atendidas individualmente, em período contrário ao da escola.
Foram realizadas 12 sessões interventivas de 60
minutos cada. Foi utilizado material adaptado
do Método das Boquinhas21 e apresentados os
fonemas: /A/, /E/, /I/, /O/, /U/, /L/, /P/, /V/, /T/, /M/,
/B/ e /F/, na sequência definida pela autora. No
início de cada sessão, foram aplicadas dinâmicas
criadas pela pesquisadora para a retomada da
consciência fonêmica e articulatória das letras,
já trabalhados nas sessões anteriores, sempre
com o uso do espelho como ferramenta auxiliar.
Ao final de cada sessão foram acrescentados
leitura em voz alta e ditado de palavras formadas
apenas pelas letras já trabalhadas.
A seguir, são descritas as etapas das sessões:
1ª sessão – Apresentação da metodologia
para a criança por meio de explicação adequada
para idade, fazendo-a perceber que cada letra
tem um nome e seu respectivo som:
• Consciência fonêmica e articulatória: ob­­­
servação do movimento articulatório (uso
do espelho) e a relação sonora das cinco
vogais;
• Consciência fonêmica, articulatória e
aliteração: identificação da vogal inicial
do nome de cada figura apresentada e
classificação das mesmas em grupos por
vogais;
• Nomeação rápida: nomeação rápida das
figuras na atividade anterior, já divididas
em grupos por vogais.
2ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e
noção de início e fim de palavra: a criança
deveria verbalizar nomes próprios com
início ou término das vogais;
• Consciência grafofonêmica e articulatória: identificação da presença e da
se­­quência de vogais em uma palavra.
Na sequência, foram apresentadas palavras escritas e acompanhadas de suas
figuras, para a criança completar com
as vogais.
3ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e
noção de início e fim de palavra: a criança
deveria verbalizar palavras com início e
fim das vogais;
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra L- “ele”- e de
seu som /l/ com a movimentação articulatória de língua sem a pronúncia da vogal.
A atividade foi realizada com observação
e treino com o espelho;
• Consciência silábica: explicação de que a
letra L se une às vogais formando sílabas
(LA – LE – LI – LO – LU);
• Identificação da presença e da localização
das sílabas acima nos nomes de figuras.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
28
Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia
inserida a palavra escrita que deveria ser
ligada à sequência.
4ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e
expressão corporal: mímica de palavras
que continham a letra L;
• Consciência fonêmica, silábica, articulatória, aliteração: identificação da sílaba
inicial de cada figura e escrita desta, caso
pertencessem à família L. Caso não pertencessem a essa família, a criança deveria deixar de escrever. Ao final, a criança
contou e registrou quantas palavras com
cada sílaba encontrou;
• Consciência silábica e interpretação
tex­­­­tual oral: a pesquisadora leu uma pequena história para a criança, contendo
palavras com as sílabas da família L. Após
essa atividade, a criança registrou a sua
compreensão por meio do desenho.
7ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e
acesso ao léxico: foi feito um jogo competitivo com a criança com o objetivo de
quem falaria mais palavras com as letras
já trabalhadas;
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra V – vê – e de
seu som /v/, demonstrando que os dentes
superiores encostam no lábio inferior,
som soprado e sem pronunciar a vogal.
Colocar as costas da mão da criança no
pescoço, para que ela possa sentir a vibração das cordas vocais;
• Consciência silábica: explicação de que a
letra V irá se unir com as vogais formando
VA – VE – VI – VO – VU;
• Consciência silábica e aliteração: foram
apresentadas visualmente oito palavras,
com sequências de sílabas já trabalhadas. Em seguida, sílabas iniciais e finais
eram apresentadas à criança para que a
mesma completasse a palavra contida na
sequência anterior. Outra atividade foi a
identificação de figuras que iniciam com
a mesma sílaba, onde a criança deveria
ligar um desenho ao outro;
• Rota fonológica da leitura: leitura de palavras contendo as sílabas trabalhadas e
associação às suas respectivas figuras;
• Escrita: a criança deveria escrever as pa­­
lavras correspondentes às figuras, completando frases. Em seguida, foi realizado
o ditado de palavras com os fonemas e
grafemas trabalhados.
5ª sessão
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra P -“pê” - e de
seu som /p/, mostrando os lábios fechados,
som explosivo e sem pronunciar a vogal;
• Consciência fonêmica: identificação da
presença ou da ausência do fonema /p/
nos nomes das figuras apresentadas. Em
seguida, foram apresentadas palavras
escritas e acompanhadas de suas figuras
para a criança completar com as vogais
e as consoantes L e P;
• Consciência silábica: explicação de que a
letra P irá se unir com as vogais, formando
PA – PE – PI – PO – PU.
6ª sessão
• Consciência fonêmica e articulatória:
utilizado o Jogo Dominó de vogais da
coleção Jogos de Boquinhas21. A criança
recebia cartelas com uma figura em uma
extremidade e, na outra, uma sequência
de vogais e suas respectivas “boquinhas”;
• Consciência e síntese fonêmica: a partir
da sequência de “boquinhas” desenhadas
no papel, a criança deveria identificar
qual a palavra estava escrita. Após a
identificação, do lado direito do papel, era
8ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e
ali­­­­­­teração: caixa com figuras para serem
separadas em saquinhos com a letra inicial de cada figura;
• Consciência grafofonêmica e articulatória:
apresentação da letra T – tê – e de seu som
/t/, demonstrando que a língua dá uma
batidinha atrás dos dentes superiores;
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
29
Heinemann IL & Salgado-Azoni CA
• Consciência silábica: explicação de que
a letra T irá se unir com as vogais formando TA – TE – TI – TO – TU;
• Discriminação visual: a criança deveria
identificar, em um quadro contendo diferentes sílabas, aquelas que estavam
sendo trabalhadas, pintando cada uma
de uma cor. Ao final, a criança contou
e registrou quantas palavras com cada
sílaba encontrou;
• Escrita livre: palavras a partir de um qua­­
dro de sílabas já trabalhadas;
• Síntese e segmentação silábica: a criança deveria escrever palavras a partir de
um quadro contendo símbolos que se
relacionavam com determinadas sílabas
e letras. Uma ordem de símbolos era
apresentada e a criança deveria escrever
a palavra formada. Ao final, a atividade
era feita inversamente, ou seja, a partir da
palavra dever-se-ia escrever os símbolos
correspondentes a cada sílaba ou letra.
10ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e
ali­­­­teração: cartela com as letras já trabalhadas para realização de bingo da letra
inicial, a partir do sorteio de palavras
formadas apenas pelas letras já conhecidas da criança, que alternadamente eram
lidas pela criança e pelo mediador;
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra B –“bê”- e de
seu som /b/, demonstrando os lábios fechados, som explosivo, com vibração das
pregas vocais e sem pronunciar qualquer
vogal. Colocar as costas da mão da criança no pescoço para sentir a vibração;
• Consciência silábica: explicação de que
a letra B irá se unir às vogais, formando
BA – BE – BI – BO – BU;
• Consciência fonêmica e aliteração: foi
apresentado um quadro contendo diversas figuras e a criança deveria circular
apenas as figuras cujos nomes começassem com /b/;
• Consciência de palavras: foram trabalhadas “Charadas”, que a pesquisadora
apresentava oralmente e a criança deveria responder tanto verbalmente como na
forma escrita;
• Ditado: a pesquisadora ditava uma palavra contida em um quadro e a criança
deveria identificá-la e, em seguida, deveria pintar a mesma. Ditado de frases
formadas por palavras contendo as letras
L, P, V, T, M e B.
9ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória e no­­
ção de meio de palavra: sorteio de uma
letra já trabalhada e enumeração oral de
três objetos que tenham a letra sorteada
no meio da palavra;
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra M- “eme”- e
de seu som /m/, demonstrando os lábios
fechados, som nasal;
• Consciência silábica: explicação de que a
letra M irá se unir com as vogais formando MA – ME – MI – MO – UM;
• Segmentação e síntese fonêmica: foi uti­­­
lizada a atividade “Cruzadinha” com o
nome de figuras envolvendo as vogais e
as letras L, P, V, T e M;
• Discriminação visual: utilizou-se o “caça-palavras” como atividade, onde a criança
deveria visualizar a palavra e procurá-la
no quadro;
• Escrita livre: foram apresentadas sílabas
já trabalhadas e a criança deveria elaborar
uma palavra a partir desta.
11ª sessão
• Consciência fonêmica, articulatória: descobrir apenas pelo movimento articulatório a letra pronunciada;
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra N- “ene” - e
de seu som /n/, demonstrando os lábios
abertos, som nasal, com a língua para
cima e sem pronunciar nenhuma vogal;
• Consciência silábica: explicação de que a
letra N irá se unir com as vogais formando
NA – NE – NI – NO – NU;
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
30
Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia
• Síntese e segmentação silábica: em uma
tabela com sílabas numeradas a criança
deveria formar palavras a partir da relação número versus sílaba. Ao final, o
inverso também era feito, ou seja, a partir
da palavra era formada uma sequência
numérica;
• Discriminação visual: a criança deveria
localizar visualmente palavras repetidas
em um quadro, onde deveria marcar
quantas vezes a mesma aparecia e, ao
final, marcava com diferentes cores.
e 7 (63,6%), do gênero feminino. Um (9,1%)
participante tinha 6 anos e 10 (90,9%), 7 anos.
A idade média dos grupos foi de 7 anos no GI,
7 anos no GII e 6,80 no GC, com média geral de
6,91 (teste Kruskal Wallis).
Quanto ao grupo versus idade e versus gê­­­
nero, verificou-se que, no GEI, todas as crianças
apresentavam 7 anos de idade, sendo 2 (66,7%)
do gênero masculino e 1 (33,3%) do gênero
feminino; no GEII, todas as crianças apresentavam 7 anos, sendo 1 (33,3%) do gênero
masculino e 2 (66,7%) do gênero feminino e;
no GC, apenas 1 (20%) criança apresentava 6
anos e 4 (80%), 7 anos, sendo 1 (20%) do gênero
masculino e 4 (80%) do gênero feminino (teste
Exato de Fisher).
Uma das crianças do GEI, a qual chamamos
de S3, participou apenas de 4 intervenções, em
decorrência do número de faltas sem justificativa. Essa criança não foi retirada do GEI, pois
o objetivo era verificar se haveria mudança no
seu processo de alfabetização, mesmo com um
número restrito de sessões.
12ª sessão
• Consciência grafofonêmica e articulatória: apresentação da letra F- “éfe” - e de
seu som /f/, demonstrando que os dentes
superiores tocam o lábio inferior, soltando
o ar e sem pronunciar nenhuma vogal;
• Consciência silábica: explicação de que a
letra F irá se unir com as vogais formando
FA – FE – FI – FO – FU;
• Consciência silábica: a criança deveria
circular as figuras associando uma cor
para cada sílaba da família F presente
na posição inicial, medial ou final das
figuras;
• Síntese silábica, identificação e nomeação
de figuras geométricas: pintura de figuras
geométricas iguais, mas com tamanhos
diferentes, contendo sílabas dentro. A
criança deveria organizar cada tipo de
figura em ordem crescente, para formar
palavras com letras já trabalhadas;
• Consciência de palavras: foram apresentadas “Charadas” lidas pela pesquisadora, cujas respostas deveriam ser escritas
pela criança. As palavras eram formadas
pelas letras já trabalhadas.
Comparação pré e pós-testagem dos testes
do GEI
A) Prova de consciência fonológica17
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEI nessa prova (Teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados, ve­­­
rificou-se melhora no desempenho pós-testagem
do S1 nos subtestes de síntese silábica e fonêmica, rima, aliteração, segmentação silábica e
manipulação silábica e fonêmica; no S2, em
síntese silábica e fonêmica, aliteração, segmentação silábica e fonêmica e manipulação silábica
e fonêmica; e no S3, somente em aliteração.
B) Teste de repetição de não-palavras18
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEI nesse teste (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados, ve­­­
rificou-se melhora no desempenho pós-testagem
do S1 nos subtestes de repetição de não-palavras
RESULTADOS
Participantes
Os grupos foram divididos em GEI com 3
(27,3%) crianças, GEII com 3 (27,3%) crianças
e GC com 5 (45,5%) crianças. Dentre os participantes, 4 (36,4%) eram do gênero masculino
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Heinemann IL & Salgado-Azoni CA
de 5 sílabas; o S2 nos de repetição de não-palavras de 2, 5 e 6 sílabas; e o S3 nos de repetição
de 3, 5 e 6 sílabas.
Comparação pré e pós-testagem dos testes
do GEII
A) Prova de consciência fonológica17
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEII nessa prova (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados, verificou-se melhora no desempenho pós-testagem
do S1 nos subtestes de síntese fonêmica e segmentação silábica; e do S2 em síntese silábica,
aliteração, segmentação silábica, manipulação
silábica e transposição silábica.
C) Prova de ditado17
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEI nessa prova (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados, verificou-se melhora no desempenho pós-testagem
do S1 no ditado de palavras regulares de alta
frequência 2 sílabas, regulares pseudopalavras
2 sílabas e irregulares alta frequência 2 sílabas;
do S2 em palavras regulares de alta frequência
2 sílabas e regulares pseudopalavras 2 sílabas;
e o S3 não apresentou melhora. Abaixo a comparação, pré e pós-testagem, do S2 deste grupo
que apresentou melhor desempenho na prova
de ditado, passando do nível pré-silábico para
o nível silábico alfabético (Figura 1).
B) Teste de repetição de não-palavras18
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEII nesse teste (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados, verificou-se melhora no desempenho pós-testagem
do S1 nos subtestes de repetição de não-palavras
de 3, 4 e 6 sílabas; e do S2 nos de repetição de
não-palavras de 1, 2 e 3 sílabas.
D) Teste de nomeação rápida de figuras e
dígitos20
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
GEI nesse teste (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados,
verificou-se melhora no desempenho pós-testagem dos S1, S2 e S3 nos subtestes de Nomeação
Rápida de Figuras e dígitos parte 1 e 2.
C) Prova de ditado17
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEII nessa prova (teste de Wilcoxon).
Na Figura 2, encontra-se a comparação, pré
e pós-testagem, do S2 desse grupo que iniciou
e terminou no nível pré-silábico.
Figura 1 – Comparação de desempenho, pré e pós-testagem, em ditado de palavras no S2. Legenda: palavras com 2 sílabas
(da linha superior e inferior) - café, papai, marca, malha, bavai, vesta. Palavras com 3 sílabas (da linha superior e inferior)
- caderno, ditado, olhava, chegada, vopegas, posdava.
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Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia
Figura 2 – Comparação de desempenho, pré e pós-testagem, em ditado de palavras no S2. Legenda: palavras com 2 sílabas
(da linha superior e inferior) - café, papai, marca, malha, bavai, vesta. Palavras com 3 sílabas (da linha superior e inferior)
- caderno, ditado, olhava, chegada, vopegas, posdava.
Analisando-se qualitativamente os dados, verifica-se melhora no desempenho pós-testagem
dos S1, S2 e S3 nos subtestes de repetição de
não-palavras de 6 sílabas; do S4 nos de repetição
de não-palavras de 4 e 6 sílabas; e do S5 nos de
repetição de 1 e 3 sílabas.
D) Teste de nomeação rápida de figuras e
dígitos20
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GEII nesse teste (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados,
verifica-se melhora no desempenho pós-testagem do S2 nos subtestes de nomeação rápida de
figuras e dígitos 1 e 2; e do S3 somente dígitos.
C) Prova de ditado17
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GC nessa prova (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados, verifica-se melhora no desempenho pós-testagem
do S1 no ditado de palavras regulares de alta
frequência 2 sílabas e regulares pseudopalavras
2 sílabas; e do S3 em palavras regulares de alta
frequência 2 sílabas e regra alta frequência 2
sílabas e regra baixa frequência 3 sílabas.
Na Figura 3, observa-se a comparação pré e
pós-testagem do S3 desse grupo, que apresentou
melhor desempenho na prova de ditado, iniciando e terminando no nível silábico alfabético.
Comparação pré e pós-testagem dos testes
do GC
A) Prova de consciência fonológica17
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GC nessa prova (teste de Wilcoxon).
A análise qualitativa dos dados demonstra
melhora no desempenho pós-testagem do S1
nos subtestes de síntese fonêmica, segmentação
silábica e transposição fonêmica; do S2 em rima
e segmentção silábica; do S3 em síntese silábica,
aliteração, manipulação e transposição fonêmica; do S4 em rima; e do S5 em síntese silábica
e fonêmica, rima, segmentação e transposição
silábica.
D) Teste de nomeação rápida de figuras e
dígitos20
Nesse teste, houve alteração estatisticamente
significante no desempenho pré e pós-testagem
do grupo GC, no subteste de nomeação rápida
de dígitos 2 de 0,04 (teste de Wilcoxon).
Analisando-se qualitativamente os dados,
verifica-se melhora no desempenho pós testa-
B) Teste de repetição de não-palavras18
Não houve alteração estatisticamente significante no desempenho pré e pós-testagem do
grupo GC nesse teste (teste de Wilcoxon).
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Heinemann IL & Salgado-Azoni CA
Figura 3 – Comparação de desempenho em escrita, pré e pós-testagem no S3. Legenda: palavras com 2 sílabas (da linha
superior e inferior) - café, papai, marca, malha, bavai, vesta. Palavras com 3 sílabas (da linha superior e inferior) - caderno,
ditado, olhava, chegada, vopegas, posdava.
gem do S1 nos subtestes de Nomeação Rápida
de dígitos 2; do S2 em Nomeação Rápida de
Dígitos 1 e 2; do S 3 em Nomeação Rápida de
Figuras e Dígitos 1 e 2; do S4 em dígitos 1 e 2;
e do S5 em Dígitos 2.
mesma classe de 1° ano do Ensino Fundamental,
no mês de outubro de 2011, sendo alfabetizadas
pelo método silábico. Foram divididas em três
grupos, GEI e GEII formado por 6 crianças que,
segundo a observação e critério da professora,
apresentavam dificuldade na aquisição da lei­
tura e da escrita. O GC foi formado por 5 crianças
que não apresentavam dificuldade na aquisição
da leitura e da escrita.
Ao analisarmos o grupo GEI e GEII quanto
ao gênero, percebe-se equilíbrio entre o gênero
masculino e feminino e prevalência do gênero
feminino no GC.
O fator ligado ao gênero tem sido objeto de
pesquisas e os resultados dessas demonstram
prevalência de crianças do gênero masculino
com dificuldades de aprendizagem8,22. Nesta
pesquisa, apesar do número pequeno de participantes, percebe-se claramente essa prevalência
nas crianças do GEI.
Segundo a revisão de Liderman et al.23, pode
haver vulnerabilidade dos meninos, em decorrência de fatores genéticos, anatômicos e de especialização hemisférica em áreas de linguagem.
Todos os participantes do GE tinham 7 anos
completos e apenas 1 do GC, 6 anos e, frequentaram a Educação Infantil antes de ingressarem
no Ensino Fundamental. Sendo assim, já deveriam ter as habilidades linguístico-cognitivas
necessárias para que o processo de alfabetização
dentro de um sistema de escrita alfabético, como
Comparação pré e pós-testagem dos testes
do GEI X GEII
Comparando-se os testes pré e pós-testagem
do GEI X GEII, observou-se diferença estatisticamente significante do GEII no Teste de Repetição de não-palavras18, no subteste 5 sílabas,
sendo p= 0,03 (teste Mann-Whitney).
Comparação pré e pós-testagem dos testes
do GEI X GC
Comparando-se os testes pré e pós-testagem
do GEI X GC, observou-se diferença estatisticamente significante do GC: PCF, no subtestes
pré-testagem aliteração (p=0,02) e manipulação
silábica (p= 0,02) (teste Mann-Whitney); Teste
de Repetição de Não-palavras, nos subtestes pré-testagem 2 sílabas (p= 0,05) e 5 sílabas (p=0,02)
(Teste Mann-Whitney); Teste de Nomeação Rápida de Figuras e Dígitos, nomeação de dígitos
1 (p= 0,05) (Teste Mann-Whitney).
DISCUSSÃO
As crianças participantes desta pesquisa
foram encaminhadas pela professora de uma
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
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Intervenção psicopedagógica com enfoque fonovisuoarticulatório em crianças de risco para dislexia
o português brasileiro, acontecesse de forma
tranquila.
O GEI e GEII, durante a pré-testagem, apresentaram baixo rendimento em todas as provas
realizadas. Na pós-testagem, o GEI apresentou
discreta melhora nas habilidades fonológicas nas
provas silábicas e fonêmicas, repetição de palavras
irregulares, regra e pseudopalavras e no tempo
para nomear dígitos e figuras, e houve diferença
significativa entre GEI e GEII, principalmente na
prova de ditado em que o S1 passou do estágio silábico sem valor sonoro para o silábico alfabético e
o S2 do estágio pré-silábico para o estágio silábico
alfabético. Após a intervenção, pôde-se verificar
que o GEI se aproximou qualitativamente do GC
nas tarefas de repetição de palavras e de ditado,
mas ainda mantiveram diferenças no desempenho
em habilidades fonológicas.
Esses resultados comprovam o que muitos
estudos relatam que as habilidades que fazem
parte do processamento fonológico são realmente fundamentais no processo de aquisição
da leitura e da escrita, bem como a eficácia do
trabalho de intervenção precoce em crianças de
risco para dislexia11-14,24,25.
A melhora do S1 e do S2 do GEI também
pode ser justificada pela melhora nas provas
que envolviam memória fonológica de trabalho e
acesso fonológico ao léxico mental, corroborando
a literatura que descreve que esses componentes
permitem o processamento e a organização da
linguagem, fazendo parte de seu desenvolvimento. Ambos os componentes são solicitados
pelo componente executivo central na realização
das tarefas de consciência fonológica ou associação fonema/grafema3,26.
Os achados deste estudo demonstram que os
sinais de dislexia descritos na literatura nacional
e internacional27,28 sofrem interferência direta do
método de ensino, o que justifica professores,
fonoaudiólogos e psicopedagogos utilizarem
cada vez mais, em suas práticas, ferramentas
com bases fonológicas para identificar e intervir
precocemente nos sinais de dislexia29,30.
A significativa melhora da escrita das crianças do GEI nos mostra a necessidade de reflexão
sobre a metodologia de alfabetização que foi
utilizada em sala de aula. O método fonovisuoarticulatório10, utilizado neste estudo para
intervenção, possibilita o desenvolvimento das
bases fonológicas necessárias para adequada
alfabetização diferentemente do método silábico,
que não prioriza a consciência fonêmica antes
da silábica15,27.
A política educacional de países desenvolvidos proporciona atendimento especializado
para crianças que atrasam o processo da leitura dentro do próprio ambiente escolar o mais
precocemente possível. O papel do professor
é fundamental na perspectiva diagnóstica e
na melhor forma de intervir31,32 e quanto mais
cedo ocorre o processo interventivo, melhor o
prognóstico10,25,33,34.
A criança do GEI que frequentou apenas 4
sessões de intervenção não apresentou melhora
significativa em seu processo de alfabetização
na pós-testagem, o que corrobora os achados da
literatura que afirmam que há tempo mínimo de
intervenção necessária (200 a 300 minutos) para
a obtenção de resultados significativos35.
CONCLUSÃO
O estudo revelou que todas as crianças do GE
na pré-testagem apresentaram atraso no desenvolvimento da leitura e da escrita, sendo que, após
o programa de intervenção oferecido ao GEI, 2
crianças apresentaram melhora nas habilidades
cognitivo-linguísticas treinadas durante a intervenção, bem como se aproximaram do GC.
Assim, podemos considerar que esta intervenção foi eficaz para as crianças que podem
apresentar risco para dislexia, já que demons­
tra­ram alterações no momento pré-testagem
quando comparadas ao GC, no que se refere aos
com­­ponentes do processamento fonológico, da
leitura e da escrita, e consequentemente comprovada pela melhora neste processo.
Por ser tratar de um grupo restrito, será realizado monitoramento longitudinal sob o enfoque interventivo nos GE e GC e reavaliação de
todas as crianças ao final do 2° ano do Ensino
Fundamental I.
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Heinemann IL & Salgado-Azoni CA
SUMMARY
Intervention psychopedagogical phonovisuoarticulatory
focusing on children at risk for dyslexia
Objectives: To verify the effectiveness of pedagogical intervention
based on the Method of Boquinhas in children with learning difficulties
the first year of elementary school. Methods: 11 children participated in
the study of the 1st year of primary school from the city of Campinas-SP, of
both genders, ages 6-7 years old, literate approach by focusing syllable.
All children attended kindergarten before the beginning of the 1st year
and belonged to the same classroom. The children were divided into: GEIthree children with learning difficulties in the 1st year of the Elementary
I, who underwent pedagogical intervention from the standpoint speechvisual-articulatory; GEII-3 children in the 1st year of Elementary school
have difficulty in learning, were not subjected to pedagogical intervention
from the standpoint speech-visual-articulatory and CG-5 children in the
1st year of Elementary school no complaints of difficulties in learning, not
subject to intervention. Results: It was found that the children of the GEI
and GEII had difficulties in all the evidence pre-testing, the GEI after
the intervention showed significant improvement in reading and writing,
approaching the GC. Conclusion: The study concluded that the intervention
under psicopedagogic speech-visual-articulatory approach is effective with
children who show signs of risk for dyslexia.
KEY WORDS: Dyslexia. Intervention. Learning disorders. Child.
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Artigo recebido: 22/8/2011
Aprovado: 5/11/2011
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 25-37
37
Freitas PM
et al.
Artigo
original
Desenvolvimento da consciência fonológica
em crianças de 4 a 8 anos de idade:
avaliação de habilidades de rima
Patrícia Martins de Freitas; Thiago da Silva Gusmão Cardoso; Gustavo Marcelino Siquara
RESUMO – Objetivo: O objetivo do estudo foi avaliar o desenvolvimento da
consciência fonológica ao nível da rima em crianças de 4 a 8 anos, observando
o efeito das variáveis idade e sexo. Método: Trata-se de um estudo transversal
analisando o desenvolvimento da consciência fonológica ao nível da rima. Os
instrumentos utilizados foram: Julgamento de Rimas (JR) e Detecção de Rimas
(DR). Participaram do estudo 131 crianças de 4 a 8 anos (média de 5,68 anos),
sendo 81,4% de escolas públicas de Santo Antônio de Jesus-BA; 45,9% das
crianças eram do sexo feminino. Na análise de dados, foram utilizados os testes
estatísticos ANOVA e teste t de Student. Resultados: Os resultados da ANOVA
demonstraram diferenças estatisticamente significativas entre as crianças de 4 a
8 anos, com a formação de dois grupos etários (4 a 5 e 6 a 8 anos). Os resultados
do Scheffé e teste t de Student demonstraram diferenças significativas entre os
grupos nas duas tarefas, sendo que a variável gênero revelou diferenças na JR,
apenas no grupo 4 a 5 anos. Conclusão: Concluímos que este estudo indica a
necessidade de uma avaliação adequada do desenvolvimento de habilidades de
rima na fase pré-escolar e escolar inicial, pois a capacidade de crianças em idade
pré-escolar de detectar aliteração e rima pode predizer o seu sucesso posterior na
aprendizagem da leitura e da escrita.
UNITERMOS: Leitura. Pré-escolar. Linguagem. Transtornos da lin­­guagem.
Correspondência
Patrícia Martins de Freitas
Rua do Cajueiro, s/n – Cajueiro – Santo Antônio de
Jesus, BA, Brasil – CEP: 04039-060.
E-mail: [email protected]
Patrícia Martins de Freitas - Psicóloga, Doutora em Saúde
da Criança e do Adolescente pela UFMG. Mestre em
Psicologia do Desenvolvimento pela UFMG. Professora
Adjunta II do CCS/UFRB-BA – Disciplina de Psicologia do
Desenvolvimento. Grupo de Pesquisa Saúde, Educação e
Desenvolvimento (SAED).
Thiago da Silva Gusmão Cardoso - Psicólogo do Centro
Paulista de Neuropsicologia (CPN/NANI), Esp. em Saúde
Mental. Mestrando em Educação e Saúde na Infância e
Adolescência UNIFESP/GUARULHOS. Grupo de Pesquisa
Saúde, Educação e Desenvolvimento (SAED).
Gustavo Marcelino Siquara - Psicólogo, Especialista
em Saúde Mental. Mestrando em Psicologia do De­­sen­­­
volvimento UFBA/BA. Grupo de Pesquisa Saúde, Educação
e Desenvolvimento (SAED).
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
38
Desenvolvimento da consciência de rima
rima, combinação e segmentação sonora10. Por
exemplo, as crianças de 3 ou 4 anos geralmente
compreendem palavras simples que lhes são faladas (como “camisa”), mas possuem dificuldade
em focalizar os fonemas das mesmas3. A maioria
delas, por exemplo, quando solicitada em tarefas
a identificar numa palavra (“camisa”), o som
me­­­­dial (“mi”) ou o fonema com o qual ela termina (“za”), não consegue realizar essas tarefas.
Entretanto, com o desenvolvimento cognitivo, a
maturação neural e a entrada na escolarização
formal, a maioria dessas crianças passará a
perceber que as palavras são formadas por uma
sequência de sons identificáveis e começará os
seus primeiros ensaios na conversão grafema-fonema. O desenvolvimento da CF, portanto,
vincula-se ao desenvolvimento simbólico da
criança, no sentido de observar os componentes
sonoros das palavras4.
Mesmos antes da aprendizagem da leitura,
o desempenho de crianças em tarefas de manipulação fonológica é influenciado pela CF de
dois segmentos intrasilábicos, conhecidos como
aliteração (onset) e rima3. A capacidade de crianças em idade pré-escolar de detectar aliteração
e rima se correlaciona significativamente com
o seu sucesso posterior na aprendizagem da
leitura e da escrita5,11.
Considerando a importância de estudos sobre CF ainda na idade pré-escolar, o presente
estudo foi desenvolvido com o objetivo analisar
o desenvolvimento da consciência fonológica
considerando o nível da rima em crianças de 4
a 8 anos de Santo Antônio de Jesus, observando
os efeitos das variáveis idade e sexo.
O estudo da consciência fonológica com ta­­­
refas de rima tem sido importante para a inves­
tigação do desenvolvimento de habilidades de
leitura. Para García12, a importância de habilidades prévias à leitura, como a análise dos sons
da fala e a síntese dos segmentos fonéticos em
palavras verdadeiras, bem como a detecção de
rimas e aliterações, está sendo estudada nos
últimos tempos pela capacidade de predizer as
dificuldades de aprendizagem da linguagem.
Ainda segundo o referido autor, as dificuldades
INTRODUÇÃO
O processamento fonológico tem sido alvo
de estudo de inúmeros pesquisadores1-5, sendo
reconhecido como um componente que participa
do processo de desenvolvimento da leitura e da
escrita. Para Capovilla e Capovilla6, existiriam
três tipos de processamento fonológico relacionados às habilidades de leitura e escrita: acesso
ao léxico mental, memória de trabalho fonológica
e consciência fonológica (CF). Este último, a
CF, é uma habilidade metalinguística complexa, que diz respeito à capacidade de refletir
sobre a estrutura fonológica da linguagem oral,
abrangendo a consciência de que a fala pode ser
segmentada e como manipular tais segmentos1.
Segundo Dioses et al.7, o primeiro dos níveis de aquisição do conhecimento fonológico
que compõe a CF é a consciência de rima e
aliteração, a qual consiste no processo de reconhecimento de que duas ou mais palavras compartilham um mesmo grupo sonoro. O segundo
nível é a consciência silábica, entendida como
o conhecimento explícito de que as palavras
estão formadas por uma sequência de unidades fonológicas discretas, porém capazes de se
agrupar em unidades articulatórias. O terceiro
é a consciência intrasilábica, a habilidade de
segmentar as silabas em seus componentes intrasilábicos de princípio (ataque) e final (rima).
E, por último, a consciência fonêmica, entendida
como a destreza em perceber os sons das palavras como unidades abstratas e manipuláveis.
A partir desse modelo, definiu-se no presente
estudo investigar a consciência de rima por meio
do perfil de desempenho em tarefas com rimas,
pois esse domínio da CF é o nível mais básico e
possui maior aplicabilidade com pré-escolares5,8.
Vários níveis de processamento fonológico
estão envolvidos sob a denominação de CF, alguns se desenvolvendo naturalmente e outros
na dependência do processo de letramento9. O
desenvolvimento da CF acontece em um con­­­­
tínuo de níveis de consciência em consequên­
cia de experiências auditivas, articulatórias,
de leitura e de escrita que é relacionado com o
aumento de “feedback”: segmentação silábica,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
39
Freitas PM et al.
de aprendizagem relacionadas ao componente
fonológico da linguagem afetam cerca de 4% das
crianças12. Essa porcentagem revela a neces­
sidade de estudos sobre os componentes do
processamento fonológico que tenham impacto
sobre o desenvolvimento de dificuldades de
aprendizagem.
A centralidade da CF para o desenvolvimento
das habilidades eficientes da linguagem escrita
tem sido demonstrada por vários estudos5,13,14.
Nos estudos de Snowling e Stackhouse5, a CF
no nível do início da rima contribuiu significativamente para a alfabetização. Os achados de
Bryant e Bradley8 revelam que as crianças que
permanecem insensíveis à divisão no início da
rima correm o risco de falhar na leitura e na
ortografia.
Nesse sentido, muitos dos problemas de leitura ocorrem em decorrência das dificuldades de
decodificação, ou seja, por déficits nos mecanismos básicos de reconhecimento das palavras, e
não por prejuízos nos componentes sintáticos ou
semânticos, o que demonstra a importância da
consciência fonológica para a leitura competente e aponta para a necessidade de desenvolver
instrumentos de avaliação relacionados às habilidades metafonológicas13,15.
Raven; as crianças que obtivessem classificação III (intelectualmente abaixo
da média), IV (definitivamente abaixo
da média) ou V (retardo mental) eram
excluídas da amostra;
• matrícula em escolas públicas ou privadas
de Santo Antônio de Jesus-BA;
• ausência de queixas de alterações de linguagem e de problemas auditivos, pois a
inclusão de crianças com essas alterações
poderia alterar os resultados.
Todas as 131 crianças atenderam aos critérios
para inclusão na amostra.
Instrumentos
Os instrumentos utilizados foram as tarefas
de Julgamento de Rimas e Detecção de Rimas.
Essas tarefas fazem parte da Bateria de Avaliação Neuropsicológica do Processamento Lexical
(BANPLE). As tarefas da BANPLE utilizadas
possuem alfa de Cronbach de 0,87 para o Julgamento de Rimas e 0,89 para a Detecção de Rimas
e foram desenvolvidas no contexto brasileiro
para avaliação das funções psicolinguísticas16.
Tarefa de Julgamento de Rimas – consiste na
apresentação de duas figuras em uma prancha,
sem nenhum estímulo auditivo. Para essa tarefa
foram desenvolvidas 33 pranchas, sendo três
exemplos e 30 estímulos (15 rimas e 15 sem rimas). A criança deverá dizer se existe rima entre
o nome das figuras da prancha ou não. Por meio
dessa tarefa, é possível acessar a representação
fonológica de output sem a necessidade de acionar o sistema de armazenamento temporário de
fonemas e a articulação.
Tarefa de Detecção de Rimas – a detecção de
rimas utiliza o input auditivo e, portanto, avalia
o nível fonológico no processo de compreensão
da fala. A tarefa consiste de 33 pranchas com
estímulos pictoriais, sendo três exemplos e 30
estímulos. As pranchas possuem três figuras:
uma figura-alvo, o estímulo associativo e um
distrator, sendo todas nomeadas pelo avaliador
durante a execução da tarefa. A criança deve
identificar qual figura nomeada representa uma
rima considerando o estímulo alvo.
MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal com a ava­­­
liação da consciência fonológica ao nível da
rima por meio de tarefas normatizadas, com
comparação entre as idades e sexo das crianças.
Participantes
Participaram do estudo 131 crianças de 4 a
8 anos de escolas públicas e privadas da cidade
de Santo Antônio de Jesus-BA. Os dados descritivos dos participantes podem ser visibilizados
na Tabela 1.
Os critérios para inclusão e exclusão dos
participantes foram:
• ausência de deficiência mental - evidenciada por meio do teste de inteligência
das Matrizes Progressivas Coloridas do
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
40
Desenvolvimento da consciência de rima
Tabela 1 – Descrição dos participantes por idade, sexo e tipo de escola.
Participantes
N
131
Idade
Sexo (%)
Tipo de Escola (%)
Média
DP
Feminino
Masculino
Pública
Privada
5,68
1,32
60 (45,8)
71 (54,1)
92 (81,4)
39 (29,7)
tos de desenvolvimento, assim como a relação
com variáveis sociodemográficas. No presente
estudo, foi investigado o efeito da idade e sexo
para o desempenho em tarefas com fonemas e
rimas. Como a CF é um facilitador para o processo de alfabetização, o qual pode aprimorar
as capacidades metafonológicas, poderíamos
considerar esse efeito como explicação para o
melhor desempenho do Grupo 2. Em estudo com
crianças de 1ª a 2ª séries do ensino fundamental,
com faixa etária entre 6 e 8 anos, Salles et al.17
enfatizaram que o desenvolvimento da CF foi
favorecido pelo tempo de escolaridade e ocorreu
com o aumento da idade.
Bezerra18, em pesquisa que avaliou vários
níveis de CF, mais especificamente, a detecção
de fonemas, revelou que o desempenho dos sujeitos nas tarefas era insignificante até os 5 anos
de idade, atingindo 50% de sucesso ao 6 anos,
chegando à eficiência aos 8 anos.
Os achados quanto à variável sexo demonstram que as meninas do Grupo 1 têm desempenho estatisticamente significativo melhor do que
os meninos na tarefa de Julgamento de Rimas,
o que corrobora outros estudos19-21. No trabalho
de Meneses et al.21, por exemplo, que teve como
objetivo principal comparar o desempenho de
meninas e meninos em tarefas de CF, foram
encontrados desempenhos significativamente
superior das meninas na tarefa de segmenta­­­
ção silábica.
A hipótese explicativa para as diferenças
entre sexo dentro do Grupo 1, seria a de que o
de­­­senvolvimento da CF em relação à rima entre
os 4 e 5 anos é afetado pela variável sexo, en­­­
quanto que, na faixa etária dos 6 a 8 anos, com a
influência da escolaridade, essa variável per­­­deria
a sua força, enquanto preditora para a facilidade
de desenvolvimento da linguagem e da fala.
Análise de dados
Para análise de dados foi aplicado o teste
estatístico ANOVA e no post-hoc, o método de
Scheffé, a fim de se identificar a existência de
grupos homogêneos com diferenças estatisticamente significativas. Após identificação dos
grupos, foi aplicado o teste t de Student, a fim
de determinar se as diferenças eram estatisticamente significativas dentro dos grupos formados
para a variável gênero.
RESULTADOS
Os resultados do teste de ANOVA revelaram
a existência de diferenças significativas no desempenho das tarefas entre as crianças de 4 a 8
anos (p<0,001) (Tabela 2).
O método de Scheffé indicou a formação de
dois grupos: Grupo 1, formado por 68 crianças de 4 a 5 anos; e Grupo 2, constituído por
63 crianças de 6 a 8 anos de idade (Tabela 3).
Os resultados do Scheffé demonstraram haver
diferenças significativas entre os dois grupos
(p<0,001) (Tabela 4).
Na comparação entre meninos e meninas,
considerando os grupos formados, as diferenças
foram estatisticamente significativas apenas
para os sujeitos do Grupo 1 (Tabela 5), na tarefa de Julgamento de Rimas. Os meninos e
meninas do Grupo 2 (Tabela 6) não obtiveram
desempenhos significativamente diferentes
nas tarefas.
DISCUSSÃO
A relação entre a CF e o desenvolvimento da
leitura tem sido demonstrada em vários estudos;
assim, a CF é considerada inclusive um preditor
do potencial para a aprendizagem da leitura.
Essa relação demonstra a importância de estudos
que investiguem a CF, demonstrando os efei-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
41
Freitas PM et al.
Tabela 2 – Análise do desempenho de crianças de 4 a 8 anos nas tarefas, utilizando a ANOVA.
Tarefas
N
Min.
Max.
Média
DP
p
Detecção de Rimas
128
0
30
20,17
7,66
0,00
Julgamento de Rimas
125
0
30
18,43
7,13
0,00
Tabela 3 – Número e média de idade de participantes no Grupo 1 e Grupo 2.
Grupo 1 (4 - 5 anos)
Participantes (n = 131)
Grupo 2 (6 - 8 anos)
N
Média
DP
N
Média
DP
68
4,59
0,49
63
6,86
0,82
Tabela 4 – Comparação entre o desempenho de crianças do Grupo 1 e Grupo 2 nas tarefas
de Detecção de Rimas e Julgamento de Rimas, utilizando o teste de Scheffé.
Grupo 1
Tarefas
N
Média
Grupo 2
DP
N
Média
DP
p
Detecção de Rimas
64
16,93
7,3
62
23,65
6,3
0,00
Julgamento de Rimas
66
15,00
7,1
63
22,08
4,9
0,00
Tabela 5 – Comparação entre o desempenho de crianças do Grupo 1 em relação à variável sexo.
Tarefas
Feminino
N
Masculino
Média
DP
N
Média
DP
t
p
Detecção de Rimas
28
19,17
7,13
36
15,19
7,08
2,21
0,920
Julgamento de Rimas
27
14,89
7,9
39
15,08
6,6
-0,10
0,031
Tabela 6 – Comparação entre o desempenho de crianças do Grupo 2 em relação à variável sexo.
Tarefas
Feminino
N
Média
Masculino
DP
N
Média
DP
t
p
Detecção de Rimas
28
23,61
6,5
34
23,68
6,2
-0,04
0,966
Julgamento de Rimas
28
22,14
4,6
35
22,03
6,2
0,09
0,928
A maior facilidade das meninas em tarefas
que trabalhem com rimas pode significar um
ponto de partida importante para que desenvolvam mais rapidamente suas habilidades em
consciência fonológica e, por consequência,
tenham acesso facilitado ao domínio do código
alfabético. Além disso, o melhor desempenho em
tarefas de CF também pode estar relacionado ao
fato de meninas apresentarem menores índices
de desvios fonológicos19,22. Existem ainda correlações entre desvios fonológicos, sexo e baixo
desempenho em CF, o que pode se constituir
num fator de risco para os meninos apresentarem
problemas de escrita19.
O estudo apresentou resultados referentes a
apenas um dos níveis da consciência fonológica,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
42
Desenvolvimento da consciência de rima
o nível da consciência de rima, indicando o efeito
das variáveis idade e sexo. Uma das limitações
se refere a não utilizar tarefas que mensurem
as habilidades de leitura e escrita dessas crianças, a fim de se testar o efeito desse domínio da
consciência fonológica sobre a aprendizagem da
leitura e da escrita. Entretanto, consideramos o
estudo relevante, pois, como aponta Golbert23, a
avaliação da evolução psicolinguística da criança
apresenta importantes implicações para o manejo
do seu processo de alfabetização e sempre é recomendada em qualquer fase da escolarização.
O estudo aponta ainda para a necessidade de
outras pesquisas que abordem como as variáveis
idade e sexo afetam os diferentes níveis da consciência fonológica, bem como o peso de cada
uma delas em relação à faixa etária enfocada.
Outros estudos também podem ser direcionados
para a construção de instrumentos adequados
para a avaliação da consciência fonológica, com
base em modelos do processo da informação, a
fim de que essa habilidade metafonológica não
seja analisada separadamente dos modelos que
dizem respeito ao funcionamento cognitivo nor-
mal, e, consequentemente diminua a inacurácia
presente em muitos dos instrumentos utilizados
para a sua medida15.
CONCLUSÃO
Concluímos que o presente estudo indica a
necessidade de uma avaliação adequada do
de­­­­senvolvimento de habilidades de rima na fase
pré-escolar e escolar inicial, pois a capacidade
da criança de detectar aliteração e rima pode
predizer o seu sucesso posterior na aprendizagem da leitura e da escrita.
O estudo sugere uma atenção especial aos
meninos no processo de evolução psicolinguística, por ser o grupo que apresenta maior vulnerabilidade a problemas de leitura e escrita em
consequência da maior frequência de desvios-­
fonológicos em relação às meninas. Além disso,
ao avaliar o desenvolvimento das habilidades
de rima ao longo da faixa etária dos 4 a 8 anos,
observa-se que as crianças que permanecem
insensíveis à divisão no início da rima correm
maior risco de falhar na leitura e na ortografia
nos anos subsequentes da escolarização formal.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
43
Freitas PM et al.
SUMMARY
Development of phonological awareness in children
4 to 8 years of age: rhyme skills assessment
Objective: The aim of the study was search into the development of
phonologic awareness to level of rhyme in children 4-8 years, observing
the effect of the variables age and sex. Method: This is a cross-sectional
study analyzing development of phonologic awareness to level of rhyme.
The instruments were used: tasks Judgment of Rhymes (JR) and Detection
of Rhymes (DR). Participated of the study 131 children of 4-8 years, mean
of 5.68 years, being 81.4% of public school of Santo Antônio de Jesus-BA;
45.6% of the children was feminine sex. In the analyses of dates were used the
statistic tests ANOVA and Student’s t test. Results: The results demonstrated
statistic different significant between the children of 4 to 8 years with
formation of two age groups (4-5 and 6-8 years). The results to Scheffé and
Student’s t test demonstrated differences significant between groups in the
three tasks, being that the variable gender demonstrated differences in the
JR, only group 4-5 years. Conclusion: We conclude that study indicate the
need to assessment skills rhyme development in the pre-school and initial
school, because the skills of preschool children to alliteration and rhyme
detect can predict their later success in learning to read and write.
KEY WORDS: Reading. Child, preschool. Language. Transtornos da
lin­­­­­­guagem.
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Artigo recebido: 7/12/2011
Aprovado: 19/2/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 38-45
45
Bello
et al.
RELATO
DE SF
EXPERIÊNCIA
Parceria colaborativa entre
fonoaudiólogo e professor:
análise dos diários reflexivos
Suzelei Faria Bello; Andrea Carla Machado; Maria Amélia Almeida
RESUMO – Introdução: A consultoria colaborativa é uma proposta de atuação
entre educadores e especialistas, ou seja, entre dois ou mais parceiros que trabalham
em conjunto na tomada de decisões, em busca de um objetivo comum. Essa
colaboração acopla habilidades desses atores, na tentativa de promover atitudes
profissionais independentes, pautadas no desenvolvimento de habilidades para re­­­
solução de problema, apoio mútuo e compartilhamento de responsabilidades. Nessa
dinâmica, este trabalho partiu de um relato de experiência vivenciada no âmbito
da pós-graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos –
PPGEEs/UFSCar, em uma disciplina denominada de “Estudos Avançados”, no ano
de 2009. Objetivo: Descrever e demonstrar, por meio dos diários reflexivos elaborados
pela professora, o trabalho em parceria entre um es­­­pe­­­­cialista – a Fonoaudióloga –
e o professor da escola regular, diante do processo inclusivo de uma criança com
necessidades educacionais especiais. Método: O trabalho foi desenvolvido numa
escola privada do interior de São Paulo, os dados foram coletados do diário reflexivo
da professora, durante três meses de encontros quinzenais, e as análises foram
qualitativas. Resultados: Os dados revelados pelos diários reflexivos da professora
pontuam que a parceria, para o trabalho com crian­­­ças com necessidades especiais,
torna-se uma valiosa perspectiva para auxiliar e colaborar com o professor da
escola regular frente às dificuldades de linguagem e comunicação. Conclusão: A
parceria pode ocorrer de forma facilitadora, ao visar às dificuldades de comunicação,
linguagem e fala, demonstrando que a consultoria colaborativa pode potencializar
a ação da professora e envolver todo o contexto educacional.
DESCRITORES: Fonoaudiologia. Comportamento cooperativo. Educação es­­­
pe­­­­cial. Linguagem.
Suzelei Faria Bello – Doutoranda pelo Programa de PósGraduação em Educação Especial (PPGGEs) – Uni­­­
versidade Federal de São Carlos (UFSCar); Bolsista
CNPq, São Carlos, SP, Brasil.
Andrea Carla Machado – Doutoranda pelo Programa
de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGGEs) –
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Bolsista
FAPESP, São Carlos, SP, Brasil.
Maria Amélia Almeida – Professora Doutora do Pro­­­gra­­
ma de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGGEs)
– Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São
Carlos, SP, Brasil.
Correspondência
Suzelei Faria Bello
Rua Antonio Dias, 830 – São Marcus – São José do Rio
Preto, SP, Brasil – CEP: 15081-470
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 46-54
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Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor
dos estudantes; plano de intervenção, neste
ponto, o consultor deve rever todos os outros
encaminhamentos: a fala com o professor; a
observação da criança e da classe; as possibilidades de discussões entre os envolvidos no
processo; a avaliação funcional; os problemas e
os possíveis passos para as soluções. Com bases
nessas informações, e com um plano estratégico
estabelecido para o aluno-alvo, pode-se desenvolver um plano para intervenção; monitorar a
intervenção, a avaliação deverá ser formativa e
acumulativa, ou seja, baseada no processo para
determinar as metas da consultoria6.
Sendo assim, para efetivação do processo,
torna-se importante a relação de colaboração,
destacada por seis categorias que podem influenciar as relações de cooperação, como demonstra o Quadro 17.
No âmbito escolar, todos esses aspectos po­­­
dem ser potencializados, no entanto, torna-se
essencial que ocorra a existência de um objetivo
comum; a equivalência entre os pares; a par­­
ticipação de todos no processo; e o compartilha­­
mento de responsabilidades e recursos e o ca­
ráter fundamentalmente voluntário.
No Brasil, algumas pesquisas foram desenvolvidas com o enfoque da consultoria colaborativa;
uma delas8 envolveu crianças do ensino fundamental de 1ª a 4ª série e alunos com deficiência
intelectual, compreendeu apoio sistemático às
professoras no que se refere a planejamento,
reflexões sobre as práticas educativas, reuniões
com as famílias, reuniões com os demais membros constituintes da escola e estudos dirigidos.
O estudo possibilitou o desenvolvimento pessoal
e profissional dos professores.
Outro estudo envolveu o apoio psicopedagógico nas práticas de leituras, focando um aluno
com hemiparesia espástica, obteve resultado
satisfatório nas escolhas das estratégias de leitura para estimular a cognição e as habilidades
linguística do sujeito9.
Com o enfoque nas habilidades comunicativas e de linguagem, cabe apresentar um estudo
internacional10, que expõe o envolvimento de
fo­­­­noaudiólogos utilizando a consultoria cola­­­­
INTRODUÇÃO
A escola pode ser considerada o lócus primordial para o desenvolvimento cognitivo, linguístico, social e cultural de um sujeito. Por ela
transita uma tarefa desafiadora de compreen­der
a diversidade e proporcionar planos de ação
adequados, que visem atender o aluno em suas
peculiaridades, no intuito de estabelecer um
processo de ensino-aprendizagem cada vez mais
adequado.
A palavra “colaboração” pode ser definida,
de acordo com dicionário da Língua Portuguesa,
como “Ato ou efeito de colaborar; ajudar, auxiliar: trabalhar em colaboração”. Percebe-se que
o conceito é amplo, contudo não há como negar
que a colaboração, por excelência, é um processo
social e de interação, que pode ser desencadeado
por diversos motivos e de diferentes formas1.
A “consultoria colaborativa” é um estilo de
interação entre dois ou mais parceiros que tra­­
balham em conjunto na tomada de decisões,
em busca de um objetivo comum2. Essa colaboração acopla habilidades de educadores e
especialistas, na tentativa de promover atitu­­
des profissionais independentes, pautadas no
desenvolvimento de habilidades para resolução
de problema, apoio mútuo e compartilhamento
de responsabilidades2.
Várias pesquisas nacionais e internacionais
relatam que a consultoria colaborativa é uma
proposta significativa para o trabalho de um especialista junto com professor e crianças com necessidades especiais dentro do contexto escolar3-6.
A consultoria colaborativa deve ser desenvolvida em etapas, tais como: encaminhamento: o
professor encaminhará o aluno que considera
necessitar de auxílio, assim o consultor poderá
explorar os aspectos a serem trabalhados; discussão inicial com o professor; observação da
classe, com o propósito de auxiliar o trabalho
conjunto na busca de soluções dos problemas de
comportamento e ou aprendizagem, e dos pontos
positivos e negativos utilizados pelo professor,
para estabelecer as interações necessárias entre
especialista e professor e, posteriormente, entre
professor e aluno; avaliação e encaminhamento
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 46-54
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Bello SF et al.
Quadro 1 – Fatores que influenciam a colaboração.
Fatores que influenciam a colaboração
Categorias
Definição
Definição em subcategorias
Ambientais
Relacionados aos ambientes
geográficos e contextos sociais
que desenvolve a colaboração
A história de colaboração existente entre um grupo:
compreendendo o papel e a expectativa de cada membro;
Clima político e social que favorece a colaboração;
Confiança entre os membros para cumprir metas e objetivos
Colaboradores
Relacionados às habilidades,
atitudes e opiniões dos
membros que envolvem o
grupo colaborativo
Respeito, compreensão e confiança: envolvendo suas
diferenças culturais, sociais, limites e expectativas;
Divisão de trabalho justa entre os membros;
Habilidades de cada um respeitando uma opinião final coletiva
Estruturais e
processuais
Relacionados à gestão,
tomada de decisão e
sistema de trabalho
Membros do grupo participam e compartilham
responsabilidades;
Diversos níveis de participação;
Flexibilidade, grupo está aberto a novas ideias e propostas;
Desenvolvimento dos papeis com clareza e com diretrizes de
trabalho;
Adaptabilidade, respeitar o ritmo, estrutura e recurso do grupo
Comunicações
Refere-se aos canais que o
grupo utiliza para receber e
divulgar suas informações
Comunicações fluentes e abertas, com discussões de
temas concernentes à temática estudada
Finalidades/
Propósitos
Motivos da colaboração,
a imagem que busca o grupo,
ou a integração por meio de
tarefas específicas
Visão compartilhada de objetivos e estratégias;
Estabelecimento de metas concretas
Recursos
Envolve tanto os recursos
de natureza econômica
quanto humanas
Envolve equipamentos, tempo de atuação dos membros;
Habilidades para gerir liderança
Adaptado de Mattessich et al.7
borativa para trabalhar conjuntamente com os
professores nas escolas regulares frente às dificuldades linguagem, articulação, fluência e voz.
A Associação Americana de Fala, Linguagem e
Audição (ASHA), em 1997, recomendou o tra­­­­­
balho com a consultoria colaborativa, dentro das
escolas regulares, para atender os alunos em
seus programas individualizados de ensino.
Outro trabalho, desse mesmo autor, demonstrou que a parceira entre fonoaudiólogos e professores de escolas regulares na identificação de
problemas e desenvolvimento de intervenções
voltadas aos aspectos de linguagem e comunicação no ambiente natural do aluno pode favorecer a
competência comunicativa e promover sucesso10.
A fonoaudiologia e sua relação com a escola
balizam relações históricas demarcadas, que
estabelecem o marco fono-escola, estreitamente
ligado ao processo educacional entre os anos
1920 e 1940. Berberian11 relata que este encontro
histórico, entre a Educação e a Fonoaudiologia,
deu-se numa época de controle sistemático da
língua pátria, nos bancos escolares, para neutralizar a influência advinda dos imigrantes.
Ramos e Alves12 expõem contribuição do fo­
noaudiólogo na educação voltada para as pes­
soas com necessidades especiais, alegando que
essa parceria pode ser intensificada a partir da
criação de condições favoráveis e eficazes para
que as capacidades de cada aluno possam ser
oti­­­mizadas. Neste contexto de interrelações, a comunicação assume grande importância, uma vez
que, quanto mais efetiva, maiores são as chances
de inserção do aluno com necessidades especiais
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 46-54
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Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor
no contexto escolar. Desse modo, o aumento da
ca­­­pacidade de comunicação pode ampliar a
chance de interação dentro da sala de aula.
Considerando a diversidade dos bancos escolares, torna-se fundamental que parcerias ocorram, na tentativa de proporcionar um processo de
ensino-aprendizagem cada vez mais dinâmico e
que atenda às demandas de cada criança.
Vale lembrar que os problemas de fala e lin­­­
guagem são comuns dentro dos contextos escolares, ressaltados em um estudo transversal
realizado em uma amostra aleatória de 1.810
escolares de ambos os sexos, matriculados na
primeira série de ensino público do estado do
Rio Grande do Sul. Nesse estudo, os autores
observaram que a prevalência de alteração de
fala por volta dos cinco anos de idade foi de
57% e, entre oito e dez anos, 42%13.
Com isso, a fonoaudiologia se insere nesse
contexto, envolvendo as questões de linguagem
oral e escrita atrelada às ações do educador, que
ao planejar suas estratégias de ensino contemple, de forma consciente, as relações necessárias
de fala e linguagem.
Vale lembrar que as interações entre sujeito
e o meio são cruciais para o desenvolvimento
cognitivo e aquisição de um novo conhecimento
e, sobretudo, aprender implica sumariamente
adquirir conhecimento a partir das relações
intra e interpessoais, dentro de um processo de
mediação, que pode ser potencializado pela ação
do educador.
Assim, por essa perspectiva Vigotiskiana,
este trabalho objetiva descrever e demonstrar,
por meio dos diários reflexivos elaborados pela
professora, o trabalho em parceria entre um es­
pecialista – fonoaudióloga – e o professor da escola regular, diante do processo inclusivo de uma
criança com necessidades educacionais especiais.
A pesquisa-ação permite que o sujeito par­­­
ticipante se envolva nas transformações, que
vão ocorrendo ao longo do processo, de forma
crítica-reflexiva, revendo e amadurecendo os
processos de escolhas das práticas escolares14.
O campo de coleta configura-se nos diários
reflexivos da professora do ensino fundamental
de uma escola privada do interior do estado de
São Paulo, e suas reflexões frente ao trabalho
colaborativo, durante três meses, com um aluno-alvo que apresentava dificuldades de linguagem e comunicação.
O aluno-alvo era do sexo masculino, com
7 anos e 6 meses de idade, denominado para
este trabalho como J., componente de uma
sala de 25 alunos sem necessidades especiais
de uma escola privada. O aluno em questão
apresentava dificulda­­­des de comunicação e de
linguagem que foram evi­denciadas por meio de
avaliação com o instrumento Teste de Linguagem Infantil – ABFW, Fonologia, Vocabulário
e Pragmática, para verificação dos aspectos
fonéticos-fonológicos, de competência lexical
do sujeito e dos aspectos funcionais da comunicação, respectivamente. Por essa perspectiva,
foi possível observar di­ficuldade para iniciar e
manter um diálogo com coerência; a fala com
dificuldade nos sons sur­­­­dos e sonoros; dificuldades para utilizar a lingua­­­­­­gem como recurso
comunicativo e de interação com os pares.
A professora da sala regular era formada em
pedagogia, com 31 anos de idade e 5 anos de
trabalho na mesma escola e com experiência
em salas com crianças com necessidades especiais. Aceitou, voluntariamente, participar da
proposta.
Primeiramente vale destacar que todos os
cuidados éticos foram considerados, somente
ini­­­ciando a coleta após a aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São
Carlos - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, pelo protocolo CAAE 2003.0.000.13509 e tendo, também, os termos de livre e
esclarecimento devidamente assinados pelos
responsáveis.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Este trabalho pode ser considerado um relato
de experiência com a utilização de estratégias
da pesquisa-ação, por meio do diário reflexivo
produzido pela professora, como campo nortea­
dor das análises.
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Bello SF et al.
modificar a estratégia de atuação, as respostas
apresentadas pelo aluno-alvo e as interações que
ocorriam ao longo das atividades.
MÉTODO
Foi utilizada uma abordagem qualitativa,
por meio do diário reflexivo15, como ponto fundamental de análise. Pode-se entender o diário
reflexivo como um registro escrito em que a professora anota suas reflexões e questionamentos
diante das atividades previamente planejadas
com o enfoque no desenvolvimento das habilidades do aluno-alvo.
As etapas percorridas durante o processo en­­­­­­­­­­­
volveram um primeiro momento, em que a con­
sultora/pesquisadora entrou em contato com
a professora e explicou o teor da proposta de
consultoria colaborativa. A professora se apresentou disposta e sem restrições para envolver-se
no trabalho.
Na segunda etapa, foi estabelecido um roteiro
de atividades, voltadas às necessidades espe­­­­
ciais apresentadas pelo aluno-alvo previamente
apontado pela professora. Nessa etapa, a finalidade era facilitar as observações e anotações
pela professora para, posteriormente, refletir
sobre sua prática.
A terceira etapa envolveu encontros, fora dos
horários de aula, com frequência quinzenal, para
planejamento e replanejamento das estratégias e
atividades a serem realizadas com o aluno-alvo.
Os encontros eram dialógicos, discutindo temas
trazidos pela professora, ora diante de leituras
e discussões de textos referenciais para a área,
ora diante das atividades e conteúdos a serem
trabalhados no âmbito de sala de aula.
As atividades organizadas envolveram a lin­­
guagem receptiva e a linguagem expressiva;
problemas de segmentação fonética; problemas
de integração e elaboração semântico-sintáxica,
tais como atenção, memória e discriminação
de sons e letras, além da interação por meio de
reconto de história ou sequência lógica voltada
para elaboração, planejamento e verbalização
do relato.
Na última etapa, ocorreu a análise qualitativa das anotações feitas pela professora frente
a cada etapa de atividades, momento em que
a professora refletia sobre diversos pontos do
trabalho realizado, tais como a necessidade de
RESULTADOs E DISCUSSÃO
No início das interações, a díade professor/
especialista realizou encontros pautados em
textos para discussão da literatura, na intenção
de fornecer um embasamento teórico metodológico para que a professora estivesse instrumentalizada para o desenvolvido do trabalho
colaborativo.
Suas colocações dentro dessa etapa inicial
foram:
“no início, me senti insegura com a proposta do trabalho conjunto, mas vi que a
responsabilidade e a divisão de tarefas
vai facilitar meu trabalho e poderei ajudar a desenvolver a fala do meu aluno
e também envolver a sala inteira, o que
vai até colaborar com outras crianças
também.”
Observa-se que, embora a professora se apre­­­
sentasse insegura no primeiro momento, estava
disposta a envolver-se no processo e compreendeu que a proposta era voluntária e o trabalho,
conjunto. Embora a fonoaudiologia apresente
seu enfoque clínico de intervenção, atuar em parceria dentro do contexto escolar traz a proposta
do trabalho conjunto, participativo e colaborativo
dentro do ambiente natural do sujeito e voltan­
do-se aos aspectos de fala e linguagem10.
De acordo com a professora, as áreas necessárias a serem trabalhadas com o aluno eram
lin­­­guagem, comunicação e fala. A linguagem
pode ser constituída como forma de expressão
e permite relacionar-se com outras pessoas, pois
envolve significado e conceitos de ideias, sentimentos ou experiências, que são expressos por
meio de uma comunicação que tenha um símbolo estabelecido entre significado e significante16.
Assim, as estratégias foram elaboradas na
perspectiva Vygotskiana, sociointeracionista,
em que o mediador passa a ser o professor. Essa
abordagem sociointeracionista concebe o de-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 46-54
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Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor
senvolvimento do sujeito por meio das relações
com o outro, levando à internalização de um
novo aprendizado a partir da troca e da interação social17. Para esse autor, as características e
atitudes individuais estão impregnadas de trocas
sociais, que mediadas podem levar ao desenvolvimento do pensamento e da linguagem. Diante
disso, envolveu atividades que possibilitou
explicitar a influência que o signo linguístico
desempenha para a organização cognitiva das
funções de atenção, memorização, percepção,
regulação verbal. As estratégias simbólicas e
coletivas foram privilegiadas nessa proposta de
consultoria, pois nessa perspectiva pode ocorrer
uma reprodução ou a criação de uma nova relação com a realidade e, por consequência, auxilia
no desenvolvimento da linguagem.
Diante disso, o Quadro 2 expressa algumas
atividades que foram exploradas em colaboração
com a professora.
Observa-se que, em cada atividade, a professora apresentou uma ação reflexiva dentro
da estratégia proposta para o aluno. Ao relatar:
“nessa atividade, nas primeiras vezes, o
aluno precisou da minha ajuda, porém
com a frequência da atividade no cotidiano, observei que ele melhorou e começou
a utilizar a comunicação oral para explicar os fatos com mais palavras.”
Destaca-se que, ao colocar a atividade rotineira no planejamento de sala de aula, a professora
observou que o aluno-alvo começou a iniciar
e manter diálogo com maior frequência. Cabe
ressaltar que as alterações de fala, no processo
fonológico, afetam a organização linguística do
som, o que prejudica a compreensão do que está
sendo dito e pode levar à inibição ou retração para
os atos comunicativos, além de outras alterações
voltadas aos aspectos da leitura e escrita18.
Outro ponto marcado nessa análise encontra-se no seguinte relato da professora:
“percebi que nessa atividade ficou clara
a dificuldade de falar alguns sons, então
vou modificar as figuras oferecendo a ele
figuras de sons que ele não tem dificuldade, para depois colocar os mais difíceis.”
Quadro 2 – Demonstrativo das atividades e da reflexão da professora.
Área
Fala
Linguagem
Oral
Socialização
por meio da
comunicação
Estratégia
Aplicação
Participação
do aluno
Diário reflexivo do professor
Atividade de
discriminação
dos sons da
língua
Trabalhar com
figuras que
Dificuldade
tenham pares
para perceber
de sonoridade
as diferenças
Pata-bata
Vaca-faca
“Ás vezes ainda não entendo o que ele diz,
tem muitas trocas”
“percebi que nessa atividade ficou clara a
dificuldade de falar alguns sons, então vou
modificar as figuras oferecendo a ele figuras
de sons que ele não tem dificuldade, para
depois colocar os mais difíceis.”
Sequência
lógica de
3 ações
Solicitar ao
aluno que
organize a
sequência e
elabore uma
história oral
coerente
Dificuldade na
elaboração da
sequência e o
relato envolveu
apenas descrição
dos fatos
“nessa atividade, nas primeiras vezes, o aluno precisou da minha ajuda, porém com a
frequência da atividade no cotidiano, observei que ele melhorou e começou a utilizar a
comunicação oral para explicar os fatos com
mais palavras”
Jogo de Bingo
envolvendo a
diferenciação
de sonoridade
p/b;v/f/;t/d
Envolver
toda a sala
no contexto
do jogo
Interação
com os pares,
descontração e
solicitação oral
“Essa estratégia foi valiosa, observei que J.
interagiu com os colegas, ele solicitou por
várias vezes à peça que queira, falava o nome,
percebi em seus atos que está se motivando
para o aprendizado e se abrindo para rela­
cionar com os colegas.”
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 46-54
51
Bello SF et al.
Considerado como sendo uma das etapas da
consultoria, o monitoramento das estratégias fica
evidente no relato da professora, ao observar a
mudança da estratégia na tentativa de atender
a um desempenho melhor do aluno6. Nesse
caso, ressalta-se que o aluno-alvo apresentava
uma preferência assistemática por sons surdos,
o que gera um padrão caracterizado fonológico
desviante.
Alguns autores descrevem que, quando
ocorre esse padrão desviante, em que palavras
são produzidas da mesma maneira, mas com
significados diferentes, o resultado é a inteligibilidade da fala. Portanto, a estratégia priorizada
pelo trabalho colaborativo tornou-se viável, a
fim de que o aluno obtivesse um incentivo para
as interações comunicativas com seus pares19,20.
Além disso, a professora, como mediadora da
atividade, teve a possibilidade de (re)formular
e (re)ver a estratégia para aproximar o conceito desejado do aluno, demonstrando que, pela
pers­­­pectiva sociointeracionista, a relação de
desenvolvimento da aprendizagem e da linguagem está atrelada ao contexto social da sala e a
resposta que o aluno fornece permite um novo
olhar, desde que o professor esteja atento e reflita
sobre sua atividade.
cadores e demais membros da escola21. Assim,
a interação entre fonoaudiólogo e professor, vivenciando a prática pedagógica constantemente,
agrega valor ao trabalho conjunto e traz para
dentro das escolas uma nova perspectiva, uma
ação reflexiva, conjunta e colaborativa.
Este relato de experiência demonstrou que
essa parceria pode ocorrer de forma facilitadora,
ao visar às dificuldades de comunicação, linguagem e fala, demonstrando que a consultoria
colaborativa pode potencializar a ação da professora e envolver todo o contexto educacional.
Pode-se verificar um componente importante no dia-a-dia do professor, o diário reflexivo,
pois possibilita que ele reflita sobre suas práticas e atue embasado em fatos concretos para
potencializar as habilidades das pessoas com
necessidades especiais. Portanto, na perspectiva
da consultoria colaborativa, especificamente a
interação entre fonoaudiólogo e professor pode
contribuir para uma escola que atenda à diversidade e traga no trabalho conjunto a possibilidade que permeia a nova concepção inclusiva,
visando ao ensino e à aprendizagem diante das
diversas potencialidades dos alunos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à professora participante, pela
disponibilidade e colaboração no envolvimento
com o trabalho, tendo como princípio a seriedade
e o comprometimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fonoaudiólogo, no contexto escolar, pode
desenvolver projetos de assessoria junto aos edu-
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Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor
SUMMARY
Collaborative partnership between speech therapist and teachers:
analysis of reflective journals
Introduction: A collaborative consultation is a proposal of action between
educators and specialists, or between two or more partners that work to­
gether in making decisions, seeking a common goal, being able to engage
skills of these actors, in an attempt to promote independent professional
attitudes, guided the development of skills for problem solving, mutual
support and shared responsibility. In this dynamic, this study came from an
account of lived experience within the graduate Special Education, Federal
University of Sao Carlos - PPGEEs / UFSCar in a course called “Advanced
Studies”, in 2009. Objective: To describe and demonstrate, through the
reflexive diaries prepared by the teacher, working in partnership between
a specialist teacher, speech therapist and the regular school, before the
inclusive process of a child with special educational needs. Methods: The
study was conducted in a private school in the interior of Sao Paulo, the
data were collected from the teacher’s reflective diary for three months of
biweekly meetings and analyzes were qualitative. Results: Data revealed
by the teacher’s reflective journals punctuate the partnership to work with
children with special needs, it becomes a valuable perspective to assist and
cooperate with the regular school teacher facing the difficulties of language
and communication. Conclusion: The partnership may occur facilitator,
by targeting the difficulties of communication, language and speech,
demonstrating that collaborative consultation may potentiate the action of
the teacher and involve the whole educational context.
KEY WORDS: Speech, Language and Hearing Sciences. Cooperative
be­­­havior. Special education. Language.
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de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil.
Artigo recebido: 18/12/2011
Aprovado: 2/4/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 46-54
54
Família e escola na compreensão
significados do processo escolar
RELATO DEdos
EXPERIÊNCIA
Família e escola na compreensão
dos significados do processo escolar
Maria Luiza Puglisi Munhoz; Marli da Costa Ramos Scatralhe
RESUMO – Acreditando que a comunicação e a linguagem são ins­­­
trumentos significativos nas ações educativas, propomos a criação de
um espaço conversacional entre pais e professores de crianças de 6 a 8
anos, de ambos os sexos, do 1º e 2º ano do ensino fundamental de uma
instituição particular de ensino, de nível socioeconômico médio e médio
alto, a partir do que relatam sobre a educação escolar dos filhos/alunos.
Trata-se de uma metodologia que possibilita a aproximação dos dois sistemas
interdependentes família e escola, visando minimizar os conflitos existentes
entre eles. Concluímos que, a escola ao transmitir valores essenciais por meio
das funções do professor, estende a ação educativa à família, inserindo-a.
Ação considerada positiva pelos pais e professores, porque possibilita a
compreensão dos significados expressos pelos sistemas interagindo.
UNITERMOS: Escolas. Família. Comunicação.
Correspondência
Maria Luiza Puglisi Munhoz
Rua: Moncorvo Filho, 101 – City Butantã – São Paulo,
SP, Brasil – CEP 05507-060
E-mail: [email protected] //
[email protected]
Maria Luiza Puglisi Munhoz – Psicóloga, Mestre e Dou­­
tora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Especialista em Famílias e
Casais. Professora e Pesquisadora do Programa de
Mestrado em Psicologia Educacional da Fundação
Instituição de Ensino para Osasco (UNIFIEO), São
Paulo, SP, Brasil.
Marli da Costa Ramos Scatralhe – Mestre Pedagoga
e Química. Mestre em Psicologia Educacional. Psico­­
pedagoga Institucional. Professora Universitária de
Pós-graduação em Psicopedagogia das Faculdades
Mario Schenberg. Diretora pedagógica do Colégio
Mario Schenberg, São Paulo, SP, Brasil.
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Munhoz MLP & Scatralhe MCR
as interações provocadas pelas comunicações,
como uma forma de fazer com que as emoções
e compreensões se modifiquem. O autor justifica esse fenômeno porque ao nos movermos
em interações com outras pessoas, veremos
as histórias vividas dentro e fora do linguajar,
quando poderemos dar testemunho da expressão
do mundo edificado de cada um, referente aos
valores, mitos e crenças. Vem confirmar esses
conceitos autores como Watzlavick et al.4, que
se referem à comunicação entre pessoas como
uma transmissão de mensagens que, devido à
forma e ao conteúdo expresso, é indicadora dos
modelos de “interação” estabelecidos entre os
participantes das falas e das trocas de informações, definindo a relação. Partindo da concepção de que em todas as situações entre duas ou
mais pessoas ocorrem interações comunicativas,
aceitamos as premissas de Watzlawick et al.4 de
que é impossível não se comunicar, dando com
isso significado ao silêncio e validade às formas
de expressão não-verbais, que permeiam todas
as conversas. Dessa forma, conversar é mais do
que simplesmente falar e, de acordo com Anderson5, em seu sentido pleno, conversar pode ser
considerado como a essência absoluta de nossa
existência.
Situações em que a subjetividade emerge
nas manifestações de pais e de professores nas
con­­­versas que se estabelecem, encontramos no
relativismo da visão sistêmica e na complexidade
do pensamento complexo o embasamento teórico
que possibilita formas de ver e compreender as
relações entre os sujeitos de maneira ampla,
respeitando diferentes ângulos do fenômeno que
os torna parte de um mesmo sistema. Na busca
de compreender os significados construídos nas
relações sociais, apoiamo-nos nas abordagens:
Construtivista e Construcionista So­­­cial como conceitos estudados e aprofundados por Goolishian6
e Grandesso7, ao relatarem suas experiências em
situações sociais e terapêuticas.
O cenário escolar é sobrecarregado, nos dias
de hoje, por situações que no passado não ocorriam, em virtude dos novos arranjos familiares,
da falta de limites nos contextos sociais, do
INTRODUÇÃO
Acreditamos que a comunicação e a linguagem caracterizam-se como conjunto e totalidade
no processo de desenvolvimento da aprendizagem humana; são, assim, instrumentos significativos nas ações dos profissionais da educação.
Partimos do pressuposto de que conversar,
dialogar, comunicar-se, por meio da linguagem
e das práticas sociais se caracterizam como
uma construção ativa que se dá na interação,
na intersubjetividade, nas trocas, nos acordos
que se faz socialmente. Dessa forma, defende­
mos a proposta de que tenhamos no espaço
escolar possibilidades de conversas: de falar, de
trocar, de ouvir, de questionar, de dialogar entre
os participantes do processo escolar do aluno,
entendidos neste trabalho como sendo os pais
e os professores, é o que chamamos de espaço
conversacional na escola.
Ao escolher esse tema, apoiamo-nos teoricamente em Maturana1, por ser ele um autor que
defende o conhecimento como uma construção
da linguagem. E por acreditarmos que a educação escolar acontece nas relações dinâmica
e dialógicas, concebidas por Morin, citadas por
Almeida & Carvalho2 como uma forma articulada
de se comunicar, que não pretende chegar a um
consenso, ou síntese definida, mas sim, propõe a
ampliação das possibilidades de criar novas formas de entendimento sobre o tema na interação
que se estabelece na conversação, promovemos
espaços de conversa entre pais e professores no
contexto escolar, como uma ação educativa.
Tendo conhecimento de que, na literatura especializada, tanto o conceito de interação como
a discussão sobre interação não são novos, mas
ganham relevância nas décadas de 1970 e 1980
devido à transição da lógica da distribuição-transmissão para a lógica da comunicação-interatividade, a comunicação dos conteúdos
estudados na escola apresenta movimento ativo
e não passivo. Trata-se de um movimento que
prioriza o sentido e o significado representativo
de cada palavra expressa para todos os sujeitos
envolvidos no processo ensino-aprendizagem,
inclusive o próprio aluno. Maturana3 entende
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Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar
consumismo exagerado e, especialmente, da
ausência de modelos de pai e de mãe. Tudo isso
tem exigido da escola e, também, da família,
uma percepção mais apurada e maiores cuidados e conhecimentos sobre as interferências
que esses novos quadros poderão apresentar
na vida escolar do filho/aluno. Por todos esses
fatores é preciso desmistificar as ideias que
dificultam a comunicação entre os agentes que
desempenham a função de educar, no sentido
de ampliar a compreensão dos significados
inerentes à educação escolar dessas crianças e
jovens adolescentes.
Existe uma demanda dos profissionais da
área da educação, tanto da rede pública como
da rede particular de ensino, pedindo ajuda dos
familiares na participação do processo escolar
de seus filhos. As interações e comunicações
que se estabelecem entre família e escola,
segundo Carvalho8, têm acontecido pelo comparecimento das famílias às reuniões de pais e
mestres, atenção à comunicação escola-casa e,
sobretu­do, acompanhamento dos deveres de casa
e das notas. Pode-se observar maior interesse,
incidência da participação e frequência dessas
ações nas camadas média e média alta, do que
nas camadas mais baixas da população.
Encontramos em Carvalho8 argumentos sobre
a existência de pais interessados no processo escolar dos filhos, que parecem soar como “ventos
que sopram a favor do envolvimento dos pais
na escola”.
A política de participação dos pais na escola
gera concordância imediata e até mesmo entusiasmada; parece correta porque se baseia na
obrigação natural dos pais, aliás, mães; parece
boa porque sua meta é beneficiar as crianças;
e parece desejável porque pretende aumentar
tanto a participação democrática quanto o aproveitamento escolar. Além disso, tem eco na tradição cultural da classe média, especificamente
na crença de que a família influencia a política
escolar (a qualidade do ensino), sobretudo no
contexto das escolas particulares, onde a relação
entre pais-consumidores e diretores-proprietários é direta e a dependência mútua é clara8.
Apoiando-nos nessas concepções, defende­­
mos a proposta de que tenhamos no espaço
escolar possibilidades de conversas: de falar, de
trocar, de ouvir, de questionar, de dialogar entre
os participantes do processo escolar do aluno,
entendidos neste trabalho como sendo os pais
e os professores. É o que chamamos de espaço
conversacional na escola, como um meio facilitador para emergir os significados atribuídos
por eles sobre o ensino/aprendizagem de seus
filhos/alunos.
A partir daí, desenvolvemos uma pesquisa
de campo para obtermos informações que pudessem trazer respostas às questões que nos
inquietavam.
MÉTODO
Trata-se de uma investigação que pode ser
enquadrada na modalidade de “pesquisa/intervenção”, porque teve o objetivo de avaliar es­­­­
traté­­­­gias diversificadas, focalizando o comportamento dos participantes, sempre respeitando
e incluindo a presença do pesquisador. A partir
das informa­ções expressas, verbal e não verbal­
mente ocorridas no espaço conversacional, realizamos a análise dos significados sobre o que
os pais e os professores relataram a partir de
levantamentos de categorias a posteriori, que
exige maior bagagem teórica do investigador,
considerando que: “em geral, o pesquisador
se­­­gue seu próprio caminho baseado em seus
co­­­nhecimentos e guiado por sua competência,
sensibilidade e intuição”9.
Para a análise dos significados, tomamos
co­­­­­­mo referência as falas dos pais e dos profes­
sores a partir das questões disparadoras da
conversa, considerando outras fontes de comunicação, como os gestos e as expressões não-verbais. Depois da classificação e ordenação
em categorias teóricas, realizamos a discussão
dos resultados.
A fim de obtermos melhor compreensão dos
significados expressos, destacamos como parte
integrante da metodologia a inserção do observador pesquisador na observação que realiza,
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atuando como mediador em situações que viria
facilitar a interação e a comunicação. Como
pesquisadores, ficamos atentos ao que apareceu com maior frequência no grupo de pais e
de professores, tendo como intenção mediar a
interação sempre que necessário, inicialmente
entre os pares e depois entre os dois grupos.
Consideramos a presença do pesquisador como
necessária para promover a emergência de novas
reflexões dialógicas na conversação.
Instrumentos
Para que pais e professores pudessem dar início às conversas, foram lançadas duas questões
disparadoras, nos respectivos grupos:
I) O que pensam sobre a função do educador, e o que é educar?
II) Quais as dificuldades e os méritos encontrados pelos pais ou professores no processo ensino/aprendizagem dos filhos?
III)As mesmas questões foram mantidas no
encontro dos pais e professores na conversa em conjunto.
Participantes
Foram escolhidos para a pesquisa pais do
1º e 2º ano do ensino fundamental, porque na
vivência profissional deparamo-nos com a presença atuante desses pais, considerados participantes ativos, que por terem filhos na faixa
etária que compreende o início da vida escolar,
preocupam-se, questionam e se angustiam,
buscando conhecimentos principalmente sobre
a alfabetização.
Participaram da pesquisa nove pais, sendo
três casais e seis mães, a maioria profissionais
liberais, casados, com dois filhos, na faixa etária
entre 32 e 44 anos. No grupo dos professores,
participaram oito professoras, todas com pós-graduação, a maioria casadas, com dois filhos,
e a idade delas ficou entre 24 e 41 anos.
O espaço conversacional foi realizado em
uma escola particular, localizada na região oeste
da cidade de São Paulo. Os pais convidados
foram pré-selecionados pelo fato de que escolhemos trazer para o espaço conversacional os pais
que já demonstravam anteriormente interesses
relacionados à aprendizagem de seus filhos.
Quanto aos professores participantes, foram se­­­
lecionados aqueles que trabalhavam com 1º ou
2º ano do ensino fundamental.
Houve a preocupação em limitar o número
de participantes, porque buscamos observar no
espaço conversacional a circularidade existen­­­
te nas ações e reações entre os participantes
e o movimento dialógico da comunicação por
meio das falas e dos discursos entre pais e pro­­­­­
fessores.
Procedimentos
Tais questões foram apresentadas em dois
mo­­­mentos distintos: no primeiro momento, par­­­
ticiparam os pares de pais e de professores em
espaços separados, o que levou aproximadamente duas horas de conversação e, no segundo
momento, o espaço de conversação se tornou
aberto para os pais e os professores, num período
de duas horas e meia de conversa.
Os conteúdos expressos nos dois grupos
foram gravados, com anotações dos gestos e expressões corporais e faciais, considerados como
diferentes formas de comunicação.
Procedimentos de análise
A partir da coleta de dados, ouvimos com
atenção, repetidas vezes, a gravação dos relatos dos pais e dos professores, primeiramente
no encontro entre os pares e, finalmente, no
encontro dos pais e dos professores em conjunto, como representantes da família e da escola:
dois sis­temas em interação. De posse dos dados
coletados, construímos algumas categorias,
baseadas nas questões disparadoras, a fim de
proceder a Análise de Conteúdo do que foi
captado em forma de mensagens verbais, gestuais, silenciosas, figurativas, espontâneas ou
diretamente provocadas, que, invariavelmente,
expressam um significado e sentido como um
ato contextualizado9.
Segue o resultado da análise dos resultados,
partindo das inferências e interpretações dos
significados que os indicadores nos revelaram.
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Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar
professor que é um educador se preparar para se
tornar efetivamente capacitado a desempenhar
a orientação das famílias sobre o que ocorre no
contexto escolar.
Observamos que, já no espaço da conversa
entre os professores, houve ampliação sobre a
função do educar, ao ser levantada a importância de se educar os pais para torná-los parceiros
na responsabilidade de educar seus filhos. Foi
sugerido cativá-los ao cativarem os seus filhos.
Como nos ensina o velho ditado: “Quem agrada
meu filho, adoça minha boca”.
Vimos assim mudança de significado no
con­­­versar dos professores no sentido de efetivamente realizarem um trabalho de orientação
sobre o ensino/aprendizagem, reconhecendo que
precisam ter boa formação para isso.
Ressaltamos, nessa análise, o novo paradigma sistêmico, onde vemos a compreensão dos
significados numa visão de totalidade integrada:
uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados. Desse modo, os professores sentem necessidade de um trabalho social junto aos pais e
justificam essa necessidade para que possam
desenvolver bem a função de educadores, porque
os pais/pro­­­fessores são partes de uma rede de
inter-relações que está em constante mudança,
que unidos poderão enfrentar com mais conhecimento, propriedade e recursos os obstáculos
que se apresentarem.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Análise dos significados do grupo dos professores sobre o que é educar e o que é ser
educador
Há concordância entre os professores que o
ato de educar consiste na transmissão de valores
e se consideram como modelos para seus alunos, ressaltando que, algumas vezes se sentem
idolatrados por eles, especialmente, na faixa
etária com quem trabalham, ou seja, crianças
que estão ampliando o espaço de convivência e
de aprendizado social.
Outra afirmativa expressa pela maioria dos
professores é que, para o desempenho eficaz
do ato de educar, torna-se necessário que se
estabeleça aproximação, empatia, conversa e
afetividade. De fato, o ato de educar somente
se processa na relação afetiva, com interesse,
disposição e vontade de quem educa e de quem
será educado.
A definição do que é ser educador aparece
como expressão dos professores que se sentem
depositários da função de educar pelos familiares. Trata-se de um foco de tensão que ocorre
entre as instituições família e escola, que indica,
especialmente, a necessidade de transferir a responsabilidade em situações de fracasso escolar.
Destacamos que, confiança e responsabilida­
de são consideradas pelos professores como atribuições do ser educador, afirmando serem eles
junto com a família, os responsáveis pelo sucesso
no ensino/aprendizagem dos filhos/alunos.
Por fim, na temática sobre as habilidades e
sentimentos de quem educa, os professores ma­­­­
nifestam que se sentem como bons ouvintes,
mas que permanece latente o sentimento de
insegurança e medo pela responsabilidade que
lhes é atribuída. Nesse sentido, consideram que
é devido à escola a função de preparar e sensibilizar os familiares para que se concretize uma
parceira entre família e escola com a possibilidade de partilhar a responsabilidade do educar.
O ponto crucial que impede a interação entre os
parceiros é a inibição de certos professores frente aos questionamentos de pais com formação
superiores a eles. Vemos então a importância do
Análise dos significados do grupo dos pais
sobre o que é educar e o que é ser educador
No grupo de pais, todos concordaram que
educar é conceituado como sendo a transmissão
de valores familiares para os filhos. No entanto,
uma das mães interferiu dizendo que sentia na
escola e, consequentemente, na professora, certo
poder para lidar com as questões, por exemplo,
dos limites.
A partir daí se instalou um movimento dialógico bastante pronunciado, com o tema educar,
nas falas dos pais, ressaltando a função social
de transmitir valores da escola e da família como
parceiras na formação do indivíduo, confirmando
o que defende Ricotta10. A autora considera que
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essa função dos pais é extremamente natural e,
por outro lado, observa que a escola tem se pronunciado como corresponsável pela orientação
e formação do indivíduo, ampliando seu papel
junto à sociedade e atuando nos resultados das
influências que a família produz em seus filhos.
Entendemos como natural e atual, numa con­­­
versa entre pais na escola com o tema educar,
que tenha surgido na fala dos participantes
ques­­­tões sobre limites. É uma questão pertinente
nessas relações, porque no contexto escolar a
criança irá experimentar, em grupo, a obrigatoriedade de cumprir as regras e os combinados,
vivenciando a tolerância à frustração, fundamental para o desenvolvimento emocional.
Segundo Ricotta10, a escola areja as relações
intrafamiliares, já que a família não se esgota
em si mesma, assim concluem que se escola e
família estiverem unidas e afinadas quanto aos
valores que querem imprimir e transmitir aos
seus alunos e filhos, haverá um laço de corresponsabilidade entre as partes, onde poderão
então transmitir valores correlatos ao que um
ser humano necessita, fazendo assim prevalecer os aspectos que venham de encontro às
questões que terão de responder como cidadãos
do mundo. Ouvir dos pais que se sentem educadores assim que se tornaram pais, a partir do
momento do nascimento do filho, é confirmado
por Munhoz11, quando afirma que: “No momento
em que nasce uma criança, nasce também uma
família. Assim começa a ser formada a estrutura
familiar, que consiste num conjunto de exigências e desempenho de funções organizadas, com
um padrão de funcionamento interacional, que
permeia as relações entre os membros de um
sistema familiar”.
Partindo dessa concepção, o ensino/aprendizagem dos filhos ganha significado para os pais,
quando eles entendem e tomam conhecimento
sobre a missão e objetivos da escola de seu filho.
Nesse ponto da análise conseguimos observar
o que defende Grandesso7, ao afirmar que a
construção de significados tem sua origem no
discurso das trocas dialógicas que ocorrem no
espaço comum entre as pessoas.
Um dos pais expressa o quanto está sendo
para ele significativo possibilitar a elaboração
das emoções humanas nesse momento, na escola de seu filho. Nesta análise, confirmamos
os efeitos produzidos nas interações com outras
pessoas e a emergência de suas histórias vividas,
dentro e fora do linguajar, dando testemunho
da expressão do mundo edificado de cada um,
referente aos valores, mitos e crenças. Como
esse pai se encontrava em um espaço conversacional foi possível constatar o que Maturana3
nos explica sobre as interações provocadas pelas
comunicações, ou seja, esse pai permitiu que
suas emoções e compreensões se modificassem
a ponto de dizer ao grupo que acreditava ser
importante que na escola se trabalhasse a educação emocional.
Análise dos significados sobre as dificuldades dos professores encontradas no processo
ensino/aprendizagem do aluno
Estando o grupo de professores mais “aquecido”, a segunda questão disparadora foi respondida mais facilmente. Fizeram críticas às
famílias que não acompanham seus filhos e
se ausentam da escola, mas, ao mesmo tempo,
também criticaram os pais que se excedem nessa
participação, extrapolando o seu papel de pais
para se apropriarem do que cabe à professora e
à escola. Observamos nas falas dos professores
certo desabafo, num fluir do linguajar. Neste
momento, demonstraram a existência de críticas
reais e vividas, revelando as experiências que
fortalecem suas crenças sobre as funções dos
pais e dos professores.
A partir do pressuposto do Construtivismo
Social, confirmamos que os indivíduos não
reagem a um mundo tal como ele é na realidade, mas ao mundo conforme ele é percebido
e compreendido em sua subjetividade. Então,
vemos na fala dos professores um conhecimento
auto-referente, ou seja, é impossível referirmo-nos a uma situação da qual participamos sem
que nossas descrições sejam influenciadas por
nossas experiências e da maneira como fo­­­­ram
vividas.
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Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar
escola ao conduzir a educação de seus filhos,
estão solicitando também que a escola aprenda a
conhecê-los. Tendo como proposta a abertura de
caminhos para que todos aprendam em conjunto,
a fim de atingir um aprendizado que faz a diferença, ou seja: a conjunção do reconhecimento
e da descoberta, quando é possível acontecer
a união do conhecido e do desconhecido num
processo dialógico e constante, assimilando em
seu bojo as contradições inerentes aos fenômenos humanos12.
Análise dos significados sobre as dificuldades encontradas pelos pais no processo
ensino/aprendizagem dos filhos
Observamos que os pais necessitam de um
serviço de orientação familiar, para auxiliá-los
na condução do aprendizado dos filhos, em
especial quando devem acompanhar os filhos
em suas lições de casa. Apoiamo-nos em Carvalho8, que considera o dever de casa como
uma necessidade educacional, reconhecida por
pais e professores, sendo concebido como uma
ocupação adequada para os estudantes em casa;
um componente importante do processo ensino/
aprendizagem e de currículo escolar dentro de
uma tradição cultural e ainda como uma política
tanto da escola, quanto do sistema de ensino.
Trata-se de uma ação que objetiva ampliar a
aprendizagem em quantidade e qualidade, promovendo uma aproximação dos sistemas família
e escola na ação educativa.
Surgiram revelações significativas entre os
pais, num momento de conversa entre seus pares, quando conseguem expressar que o dever
de casa é uma dificuldade que encontram no
processo ensino/aprendizagem dos filhos, considerando as excessivas exigências da dinâmica
familiar atual. O motivo pode ser apontado por
Carvalho ao dizer que: “O dever de casa afeta
a vida familiar, ao pressupor a conexão entre
as atividades de sala de aula e de casa, numa
perspectiva de estrutura doméstica adequada
apoiando as atividades escolares, que hoje é
difícil de se adequar”.
Os pais dizem que encontram dificuldades
em acompanhar os filhos na fase inicial da
apren­­­dizagem, em virtude de não serem entendidos e acolhidos pela escola, no que mais
desconhecem e necessitam. Existe aqui um
conflito expresso: os professores esperam que os
pais desempenhem sua função de educadores,
por outro lado, os pais esperam que a escola os
compreenda e ofereça a eles a tranquilidade de
que seus filhos estão recebendo o que é devido
à escola oferecer.
Quando os pais solicitam que os professores
tomem conhecimento do que eles esperam da
Análise dos significados sobre os méritos
dos professores no ensino/aprendizagem
do aluno
Os professores, ao falarem sobre os méritos
em sua práxis, modificaram até mesmo o tom da
voz e ficaram mais serenos e emocionados. O
significado que dão ao reconhecimento da sua
profissão está relacionado ao que conseguem
ensinar e produzir com seus alunos. Outro significado importante assinalado pelos professores
é o relacionamento afetivo que estabelecem com
seus alunos e como esses o tomam como modelo.
Esses significados são reforçados pelas famílias
que avaliam o mérito de um professor a partir
dos relatos dos filhos sobre o que aprendem e
como aprendem com seus mestres.
No entanto, nenhum dos participantes considerou o mérito vindo de si mesmo, mas sempre
relacionado ao produto entregue ao aluno e
à sua família. Observa-se com isso a real dificuldade de quem ensina, sendo apontada pelo
próprio professor, que consiste em se aprimorar
e se reconhecer como ser que também aprende,
para poder investir nas relações com seu aluno
como um sujeito aprendente. Podemos reforçar
essa observação ao tomarmos como referência o
que diz Scoz13 a respeito da importância e pertinência da autopercepção do professor no que
faz, para que faz e como o faz, podendo assim
se autoavaliar como pessoa e como profissional
que ensina e educa.
Teríamos aí então uma possível contradição?
O professor reconhece como mérito o que seria
uma dificuldade? Ou o professor reconhece
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Munhoz MLP & Scatralhe MCR
A sentença de sucesso ou fracasso na escola/vida toma conta dos pais como um arsenal
de luta, que já é de excessiva exigência para
poderem dar conta do sucesso dos filhos. Essas
exigências externas, amplas e gerais os impedem
de enxergar com clareza seus méritos em relação
ao processo ensino-aprendizagem dos filhos/
alunos. Até por isso devem solicitar o acompanhamento da escola, auxiliando-os nesta missão.
como dificuldade o que deveria ser considerado
um mérito? São questionamentos que surgem
nos espaços conversacionais, que nos parecem
necessários, por permitir enfrentar os desafios
de realidades profundas que, justamente, unem
verdades aparentemente contraditórias. Como
define Morin12 ao se apoiar em Pascal (Pascal
in Almeida & Carvalho1) que o contrário de uma
verdade não é um erro, mas sim uma verdade
contrária.
A relação que o professor faz sobre o seu
tra­­­­balho e o merecimento trazido por ele se dá
concretamente pelo crescimento da criança/
aluno como forma de reconhecimento da família.
Vimos nessa fala da professora ao se dirigir a
um pai como uma expressão de ter conseguido
atingir as expectativas da família. Houve então
um momento de emoção e a mensagem que ficou
de dever cumprido.
Então o mérito dessa professora em questão
foi dado a partir de um reconhecimento da família do seu aluno, por ter conseguido atender às
expectativas dessa família relacionadas à escola
e, consequentemente, ao seu trabalho. Convém
ressaltar que, quando a professora se dirigiu
ao pai, a sua emoção ao falar agradou muito ao
pai, criando assim uma relação de confiança e
um clima de bem-estar no espaço de conversa.
Análise dos significados das expressões de
pais e de professores na conversa conjunta
Nesse momento, os redatores do grupo dos
pais e dos professores trouxeram para todos os
participantes uma questão comum, que foi a
necessidade de compreensão sobre a função do
educar na escola e na família.
Pais e professores não conseguiram encontrar
em que local, nem mesmo em que momento se
separa a função do educar e do educador na
escola e do educar e do educador na família.
Houve da parte dos pais um reforço da imagem “poderosa” do professor e, por consequência, a facilitação em conduzir melhor, do que a
família, os cumprimentos dos deveres de estudante. E que o “poder“ do professor sobre seus
alunos se estabelece pela força do vínculo, que
expressa o quanto o professor está disponível
para o outro em sua função de educador.
Da parte dos professores, observou-se a ne­­­
cessidade de ressaltarem a importância da fa­­­
mília cumprir aquilo que compete a ela, mas
consideram de grande significado o reconheci­
mento vindo da família do aluno à sua práxis
como um mérito.
De volta à questão ensino/aprendizagem,
percebemos que ambos os grupos perdem força,
os professores por receberem dos pais uma cobrança de maiores e melhores esclarecimentos
sobre o processo escolar de seus filhos, já os pais,
ao mesmo tempo, que cobram, solicitam ajuda,
não de uma forma direta, mas traduzida pela
queixa de falta de esclarecimentos.
Os pais demonstraram preocupação ao se
referirem sobre as execuções das práticas educacionais e do lidar no dia-a-dia dos educado-
Análise dos significados sobre os méritos
dos pais no processo ensino/aprendizagem
dos filhos
Os pais consideraram mérito a ideia de con­­­
quista e luta para o sucesso dos filhos. Não con­­­­
seguem relacionar mérito com a ideia de ensino/
aprendizagem, quer dentro da escola ou mesmo
fora dela. Na verdade, “o fardo” dos pais em tentar conseguir acompanhar a vida escolar de seus
filhos supera a ideia de pensarem e, consequentemente, falarem sobre o mérito que os pais possam
ter em acompanhar seus filhos na vida escolar.
Percebemos, com isso, que a “patologia do
nosso tempo”, representada pelo fracasso escolar, é considerada como um sintoma social.
“Fracassar na escola poderá ser visto como insucesso na vida”14.
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Família e escola na compreensão dos significados do processo escolar
na família, como defende Santos15, em seu estudo compreensivo sobre os valores familiares na
prática educativa. Confirmando seus achados,
acreditamos que a conversa é um dos meios de
possibilitar avanços e minimizar desconfortos
trazidos pela família à escola e, ao mesmo tempo,
pela escola à família.
Consideramos significativa a intensa manifestação, tanto dos pais como dos professores, de
que necessitam e sentem falta de conversarem
para se conhecerem. Assim como foi veemente
o pedido de mais informações sobre a escolaridade de seus filhos pelos pais, bem como foi
solicitado pelos professores que os pais fossem
mais acessíveis às suas orientações. Não como
significado de que os professores é quem podem
educar os pais, mas sim de que os professores
podem minimizar as dificuldades que os pais
sentem no acompanhamento do processo escolar
dos filhos/alunos, a partir da compreensão de
como se dá esse processo.
Assim também, pudemos notar os professores reconhecerem que precisam de ajuda para
melhorar a comunicação entre pais e professores
na função de educador escolar de seus filhos/
alunos.
Então fica, na verdade, pais que não conseguem entender o que se passa na escola e segundo eles é porque os professores não deixam claro.
Assim como professores necessitam de ajuda
dos pais para poder melhor explicar o processo.
Ficou confirmado que pais e professores
quan­­­do conversaram na escola a partir de um
con­­vite, vindos sem nenhum acontecimento
pré­­­vio que exigisse sua presença para resolver
conflitos, mas que foram chamados somente
como parceiros na ação educativa de seus filhos,
resultou na percepção de que estão juntos na
tarefa de transmitir valores necessários para a
boa formação do cidadão. Podemos então compreender o que Munhoz16 afirma que, a escola ao
cumprir a missão de transmitir valores essenciais
aos pais, ela está ampliando sua a ação educativa, inserindo a família do aluno, nesse processo.
Esse aspecto nos remete ao pensamento sistêmico, base teórica deste estudo, quando defende
res, em interação constante, com seus filhos
na formação de um cidadão: aquele que deve
estar pronto para lidar e viver com as questões
de ordem social, emocional, intelectual e de
futuro profissional que irão enfrentar ao longo
de suas vidas.
Já no final do encontro foi possível observar,
pelo tom da voz e das expressões dos rostos dos
pais e dos professores, momentos não de conflito,
mas de reconciliação entre os participantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dissertar sobre a educação dos filhos/alunos
no contexto apresentado neste trabalho e defender a vinda dos pais à escola para conversar
teve como norteador a vivência e a trajetória
profissional do pesquisador carregada da inquietação a respeito do conflito existente entre
escola e família. No fazer do dia-a-dia escolar,
conseguimos observar e sentir que quando a
família vem à escola para conversar ou reclamar
sobre qualquer questão que direta ou indiretamente está relacionada ao processo escolar de
seus filhos, ao término das conversas, fica um
re­­­gistro em nossas observações de que todos
os que participam desse espaço conversacional
saem diferentes. Esse sair diferente pode ser
entendido como pais e professores melhores
sintonizados com as exigências e expectativas da
escola e das famílias no que consiste à educação
formal das crianças e dos jovens na formação de
um cidadão na contemporaneidade.
Assim, como a cidadania em determinada
cultura e sociedade propicia sentir-se fortalecido
em suas raízes, a escola é um espaço que precisa
ser valorizado, pois promove o sentimento de
pertencer, como uma necessidade genuína que
nós, seres humanos, possuímos em relação às
coisas, pessoas e situações que nos dão significados culturais, possibilitando a emergência de
sentidos próprios.
A ação da família em si não basta, necessitamos do espaço escolar para a ampliação das
interações, a fim de promover o desenvolvimento
das potencialidades do ser, experimentando atributos diferentes daqueles que são estimulados
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 55-65
63
Munhoz MLP & Scatralhe MCR
a pertinência da interação entre os agentes que
desempenham a função educativa, possibilitando religar a parte no todo, assim como o todo nas
partes que o compõe. Segundo a máxima formulada por Blaise Pascal: “eu considero impossível
conhecer o todo se não conheço particularmente
as partes como conhecer as partes se não conheço
o todo” (Pascal in Almeida & Carvalho1).
Assim, acreditamos que as escolas precisam
ter dentro de suas equipes de trabalho pedagógico
a figura do orientador educacional, com enfoque
ao trabalho de orientação ao professor, para que os
espaços de conversas na escola possam ser além
de instalados, efetivos e duradouros. Apesar de
todas as “concorrências” que a escola sofre com
as diferentes atividades oferecidas às crianças e
aos jovens, podemos considerar que o poder ainda
aparente dessa instituição deve ser valorizado e
otimizado, não como erroneamente muitas ve­­zes
se faz, usando autoridade e autoritarismo, mas
criando a possibilidade de conversas e com­preen­­
são entre as partes é que se obtém.
SUMMARY
Family and school in the comprehension of the meanings
in the educational process
Based on the belief that communication and language are significant ins­­­
truments in educational actions, we propose the building of a conversational
space among parents and teachers of 6 to 8 year old children, both sexes,
belonging to 1st and 2nd grade of basic level in a private education institution,
and middle and high social and economic level, from the talking about
scholar education of their children/students. It is about a methodology
that enables the approaching of the two interdependent systems: family
and school, aiming to minimize the conflicts that happen between them.
We conclude that school, when transmitting essential values by means of
the functions of the teachers it extends the action to the family, and gets to
incorporate it. Action considered positive for parents and teachers, because
it enables the comprehension of meanings expressed in the systems that
are interacting.
KEY WORDS: Schools. Family. Communication.
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Artigo recebido: 30/11/2011
Aprovado: 11/2/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 55-65
65
Mecade
TP revisão
et al.
ARTIGO
Desenvolvimento da inteligência em
pré-escolares: implicações para
a aprendizagem
Tatiana Pontrelli Mecca; Daniela Aguilera Moura Antonio; Elizeu Coutinho de Macedo
RESUMO – As habilidades cognitivas desenvolvidas na fase pré-escolar
são fundamentais para aquisição de conhecimentos nas fases seguintes.
A avaliação cognitiva nessa fase possibilita verificar possíveis atrasos no
desenvolvimento e estabelecer diferentes perfis de competências em relação
às diversas funções cognitivas. O objetivo do presente trabalho é apresentar
uma revisão dos principais aspectos relacionados, especificidades e desafios
da avaliação cognitiva em pré-escolares, bem como identificar como esta
pode auxiliar no estabelecimento de intervenções precoces e eficazes. O
foco do estudo é o construto inteligência que está diretamente relacionada
com a capacidade de pensar e de resolver problemas. Estudos indicam que a
inteligência é influenciada tanto por aspectos genéticos quanto ambientais,
e possui relação consistente com a aprendizagem. Sendo assim, é de suma
importância compreender como se apresenta o funcionamento intelectual
nos pré-escolares, bem como avaliá-lo adequadamente, auxiliando no
planejamento de estratégias de intervenções psicopedagógicas, bem como
na indicação de tratamentos específicos.
UNITERMOS: Avaliação, Inteligência, Pré-escolares, Aprendizagem
Correspondência
Tatiana Pontrelli Mecca
Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social
Rua Piauí, 181 – 10º andar – Consolação – São Paulo,
SP, Brasil – CEP: 01241-001
E-mail: [email protected]
Tatiana Pontrelli Mecca – Doutoranda em Distúrbios
do Desenvolvimento, Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Daniela Aguilera Moura Antonio – Mestranda em
Dis­­­­­­­túrbios do Desenvolvimento, Universidade Pres­­­bi­
teriana Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Elizeu Coutinho de Macedo – Coordenador do Pro­­­
gra­­ma de Pós-Graduação em Distúrbios do Desen­­vol­
vimento, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 66-73
66
Inteligência em pré-escolares
Assim, é de suma importância compreender
como se apresentam as funções cognitivas nos
pré-escolares por meio de avaliações cuidadosas.
A avaliação cognitiva de pré-escolares deve levar
em consideração as relações familiares e escolares, bem como o seu impacto no funcionamento
adaptativo da criança.
Tais avaliações devem caracterizar adequadamente o perfil cognitivo e identificar as habilidades que estão comprometidas e preservadas3.
Desta forma, alterações desviantes no desenvolvimento, quando identificadas precocemente,
apresentam melhores prognósticos e permitem
delinear uma intervenção mais eficaz7.
Segundo Grillo e Silva7, a percepção das primeiras manifestações de condições que afetam
o comportamento possibilita o encaminhamento
a profissionais especializado que podem auxiliar pais e professores. Tais informações podem
ser úteis no estabelecimento do diagnóstico e
do prognóstico. Nesse sentido, Lichtenberger8
indica que pré-escolares que enfrentam atrasos
no desenvolvimento físico, emocional, social,
adap­­­tativo e cognitivo são frequentemente encaminhados para uma avaliação mais abrangente,
a fim de auxiliar o diagnóstico e o desenvolvimento de intervenções mais apropriadas.
A avaliação cognitiva possui um papel fundamental na compreensão do desenvolvimento
global da criança. Assim, essa avaliação é imprescindível na fase pré-escolar, pois quando
algum déficit cognitivo é identificado precocemente, as intervenções podem ser iniciadas mais
rapidamente. A intervenção precoce aumenta
a probabilidade de um desenvolvimento mais
favorável, podendo promover uma plasticidade
neuronal mais significativa3. De fato, Garlick9
aponta que a plasticidade neuronal é maior durante a infância, em relação a fases mais tardias
do desenvolvimento. Este dado fortalece a ideia
de que intervenções precoces apresentam maior
impacto no desenvolvimento da inteligência na
fase pré-escolar.
No entanto, deve-se levar em consideração
que a avaliação cognitiva de pré-escolares
apre­­­­­­­­senta limitações devido à dificuldade de
INTRODUÇÃO
A fase pré-escolar é um período crítico e
im­­­­­­­portante para o desenvolvimento humano,
pois fornece os alicerces para aquisição de
outras habilidades mais complexas que serão
desenvolvidas nos anos seguintes. Trata-se de
uma faixa populacional que se encontra em
processo de maturação biológica, observada por
meio do desenvolvimento social, psicológico e
motor1. Nessa fase, os pais e educadores passam
a perceber de forma mais sistemática os comportamentos da criança e o seu aprendizado,
fazendo comparações com outras crianças da
mesma idade2.
Diferentes habilidades cognitivas são desenvolvidas durante a fase pré-escolar, tais como:
percepção, raciocínio, memória, capacidade de
autoregulação e automonitoramento, habilidades linguísticas, competências matemáticas3,
formação de conceitos, construção e generalização de estratégias4. Também é possível observar
o desenvolvimento gradual de funções cognitivas que têm importantes funções nas interações
sociais, tais como: produção e significado da
fala, capacidade para inferir estados mentais dos
outros, consciência e sentimentos de si mesmo5.
Estas são consideradas habilidades básicas, pois
formam a base para o desenvolvimento posterior
de competências necessárias à vida acadêmica.
Já na fase pré-escolar é possível identificar
atrasos no desenvolvimento de funções cognitivas que podem se relacionar com diversos quadros clínicos precursores de problemas para a
saúde mental. Dentre tais quadros, destacam-se:
transtornos do espectro do autismo, transtorno
do déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de aprendizagem, deficiência intelectual,
entre outros. Esses quadros se caracterizam por
serem respostas comportamentais desviantes
ou atípicas, identificadas por sua frequência,
duração e intensidade, quando comparados ao
padrão normal de desenvolvimento6. A dificuldade em identificar precocemente transtornos
do desenvolvimento desencadeia um ciclo complexo e prejudicial para o desenvolvimento da
criança que apresenta tais déficits3.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 66-73
67
Meca TP et al.
ex­­­pressão e reconhecimento das ações pela própria criança6. Para Ferreira et al.3 esse processo
de avaliação é um desafio para o examinador,
devido a suas especificidades. Segundo esses
autores, é necessário considerar algumas peculiaridades, como o impacto das relações com o
ambiente familiar e escolar podem influenciar
no desempenho cognitivo. Além disso, avaliar
crianças em seus primeiros anos de vida é comparar seu desempenho ao de crianças na mesma
faixa etária, mas também considerar que as
habilidades ainda estão em desenvolvimento4.
Métodos indiretos, como instrumentos psicométricos, servem como auxílio na identificação
de áreas comprometidas e preservadas, importantes no processo de tomada de decisões e
indicação de tratamentos específicos6. Contudo,
para a adequada interpretação dos resultados
desses instrumentos é necessária a comparação
com os dados de uma amostra de referência.
Tal amostra indica o que seria considerado um
desempenho normal ou discrepante da média,
tanto acima quanto abaixo.
Entretanto, são escassos os instrumentos
disponíveis para a avaliação cognitiva de pré-escolares no Brasil que tenham dados normativos. É importante salientar que no Brasil só
temos um teste para avaliar pré-escolares com
dados normativos, que é a Escala de Maturidade
Mental Colúmbia (EMMC). Essa escala é aplicada a partir dos 3 anos e 6 meses até os 9 anos e
11 meses e avalia especialmente habilidades de
raciocínio que são importantes para o sucesso na
escola, principalmente a capacidade para discernir as relações entre os vários tipos de símbolos.
São apresentadas pranchas que contêm de 3 a 5
desenhos e a criança deve escolher qual desenho
é diferente, ou não se relaciona aos outros. Para
tanto deve descobrir qual a regra subjacente
à organização das figuras10. Sendo assim, a
EMMC avalia um tipo específico de raciocínio
e não há outros instrumentos que dêem conta
das diferentes habilidades cognitivas. Trata-se,
então, de uma lacuna no que diz respeito à avaliação neuropsicológica em pré-escolares. Assim,
avaliar pré-escolares e comparar os resultados
obtidos com os de outras crianças se torna uma
tarefa difícil para os profissionais que trabalham
com crianças nessa faixa etária.
Uma das possibilidades de avaliação que tem
sido frequentemente utilizada é a caracterização
do perfil neuropsicomotor de bebês. Os instrumentos comumente utilizados para avaliar tais
aspectos são: o Denver Developmental Screening
Test-II11 e a Bayley Scales of Infant Development12. As Escalas Bayley de Desenvolvimento
Infantil foram criadas para avaliar crianças de
um mês a três anos e meio. Seu objetivo é indicar
pontos fortes e fracos e as competências de uma
criança em cinco domínios do desenvolvimento:
cognitivo, linguagem, habilidade motora, so­­­­
cial-e­mo­­­­cional e comportamento adaptativo13.
Embora amplamente utilizados em pesquisas
nacionais com crianças em situação de risco e em
programas de acompanhamento14-19, não existem
dados normativos nem estudos que demonstrem
a fidedignidade e validade desses instrumentos
para a população brasileira3.
Além da falta de estudos de adaptação e parâmetros psicométricos dos instrumentos citados,
Fagan20 aponta que medidas sensório-motoras
como as fornecidas pelas escalas Bayley possuem baixa sensibilidade e especificidade. A uti­­­
lização dessas medidas indica pouco poder de
predição em relação à identificação futura de
crian­ças com prejuízo cognitivo ou que estão
dentro da faixa de normalidade. Ou seja, quando
a Escala Bayley foi aplicada em crianças com 8
meses de idade e, depois aos 3 anos, resultados
demonstram que a sensibilidade, para deficiência intelectual, foi de apenas 45% e, a especificidade, para a normalidade, foi de apenas 38%.
Deve-se ressaltar que um dos fatores importantes
para esse baixo valor preditivo de inteligência
é a divergência entre os construtos mensurados
pelas escalas de desenvolvimento e os testes de
inteligência de abordagem psicométrica.
Um dos instrumentos muito utilizado em
pesquisas internacionais para avaliação de in­­
teligência global em pré-escolares é a Wechsler
Preschool and Primary Scale of Inteligence –
WPPSI 21. Sua última versão é indicada para
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68
Inteligência em pré-escolares
crianças entre 2 anos e 6 meses a 7 anos e 3
me­­­­ses22 e é composto por 14 subtestes. Assim
como outras versões das escalas Wechsler para
crianças e adultos, a WPPSI fornece um índice
de capacidade cognitiva global, QI Total (QIT),
bem como o QI Verbal (QIV) e o QI de Execução (QIE). Estudos no Brasil também já foram
realizados com esse instrumento, mas ainda não
existem adaptações deste para nossa realidade,
bem como dados normativos para a população
brasileira23,24.
Resultados de avaliações feitas por meio de
instrumentos como o WPPSI são relevantes, pois
auxiliam no planejamento de estratégias de intervenções educacionais, fornecendo medidas de
funcionamento global. Isto é possível porque o
perfil cognitivo da criança é avaliado por meio
de diferentes tarefas que requerem habilidades
distintas. O WPPSI-III fornece três medidas
globais: Quociente de Inteligência Total (QIT),
Quociente de Inteligência Verbal (QIV) e Quociente de Inteligência de Execução (QIE).
Além disso, fornece duas medidas adicionais: índice geral de linguagem e velocidade
de processamento, sendo este último apenas
para crianças a partir dos 4 anos de idade.
Além desses índices gerais, existe uma série
de habilidades cognitivas específicas que são
necessárias para a realização de cada subteste,
tais como: habilidades atencionais, conhecimento cristalizado, raciocínio fluido, conhecimento
lexical, memória verbal de longo-prazo, memória
de curto prazo, compreensão verbal, percepção
espacial e habilidades de discriminação e percepção visual.
Estudos têm demonstrado a relação dessas
habilidades avaliadas pelo WPPSI-III e habili­
dades acadêmicas. Altas correlações foram
encontradas entre conhecimentos acadêmicos
como a matemática com o QIE. Isto indica que as
crianças que apresentaram maiores pontuações
nos subtestes de execução, são aquelas que apresentam melhores pontuações em matemática.
Neste sentido, também foram encontradas relações entre leitura e o índice geral de linguagem
do WPPSI-III25. Estes achados são relevantes,
pois, diante de crianças com dificuldades de
apren­­­­dizagem, uma avaliação de inteligência
pode fornecer pistas sobre quais habilidades
estão prejudicadas ou preservadas. Essas infor­
mações podem ajudar no planejamento de estratégias pedagógicas adequadas para suprir as
necessidades do aluno.
Blaga et al.26 conduziram estudo de seguimento com 200 crianças sem comprometimento
cognitivo, avaliando semestralmente cada uma
das crianças aos 24, 36 e 48 meses de idade.
Foram aplicadas provas verbais e não-verbais,
incluindo escalas de inteligência. Os autores não
observaram mudanças qualitativas significativas ou descontinuidades no desenvolvimento,
ou seja, os resultados revelaram associações
significativas entre as medidas iniciais e posteriores. Tais achados demonstram uma evolução
contínua e estável na inteligência ao longo dos
anos pré-escolares. De acordo com Rose et al.27,
habilidades cognitivas, como atenção, velocidade de processamento e memória, já podem
ser observadas aos 7 meses e tais habilidades
demonstram continuidade aos 12 meses, 24 e
36 meses.
A maior parte dos testes de inteligência
apre­­­­­­senta dados normativos em função de grupos etários. Esses dados possibilitam comparar
o desempenho do indivíduo com pessoas da
mesma idade.
A idade tem sido muito usada pelo fato de que
os escores nos testes de inteligência aumentam
com a progressão da idade. Esse aumento possibilita inferir sobre o desenvolvimento do sistema
nervoso, bem como da ampliação de sua complexidade pela criação de novas redes neurais.
Esse aumento na complexidade organizacional
possibilita a resolução de tarefas mais complexas. Assim, a continuidade no desenvolvimento
de habilidades cognitivas ao longo do tempo faz
com a que a idade seja uma variável relevante
quando se trata de avaliar inteligência.
Deve-se considerar que, mesmo em fases
precoces do desenvolvimento, o ambiente exerce
um papel importante no desenvolvimento cogni­
tivo. Neste sentido, Almeida et al.28 afirmam
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 66-73
69
Meca TP et al.
que, embora as pesquisas apontem que o desen­
volvimento cognitivo está associado à idade e
à escolaridade, ainda não se sabe exatamente
qual a influência de cada uma dessas variáveis.
Bradley et al.29 ressaltam que a inteligência
é influenciada tanto por aspectos hereditários
quanto pelo ambiente. Esses autores avaliaram
quase 30.000 crianças americanas, desde o nascimento até os 13 anos de idade, entre 1986 a
1994. Os pesquisadores utilizaram o inventário
Home Observation for Measurement of the Environment (HOME). Esse inventário tem por objetivo medir, no ambiente natural, a quantidade e
a qualidade de estímulo e apoio disponíveis para
a criança. A avaliação é feita de forma sistematizada e compreende os seguintes aspectos: como
ocorrem as interações comunicativas verbais e
não-verbais entre cuidador e criança; como os
adultos disciplinam a criança; como o tempo da
criança é organizado; utilização de brinquedos
apropriados para a idade; como o adulto interage
fisicamente com a criança; caracterização da
rotina social da criança com outras pessoas além
da mãe; presença de materiais que estimulem
o aprendizado; descrição do ambiente físico da
casa; estabelecimento de limites; e, por fim, descrição das atividades da criança dentro e fora de
casa. Os resultados desse estudo demonstraram
correlações positivas entre: responsividade dos
pais, desempenho e comportamento dos filhos,
características típicas de ambientes enriquecidos e QI. Assim, os autores concluem que um
ambiente doméstico enriquecido se relaciona a
aumento na inteligência dos filhos29-31.
Outro aspecto comumente associado à inteligência é a sua capacidade de prever desempenhos em atividades acadêmicas ou profissionais.
Diversos estudos correlacionam escores obtidos
nos testes de inteligência com notas de avaliações das disciplinas escolares ou desempenho
em testes de leitura e matemática. Os resultados
têm demonstrado, com bastante regularidade, a
existência de forte relação entre a inteligência e
a exposição à educação formal32. A escolaridade
é uma variável que está associada à estimulação formal e sua relação com inteligência é
tida como estimação da influência de fatores
ambientais. Por isso, estudos têm demonstrado
o impacto da escolarização nos desempenhos
de testes que avaliam tanto a inteligência fluida
como a cristalizada. Sendo assim, um ambiente
enriquecido é fundamental como possibilidade
de intervenção nos casos de inteligência abaixo
da média no ensino infantil.
O estudo de Lu et al.33 teve por objetivo investigar a relação entre habilidades cognitivas
e desempenho escolar em crianças chinesas
pertencentes a séries que se referem ao que d­e­­­­­
nominamos no Brasil de Ensino Fundamental I.
Foram avaliadas 179 crianças nas seguintes
habilidades: inteligência fluida, memória de
trabalho, desempenho em provas de linguagem
em chinês e Matemática. Os resultados demonstraram que inteligência e memória de trabalho
são bons preditores de desempenho acadêmico,
sendo que juntas explicam 17,8% da variância
no desempenho no idioma chinês e 36,4% em
ma­­­temática. Entretanto, quando as habilidades são analisadas de forma independente, foi
observado que memória de trabalho é melhor
preditora para desempenho em matemática,
enquanto que inteligência é melhor preditora
para o desempenho no idioma chinês.
Em uma recente revisão de literatura feita
por Buschkuehl e Jaeggi34, foi observado que
é possível realizar intervenções em habilidades de memória de trabalho que aumentou
e/ou melhorou o nível intelectual. As tarefas
que produziram aumento no nível de inteligência foram de diversos tipos, envolvendo treino
de habilidades visoespaciais e de memória de
trabalho fonológica. Na tarefa que envolvia
habilidades visoespaciais, diferentes figuras
foram apresentadas em diferentes lugares e as
crianças deveriam recordar o local em que cada
estímulo aparecia.
Na tarefa de memória fonológica, as crianças
deveriam recordar uma sequência de palavras
ou números e depois contá-los na sequência
inversa. Também foram realizadas intervenções
para memorização utilizando as letras como
estímulos. Nessa tarefa, foi apresentada uma
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 66-73
70
Inteligência em pré-escolares
sequência de letras e o objetivo foi identificar
a posição que determinada letra apareceu, por
exemplo, se o estímulo alvo (letra A) foi a primeira, segunda ou terceira letra que apareceu na
sequência apresentada. Os autores sugerem que
esses tipos de intervenções podem ser adaptadas
para crianças que ainda não foram expostas a
estímulos como números e letras. Para isto, podem ser usadas outras categorias mais usuais,
como animais, frutas, cores e brinquedos. Vale
ressaltar que as intervenções foram realizadas
por meio de tarefas computadorizadas, mas que
podem ser adaptadas em versões mais tradicionais, utilizando materiais como cartolina.
Sendo assim, a avaliação cognitiva de crian­­
ças pré-escolares se faz de extrema importân­
cia e deve considerar aspectos genéticos, am­
bientais e educacionais dos quais a criança faz
parte. Essa compreensão permite uma avaliação
adequada da criança, fornecendo uma medida
de funcionamento global, bem como de possíveis alterações desse funcionamento e das
necessidades específicas do indivíduo. Dessa
forma, é possível contribuir para indicação de
tratamentos adequados, bem como na elaboração de estratégias de intervenções eficazes que
auxiliem no desenvolvimento psicopedagógico
dessas crianças.
SUMMARY
Intelligence development in preschoolers: implications for learning
The cognitive abilities developed in preschool age are critical to acquiring
knowledge in the following years. In the cognitive assessment of preschool
children it is possible to recognize delays in the development and establish
different profiles of competence concerning various cognitive functions.
Therefore, the aim of this paper is to present a review of the main aspects
and challenges of specific cognitive assessment in preschool children, as well
as it can assist in the establishment of early and effective interventions. The
focus of the study is the intelligence, a construct that is directly related to the
ability to reasoning and problem solving. Studies indicate that intelligence
is influenced by genetic and environmental features, and has a consistent
relationship with learning. Thus, it is of paramount importance to understand
how to present intellectual functioning in preschool, and evaluate it properly,
assist in planning intervention strategies for psychopedagogy, and an
indication of specific treatments.
KEY WORDS: Assessment, Intelligence, Preschoolers, Learning.
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Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 66-73
72
Inteligência em pré-escolares
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Trabalho realizado no Laboratório de Neurociência
Cogn­­­­itiva e Social do Programa de Pós-Graduação
Strictu Sensu em Distúrbios do Desenvolvimento da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo,
SP, Brasil.
Artigo recebido: 11/10/2011
Aprovado: 3/12/2011
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 66-73
73
Lima SFB
al.
PONTO
DEet
VISTA
Recomendações psicopedagógicas para o
trabalho da equipe educacional com
escolares com síndrome de Williams
Solange Freitas Branco de Lima; Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira; Miriam Segin; Luiz Renato Rodrigues Carreiro
Mesmo diante das dificuldades do processo
de inclusão, um dos objetivos primordiais da comunidade educacional é o desenvolvimento de
habilidades de aprendizagem, interação social
e a estimulação de repertórios comportamentais
adequados nas crianças com necessidades educacionais especiais(NEE)1,2.
A legislação brasileira estabelece que alunos com NEE sejam matriculados em salas
comuns de escolas regulares. Recentemente,
foi aprovada nova lei que recomenda às equipes educacionais que, quando necessário, nas
próprias escolas regulares ou em instituições
especializadas devidamente cadastradas em nível governamental, esses alunos recebam outros
atendimentos educacionais especializados3. É
provável que essa nova recomendação seja uma
tentativa de solução às dificuldades do processo
inclusivo que não consegue atender a demandas
individuais dos alunos com NEE.
A deficiência intelectual é uma das condições
que conduz a criança a apresentar NEE e, muitas
vezes, está associada a doenças genéticas, por
exemplo, a síndrome de Williams (SW), que é
causada por micro deleções na região cromossômica 7q11.234,5. Por se tratar de uma doença
rara, sua prevalência é de 1:7.500 até 1:20.000
nascidos vivos, com baixa recorrência familiar5,6.
A síndrome está caracterizada por dimorfismos
faciais típicos, anormalidades no tecido conetivo,
alterações de crescimento, anormalidades endócrinas, doenças cardiovasculares, hiperacusia,
deficiência intelectual e padrões comportamentais, cognitivos e de linguagem típicos5. Incidem
na síndrome transtornos psiquiátricos, como
fobias específicas, transtorno generalizado de
Solange Freitas Branco de Lima – Pedagoga, Doutoranda
do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do De­­­
senvolvimento, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde,
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP,
Brasil.
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira – Psicóloga, Dou­­­
tor em Saúde, Professor Adjunto do Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento, Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Pres­­­
biteriana Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Miriam Segin – Pedagoga, Doutoranda do Programa
de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento,
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Luiz Renato Rodrigues Carreiro – Psicólogo, Doutor
em Ciências, Professor Adjunto do Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento, Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Pres­­­
biteriana Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde
Rua da Consolação, 896 – Prédio 38 – Térreo – Con­­
solação – São Paulo, SP, Brasil – CEP: 01302-000
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 74-6
74
Recomendações psicopedagógicas e síndrome de Williams
ansiedade, transtornos depressivos e transtorno
do déficit de atenção e hiperatividade5.
Assim como outros transtornos do neurode­­sen­
volvimento, a SW se associa a diversas al­­­­­­­­terações
cognitivas, comportamentais e de lin­­­­­­­guagem que
demandam do professor habilidades e competências específicas para promover no aluno repertórios de aprendizagem e de comportamentos
adequados ao ambiente escolar. É uma doença
que tem recebido pouca atenção no contexto
brasileiro, quando se trata de inclusão escolar7.
Baseado nos estudos de Mervis & John5,
Lima7, Segin8 e Araújo et al.9, o presente trabalho tem como objetivo geral descrever as prin­­­
cipais características dessa doença e propor
um conjunto de recomendações para manejo
compor­­­­­­tamental, que o professor pode utilizar
no contexto de sala de aula, para promover a
inclusão escolar efetiva de alunos com SW.
As principais características descritas no fenótipo de linguagem são a preservação de habilidades expressivas de linguagem que contrastam
com prejuízos sintático-pragmáticos, que variam
de acordo com o nível de deficiência intelectual,
uso excessivo de clichês, efeitos sonoros, recursos de entonação, ecolalia e pausas que afetam
a comunicação e tornam a fala ‘pseudopedante’5.
Para o manejo de algumas dessas alterações,
recomenda-se: a) treinar habilidades de conversação, por exemplo, distância física adequada
entre pessoas conversando, número e momento
adequado para interrupções, ensinar a formular
e responder perguntas; b) estimular habilidades
de linguagem receptiva; c) controlar uso de eco­­
lalia mediante a não repetição de frases ditas
pelo aluno; d) estimular leitura e escrita dentro
das possibilidades dos déficits cognitivos.
As principais características do fenótipo cognitivo baseadas em evidências são a deficiência
intelectual em níveis variados (leve a moderada),
prejuízos em habilidades motoras de coordenação fina e grossa, dificuldades no planejamento,
controle e direcionamento do próprio comportamento, déficits em habilidades de memória de
trabalho (dificuldades para armazenar, aces­­­sar,
manipular, reorganizar e utilizar informações
quando necessário). Determinadas habilidades
de memória verbal podem estar preservadas
contrastando com prejuízos nas habilidades de
memória visuoespacial, dificuldades para prestar
atenção e se concentrar em diversas atividades,
hiperacusia e boas habilidades musicais10.
Para algumas dessas disfunções cognitivas
podem ser formuladas as seguintes recomendações: a) solicitar a profissionais da área de
Psicologia a avaliação de habilidades gerais de
inteligência; b) estimular habilidades de coordenação motora fina e grossa; c) fracionar as
ta­­­­refas e verificar o cumprimento delas antes de
passar para a próxima; d) estimular a capacidade
de organização e regulação do comportamento
mediante sequências simples de atividades; e)
ensinar o aluno a diferenciar estímulos relevantes dos irrelevantes para realização de tarefas;
f) evitar ruídos, gritos, estrondos, palmas, risos;
g) diminuir estímulos alheios às tarefas que
geralmente reduzem habilidades de atenção;
h) não permitir tarefas inconclusas; i) estimular
habilidades musicais mediante jogos, poesias,
canções e coral.
O fenótipo comportamental descrito para a
síndrome se caracteriza por boas habilidades para
estabelecer contato social descrito em termos de
hipersociabilidade, entusiasmo exagerado na relação com outras pessoas e empatia no relacionamento social. Paradoxalmente, associam-se a essa
exacerbada sociabilidade frequentes manifestações de ansiedade e insegurança e dificuldades
para seguir regras sociais, irritabilidade, estereotipias gestuais, verbais e comportamentais, podem
apresentar agressividade e autoagressividade,
dificuldades no controle de impulsos e regulação
do comportamento10,11.
Algumas das recomendações para o manejo
de problemas de comportamento são: a) melhorar
habilidades sociais; b) ensinar jogos cooperativos;
c) ensinar a reconhecer sentimentos e emoções;
d) diminuir situações aversivas que possam aumentar estereotipias comportamentais (balançar
partes do corpo, por exemplo), agressividade,
irritabilidade, dentre outros; e) estimular, facilitar
e manter repertórios comportamentais adequados
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 74-6
75
Lima SFB et al.
às demandas sociais; f) não utilizar atividades monótonas, orientar uma tarefa por vez; g) promover
o aluno a ‘assistente do professor’; h) orientar
para sentar-se corretamente e permanecer na
carteira; i) estabelecer regras claras para falar, sair
da carteira, sair da sala, aguardar a vez.
Em relação a manifestações clínicas, algumas
recomendações podem ser adotadas, como estimular hábitos alimentares adequados, acomodar
o aluno próximo à lousa, adaptar o currículo de
aulas de Educação Física, facilitar acesso ao
banheiro e manter iluminação adequada das
salas de aula.
As sugestões descritas devem ser utilizadas
de maneira individual, de acordo com as especificidades da criança em termos de habilidades cognitivas, repertórios comportamentais e
habilidades de aprendizagem. Muitas dessas
recomendações, se adaptadas às necessidades
do aluno com SW, poderão otimizar a inclusão
escolar efetiva e contribuir para a adaptação da
criança nesse ambiente.
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fracasso escolar. Rev Psicopedagogia. 2009;
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Trabalho realizado no Programa de Pós-Graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento, Centro de Ciências
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Mestrado]. São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimen­
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Lima SFB, Teixeira MCTV, Carreiro LRR. A
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Teixeira MCTV, Monteiro CRC, Velloso RL,
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com síndrome de Williams-Beuren. Pro Fono.
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Artigo recebido: 11/1/2012
Aprovado: 9/3/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 74-6
76
Sistemas educativos ePONTO
a perspectiva
de mudança paradigmática
DE VISTA
Ponto de vista sobre os sistemas
educativos e a perspectiva de
mudança paradigmática
Francisca Francineide Cândido
Segundo as ideias e pensamento do ensaísta
Alvin Toffler (1993), os sistemas educativos são
todos iguais e, o que faz a diferença entre os
sistemas de um país para outro são as condições
de infraestrutura de funcionamento, as estratégias pedagógicas, o modelo político e os valores
culturais.
Teóricos críticos do mundo inteiro afirmam
que os sistemas educativos são aparatos da
ideologia dominante, favorecidos por dois fortes
instrumentos: o currículo oficial e o currículo
“oculto”, este simbolizando atitudes, comporta­­
mentos, normas, orientações e valores não
ex­­­­p lícitos, não habitualmente mencionados
no currículo oficial, mas que extravasam, são
incontroláveis.
Sabe-se que a cultura que domina a escola,
ou seja, a matriz cultural, cujos traços são comuns, têm como referência o “modelo fabril”, o
qual se encontra profundamente enraizado no
pensamento (inconsciente coletivo) e na prática
de cada indivíduo da sociedade, portanto da
instituição de ensino e da comunidade escolar,
dentro e fora dela, chegando a se confundir com
o ‘currículo oculto’, e que Carlos Fino denomina
de invariante cultural.
Esse paradigma institucional educativo é
algo intangível, escondendo uma força subjetiva
suficiente para contrariar propósitos de mudanças, deliberados ou não, passando por rituais e
campainha para indicar horários de entrada e
saída, recreação, organização do espaço letivo
(filas indianas), pela separação das crianças
por faixa etária, castigo, recompensa e poder,
e pelos papéis que devem ser desempenhados
por professores e alunos: um “ensina”, o outro
“aprende”.
Como se percebe, o modelo de funcionamento
das escolas ainda é baseado no modelo fabril:
um paradigma cultural, significando a “modernidade”, herdado da revolução industrial, em
que os alunos continuam sendo a matéria prima,
os professores os operários e, ambos, cumprem
o currículo, o horário estabelecido, a disposição
das carteiras, e, mais, os recursos didáticos são
rigorosamente mantidos.
Na prática, muitos gestores e educadores
não conseguem perceber que o nosso sistema
educativo está parcialmente obsoleto, pois não
têm despertado interesse nos alunos, situação
esta agravada pela ausência de outros profissionais especializados (psicopedagogo, psicólogo,
fonoaudiólogo, psicomotricista, etc) para dar
suporte aos alunos na superação de suas dificuldades de aprendizagens significativas. Parte
das dificuldades de aprendizagem são, muitas
Francisca Francineide Cândido – Engenheira Agrôno­­­
ma (UEMA), Psicopedagoga (UVA), Psicomoticista
(UVA), mestranda em Ciências da Educação (UMa),
Presidente da ABPp-CE, Presidente da AAPAECE e
Con­­­selheira do Instituto EDUCAH.
Correspondência
Francisca Francineide Cândido
Rua Martinho Rodrigues, 1301 – Bloco “B” – apto. 404 –
Fátima – Fortaleza, CE, Brasil – CEP 60411-200
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 77-8
77
Cândido FF
vezes, decorrentes de uma prática pedagógica
inadequada, de excessiva cobrança no resultado
da avaliação (notas), em todos os níveis hierárquicos, do não acompanhamento da vida escolar
dos filhos por parte dos pais, ou responsáveis, do
excesso de alunos em sala de aula e da exaustão
do professor, consequência da excessiva carga
diária de trabalho, dentre outros fatores.
Há evidências de que toda essa deficiência
no sistema educativo é decorrente de políticas
públicas inadequadas e da ausência de acompanhamento dos segmentos que estão ligados
diretamente à educação. Percebe-se, ainda, que
os investimentos em formação de professores
e demais servidores do sistema educativo não
levam em consideração as necessidades de mu­­­­­
danças de paradigma, face às necessidades de
desenvolvimento socioeconômico e cultural e
de humanização nas relações interpessoais no
mundo pós-moderno, complexo e com todas as
suas implicações socioeconômicas, de modo
que facilitem a participação de outros especialistas, bem como a aproximação, participação e
envolvimento das famílias no processo ensino-aprendizagem, via construção de vínculos
positivos: professor vs. aluno, família vs. escola.
Se não podemos substituir o sistema, como
prega Bill Gates, devemos ao menos reformá-lo.
Entendemos sim, que um bom diagnóstico do
sistema educativo, bastante abrangente, pode
oferecer subsídios para decisões políticas no
sentido de rapidamente adequá-lo, tornando-o
eficaz, pois acreditamos que para as condições
do nosso país o sistema educativo formal ainda
é muito necessário.
Considerando que cultura não se muda por
um passo de mágica e, nem por decreto, concluímos que o rompimento radical do nosso sistema,
substituindo-o por outro, como prega Bill Gates,
algo fora do nosso contexto e do nosso alcance
e/ou da nossa realidade filosófica, pedagógica,
econômica e cultural, nos parece drástico demais
e, provavelmente, sem a eficácia desejada.
Vemos como alternativa, a valorização das
inovações pedagógicas que estimulem o interesse e as aprendizagens significativas dos alunos,
a implantação do regime de tempo integral com
acompanhamento pedagógico, a contratação de
profissionais das áreas específicas (psicólogo,
psicopedagogo, psicomotricista, fonoaudiólogo). Além disso, é necessária a valorização do
professor (remuneração digna e formação) e a
redução do número de alunos por sala de aula,
a despeito da existência de outros fatores que
podem contribuir favoravelmente.
Enfim, ressalto: trata-se, efetivamente, de
superação paradigmática do atual sistema, via
decisão política, passando por gestão escolar
competente e democrática, infraestrutura adequada, valorização e formação de professores,
reconciliação família-escola e contratação de
profissionais especializados para dar suporte a
professores e alunos na perspectiva da inclusão
e do sucesso escolar.
Trabalho realizado no consultório da autora, Fortaleza,
CE, Brasil.
Artigo recebido: 22/6/2011
Aprovado: 5/8/2011
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 77-8
78
A interface do cotidiano PONTO
escolar na
DEperspectiva
VISTA da educação inclusiva
A interface do cotidiano escolar na
perspectiva da educação inclusiva:
possibilidades de intervenção
psicopedagógica
Fabiani Ortiz Portella
Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser, trate as pessoas como se elas fossem:
cheias de vida, de expectativas, de es­­­peranças.
Pessoas que amam e odeiam e são ama­­­das ou
indesejadas, que assumem diferentes papéis,
que aceitam e que recusam, que protestam e que
concordam, que sorriem, mas que também choram. Pessoas que têm histórias, que têm cultura,
que têm crenças e que têm valores. Pessoas que
devem ser consideradas com suas idiossincrasias,
como qualquer ser humano que deseja SER.
Para isso, muitas delas vão à luta. Nem sempre
vencem, mas transformam os fracassos em ensinamentos para buscarem novas conquistas.
Partindo desse pressuposto, na sua prática
diária, você, educador certamente ajudará seus
educandos a se tornarem aquilo que são capazes
de ser. A frase é interessante e provoca muitas
reflexões. Veja que o autor usa os verbos tratar,
poder e ser. Depois usa, ajudar, tornar e ser. Dá
margem para um amplo debate na perspectiva
da Educação Inclusiva.
Pensar e escrever algumas ideias preliminares sobre o cotidiano escolar na perspectiva
inclusiva não é uma iniciativa fácil, pois requer
uma leitura diária reflexiva e sistematizada,
não podendo correr o risco de tornar-se uma
“fo­­­­tografia” isolada de todo o processo de aprendizagem inerente à escola. Para tanto, convido
você a partir dos embasamentos dos campos de
conhecimentos oriundos da Psicopedagogia e
Pedagogia a buscar algumas reflexões sobre o
fazer educativo no cotidiano escolar.
O dia-a-dia da vida na escola estabelece as
primeiras relações sociais, afetivas e cognitivas
fora do ambiente familiar. Um cotidiano a ser
explorado, permeado de inúmeros desafios,
que deve se constituir como um ambiente favo­
rável para criar interações e novas formas de
aprendizagem. Na perspectiva psicopedagógica, compreende-se aprendizagem como uma
articulação entre o conhecimento e o saber de
forma singular, realizada por meio da relação
estabelecida entre ensinante e aprendente – Fernandez utiliza para designar uma nova visão da
relação entre educadores e educandos, onde os
espaços e tempos do aprender estão para além
das escolas e são percebidos na complexidade e
Fabiani Ortiz Portella – Pedagoga, Orientadora Edu­­­
cacional, Especialista em Psicopedagogia Clínica,
Mestre em Educação, Professora Universitária, Or­­­­ga­­­
nizadora de livros na área da Psicopedagogia, Con­­
selheira da ABPp Nacional.
Correspondência
Fabiani Ortiz Portella
Rua Luiz Afonso, 269 – Cidade Baixa – Porto Alegre,
RS, Brasil – CEP 90050-310
E-mail: [email protected]
“Trate as pessoas como se elas
fossem o que poderiam ser e você as
ajudará a se tornarem aquilo que são
capazes de ser.” [Goethe]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 79-81
79
Portella FO
na totalidade da vida de cada um de nós, sujeitos
inseridos na dinâmica relacional do viver e conviver com os outros – e suas experiências de vida.
Um dos fatores essenciais, presentes no ambiente escolar é a sala de aula, no aspecto físico,
pois passa a ser o local de referência do educando, portanto, é fundamental um projeto de
acessibilidade, implicando mudança estrutural
da escola para que todos os alunos tenham suas
especificidades atendidas, nos transportes, nos
mobiliários, nas comunicações e na informação.
A sala de aula também deve ser considerada no
aspecto social, cognitivo e afetivo, o qual se constitui com a grande oportunidade de compartilhar
conceitos e valores básicos culturais, visando ao
desenvolvimento de um currículo que privilegie,
ao mesmo tempo, o reconhecimento individual
e a valorização da diversidade, rompendo os
“pré-conceitos“ contidos no pensamento hegemônico vigente.
Outro fator fundamental é o projeto político
pedagógico da escola, que deve respeitar e colocar em prática os pressupostos da Inclusão,
estabelecendo em conjunto uma rede de apoio
desde o acesso até a permanência de todos na
escola, com um ensino de qualidade, desejando
que cada educador possa entender e intervir
com o desafio da multiculturalidade como possibilidades de leitura e compreensão de mundo.
De acordo com Morin2, “não se pode reformar
a instituição sem a prévia reforma das mentes,
mas não se pode reformar as mentes sem uma
prévia reforma das instituições”. O pesquisador
adverte sobre a premência do investimento em
formação, tanto pelos órgãos competentes, como
também pela responsabilidade e ética profissional de cada educador, na implementação de
estratégias e criação de estratégias facilitadoras
do processo de aprendizagem.
A grande interface da Educação Inclusiva
está focalizada no papel da instituição escolar
na formação das novas gerações, isso implica
em questionar – De que forma isso tem acontecido? Segundo Mantoan3, “um novo paradigma
do conhecimento está surgindo das interfaces e
das novas conexões que se formam entre saberes
outrora isolados e partidos e dos encontros da
subjetividade humana com o cotidiano, o social,
o cultural. Redes cada vez mais complexas de
relações, geradas pela velocidade das comunicações e informações estão rompendo as fronteiras
das disciplinas e estabelecendo novos marcos de
compreensão entre as pessoas e do mundo em
que vivemos”.
É certamente com o ingresso no ambiente
educativo que geralmente ocorrem as interações
favoráveis ou desfavoráveis, ao expor a ima­­­
gem pessoal na sala de aula, onde a criança se
socializa e desenvolve suas habilidades. Hoje
se aprende para viver e não mais se vive para
aprender, feito o trocadilho percebe-se a ruptura
dos paradigmas educativos, sabendo-se que é
justamente na diversidade que se aprende; do
inesperado, é que nascem as ideias; do desequilíbrio é que se faz a transformação. Portanto, a
legitimação do ato educativo inclusivo cada vez
mais se torna objetivada pela cotidianidade.
O cotidiano escolar passar a ser entendido
como um grande espaço promotor de criatividade e de desenvolvimento de potencialidades
de cada educando. Por meio das relações com o
outro, com sua aprendizagem e com os adultos
esse espaço potencial vai sendo construído de
forma a tornar-se um lugar que desenvolve a
criatividade e a formação do ser. Por meio de
um ambiente contenedor e promotor de confiança, as relações transformam-se e as crianças
trilham seus caminhos rumo à independência e
à autonomia. É o exercício diário de busca por
uma sociedade cada vez mais educativa que
reinvindica a participação de todos os envolvidos
no processo de ensino e de aprendizagem.
Dessa forma, cria-se uma possibilidade para
um ambiente cada mais motivador, na medida
em que alunos e professores tornam-se autores
de iniciativas compostas de subjetividades e
desejos. Não estamos falando sobre utopias, mas
sim de uma proposta de pensar que amplia e
reconfigura algumas dimensões da escola hoje
em seu contexto social.
Cabe ao educador, de acordo com seu modo de
tratar seus educandos, tanto pela igualdade como
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 79-81
80
A interface do cotidiano escolar na perspectiva da educação inclusiva
pela diferença, poder ter esse paradigma como
um valor indissociável, desenvolvendo o projeto
político pedagógico e ser agente de transformação social. Por meio de suas intervenções, criar
alternativas para superar as dificuldades ajudar,
tornar e ser a cada educando, promover no dia-a-dia da escola esse espaço para a convivência
e construção de novas configurações, a fim de
acompanhar as mudanças da sociedade e articular todos os envolvidos no processo de aprender.
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Trabalho realizado no consultório da autora, Porto
Alegre, RS, Brasil.
Artigo recebido: 18/5/2011
Aprovado: 11/7/2011
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 79-81
81
de
5
a
8
de julho de
2012 - S ã o P a u l o
Resumo dos Trabalhos
C ategorias O ral e P ôster
Comissões
IX CONGRESSO BRASILEIRO
DE PSICOPEDAGOGIA
Presidente: Quézia Bombonatto
Vice-Presidente: Luciana B. Almeida
I SIMPÓSIO DE SAÚDE MENTAL
Presidente: Rodrigo Affonseca Bressan
I SIMPÓSIO DE NEUROCIÊNCIAS
E EDUCAÇÃO
Presidente: Adriana Fóz
COMISSÃO CIENTIFICA
Acioly Lacerda
Adriana Fóz
Andre Zugman
Bacy Fleitlich-Bilyk
Cristiane Tacla
Débora Castro Pereira
Elisa Brietzke
Evelise Maria Labatut Portilho
Fabiani Ortiz Portella
Galeára Matos de França Silva
COORDENAÇÃO GERAL DO EVENTO
Adriana Fóz
Cristiane Tacla
Luciana B. Almeida
Quézia Bombonatto
Rodrigo Affonseca Bressan
COMISSÃO ORGANIZADORA
Heloisa Beatriz Alice Rubman
Iara Caieirão
Leandro Malloy Diniz
Luis Augusto Rohde
Maria Angélica Rocha
Maria Cecília Castro Gasparian
Maria Conceição do Rosário Campos
Bruno Sini
Maria Irene Maluf
Edimara Lima
Marisa Irene Siqueira Castanho
Érika Leonardo de Souza
Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo
Gustavo M. Estanislau
Neide de Aquino Noffs
Leandra de Souza Pereira
Ronaldo Ramos Laranjeira
Márcia Alves Simões
Rosa Maria Junqueira Scicchitano
Maria Helena Bartholo
Sônia Maria Kuster
Maria José Weyne Melo de Castro
Maria Katiana Veluk Gutierrez
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO
Maria Teresa Messeder Andion
Adriana Fóz
Mirian Corteze
Edimara Lima
Silvana P.Cracasso
Luciana Barros de Almeida
Sintia Tasca
Maria Irene Maluf
Viviane Massad de Aguiar
Rodrigo Affonseca Bressan
RESUMO
Categoria
oral
Resumo DOS
dos TRABALHOS
Trabalhos -- C
ategoria O
ral
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Proposta de construcão de protocolos
psicopedagógicos na rede municipal
de ensino de Campos do Jordão – SP:
relato de experiência
Título: TDAH: contribuições das técnicas
corporais na clínica psicopedagógica
Autor: Alcione Marques
Resumo
Autor: Ademar Alves dos Santos
Este trabalho pretende abordar as principais intervenções psicopedagógicas para os problemas de
aprendizagem em indivíduos portadores de TDAH,
dando ênfase aos benefícios do uso de técnicas corporais nos atendimentos da clínica psicopedagógica,
mais especificamente eutonia e relaxamento, a partir
de pesquisa bibliográfica. Faz uma relação entre o
movimento e a construção do psiquismo, assim como
sua relação com a atenção. Apresenta e define a eutonia e algumas técnicas de relaxamento e seus efeitos
benéficos sobre o controle motor e a atenção. Busca
demonstrar que a aprendizagem se dá por meio do
corpo, que o indivíduo com TDAH é um ser integrado
em seus múltiplos aspectos e que os problemas de
aprendizagem são processos complexos de muitas
causas, sendo que para superá-los as intervenções
psicopedagógicas deverão considerar o indivíduo em
sua complexidade.
Resumo
O trabalho apresenta, por meio de Relato de Expe­
riência, a constituição da proposta de Atuação Psi­
copedagógica nas Escolas da Rede de Ensino da
Secretaria Municipal de Educação da cidade de
Campos do Jordão - SP. O trabalho se originou do projeto de Atuação Psicopedagógica desenvolvido pela
Equipe de Psicopedagogos, que objetivava sistematizar, a partir de 2009, os protocolos de Atendimento
Psicopedagógico. Naquele momento, indagavam-se
quais seriam as atribuições do psicopedagogo e
seus recursos, atuante no Ensino Fundamental. Para
tanto, constituiu-se a proposta, utilizando-se um
referencial teórico em Psicopedagogia, respaldado,
principalmente, pelos pressupostos piagetianos e de
seus colaboradores. Tais pressupostos estão presentes,
também, nos referenciais teóricos que fundamentam
o Projeto Pedagógico da Secretaria de Educação, pois
se acredita que possam contribuir para a compreensão do processo de construção de conhecimento das
crianças. Percebeu-se que a proposta de atuação do
trabalho psicopedagógico no Ensino Fundamental,
na Rede Municipal de Ensino, compreende que o
atendimento está relacionado, principalmente, à
aplicação de Protocolos Específicos e à formação continuada do professor, ou seja, intenta desenvolver um
trabalho psicopedagógico preventivo, essencialmente.
Entende-se que o trabalho do psicopedagogo escolar
requer um constante pensar sobre o seu fazer, o que
demanda frequentes diálogos com a equipe escolar. O
Atendimento Psicopedagógico busca, principalmente,
encontrar alternativas de ação que viabilizam a esse
profissional e ao professor do Ensino Fundamental
uma constante reflexão em torno da atuação docente,
a fim de que se encontrem caminhos prováveis para
se chegar à finalidade proposta: a de promover o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: A influência de fatores externos na
aprendizagem: um caso de bullying
Autor: Ana Maria Rien Perez
Resumo
Segundo Vigotski, o homem, sendo um ser essencialmente social e historicamente constituído nas relações
com o outro, em atividades práticas comuns, intermediadas pela linguagem, se constitui e se desenvolve
enquanto sujeito, internalizando a cultura local, seu
modo de pensar, agir, enfim, relacionar-se com os
outros e consigo mesmo. A escola, como formadora
de sentidos para os alunos, sente-se responsável
pela formação de cidadãos que, ao fazerem parte
da sociedade, contribuam significativamente para a
mesma e, para tanto, provê práticas voltadas para o
desenvolvimento de todo o seu potencial, buscando
incentivar nos alunos a autonomia e a busca do co-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
84
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
nhecimento. Porém, existem barreiras que impedem
o total desenvolvimento do aprendiz, caracterizando
os problemas de aprendizagem. Considerando os
problemas de aprendizagem como aqueles que se
superpõem ao baixo nível intelectual, não permitindo
ao sujeito aproveitar suas potencialidades. Apresentamos o processo de aprendizagem humana, na fala
de Bossa, como um procedimento que pode seguir
padrões normais ou patológicos, e que recebe in­
fluências de várias instâncias, tais como da família,
da escola e da sociedade. Isto significa levar em conta
as questões internas e externas da vida do indivíduo
envolvido na aprendizagem. Segundo Fernández, o
problema de aprendizagem, obedece fundamentalmente a duas grandes ordens de estruturas causais,
que são os fatores situados no sujeito que aprende e
seu grupo familiar ou na instituição socioeducativa e
seu entorno social. Prosseguindo nessa questão, apresento aqui um estudo de caso de um aluno do ensino
fundamental II, de uma escola particular, no interior
de São Paulo, que intrigava-nos por seu baixo rendimento escolar, mesmo gozando de boa saúde física e
mental e tendo ambos os pais com nível educacional
superior. O aluno apresentava bom potencial cognitivo, ficando claro que fatores alheios a ele estavam
interferindo em sua aprendizagem. Com isto, tenho
como objetivo, neste relato de experiência, avaliar as
repercussões das influências do meio no fator aprendizagem. Procuro chamar a atenção dessa influência
na própria instituição socioeducativa e como poderemos, como instituição educacional, intervir nessa
situação. Identificado o problema, formamos uma
equipe interdisciplinar que se propôs a observar e
entender as vivências e os relacionamentos do aluno.
Essa observação e busca de entendimento abrangeu
questões nos níveis individuais, como saúde, processos psicológicos, emocionais e acadêmicos, bem
como as questões voltadas para o relacionamento com
seu grupo de pares e com seus familiares. A equipe
composta de uma psicopedagoga, uma orientadora
educacional, uma coordenadora pedagógica, o pessoal do núcleo operacional (zeladoras, pessoal da
cantina, monitores), o coordenador de disciplina e da
diretora da escola, realizou, após as devidas observações e entrevistas com colegas de classe do aluno e
com os pais e professores, uma reflexão inicial sobre
quais fatores estariam interferindo nas questões de
aprendizagem do aluno. Ao analisar todos os relatos
coletados, concluímos que esse aluno estava sofrendo
bullying dos colegas. Elucidado o problema, buscamos
realizar uma intervenção junto aos colegas, à família
e ao próprio aluno, com proposta de atendimento individual e psicológico para o aluno e seus pais, bem
como conscientização dos colegas quanto ao bullying.
A compreensão das condições em que se dá o processo
de aprendizagem nos permitirá uma reflexão crítica
mais atenta à pluralidade de sentidos, proporcionando
condições da escola desenvolver práticas mais abrangentes em todas as dimensões educacionais.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Teste de Trilhas para pré-escolares
e a avaliação da flexibilidade cognitiva
em crianças
Autor: Ana Paula Prust Pereira
Coautores: Alessandra Gotuzo Seabra,
Bruna Tonietti Trevisan, Natália Martins Dias
Resumo
Na primeira infância, programas educacionais que
efetivamente unam envolvimento emocional e motivacional com atividades destinadas a promover o
desenvolvimento das funções executivas podem ser
eficazes para o sucesso escolar. A prevenção e o tratamento dos distúrbios do desenvolvimento requerem
a compreensão da função cognitiva normal e além,
a existência de testes que possibilitem avaliar essas
habilidades em idades precoces. O presente estudo
possibilitou a análise do desenvolvimento cognitivo
em crianças com desenvolvimento típico por meio da
investigação de seu desempenho em uma tarefa de
flexibilidade cognitiva em indivíduos de 4 a 6 anos de
idade. Participaram 85 crianças de uma escola municipal de Educação Infantil da Grande SP, avaliadas
no Teste de Trilhas para pré-escolares. Os resultados
revelaram tendência a progressão no curso desenvolvimental da flexibilidade cognitiva. Assim sendo,
os dados encontrados nesta pesquisa permitiram
contribuir para a identificação do desenvolvimento
da flexibilidade com a progressão da idade, dos 4 até
os 6 anos de idade, e da série escolar, corroborando
estudos acerca do desenvolvimento dessa habilidade
mesmo em faixa etária bastante precoce.
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85
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
de sessão a análise construída por psicopedagogos
oriundos da educação. Na defesa da monografia sobre
o caso atendido, os alunos demonstraram segurança
e desenvoltura, descrevendo o processo de avaliação
psicopedagógica e comprovando que o ensino e uso
da análise funcional se configuram como alternativa
de ferramenta teórica adequada
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: O ensino e uso da análise funcional
na formação do psicopedagogo: uma
experiência na Faculdade Ideal
Autor: Ana Sylvia Colino
Resumo
Segundo os autores, análise funcional pode ser definida como o processo de compreender comportamentos
complexos, identificando suas contingências. A contingência comportamental básica implica no reconhecimento dos antecedentes, resposta e consequentes,
considerando pelo menos três histórias: filogenética,
ontogenética e cultural. Segundo autor, a psicopedagogia é a área do conhecimento que se dedica exclusivamente ao estudo do processo de aprendizagem e
como os diversos elementos envolvidos nesse processo
podem facilitar ou prejudicar o seu desenvolvimento.
Objetivou-se verificar a viabilidade do ensino e uso
da análise funcional pelo profissional psicopedagogo como recurso na compreensão do processo de
aprendizagem de um cliente atendido durante o estágio supervisionado do curso de especialização em
Psicopedagogia na Faculdade Ideal. No período de
três meses, o aluno dedicava, por semana, uma hora
para atendimento do cliente e ou família e duas noites de supervisão presencial e em grupo. Após cada
sessão, o terapeuta transcrevia o diálogo, preenchia
uma tabela separando dados sobre a história prévia,
atual, comportamentos saudáveis e problemas, consequências, hipóteses e planejamento para a próxima
sessão. Na supervisão, o grupo e o supervisor ouviam
a transcrição, preenchiam a tabela e discutiam possíveis divergências. Cada estagiário relatava como se
sentiu atendendo e ou observando a sessão, pontuava
aspectos positivos e a melhorar e refletia a respeito da
problemática apresentada naquela sessão e os instrumentos que poderiam auxiliar na avaliação de áreas
específicas. Tal procedimento mostrou-se eficaz, pois
os resultados apontam que a análise funcional traz o
esclarecimento das contingências que contribuíram
para a construção da demanda de aprendizagem e
quais podem estar mantendo certos comportamentos
problemas. Mesmo sendo uma ferramenta da análise
do comportamento, percebeu-se que pode ser aprendida e usada por profissionais de outras abordagens
ou áreas de formação. Exemplificou-se com trechos
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Desempenho de estratégias realizadas
em tarefas de compreensão leitora em
crianças com dislexia do desenvolvimento
Autor: Andréa Carla Machado
Coautor: Simone Aparecida Capellini
Resumo
A compreensão da leitura depende da ativação de
relevantes conhecimentos que estão fortemente relacionados com habilidades linguísticas, habilidades
de memória, capacidade de realizar inferências e da
experiência do indivíduo, os quais são defasados em
indivíduos com dislexia do desenvolvimento. O objetivo deste estudo é caracterizar do desempenho na
leitura de textos por crianças com dislexia do desenvolvimento. Participaram deste estudo seis crianças
com dislexia do desenvolvimento, de ambos os gêneros, de 3º ao 7º ano, de escolas públicas de uma cidade
do interior do Estado de São Paulo, com idades de 8 a
13 anos em tarefas de compreensão de leitura: textos
de perguntas e respostas e reconto de histórias. Os
dados foram coletados no CEES – Centro de Estudos
de Educação e Saúde da UNESP – campus de Marília,
SP, onde os participantes foram diagnosticados por
uma equipe interdisciplinar. O diagnóstico de dislexia
do desenvolvimento dessas crianças foi realizado por
equipe ao apresentarem, durante a avaliação multidisciplinar, dificuldades significativas na aquisição
da leitura, escrita, compreensão, apresentando, dessa
forma, desempenho substancialmente abaixo do esperado para a idade e escolaridade. Os resultados foram
analisados de forma descritiva, os quais evidenciaram
que as crianças com dislexia do desenvolvimento
apresentaram alterações em relação a reconhecimento
de palavras, tipo de abordagem da palavra, previsão
linguística, velocidade, entonação ocasionando difi-
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
culdades globais na compreensão devido à defasagem
na memória que parece estar intervindo no entendimento, impedindo que as informações se processem,
comprometendo também as inferências, reduzindo a
habilidade de compreensão. Crianças com queixas
escolares devem ter a oportunidade de participar de
avaliações específicas referentes às tarefas de leitura
de textos, pois investigações futuras com amostras
maiores podem ajudar a desenhar uma visão mais
completa na compreensão de textos para crianças
com dislexia do desenvolvimento.
e baixa visão infantil, sendo a retinopatia da prematuridade ROP e glaucoma maiores causas; houve o
estudo comparativo avaliativo da visão funcional em
criança BV, 2 a 6 anos, com protocolo discriminativo,
conclui que carece de novos estudos; com escolares,
houve avaliação educacional com o teste IAR – Instr.
Avaliação Repert. Bás. Alfabetiz adaptada ao Braille,
em 3 crianças, 8 anos, com cegueira por ROP ou catarata congênita, que apontou o IAR ser eficaz para
avaliar os escolares cegos instruindo profissionais
e familiares; na avaliação cognitiva psicométrica e
assistida, de 12 crianças com BV moderada, entre 5
e 9 anos, com provas - Jogo de Perg de Busca para
Crianças DefVisual (Children Analogical Thinking
Modifiability - CATM) e uma psicométrica (Escala
Maturidade Mental Columbia - EMMC), resultou
baixa classificação na prova psicométrica, necessitando adequação do CATM para essa população;
quanto à atuação docente, houve a pesquisa com 84
professores da rede de ensino, com 20 anos de magistério, concluiu que a maioria não teve formação para
sanarem os desafios do aluno com visão subnormal
do ensino fundamental; semelhantemente, no estudo
com 50 professores, também com 20 anos de atuação,
resultou apenas 36% aproximadamente que tiveram
informação para lidar com esses alunos; nas pesquisas
seguintes é destacada a importância do treinamento
da criança com baixa visão, empregando os auxílios
ópticos para atingir a capacitação educacional; e
quanto ao envolvimento familiar, houve as contribuições do psicopedagogo orientando a respeito da
aceitação e do auxílio no desenvolvimento do filho
com deficiência visual e o estudo com 11 mães que
relatam sobre o medo da cegueira diante do diagnóstico de baixa visão do filho, daí a necessidade de
bem compreender a situação. Por fim, o estudo com
o detalhamento do desenvolvimento da eficiência
visual (0 a 6m; 8/10m; 1 a 7 anos), para viver e bem
aprender, segundo escala da American Foundation
for the Blind. Somente duas fontes foram encontradas na ABPp, as demais vieram de investigações
pela Oftalmologia. Sugere-se a implantação de um
programa de saúde ocular em todo o sistema público
de ensino, visando desenvolver ações de prevenção
da incapacidade visual, promoção e recuperação da
saúde ocular, orientando os docentes para melhor
atuarem. E entre os psicopedagogos, que haja mais
trabalhos publicados sobre os segmentos escolares,
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: A função visual e aprendizagem:
o que o psicopedagogo deve saber
Autor: Beatriz Picolo Gimenes
Coautores: Marcia C. Bestilleiro Lopes,
Célia R. Nakanami
Resumo
Pesquisas sobre problemas de aprendizagem em
crianças com dificuldades visuais têm sido escassas.
Talvez uma das causas esteja relacionada ao fato que
o psicopedagogo teve a sua graduação não na área
de saúde, daí, a relevância de sua pós-graduação
promovê-lo a um agente facilitador do saber, bem
como a um conhecedor de como esse processo acontece no organismo humano. Ampliar e aprofundar a
formação do psicopedagogo sobre o desenvolvimento
visual humano, atualizar seu conhecimento sobre as
pesquisas em relação à funcionalidade visual, baixa
visão e a aprendizagem para melhor habilitá-lo no
trabalho em equipe multiprofissional da saúde. Levantamos as publicações da revista da ABPp (online),
periódicos da MedLine e afins sobre dificuldade visual
em crianças, encontrando somente 11 publicações
brasileiras. Dentre essas, uma aborda sobre bebês;
dos demais estudos com crianças, dois abordam a
atuação do professor e dois relatam o envolvimento
da criança com a família. Finalizamos com as etapas
de desenvolvimento funcional visual e sua eficiência.
Com bebês de 0 a 4 meses, houve protocolo avaliativo
sobre os riscos das deficiências visuais e auditivas;
crianças maiores, tivemos a identificação e análise das
principais causas de prevenção e tratáveis de cegueira
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
principalmente com dificuldades visuais específicas,
como catarata, glaucoma, albinismo, entre outros.
do protocolo ajustado por três juízes pesquisadores;
4) Ajustamento do Protocolo segundo recomendações
dos juízes especialistas; 5) Verificação da aplicabilidade do Protocolo em estudo piloto com professores
de alunos com Síndrome de Down, matriculados na
rede regular; 6) Análise dos resultados obtidos com a
aplicação do protocolo, dados referentes à aplicação
do protocolo e também de questionário respondido
pelos professores para avaliação de aspectos de clareza e utilização do protocolo em ambiente escolar.
A versão final do Protocolo de Avaliação de Escolares
com Deficiência Intelectual é formado por: a) Breve
introdução com informações sobre os seus objetivos e
forma de preenchimento; b) Identificação do aluno; c)
52 itens sobre Atividades e Participação (elaborados
a partir da CIF); d) Três classificadores para os itens
1 a 40, a saber: “Não”, “Às vezes” e “Sim”; e) Três
classificadores para os itens 51 a 52, a saber: “Não
realiza”, “Realiza com ajuda” e “Realiza independentemente”; f) Tabela de Pontuação Total. O Protocolo foi
preenchido por 15 professores do Ensino Fundamental
I da rede regular de ensino, que o fizeram em relação
a 15 alunos com SD (grupo SD) e a 15 alunos com
desenvolvimento típico, que serviram de controle
(grupo GC) para o entendimento do impacto de cada
item de avaliação. Na análise das respostas dadas
pelos professores que aplicaram o Protocolo em estudo
piloto, verificou-se que todos eles julgaram os itens do
protocolo claros e de fácil entendimento, assim como
acreditam que a utilização de um instrumento como o
proposto é útil para o planejamento das intervenções
pedagógicas. Conclui-se que um instrumento para
uso na escola seria bem aceito e que sua utilização
beneficiaria, além dos processos avaliativos, como já
explicitado, também os processos de planejamento
das intervenções educativas, uma vez que o protocolo
mostra ao professor as necessidades educacionais
do aluno, mesmo porque, a avaliação sem vistas ao
planejamento das ações educativas e sem reavaliação
é desprovida de sentido.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Elaboração de protocolo escolar
para avaliação de alunos com
deficiência intelectual
Autor: Camila Miccas
Coautor: Maria Eloisa Famá D’Antino
Resumo
A inclusão de crianças com deficiência intelectual na
escola regular é uma realidade no sistema educacional
brasileiro, e o caminho para que esse processo ocorra
de forma adequada ainda está sendo construído, razão
pela qual são necessários investimentos em estudos e
pesquisas que respaldem essa construção. Para que
os professores atendam às necessidades de aprendizagem de crianças com deficiência é necessário que
se realize uma avaliação pela qual se possa obter a
maior quantidade possível de informações e, assim,
atender às suas demandas educacionais. Assim sendo,
o uso de instrumentos capazes de mensurar dados
com objetividade pode contribuir grandemente para
a elaboração de programas de intervenção que sejam
eficazes. Assim, estabeleceram-se como objetivo geral
desta pesquisa, que foi elaborada para a obtenção
do título de Mestre, a elaboração e a verificação
da aplicabilidade de um protocolo de avaliação de
alunos com deficiência intelectual, matriculados no
Ensino Fundamental I da rede regular de ensino de
um município paulista. A elaboração do Protocolo
fundamentou-se na Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e privilegiou os aspectos de atividades e participação.
A Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF) é uma das classificações
organizadas e editadas pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), que surgiu pela necessidade de
abarcar questões que não eram contempladas pela
Classificação Internacional de Doenças (CID). Para
alcançar o objetivo da pesquisa estabeleceram-se as
seguintes fases: 1) Elaboração Inicial do Protocolo
com base na CIF; 2) Ajustamento do Protocolo, segundo orientações da banca de qualificação; 3) Avaliação
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
escola. Nesse sentido, há necessidade de uma reflexão por parte de todos os envolvidos no processo
educacional, que lhes permita avançar em busca da
definição das atribuições a partir do qual se possa ter
mais claro o papel do psicopedagogo e do orientador
educacional. Constatou-se que a psicopedagogia
(Fagali e Vale, 1993) busca, a partir de uma visão
transdisciplinar, a organização de um corpo teórico
específico, no sentido de construir uma identidade.
Cabe aos profissionais da psicopedagogia que atuam
nas instituições (Gaspariam, 1997), um repensar, na
busca da construção de um corpo teórico a partir do
qual se possa definir sua identidade e sua atuação
juntamente aos educandos. Uma vez definido o papel
do orientador educacional, esse profissional assume a
função de dar suporte aos professores na busca de uma
ação educativa integrada na promoção dos aspectos
cognitivos, afetivos, psicomotores dos educandos
(Luck, 2007). Esses processos identitários devem
ser acompanhados de investimentos em pesquisas e
publicações, que são estratégias essenciais para que
haja visibilidade na atuação desses profissionais e na
concretização de suas identidades profissionais nas
instituições em que atuam. A identidade profissional
não pode ser pensada como algo pronto, determinado
a priori, mas em permanente mudança, haja vista a
natureza da atuação do psicopedagogo e do orientador
educacional na instituição.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Processos identitários:
a relação possível entre o orientador
educacional e o psicopedagogo
Autor: [email protected]
Resumo
A identidade profissional, essencial e imprescindível
para atuação nas mais diversas áreas da ciência,
ocorre por um processo de construção social, isto é
por meio, de representações sociais. Esses processos
implicam na busca de identidade que, por sua vez,
vincula certa subjetivação do sujeito em cenários
de prática profissional. O problema de pesquisa se
instaurou a partir do questionamento sobre o qual
repousa a atividade do orientador educacional e do
psicopedagogo na instituição, portanto: como esses
dois profissionais experenciam sua identidade e
sua prática profissional na busca de um trabalho
integrado. Teve por objetivo evidenciar a identidade
e a importância do psicopedagogo e do orientador
educacional no ambiente escolar; apresentar a trajetória histórica dos profissionais em questão; clarear
os campos de atuação e a identidade do orientador
educacional e do psicopedagogo; refletir sobre a necessidade de um trabalho integrado entre o psicopedagogo e o orientador educacional na escola. O método
de pesquisa foi do tipo bibliográfico fundamentada
em teóricos que discorrem sobre o assunto tais como:
Gasparian (1997); Barbosa (2001); Grinspun (2006);
Bossa (1994); Luck (2007), entre outros. Acrescenta-se que a pesquisa bibliográfica, neste trabalho, não
se constituirá em uma mera repetição do que já foi
escrito sobre o assunto, mas sim em uma possibilidade de debate com os autores escolhidos, o que,
provavelmente, possibilitará novas conclusões. Para
Grinspun (2006), “a Orientação, hoje, caracteriza-se
por um trabalho muito mais abrangente, no sentido
de sua dimensão pedagógica. Possui caráter mediador junto aos demais educadores, atuando com todos
os protagonistas da escola no resgate de uma ação
mais efetiva e de uma educação de qualidade nas
escolas [...]. Pensar a identidade do psicopedagogo e
do orientador educacional, na contemporaneidade,
requer um desprendimento no sentido de superar
a ideia de que sejam profissionais dispensáveis na
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: A construção da práxis
psicopedagógica clínica em um
estudo de caso de TDAH
Autor: Carolina Alvim Scarabucci de Oliveira
Resumo
Este trabalho possui como tema principal a construção
da prática clínica psicopedagógica a partir de um
estudo de caso baseado nas dificuldades de aprendizagem, e mais detalhadamente com base no TDAH
– Transtorno de déficit de atenção. As dificuldades e
os transtornos de aprendizagem são conceitos estudados com muita profundidade atualmente, devido aos
inúmeros casos de crianças que se encontram dentro
desses perfis. São várias as contribuições de pesqui-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
sadores, em caráter multiprofissional e disciplinar,
no intuito de compreender a complexidade de suas
características. Aprender, assimilar e externalizar o
conhecimento é particular de cada indivíduo, o que
faz com que cada dificuldade e cada transtorno se
evidenciem de uma forma diferente de um para outro.
Partindo desse ponto, buscou-se descrever os processos intrínsecos ao diagnóstico e à intervenção, assim
como a postura multidisciplinar da práxis psicopedagógica clínica, a partir do atendimento a uma criança,
do sexo masculino, inicialmente com 7 anos, que fora
encaminhada pela escola (pública) para atendimento
psicopedagógico clínico, sob a queixa de dificuldade
de interpretação e leitura. O mesmo fora desenvolvido
com base na Resolução nº 196, de 10 de Outubro de
1996, que preza pelos princípios éticos envolvendo
pesquisa com seres humanos, resguardando, assim, os
direitos e deveres ali estabelecidos. O período de atendimento foi de 05/10/2009 a 12/12/2010, totalizando 53
sessões psicopedagógicas, na cidade de Uberlândia/
MG. Foi realizada avaliação, diagnóstico e intervenção psicopedagógica sob supervisão, e amparada
teoricamente pelas orientações de vários trabalhos.
No transcorrer dos atendimentos, foi obtido parecer
de outros profissionais, que passaram a integrar uma
equipe multidisciplinar para analisar em conjunto o
caso. Após apreciação dos resultados das atividades
propostas no período do diagnóstico, e dos autores
que contribuíram para o embasamento bibliográfico
teórico do tema, chegou-se à conclusão da criança
apresentar TDAH combinado. Foram trabalhados, no
contexto interventivo, as dificuldades apresentadas
utilizando suas potencialidades e habilidades. Aqui
mudar-se-ia o enfoque na forma do trabalho dentro
da clínica, mantendo os fatores pedagógicos que eram
necessários. O trabalho foi construído em conjunto à
criança, à família e à escola, em um amplo contexto
vivencial, considerando-se as questões cognitivas,
sociais-afetivas e motoras. Observou-se melhora significativa, tanto pedagógica quanto comportamental,
com a intervenção pedagógica e apoio escolar, mesmo
antes do início de uma terapia medicamentosa, com
maior desempenho após uso da medicação. Este
estudo reforça a necessidade de um diagnóstico e
intervenção adequados para garantir o processo de
aprendizado de crianças com transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Estudo exploratório sobre as
estratégias de aprendizagem de
estudantes do ensino fundamental
Autores: Carolina Corbacho Sanmartin e
Kelly Cristine Zaneti dos Santos
Coautores: Silva LV; Neves ERC;
Netto MORF; Santos KCZ
Resumo
Considerando o surgimento contínuo de novos conhecimentos e o fato de a informação se propagar
aceleradamente, exige-se da sociedade um desdobramento de seus métodos de aprendizagem (Pozo,
2002). Para embasar este estudo, escolheu-se seguir
a linha do Cognitivismo, que acredita que o indivíduo é dotado de consciência, capaz de se tornar
ativo frente à própria aprendizagem, que, de acordo
com a Psicologia Cognitiva, ocorre por meio de um
processamento da informação recebida. O fluxo da
informação é explicado pela teoria do processamento da informação (Sternberg, 2008). A qualidade do
processamento e a possibilidade de resgatar posteriormente a informação dependem do emprego
eficaz das estratégias de aprendizagem (Boruchovitch, 1999; Costa, 2000; Pozo, 2002). A literatura
reconhece a importância de pesquisas acerca desse
tema, contudo, os estudos na área são recentes e o
conhecimento existente é escasso (Lins, 2011). Diante
dessa realidade, surge a seguinte problemática: quais
são as estratégias de aprendizagem utilizadas por
alunos do Ensino Fundamental? O objetivo geral da
pesquisa é conhecer quais as estratégias que alunos
do Ensino Fundamental utilizam. Na busca por este
objetivo, pretendeu-se: a) rever a literatura da área; b)
entrevistar alunos do Ensino Fundamental de escolas
públicas; c) categorizar as respostas dos participantes
e d) Analisar os dados coletados. Esta pesquisa se
realizou com 36 alunos, sendo 24 do sexo feminino
e 12 do sexo masculino, de duas escolas municipais
localizadas no Interior do estado de São Paulo. Os
participantes possuem idade entre 7 e 14 anos e são
alunos do 3º ao 9º Ano do Ensino Fundamental. Os
estudantes foram entrevistados individualmente,
por meio de questões abertas, sobre as estratégias
que utilizam para aprender os conteúdos escolares.
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
Após a análise de conteúdo, surgiram 21 categorias
de respostas: Perguntar ao professor, prestar atenção,
leitura, pedir ajuda (mãe, irmãos, colegas, professor),
fazer exercícios, refazer exercícios, controle de atenção, controle de ambiente, olhar exemplos do livro,
elaborar questões, responder às próprias questões,
releitura, fazer anotações, resumir, pesquisar, pedir
para alguém “fazer” perguntas, participar da aula,
fazer anotações do entendimento, empenhar esforços,
pensar antes de fazer, verificar aprendizado. Os resultados da pesquisa indicam que os estudantes fazem
maior uso de estratégias cognitivas de processamento
superficiais, como as de ensaio e de elaboração. Em
relação às estratégias metacognitivas, tanto as afetivas
quanto as de monitoramento foram mencionadas pela
maioria dos alunos. Constatou-se, também, que os
alunos mais velhos utilizam, em geral, mais estratégias que os alunos mais novos, e que tais estratégias
tendem a se tornar mais complexas à medida que
acontece o progresso escolar. Todavia, os mais novos
utilizam mais estratégias como a de “pedir ajuda”, a
qual, contudo, tende a diminuir conforme os alunos
avançam na escolaridade. Os mais velhos, por sua vez,
citam mais estratégias como “controlar a atenção e o
ambiente”. Os estudantes do sexo feminino utilizam
mais estratégias de aprendizagem do que os de sexo
masculino, confirmando o que se encontrou na literatura. Visto que estudantes, de forma geral, fazem
maior uso de estratégias cognitivas de processamento
superficial, percebe-se a importância de programas de
intervenção junto aos alunos do Ensino Fundamental,
a fim de contribuir para o aumento do repertório de
estratégias de aprendizagem, assim como o seu uso
adequado. Julgam-se necessários futuros estudos em
relação a essa temática em escolas públicas e particulares de diferentes estados brasileiros.
qual os filhos atingem expectativas de papel, de valores e de atitudes sociais e educacionais por meio das
relações interpessoais com os pais. A mesma autora
ainda comenta que estudos recentes mostram que
o apoio e a participação dos pais são formas importantes para melhorar o desempenho escolar do filho.
Fernandez explica que determinadas modalidades
patogênicas na aprendizagem correspondem-se
afirmativamente com modalidades patogênicas de
ensino nos pais. Por vezes, os pais não se dão conta
da importância que exercem no aprendizado de seus
filhos e que, as suas condutas servirão de modelo para
os futuros estabelecimentos de vínculos afetivos do
sujeito, sejam eles com o objeto de conhecimento ou
com o ensinante. Pesquisa-intervenção: Este trabalho
consiste em um recorte de uma pesquisa-intervenção
realizada em 2011, que consistiu em uma intervenção psicopedagógica grupal com mães de pacientes
portadores de dificuldades de aprendizagem, cujos
filhos encontravam-se na fila de espera por atendimento na Clínica-Escola do UNIFIEO. Esta pesquisa
teve como um dos objetivos principais proporcionar
às mães participantes um espaço de ressignificação
de seus processos de aprendizagem, a fim de que
isso contribuísse positivamente na aprendizagem de
seus filhos. Das mães participantes do grupo, apenas
uma foi escolhida para ser citada neste trabalho. É
importante ressaltar que este estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição UNIFIEO.
A coleta de dados nas sessões de intervenção constou de técnicas lúdicas, de atividades artísticas e da
condução das dinâmicas espontâneas. Para analisar o
material pertinente a esta pesquisa, foram realizadas
análises estruturais gráficas e análises psicológicas
das produções e das falas. A mãe R. tinha na ocasião
da pesquisa 34 anos. Ela era operadora de caixa,
vivia em Carapicuíba-SP, era analfabeta e tinha 3
filhos. A sua filha do meio, com faixa etária 8 anos,
era a que estava apresentando dificuldades escolares.
R. teve uma infância muito sofrida, pois ela morava
no Nordeste com o pai e a madrasta, que sempre a
maltratou. Quando fez 15 anos, seu pai faleceu e ela
teve então que morar com a madrinha, que só a tratava
como faxineira e escrava (palavras de R.). Nas suas
produções e na sua fala, R. demonstrava sempre muita
carência afetiva, e isso refletia-se constantemente em
seu relacionamento com os filhos, pois ela sempre
afirmava que seu maior problema era não conseguir
Tema: Vida Adulta
Título: A importância da ressignificação do
processo de aprendizagem dos pais para o
processo de aprendizagem dos filhos
Autor: Carolina Ferreira Barros Klumpp
Resumo
De um modo geral, segundo Chechia, a família pode
ser considerada uma instituição com um espaço pelo
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
ser uma mãe próxima e mais vinculada a eles. Com
as sessões de intervenção psicopedagógicas R. pôde
perceber o quanto esse fator era fundamental para
uma melhora no aprendizado da filha e ela também
pôde trazer para a consciência o quanto só estava
reproduzindo a sua própria história com os filhos. Nas
sessões finais, R. dizia que seu maior desejo era uma
aproximação de sua mãe que sempre foi ausente na
sua vida e que este sempre seria seu maior desafio.
Na última sessão, foi questionado a R. a relação que
ela via entre o processo terapêutico do qual ela participou e o aprendizado da filha e ela respondeu: “Acho
que é isso, ficar mais perto da família”. R. percebeu
a importância de um vínculo melhor com a filha para
que ela pudesse aprender. Segundo Andrade, é a família que vai prover a criança das questões materiais
e emocionais, tanto dos aspectos objetivos quanto dos
subjetivos. Dessa forma permitirá, através das trocas
afetivas, o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança. Foi através da ressignificação da
sua própria aprendizagem que R. pôde compreender
melhor os processos de ensino-aprendizagem da filha.
Título: Diagnosticando um escolar:
um estudo psicopedagógico
aprendizagem. Este trabalho de pesquisa teve como
finalidade primeira investigar os fatores externos e
internos determinantes do processo de aprendizagem
do escolar e encontrar a etiologia da(s) dificuldade(s)
de aprendizagem apresentada(s). A pesquisa de abordagem qualitativa e caráter descritivo foi realizada por
meio de consulta em clínica, técnicas de observação
participante, entrevista semi-estruturada e aplicação
de instrumentos de testagens como: Raven, TDE,
Becasse, TML, CDI entre outros. Concluiu-se que a
aprendizagem é pessoal e os mecanismos inerentes a
ela são selecionados e relacionados com o meio ambiente. Infere-se, portanto, tratar de um adolescente
com ambiente familiar alterado, onde cresceu e se
desenvolveu à margem dos estímulos necessários ao
desenvolvimento cognitivo. A imaturidade apresentada nos instrumentos de avaliação do desenvolvimento
cognitivo demonstra que as dificuldades encontradas
estão mais atreladas a uma possível incapacidade
neurobiológica do que mera inadequação ao sistema
escolar. Esse escolar desvelou-se um sujeito muito
tímido e apático, com um nível cultural deficitário,
especificamente no que tange ao vocabulário e conhecimentos gerais; uma inteligência pré-operatória
com notória defasagem na linguagem e consciência
fonológica, além de sintomas consideráveis de déficit
de atenção, agravados por um provável quadro de
estresse e depressão.
Autor: Cecília Cordeiro Burla de Aguiar Nicolau
Coautor: Luzia Alves Carvalho
Tema: Infância e Adolescência
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: A dimensão psicossocial na
formação de professores das séries iniciais
do ensino fundamental
Resumo
O profissional psicopedagogo, ao atuar com o complexo mundo da aprendizagem infantil, precisa munir-se
de conhecimentos múltiplos e diversificados, a fim
de conseguir uma intervenção precisa, em vista da
condução do sujeito ao sucesso. A psicopedagogia
oferece o suporte teórico - prático necessário a esse
empreendimento. Este estudo reporta à vida de um
estudante trazido à clínica em função de queixa escolar. Analisa o caso em função dos fatos narrados pelo
agente encaminhador e dos dados obtidos durante
o trabalho investigativo, para identificar e conhecer
as possíveis causas responsáveis pela paralisação
desse processo ensino-aprendizagem. Percebe o
sujeito como um todo, onde interagem os aspectos
desiderativos, emocionais e relacionais necessários à
Autor: Celeida Belchior Garcia Cintra Pinto
Resumo
A formação inicial e continuada de professores tem
sido alvo de debates na política educacional, em
pesquisas e eventos científicos, abordando o tema
sob o ângulo da competência docente, com ênfase
na dimensão psicossocial, buscando refletir sobre as
repercussões da formação acadêmica na atitude e na
prática pedagógica de professores em processo de formação. O presente estudo aborda o tema sob o ângulo
da competência docente, levando em conta a nova
concepção de formação do professor como profissional
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
reflexivo, intelectual crítico, investigador e mediador
no processo ensino-aprendizagem, valorizando os
processos interpessoais e interativos, sem perder de
vista sua responsabilidade como membro ativo da
organização pedagógica escolar. Fundamentou-se
em uma pesquisa realizada junto a professores da
rede pública, em formação, do curso de pedagogia,
da Faculdade de Ciências da Educação e Saúde de
um Centro Universitário de Brasília, DF. A análise
centra-se em dados quantitativos e qualitativos da
dimensão psicossocial da formação desses professores
que concluíram o curso em 2007. Buscou-se analisar
o sistema de formação de professores, utilizando-se
de referenciais teóricos mais significativos publicados
nos últimos anos, sobre a formação de educadores,
buscando agrupar esses estudos em quatro perspectivas. A primeira, centrada na legislação vigente,
buscou analisar a adequação da realidade aos instrumentos legais. A segunda categoria centrou-se
na dimensão técnica do processo de formação de
professores. A terceira categoria voltou-se para a dimensão humana, destacando a relação interpessoal
presente no processo formativo, a comunicação e as
condições em que se realizam as interações facilitadoras do processo de aprendizagem, numa abordagem humanista da psicologia, em que o processo
de formação docente busca a aquisição de atitudes
necessárias à valorização do ser humano. A quarta
categoria é centrada no contexto socioeconômico e
político em que se situa toda a prática de formação de
educadores, por meio de uma prática transformadora
que permeia todo o processo educativo. Com esses
referenciais, foi possível perceber que competência
evoca as ideias de formação e de desempenho. Os
dados quantitativos e qualitativos são evidências de
que, durante todo o curso, os professores vivenciaram
uma dinâmica de construção da competência em suas
diferentes dimensões. Porém, a satisfação, o otimismo
e a consciência de suas conquistas, no âmbito da dimensão psicossocial, levam a sugerir que os cursos
de formação de professores não podem prescindir
dos aspectos humanos, que podem ser interpretados
como o lado humano da formação profissional. Esses
aspectos transcendem os da racionalidade técnica
na construção da competência docente, como afirma
Morin (2000). Verificaram-se, também, a importância
das discussões em sala de aula para a construção
do conhecimento e a formação profissional, bem
como manifestações de satisfação, elevação da auto-estima, segurança, otimismo e outras, sinalizando
que a formação de professores não deve prescindir
desses aspectos transformadores do sujeito, uma vez
que a dimensão psicossocial ou humana transcende
a dimensão técnica na construção da competência
docente.
Tema: Infância e Adolescência
Título: O processo de construção do
conhecimento permeado pelas relações
afetivo-cognitivas professor-aluno
Autor: Celeida Belchior Garcia Cintra Pinto
Resumo
A presente pesquisa buscou analisar o processo de
construção do conhecimento permeado pelas relações
cognitivas e afetivas professor-aluno e suas conse­
quências no sucesso do processo ensino-aprendizagem, por meio de um estudo de caso, envolvendo
alunos e professores de três turmas de quinta série
do Ensino Fundamental de uma Escola Particular
de Brasília, em 2005. Teve como objetivo entender
como se efetivam as interrelações no processo ensino-aprendizagem e desvendar o que está na base dessa
atuação, na busca de meios para se adequar o processo
de ensinar e aprender, a escola e o professor, à realidade de sua clientela, de forma a tornar-se possível o
cumprimento dos objetivos da educação, garantindo,
assim, o sucesso educacional. Objetivou-se apreender
como a prática pedagógica se desenvolve, na transição
da quarta para a quinta série, procurando analisar
as características cognitivas e afetivas presentes na
relação professor-aluno. A metodologia utilizada na
investigação permitiu abordar o problema, com base
na contribuição de professores e alunos, por meio
de entrevistas, dinâmicas de grupo, observações e
questionários semi-estruturados. Fundamentou-se no
referencial teórico de Jean Piaget, Coll, Solé e outros,
buscando entender as interrelações professor-aluno,
permeadas pelos aspectos afetivos e cognitivos, no
processo de aprendizagem e construção do conhecimento. Pela análise dos dados coletados junto aos
gestores escolares, professores e alunos foi possível
evidenciar que muitos problemas que nortearam a
realização da pesquisa não eram alheios a eles. Não
ignoravam as dificuldades de aprendizagem, a falta de
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
matemática (DAM) de alunos do ensino fundamental,
desenvolvido, em 2010, com a finalidade de: verificar
o desempenho matemático de alunos de 3º ano de
duas escolas públicas do RS e compará-lo com o desenvolvimento linguístico; identificar os alunos com
graves ou moderadas DAM; intervir psicopedagogicamente na aprendizagem de alunos. As dificuldades
na aprendizagem da matemática são definidas como
uma inabilidade severa em competências numéricas,
que pode estar ligado a déficits na memória de trabalho, nos sistemas de linguagem ou nas habilidades
visuoespaciais. A origem dos problemas pode ser
encontrada em falhas nas competências numéricas
básicas, no armazenamento e recuperação dos fatos
básicos na memória de longo prazo e na dificuldade
de representação visuoespacial da informação numérica. Vários estudos identificaram, também, as
relações entre dificuldades na leitura e escrita e na
matemática. Quarenta e dois alunos responderam ao
Teste de Conhecimento Numérico (TCN). A média
foi 29,85 (dp=3.04) e foram selecionados 14 alunos,
entre 8 e 9 anos, que pontuaram abaixo da média,
sendo quatro com graves dificuldades e os demais
com dificuldades moderadas e cujos pais consentiram na intervenção. A linguagem destes 14 alunos
foi avaliada através do Teste de Fluência Verbal, do
Teste de Audibilização e do Teste de Competência
de Leitura de Palavras e Pseudopalavras. As intervenções - 19 sessões semanais de 60 minutos, em
grupos de 3 ou 4 alunos - foram organizadas a partir
das dificuldades identificadas na avaliação, ou seja,
senso numérico, contagem e automatização dos fatos
básicos aditivos. Os procedimentos incluíam ensino
direto, utilização de materiais concretos e outros
recursos visuais, comunicação verbal e incentivo à
utilização de estratégias metacognitivas, prática continuada através de exemplos variados e sequenciais,
e feedback imediato. Foram desenvolvidas atividades
de identificação de quantidade, relação parte-todo,
raciocínio numérico de aproximação e estimativa,
contagens com e sem material concreto, atividades
na reta numérica e estratégias de memorização dos
fatos básicos aditivos. Ainda, incentivou-se o uso da
verbalização da atividade matemática, oportunizando, aos alunos, o desenvolvimento de estratégias
metacognitivas e auto-regulatórias. Todos os alunos atingiram resultados acima da média 29,85 no
TCN. A comparação entre o pré-teste deste grupo
motivação e o desinteresse de um número significativo
de alunos, sentindo-se frustrados e, algumas vezes,
impotentes diante das situações diagnosticadas. Pela
percepção das interrelações afetivo-cognitivas entre
professores e alunos, identificaram-se fatores que
interferem na aprendizagem dos alunos de quinta
série, constatando-se a diferença significativa em relação à quarta série, evidenciando-se a ruptura entre
a primeira e a segunda fase do Ensino fundamental,
na condução do processo de ensino e aprendizagem
e nas intenções e crenças de muitos professores. A
cada dia se valoriza mais o caráter construtivo do
processo ensino-aprendizagem, priorizando um aluno
capaz de selecionar, assimilar, processar e interpretar,
conferindo significado à sua aprendizagem. Não se
concebe mais a figura do professor e do aluno como
simples transmissores e receptores de conhecimento.
Valorizam-se os processos de interação professor-aluno, desencadeando e promovendo a aprendizagem. O
processo de ensino implica a interação de três pólos:
o aluno que busca aprender, o objeto do conhecimento e o professor que interage, buscando favorecer a
aprendizagem, com base em propostas educacionais
e modelos sociais e culturais vinculados ao contexto
histórico, assim como nas motivações, interesses e
expectativas dos elementos envolvidos. Concluímos,
alertando para o fato de que as experiências afetivas
e cognitivas de professores e alunos interferem no
sucesso do processo ensino-aprendizagem. Apresentamos recomendações quanto às implicações da gestão escolar, dedicando atenção especial à orientação
dos professores e demais elementos envolvidos no
processo educacional, oportunizando sua formação
e qualificação profissional, com vistas a favorecer o
desenvolvimento harmonioso do educando e o sucesso
do processo ensino-aprendizagem.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Avaliação e intervenção nas
dificuldades de aprendizagem da matemática
em alunos do 3º ano do Ensino Fundamental
Autor: Clarissa Seligman Golbert
Resumo
Esta comunicação apresenta um estudo de avaliação e
de intervenção nas dificuldades de aprendizagem da
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
plástica interior; auxiliar no processo de reinserção
social de seus alunos, que através dos conhecimentos
adquiridos e das atividades desenvolvidas poderão
atuar na sua comunidade, com maior eficiência; despertar a crença de que a vida começa quando você
desejar. O trabalho psicopedagógico foi proposto ao
grupo na aula inicial do ano de 2012, partindo do
seguinte questionamento: como manter o prazer de
aprender na terceira idade, por meio de recordações
das aprendizagens passadas, tornando-se autor de
sua história. Visando trabalhar as aprendizagens no
decorrer da vida, com as implicações decorrentes,
pensando em propostas imediatas, de aplicação em
curto prazo, capazes de trazerem benefícios concretos aos participantes. Desde o primeiro contato com
os alunos percebe-se a dificuldade de expressarem
suas aprendizagens e de se aceitarem como autores
de suas escolhas. Inicialmente através de uma técnica projetiva: desenho da pessoa humana, realizado
com o grupo, coletou-se informações e dados para a
proposta. Segundo Weiss (2008), “através do projetivo é que se busca descobrir como o sujeito usa seus
próprios recursos cognitivos a serviço da expressão
de suas emoções, ante os estímulos apresentados pelo
terapeuta.” Propusemos ao grupo a confecção de um
álbum no qual pudessem relatar sua vida, usando o recurso da escrita, desenhos, figuras e fotos. A atividade
foi mediada pela psicopedagoga usando os critérios da
E.A.M – experiência da aprendizagem mediada - propostos por Reuven Feuerstein. Nos início do trabalho,
houve resistência por parte de alguns alunos, mas, por
meio da mediação intencional, foi-se desenvolvendo a
reciprocidade e interesse para o trabalho, que se tornou significativo. Cada sujeito foi trabalhado em sua
singularidade – mediação da individuação – relatando
para o grupo as atividades que gostava de realizar,
o medo do aprender coisas novas, o medo do desconhecido, as coisas que ainda querem aprender, etc.
Ao ouvir o relato do outro surgiam as interferências,
trocas de experiências e o desejo de também querer
participar. O registro de todo este trabalho é feito num
caderno de desenho, que será exposto numa atividade
festiva: tarde dos autógrafos. Desde o início da intervenção psicopedagógica, percebemos que os idosos
passaram a compreender que podiam abrir-se para novas conquistas e aprendizagens. Fica evidente como
a presença do psicopedagogo como mediador neste
espaço para pensar, criar, registrar e reavaliar a vida,
faz a diferença, intervindo, valorizando, incentivando
(M= 26,64; DP= 2,44) e o pós-teste (M= 37,42;
DP = 4,83) confirma o progresso alcançado. Seis
alunos evidenciaram um conhecimento numérico
muito avançado, 5 demonstraram um conhecimento
numérico avançado e 3 alunos apresentaram um
conhecimento numérico típico. Dos quatro alunos
que apresentaram graves dificuldades no pré-teste
do TCN, três, que contavam com bons recursos linguísticos, atingiram alta pontuação no pós-teste. O
aluno AS, com graves dificuldades na matemática e na
linguagem, atingiu um progresso menos significativo.
O avanço mais expressivo foi constatado em alunos
que apresentaram dificuldades moderadas, tanto na
linguagem quanto na matemática. Os procedimentos
de intervenção mostraram-se eficientes na solução das
DAM. As habilidades desenvolvidas aumentaram a
velocidade de processamento, reduziram as demandas feitas à memória de trabalho e permitiram mais
compreensão e elaboração do raciocínio.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Um projeto de Psicopedagogia
na terceira idade
Autor: Claudia Marques Cunha Silva
Resumo
Este trabalho é realizado com os alunos do curso de
extensão “Faculdade Aberta à Maturidade”, que se
destina às pessoas com mais de 45 anos que desejam
atualizar seus conhecimentos, desenvolver atividades
baseadas na convivência sadia e ainda reintegrar-se
no convívio social. O projeto insere-se na filosofia da
educação continuada e parte do princípio de que a
educação não formal ocupa um importante lugar na
sociedade brasileira atual. Tem como objetivos: promover um espaço de troca e partilha entre o grupo
de participantes do projeto de extensão “Faculdade
Aberta da Terceira Idade”; favorecer oportunidades
para o aluno/ idoso reviver e refazer sua história de
vida, pela compreensão de seu processo de aprendizagem; contribuir para levá-lo a uma forma mais
feliz de olhar o mundo, congregando-o em torno de
objetivos cognitivos, sociais e afetivos; estimular a
autoestima, despertar a criatividade, aguçar o senso
estático e a motricidade, trabalhando para realizar a
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
e respeitando a história de cada um e permitindo que
a autoria se apresente como personagem principal.
apresentado resultados alarmantes, comprovados
nas avaliações realizadas pelo MEC\INEP: crianças
que concluem o 3º ano do Ensino Fundamental não
aprenderam o que era esperado em relação à leitura
e à escrita, são analfabetas ou analfabetas funcionais.
Essa constatação inquietou gestores de algumas escolas públicas do estado de Minas Gerais, levando-os a
implementarem o projeto Articulação em suas escolas,
visando um trabalho psicopedagógico que favorecesse
a readaptação pedagógica do sujeito, auxiliando na
compreensão da modalidade de aprendizagem e na
aquisição de conhecimentos. O exercício da escuta
psicopedagógica tem contribuido para a percepção
holística do fato educativo, a compreensão da escola,
da família e do sujeito da aprendizagem, conduzindo a um planejamento responsável e efetivo. Essa
iniciativa, de caráter curativo, tem gerado resultados
crescentes e visíveis: dos 48 alunos assistidos no ano
passado, 33 iniciaram o processo de alfabetização,
apresentando uma evolução na fase da escrita ou no
desenvolvimento, segundo Emilia Ferreiro e Piaget,
respectivamente. Hoje somam 75 alunos atendidos
e 16 “voluntários” do projeto. Um plano preventivo
também foi elaborado envolvendo a capacitação do
professor, através de palestras e reuniões para elevação e fortalecimento da autoestima, intercâmbio
e estudo dos casos, bem como sugestão de práticas
e estratégias docentes. O projeto Articulação conseguiu unir a psicopedagogia clínica e institucional
num mesmo contexto, instrumentalizar alunos do
referido curso para uma ação que, ao mesmo tempo
cidadã, é efetiva em termos de competência técnica
profissional, além de colaborar para a transformação
da realidade escolar.
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: Projeto articulação:
parceria entre a formação do
psicopedagogo e a escola pública
Autor: Cristina Coronha Lima Vieira
Resumo
A educação contemporânea impõe uma nova cartografia: rizomática, caracterizada pelo “complexus”,
pela multiplicidade. O desafio de hoje é o de pensar
em termos de urgência planetária, planejando ações
coletivas que articulem diversos saberes, aproximando quem ensina de quem aprende, quem planeja de
quem executa, dando significação e circularidade à
aprendizagem, numa iniciativa de responsabilidade
social e exercício de verdadeira práxis. Cabe à universidade compreender seu novo papel social, provocando um movimento capaz de diminuir o hiato existente
entre o que produz nos seus bancos universitários e a
realidade / necessidade do mundo / da escola pública,
estabelecendo um verdadeiro diálogo intercultural e
solidário. O projeto Articulação “nasceu” dessa aspiração, no início de 2011, dentro da Universidade;
conseguiu reunir futuros especialistas em Psicopedagogia e seus saberes múltiplos à realidade da escola
pública, com seus múltiplos saberes, formando uma
equipe de estagiários voluntários, que uma vez por
semana se deslocam para escolas públicas do município de Juiz de Fora e de Argirita, no estado de Minas
Gerais, para um trabalho clínico psicopedagógico de
diagnóstico e de intervenção, individuais, dentro da
escola, orientado para as dificuldades/transtornos da
aprendizagem em relação à leitura e à escrita dos
alunos do primeiro ciclo do Ensino Fundamental.
Esta iniciativa, tal qual rizoma, vem produzindo
conexões, novos mapas e “raízes”, estendendo seu
raio de alcance a outras escolas públicas, a muitos
outros alunos e professores, todos interessados em
fazer parte desse movimento relacional, de rede. Além
disso, tem colaborado para a concretização do artigo
30 da Resolução CNE/CEB 7/2010, que orienta que
os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem
assegurar a alfabetização e o letramento. A educação
básica, destacando aqui as instituições públicas, tem
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Título: Refletindo sobre o cuidado de
adolescentes na estratégia saúde da família:
contribuições da psicopedagogia
Autor: Cristina Maria de Santana Soares
Coautores: Riksberg Leite Cabral;
Aldisiane Sousa Costa;
Manuela de Mendonça Figueiredo Coelho
Resumo
A psicopedagogia institucional se constitui como uma
área de estudo e atuação em organizações humanas
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
que demandam intervenções no processo de aprendizagem dos colaboradores, a fim de contribuir para
o alcance dos objetivos e cumprimento das metas institucionais, considerando os talentos e as motivações
de cada trabalhador. Em Maracanaú/CE, município
com predominância populacional juvenil e com indicadores de saúde que apontam para a necessidade
de intervenções que contribuam para a qualidade de
vida desse segmento, tem sido prioritária a expansão
e consolidação das ações de cuidado à saúde de
adolescentes e jovens através das equipes de Saúde
da Família (eSF). Tal investida tem demandado intervenções junto aos trabalhadores da eSF, com um olhar
atento e sensível às especificidades de cada território
de atuação, suas potencialidades e fragilidades. O
objetivo deste estudo é relatar as contribuições da
psicopedagogia na experiência de supervisão e apoio
institucional às eSF para o cuidado de adolescentes e
jovens. A Gerência do Programa de Atenção à Saúde
do Adolescente e do Jovem – PROSAJ, sob a condução
de uma filósofa estudante de psicopedagogia, tem
realizado desde o ano 2011 visitas de supervisão e
apoio técnico às eSF, das quais participam médico,
enfermeiro, dentista e agentes comunitários de saúde.
Esses encontros foram programados como estratégia
de diagnóstico situacional das ações realizadas pelas
eSF no cuidado dos adolescentes, bem como para
orientá-las quanto às diretrizes nacionais da política
de saúde para este segmento e suas adequações na
rede básica de saúde do município. Durante as visitas,
foi expressiva a necessidade de explorar o componente educativo dessa intervenção, uma vez que os
trabalhadores apresentavam percepções carregadas
de preconceito sobre os adolescentes e, em algumas
situações, sem motivação para empreender para tal
investida. Diante disso, a supervisão redimensionou
a postura do seu trabalho, estando mais atenta às
demandas e necessidades dos trabalhadores durante
as visitas, incluindo na programação leituras reflexivas acerca dos olhares sobre a adolescência bem
como sobre a produção do cuidado desse segmento
pelas eSF. Os trabalhadores das eSF responderam
de forma positiva às adaptações na programação dos
encontros, assumindo uma postura mais receptiva às
supervisões e interagindo com maior disponibilidade
para repensar suas atitudes e práticas no cuidado da
saúde de adolescentes e jovens. O olhar mais sensível
às demandas do grupo, uma breve leitura quanto ao
seu estado de motivação para apreender orientações
e implementá-las, aliada à introdução de elementos
educativos no processo de trabalho da supervisão,
foram fundamentais para prestar, de fato, apoio ao
trabalho das eSF. A experiência evidenciou a contribuição da psicopedadogia para o fortalecimento da
política de atenção à saúde dos adolescentes e jovens
na Estratégia Saúde da Família.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Tecnologia educacional:
a formação continuada empresarial frente
às constantes inovações tecnológicas
Autor: Denise S. Levy
Resumo
O presente trabalho aponta possibilidades do trabalho psicopedagógico na esfera empresarial junto às
constantes inovações que permitem aliar tecnologia
e educação. A formação continuada é um processo
ininterrupto de aprendizagem que permite ao colaborador se atualizar frente às exigências do mercado
corporativo. O treinamento presencial é, por vezes,
economicamente inviável para empresas com postos
de atendimento em todo o país. A educação à distância (EAD) possibilita a formação do maior número
de colaboradores possível, otimizando o tempo e minimizando custos. O presente estudo foi baseado na
experiência de diferentes cursos virtuais aplicados em
grandes empresas, tais como bancos, supermercados
e redes de lojas do varejo. Treinamentos corporativos
exigem constante atualização. A EAD permite beneficiar a um só tempo um grande número de colaboradores que se encontram em regiões geograficamente
distantes. A disponibilidade de banda larga e a acessibilidade de preço dos equipamentos incentivam o uso
de novas tecnologias que trazem aportes operacionais
e financeiros. Modernos conceitos educacionais e
recursos tecnológicos de última geração possibilitam
complexos programas de treinamento, com múltiplas
interfaces de comunicação e sistemas de gerenciamento detalhados, que conferem qualidade ao curso
e segurança para as empresas e seu efetivo. Soluções
EAD envolvem análise, planejamento, aplicação e
avaliação durante e após o treinamento, avaliando a
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
apreensão do conhecimento e gerando dados para futuras referências instrucionais. No âmbito corporativo,
o psicopedagogo pode analisar os diversos públicos,
identificar práticas pedagógicas que potencializem
o processo de aprendizagem, diversificar técnicas de
ensino, compreender a relação de cada grupo com
o aprendizado, promover ações eficazes que aproximem o colaborador do objeto do conhecimento.
As boas práticas empresariais buscam participação
integral do funcionário, trabalhando construção do
conhecimento e aspectos relacionais. Por meio de
cursos, jogos virtuais ou simuladores de sistema, a
EAD oferece ferramentas diferenciadas, com estratégias inovadoras, oportunizando e potencializando
a aprendizagem colaborativa e criando ambientes
propícios a novos aprendizados. Novas ferramentas
tecnológicas oferecem reais possibilidades de inclusão
social e digital, permitindo um processo educacional
de qualidade para colaboradores com deficiência.
Uma solução EAD requer equipe multidisciplinar para
desenvolvimento de conteúdo e material didático,
equipe de produção e equipe tecnológica. Aliar formação empresarial e tecnologia implica um constante
trabalho de pesquisa sobre possibilidades de acesso,
analisando dados que podem balizar a eficácia da
infraestrutura: número de computadores por empresa,
proporção de funcionários que utilizam computadores,
acesso remoto ao sistema, atividades realizadas por
celular corporativo, velocidade média de download
fornecida pelos provedores, políticas de restrição de
acesso e outras informações relevantes, conforme a
proposta do treinamento. Ainda, há que se considerarem aspectos legais, como no caso dos Programas
de Aprendizagem, regidos por legislação específica.
O treinamento empresarial contempla aprimoramento
profissional, gestão do conhecimento e compartilhamento da informação. A intervenção psicopedagógica
pode alavancar a formação continuada, valorizando
o colaborador enquanto profissional e ser humano,
promovendo ações que potencializem o aprendizado
e otimizem o trabalho em equipe, levando a empresa
a incorporar novos paradigmas educacionais e sociais para acompanhar, de forma humana e eficaz, as
novas tendências mundiais em educação, gestão do
conhecimento e formação pessoal.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Formação contínua de professores:
sentidos e significados de aprendizagem
em contexto colaborativo
Autor: Eliene Maria Viana de Figueirêdo Pierote
Resumo
Este trabalho contempla discussão sobre a formação
contínua de professores e foi desenvolvido no mestrado em Educação da Universidade Federal do Piauí, em
uma pesquisa realizada com docentes que ministram
a disciplina Língua Portuguesa no Ensino Médio do
Instituto Dom Barreto, escola da rede particular de
ensino de Teresina-PI. Na tentativa de compreender
com maior profundidade o processo de aprendizagem
escolar, fomos intensificando os estudos por meio da
Psicopedagogia, área na qual atuamos há mais de
doze anos e que tem por objeto de estudo a aprendizagem do ser humano, que na sua essência é social,
emocional, cognitivo – o ser cognoscente, um sujeito
que, para aprender, pensa, sente e age em atmosfera,
que ao mesmo tempo é objetiva e subjetiva, individual
e coletiva, de sensações e de conhecimentos, de ser
e vir a ser, de não saber e de saber. Além disso, nas
palavras de Portilho (2007), enquanto psicopedagogos, “[...] temos o compromisso de estudar o sujeito
em todas as suas singularidades, a partir do seu
contexto social e de todas as redes relacionais a que
ele consegue pertencer”. O objetivo geral que guiou
este estudo foi investigar, de forma compartilhada e
em contexto de colaboração, os sentidos e os significados que os professores do Ensino Médio atribuem
à aprendizagem, para criar possibilidades de refletirem criticamente sobre a prática docente. De modo
específico, procuramos identificar os sentidos e os
significados de aprendizagem compartilhados pelos
professores, compreender o movimento de reflexividade crítica sobre a prática docente, considerando
os sentidos e significados de aprendizagem. A abordagem Sócio-Histórico-Cultural de Vigotski (2004,
2007, 2009) embasa o referencial teórico e metodológico desta pesquisa, classificada como colaborativa,
porque negociamos responsabilidades na produção
de conhecimento sobre os sentidos e significados de
aprendizagem em contexto de reflexividade colaborativa. Considerando a natureza do objeto de estudo
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
desta pesquisa, optamos em executar uma pesquisa
colaborativa, que, de acordo com Ibiapina (2008), no
âmbito da Educação, apresenta-se como coprodução
de saberes, de formação, de reflexão e de desenvolvimento profissional, realizada interativamente
por pesquisadores e professores com o objetivo de
transformar determinada realidade educativa. Assim,
para responder às questões suscitadas pela investigação, produzimos os dados a partir dos seguintes
instrumentos: o questionário reflexivo, com questões
abertas e fechadas; as sessões reflexivas, em que nos
apoiamos em referencial teórico para as discussões e
a videoformação, que consiste na filmagem da aula
de um dos partícipes para discussão no grupo, com
base nas ações da reflexão crítica proposta por Liberali (2008). No plano de análise dos dados, optamos
pela análise do conteúdo do discurso, de acordo com
Magalhães (2006), Orlandi (2005; 2009) e Bakhtin
(1995). Essa técnica consiste em analisar o uso da
língua, como produtora de sentidos e significados, e
dos discursos, por seus efeitos múltiplos e variados,
nos auxiliando a compreender as interlocuções que
aparecem ao longo deste estudo. A análise destaca
o processo de reflexividade colaborativo que resulta
em novos olhares sobre o processo de ensino e de
aprendizagem, estabelecendo relações com a prática
pedagógica dos colaboradores desta pesquisa.
me apontava a uma diretriz de trabalho, mas que na
prática, no primeiro momento, não se sustentava por
si só, faltava alguma coisa. Por isso e pela valorização
do trabalho inter e multidisciplinar, pude reafirmar as
convicções de que o trabalho com essas crianças só
poderia efetivar-se, caso me destituísse desse lugar
de saber, ou seja, colocando-me no lugar não só de
sujeito ensinante, mas o de um ser aprendente, permitindo-me assim tornar-me um ser “aprendesinante”
(Fernández, 2001). No lugar daquele que aprende e
que ensina, ao mesmo tempo, que somente estando
neste lugar, destituída de um saber arraigado, pude
resignificar aquilo que poderia enfim estabelecer
ações que pudessem vir a corroborar uma clínica que
atendesse a criança em sua globalidade. Sendo assim,
a proposta deste trabalho clínico procura demonstrar que, por meio da Intervenção Psicopedagógica
Clínica, é possível constituir um sujeito desejante
de aprender no campo de Saúde Mental. Para isso,
recorro a Fernández (2001), que nos diz que a Intervenção Psicopedagógica Clínica difere da reeducação,
pois esta última possui uma tendência à correção ou
remediação, ou seja, as crianças ficam submetidas a
uma metodologia reeducativa, estabelecendo uma
“ortopedia mental”, como se fosse possível a correção
de “próteses cognitivas”. No espaço já reconhecido
pela Psicopedagogia, vislumbrei o valor da equipe
multidisciplinar, sendo essa: Assistentes Sociais,
Enfermeiros, Pedagogos, Psicanalistas, Psicólogos
e Psiquiatras, que a partir dessa perspectiva abrem
espaço para uma aposta na Intervenção Psicopedagógica de um caso clínico. O Estudo de Caso de uma
criança com 12 anos, sexo masculino, portador de
Transtorno Global do Desenvolvimento, foi utilizado
como instrumento de estudo deste trabalho, a fim de
elucidar a possibilidade de uma efetiva Intervenção
Psicopedagógica no campo da saúde mental.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Psicopedagogia clínica:
da intervenção possível à constituição
do sujeito desejante de aprender no
campo da saúde metal
Autor: Emília Naura Santos Bouzada
Resumo
Tema: Saúde Mental e Escola
A apresentação deste trabalho surgiu da prática clínica realizada em um Centro de Atenção Psicossocial
para Infância – CAPSI, na cidade do Rio de Janeiro,
onde se configurou uma experiência psicopedagógica clínica com crianças portadoras de Transtorno
Mental e/ou Global do Desenvolvimento inseridas em
um espaço de reabilitação psicossocial. No decorrer
da prática vivenciada, deparei-me com a angústia
do meu Saber, de um Saber Psicopedagógico, que
Título: Psicopedagogia: espaço necessário de
atuação entre a educação e a saúde
Autor: Flávia Teresa de Lima
Resumo
A escolha deste tema deu-se inicialmente pela nossa
vivência como terapeuta ocupacional, pedagoga e
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
psicopedagoga, integrante de equipe do Departamento de Saúde Mental de município da zona oeste do
estado de São Paulo e pela relevância dessa rede no
cenário nacional, por suas características e especificidades. Atuando agora, não mais diretamente na área
de saúde, mas como coordenadora de escola, sentimo-nos provocados por inúmeros questionamentos sobre
a atuação dos profissionais da área de saúde mental
e o trabalho oferecido à criança e ao adolescente que
apresentam problemas em suas trajetórias escolares.
Podemos enunciar nosso problema com a seguinte
questão: como é feito o atendimento às crianças e aos
adolescentes que chegam à rede pública de saúde,
com queixa de dificuldades de aprendizagem e qual
o retorno dado à rede educacional? Nossa hipótese é
que a rede de saúde carece do profissional qualificado
para realizar, juntamente com a equipe interdisciplinar de saúde, o diagnóstico e a intervenção adequados
nos casos de problemas de aprendizagem. E esse profissional é o psicopedagogo. Para responder à nossa
questão, tivemos por objetivo ampliar a compreensão
sobre a coerência entre a prática profissional de equipe formada por profissionais oriundos de distintas
áreas do conhecimento, no atendimento público em
saúde mental, e as bases epistemológicas que definem
a atual política de saúde mental no Brasil. Além disso,
buscamos refletir sobre o papel do psicopedagogo
atuando em uma equipe interdisciplinar na área de
saúde mental. A metodologia utilizada neste trabalho
é a da pesquisa-intervenção. Frente a uma situação
instituída, por meio da pesquisa-intervenção, não se
busca uma interpretação do que está acontecendo,
mais sim, um entendimento da complexidade das dinâmicas subjetivas que estão atuando, bem como das
relações institucionais estabelecidas, não se tratando,
assim de um objeto de estudo estanque. Conclui-se
que a articulação entre os diversos conhecimentos das
disciplinas que compõem as áreas da saúde e da educação e os saberes subjetivos dos profissionais pode
ser facilitada pelo psicopedagogo. Devido ao objeto
de estudo próprio da Psicopedagogia, o processo de
aprendizagem humano é construído e analisado a
cada observação, a cada intervenção, isso faz com que
a atuação desse profissional, nos casos de problemas
de aprendizagem, seja necessária. Porém, a rede pública de saúde não conta com a atuação efetiva desse
profissional, embora algumas experiências possam
ser relatadas como satisfatórias. As crianças e adoles-
centes que apresentam problemas em seus processos
de aprendizagem são encaminhados, dentro da rede
pública, para psicólogos e fonoaudiólogos e, muitas
vezes, essas intervenções tornam-se ineficazes pela
especificidade dos casos que se apresentam. Faz-se
necessário que a profissão do psicopedagogo seja
regulamentada para que sua prática possa ser garantida em termos da lei e, como consequência, que o
profissional psicopedagogo possa ocupar o lugar que
lhe é devido, seja na área da saúde ou da educação,
ou mesmo, no espa–ço que se estabelece entre ambas.
Tema: Infância e Adolescência
Título: Projeto Aprender em Grupo:
adolescentes refletindo sobre
autoconhecimento e aprendizagem
Autor: Francy Izanny de Brito Barbosa Martins
Coautor: Regina Celly de Brito Barbosa
Resumo
O Projeto Aprender em Grupo é um trabalho sistemático desenvolvido mediante a prática psicopedagógica,
no sentido de auxiliar o adolescente a desenvolver
suas aprendizagens acadêmicas mediante a reflexão
sobre o seu próprio ato de estudar. Observa aspectos
da aprendizagem do adolescente ao longo do ano
de preparação para o Exame de Seleção do Instituto
Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Rio
Grande do Norte (IFRN), dado que esse é um momento importante, pois promove uma prática emancipatória quanto à preparação do estudante para o Ensino
Médio Integrado. A escolha do tema deve-se ao fato
de pesquisarmos em educação e psicopedagogia, o
qual nos apontou a necessidade de conhecermos o
educando quanto à motivação em fazer exames de
seleção, por percebermos, nos primeiros meses de
aula, as dificuldades em organização com o estudo e
o aprendizado. Entendemos que podemos colaborar
para a reflexão sobre o processo de aprendizagem
de adolescentes, uma vez que ao conhecer os fatores
psicológicos que interferem no aprender do sujeito,
percebemos como esse estudante pensa sobre si
mesmo, sua motivação e sua aprendizagem. Alguns
autores já teorizaram sobre questões aqui suscitadas
como Vygotsky (1987), Tápia e García-Celay (1996),
Sole (1998), Werneck (2000), Lima (2000), Alvarez
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
(2002), Ribeiro (2002), Perraudeau (2009), Portilho
(2009), entre outros. Este trabalho mostra-se importante, pois visa apresentar um relato de experiência que
objetiva assistir o educando, ao longo de sua preparação para o Exame de Seleção do IFRN, na solução
das dificuldades que enfrenta ao estudar, levando-o
a refletir sobre si mesmo, sua modalidade de aprendizagem, suas decisões relativas à escolha do curso e
o preparar-se bem para realizar a prova. Como ponto
de partida metodológico, utilizamos uma abordagem
interacionista, pois buscamos maior aproximação com
o sujeito, no intuito de mediar o processo de aprendizagem no campo da motivação. Este projeto foi
desenvolvido em grupos de, aproximadamente, vinte
adolescentes e coordenado por uma psicopedagoga,
que os auxiliava a pensar sobre suas atitudes e ações
pertinentes a si mesmo e a suas aprendizagens. Seis
módulos de trabalhos foram elaborados e realizados
em seis sessões grupais, com duas horas de duração.
Assim, consideramos que, por meio dessas linhas de
ação em prol do autoconhecimento, da motivação e
da aprendizagem dos educandos para o aprender a
aprender, podemos proporcionar um projeto interativo, construtivo e significativo para o adolescente
que está em busca do desenvolvimento de autonomia
intelectual. Temos consciência de que essa é uma área
escassa em pesquisa e produções científicas, o que nos
oportuniza enriquecer esse campo de conhecimento
e contribuir para maior amplitude no que diz respeito
à educação e à psicopedagogia.
do sistema nervoso central, produzindo novos comportamentos. A proposta é apontar as contribuições
da neurociência para a educação, especificamente
quanto à compreensão do processo de aprendizagem;
identificar conhecimentos em neurociências que
levem à compreensão e aplicação de estratégias que
facilitem o desenvolvimento humano em sua diversidade. O espaço proposto como comum e familiar
entre a neurociência e a educação é a neuroeducação,
delimitando um campo de intersecção da neurologia,
psicologia e pedagogia. O objetivo da pesquisa foi
embasar a discussão na tentativa de aproximar e
entrelaçar conhecimentos em relação dimensões do
cérebro humano e a aprendizagem se justifica numa
abordagem hermenêutica, como proposto por Gadamer. Num diálogo de saberes relacionais propõe a
hermenêutica como a arte de compreender o outro e
se tornar compreensível pelo outro. A relevância do
cérebro humano está na neurociência, que o estuda
em suas inúmeras dimensões, e na educação, como
ciência do ensino e da aprendizagem. Entender os
aspectos biológicos envolvidos na aprendizagem, as
habilidades e deficiências particulares ajuda educadores e pais na tarefa de educar. Aprender não é
absorver conteúdos e exige uma complexa rede de
operações neurofisiológicas e neuropsicológicas e
Alvarez (2006) acrescenta a contribuição do meio
ambiente. A aprendizagem é muito mais que a armazenagem de conhecimento no cérebro que pode ser
recuperado em determinado momento. Aprender é
obter um objeto (pensamento, ideia, conceito) e dele
se apossar. Ensinar o que se aprendeu é transmitir a
informação a alguém para quem se disponibiliza o
objeto de conhecimento em uma fonte de busca. A
atividade escolar promove a aprendizagem que molda, literalmente, a anatomia e a fisiologia cerebral.
Aprender envolve a mente e o cérebro, o pensamento,
as emoções, as vias neurais, os neurotransmissores,
enfim todo ser humano. As pesquisas educacionais
fornecem material para a pesquisa em neurociência
que busca compreender o funcionamento do cérebro
e da mente humana que interessam ao processo de
aprendizagem, portanto, com interesses mútuos. Do
ponto de vista da neurociência e aprendizagem, ocorre
porque o cérebro tem a plasticidade necessária para
se modificar e se reorganizar frente a estímulos e se
adaptar. Os anos 90 do século XX ficaram na história
como a “Década do cérebro”. A primeira década do sé-
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: Neurociências e os processos
educativos: um saber necessário
na formação do professor
Autor: Gilberto Gonçalves de Oliveira
Coautor: Gustavo Araújo Batista
Resumo
Este estudo é parte de minha dissertação de mestrado em educação que buscou analisar a neurociência
como um saber necessário na formação de professores.
A Educação ganha importância inusitada no momen­
to atual, quando se comprova que as estratégias
pedagógicas no processo ensino-aprendizagem são
eficientes durante o desenvolvimento e reorganização
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
101
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
culo XXI foi identificada como a “Década da mente”,
quando a neurociência trouxe importantes discussões
sobre a relação mente-cérebro. O ser humano se torna
humano pela e na cultura, sem ela o cérebro humano
perde grande parte de seu significado.
Tema: Vida Adulta
Título: Mediação familiar:
intervenção alternativa e interdisciplinar na
resolução de conflitos relacionais
Autor: Herta Grossi
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Resumo
O presente trabalho tem por escopo apontar a necessidade e expor os resultados e vantagens da estruturação e implantação de um Núcleo de Mediação
Familiar dentro do Núcleo de Prática Jurídica de
uma Instituição de Ensino Superior, apresentando o
levantamento e análise dos dados relevantes obtidos
por meio dos atendimentos efetuados no referido
Núcleo, durante o ano de 2009. O Núcleo de Prática
Jurídica presta atendimento jurídico à comunidade,
contabilizando, no início do ano de 2009, mais de
800 processos ativos. Referidos processos estavam a
cargo de três advogados, professores da Instituição,
um assistente jurídico e, em média, seis estagiários
da graduação do curso de Direito, que se revezavam
semestralmente. Pela análise dos processos em andamento, bem como da procura feita pela comunidade,
levantou-se que a grande maioria das questões dizia
respeito a separação, divórcio, alimentos e guarda de
menor. Pelo volume e tipo de processos (via de regra
permeados por enfrentamentos de difícil solução, uma
vez que envolviam em seu cerne questões de ordem
legal e emocional), julgou-se imperiosa a existência de
um Núcleo de Mediação Familiar, para dar agilidade
às contendas, como uma alternativa à via litigiosa,
mas, sobretudo, para auxiliar na reestruturação da
família nuclear. Essa prática mediadora favoreceria
o desenvolvimento de novos meios de interação nas
famílias atendidas, por meio da reorganização da
realidade conflitiva, estimulando-as a construírem
uma nova maneira de funcionamento, entendendo
os benefícios da solução consensual das questões
controversas, preservando a prole no novo contexto relacional. Ademais, a mediação nos conflitos familiares,
tendo em vista sua forma de atuação, onde as soluções
são encontradas pelos próprios envolvidos, mediante
intermediação de um profissional capacitado, contribui sobremaneira para o exercício da cidadania e a
pacificação social, deixando nas mãos do judiciário
apenas o que não foi possível acordar pela mediação.
A implantação do Núcleo de Mediação familiar dentro
Título: O acompanhamento psicopedagógico
nas salas de atendimento educacional
especializado
Autor: Gisele Virginia Kneip
Resumo
As experiências com situações significativas nas salas
de atendimento educacional especializado (AEE) levaram a autora a questionar os diagnósticos referentes
às crianças apresentadas nessas salas como portadoras de dificuldades especiais ou de dificuldade de
aprendizagem. O presente trabalho objetiva analisar
e discutir as diferenças entre esses sujeitos-alunos
em um momento em que a inclusão e a diversidade
encontram-se tão presentes na realidade educacional
do país. No ano de 2011, a autora desenvolveu um
trabalho junto a alunos que frequentavam o contraturno em município da região do Rio Grande do
Sul. Durante esse ano, foram realizadas atividades
na tentativa de auxiliar crianças cujo processo de
alfabetização encontrava-se diferenciado da maioria
do grupo. Tais crianças chegaram à sala de AEE com
identidades predeterminadas pela escola e também
pela família. Alunos rotulados como atrasados mentalmente, hiperativos e disléxicos, após passarem por um
período de atendimento, conseguiram alcançar grau
de alfabetização acima da expectativa. Concluímos
que o trabalho psicopedagógico é fundamental junto à
sala de AEE, especialmente como parte do diagnóstico
e da determinação de metas para que essas crianças,
ditas especiais, possam alcançar o desenvolvimento
cognitivo necessário para sua formação, alargando
seus espaços de cidadania.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
da Instituição se deu por meio de uma parceria entre
os cursos de Psicopedagogia e de Direito, sendo que
a efetivação de referido núcleo poderá oferecer suporte teórico e prático às atividades desenvolvidas por
ambos os cursos, garantindo a interdisciplinaridade
que o próprio método de mediação propõe. O Projeto tem caráter social, destinado àqueles cujo poder
aquisitivo não permite o pagamento de honorários a
profissionais da rede privada, tendo como propósito
oferecer aos envolvidos em questões familiares, um
método mais célere, acessível e menos oneroso para
a resolução de conflitos. Em nossa prática no Núcleo,
devido ao volume de casos, foi selecionado o motivo
separação, tendo sido considerados os seguintes
dados para levantamento e análise: gênero, escolaridade, idade, escolaridade em relação ao cônjuge,
atividade profissional, renda familiar, tipo de união,
tempo de união, uniões anteriores, número de filhos,
filhos de uniões anteriores, motivo da separação, violência (denúncia), informação ao cônjuge do encaminhamento da separação, separação como solução de
todos os problemas, divisão patrimonial, guarda dos
filhos, uso de medicamentos e forma de resolução do
caso. A função da Mediação é educativa, auxiliando
os envolvidos a transformarem o conflito e a se transformar, evidenciando que o importante em um conflito
não é a sua supressão, mas sim a administração do
mesmo, aprendendo a manejá-lo e a manejar-se nele
(acordo evolutivo).
abandonados por completo. Para Piaget e Inhelder
(2007), o jogo simbólico e a linguagem seriam formas
de manifestação da função simbólica ou semiótica
que emergem por volta dos 2 anos de idade. Ao brincar de “faz-de-conta”, a criança transforma o real
por assimilação mais ou menos pura, ao sabor das
necessidades do eu. O jogo de ficção possibilita que
a criança se expresse livremente, sem as imposições
de adaptação ao meio, criando uma linguagem simbólica que adapta o real às suas necessidades. Por
outro lado, a linguagem verbal representa um esforço
de adaptação ao meio, na medida em que a criança
necessita compreender signos coletivos construídos
pelo meio social e cultural. No presente trabalho, as
crianças foram estimuladas a utilizar as duas formas
de manifestação da função simbólica. As brincadeiras
infantis coletivas permeadas de diálogos repletos de
criatividade e imaginação sempre instigaram o espírito investigativo no sentido de fornecer material para
trabalhos acadêmicos. Nossa experiência profissional
permitiu acompanhar grupos de crianças de 0 a 6
anos interagindo em espaços de jogo e entabulando
conversações com objetivo de comunicação. Para Piaget (1973), as conversações das crianças no estágio
pré-operacional ainda não apresentam características predominantes de linguagem socializada, que
serão construídas gradativamente, constituindo-se
enquanto linguagem com o objetivo de comunicar,
a partir dos 7 anos. Neste trabalho, selecionamos
a observação da linguagem de um menino de 5
anos, de instituição pública de educação infantil do
município de Vitória/ES, durante exercícios de jogo
simbólico coletivo em espaço organizado para este
fim, interagindo com outras três crianças da mesma
idade, durante 6 encontros de, aproximadamente,
30 minutos, com intervalos de 15/20 dias entre cada
sessão. A partir dos resultados obtidos, discutiremos a
possibilidade da construção da linguagem socializada
em crianças menores de 7 anos de idade, por meio
do estímulo ao jogo simbólico coletivo. Os dados de
Felipe (nome fictício) obtidos nos encontros foram
transcritos e organizados em protocolos, contendo:
transcrições das verbalizações, análise e classificação
dos tipos e estágios de conversação e elaborada uma
análise qualitativa da evolução da sua linguagem.
Os resultados comprovam uma clara evolução. Ele
iniciou a experiência emitindo sons de animais (cão/
gato) e fazendo movimentos motores sem a utilização
Tema: Infância e Adolescência
Título: O desenvolvimento da linguagem
infantil no exercício do jogo simbólico
coletivo: um estudo com uma
criança de 5 anos
Autor: Iara Feldman
Resumo
No atual contexto educacional brasileiro, as crianças
iniciam o ensino fundamental com idade cada vez
menor. Com o sancionamento da lei nº 11.274, que
regulamenta o ensino fundamental de nove anos
(Brasil, 2006), crianças de 6 anos são submetidas ao
esquema tradicional do ensino fundamental, onde os
espaços lúdicos, que possibilitem a interação verbal
entre as crianças, são menos valorizados, quando não
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
103
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
de linguagem verbal. Ao longo dos encontros, foi interagindo verbalmente com seus colegas, utilizando
a linguagem verbal para negociar, cooperar na ação
coletiva, mediar situações de conflito entre os pares no
jogo e comunicar seus pensamentos. Conclui-se que
a oportunidade de realizar o jogo simbólico coletivo
estimula as crianças a utilizarem a linguagem verbal
com o objetivo de se integrar ao grupo.
Médicas/Unicamp (nº841/2011). Todas as crianças
foram submetidas aos instrumentos de avaliação (pré
e pós-intervenção): Prova de Consciência Fonológica,
Teste de repetição de não-palavras, Prova de ditado
e Teste de nomeação rápida de figuras e dígitos. A
intervenção foi realizada com material adaptado do
Método das Boquinhas, que viabiliza o desenvolvimento da consciência fonovisuoarticulatória, pois se
utiliza, além das estratégias fônicas (fonema/som) e
visuais (grafema/letra), as articulatórias (articulema/
Boquinhas). Foram apresentados os fonemas /A/, /E/,
/I/, /O/, /U/, /L/, /P/, /V/, /T/, /M/, /B/ e /F/ e trabalhadas
habilidades fonológicas e cognitivas necessárias para
uma boa aprendizagem da leitura e escrita. Foram
realizadas 12 sessões individuais de 60 minutos, no
contra período escolar. Quanto aos resultados dos
instrumentos, observou-se que, na prova de consciência fonológica, houve melhora no desempenho
pós-testagem do S1 em síntese silábica e fonêmica,
rima, aliteração, segmentação silábica e manipulação
silábica e fonêmica; do S2, em síntese silábica e fonêmica, aliteração, segmentação silábica e fonêmica
e manipulação silábica e fonêmica; e do S3 somente
em aliteração. Na prova de memória de trabalho fonológica, houve melhora no desempenho pós-testagem
do S1 nos subtestes de repetição de não-palavras de
5 sílabas; o S2 de 2, 5 e 6 sílabas; e o S3 de 3, 5 e 6
sílabas. Quanto à prova de escrita sob ditado, houve
mudança na fase de escrita: S1 passou da silábica
alfabética sem valor sonoro para a silábica alfabética
e o S2 da fase pré-silábica para a silábica alfabética.
No teste de nomeação automática rápida, houve melhora no desempenho pós-testagem dos S1, S2 e S3
nos subtestes de nomeação de figuras e dígitos parte
1 e 2. Assim, pode-se considerar que essa intervenção
foi eficaz quanto aos componentes do processamento
fonológico, da leitura e escrita para as crianças com
dificuldades escolares que indicavam risco para dislexia. A realização do programa de intervenção através
da metodologia fonovisuoarticulatória foi eficaz para
as crianças de risco para dislexia, comprovados pela
melhora no processo de alfabetização em situação de
pós-testagem em relação à pré-testagem.
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: Intervenção psicopedagógica
sob enfoque fonovisuoarticulatorio em
crianças de risco para dislexia
Autor: Isabella Heinemann
Coautor: Cíntia Alves Salgado Azoni
Resumo
No Brasil, as queixas de dificuldades na aquisição
da leitura e escrita são constantes no âmbito escolar,
clínico e familiar. Estudos internacionais evidenciam
a importância da identificação/ intervenção precoces
das dificuldades escolares em crianças no início da
alfabetização, com desempenho abaixo do esperado
aos seus pares em pré-requisitos do desempenho
em leitura: conhecimento do alfabeto, nomeação
rápida, repetição de pseudopalavras e habilidades
de consciência fonológica. No Brasil, esses estudos
são escassos, porém necessários para identificação e
diagnóstico da dislexia. Essas crianças são denominadas na literatura internacional como crianças de
risco para dislexia. Portanto, o objetivo desse estudo
foi realizar intervenção, por meio da metodologia
fonovisuoarticulatória, em crianças com dificuldade
escolares no início da alfabetização, para observar o
desenvolvimento desse processo, bem como encaminhar aqueles que após a intervenção não obtiveram
melhora, para investigação interdisciplinar. Participaram do estudo 11 crianças de 1° ano do ensino
público fundamental de ambos os gêneros, de 6 a 7
anos de idade, alfabetizadas pela metodologia com
enfoque silábico. Todas as crianças frequentaram
a educação infantil anteriormente ao início do 1°
ano e pertenciam à mesma sala de aula. As crianças
foram selecionadas previamente a partir do encaminhamento da professora. O projeto foi aprovado pelo
comitê de ética em pesquisa da Faculdade de Ciências
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Habilidades escolares e atencionais
de alunos do ensino fundamental
com queixa de fracasso escolar
Título: Contribuições das ideias
das crianças à prática psicopedagógica
Autor: Janete Schmidt de Camargo Cesar
Coautores: Sérgio Goldenberg,
Orly Zucatto Mantovani de Assis
Autor: Janete Dias Hammoud
Coautores: Suzelei Faria Bello;
Andréa Carla Machado
Resumo
Resumo
Aprender a ler e a escrever se constitui num rito
de passagem em nossa cultura e funciona como
um bilhete de acesso ao mundo do trabalho e das
relações sociais, portanto, é inaceitável o crescente
número de alunos que sofrem com as dificuldades
que apresentam para apropriar-se do sistema escrito.
Sendo assim, a busca por caminhos que auxiliem na
diminuição ou erradicação desse problema é de suma
importância. Considerando esse fato, essa pesquisa
teve por objetivo investigar, de forma qualitativa, as
ideias das crianças a respeito de suas dificuldades de
aprendizagem do sistema escrito através da utilização
do Método Clínico Crítico, elaborado por Jean Piaget,
que permite diagnosticar o estágio de evolução de
determinados conceitos em que as crianças se encontram. Nosso referencial teórico se encontra alicerçado
na Epistemologia Genética e no Construtivismo. O
estudo foi realizado com 19 crianças entre 7 e 13
anos, selecionadas dentre 173 sujeitos participantes
do reforço escolar, pertencentes a uma rede municipal de ensino do interior do estado de São Paulo. A
escolha ocorreu através da avaliação da construção
do sistema escrito, e/ou do sistema ortográfico. Para
diagnosticar a natureza das estruturas de pensamento
do sujeito utilizamos as Provas Piagetianas para determinação do comportamento operatório concreto. A
fim de perceber se a criança compreende o significado
do que é aprender e de como se dá esse processo,
empregamos como referência os estudos realizados
por Piaget e colaboradores sobre o Realismo Infantil:
A Noção de Pensamento. Por fim, empregamos a
Entrevista semi-estruturada sobre o não-aprender,
que foi testada em projeto piloto. Esse instrumento
foi elaborado por nós a partir da junção de elementos
empregados na Entrevista Operativa Centrada na
Aprendizagem (EOCA) com os do Método Clínico
Crítico, valorizando o saber-fazer com o intuito de
desencadear o processo de compreensão da criança
O fracasso escolar crescente em nosso sistema educacional necessita de “um olhar mais sensível” diante
dos alunos nessa condição. Nessa perspectiva, o
desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita
e matemática está relacionado diretamente com o
desempenho das funções atencionais, as quais podem
ser divididas em: seletiva, sustentada, alternada e
dividida. A atenção pode ser denominada como a capacidade de direcionamento dos processos mentais do
indivíduo que atende aos estímulos que são considerados relevantes ou irrelevantes à tarefa desempenhada.
O objetivo desse estudo foi caracterizar o desempenho
das habilidades escolares e atencionais de alunos do
ensino fundamental com queixa de fracasso escolar.
Participaram do estudo oito alunos do Ensino Fundamental, do gênero masculino, com idade entre 8 e 13
anos, de escolas privadas pertencente a uma cidade
de grande porte do interior do Estado de São Paulo.
Os instrumentos utilizados para coleta dos dados
aplicados individualmente foram: o Teste de Atenção
por Cancelamento para avaliar o desempenho nas
habilidades atencionais e o Teste de Desempenho
Escolar para medir as habilidades em leitura, escrita
e matemática. Os dados encontrados foram descritos
e postos em discussão. Os dados evidenciaram que
os alunos apresentaram dificuldade na realização do
teste de cancelamento, especificamente, nas tarefas
envolvendo a atenção sustentada e dividida, bem
como obtiveram baixo desempenho nas atividades
de cálculo e escrita ditada. Tal resultado aponta
indícios de correlação entre alterações atencionais
e baixo desempenho acadêmico, corroborando a
literatura encontrada. Destaca-se a necessidade de
mais pesquisas, com amostras maiores, com intuito de
investigar, estatisticamente, a correlação entre as duas
habilidades estudadas. Também se sugere que alunos
possam ter a oportunidade de uma investigação mais
pormenorizada em relação às suas possíveis queixas.
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
desse saber a partir da proposição de uma situação
hipotética, as crianças foram convidadas a indicar
“atitudes pedagógicas”, a fim de auxiliar os seus pares
com dificuldades na construção do sistema escrito. A
interpretação e a análise dos resultados se realizaram
a partir da divisão da entrevista em três partes, a
saber: 1. Produção espontânea; 2. Produção escrita,
leitura e as respostas das crianças a respeito de suas
dificuldades (crenças); 3. Opinião da criança acerca
de como ajudá-la e aos seus pares. Os dados obtidos
foram analisados por meio da Correlação Linear e do
Estudo de Caso. Os resultados encontrados apontaram
para uma correlação linear positiva média (índice
de dispersão = 0,5595403) entre a noção de pensamento e o desenvolvimento cognitivo, o que sugere
que o desenvolvimento cognitivo influência a noção
de pensamento e vice-versa. No entanto, a análise
da correlação entre idade e noção de pensamento
não se mostrou significativa (índice de dispersão =
0,10007395), fato que creditamos à heterogeneidade dos sujeitos estudados. Os números fornecidos,
analisados à luz do Estudo de Caso, nos permitiram
perceber que é possível colaborar para a tomada de
consciência das crianças sobre seus problemas de
aprendizagem do sistema escrito, e que as crenças a
respeito de suas dificuldades ou de seus pares sofrem
a influência de recalcamentos, os quais atribuímos às
idades e ao desenvolvimento cognitivo apresentado
pelos sujeitos estudados. Quanto às soluções apresentadas para seus problemas, foi possível perceber
que as crianças repetem o que vivenciam, fato que
implica a importância da reflexão a propósito da metodologia de ensino adotada pelas escolas e, sobretudo,
a concepção de desenvolvimento e aprendizagem
apresentada pelo professor, que não foi investigado
nesse trabalho.
tica. Procurou-se avaliar a relação entre o raciocínio
quantitativo e a memória de trabalho na aprendizagem da matemática em 30 alunos da 4ª série do
Ensino Fundamental, com idades entre 9 e 10 anos.
Os participantes foram divididos em dois grupos - alto
desempenho e baixo desempenho em matemática. O
grupo de alunos com dificuldades de aprendizagem
da matemática (D.A.M) constituem um grupo bastante heterogêneo em relação aos tipos de problemas
que apresentam: falhas no domínio da sequência
básica de contagem, falta de conhecimentos prévios
armazenados na memória de longo prazo, falhas na
recuperação de combinações matemáticas básicas,
falhas na precisão e velocidade para efetuar operações
e falhas nas estratégias utilizadas para a resolução dos
problemas. A memória de trabalho é definida pelos
autores como responsável pelo armazenamento e pela
manipulação “on-line” da informação, necessária
para as funções cognitivas superiores. A memória
de trabalho está associada a todas as aprendizagens
escolares. No que concerne às aprendizagens matemáticas, sua associação torna-se mais visível devido
à complexidade do pensamento matemático e da
exigência da memória de conhecimentos prévios
que está presente em cada atividade matemática,
como, por exemplo, os fatos básicos, as operações. O
Raciocínio Quantitativo é caracterizado por Carrol
como a habilidade de raciocínio indutivo e dedutivo,
envolvendo relações matemáticas e quantitativas. A
criança deve ser capaz de raciocinar com os números
de forma indutiva e/ou dedutiva, a fim de encontrar soluções para as situações matemáticas apresentadas a
ela. O método escolhido para basear esta pesquisa foi
o método misto, o qual se utiliza de instrumentos que
possibilitam uma análise qualitativa e quantitativa dos
dados coletados. Trata-se de um estudo comparativo
e correlacional. O problema de pesquisa foi analisar
a relação entre a memória de trabalho e o raciocínio
quantitativo em alunos com alto desempenho e em
alunos com baixo desempenho em matemática. Do
total de 73 alunos avaliados de acordo com a Prova
de Aritmética, participaram desta pesquisa 30 alunos
da 4ª série do Ensino Fundamental, com idades entre
9 e 10 anos (M: 9,1 DP: 0,55), provenientes de duas
escolas públicas de Porto Alegre, escolhidas de forma
intencional - Classificação do nível socioeconômico
(Critério de Classificação Econômica Brasil). Foram
selecionados os alunos de mais alto desempenho e
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Título: Raciocínio quantitativo e memória de
trabalho na aprendizagem da matemática:
um estudo comparativo entre grupos
Autor: Joanne Lamb Maluf
Coautor: Clarissa Seligman Golbert
Resumo
A presente pesquisa situa-se no campo dos processos
cognitivos subjacentes à aprendizagem da matemá-
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
mais baixo desempenho, a partir da média do grupo
que foi de 45,93 (DP: 8,43). Os resultados apresentaram vantagens nas estratégias e domínios de contagem, bem como na capacidade de senso numérico
em crianças sem dificuldades na matemática. Houve
diferença entre as médias do desempenho dos grupos
em que o grupo com bom desempenho em matemática apresentou média superior (M: 4,27; DP: 1,53) ao
grupo com baixo desempenho em matemática (M:
3,67; DP: 0,9). A correlação estabelecida justifica e
responde o problema anunciado nesta pesquisa. Os
resultados encontrados reforçam a importância de se
enfatizar o ensino da matemática, tanto na utilização
de procedimentos e fatos como na compreensão de
conceitos matemáticos. Nesta pesquisa, houve concordância com a literatura especializada, que afirma
que alunos com alto desempenho em matemática
possuem melhor span de memória, melhor raciocínio
quantitativo e mais habilidade numérica.
aprendendo, em que condições as situações de aprendizagem estão ocorrendo e de que maneira se instalam
as alterações nesse processo. Assim, configura-se a
psicopedagogia clínica. Compreender os obstáculos
existentes que dificultam a aprendizagem e, através
da intervenção, promover ferramentas que possibilitem a reorganização da aprendizagem. Concordamos
com Bossa (2007), ao afirmar que: O trabalho clínico
se dá na relação entre um sujeito com sua história
pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando
compreender a mensagem de outro sujeito implícita
no não-aprender. Isso significa que, nesta modalidade
de trabalho, deve o profissional compreender o que
o sujeito aprende, como aprende e por que, além de
perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo
e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem. Sob
esse olhar, a psicopedagogia focaliza o sujeito nas
diversas dimensões da aprendizagem, investiga as
alterações que impedem a aquisição do aprender e
mobiliza componentes que possibilitem a liberação da
inteligência. De fato, o que está impedindo o sujeito de
avançar na aprendizagem? Que área do conhecimento
está mais comprometida? Essas questões nos remetem
a refletir sobre o envolvimento do psicopedagogo no
processo de investigação do não aprender. Não se
trata apenas de estar frente a frente com o sujeito. É
importante identificar os desvios e analisar as dificuldades, elencando componentes que contribuam
para a construção de uma aprendizagem significativa.
Nesse cenário, psicopedagogo e paciente devem estabelecer a meta que querem alcançar. É importante
que o sujeito expresse o desejo de estar no espaço da
clínica e revele suas necessidades e dificuldades. O
descortinamento das revelações dependerá do vínculo
construído entre o psicopedagogo e o aprendente.
Weiss (1997) assim sintetiza esse aspecto: a maior
qualidade e validade do diagnóstico dependerá da
relação estabelecida terapeuta-paciente: de empatia,
de confiabilidade, de respeito, engajamento. A relação
de confiança estabelecida cria condições para o início
de qualquer atendimento posterior. A psicopedagogia
clínica abrange uma organização de atividades que se
vinculam à singularidade de cada pessoa, adequando-se às suas necessidades e dificuldades. A reflexão
da prática é fundamental para a formação pessoal e
profissional do psicopedagogo. Afinal, nós somos o
nosso maior instrumento de trabalho. É preciso nos
conhecer, saber quem nós somos enquanto pessoa,
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Psicopedagogia Clínica: um saber,
um fazer - Dialogando uma prática
Autor: Jojemima Estevão de Mesquita Lucena
Resumo
Este trabalho se propõe a dialogar uma prática constituída no cenário da clínica, apontando reflexões
para a construção de intervenções no processo de
aprendizagem. Aborda a necessidade do psicopedagogo refletir sobre sua prática, sendo ele mesmo seu
maior instrumento de trabalho. Destaca a importância
de intervenções na construção da aprendizagem,
considerando a criatividade, a dinâmica e a sensibilidade do terapeuta em explorar a singularidade dos
aspectos revelados pelo aprendente nas situações de
aprendizagem. A psicopedagogia é uma área do conhecimento que focaliza o sujeito na sua relação com
a aprendizagem. O seu objeto de estudo é o sujeito
em desenvolvimento e seu objetivo caracteriza-se
em facilitar a construção da autonomia do indivíduo,
identificando os obstáculos presentes nessa construção. Isso significa não apenas a construção de um
olhar sensível para o aprendente, mas, também, a investigação de como esse sujeito aprendeu, como está
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
para podermos nos constituir como psicopedagogos.
Façamos da nossa prática, não um modelo a ser seguido, mas um espaço de possibilidades, crescimento
e aprendizagem para nós mesmos e para os outros.
Assim, acreditamos que a psicopedagogia não é apenas um compromisso com a aprendizagem, mas um
estilo de ser e de viver a vida.
de 100 cursos universitários, além de receberem
informações sobre os Vestibulares da UNESP, USP,
UNICAMP, UFSCAR e sobre a Redação do Vestibular. Os pais participam desse projeto recebendo em
reuniões, orientações e informações, sobre o processo
de escolha do curso superior vivenciado pelos seus
filhos. Nosso projeto se fundamenta na pesquisa ação,
tem seu alicerce na leitura de Bohoslavky e leituras
de autores como Levenfus, Dolto, Bock, assim como
artigos sobre a adolescência, atualidades e sobre o
mundo do trabalho. Para cada sessão existem atividades programadas, mas que são reprogramadas
diante dos resultados de cada sessão. Os conteúdos
dessas sessões são divididos em 5 fases: 1) Autoconhecimento: reorganização e reconstrução da Identidade, 2) Heteroconhecimento: reconhecimento de
imagens que o jovem tem de si e do outro e como é
visto pelo grupo, 3) Família: Família como Espelho, 4)
Informações da Realidade: enfocamos o Desejável, o
Possível e o Realizável, das escolhas e 5) Processo de
Escolha e de Decisão: síntese do processo de orientação; responsabilidade das escolhas. O processo de
escolha por um curso universitário é apenas umas das
escolhas que o jovem vivencia. Esse projeto rompe
com alguns paradigmas, trabalha com questões do
mundo externo do adolescente, mas inicia-se com o
mundo interno; oferece estratégias para que o jovem
consiga lidar com as incertezas, com as inseguranças, que perceba que o saudável é ter jogo de cintura
diante das dificuldades, que é encontrar caminhos
alternativos para que nossos desejos/ escolhas se
realizem, que cada um possui talentos diferenciados,
que não escolhemos Profissão, mas sim Construímos
uma Carreira, e o mais importante é saber que podem
Recomeçar Sempre! Esse trabalho tem sido ao longo
dos anos extremamente produtivo e positivo, os jovens, além de saírem com possibilidades de escolhas
por um ou mais curso superior, saem fortalecidos para
enfrentarem as mudanças futuras. Essa referência de
trabalho tem demonstrando ser este um campo fértil
de trabalho e de pesquisa, que coloca em evidência o
papel dos psicopedagogos/orientadores profissionais.
Tema: Infância e Adolescência
Título: Projeto de orientação profissional
desenvolvido na UNESP/Araraquara: um
espaço educacional com efeito terapêutico
Autor: Josefa Emilia Lopes Ruiz Paganini
Coautores: Josefa Emilia Lopes Ruiz Paganini,
Maria Beatriz Loureiro de Oliveira,
Sandra Fernandes de Freitas,
Taisa Borges de Souza, Fernanda Gonzaga
Resumo
O Projeto de Orientação Profissional é coordenado,
desde 1989, pela Profª Drª Maria Beatriz Loureiro de
Oliveira, junto a estagiários do curso de Pedagogia
e equipe de profissionais do CENPE - que tem por
objetivo a pesquisa, o ensino e a extensão de serviços
junto à comunidade. Considerando-se o importante
papel que a Orientação Profissional desempenha
como instrumento para o conhecimento crítico da
realidade socioeconômica e do desenvolvimento das
potencialidades individuais, nosso projeto tem por
objetivo proporcionar ao indivíduo a obtenção da
consciência de seus determinismos e apreensão da
realidade imediata, fatores fundamentais para uma
ação transformadora. Para isso, o indivíduo precisa
ter uma consciência crítica de sua realidade (social,
econômica, política e cultural). Nesse contexto, nossa
proposta torna-se importante instrumental de ajuda
aos jovens, no sentido de que eles procedam a uma revisão radical das relações de trabalho e das profissões
em uma determinada sociedade. Participam desse
projeto jovens do 3º Colegial e Cursinho, advindos
de escolas públicas e privadas. O trabalho acontece
em grupo, em 16 sessões, com duração de duas horas,
no período de março a agosto de cada ano. No mês
de julho acontece a Feira de Profissões, estamos na
15ª edição, onde os jovens têm a oportunidade em
três dias de obter informações da realidade de mais
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
estudos apontam os riscos para a amostra estudada.
Adicionalmente, a este fato, sabe-se que os estudantes são cada vez mais motivados a utilizar a internet
para pesquisas escolares. No estudo, 41% afirmaram
passar de 1 a 3 horas conectados. Observou-se que
estudantes para o curso de jornalismo apresentam uso
maior das redes sociais e que estudantes que prestarão
medicina utilizam o universo online para relaxar após
horas consecutivas de estudos.
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Título: Nível de estresse e prevalência de
dependência de internet em adolescentes
Autor: Juliana Junqueira Arruda
Resumo
Uma das maiores invenções do homem moderno, a
Internet, atua como facilitadora para aproximar pessoas, ligar em instantes uma extremidade do mundo
a outra, além de oferecer diversos serviços que antes
eram de difícil acesso. Com suas inúmeras facilidades, a internet passou a causar graves consequências
decorridas do uso excessivo, levando o indivíduo a
poder desenvolver um quadro de dependência da
rede, outras doenças e reações psicofisiológicas, entre
elas o estresse. A internet passou a ser um estressor
em potencial para adolescentes que passam horas
conectados e chegam a desenvolver ansiedade para se
sair bem nas conversas por bate-papo e ter seu perfil
nas redes sociais aceito. Para o adolescente tornou-se
necessário participar dos sites sociais, permanecer
online diariamente, até mesmo na escola, por meio
do celular, além, de conviver com as pressões familiares, seguir sua rotina de estudo para os vestibulares,
entre outras situações que exigem uma adaptação,
que pode causar o estresse. Apesar de ser um tema
ainda pouco estudado, a dependência de Internet vem
gerando discussões entre pesquisadores do mundo
todo sobre o que caracteriza o problema, que causa
preocupação em familiares que associam o aumento
do isolamento social e piora nos rendimentos escolares e acadêmicos ao uso excessivo da internet. Dessa
forma, a presente pesquisa buscou aprofundar os
conhecimentos teóricos e práticos sobre o tema e as
causas e efeitos do uso excessivo de internet por um
grupo de adolescentes, na faixa etária de 18 a 20 anos.
Esses jovens são alunos de um curso pré-vestibular
que mesmo tendo diversas obrigações, entre elas o tão
temido e esperado vestibular, priorizam cada vez mais
o uso da internet. O presente estudo também traz uma
importante revisão da literatura e observações sobre
a correlação de níveis de estresse dependência de internet, na qual foi constatada que não há uma relação
direta entre o nível de estresse com a dependência de
internet da amostra estudada, podendo até mesmo
ser observado um ganho em relação aos benefícios
adquiridos pelo uso do meio virtual. Entretanto, outros
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: O projeto pedagógico como estratégia
para prevenção das dificuldades de
aprendizagem
Autor: Juliana Laranjeira Pereira dos Santos
Resumo
O estudo em pauta é referente a uma Dissertação
de Mestrado, já defendida, que teve como objetivo
investigar a proposta de prevenção das dificuldades
de aprendizagem no projeto pedagógico de uma escola pública municipal de Salvador. Para investigar a
problemática, foram utilizados, como aporte teórico,
fundamentos e conceitos de estudiosos da gestão escolar democrática: Lima (2000); Paro (2000) e, no campo da aprendizagem humana: Visca e Visca (1999);
Piaget (1983 e 1995) e Fonseca (1995). Para trilhar o
percurso investigativo, consideramos a abordagem
metodológica qualitativa do estudo de caso como
pertinente para investigar o fenômeno educacional
enfocado. Para obtenção dos dados, foram aplicados:
entrevista semi-estruturada e a análise documental
do Projeto Político Pedagógico (2002) e do Regimento
Escolar (2005). Além do diário de campo, espaço para
as anotações diárias das observações dos discursos
e das práticas dos gestores e da professora. Quando
das observações em sala de aula, nosso interesse
principal dirigiu-se aos processos de aprendizagem
no desenvolvimento das atividades educativas através
do envolvimento e da receptividade das crianças. Ao
mesmo tempo procuramos estabelecer relações de
comparação dos princípios educativos da Escola com
os registros dos documentos oficiais; como também, na
postura e na prática discursiva do professor ao propor
as atividades comparando-as com o que consta no
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
Projeto Pedagógico da Escola, em termos de prevenção de dificuldades de aprendizagem e ação efetiva.
A análise e a interpretação dos dados foram baseadas
nas leituras do Projeto Pedagógico e do Regimento Escolar. Como instrumentos complementares, utilizamos
os discursos dos entrevistados que entrecruzaram a
problemática, com os dados das nossas observações
e os fundamentos do quadro teórico apresentado no
projeto de pesquisa. Percebemos que o entendimento
de gestão escolar democrática para todas as entrevistadas superou o pensamento tradicional de uma
direção administrativa da escola. Foi garantida e
reafirmada na descrição da professora a relevância e
a validade do projeto pedagógico ser concebido pelos
integrantes da escola. Todavia, não ficou explicitado
que a construção coletiva e o conhecimento do projeto
pedagógico podem assegurar sucessão de resultados
positivos na aprendizagem dos alunos. A formação
dos docentes e uma efetiva gestão participativa são
critérios importantes para um ensino que promova a
aprendizagem, contudo, não nos parece suficientes.
No Projeto Pedagógico da Escola e no relato das
entrevistadas, fica evidenciada a importância de um
processo ensino-aprendizado construtivo, valorizando
a participação das crianças. Porém, não explicitam o
entendimento das teorias – Epistemologia Genética
(Jean Piaget), Psicogenética (Henri Wallon), Sociocultural (Lev Vygostky), Psicopedagogia (Vitor da
Fonseca). Fundamental a compreensão de como o
sujeito aprende, de como evolui de conhecimentos
simples para conhecimentos complexos, de como
fazer uso efetivo dos conhecimentos que as crianças
trazem para a escola. Ficou evidente nas práticas e
nos discursos que cumprir os conteúdos escolares é
mais importante do que trabalhar para desenvolver as
estruturas cognitivas das crianças, sendo essa última
atitude a que proporciona evitar entraves na aprendizagem dos alunos. Concluímos defendendo a crença
que, além dos requisitos materiais e funcionais, seja
escola pública ou privada, deve desenvolver formação
de educadores da Educação Infantil e das Séries Iniciais que lhes respalde competência necessária para
essas instituições enfrentarem as demandas de uma
educação dirigida ao sujeito contemporâneo.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: O que você faz para aprender?
Um levantamento das estratégias utilizadas
por alunos do ensino fundamental
Autor: Kelly Cristine Zaneti dos Santos
Coautor: Silva LV, Neves ERC, Prado JMK,
Luz GCS, Netto MORF, Martins RC
Resumo
A atual sociedade é marcada pelo excesso de informação, que traz tanto consequências positivas, como a
democratização do conhecimento, quanto negativas,
como algumas complicações ligadas ao esforço feito
pelo aprendiz para acompanhar o ritmo acelerado no
qual as informações são produzidas. Não é somente
a necessidade de aprender muitas coisas, a questão é
que são coisas muito distintas, diferentes; e isso requer
ainda mais tempo, disposição e paciência, portanto,
torna-se necessário o uso de estratégias que acompanhem as necessidades e situações de aprendizagem.
Por isso, tornam-se cada vez mais necessários procedimentos capazes de tratar adequadamente com o fluxo
de informações. Percebe-se, portanto, a importância
das estratégias de aprendizagem, que são sequências
de procedimentos ou atividades que os indivíduos
usam para adquirir, armazenar e utilizar a informação. Tais estratégias são capazes de garantir que o
aprendiz obtenha sucesso em sua jornada acadêmica.
Diante dessa realidade, com base na psicologia social
cognitiva, que tem por princípio a “agência humana”,
sob esta premissa o indivíduo possui controle sobre
sua vida através de mecanismos de autoeficácia, do
estabelecimento de metas e da autorregulação, e sob
a perspectiva da teoria do processamento da informação, buscou-se compreender quais são as estratégias
de aprendizagem empregadas por alunos do Ensino
Fundamental. Para tanto, participaram da pesquisa
40 alunos do Ensino Fundamental do 3º ao 9º anos,
de ambos os sexos, com idades entre 8 e 14 anos,
matriculados em uma escola particular localizada
no interior do estado de São Paulo. Os participantes
foram entrevistados individualmente, por meio de
questões abertas, sobre as estratégias que utilizam
para aprender os conteúdos escolares. Após análise
de conteúdo, surgiram 27 categorias de respostas:
Perguntar ao professor, prestar atenção, leitura, pedir
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
ajuda (mãe, irmã, colegas, professor), fazer exercícios,
refazer exercícios, controle de atenção, controle de
ambiente, olhar exemplos do livro, elaborar questões,
responder as próprias questões, releitura, fazer anotações, resumir, pesquisar, pedir para alguém “fazer”
perguntas, participar da aula, fazer anotações do que
entendeu, empenhar esforços, pensar antes de fazer,
verificar aprendizado, estruturar o material, decorar
o conteúdo, comparar material, falar sobre o assunto,
grifar, controlar o tempo. Os resultados da pesquisa
apontam que os alunos utilizam mais as estratégias
cognitivas de ensaio e elaboração, bem como as
metacognitivas, de monitoramento e afetiva. Além
disso, percebeu-se que os alunos mais novos utilizam
em geral mais estratégias que os alunos mais velhos.
Constatou-se também que especificamente os alunos
do 3º ano empregam mais estratégias tanto cognitivas
quanto metacognitivas, em relação aos demais alunos
de outros anos. Verificou-se, em relação ao gênero,
que meninos e meninas fazem uso das estratégias
cognitivas de forma equivalente. Quanto ao uso das
metacognitivas, embora a diferença não seja tão
discrepante, as meninas utilizam mais que os meninos. Os resultados confirmam o que se encontra na
literatura, ou seja, os alunos do Ensino Fundamental
utilizam poucas estratégias de aprendizagem, e as
que empregam são superficiais. Assim, percebe-se
a necessidade de futuras pesquisas que contribuam
para o ensino de estratégias que favoreçam a aprendizagem significativa.
de hábitos de leitura e compreensão de textos, adaptação das vivências acadêmicas e orientação de hábitos
de estudos. No contexto universitário, alguns alunos
que trabalham e sustentam a família apresentam
dificuldades em suas atividades estudantis, devido
à insuficiência de tempo para os estudos, mesclada
com o desânimo, cansaço e estresse. Seus maus hábitos de estudos podem prejudicar o rendimento. A
partir da análise dos diversos significados que a “não
aprendizagem” representa para um estudante que
opta por um curso noturno em uma instituição privada e da consideração das condições, características
e necessidades dos estudantes, foram pensadas as
estratégias de intervenção utilizadas. O Programa visa
ao fortalecimento do ensino-aprendizagem através
de estratégias e técnicas facilitadoras da superação
das dificuldades vivenciadas pelos estudantes, decorrentes da falta de habilidades necessárias ao bom
desempenho no curso escolhido e salienta o papel
ativo do aluno e responsabilidade por sua aprendizagem. Através da leitura das redações do Processo
Seletivo (vestibular); dos depoimentos dos docentes
em reuniões; dos problemas apresentados pelos discentes nas visitas às turmas; da aplicação da técnica
CLOZE, identificamos a urgente necessidade de intervenção, propondo ações que objetivam minimizar tais
dificuldades, diagnosticadas como: a) desajustes dos
alunos com relação aos métodos de estudos; b) falta
de interesse, motivação ou comprometimento com a
aprendizagem; c) falta de criatividade; d) pouco êxito
na compreensão dos textos. Priorizou-se: instrumentalizar os alunos dos períodos iniciais para superarem
suas dificuldades, criando condições facilitadoras para
o bom desempenho acadêmico; estimular os estudantes a identificar as causas e possíveis soluções para os
problemas que afetam seus hábitos de estudos; favorecer a remediação e o desenvolvimento do hábito de
leitura e compreensão de textos indispensáveis para
a atuação profissional. O programa foi dividido em
seis encontros, oferecidos através de inscrições, para
alunos encaminhados. Estrutura dos encontros: - Projeto e planejamento de estudo: enfatiza a mudança de
atitude e estabelecimento de metas direcionadas para
obtenção de melhores resultados na vida acadêmica;
- Técnicas favoráveis à atenção ativa e percepção:
favorecer a identificação de lacunas no processo de
percepção e atenção para minimizar as dificuldades;
- Remediação de leitura e estratégias metacognitivas
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Programa métodos e técnicas para
estudos independentes: uma experiência
psicopedagógica no ensino superior
Autor: Leila Aparecida Oliveira Tavares
Coautor: Silvana Bagno
Resumo
Relato de experiência que objetiva demonstrar e refletir sobre a importância da Orientação Psicopedagógica
para o processo de aprendizagem individual dos estudantes ingressantes no Ensino Superior, em uma Instituição de Ensino Superior da Baixada Fluminense, RJ,
destacando o trabalho voltado para o desenvolvimento
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
de leitura: desenvolver a compreensão em leitura e
estratégias apropriadas e eficientes; - Organização da
informação: visa ao desenvolvimento do entendimento, evocação, organização da informação. Processos
básicos para a aprendizagem e realização cognitiva;
- Técnicas favoráveis à memorização: valorização
dos processos de armazenamento e codificação da
informação; - Organização do tempo: favorecer a
relação entre o tempo real de estudo e o tempo de
horário de estudo.
(teacher assistent), intermediando a compreensão
de questões sociais, afetivas e cognitivas, através de
material pedagógico personalizado e a inserção das
crianças com TID num ambiente socialmente estimulador, pode gerar avanços na aquisição da linguagem
e na aprendizagem escolar. A atuação do mediador é
fundamental ao proporcionar situações e jogos visando à internalização de hábitos, conceitos e formas de
ação para favorecer a participação ativa nas atividades
escolares. No relato de experiência, demonstramos
que as possibilidades de escolarização de uma criança
autista inseridas no sistema regular de educação infantil são inúmeras e qualitativas através da presença
e parceria entre pais – professores – tutoras e direção
da escola. A estimulação para a aquisição e expressão
da linguagem verbal de alunos autistas é uma das
prioridades nessa prática, pois interfere no desempenho escolar. Nesse processo, o mediador (teacher
assistent) atua como intermediário entre as questões
escolares e sociais, utilizando práticas focalizadas na
aquisição e desenvolvimento da linguagem. Alguns
aspectos são estimulados e trabalhados cotidianamente com alunos autistas, como o desenvolvimento
da comunicação espontânea e funcional, aumento do
contato visual, reconhecimento das expressões faciais,
estimulação da imaginação, utilização de informações
verbais curtas e objetivas. A função e a ação prática
do mediador no processo de aprendizagem do aluno
autista estão em intervir nas ações e situações sociais,
comportamentais, linguísticas, cognitivas, pedagógicas e lúdicas que ocorrem durante todo o processo
de ensino aprendizagem, dando o suporte necessário
ao aluno autista, mediando a aprendizagem e facilitando a inclusão no grupo social. Dentre os avanços,
constatamos: evolução na habilidade social: pedir
algo e brincar com outros colegas; atendimento aos
comandos e maior interesse/satisfação na realização
das tarefas pessoais e escolares; desenvolvimento
da empatia, participação em atividades coletivas e
culturais; participação na culminação de projetos;
evolução da linguagem oral e escrita; recontagem de
histórias; alfabetização.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Teacher assistent: os benefícios
da mediação para a inclusão de alunos
autistas na Educação Infantil
Autor: Liliana Azevedo Nogueira
Coautor: Luzia Alves de Carvalho
Resumo
O presente trabalho objetiva apresentar o papel e
os reflexos da ação pedagógica de um mediador no
processo de aprendizagem de crianças autistas inseridas em uma Escola Infantil regular. Apresenta uma
experiência com crianças portadoras de transtorno
invasivo/espectro autístico iniciada desde o ano de
2008. As crianças são inseridas em salas de aulas
regulares, recebendo atendimento especial de mediadoras (teacher assistent) para sua inserção ativa na
dinâmica escolar. A mediação é realizada por psicopedagogas e estagiárias de um Curso de Pedagogia,
com adequado conhecimento psicopedagógico e pedagógico para atuar com o referido transtorno, sendo
acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. É
fundamental potencializar a socialização da criança
autista, desenvolvendo atividades psicopedagógicas
de estimulação às capacidades cognitivas, psicomotoras, sensoriais e afetivas realizadas no espaço escolar
regular, tentando modificar o comportamento autístico
para uma conduta mais autônoma no seu convívio e
cotidiano social. Trata-se de uma prática que utiliza
contribuições teórico-práticas de várias correntes,
entre elas a Teoria do Processamento Sensorial, o Método Sunrise, o método Teaccher e a Teoria da Consciência Fonológica. Objetivamos mostrar no relato de
experiência de que forma a atenção individualizada
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
trar / mostrar-se no que aprende, ou seja, interagir
com o outro. Às vezes, só se pode conhecer o que se
sabe a partir de mostrar ao outro.” A intervenção em
dupla, propiciando que cada um se mostrasse ao outro, apresentou resultado significativo: a imaginação
foi estimulada, as crianças passaram a criar situações
diferenciadas nas histórias e a autoestima se evidenciou abrindo espaço para o processo de aprendizagem
com prazer, com criatividade. “Uma experiência de
aprendizagem bem internalizada e compreendida
propicia uma mudança no olhar sobre si mesmo e
sobre os outros”. A constatação do aprendido e da
empregabilidade do que se aprendeu, resultou em
maior interesse pela leitura e pela escrita, despertou
a necessidade e, por conseguinte, o desejo de escrever
certo; surgiu o uso do dicionário para a grafia correta
das palavras e a vontade de descobrir vocábulos novos, sinônimos. Houve uma mudança no olhar de cada
um sobre si mesmo e sobre o outro, uma troca, uma
interação onde cada um se sentiu participante de um
processo de criação em conjunto, cada um constatou
a responsabilidade de sua autoria, num contexto de
interação. Na medida em que os trabalhos aconteciam
houve até a descoberta de que poderiam escrever um
livro de histórias e o interesse aumentou. Essa ideia
resultou no projeto de elaboração de um pequeno
livro, com as histórias produzidas, digitado e impresso
no próprio consultório, acrescido de ilustrações desenhadas pelos autores.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Intervenção Psicopedagógica:
uma proposta de atendimento em dupla
Autor: Lucia Maria de Melo Souto Boarin
Resumo
Este estudo, um relato de experiência, está centrado
principalmente na falta de organização do pensamento e na dificuldade de estabelecer a sequência
dos fatos, elementos que resultam em significativas
dificuldades na expressão oral e escrita, e que comprometem a elaboração das atividades escolares.
Propiciar situação de interação entre duas crianças,
para percepção das próprias dificuldades e das dificuldades do outro a partir da construção de um texto, na
perspectiva de estimular a imaginação, a autoestima
e a valorização da autoria, além de constituir-se num
mecanismo de aprendizagem da leitura e da escrita,
foi o objetivo primordial desta proposta de intervenção
psicopedagógica. O trabalho de intervenção aconteceu com duplas de crianças, formadas a partir da constatação de estarem em níveis de leitura e escrita mais
ou menos semelhantes. A estratégia foi desenvolvida
com seis crianças, a saber, três duplas. A proposta se
constituiu em oferecer para as duplas, que apresentavam as dificuldades citadas, revistas variadas para
que cada criança escolhesse uma figura, recortasse
e colasse a mesma numa folha de papel sulfite. Feito
isso, cada uma iniciava a escrita da primeira frase de
uma história, criada a partir da sua figura. Terminada
a frase, passava a folha para o colega que precisava
ler o que foi escrito e continuar a história, sempre
com foco na figura colada na folha e continuando o
pensamento do colega. Após seis frases, cada autor, de
posse da sua figura, deveria elaborar o final da história
depois de atenta leitura de tudo que estava escrito. O
momento privilegiou a intersubjetividade, nascedouro
da atividade criativa pensante, onde eu torno meu o
que é do outro e dou ao outro o que é meu, num diálogo entre ensinar e aprender. “...somente na medida
em que o pensar é entregue ao outro é que se pode
tornar próprio, ou seja, o sujeito pode reconhecer-se
autor e responsabilizar-se.” A experiência de verificar
a própria produção em conjunto com a do outro levou
as crianças a apreciarem seus trabalhos e quererem
aprender mais. “...o sujeito autoriza a si mesmo mos-
Tema: Trabalho psicopedagógico: contribuições,
releituras e autorias
Título: Intervenção psicopedagógica em
uma comunidade de periferia
Autor: Luzia Alves de Carvalho
Coautor: Liliana de Azevedo Nogueira
Resumo
Constatamos hoje que políticas públicas proporcionam
o acesso de crianças à escola, mas grande parte não
tem sua aprendizagem garantida, chegando ao fim do
Ensino Fundamental sem o domínio da leitura, da escrita e dos cálculos essenciais ao prosseguimento nos
estudos. EsSa situação, presente também em nossa
realidade, motivou um projeto de ação psicopedagógica, em comunidade carente, com o objetivo de oferecer
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
um acompanhamento psicopedagógico a crianças e
adolescentes em seu processo de aprendizagem do
ser e do saber, procurando minorar as situações de
fracasso escolar. O trabalho iniciou-se em março de
2011 com alunos de diferentes níveis, da Educação
Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental, em geral,
com dificuldades de aprendizagem e repetência.
Sabe-se também que mesmo que apresente algum
distúrbio ou dificuldade de aprendizagem, qualquer
educando é capaz de ter sucesso acadêmico, desde
que tenha apoio necessário. Utilizamos metodologias,
estratégias de ação e recursos não convencionais,
mas adaptados às crianças e jovens, seus interesses e
necessidades. Entendendo que o sujeito que aprende
está em processo de construção do seu conhecimento,
e que não é determinado somente pelo seu potencial
cognitivo, buscou-se a articulação desse com suas
estruturas psicoafetivas e cognitivas, permitindo-lhes
expressar suas dificuldades, temores, perturbações,
problemas, fracasso escolar. O acompanhamento psicopedagógico constou de trabalhos para aquisição das
habilidades de leitura, escrita e matemática, em períodos contraturno, com duração de 2 horas, em grupos
diferenciados, com a utilização de recursos variados,
atividades que possuem sons, imagens, movimentos
que despertam sentimentos e favorecem a reflexão;
trabalho com notícias, contos, poesias, listas diversas
em diferentes produtores de texto: jornais, revistas,
livros, computador, CDs, DVDs, enciclopédia. Estes
são utilizados como ativadores cerebrais para levar os
alunos desde as associações simples às mais elaboradas. Para isso são disponibilizados uma biblioteca com
2.450 livros, quatro computadores com atividades lúdicas, reflexivas e desequilibradoras, individualmente
e em duplas. Esse trabalho é realizado diariamente por
uma psicopedagoga e uma estagiária fixa do Curso de
Pedagogia e outras do mesmo curso, que se revezam
semanalmente nesse atendimento às crianças. Como
não se pode falar em educação de crianças e jovens
dissociada da família, o projeto contemplou o trabalho
com as mães através de palestras, encontros, curso
de pintura em tecido, decoupage para decoração de
caixas, fabrico do sabão ecológico e detergente caseiro
em vista da sustentabilidade. Isto as fez sentirem-se
autoras, desejosas de instalarem na comunidade uma
cooperativa de produtos feitos por elas. Esse desejo,
germe de uma consciência autônoma, vem sendo
gestado em parceria com as linhas de pesquisa do
Curso de Pedagogia. Como resultado destacamos que
a reprovação e a evasão, que eram comuns, foram
reduzidas sensivelmente; seis crianças de 3º período
e 1º ano do Ensino Fundamental foram alfabetizadas;
nove alunos do 4º ano que não sabiam ler, dominam o
processo de leitura; seis alunos repetentes obtiveram
sucesso ao final do ano; e trinta e dois melhoraram seu
nível em leitura e escrita. A vivência do projeto possibilita às alunas do Curso de Pedagogia exercitar-se
no comprometimento social e a Comunidade crescer
na vivência de relações mais afetuosas, conscientes,
corresponsável na educação das crianças e jovens,
hoje mais felizes, mais empenhados nos estudos, mais
frequentes, competentes e solidários.
Tema: Infância e Adolescência
Título: Ressignificando o luto em Arteterapia
Autor: Magali Marques Macedo Martins
Coautor: Wilma Nascimento dos Santos Ganso
Carvalho
Resumo
Este estudo teve por objetivo realizar uma análise
compreensiva de estudo de caso relacionado ao comportamento adolescente na ressignificação do luto. A
questão a ser respondida é como a arteterapia pode
ajudar neste processo de perda em adolescente? Os
objetivos específicos foram: observar, psicodinamicamente, o conteúdo projetivo presente nas expressões
artísticas do participante; relacionar informações
sobre a história de vida e a história clínica do participante com os conteúdos projetivos das produções
artísticas; estudar o material clínico pertinente ao caso
descrito neste estudo, relacionando dados obtidos a
partir de análise verbal e análise psicológica das imagens simbólicas projetadas nas produções artísticas.
Este trabalho é uma pesquisa de intervenção e teve
como base a abordagem qualitativa, adotando-se mais
especificamente o método clínico-qualitativo, que permitiu compreender mais profundamente os aspectos
subjetivos externalizados pela participante. O estudo
contou com a participação de uma adolescente que
cursava o Ensino Médio de escola da Rede Pública
do Município, e que começou a frequentar o Atelier
Terapêutico da Clínica-escola de IES localizada na
região oeste do estado de São Paulo. A participante
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
apresentou como queixa escolar, problemas de comportamento, frequentando nove sessões de arteterapia
em grupo. Apesar da Arteterapia se apresentar como
uma terapia não verbal, em algumas ocasiões ocorreu
grande demanda para a expressão verbal, sendo usado também relaxamento e visualização como recurso
para a redução da ansiedade ou como técnica favorável à posterior expressão artística. Os dados foram
coletados em duas etapas: na primeira, foi realizada
entrevista semi-estruturada, individualmente, com a
duração aproximada de duas horas, sendo gravadas
para posterior transcrição e análise. Em seguida, tiveram início as sessões de Arteterapia, que aconteceram
semanalmente, em grupo, com duração média de 1
hora e 30 minutos. A coleta de dados nas sessões arteterapêuticas constou de técnicas lúdicas, de atividades
artísticas e da condução das dinâmicas espontâneas,
com o propósito dos participantes entrarem em contato
consigo mesmos, externalizando seus sentimentos
e emoções. Respeitaram-se os mecanismos de livre
expressão, assegurando a autonomia criativa de cada
participante. As técnicas de Arteterapia empregadas
procuraram oferecer atividades livres /espontâneas
e também dirigidas, visando proporcionar aos participantes a oportunidade de arriscar e experimentar
linguagens e técnicas novas para eles. Quanto às
técnicas espontâneas, livres, estas ofereceram total
liberdade na execução das atividades e na manipulação de materiais. Quanto aos resultados da pesquisa:
a participante do estudo consegue, em poucas sessões,
observar e falar sobre o que sentia e fazer uma elaboração de seus conflitos internos. Suas representações,
no início, eram fechadas, chegando a representar
grades, fazer desenhos em cores fechadas, houve
momentos de introspecção, não querendo expor suas
representações, e em outros fazia e comentava muito
sobre sua vida. Ao final das sessões, já conseguia olhar
e fazer suas representações de uma forma mais clara,
trazendo com mais tranquilidade o que sentia, e as
cores mais alegres, demonstrando mais abertura para
lidar com a vida, deixando em suas representações
ainda a lembrança de alguém que se foi, mas não mais
com revolta e angústia, como acontecerá no início,
porém com saudade e, ao mesmo tempo, alegria de
poder continuar mesmo diante da perda. Concluindo
desse modo, que a Arteterapia ajuda nos processos
internos, fazendo o indivíduo ter outro olhar diante
das vicissitudes da vida, mostrando a ele ferramentas
do seu próprio eu para enfrentar os obstáculos.
Tema: Transtornos associados ao desenvolvimento
e à aprendizagem
Título: Diálogos possíveis entre saúde
e educação no processo de
ensino-aprendizagem da criança
com paralisia cerebral
Autor: Marco Antonio Melo Franco
Coautores: Marco Antonio Melo Franco,
Leonor Bezerra Guerra, Alysson Massote Carvalho
Resumo
Abordar inclusão escolar não é somente trazer à tona
modelos educacionais cristalizados e a dificuldade
de se produzir e incorporar novas leituras desses
modelos. Significa também evidenciar os programas,
os projetos e as propostas atuais sobre o tema. Nesse
sentido, a inclusão pode ser caracterizada como um
novo paradigma capaz de modificar as estruturas excludentes próprias de modelos vigentes até o momento, promovendo a superação dos modelos cristalizados
e reorganizando os sistemas sociais e educacionais.
Dessa forma, para que a inclusão educacional de fato
aconteça, torna-se necessária a reorganização do
pensamento e do funcionamento social e escolar, bem
como a ampliação das interlocuções e interdisciplinaridade entre diferentes campos de conhecimento. No
caso do estudo aqui referido, abordamos a construção
de estratégias pedagógicas no ensino de crianças com
alterações neurológicas, particularmente, crianças
com paralisia cerebral. Sabemos que a concepção
de educação das crianças com paralisia cerebral tem
passado por importantes modificações conceituais,
nas últimas décadas. Historicamente, o lugar dado à
criança com paralisia cerebral foi a escola especial.
A entrada delas na escola regular tem provocado
reações diferenciadas, múltiplas interpretações e, às
vezes, práticas pouco pedagógicas. Nesse sentido, o
estudo buscou identificar e analisar a constituição de
práticas pedagógicas no processo de inclusão escolar
de crianças com paralisia cerebral, com ênfase nos
efeitos da interlocução entre profissionais da saúde
e da educação. Acompanhou-se, ao longo de um
ano letivo, 8 crianças com paralisia cerebral, com
idades entre 6 e 12 anos, atendidas na Rede Sarah
de Hospitais de Reabilitação. Aconteceram encontros
bimestrais entre os profissionais da saúde e da educação, para esclarecimentos de diagnóstico, reflexão
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
escolas brasileiras, tem assumido especial destaque
uma categoria nosológica amplamente difundida
na atualidade: o TDAH – Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade. No dia-a-dia da clínica,
em interlocuções tanto com profissionais das áreas de
saúde e educação, quanto com famílias de crianças
diagnosticadas ou sob suspeita de portarem o transtorno, tenho notado que a escola, a partir da identificação da desatenção como traço comprometedor do
percurso escolar de seus alunos, tem assumido papel
preponderante na disseminação dos casos, ainda que
involuntariamente. A sequência de acontecimentos
que, via de regra, se configura a seguir em torno desses sujeitos é preocupante: a) A circulação da suspeita
de TDAH no contexto escolar e sua comunicação à
família frequentemente dão origem a dinâmicas estigmatizantes; b) A localização do problema na criança
favorece a desresponsabilização e o descomprometimento de familiares e educadores, que muitas vezes
passam a não questionar e até desconsiderar sua
participação na instalação e manutenção do quadro; c)
Não raro a hipótese se transforma em diagnóstico e a
criança passa a ser medicada com psicofármaco de uso
controlado, ao qual se associa extensa lista de efeitos
colaterais; d) O “incômodo” artificialmente controlado faz com que aspectos insalubres do ambiente
escolar e familiar em que o indivíduo se desenvolve
se perpetuem, evidenciando-se, assim, falhas éticas
no cuidar e seus desdobramentos. Face ao exposto,
considero imprescindível não só a compreensão das
vicissitudes da problemática, mas também uma reflexão aprofundada, que possa levantar as bases para o
estabelecimento efetivo de uma rede de cuidados em
torno desses sujeitos, na qual não só suas necessidades fundamentais sejam contempladas, mas também o
cuidar do cuidador, garantido. Para tanto, meu percurso na pesquisa de mestrado vem sendo norteado pelas
seguintes questões: Afinal, o que é TDAH e por que há
tanta controvérsia em torno do seu diagnóstico? Que
características contextuais da contemporaneidade
têm favorecido sua disseminação? Que concepções de
‘atenção’ e de ‘prestar atenção’ têm sido privilegiadas
nesses diagnósticos e nas ações das escolas e quais
as implicações decorrentes? Que contrapontos importantes são contemplados na abordagem psicanalítica
do quadro de desatenção? Considerando a instituição
escolar e os educadores como agentes de cuidados e
o necessário equilíbrio no exercício de suas funções
e elaboração de estratégias de ensino-aprendizagem.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas que
aconteceram no início e no final do ano, seguindo
roteiro único. Além disso, foram utilizados dados dos
prontuários. A partir de dados da primeira entrevista
identificou-se o desconhecimento, dos docentes,
so­­­bre o diagnóstico de paralisia cerebral e práticas
pedagógicas baseadas em tentativa e erro. No final
do período letivo, foram identificadas mudanças
importantes na construção de práticas pedagógicas
resultantes da interlocução entre os profissionais. Se
num primeiro momento os educadores tinham como
foco o aspecto motor e muitos seguravam na mão
das crianças para desenvolver habilidades de escrita,
esses mesmos professores fizeram um deslocamento
do foco do aspecto motor para o cognitivo, compreen­
dendo e valorizando os potenciais que as crianças
apresentavam, e elaborando as práticas pedagógicas
a partir dessa nova leitura. Alteraram formas de avaliar com adoção de práticas de avaliação oral para as
crianças que apenas oralizavam e provas objetivas
para crianças que lêem, mas não escrevem; economia
de escrita para crianças que escrevem, porém são
lentas e possuem dificuldades motoras; a inclusão
em atividades recreativas e esportivas; a atenção
mais individualizada; o envolvimento dos colegas
de turma no processo de escolarização da criança,
entre outros. Tais resultados permitem inferir que a
interação entre diferentes campos de conhecimento
pode gerar resultados produtivos, particularmente,
quando eles possuem um objeto em comum, no caso,
a criança com paralisia cerebral, seu desenvolvimento
e aprendizagem. Tal interlocução pode contribuir
para a formação docente, para um processo menos
segregativo e para a construção de práticas pedagógicas que promovam a aprendizagem considerando
a diversidade e a especificidade do sujeito aprendiz.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Escola e crianças “desatentas”:
cuidados e descuidos
Autor: Maria Alice Castello de Andrade
Resumo
Dentre as principais questões percebidas como entraves ao desenvolvimento saudável de crianças nas
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
– das tarefas do cuidar – enquanto presença implicada e, concomitantemente, em reserva, que acertos
e falhas permeiam a interação entre tais agentes e
alunos considerados desatentos? Ainda em relação a
esses sujeitos, que intervenções no ambiente escolar
possibilitariam o estabelecimento de relações de fair
shares e a operação efetiva da instituição enquanto
objeto transformacional? Movida por tais inquietações
é que me lanço a campo em busca dos olhares e das
ações que vêm efetivamente permeando o atendimento escolar a tais crianças, mantendo como perspectiva
de análise o referencial teórico psicanalítico, com ênfase nas articulações de Luís Claudio Figueiredo em
sua teoria dos cuidados. Pretendo utilizar o material
construído no percurso como ponto de partida numa
próxima pesquisa acadêmica – a ser desenvolvida
dentro de uma escola, no intuito de contribuir para o
estabelecimento de relações mais justas e profícuas
entre todos os envolvidos.
Essas crianças não apresentam uma boa percepção
dos fonemas. O desenvolvimento da consciência
fonológica pode explicar a maior parte dos casos de
dislexia, disgrafia e disortografia. Profissionais que
atuam na área precisam ter noções claras de fonologia
e fonêmica e construir planos de avaliação e intervenção segundo esses parâmetros. Panlexia é uma metodologia de orientação diagnóstica, linguisticamente
estruturada, bem como um programa abrangente de
assistência pedagógica a pessoas com dificuldades na
área da Linguagem. É fonológica, estrutural e propicia
bastante reforço para cada elemento da linguagem.
As atividades da Panlexia utilizam todos os sentidos
envolvidos na leitura e escrita, sendo que cada uma
tem um propósito definido: por exemplo, o desenvolvimento da habilidade de decodificar, do reconhecimento por similaridade. Os exercícios planejados
reforçam o aprendizado, ajudam na compreensão
da sequência das letras, enfatizam o novo padrão de
dificuldade. A leitura e escrita estruturada das sentenças favorece a compreensão das palavras porque
usadas em contexto, faz uma revisão das palavras
aprendidas, reforça a memória visual. Os métodos
de ensino da Panlexia são indutivos, o aluno recebe
muitos exemplos de cada novo elemento, tornando a
associação do som e do símbolo automática – como
é para leitores regulares. O objetivos deste estudo é
apresentar a eficácia da Panlexia na reeducação das
Dificuldades Específicas de Linguagem através do
desempenho de criança com dificuldades de leitura e
escrita após quatro meses de intervenção. Triada pelo
Centro de Neuropediatria do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná, a criança foi encaminhada para avaliação específica, realizada através
de instrumentos próprios da Panlexia. A anamnese
se deu pelos dados de questionário respondido pelos
pais. O processo de intervenção foi realizado em 13
sessões de cinquenta minutos cada uma. Após esse
período, os testes de avaliação foram reaplicados, de
modo a verificar a evolução do desempenho. Os dados
levantados mostraram 25,7% de melhora na leitura e
25,4%, na escrita. Em relação à questão fonológica,
houve aumento de cinco anos na idade fonológica. O
reteste do Screening demonstrou aumento no tempo
de leitura. Na escrita, houve diminuição expressiva
dos erros ortográficos, na proporção de 33,3%. A intervenção realizada com o Método Panlexia resultou
em melhora significativa em todos os testes, refletindo
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Panlexia plus: método de avaliação e
intervenção para dificuldades de
leitura e escrita
Autor: Maria Cristina Bromberg
Coautor: Veronicka Seegmueller,
Sérgio Antonio Antoniuk
Resumo
Aprender a ler e escrever em uma língua alfabética,
como o Português, significa que a criança deve entender as pequenas unidades da fala. A consciência
de que a língua é composta de pequenos sons é
fundamental para aprender a ler e produzir a escrita
alfabética. O fonema é o elemento fundamental do
sistema linguístico, o elemento essencial de todas
as palavras, faladas e escritas. Nem sempre o processo de aprendizagem transcorre de forma natural.
Inúmeros fatores, neurológicos e não neurológicos,
alteram a possibilidade da criança aprender. Provocam resultados significativamente abaixo do esperado
para a idade, escolarização e nível de inteligência.
Os transtornos de leitura e escrita atingem de forma
grave cerca de 10% das crianças em idade escolar;
considerando-se os leves, o percentual chega a 25%.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
positivamente no desempenho escolar da criança e
reafirmando a postulação de Martins: “Não há como
atuar na área de formação ou reeducação leitora sem
levar em conta as postulações da disciplina da Fonologia, ramo da Linguística, entendida como estudo
dos padrões de sons que são linguisticamente significativos, ou seja, fazem parte da organização mental
dos sons da fala”.
educativo em lidar com essa demanda dentro da instituição. A criança ou adolescente sujeito deste olhar
acaba sendo muitas vezes rotulado, massacrado e
desestimulado para o processo de aprendizagem não
só no que se refere à leitura, escrita e cálculos, mas
a aprendizagem de habilidades sociais e cognitivas
importantes para o seu desenvolvimento integral. Ao
longo da avaliação pode-se perceber que a criança ou
adolescente não apresenta distúrbio de aprendizagem
ou mesmo questões neurológicas, mas sim falta de
estimulação adequada nas diversas etapas do seu
desenvolvimento. Resgatar, estimular, proporcionar
um novo caminho é tarefa árdua, porém possível de
acontecer desde que o trabalho seja feita em conjunto entre todos os envolvidos nesse processo. Minha
experiência na clínica como Psicopedagoga reforça a
importância desse olhar diferenciado que devemos ter
ao atender crianças e adolescentes que hoje estão em
instituições de acolhimento e, muitas vezes, longe dos
familiares, rotulados dentro da escola e de outros espaços não conseguem desenvolver-se como merecem
e é garantido pelas políticas públicas, principalmente
o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Olhar do psicopedagogo para
crianças e adolescentes em instituições
de acolhimento
Autor: Maria Cristina de Paula Partida
Coautor: Partida M. Cristina de Paula
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre
o olhar que Psicopedagogo necessita ter ao atender
crianças e adolescentes que já estiveram em uma
situação de vulnerabilidade social ou afetivo relacional e hoje estão dentro de um programa de proteção
social especial de alta complexidade. Quando o
psicopedagogo entra em contato com essas crianças
e adolescentes para uma avaliação ou estimulação
psicopedagógica, ele se depara com um universo
totalmente diferente daquele habitualmente conhecido e exemplificado pela nossa literatura. O
NEPACC- Núcleo de estudos, pesquisa e aplicação
comportamental através do programa de responsabilidade social atende na clínica social crianças e
adolescentes encaminhadas pelas instituições de
acolhimento. Os profissionais que encaminham para
avaliação e estimulação nem sempre compreendem
o papel do psicopedagogo, muitas vezes apresentam
uma expectativa alta, querendo que todas as questões
sejam sanadas entre elas as comportamentais e educacionais. Ao longo da avaliação, o Psicopedagogo tem
que administrar a falta ou fragmentação da estória
de vida deste atendido, expectativa da instituição de
acolhimento, desesperança do atendido, interrupções
neste processo por faltas, mudança de profissionais
na instituição de acolhimento, pensamentos distorcidos sobre o processo de ensino e aprendizagem e a
falta de habilidade do educador ou orientador sócio
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Saúde emocional nas escolas:
a necessidade de aprender a se relacionar e a
conviver com as diferenças
Autor: Maria de Betânia Paes Norgren
Resumo
Na sociedade globalizada em que vivemos, as trans­­­
formações sociais são frequentes; os valores são
questionados; as informações são rapidamente trans­­­
mitidas e os relacionamentos podem ter as mais
diversas formas. Deparamo-nos cada vez mais com
pessoas “conectadas” em rede a muitas outras, mas
solitárias e com dificuldade de relacionamento. As
famílias, muitas vezes, não conseguem auxiliá-las,
pois estão sobrecarregadas com o seu sustento, passando por transformações que questionam seu papel
e função. Nesse contexto, são comuns os casos de
violência e desrespeito em todas as instâncias sociais.
Nas escolas deparamo-nos frequentemente com
casos de intimidação entre colegas; desrespeito e
agressão entre alunos e professores. Temos que lidar
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
com o desafio de buscar relações menos hierárquicas,
mais participativas e democráticas, nas quais haja
respeito mútuo, autoridade verdadeira e limites consistentes e amorosos. Sem dúvida alguma, crianças
e adolescentes precisam ter acesso a uma educação
formal de qualidade, mas também devem se tornar
cidadãos responsáveis, que evitem todo tipo de discriminação e violência. Para que a escola cumpra o
seu papel de educadora, deve favorecer a convivência
e a sociabilidade, respeitar e celebrar a diversidade,
desenvolver a colaboração e a conduta ética. Ou seja,
deve propiciar a aprendizagem socioemocional de
seus alunos. Estudos longitudinais têm indicado que
favorecer a aprendizagem socioemocional possibilita
melhora no processo de aprendizagem. O aprendizado
envolve múltiplas interações e parece haver relação
significativa entre competência social e acadêmica.
A aprendizagem socioemocional tem efeito positivo
na aprendizagem (motivação, compromisso e aspirações); no comportamento (participação e hábitos
de estudo); nas atitudes em relação à escola (melhor
habilidade para lidar com estressores e menor índice
de absenteísmo) e na performance acadêmica (o que
e como se aprende; desempenho e competência nos
estudos). Crianças populares, em geral, possuem boas
habilidades cognitivas, bom desempenho escolar,
são empáticas, assertivas, sabem resolver problemas
sociais e ajudar os outros e oferecer apoio emocional.
São autoconfiantes, capazes de se concentrar, reagem
construtivamente à frustração e enfrentam positivamente os desafios da aprendizagem. Neste trabalho,
serão abordadas intervenções primárias realizadas
em escolas, que tiveram por objetivo desenvolver a
competência socioemocional dos envolvidos e que
comprovadamente demonstraram sua eficácia ao
melhorar o clima escolar, propiciar relação interpessoal mais efetiva e favorecer os processos de aprendizagem. Várias das intervenções foram feitas com a
utilização de recursos da arteterapia.
foi elaborar uma revisão integrativa sobre dislexia e
música, através de coleta de dados, análise e discussão
do material encontrado. Foram analisados 19 artigos
selecionados de um total de 90 estudos. A seguir, os
textos selecionados: A case study of music and text
dyslexia; Associations between music education, intelligence, and spelling ability in elementary school;
Auditory and motor rhythm awareness in adults with
dyslexia; Dyslexia and music: measuring musical timing skills; Dyslexia and learning musical notation:
a pilot study; Dyslexia and music: from timing deficits
to musical intervention; How to explore the auditory
perception of young dyslexics with modern music; Investigating the relationship of music and language in
children; Rhythmic motor entrainment in children with
speech and language impairments: tapping to the beat;
Music, rhythm, rise time perception and developmental
dyslexia: Perception of musical meter predicts reading
and phonology; Musical training influences linguistic
abilities in 8-year-old children: more evidence for
brain plasticity; Relating pitch awareness to phonemic
awareness in children: implications for tone-deafness
and dyslexia; Rhythm reproduction in kindergarten,
reading performance at second grade, and develop­
mental dyslexia theories; Rhythmic processing in
children with developmental dyslexia: auditory and
motor rhythms link to reading and spelling; Sensitivity
to rhythmic parameters in dyslexic children: a comparison of Hungarian and English; The effects of colored
paper on musical notation reading on music students
with dyslexia; The relation between music and phonological processing in normal-reading children and
children with dyslexia; The use of music to enhance
reading skills of second grade students and students
with reading disabilities; Timing precision and rhythm
in developmental dyslexia. Após a análise crítica dos
estudos, pode-se concluir: em relação às questões
fonológicas, os estudos sugerem que a música nos
sujeitos com dislexia pode facilitar a transferência
das competências do conhecimento de palavras para
compreensão da leitura, como estratégia para ajudar
os alunos utilizarem palavras adquiridas nas atividades musicais; em relação às questões temporais
e de processamento fonológico, o efeito produzido
pela música pode ser a facilidade na associação da
reprodução rítmica e de leitura, com atividades que
utilizam pulsação e ritmo juntamente com palavras,
frases e textos, observando a acentuação métrica
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Título: Dislexia e música: uma revisão integrativa
Autor: Maria Luiza Santos Barbosa
Resumo
A principal questão a ser investigada foi: Qual o
efeito da música em sujeitos com dislexia? O objetivo
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
como lidar com as relações conflituosas com base no
respeito mútuo e na justiça. Diante do quadro educacional exposto, o foco da pesquisa está na investigação
do papel que a afetividade pode desempenhar no
ambiente escolar, como promotora e/ou facilitadora
da aprendizagem. Além disso, visa analisar também
os problemas que a falta da afetividade no ambiente
escolar e, em especial, nas relações entre professores
e alunos pode trazer ao processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, a pesquisa foi bibliográfica para
o referencial teórico e de campo, do tipo descritiva,
para o levantamento de dados. Utilizou-se a entrevista
semi-estruturada, dirigida a professores e alunos,
contendo questões que visaram compreender as
percepções dos mesmos acerca da afetividade e das
relações interpessoais entre eles mantidas. A pesquisa
foi realizada em três escolas da rede pública do Ensino
Fundamental de Fortaleza/CE. A amostra foi composta
por 20 alunos e 20 professores de cada escola, num
total de 120 entrevistados. Paralelamente, foram feitas
observações de cunho marcadamente etnográfico,
isto é, buscando apenas observar os costumes de seus
integrantes, sem interferir nas ações dos mesmos. Os
dados obtidos permitiram constatar que os alunos sentem necessidade de serem ouvidos, querem atenção
e tratamento diferenciado, de acordo com o seu jeito
próprio de ser. Em contrapartida, apesar de reconhecer que eles não são todos iguais, a escola trata a todos
de modo unilateral. Até mesmo os professores deixam
de valorizar as experiências individuais de cada aluno,
situação que precisa ser alterada na relação escolar.
Além disso, também foi possível observar indícios de
que o distanciamento entre professores e alunos pode
ser a raiz dos problemas de indisciplina. Em síntese,
a impressão inicial obtida foi a de que os professores
estão pouco atentos ao emprego da afetividade como
instrumento pedagógico e, que os alunos, apesar de
não atentarem para tal fato, carecem desse tratamento
e anseiam por ele, sentindo-se cercados em suas liberdades, sem direito a ter voz e a expor suas opiniões e
desejos. Diante dos resultados alcançados, entende-se que as questões de indisciplina requerem uma
ação não apenas efetiva, mas também afetiva, para
se buscar mudanças de valores e atitudes. A escola,
como ambiente educacional, precisa trabalhar para
a correção das falhas que, porventura, esses alunos
manifestem em função de suas vivências, seja em
família ou em sociedade. Espera-se que a afetividade
das palavras; em relação às questões temporais,
confirmou-se que as dificuldades de processamentos
rítmicos são problemáticas na dislexia. Nesse sentido,
a música pode auxiliar o disléxico a manter um fluxo
rítmico constante na leitura (com a ajuda de um metrônomo), seguindo a pulsação e o ritmo fornecidos
pelo professor ou profissional que o estiver orientando; em relação às questões cognitivas, os efeitos da
música demonstram relações positivas entre tocar um
instrumento e as habilidades cognitivas em crianças.
Estudos sobre a plasticidade cerebral sugerem que
dificuldades de leitura podem ser diminuídas com diferentes treinamentos intensivos. Processos musicais
podem contribuir significativamente nessa reorganização cerebral, pois exigem alguma especialização
do cérebro e uma cooperação hierárquica entre os
dois hemisférios. Em relação às questões musicais,
a música provoca efeitos positivos relacionados às
questões psicológicas, educacionais e sociais. Para a
aprendizagem musical, todas as estratégias utilizadas
pelo professor (por exemplo, papel colorido) devem
ser utilizadas.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: A importância da afetividade nos
primeiros anos do ensino básico para o
ensino-aprendizagem
Autor: Maria Rosineide Saraiva Sombra
Resumo
Atualmente, é possível observar na Escola um crescente aumento da violência entre os alunos e do
desrespeito destes para com seus mestres, além de
um desinteresse cada vez maior pelo aprendizado e
pelos conteúdos ministrados. Esses problemas podem
ser constatados desde as séries iniciais e vão se agravando à medida que as crianças crescem dentro desse
ambiente escolar. Por entender que o ser humano
precisa ser preparado desde a infância para lidar com
os problemas que irá enfrentar durante toda a vida,
faz-se necessário trabalhar na escola a questão da
afetividade, atentando para o fato de que o professor
também deve ter o necessário equilíbrio emocional
para intervir de forma adequada nos conflitos de
sala de aula e, dessa forma, ensiná-los, desde cedo, a
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
seja vista pelos educadores, não apenas como um elemento do processo de ensino-aprendizagem, mas sim
como fator primordial para que ele ocorra de forma
efetiva, evitando que o distanciamento entre professores e alunos venha contribuir para o surgimento de
entraves no ensino e na aprendizagem.
selecionadas crianças que tinham quadro compatível
com dificuldade escolar (11 crianças), distúrbio de
aprendizagem (6 crianças) e transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade (8 crianças). Para avaliação
psicomotora foi utilizado o instrumento proposto por
Oliveira. Analisando-se os dados de todo o grupo verificou-se que havia defasagem em todas as habilidades
psicomotoras avaliadas, ou seja, esquema corporal
(68%), lateralidade (64%), orientação temporal (52%),
orientação espacial (40%) e coordenação e equilíbrio
(40%). No que se refere à etiologia da dificuldade de
aprendizagem, constatou-se que o grupo com DA teve
pior desempenho do que os grupos com TDAH DE.
Os autores chamam a atenção para a importância do
desenvolvimento psicomotor como estruturante de
funções corticais, que são essenciais para o aprendizado infantil e, ainda, para a necessidade de intervenção psicomotora, como meio de superar ou ao menos
minimizar os efeitos dos problemas acadêmicos.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Habilidades psicomotoras e
dificuldade de aprendizagem: análise de
crianças com diagnóstico de DE, DA e TDAH
Autor: Mariana Coelho Carvalho
Coautores: Sônia das Dores Rodrigues;
Sylvia Maria Ciasca
Resumo
Rotineiramente, crianças com queixa de dificuldade
de aprendizagem são encaminhadas para avaliação
(médica e não médica), com o intuito de se fazer o
diagnóstico diferencial, ou seja, para se determinar se
a dificuldade se deve a disfunção do sistema nervoso
central, ou se o problema está relacionado a outros
fatores, tal como é o caso de inadequação do contexto
ambiental ou escolar. Na prática, o que se observa
é que, independente da etiologia, ou seja, TDAH,
distúrbio de aprendizagem ou dificuldade escolar, as
crianças com problemas na aprendizagem costumam
apresentar alterações no desenvolvimento psicomotor. O presente estudo teve como objetivo avaliar as
habilidades psicomotoras de crianças com dificulda­
de escolar (DE), distúrbio de aprendizagem (DA)
e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH). Especificamente, pretendeu-se identificar
se haveria relação entre etiologia da dificuldade de
aprendizagem (decorrente de fatores ambientais/
pedagógicos e disfunção do sistema nervoso central)
com pior desempenho nas habilidades psicomotoras.
Foram incluídas no estudo 25 crianças atendidas em
um laboratório de pesquisa. Todas as crianças foram
submetidas à avaliação neuropsicológica de base,
constituída por avaliação clínica e instrumentos padronizados (WISC-III, Raven, Bender, Bateria Luria
Nebrasca-C). Os pais foram informados sobre o teor
da pesquisa e assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido. Após a avaliação da equipe foram
Tema: Infância e Adolescência
Título: A construção do conhecimento
sobre as diferenças sexuais: um estudo
a partir do diálogo entre as
teorias piagetiana e freudiana
Autor: Mariana Inés Garbarino
Coautor: Maria Thereza Costa Coelho de Souza
Resumo
As diferenças sexuais constituem um objeto de conhecimento complexo construído a partir de uma dupla
demanda que se apresenta para a criança: do meio
e do próprio corpo. A relação da criança com esse
saber se constrói a partir das possibilidades e limites
próprios a seu desenvolvimento cognitivo e afetivo,
estudado por Piaget e das fases do desenvolvimento
psicosexual elaboradas por Freud, especialmente em
torno do tema da origem dos bebês. Para estes autores,
a origem dos bebês e a sexualidade constituem os
pontos de partida para se perguntar sobre a origem
das coisas em geral e se orientar em uma gradativa
autonomia intelectual no mundo. De acordo com
ambas as teorias, o Eu da criança se constrói em uma
progressiva diferenciação Eu/não-Eu. Considerando
as duas propostas teóricas, a pesquisa de Kohlberg
sobre a constância de gênero defende a ideia de
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
que a diferença genital não é um critério básico e a
priori na classificação sexual e corrobora que, para as
crianças mais novas, a diferença sexual é como uma
etiqueta que varia a partir de elementos acessórios
como o cabelo, a roupa e os estereótipos de gênero. O
presente trabalho tem como objetivo mostrar a partir
de que mecanismos representativos e elementos comuns, crianças de 4 a 9 anos entendem e explicam as
diferenças sexuais. Nesse sentido, pretende apontar
o enriquecimento de uma abordagem da progressão
genética dessa construção a partir da consideração de
duas teorias historicamente consagradas: a psicogênese piagetiana e a psicanálise. Para a coleta de dados,
foram entrevistadas 80 crianças de 4 a 9 anos, com
base no método clínico piagetiano, agrupadas em dois
grupos etários: i) crianças mais novas, de 4 a 6 anos
ii) crianças mais velhas, de 7 a 9 anos. Esse recorte
se justifica nos estágios da inteligência abordados por
Piaget (passagem do período pré-operatório ao operatório-concreto) e nas fases do desenvolvimento psicossexual propostas por Freud (passagem da fase fálica ao
período de latência). Os resultados demonstram uma
progressão genética qualitativamente diversa em relação aos grupos etários e que compartilha alguns dos
aspectos verificados por Kolhberg na sua pesquisa.
Nas crianças mais novas, os elementos selecionados
remetem ao gênero, e as diferenças se explicam por
acessórios e elementos externos, como a roupa, o
cabelo ou atividades historicamente estereotipadas.
Nas respostas das crianças mais velhas, predominam
elementos anatômicos genitais ou secundários, como
os seios. Porém, vale destacar que especialmente
nas crianças mais velhas se corrobora uma vergonha
mais ou menos implícita em falar acerca dos órgãos
genitais com vocabulário científico (pênis-vagina)
sendo utilizadas, maiormente, outras variações como
“perereca”, a “parte íntima” ou “isso do que não se
pode falar”. Os resultados demonstram ainda uma
pequena participação da escola (5%) como fonte de
informação acerca da sexualidade, sendo na maioria
dos casos proveniente do entorno familiar, e muito
especialmente da mãe. A partir dos dados coletados
no presente estudo e nos referentes teóricos já apontados, pode-se afirmar que a construção das diferenças
sexuais constitui um processo que progressivamente
admite estabilidade e que depende tanto de fatores
psicossexuais teorizados pela psicanálise como da
capacidade, explicada por Piaget, de classificar objetos. Portanto, pode-se concluir que a compreensão da
construção infantil das diferenças sexuais se amplia e
aprofunda quando ambas as teorias são consideradas.
Tema: Contribuições contemporâneas
sobre a alfabetização
Título: Letramento e seu significado
na formação do profissional da
contemporaneidade: a importância do
professor como agente de letramento nos
cursos de graduação
Autor: Marilane da Costa Gonçalves
Resumo
Este estudo propõe discutir a importância dos docentes das turmas de primeiro período dos cursos de
graduação da UNISUAM como agentes de letramento. A partir do perfil do discente do 1º período, identificado em pesquisas anteriores, serão apresentados
dados sobre a dificuldade do alunado, bem como as
necessi­dades de uma intervenção efetiva, fundamentada numa proposta de ação pedagógica coletiva que
considere a leitura e a escrita como responsabilidades
de todos os docentes. Será discutida também a impor­
tância de uma formação acadêmica comprometida
com as demandas da contemporaneidade, que contribua para a inclusão dos futuros profissionais no mercado de trabalho e promova o desenvolvimento local.
No presente trabalho, partimos de uma pesquisa do
perfil dos alunos dos primeiros períodos, aplicada nos
diferentes cursos de graduação do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), localizado na Zona
da Leopoldina, na cidade do Rio de Janeiro. Esses
dados foram levantados pelo Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAPp), por meio de um instrumento com
perguntas abertas e fechadas, aplicadas a um grupo
de amostragem, que concordou em colaborar com a
pesquisa. Dentre as várias dificuldades identificadas
e que interferem no aprendizado desses alunos e na
sua permanência no curso, destacam-se, em especial,
as relacionadas à leitura e à escrita. Considerando-se
que ler e escrever são habilidades exigidas em todas as
disciplinas, se esse aluno não consegue ler de forma
hábil, consequentemente terá prejuízos na interpretação e, por extensão na forma de expressar seu pensamento quando solicitado nas diferentes disciplinas.
O presente trabalho tem como objetivo analisar as
dificuldades da leitura e escrita e sua relação com a
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
evasão e repetência de muitos alunos que chegam ao
Ensino Superior da UNISUAM e não conseguem nele
permanecer em virtude dessas dificuldades; o que nos
leva a argumentar sobre a necessidade e importância
da atuação do professor nas turmas de primeiro perío­
do como agentes de letramento, por meio do ensino
dos diferentes conteúdos nas diversas disciplinas. A
partir desses dados, questiona-se a possibilidade de
os professores de diferentes disciplinas, dentro das
áreas específicas, atuarem como mediadores para a
minimização das dificuldades dos alunos em leitura e
escrita, em especial nas turmas de primeiro período.
Como fundamentação teórica serão utilizados Arruda
(2006), Masetto (1998), Soares (2010), Rojo (2009).
Quanto à metodologia, será utilizada neste trabalho a
pesquisa descritiva e bibliográfica. Letramento e seu
significado na formação do profissional da contemporaneidade. Um dos fatores que motivou essa pesquisa
foi o incômodo provocado por frequentes queixas dos
docentes em relação às defasagens de conteúdos com
que os alunos chegam hoje às turmas de primeiros
períodos na UNISUAM. Essas queixas dos docentes
são fortalecidas pelas colocações dos discentes, nos
atendimentos realizados no Núcleo de Apoio Psicopedagógico - NAPp. Assim, estudos anteriores realizados
por Soares, (1998) e Rojo (2009) poderão nos ajudar
a entender o porquê da defasagem nas habilidades
de leitura e escrita, hoje tão frequentes no atual cenário educacional, tendo sérios reflexos na formação
desses acadêmicos que chegam ao Ensino Superior.
Nossa sociedade vai se modificando e as exigências
sociais tornando-se cada vez mais complexas, o que
demanda de seus atores novas práticas. Partindo do
que nos relata Soares (1998), o letramento pode ser
considerado o resultado da ação de ensinar e aprender
as práticas sociais da leitura e escrita, que traz como
consequências mudanças no estado daquele que dele
se apropria.
adolescentes com deficiência no contexto escolar. A
coleta de dados foi feita a partir de redações de alunos
que cursavam um Centro Integrado de Educação de
Jovens e Adultos - CIEJA da rede municipal, na zona
Oeste da cidade de São Paulo. Na análise, os dados
foram aclarados pela teoria de desenvolvimento de
Henri Wallon. Os resultados destacaram várias situações provocadoras para que a alegria se faça presente
na escola. Essas situações estão relacionadas ao conhecimento, ao espaço e à rotina escolar, aos amigos,
aos professores e algumas relações extra-escolares.
Conclui-se que, conhecendo as condições indutoras
da emoção e do sentimento alegria no adolescente
com deficiência, podem-se intensificar momentos
de satisfação escolar. Para isto, a escola deve ter um
olhar atento ao aluno adolescente com deficiência
para entender suas necessidades e tentar atendê-las
sem deixar de compreender também os limites do
professor que com ele interage. Este olhar será mais
amplo com o auxílio da Psicopedagogia.
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: Representação social de professores
universitários a respeito do trabalho e
atuação do psicopedagogo
Autor: Míriam Gomes Avelar de Morais
Resumo
A presente pesquisa se propôs a investigar as representações construídas pelos formadores de pedagogos
sobre o papel profissional do psicopedagogo. A relevância da pesquisa reside no fato de que se acredita
que as representações sociais expressam a maneira
como as pessoas percebem e interpretam o mundo,
pois o que se pretende aqui é conhecer a opinião de
um determinado grupo a respeito de uma identidade
profissional. Para esta investigação, buscou-se uma
fundamentação teórica baseada na contribuição de
diferentes autores colaboradores na construção do
corpo teórico da Psicopedagogia. A proposta metodológica teve como base a pesquisa de abordagem
qualitativa, envolvendo a pesquisa bibliográfica e
de campo. A escolha da forma de realização dessa
pesquisa foi almejando um processo de reflexão onde
teoria, epistemologia e metodologia possam formar
um círculo contínuo e influenciar-se mutuamente,
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Alegria na escola por adolescentes
paulistanos com deficiência
Autor: Marta de Oliveira Gonçalves
Resumo
O trabalho busca identificar e compreender o que
provoca a alegria, como emoção e sentimento, em
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
oferecendo um entendimento da complexidade das
dinâmicas subjetivas. A coleta de dados foi realizada
por meio da associação livre de palavras e de entrevistas individuais semi-estruturadas. Esses instrumentos
foram aplicados junto a professores do curso de Pedagogia de duas universidades de Goiânia, estado de
Goiás. Para analisar os dados utilizou-se a técnica da
análise de conteúdo. Os resultados indicam que, por
um lado, existem aqueles que reconhecem um papel
específico do profissional psicopedagogo em sua
atuação interventiva nos sintomas das dificuldades de
aprendizagem. E, por outro lado, aqueles que criticam
ou questionam a existência desse profissional.
baixo rendimento escolar de uma escola pública. Foi
utilizado o Questionário de Motivação para Leitura,
para traçar o perfil motivacional dessas crianças, este
aborda a motivação para leitura em cinco dimensões:
curiosidade e importância da leitura; prazer; reconhecimento social; razões sociais e autopercepção
da competência em leitura. Após análise descritiva
dos dados obtidos, entende-se que as crianças dessa
turma apresentam baixo nível para a dimensão razões
sociais e autopercepção da competência em leitura,
esse resultado também foi observado nas crianças com
baixo rendimento. Referente ao gênero, os meninos
apresentaram melhor desempenho na maioria das
dimensões, ao contrário dos estudos de Mata, onde as
meninas obtiveram melhores escores. Em relação aos
estudantes repetentes, observou-se que seus resultados situaram-se abaixo do nível em todas as dimensões analisadas. Frente aos resultados, percebe-se que
a necessidade de formular estratégias que incitem a
partilha de materiais de leitura e o envolvimento dos
pais e cuidadores nas atividades de leitura. Também
se faz necessária a implementação de atividades que
sejam interessantes e atraentes para o engajamento na
leitura se tornar mais fácil e confortável para o estudante e, consequentemente, ele se sentir bem e confiante
ao ler, obter bons resultados e mudar favoravelmente
sua percepção sobre suas leituras. Estudos acerca da
motivação para leitura no ensino fundamental é de
imprescindível importância para o conhecimento do
perfil motivacional dos alunos e o conhecimento sobre as dimensões que mais afetam o envolvimento na
leitura, assim a contribuição será mais evidente para a
formulação de estratégias mais eficazes, por parte dos
educadores, para incitarem o interesse pela leitura.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Perfil motivacional para leitura de
crianças do 5º ano do ensino fundamental
Autor: Monilly Ramos Araujo Melo
Coautores: Émille Burity Dias;
Carla Alexandra da Silva Moita Minervino;
Kriscieli Fonseca
Resumo
A leitura é entendida como um comportamento so­­
cial, essencial para aquisição de conhecimentos, e
principal forma de socialização. Para que ocorra,
necessita, além de aspectos cognitivos, aspectos afetivos. Esses aspectos afetivos abordam as questões
referentes à motivação. Alunos envolvidos em suas
atividades de leitura são motivados a ler para diferentes fins, utilizando conhecimento prévio adquirido
em experiências antes vivenciadas, gerando novos
conhecimentos e participando significativamente
de atividades sociais. A incidência de importantes
problemas educacionais referentes à leitura é devido, entre outros fatores, ao declínio da motivação. O
baixo rendimento escolar pode ser causado pelo não
envolvimento da criança com a atividade proposta a
ela. Diante da importância que a motivação exerce
para o comportamento da leitura, este estudo tem
por objetivo descrever o perfil motivacional para
leitura de estudantes de uma escola pública, matriculados no quinto ano do ensino fundamental. Para
isto, participaram 15 crianças entre oito e catorze
anos, de ambos os sexos, do quinto ano do ensino
fundamental, repetentes e não repetentes, com alto e
Tema: Contribuições contemporâneas
sobre a alfabetização
Título: Processamento auditivo e leitura:
um estudo com pré-escolares
Autor: Monilly Ramos Araujo Melo
Coautores: Estephane Enadir Duarte Lucena
Pereira; Gabrielle Cordeiro Rocha de Assis;
Carla Alexandra da Silva Moita Minervino
Resumo
O presente estudo teve como objetivo analisar o
processamento auditivo em crianças de pré-alfabeti-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
124
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
zação. Para adquirir a leitura, se faz necessária uma
série de processos cognitivos, bem como habilidades
precursoras dessa competência. Essa temática tem
despertado inúmeras investigações, as quais procuram compreender os processos subjacentes ao aprendizado da leitura. Dentre as habilidades inerentes a
essa aquisição, destaca-se o processamento auditivo,
habilidade fundamental para o desenvolvimento da
linguagem, da leitura e da escrita. O processamento
auditivo refere-se à capacidade de captar informações
de fundo, distinguir um entre vários ruídos, localizar
e, ao mesmo tempo, integrar, processar e compreender as mensagens auditivas. Nessa perspectiva, o
processamento auditivo envolve discriminação, memória e percepção auditiva. A discriminação auditiva
é responsável pelo agrupamento de sons de acordo
com a similaridade ou diferença, a memória auditiva
é responsável pelo armazenamento e recuperação da
informação e a percepção auditiva, pela recepção e
interpretação de sons ou palavras. Estas competências
são relevantes na compreensão da palavra falada, na
leitura e na escrita. Nesta investigação, para coleta de
dados, foi utilizado o protocolo de avaliação de habilidades cognitivo-linguísticas (PAHCL), utilizando-se
apenas as provas do processamento auditivo da versão
individual e o Inventário de identificação de sinais
disléxicos em pré-escolares: percepção do professor
(ISD-P), que objetiva identificar sinais de transtorno
de leitura em pré-escolares por meio da percepção
dos professores. Foram investigadas 15 crianças da
pré-alfabetização, com idade de cinco anos, de uma
creche localizada no município de João Pessoa – PB,
de ambos os sexos e uma docente responsável pelas
crianças. Diante da aplicação dos instrumentos observou-se que os estudantes obtiveram uma pontuação
abaixo do esperado nas provas de memória direta de
dígitos, repetição de palavras e pseudopalavras e no
ritmo. Evidenciando com isso uma dificuldade no
processamento auditivo. Em um estudo similar, com
45 escolares do 2° ano e fazendo uso do mesmo instrumento utilizado na presente pesquisa, constatou-se
que tanto a habilidade de discriminação fonêmica
quanto a repetição de pseudopalavras estão correlacionadas com a fluência e acurácia de leitura. O que
reitera a importância do processamento auditivo para
a leitura eficiente, tornando necessária a estimulação
das habilidades inerentes ao processamento auditivo, uma vez que estas podem comprometer a leitura
competente. Diante da complexidade e da relevância
da temática, nota-se que os resultados advindos deste
trabalho poderão contribuir na construção de práticas
preventivas e interventivas no processamento auditivo, uma vez que o conhecimento sobre essa variável
poderá contribuir para o entendimento e a reflexão
acerca dos processos inerentes à aquisição da leitura,
subsidiando os profissionais de saúde e educação em
sua atuação.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Intervenção psicológica em escolas:
construção de novas práticas em
psicologia e saúde
Autor: Mônica Cintrão França Ribeiro
Resumo
A educação brasileira tem enfrentado, nas últimas décadas, vários problemas e isso se refletiu nos serviços
de atendimento psicológico oferecidos pelos estabelecimentos de saúde à população. Estudos demonstram
que a maior parte dos encaminhamentos feitos pelas
escolas ou pelos profissionais de saúde, para Unidades
Básicas de Saúde ou Clínicas-Escola, referem-se não
a distúrbios emocionais ou problemas familiares, mas
a problemas no processo de escolarização do aluno em
relação à aprendizagem da alfabetização e às dificuldades de comportamento. Da mesma forma, o atendimento psicológico oferecido tem se reduzido a um
fenômeno psicopatológico: concepção que entende a
queixa escolar como um problema individual, de pertencimento à criança encaminhada. São recentes as
pesquisas que apontam um trabalho de atendimento
visando a não redução dos problemas de escolarização
à criança, mas aos funcionamentos escolares e sua
relação com o fracasso e sofrimento dos alunos. Esse
trabalho tem dois objetivos: apresentar os critérios de
triagem para serviços de atendimento psicológico às
queixas escolares em duas clínicas-escola na cidade
de São Paulo; e apresentar o atendimento realizado
por estagiários do último ano do curso de Psicologia
às queixas escolares no âmbito da clínica, com foco no
indivíduo atendido em sua relação com a instituição
escolar. Foram desenvolvidas oficinas psicopedagógicas com alunos do ensino fundamental I de uma
escola pública na região norte da cidade de São Pau-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
125
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
lo, no período de março a junho de 2011, visando à
desconstrução da queixa e o fortalecimento interno da
criança, retirando-a da condição de não aprendente
em que foi colocada e resgatando o seu desejo de
aprender por meio de outro modelo de vinculação. Aos
professores foram propostas oficinas temáticas para
reflexão sobre as dificuldades vivenciadas no cotidiano escolar e a construção coletiva de estratégias para
sua superação. Além disso, foram realizados plantões
psicológicos na escola como proposta de atendimento
às demandas cotidianas da comunidade escolar. Os
resultados indicaram uma mudança na dinâmica do
fazer pedagógico na escola a partir de uma perspectiva de intervenção em psicologia que possibilita a
construção de uma rede mais significativa tanto na
ação do psicólogo como no funcionamento da comunidade escolar em seu cotidiano. Além disso, indicaram procedimentos de atendimento à queixa escolar
na perspectiva que se opõe às práticas tradicionais,
considerando os pertencimentos sociais para além do
próprio sujeito ou grupo familiar. Por fim, apontaram
a necessidade e importância de investigar-se, na
avaliação e intervenção psicológica, a rede de relações que se estabelecem no cotidiano escolar, muitas
vezes produtoras de funcionamentos adoecidos e
adoecedores, interferindo diretamente na constituição
psicológica do aluno. Com isso abre-se a perspectiva
de novos estudos para se investigar o funcionamento
escolar e a dinâmica das relações por meio do resgate
e construção do significado do aprender.
corporados na dinâmica das representações. Assim,
são instrumentos, ao mesmo tempo, de leitura e de
construção da realidade. Dentre os resultados destacam-se os indicativos de que os agressores tendem ser
percebidos como tendo superioridade física, estética
e socioeconômica; a pertencer a famílias estruturadas e não violentas, e que valorizam os atributos de
extroversão e “liderança” de seus membros. Situação
inversa marca o perfil do agredido, cuja tendência é a
proveniência de meios com restrito poder aquisitivo,
famílias desfeitas ou desestruturadas, e em situações
de risco. No exame dos traços de personalidade do
agressor destacaram-se as características de expansividade, inteligência, tendência à dominação, desenvoltura, confiança e ousadia. Já os agredidos foram
caracterizados, basicamente, pelo traço da timidez.
A partir dos dados, cabe refletir sobre o equívoco
possível de que os agressores tendam a advir, via de
regra, de famílias violentas, desestruturadas e que por
frustração e conflitos buscam vitimar pares, necessitando de ajuda, tanto quanto o agredido. Além disso,
as características do agressor parecem ser valorizadas
por toda a sociedade e não apenas pelos iguais, e os
atributos opostos (falta de coragem, medo, receio da
rejeição) são desqualificados socialmente, potencializando as dificuldades de enfrentamento da vítima.
Se considerado que os jovens tendem a reproduzir
comportamentos de modelos socialmente valorizados,
inclusive por aprendizagem vicária, pode-se com­
preender o comportamento do agressor como fonte de
inspiração para jovens, particularmente em idade escolar, e como fator interveniente no aumento progressivo das práticas de bullying. Cabe, ainda, considerar
que a timidez, e não os estigmas, seja o aspecto mais
contributivo à vitimização, apontando direções para
intervenções precoces em âmbito escolar. De outra
parte, as soluções idealizadas para a contenção da
violência dão conta de que a única forma de cessá-la é
inverter as posições de força e poder, embora isso não
derive, necessariamente, em inverter também o papel
do agredido em agressor. Nessa direção, os agredidos poderão: a) conquistar prestígio e popularidade
superiores as do agressor; b) revidar o ataque; ou,
principalmente, c) contar com o apoio de outro mais
forte e/ou mais velho, indicando que, no imaginário
social, as vítimas precisam, efetivamente, da ajuda
de alguém para cessar a agressão. Nesse sentido,
para além das ações preventivas e de sensibilização
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Reconsiderações sobre o agressor e o
agredido nas práticas de bullying
Autor: Olga Araujo Perazzolo
Resumo
O trabalho constitui uma abordagem teórica derivada
de investigação sobre representações sociais relativas
a práticas de bullying. O processo envolveu o estudo
de filmes dirigidos predominantemente à faixa adolescente, por meio da análise de conteúdo, conforme
proposições de Bardin. O embasamento metodológico
pautou-se no suposto de que dos filmes ecoam vozes
amplificadas das representações sociais, timbradas
com tons artístico-midiáticos e socioeconômicos, rein-
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
para relações mais empáticas, há que refletir sobre
ações repressivas/punitivas adotadas, em especial, no
espaço escolar, atingindo agressores e agredidos de
forma indiscriminada e que não defendem o agredido
de forma a assegurar-lhes a devida proteção.
a aprendizagem. Acreditamos que toda a equipe se
beneficie com a presença do profissional psicopedagogo que venha contribuir com os conhecimentos sobre
seu objeto de estudo, o processo de aprendizagem
humana, almejando uma atenção transdisciplinar,
como sugerido nos Cadernos da PNH – Política
Nacional de Humanização. Por meio de visitas formalmente agendadas, conversas com os profissionais
que trabalham dentro do hospital e observações de
suas práticas, levantamos questões sobre o assunto e
discutimos com outros profissionais. Para tanto, fez-se necessário registrar essa experiência em forma de
texto acadêmico, a fim de que esse trabalho pudesse
colaborar para a formação específica do psicopedagogo e colaborar também para a profissão de um modo
geral. Além disso, revimos e ampliamos o entendimento de quais habilidades podem ser trabalhadas
dentro do hospital, sugerindo autores e caminhos a
serem seguidos seguramente, desde norteamentos
para fazer o diagnóstico dinâmico, com sugestões de
intervenções lúdicas e de ordem prática por meio de
equipamentos digitais e jogos eletrônicos. Concluí­
mos nosso trabalho com a certeza da importância
do psicopedagogo enquanto profissional atuante na
equipe hospitalar e apresentando alguns parâmetros
para a atuação psicopedagógica focada na utilização
de equipamentos e jogos digitais dentro do ambiente
hospitalar e que amplia a ideia da Psicopedagogia
como uma área do conhecimento pertencente às áreas
da Saúde e Educação e necessária ao atendimento da
criança e adolescente internados.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Psicopedagogia Hospitalar:
equipamentos digitais e aprendizagem
Autor: Patricia Midões de Matos
Coautor: Flávia Teresa de Lima
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi esclarecer a atuação do
psicopedagogo no hospital. A indagação inicial foi
saber como se estabelece a Psicopedagogia Hospitalar
na prática. O desenvolvimento desse texto se deve a
leitura e análise da experiência dos profissionais que
estão ligados à classe hospitalar e à brinquedoteca,
alguns sendo psicopedagogos de formação. Além dos
cuidados com a saúde, uma criança ou um adolescente
internados precisam também de uma atenção com
a continuidade de seu processo de aprendizagem.
Assim, auxiliados por profissionais inerentes à área
da saúde, como enfermeiros, médicos, psicólogos,
terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, dentre
outros, apreciamos também a importância do psicopedagogo no ambiente hospitalar e o seu trabalho
com atividades diversificadas que vêm colaborar na
recuperação da criança e do jovem em benefício de
sua saúde, desenvolvendo atividades preventivas de
ordem cognitiva e afastando dessa forma possíveis
entraves no processo de aprendizagem que possam
se instalar durante o tratamento de saúde. Acreditamos que, mesmo no ambiente hospitalar, os objetos
tecnológicos e recursos digitais podem estar presentes
como instrumentos de atendimento psicopedagógico.
Estes equipamentos, muitas vezes, já fazem parte
do cotidiano da vida da criança, desde os celulares,
passando por brinquedos como legos-eletrônicos,
Digital System (DS), até os computadores portáteis.
A utilização destes recursos pode ser uma forma de
inclusão digital e uma oportunidade de desenvolver a
capacidade cognitiva da criança, pois, todos os equipamentos, desde que bem utilizados, podem favorecer
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Desempenho de alunos
de oitava série no jogo Sudoku
Autor: Patrícia Thomásio Quinelato
Coautor: Lino de Macedo
Resumo
É conhecido o alto índice de reprovação de alunos da
Escola Fundamental II e Ensino Médio em avaliações
de sistema na área da Matemática. A considerar apenas variáveis cognitivas referentes aos alunos, pode-se
supor que suas dificuldades se devem ao domínio
insuficiente dos conceitos relativos aos conteúdos
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
verificados, bem como aos insuficientes recursos de
raciocínio na compreensão e na resolução dos problemas propostos. Esta pesquisa analisa a segunda
variável, ou seja, observou modos de resolução de
um problema, em que a dimensão lógica das relações
envolvidas é mais desafiadora do que os conteúdos
ou informações requeridas para sua solução. Tratou-se, no caso, de se propor a resolução de partidas
do jogo Sudoku em duas versões simples, mas que
requeriam o uso do raciocínio por exclusão. O objetivo da pesquisa é, assim, descrever o desempenho
de alunos de oitava série da Escola Fundamental,
pública, na resolução de 20 jogos Sudoku, sendo 16
em uma matriz 4x4 e os restantes em matriz 6x6. O
Sudoku é um jogo de regra, que implica completar
números, sem repetição do mesmo número nas linhas,
colunas e blocos de uma matriz. Trata-se de um jogo
lógico que supõe o uso do raciocínio de exclusão para
se decidir, observando e coordenando informações,
qual é o único número pertinente a cada uma das
casas da matriz. Supõe, por isso, respeitar o objetivo
e a regra do jogo, mas igualmente aprender a regra
lógica, ou seja, o procedimento de sua resolução.
Jogos de regra são instrumentos psicopedagógicos
que ocupam lugar especial nos processos de desenvolvimento e, consequentemente, na construção
do conhecimento (Piaget, 1980/1996). No caso do
Sudoku, o desafio é observar e coordenar aspectos
espaciais (lugar dos números já colocados) com aspectos temporais (preencher primeiro as casas para
as quais há informações suficientes) como condição
para identificar ou descobrir o único número de cada
uma das casas vazias. O procedimento de coleta de
dados consistiu em, primeiro, apresentar o objetivo e
as regras do Sudoku aos alunos. Segundo, em duas
aulas, propor a resolução de 16 jogos Sudoku 4x4,
apresentados em folhas de papel para ser resolvidos
individualmente pelos alunos, que as devolviam para
a professora quando concluída a tarefa. Em seguida, a
professora comentava os erros cometidos e renovava
o objetivo e as regras do jogo. Terceiro, nas quatro
aulas seguintes, foram propostos mais quatro jogos,
matriz 6x6, sendo um para cada aula, obedecendo-se
os mesmos critérios. Os 16 jogos Sudoku 4x4 foram
resolvidos por 13 alunos e os quatro jogos 6x6 por
12 alunos. Nos jogos 4x4, verificou-se que nenhum
aluno resolveu corretamente os 16 jogos, mas que a
maioria dos alunos (N=11) resolveu de 12 a 15 jogos.
O mesmo não se verificou nos quatro jogos Sudoku
6x6. Dos 12 alunos, nove não conseguiram resolver a
metade dos jogos, e, além disso, todos necessitaram de
uma aula inteira para trabalhar com apenas um jogo.
Tal fato chama a atenção quando se considera que,
pela idade e série escolar deles, se poderia esperar
um bom desempenho mesmo em jogos de uma matriz
9x9. Aliás, era esta a princípio a intenção do trabalho: começar com matrizes simples para fixar bem o
objetivo, as regras do jogo e o uso da exclusão para
deduzir o número nas casas vazias, para, finalmente, analisar o desempenho dos alunos em jogos 9x9.
Mas, diante dos resultados observados para os jogos
6x6, se decidiu concluir a pesquisa nesse ponto. Esta
pesquisa permite concluir que a variável raciocínio
pode explicar o baixo desempenho na aprendizagem
de conteúdos de Matemática, sugere que se dê o devido valor aos processos de aprendizagem de formas
lógicas de pensar e que o jogo pode ser um recurso
útil para isso.
Tema: Vida Adulta
Título: Aprendizagem de jovens e adultos
no ensino médio integrado
Autor: Rejane Bezerra Barros
Coautores: Fábia Maria Gomes de Meneses;
Francy Izanny de Brito Barbosa Martins
Resumo
O campo de estudo sobre a aprendizagem de jovens
e adultos apresenta-se como importante no cenário
acadêmico, à medida que se constitui numa possibilidade de resposta às indagações feitas pela maioria dos
educadores que atuam no Ensino Médio Integrado.
Nesse sentido, entende-se como um desafio para os
professores atuarem nessa modalidade sem ter tido
em seu processo formativo o embasamento teórico-prático necessário para lecionar nessa modalidade de
ensino. Trabalhar com Educação de Jovens e Adultos (EJA) requer uma atenção especial do educador
para a importância da reflexão e da ação no sentido
de constituir uma educação inclusiva, com tomada
de decisões fundamentadas cientificamente nesse
complexo campo da educação escolar. O presente
trabalho é fruto de reflexões acerca da necessidade de
espaços formativos para essas discussões no interior
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
das escolas, apresentando uma introdução ao estudo
do desenvolvimento da aprendizagem, necessária
para a compreensão do tema em questão. Apresenta
diferentes abordagens da Psicologia relativas ao desenvolvimento da aprendizagem humana, buscando
caracterizar a aprendizagem no sujeito jovem e adulto.
Procurou-se privilegiar a discussão baseada na Teoria
Histórico-Cultural como um dos referenciais para
análise, sob a orientação filosófica do materialismo
histórico-dialético, uma vez que essa abordagem
concebe a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio cultural, possibilitando o
caráter ativo da aprendizagem enquanto sujeito do
conhecimento. Enfatiza-se a construção do conhecimento como uma interação do sujeito com a realidade,
considerando-se diversos fatores intervenientes ao
processo de construção do conhecimento, como: motivação, formação de conceitos, memória, inteligência,
percepção, linguagem, desejo de aprender, dentre
outros fatores considerados importantes para a promoção da aprendizagem. Desse modo, busca-se uma
reflexão sobre o processo de aprendizagem de jovens
e adultos como sujeitos que estão inseridos no ensino
integrado da educação profissional e tecnológica, com
a finalidade de orientar e proporcionar a formação
teórico-metodológica necessária aos profissionais da
educação, na perspectiva da formação continuada.
Salienta-se que é preciso fomentar a discussão entre
os educadores nas instituições de ensino sobre esses
sujeitos que retornam ao ambiente escolar em busca
da retomada dos estudos e do resgate da dignidade
humana, trazendo consigo uma carga significativa de
experiências de vida e, na maioria dos casos, expe­
riências laborais que precisam ser consideradas pela
instituição educativa. Faz-se necessária a promoção
de debates, aprofundamentos teóricos e trocas de
experiências na perspectiva da formação continuada,
para ampliar as discussões sobre a temática, especialmente junto a educadores da modalidade EJA. Busca-se conhecer as especificidades da aprendizagem do
jovem e do adulto e como esses sujeitos aprendem,
a partir de uma perspectiva ampla, entendendo-se que em cada período de vida a aprendizagem
acontece diferentemente, uma vez que depende da
inter-relação entre o desenvolvimento cognitivo,
afetivo, social, cultural e orgânico. Entende-se que
a ação docente deve estar fundamentada teórica e
metodologicamente para ampliar o conhecimento
sobre a realidade desses sujeitos, visando contribuir
para construções significativas para o aprender do
estudante, considerando-o como um ser histórico-social que requer uma formação humana e integral
por meio do ensino de qualidade na perspectiva da
integração entre Ensino Médio, Educação Profissional
e Educação de Jovens e Adultos.
Tema: Transtornos associados ao desenvolvimento
e à aprendizagem
Título: Síndrome de Tourette:
do diagnóstico ao conhecimento
Autor: Renata Pereira Martins Giovannini
Resumo
A Síndrome de Tourette é uma síndrome caracterizada
por tiques (espasmos) motores e vocais, não necessariamente ao mesmo tempo. Os tiques surgem por volta
dos sete anos, idade escolar da criança. A criança que
tem a síndrome pode apresentar Transtorno Obsessivo
Compulsivo (50% dos casos), Distúrbio Hiperativo e
Déficit de Atenção, TDAH (36% dos casos). A neuro­
ciência, juntamente com a neuroaprendizagem, são de
grande valia àqueles que convivem com essa criança.
O presente artigo relata a maneira pela qual pedagogos e psicopedagogos, por meio do conhecimento da
Síndrome de Tourette, podem ajudar a criança portadora da síndrome em seu desenvolvimento cognitivo
e emocional, possibilitando sua inserção, tanto na
possibilidade do aprender, quanto no seu processo
de socialização. Faz-se necessária essa compreensão como mecanismo de intervenção, para o melhor
preparo dos profissionais envolvidos no processo de
neuroaprendizagem. As respostas obtidas neste trabalho confirmam que essa intervenção e orientação
aos profissionais é de grande valia para a melhora e
inserção dessa criança no meio social.
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129
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
impulsionado muitos pais a cobrarem de seus filhos
excelência no desempenho escolar, e, algumas vezes,
essa expectativa não é correspondida, fator que leva
essas crianças a passarem por diversos especialistas,
que por sua vez sentem a necessidade da avaliação
complementar de um psicopedagogo. Pensando nisso,
a pesquisa priorizou entender se o motivo da consulta
ou queixa inicial realmente condizia com o resultado
do diagnóstico, bem como investigar o tipo de atenção
e a modalidade de aprendizagem de cada criança
atendida. No período estabelecido, foram atendidos 29
casos que se enquadram nos critérios desta pesquisa.
Essas crianças estavam cursando entre a primeira a
quinta série do Ensino Fundamental. A queixa é o
motivo da consulta, da solicitação de avaliação que,
segundo Rubstein, é o eixo condutor da investigação psicopedagógica. No que se refere à atenção,
Montel e Seabra demonstram em seus estudos que
a seletividade na atenção é fator fundamental para o
processamento e o armazenamento da informação em
qualquer processo de aprendizagem. Sobre a modalidade de aprendizagem, Fernández expressa que ela
representa a organização de um conjunto de aspectos,
da ordem da significação, da lógica, do simbólico e da
corporeidade. A pesquisa apontou que a predominância da queixa foi “problemas de atenção”. No estudo
relativo ao tipo de atenção, a predominância foi da
baixa seletividade e, com relação à modalidade de
aprendizagem, a maioria estava apresentando o tipo
hiperassimilativa, que, segundo Fernandéz, está relacionada com a internalização prematura de esquemas,
dificultando a acomodação. A partir da análise desses
aspectos foi possível identificar que o principal motivo
das queixas recebidas é condizente com os resultados
obtidos durante o diagnóstico.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: A prática psicopedagógica em
clínica-escola – Relato de experiência no
Núcleo de Psicopedagogia da Faculdade
União das Américas – UNIAMÉRICA
Foz do Iguaçu - PR
Autor: Rita de Cássia Sawaya
Coautor: Dimara Marques Ribeiro
Resumo
O Núcleo de Psicopedagogia da Faculdade União
das Américas - UNIAMÉRICA iniciou a prestação de
serviços em psicopedagogia no mês de março de 2007,
com o objetivo de atender crianças e adolescentes
da comunidade local e também os acadêmicos dos
diversos cursos de graduação da instituição. O núcleo
funciona em conjunto com a clínica de Psicologia
que também iniciou os atendimentos na mesma data,
desde então, o trabalho ocorre em parceria entre os
profissionais dos dois setores, com constante troca de
ideias e informações sobre a necessidade de avaliação
e acompanhamento. O trabalho específico do Núcleo
de Psicopedagogia está voltado para o diagnóstico e
a intervenção especializada nos casos de dificuldades de aprendizagens, com o objetivo de propiciar
um espaço de reconhecimento das potencialidades
individuais, que servem de impulso para superação
das dificuldades. Os atendimentos ocorrem através
dos acadêmicos que realizam estágio supervisionado,
provenientes dos cursos de graduação em Psicologia
e/ou Pós-graduação em Psicopedagogia. Os estagiários são supervisionados por professores com formação em Psicopedagogia e experiência clínica na área.
Ao longo dos cinco anos de funcionamento, o núcleo
já acumulou dados significativos relativos ao atendimento psicopedagógico nas dificuldades de aprendizagem, dados esses que merecem ser compartilhados
para ampliar as discussões e troca de ideias a respeito
do atendimento psicopedagógico em clínicas-escola,
sendo esse o objetivo principal deste artigo. Para realizar este estudo, optou-se por analisar os diagnósticos
psicopedagógicos realizados no período de julho de
2007 a dezembro de 2009, tendo como público-alvo
os pacientes/clientes que tivessem entre 6 e 11 anos
de idade e procuraram a clínica por apresentarem
dificuldades de aprendizagem. De acordo com
Moojen e Costa, a sociedade competitiva atual tem
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Intervenção coletiva em nível
preventivo: aplicação em escola pública
Autor: Roselaine Pontes de Almeida
Coautor: Toledo-Piza CMJ; Miranda MC
Resumo
O presente trabalho é parte de uma pesquisa de
mestrado, de caráter mais abrangente, que objetivou
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
130
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
adaptar o modelo de Resposta à Intervenção (RTI)
ao contexto educacional brasileiro. A RTI é uma
abordagem que visa prevenir e remediar dificuldades
de aprendizagem, baseada na identificação precoce
das dificuldades por meio da resposta dos alunos à
instrução de alta qualidade. Na primeira etapa do
estudo, objetivou-se capacitar professoras de primeiro
ano do Ensino Fundamental para aplicarem intervenções coletivas. Na segunda etapa, essas profissionais
aplicaram a RTI em suas próprias salas de aula. Para
atender aos objetivos da primeira etapa, foi elaborado
um programa de capacitação que visou promover a
reestruturação didática das aulas voltadas à alfabeti­
zação, com vistas a novas práticas pedagógicas ba­
seadas na instrução explícita e sistemática das habilidades de leitura, incluindo a manipulação mental de
elementos linguísticos correspondentes à consciência
fonológica, ampliação do vocabulário, reconhecimento de letras e desenvolvimento de habilidades
lexicais. Participaram dessa etapa 2 professoras de
uma escola pública do município de Guarulhos - SP. A
capacitação ocorreu na escola, durante todo o mês de
fevereiro/2011, na sala e horário destinados à Hora de
Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) e contemplou
o esclarecimento e a discussão de conceitos e estratégias pedagógicas, a execução de atividades práticas e
a elaboração de um cronograma de atividades a serem
aplicadas pelas docentes durante a implantação da
intervenção coletiva. Durante os encontros, além da
leitura de textos e o debate de ideias, houve momentos
para a exposição de situações pessoais das professoras em sala de aula, como forma de compartilhar
experiências de sucesso e fracasso. Após o período de
capacitação, cada professora aplicou a intervenção
coletiva em sua própria sala de aula. Assim, a RTI foi
aplicada a 51 crianças de duas salas de 1° ano, denominadas turmas A e B: 26 alunos eram da Turma A,
14 meninas e 12 meninos (média de idade=6,4 anos,
DP=0,49) e 25 alunos eram da Turma B, 11 meninas
e 14 meninos (média de idade=6,2 anos, DP=0,28).
As crianças foram avaliadas, antes e após o período
de intervenção, com a versão brasileira do The Reading Decision Test, por meio dos subtestes Leitura de
Letras e Leitura de Palavras. O desempenho escolar
em leitura, escrita, linguagem oral e matemática foi
caracterizado através do Protocolo de Caracterização
de Desempenho Escolar dos Alunos, preenchido pelas
professoras. Para análise dos dados foram realizados
cálculo de z-scores e gráficos, além da análise de
frequência para os resultados do Protocolo de Caracterização de Desempenho Escolar dos Alunos. Esse
conjunto de dados evidenciou que 23,7% das crianças
da Turma A (n=6) e 16% (n=4) das crianças da Turma B apresentaram dificuldades de aprendizagem.
Esses resultados indicam que a RTI mostrou-se um
modelo de trabalho capaz de promover a triagem dos
estudantes que apresentaram problemas acadêmicos,
indicando a necessidade de intervenção precoce. O
estudo contribui para a ação psicopedagógica, uma
vez que disponibiliza um modelo de intervenção coletiva que pode ser aplicado em diferentes instituições.
Aponta, ainda, para a possibilidade de atuação do psicopedagogo na instituição escolar enquanto formador
de educação continuada dos professores, promovendo
debates e reflexões sobre a importância do trabalho
preventivo relacionado às dificuldades de aprendizagem, além de orientar a equipe técnico-administrativa
no sentido de propiciar infraestrutura de apoio aos
docentes, para que esses se sintam preparados para
trabalhar de forma diferenciada, buscando auxílio e
recorrendo à formação continuada como forma de
aperfeiçoamento de seu trabalho na escola.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Avaliação neuropsicológica das
funções executivas: planejamento e inibição
numa perspectiva psicopedagógica
Autor: Sandra Guimarães
Resumo
O presente trabalho abordou a importância da avaliação neuropsicológica em criança com avaliação de QI
entre 70 e 90, sujeito diagnosticado com dificuldade
de aprendizagem na categoria limítrofe/Borderline
cognitivo, o termo pode estar vinculado a um déficit
nas funções executivas e a explicação se situa em
um nível mais primário: funcionamento executivo.
O termo Limítrofe/Borderline Cognitivo é muito
utilizado por médicos, psicólogos e psicopedagogos
para indivíduos que apresentem um QI entre 70 e
90. Não existe nenhuma definição, que possa identificar os indivíduos com inteligência limítrofe como
pertencentes a uma entidade nosológica definida. O
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
objetivo deste estudo foi estudar o psicodinamismo
do sujeito com dificuldade de aprendizagem; analisar
o seu modo de relação com os objetos e situações de
aprendizagem; identificar as possibilidades de desenvolvimento do sujeito. Pesquisa qualiquantitativa,
utilizando os seguintes recursos: história de vida;
entrevista; observação; tarefas neuropsicológicas.
O presente trabalho apresenta o caso de um menino
com 10 anos de idade, frequenta regulamente a escola
da rede particular, reprovado uma vez na primeira
série do Ensino Fundamental. A queixa inicial é a
manifestação de reações violentas com os colegas e
professora, falta de atenção, não copia e não realiza
as tarefas propostas. As relações familiares são tensas
e ocorrem principalmente quando as questões se referem às atividades escolares. A Psicopedagogia como
área de conhecimento que trabalha com as relações
de aprendizagem buscou apoio na Neuropsicologia
promovendo a avaliação da área do planejamento:
meta proposta ao indivíduo para elaborar e por em
execução um plano estrategicamente organizado de
sequências e ações, e a avaliação da área de inibição
que é a interrupção de uma determinada resposta
que geralmente é automática. O estudo revela a importância da avaliação neuropsicológica das funções
executivas e do comportamento sócio adaptativo da
criança referente ao afeto e a estimulação. Há prejuízos na organização, planejamento, eficiência da
memória, capacidade de julgamento crítico e senso
comum, gerando inadequações nas interpretações
e na condução das questões sociais. A avaliação
neuropsicológica é fundamental no desempenho das
atividades da vida diária no aspecto individual, social
e escolar e de alta relevância nas interações sociais.
Propiciou o desenvolvimento de um programa próprio
de intervenção e de novas estratégias de avaliação
respeitando a natureza lúdica da criança.
Resumo
Este trabalho relata a experiência do projeto desenvolvido na APAE de Estância Velha – RS e tem como
público alvo os educadores da rede regular de ensino.
Consiste em um projeto chamado “Grupo de Apoio
a Diversidade Escolar”, com encontros mensais, no
qual, o principal objetivo é pensar a pluralidade dentro
do espaço escolar e repensar as intervenções nestas
demandas. Visa, através das trocas de experiências,
estudos e reflexões, a construção de uma docência
com olhar receptivo às singularidades e, portanto,
inclusivo. Que compreenda a inclusão não como
algo relacionado apenas à integração de alunos com
deficiência explícita, mas sim, como o acolhimento,
a compreensão e o respeito à diversidade inerente
à subjetividade humana. Também atua na meta de
constituir ações de enfoque sistêmico que visem
possibilitar o processo de aprendizagem e desenvolvimento do corpo discente. O “GADE” iniciou em 2005
como GAI (Grupo de Apoio à Inclusão), objetivando
desenvolver um trabalho voltado ao apoio ao professor, que recebia alunos com deficiência intelectual
e/ou múltipla, encaminhados pela APAE. Desde então, passou por significativas transformações, especialmente porque as construções, possibilitadas pelo
trabalho, levaram o grupo a perceber que os desafios
que se apresentavam ao fazer do professor, não diziam respeito apenas ao atendimento dos alunos com
deficiência. Esta mudança na percepção possibilitou
a ampliação do “olhar” lançado à realidade escolar.
Se antes a leitura feita era de que as dificuldades no
trabalho se deviam ao fato de os alunos apresentarem
necessidades educativas especiais, agora se passa a
perceber que grande parte dos alunos possui necessidades educativas especiais, não pela deficiência
marcada e diagnosticada, mas pela diversidade que
os constitui. Baseamos-nos no que diz a Declaração
de Salamanca (UNESCO, 1994) sobre o conceito de
Necessidade Educativas Especiais, que abrange todo
educando cujas necessidades envolvam deficiência ou
dificuldade de aprendizagem. Conforme Mader (apud
Mantoan,1997), a diferença é inerente ao ser humano,
e reconhecendo a diversidade como algo natural, em
que cada ser pode usar de seus direitos coletivos na
sociedade, surge o conceito, por nós também adotado,
de Inclusão. Estudos estatísticos sobre os resultados
obtidos a partir do trabalho do GADE ainda não foram
realizados. Contudo, é possível apontar como um re-
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Grupo de Apoio a Diversidade Escolar
(GADE): tecendo novos olhares para as
demandas escolares
Autor: Sandra Mára Bueno De Almeida
Coautores: Cristine Marques Blumm;
Melissa Pires; Ana Alice Rezende
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
sultado qualitativo a mudança no olhar lançado aos
desafios que a escola e os educadores encontram em
seu fazer diário. Anteriormente a opinião circulante
era a de que os desafios advinham dos alunos chamados “de inclusão” (referência feita aos alunos que
possuíam alguma deficiência explícita e encaminhados à rede regular de ensino). Tais concepções foram
desconstruídas, e deram lugar ao entendimento de
que as demandas desafiadoras se relacionam muito
mais diretamente com a diversidade de que é constituída a população escolar, do que com a chegada
de alunos acometidos de alguma patologia. Isto fica
evidenciado pela própria trajetória do GADE, cuja
mudança de nome (de GAI para GADE) assinala uma
alteração no foco do trabalho proposto, refletindo em
transformação também no posicionamento da escola
sobre sua responsabilidade diante das demandas
diversas que seus alunos apresentam no processo de
aprendizagem e no papel e comprometimento do educador na visão das possibilidades de cada educando.
(disfunção) na habilidade que envolve “decodificação” (figura-fundo, interação bineural e integração
auditiva). Portanto, neste cenário, orientou-se que B
fizesse uma terapia fonoaudiológica específica para
Processamento Auditivo Central, conjuntamente ao
acompanhamento psicopedagógico, a fim de melhor
contribuir para o sucesso do tratamento. O presente
diagnóstico fonoaudiológico, dentre outros fatores,
orientou a práxis psicopedagógica para as questões
centradas na memória de trabalho. A intervenção psicopedagógica, inicialmente, centrou-se em facilitar a
B: 1) Reconhecer a sua modalidade de aprendizagem:
seus enfoques e estratégias, sob o ponto de vista prático. 2) Compreender as estratégias metacognitivas
utilizadas por ela. 3) Identificar os recursos de aprendizagem, ligados às modalidades de aprendizagem e
à metacognição que facilitaram e dificultaram a sua
relação com a aprendizagem, até então. 4) Oferecer
novos recursos, na relação com o aprender, a fim de
“quebrar os padrões antigos aprisionantes” e construir
novas condutas, na estrutura do aprender. A saudável
parceria entre as duas profissionais tem ampliado
sobremaneira as suas práxis, bem como sustentado
uma segurança em B, pois a mesma percebe uma
comunhão de postura e direcionamento para com seu
tratamento. O grau de ansiedade, insegurança pessoal
e baixa estima de B orientaram a psicopedagoga a
sugerir a B que iniciasse um auxílio psicoterápico,
pois tais variáveis estavam interferindo, significativamente, no tratamento. A sugestão foi muito bem
aceita pela paciente. Intentar uma conclusão deste
estudo é uma postura prematura. No entanto, é possível apontar resultados, até então, pois os mesmos
são evidenciados no contexto psicopedagógico e no
cotidiano profissional de B: 1) Melhoras na compreensão, análise e síntese “daquilo” que lê e ouve; 2)
Melhora em sua memória de trabalho; 3) Aumento
dos resultados quantitativos, em seu contexto universitário; 4) Melhor desempenho no trabalho; 5)
Reconhecimento e atuação das etapas operacionais,
em seu di-a-dia, pautadas nas modalidades de aprendizagens percebidas em si mesma; 6) Sustentação de
uma organização e disciplina na realização de tarefas,
nos diferentes setores. Com base em uma realidade
particular, o objetivo deste estudo está em demonstrar
a relevante parceria entre profissionais que comunguem do mesmo ponto de vista, frente às dificuldades
de aprendizagens, para facilitar e promover mudanças
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: A difícil ruptura de padrões de
aprendizagens deficientes: um estudo de caso
Autor: Sandra Meire de Oliveira Resende Arantes
Resumo
O presente trabalho focaliza a compreensão e contribuição do fazer psicopedagógico para a “difícil ruptura de padrões de aprendizagens deficientes”, em uma
estrutura de apreender e pensar o mundo, por parte de
um sujeito adulto que percebe, reconhece, sofre e tem
o desejo de transformar tais padrões de aprendizagem.
O sujeito em estudo é um adulto, aqui nomeado de B,
que procura os recursos psicopedagógicos, em função
de severas dificuldades, no âmbito da compreensão
textural e memória de trabalho. Tais dificuldades
ocasionaram inúmeras intercorrências, no setor profissional deste sujeito, com iminência demissional.
Os primeiros atendimentos, centrados no diagnóstico
psicopedagógico, sinalizaram aspectos deficientes na
estrutura do pensar, com expressão na oralidade de
B, que sugeriram à profissional solicitar uma Avaliação de Processamento Auditivo Central. A conclusão
da fonoaudióloga incluiu as observações iniciais da
psicopedagoga: os dados encontrados sugeriam falha
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
na relação com o aprender e com a aprendizagem.
Nesse sentido, almeja-se que esta proposta possa
contribuir para a formação do psicopedagogo, no que
tange a sua participação, especificidade e atuação, em
equipes multiprofissionais.
significado da vida, padrões de beleza, drogas, aborto
e sentimento de fracasso. Ouvir os alunos é parte do
trabalho na escola para que não ocorra a estigmatização dos mesmos por parte do corpo docente como
discute Patto. A demanda não possui em si um único
fator, mas uma multivariedade dos mesmos que pode
ser unificada a partir de diferentes categorias que se
intercalam. O trabalho foi proposto com o objetivo de
englobar todas as categorias: o desenvolvimento do
adolescente em seus aspectos psicossociais. Foram
realizadas 13 intervenções com dinâmica de grupo
cujo objetivo geral era gerar a reflexão nos alunos,
dar “voz” aos mesmos, proporcionar espaços propícios para a reflexão sobre a realidade circundante e
a capacidade de mudá-la ou de compreendê-la de
forma mais ampla. Numa dialética onde a construção
da realidade é feita por professores e alunos, um dos
objetivos é também desmitificar possíveis discursos
por parte dos docentes da instituição, discursos
que muitas vezes são intolerantes em determinados
contextos escolares, reduzindo a compreensão do
processo de adolescer. Foi observado pelo professor
de sociologia mudança na postura dos alunos, o qual
relatou que os mesmos se tornaram mais reflexivos sobre suas próprias posturas, levando em consideração
a alteridade e uma visão mais ampla sobre os acontecimentos e temas do dia-a-dia. O professor ainda
ressaltou que é de extrema importância que o aluno
perceba a si mesmo e que a partir desta percepção,
possa se desenvolver de forma mais humana, o que
reflete o desenvolvimento de habilidade que Minto
chama de habilidades socais. O autor ressalta que tal
desenvolvimento amplie os caminhos de intervenção
junto às escolas, visando sempre a busca de “lugares de encontro”, onde alunos e professores possam
refletir juntos sobre novas possibilidades de ensino
e de relações. Uma vez que o professor faz também
a reflexão, isto pode levá-lo a repensar a sua própria
postura docente e os alunos a pensarem sobre suas
posturas frente ao adolescer, percebendo que a escola
pode ser um lugar de encontro.
Tema: Infância e Adolescência
Título: A importância do espaço
de escuta na escola
Autor: Selma Aparecida Geraldo Benzoni
Coautor: Randal Alves dos Santos
Resumo
O psicólogo, dentro da instituição deve ter um “olhar
clínico”, levando em consideração a estrutura do seu
trabalho, que se dará junto a um campo amplo de relações e de interações complexas. Cabe ao psicólogo
na área escolar possibilitar um ambiente de escuta
e compreensão, sem que o foco interventivo seja esquecido. Tendo em vista que a intervenção buscará
sempre o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do
aluno, o olhar se dirige à escola como um todo, não
se fragmentando o corpo docente e discente, mas
sempre entendendo uma relação dialética, onde as
influências serão concebidas como recíprocas, isto é,
a ação realizada com um membro da instituição terá
reflexos na ação de outros. Este trabalho foi realizado numa ETEC do interior do estado de São Paulo,
como atividade de estágio em Psicologia Escolar. O
primeiro contato foi realizado com a coordenação da
escola, em seguida trabalhou-se junto aos professores
com o propósito de conhecer suas queixas, através
de conversa temática, levantaram-se questionamentos sobre a convivência entre alunos e professores e
entre alunos, bem como a falta de respeito às regras
internas da instituição. Foi designado pela instituição que o trabalho ocorresse junto aos alunos do 2º
ano do Ensino Médio (40 alunos), durante as aulas
de sociologia, com a presença do professor, com 50
minutos de duração. Primeiramente, solicitou-se aos
alunos que depositassem em uma caixa, papeis, sem
identificação, relatando quais assuntos gostariam de
discutir nos encontros; dentre os temas apontados
pelos alunos os que tiveram maior incidência foram: medo, amor, sexualidade, vestibular, amizade,
idealização dos professores para com os alunos, o
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
o nível independente, o que significa uma leitura
com fluidez, precisão e compreensão da maior parte
do texto; 34,3% ficaram no nível instrucional, o que
mostra uma leitura medianamente fluída, com dificuldades no reconhecimento das palavras e falhas na
compreensão e 13,1% ficaram no nível de frustração,
pois demosntram muitos erros de reconhecimento de
palavras e compreensão deficiente. Assim, 47,4% dos
participantes foram incapazes de alcançar um nível
de independência, sugerindo que estes alunos não
utilizaram um nível de processamento mais profundo,
uma vez que os itens acertados são os considerados
fáceis, favorecidos pelo efeito da previsibilidade8, que
é a tendência apresentada por cada palavra da frase de
ser previsível com base nas palavras circundantes. O
teste de Raven mostrou que 73,7% dos testados foram
classificados como definitivamente acima da média
na capacidade intelectual e 21,1% como intelectualmente médio. Apenas 2,6% foram classificados como
intelectualmente superior enquanto que 2,6% foram
classificados como definitivamente abaixo da média
na capacidade intelectual. Este resultado indicou a
presença de alunos no nível de frustração e abaixo
da média esperada para a idade. Isso sugere que
esses alunos deveriam ser incluídos em um processo
educativo com uma proposta que lhes assegurasse recursos e serviços educacionais especiais organizados
para apoiar, complementar e suplementar os serviços
educacionais, garantindo o desenvolvimento de suas
potencialidades. A necessidade de novos estudos é
evidente, principalmente quando se trata da educação inclusiva. Portanto, espera-se que a preocupação
voltada a tais problemas impulsione mudanças no sistema educacional, no intuito de se atingir um ensino
de equidade das séries iniciais ao ensino superior.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Compreensão leitora e raciocínio
lógico não verbal: busca por identificação
de alunos com necessidades educativas
especiais no ensino regular
Autor: Silas Ferraz
Resumo
A escola encontra-se diante de um novo paradigma
educacional que a conduz a uma ruptura organizacional. Necessitando adaptar-se para incluir e identificar
os alunos com necessidades educativas especiais,
rompendo com o conservadorismo, sem, no entanto,
ter clareza de como fazê-lo. Embora semelhantes, a
inclusão e a integração são teórica e metodologicamente divergentes. Na integração são os alunos que
se integram a escola e na inclusão o foco é deslocado
para a escola, que precisa estar apta para receber esse
aluno, que em alguns casos, já se encontra inserido na
escola, pois a tendência é a de se considerar também
os alunos com baixo desempenho como alunos de
inclusão. Assim, além da adaptação, a escola precisa
desenvolver uma forma diferenciada de avaliar. É
nessa premissa que se insere a avaliação formativa,
que em sua essência objetiva conduzir o professor a
uma reflexão sobre o que é o conhecimento e quão
sensível deve ser para poder avaliar o aluno. Essa
modalidade de avaliação se compõe sob três métodos
básicos: a observação, a tarefa e a entrevista clínica, os
quais permitem identificar as necessidades do aluno,
de famílias, da escola e dos professores, possibilitando
uma avaliação inclusiva. Neste foco, o presente estudo
objetivou buscar evidências de alunos com necessidades educativas especiais dentro do ensino regular.
Participaram do estudo 38 alunos, entre 10 e 12 anos
- matriculados no 6º ano do ensino fundamental de
uma escola da região metropolitana de Porto Alegre.
O estudo foi composto pelo teste de Cloze que avalia a
compreensão leitora e pelo teste de Raven que avalia
o raciocínio lógico não verbal. Para categorizar os
alunos, converteu-se a pontuação do Cloze em níveis
funcionais de leitura: Independente, funcional e frustração. O teste de Raven complementou a análise. A
correlação foi de r=0,397 e p=0,014 sendo estatisticamente significativo. A média na compreensão leitora
foi de 69,11 e dp=18,06. 52,6% dos alunos ocuparam
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Uma leitura psicopedagógica de
“O catador de pensamentos”
Autor: Siloe Pereira
Resumo
Grande número de estudiosos da educação tem
como preocupação central o desenvolvimento de
competências que possibilitem a crianças e jovens
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
se valerem da realidade imediata para transcendê-la,
potencializando processos psicológicos e ferramentas
para enfrentar as demandas que a vida lhes apresenta.
Tornam-se assim fundamentais as estratégias e os
recursos pedagógicos e psicopedagógicos a serem
utilizados em diferentes âmbitos psicoeducacionais.
Entre esses recursos figura a literatura infantil. Nesse
contexto, o presente trabalho faz uma análise da obra
literária O catador de pensamentos, de Monica Feth.
Levando em conta o texto e alguns elementos paratextuais, pauta-se em referenciais cognitivistas e socioin­
teracionistas, com apoio principalmente em Pozo e
Vygotsky, e em concepções psicanalíticas de Winnicott
e Bion. Aponta a leitura de O catador de pensamentos
como valioso instrumento psicopedagógico para favorecer ao leitor o alcance da necessária mobilidade
e flexibilidade de pensamento. Para tanto, desenha
fatores a serem considerados no trabalho psicopedagógico, particularmente quando voltado à família e à
escola na perspectiva do desenvolvimento de recursos
pessoais, grupais e institucionais, priorizando-os à recuperação de danos que possam ser identificados. As
proposições cognitivistas de Pozo, para quem os seres
humanos podem desenvolver equipamentos que lhes
permitem lidar de forma sofisticada com a realidade
imediata constituem elementos fundamentais; seres
humanos que podem se movimentar numa dança
incessante entre o passado, o presente e o porvir, reconstruindo vivências, antecipando acontecimentos,
projetando-se no futuro, construindo mundos possíveis e mesmo impossíveis, realizando no imaginário
saltos que pareceriam impensáveis. Também são úteis
as formulações de Vygotsky que tratam das funções
psicológicas superiores, entre as quais figura o pensamento, concebido como um mecanismo psicológico
altamente elaborado; um mecanismo desenvolvido
filogeneticamente pela espécie humana, similarmente
ao que ocorre com a criança na sua ontogenia, com
as mudanças qualitativas que gradualmente opera.
Na perspectiva psicanalítica, destaca-se Winnicott,
que concebe os termos objeto e fenômeno transicional
referindo-se a objetos e situações que povoam a tenra
experiência infantil, e argumentando que tais objetos
e fenômenos figuram numa área intermediária, povoada por elementos das realidades interna e externa.
O trabalho ainda se assenta nas teorizações de Bion,
o qual em sua teoria do pensamento caracteriza o
pensar como uma atividade resultante de dois im-
portantes processos mentais: o desenvolvimento dos
pensamentos e o desenvolvimento de um aparelho
capaz de pensá-los. Ou seja, o pensar se realiza para
dar conta dos pensamentos que se impõem à psique
para serem por ela apreendidos, transformados,
significados. E na sequência, destaca que a leitura
da obra oportuniza o avançar no estabelecimento de
relações mais complexas com a realidade, favorecendo
ao leitor descobrir-se como ser pensante, que porta
autonomia para desbravar a realidade, apropriar-se
dos pensamentos e transformá-los, construindo-se
autor, a exemplo da personagem principal da história.
Finalizando, o trabalho enfatiza a qualidade literária
da obra, que convoca ao exercício do pensamento:
sem dispor de elementos concretos de realidade, o
leitor vai deslizando pelo universo do imaginário. A
imaginação flui inaugurando novas possibilidades e
permitindo que o leitor torne seus os pensamentos
anunciados pelo autor do texto. E nessa vivência ele
vai construindo um novo texto em Coautoria, a múltiplas vozes: a do autor, a do leitor e as das tantas outras
pessoas com quem mantém interlocução.
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: Estimulação precoce e salas de
atendimento educacional especializado:
um estudo de caso
Autor: Sirlene de Faria Santos Zuim
Resumo
A partir da Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva, a Deficiência
assume novos rumos frente à Educação brasileira, o
que nos permite buscar caminhos e possibilidades
àqueles que até muito próximo lhes era negado o
direito de sobrevivência. Partindo desse princípio
este trabalho teve como objetivo por meio de pesquisa
bibliográfica e estudo de caso, apresentar os métodos e
técnicas existentes empregadas na estimulação precoce que podem trazer resultados significativos quando
utilizadas em programas multidisciplinares junto às
Salas de Atendimento Educacional Especializado
na rede pública de ensino, enquanto contribuição
para todas as crianças, mas também principalmente
àquelas que apresentam ou possam vir a desenvolver
alguma Deficiência. Este estudo seguiu as seguintes
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
etapas: Seleção dos sujeitos do estudo; Aplicação de
técnicas e métodos de estimulação; Depoimentos dos
professores e profissionais envolvidos, Organização,
análise e interpretação dos dados, o que confirmou
a necessidade dessa relação de proximidade entre
especialistas e professores do Atendimento Educacional Especializado, parceria que evidenciou de forma
definitiva neste trabalho, os benefícios e progressos
alcançados pelas nossas crianças.
a compatibilidade entre o nível de desempenho da
criança na escola e sua faixa etária e/ou escolaridade,
assim a proposta neste caso foi justamente avaliar as
condições de aprendizagem de uma criança do sexo
masculino, com 10 anos de idade e que frequentava
a classe especial há dois anos, sem que a mãe percebesse evolução em sua aprendizagem. Neste caso
foi necessário realizar sete sessões de cinquenta minutos, com periodicidade semanal. Como menciona
Rubinstein o processo de avaliação psicopedagógica
parte fundamentalmente da investigação, que implica em questionamentos, levantamento de hipóteses,
reformulações, mostrando-se sempre dinâmico. Para
estabelecer as hipóteses, neste caso, optou-se por
instrumentos variados, tais como os que avaliam a
consciência fonológica, que, segundo estudos de
Seabra e Capovilla, representa um tipo de consciên­­­
cia metalinguística, ou seja, a habilidade de desempenhar operações mentais a respeito do que é produzido
por mecanismos envolvidos na compreenção de sentenças; o diagnóstico operatório, que para Visca tem
como objetivo avaliar o estágio de operação mental
em que a criança se encontra, incluindo subtestes
de conservação, inclusão de classes, seriação, entre
outros e também a bateria de testes psicomotores, que
para Fonseca possibilita a compreensão de quais áreas
psicomotoras devem ser estimuladas para auxiliar
no desenvolvimento cognitivo. Os resultados obtidos
nessa avaliação demonstraram que existia realmente
uma defasagem cognitiva que poderia ser minimizada, se nas aulas regulares da classe especial fossem
estimuladas as áreas em defasagem, principalmente a
leitura, escrita e raciocínio lógico, através de métodos
diferenciados; além de ser de extrema importância
a orientação aos pais e o encaminhamento a profissionais que pudessm trabalhar as habilidades já
adquiridas, melhorando a autoestima da criança. A
partir da experiência obtida por meio dessa avaliação,
ficou clara a necessidade de propor um instrumento
padronizado, por meio do qual todos os profissionais
que lidam com as dificuldades de aprendizagem
possam desenvolver pelo menos uma comunicação
mais eficaz, favorecendo inclusive a orientação mais
adequada para a família e a criança.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Experiência Psicopedagógica Clínica
no Núcleo de Psicopedagogia da Uniamérica
– Faculdade União das Américas –
Um Estudo de Caso
Autor: Stevam Lopes Alves Afonso
Coautor: Bruna Carla Fidel Vicinguera;
Rita de Cássia Sawaya
Resumo
As queixas relativas às dificuldades de aprendizagem
cresceram significativamente nos últimos anos, mas os
sistemas municipais de atendimento seja nos setores
da Saúde ou Educação não dão conta de atender a
essa demanda. É neste contexto que se vê a importância da prática de estágio supervisionado, como ocorre
no Núcleo de Psicopedagogia da UNIAMÉRICA, que
vem prestando serviços à comunidade, atendendo à
população estudantil na avaliação e orientações relativas a estas dificuldades. Em atividade desde março
de 2007, tem um número significativo de casos estudados, com dados já sistematizados que merecem ser
apresentados. Dessa forma o objetivo principal deste
trabalho é apresentar como se dá a organização dos
atendimentos psicopedagógicos nesse núcleo através
da apresentação de um estudo de caso, apontando
o perfil de atendimento e orientação específica da
Psicopedagogia, com os instrumentos utilizados na
avaliação e a orientação específica após a avaliação.
O caso em questão chama a atenção pelo fato de
como a falta de orientação aos pais, tanto por parte
do sistema escolar, como do sistema de saúde pode
prejudicar o desenvolvimento da criança e retardar a
estimulação adequada. De acordo com Moojen e Costa
a avaliação psicopedagógica propõe-se a verificar
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
questões da aprendizagem, também para o uso de
estratégias de ensino diferenciadas, para a compreen­
são das diferentes modalidades de aprendizagem das
crianças. Ao receber orientação de um psicopedagogo adquire mais confiança nas ações que já está
desenvolvendo ou nas inovações validadas por este
orientador. A Psicopedagogia contribui para muitas
áreas do conhecimento, também, para melhorar a
qualidade da práxis docente na educação infantil,
por meio do trabalho de um orientador pedagógico
que tenha formação nesta área; na formação continuada dos docentes; na possibilidade da prevenção
e da intervenção precoce nos problemas de aprendizagem detectados no cliente da Educação Infantil,
pois assim evita-se que estes se agravem quando a
criança ingressar no Ensino Fundamental. Quando
o professor de Educação Infantil possui formação
em Psicopedagogia, esta contribui para a qualidade
de sua atuação, já que o profissional terá um olhar e
um fazer pedagógico mais apurado sobre sua práxis.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Um olhar psicopedagógico
para educação infantil
Autor: Teresinha de Jesus de Paula Costa
Resumo
A Educação Infantil é modalidade importantíssima no
processo de ensino e aprendizagem. Para atender sua
cliente necessita de profissionais qualificados, com
boa formação acadêmica, comprometidos com o fazer
pedagógico, bem orientados no desenvolvimento da
sua práxis (RCNEI, 1998). Contudo, ainda é uma área
desprezada por muitos que desconhecem a seriedade
do trabalho nesta área. A esse respeito Perrenoud
(2000) aponta dez novas competências para ensinar.
Com tantas atribuições será que, se os profissionais
que atuam na Educação Infantil possuírem formação
em Psicopedagogia ou forem orientados por quem
tenham tal formação poderão consolidar uma educação de melhor qualidade? Objetiva-se refletir sobre as
contribuições da Psicopedagogia para os profissionais
que atuam na Educação Infantil, já que esta área
requer entendimento do processo de aprendizagem,
conhecimento de métodos e técnicas diferenciadas,
um olhar e um fazer aprimorados, os quais podem ser
alcançados com as contribuições da psicopedagogia,
tanto na prevenção quanto na intervenção nos problemas de aprendizagem, conforme assinala Bossa, 2002.
Na reflexão teórica priorizou-se a dinâmica da Educação Infantil, enfatizando a organização dos conteúdos
pedagógicos; o lúdico no desenvolvimento infantil; o
olhar da psicopedagogia para a educação infantil e o
recorte das suas contribuições para a práxis dos profissionais que atuam nesta área, portanto, para uma
educação de melhor qualidade. Também se fez uso de
depoimentos de pós-graduados em psicopedagogia e
estudantes de pós-graduação em psicopedagogia que
atuam na Educação Infantil. Levando-se em conta o
campo de atuação da Psicopedagogia conforme Código de Ética (2011) e as competências desenvolvidas
pelos psicopedagogos como ressalta Beauclair (2004)
e os depoimentos coletados, constata-se que, quando
o docente da Educação Infantil é orientado por uma
profissional que tenha formação em Psicopedagogia,
pode realizar um trabalho de melhor qualidade, visto
que o seu olhar torna-se mais apurado para com as
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Contribuições da Psicopedagogia
aos graduandos com transtornos na
aprendizagem
Autor: Teresinha de Jesus de Paula Costa
Resumo
As Instituições de Ensino Superior têm recebido alunos de diferentes classes sociais visto que a formação
acadêmica é uma exigência para o mercado de trabalho. Os jovens estão ingressando em cursos diversos,
independente da situação financeira das famílias,
pois é possível contar com financiamentos bancários,
convênios de empresas e, ainda com programas governamentais do Estado ou Federal, possibilitando o
acesso dos interessados que, num primeiro momento,
teriam dificuldades financeiras para manter-se em
um curso superior. Estas iniciativas tornam-se instrumentos de democratização do ensino superior. Mas
as finanças não são os únicos obstáculos, pois muitos
estudantes ingressam nos cursos de graduação, porém
encontram dificuldades em acompanhar as exigências
acadêmicas. Compartilhar a realização de atendimento psicopedagógico aos graduandos com dificuldades
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
de aprendizagem numa instituição de ensino superior
que oferta cursos na área de Educação e Tecnologia.
Levando em conta que a Psicopedagogia dispões de
recursos diversos (Costa, 2008) para auxiliar os graduandos com transtornos de aprendizagem (CID 10.
2003) na construção da autonomia cognitiva. Reflexão
teórica a respeito da constituição da Psicopedagogia,
dos recursos que são utilizados pela psicopedagoga
no atendimento aos graduandos com transtornos de
aprendizagem. O atendimento psicopedagógico foi
iniciado em 2006. Dentre os atendimentos tivemos
dez (10) de ambas as Faculdades, houve (5) casos
da Faculdade de Educação, do curso de Pedagogia e
5 (cinco) da Faculdade de Tecnologia, oriundos dos
cursos de Gestão Financeira, Gestão Ambiental e
WEB. Todos os casos foram atendidos considerando
as dificuldades na aprendizagem. Dentre elas, houve
dificuldades na interpretação dos dados para organização de cálculos; na leitura e interpretação de textos;
na escrita, ou seja, na produção de textos; preparação
para as avaliações; administração do tempo, dentre
outras. Assim, a intervenção foi realizada considerando a importância da leitura, interpretação e escrita,
sendo feita à orientação de estudos, uso de anotações
nas aulas, diferentes métodos de estudos, atenção e
concentração, organização e otimização do tempo.
No atendimento psicopedagógico fez-se da entrevista
aberta, para conhecer modo de vida dos graduandos,
os motivos da escolher o curso, seu desenvolvimento
na Educação Básica, enfim a origem do transtorno.
Depois de colhida as informações procura-se conhecer
a modalidade de aprendizagem do graduando para
compreender o funcionamento cognitivo do sujeito.
Apesar de saber da relevância da família na constituição da modalidade de aprendizagem, no atendimento
dos graduandos, nem sempre podemos contar com as
informações da família, por conta do respeito à autonomia que o sujeito conquista ao ingressar no curso
superior. Para Orientação de Estudos faço uso do instrumento do Programa de Hábitos e Desempenho no
Estudo (PHD) da Editora Vetor elaborado por Carlos
Del Nero (1997). Os programas do governo estadual
e federal, assim como outras iniciativas privada ou
pública contribuem para aumentar o acesso dos interessados aos cursos de graduação. Porém, a sustentação econômica só não basta. Pois é necessário que o
graduando conclua seu curso superior com qualidade
e consiga inserir-se no mercado de trabalho. Neste
sentido, a Psicopedagogia vem contribuindo para a
superação dos transtornos de aprendizagem. O apoio
psicopedagógico no ensino superior tem se tornado
em instrumento para a democratização do ensino, por
promove a superação do não aprender e a construção
da autonomia no aprendizado, consequentemente, na
formação social e profissional.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: A sistematização como foco no
atendimento do paciente com TDAH
Autor: Vera Helena Peres Jafferian
Coautor: Marisa Irene S. Castanho
Resumo
Relato de um caso clínico referente à avaliação psicopedagógica e atendimento de um paciente encaminhado com diagnóstico de TDAH - Transtorno de
deficit de Atenção com Hiperatividade, onde houve
a possibilidade de se construir um espaço onde a
transposição do pensamento para a linguagem foi
acontecendo pela atividade da criança no mundo.
O foco do trabalho se deu apartir da modalidade de
aprendizagem de sua família e na falta de sistematização nas suas atitudes frente ao aprender. Assim
percebeu-se que a criança não tendo esta sistematização vai ficando com buracos na aprendizagem
onde algumas etapas não acontecem e vão surgindo
dificuldades cognitivas. Neste contexto, o sujeito não
se autoriza a aprender ocasionando desinteresse e
falta de atenção com as questões escolares. Apartir das
intervenções adequadas o paciente começou a perceber suas dificuldades e foi aos poucos permitindo-se
tentar, mesmo errando. Houve orientações familiares
e a parceria com a escola em paralelo ao atendimento.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
questiona: Qual é o corpo envolvido na escrita? O
corpo envolvido na escrita é o corpo do alicerce, da
postura, da posição dos ombros, do pescoço, da cabeça, é o corpo escritor. Reflete-se, ainda a questão, a
partir do que dizem Lapierre e Aucouturie. Apontam
no livro: A Simbologia do Movimento, que: Toda pedagogia que não se renova, esclerosa-se rapidamente
e as “inovações” cedo perdem-se numa rotina mais
ou menos disfarçada, na segurança do “já feito”, na
facilidade do “previsto”, que justamente protegem da
inovação. Entre outros autores, são citados na pesquisa: Ajuriaguerra, Bergès, Le Boulch, Piaget e Vayer.
A pesquisa evidenciou que os licenciandos utilizam,
em suas aulas, poucos momentos de exploração do
espaço e atividades que envolvem o uso do corpo como
recursos facilitadores da aprendizagem. Parece que,
o currículo do curso de Pedagogia, das disciplinas
oferecidas pelas Universidades pesquisadas, oferece
algumas disciplinas em que aparece o fundamento
da educação psicomotora, mas não o suficiente para
contribuir com o desenvolvimento global dos alunos.
Assim, são feitas sugestões, visando a qualificar os
Cursos de Pedagogia: que os conteúdos nos currículos instiguem o conhecimento de aspectos básicos
da psicomotricidade, e que, no planejamento e ação
dos professores, exista interdisciplinaridade real, para
efetivo aproveitamento dos conteúdos trabalhados nas
diversas disciplinas. Crianças que não compreendem
bem o sentido da escola e se vêem, muitas vezes,
entediadas diante da (suposta) proposta de aprender,
incomodadas com a prática do silenciamento e da
imobilização de um corpo que pulsa desejo de movimento e de conhecimento-vida.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Corpo, escola e vida: o uso do corpo,
o movimento e a exploração do espaço, como
dispositivos para o aprender. Discussões na
formação de professores
Autor: Viviane Bastos Forner
Resumo
Esta pesquisa, vinculada à linha Universidade Teoria
e Prática - Formação de Professores, procurou destacar
e analisar a importância que professores e formadores de professores atribuem ao uso do corpo, como
facilitador, nas situações de ensino-aprendizagem.
O desafio investigativo desse trabalho por meio da
prática ao longo de 24 anos de clínica psicopedagógica explicitou novas pistas, para a formação de professores. O estudo do movimento e da propriocepção
corporal abre caminho para que todos os envolvidos
no ensino e na aprendizagem alcancem uma maior
capacidade de atenção. Nesse sentido, acredita-se que
uma escolaridade calcada em vivências significativas
e que trata o conhecimento de forma interdisciplinar
terá muito mais chances de ser uma educação real.
Foram analisados currículos da formação de professores, estabelecendo um contraponto entre o conteúdo
descrito entre as diretrizes do MEC e os currículos
e súmulas das duas IES envolvidas na pesquisa. Os
dados obtidos apontam a necessidade de qualificar o
ensino, por meio de conteúdos que instiguem o conhecimento de aspectos básicos da ação psicomotora,
para os educadores que irão atuar no Ensino Básico,
contribuindo com o desenvolvimento neuropsíquico e
afetivo dos alunos. A metodologia empregada no estudo foi qualitativa, e o método, o de Estudo de Caso.
Observou-se a prática de estagiários do Curso de Pedagogia, de duas Instituições de Ensino Superior - e
fez-se posterior entrevista semiestruturada. O estudo
também resultou de análise das mudanças apontadas
pelos currículos das IES pesquisadas, estabelecidos a
partir de 2007, obedecendo à Resolução CNE/CP nº 1,
15 de maio de 2006. Na discussão, foi feito o contraponto entre o pensamento de autores destacados, no
contexto do tema em questão e na análise e discussão
dos dados reflete-se o pensamento de autores que
confirmam este pensamento: Exemplo é Bergés, que
em seu estilo particular de dialogar com os leitores,
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Título: Um olhar psicopedagógico às
gestantes de Canoas-RS
Autor: Viviane Cristina de Mattos Battistello
Coautores: Ana Vita dos Santos Martins;
Rafaela Gusatti Schmidt; Grasiela Aragão Mauer
Resumo
A gestação propicia momentos especiais na vida de
uma mulher. Entretanto é um período de constantes modificações físicas, psicológicas e sociais. Tais
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
mudanças atingem também os pais/família que,
muitas vezes, se sentem excluídos da relação que
se estabelece entre a mãe/bebê durante e após a
gestação. Refletindo sobre este assunto verificou-se
a importância de sanar algumas necessidades que as
mulheres, em especial participantes de um projeto
social, na grande maioria, jovens em situação de risco
enfrentam na sua rotina durante os meses da gestação. Deste modo, objetiva-se incentivar as gestantes
com dinâmicas que estabeleçam o desenvolvimento
do vínculo mãe/ bebê, bem como laços de afetividade
através de atividades de estimulação, para que seja
possível a ressignificação do seu lugar de mãe. Bem
como, identificar que tipos cuidados elas utilizam na
sua vida de gestante. Rever os aspectos da interação
mães /bebê, em uma abordagem sistêmica, em termos
de detectar aspectos de saúde e das funcionalidades
existentes nestas famílias. Além de identificar os tipos
de estratégias e solução de problemas educativos que
poderemos utilizar para reintegrar essas mães à nova
fase de suas vidas. Tais intervenções realizaram-se por
meio de uma conversa psicopedagógica na piscina
terapêutica, esclarecendo dúvidas pertinentes ao
período gestacional, desenvolvendo dinâmicas para
melhorar o bem estar da mãe e do bebê. A pesquisa
baseia-se nos pressupostos teóricos de Vygotsky,
Piaget, Bowlby, Pichon e Winnicott. A metodologia
caracterizou-se pela realização de uma pesquisa
qualitativa de natureza participante tipo grupo focal,
com vinte e oito gestantes, divididas em dois grupos.
Para composição dos dados dos sujeitos, utilizaram-se entrevistas semanais de forma semiestruturadas
individuais e em grupos, e para análise dos discursos,
adotou-se diário de campo das sessões. Durante a
realização dos grupos houve mediação feita por uma
psicopedagoga/terapeuta familiar e monitoras voluntárias dos Cursos de Graduação e Especialização de
Psicopedagogia, realizando um trabalho preventivo
referente ao parto e pós-parto. Os resultados parciais
mostraram que as mães expressam trazer um padrão
de repetição na aprendizagem familiar, dificuldades
de lidar com estresse e problemas em relação à estrutura familiar. Conclui-se que a relação estabelecida
entre mãe/bebê foi compreendida como uma relação
geradora de vínculo e fundamentada em sentimentos
de carinho, amor e fraternidade. Tais intervenções
beneficiam uma gestação saudável além de transformar a maneira de ser, agir e pensar das futuras mães,
desencadeando um desenvolvimento mais singelo e
significativo. Assim, as atividades aquáticas, palestras, dinâmicas em grupo desenvolveram sentimento
de afetividade e ressignificação do vínculo mãe/bebê,
além do bem-estar, noções de comportamento e higiene, visando passar às futuras mães informações
de cuidado com o bebê.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: E a borboleta rompe o casulo:
o sabor de saber em família
Autor: Viviane Rossi
Coautor: Siloe Pereira
Resumo
O trabalho descreve e discute um estudo de caso realizado com Tiago, menino de 11 anos, derivado pela escola especial que frequenta com a queixa de que não
aprende a ler e escrever; apenas consegue escrever o
seu nome. A mãe refere ser viúva do primeiro marido,
com quem teve três filhos, todos já adultos e com suas
vidas organizadas de forma independente. Do atual
casamento são dois os filhos, Tiago e Matheus, este
último contando oito anos. Matheus também vem
apresentando dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, bem como na aquisição de conceitos
matemáticos, e frequenta a mesma escola especial.
Segundo a mãe, os demais filhos não apresentaram
dificuldades de aprendizagem na escola. Ela cursou
até a quinta série primária, já o pai dos meninos não
conseguiu se alfabetizar e abandonou os estudos. O
sustento da família é de responsabilidade do pai, que
trabalha como pedreiro. A mãe informa ainda que o
pai queria muito ter filhos, e por isso ela quis realizar
o sonho dele. Sobre as dificuldades, principalmente
as de Tiago, a mãe se diz frustrada e impaciente, não
conseguindo ensiná-lo por muito tempo. E diz que o
pai não pode fazê-lo, porque “não sabe ler e escrever”;
ele não tem este saber. Considerando-se os dados preliminares, o trabalho foi planejado buscando contemplar não apenas Tiago, o paciente identificado, mas
os diferentes espaços de aprendizagem no sistema
familiar. Algumas perguntas contribuíram para essa
definição. O que se passa nessa família que impede os
dois filhos de aprenderem, de desbravarem o universo
do saber? Que tipo de vínculo existe entre o pai e seus
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
uma pessoa enfrenta situações que podem irritá-la,
amedrontá-la, excitá-la, confundi-la ou mesmo proporcionar intensa felicidade. Assim, qualquer evento
que favoreça uma quebra do equilíbrio do organismo
exigindo adaptação pode ser fonte de estresse. Partindo do pressuposto da importância da presença do
estresse no desempenho acadêmico dos estudantes,
acredita-se que as mesmas interferem diretamente no
processo de aprendizagem já que determinam como
o estudante apreende as informações, compreende e
transforma o conhecimento. O termo estresse tem sua
origem na física, onde designa a tensão e o desgaste a
que estão expostos os materiais, é usado pela primeira
vez do ponto de vista fisiológico em 1936, pelo médico
Hans Selye na revista científica Nature. No artigo ele
trouxe como grande contribuição a descrição de uma
resposta não-específica a qualquer demanda que se
imponha ao corpo. Posteriormente, Malagris e Castro
conceituam estresse como uma reação do organismo
decorrente de alterações psicofisiológicas que acontecem quando uma pessoa enfrenta situações que
podem irritá-la, amedrontá-la, excitá-la, confundi-la
ou mesmo proporcionar intensa felicidade. Assim,
qualquer evento que favoreça uma quebra do equilíbrio do organismo exigindo adaptação pode ser fonte
de estresse. O estresse infantil pode ser causado por
excesso de atividades e também por vários fatores
como: separação dos pais, morte de alguém na família,
nascimento de irmão, hospitalizações e mudança de
escola ou residência, maturidade e independência
precoce, permissividade sexual excessiva, exposição
a pessoas desconhecidas, mudança na rotina, impedimento físico para o alcance de algum objetivo,
assim como também pelo contato com membros da
família que estejam sob estresse (raiva interpessoal,
ausência de suporte social) e ainda quando a criança
não recebe cuidados adequados diariamente. Com
relação à aprendizagem, o prejuízo na capacidade
de aprender, anteriormente atribuído apenas a déficits cognitivos, tem sido associado, nos últimos anos,
à exposição a eventos estressores específicos, que
acabam por acarretar um baixo rendimento escolar.
Na infância e adolescência, os estressores costumam
estarem associados a situações com os pais e outros
membros da família, professores, colegas, mudança
de escola, doenças, deficiências no desenvolvimento
físico ou emocional ou mesmo condições socioeconômicas específicas. Para realização do presente
filhos? E entre o pai e a possibilidade de aprender?
O que aconteceria se ambos os filhos aprendessem?
Que saber/poder têm o pai e a mãe? O trabalho vem
sendo conduzido na direção de reconhecer e valorizar
os saberes que as crianças já construíram e encorajá-las a se aventurarem por outros caminhos. Ao mesmo
tempo, procura ampliar e fortalecer saberes com que
a família conta. Assim, a mãe é encorajada a contar
histórias aos filhos. Quanto ao pai, sempre que consegue ajustar seu horário de trabalho e participar das
sessões, também são colocados em destaque os seus
saberes, os quais inclusive lhe permitem manter o
sustento da sua família. Os resultados do trabalho, que
conta cinco meses aproximadamente, são animadores.
No desenvolvimento da escrita, Tiago alcançou o nível
silábico-alfabético. Também vem apresentando evolução em termos de pensamento lógico-matemático
e, principalmente, quanto à curiosidade e ao desejo
de aprender, evidenciando maior interesse e confiança ao enfrentar novos desafios. A mãe, por sua
vez, identificando-se com a psicopedagoga, também
se mostra mais tolerante e segura para ensinar. Gradualmente começa a apostar nos recursos dos filhos,
e em casa vem promovendo diariamente sessões de
leitura com eles. Enfim, aos poucos toda a família
começa a viver o sabor de saber: saber ler e escrever,
saber desenhar, saber ensinar. De alguma forma, vão
se modificando os vínculos com a aprendizagem, de
modo que todos têm algo a aprender, mas também a
ensinar. Hoje, Tiago se arrisca a ensinar Matheus,
ou seja, ele já dispõe de um saber para compartilhar,
de forma que todos aprendem e todos ensinam. E tal
como a borboleta que se transforma, se desprende,
rompendo o casulo e vivendo a magia das cores e do
espaço, Tiago e sua família começam a descobrir a
beleza de ser e saber.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Influência do estresse na
aprendizagem: um debate atual
Autor: Weruccy Lacerda Gervasio
Coautores: Mariângela Estevam Leite;
Mônica Dias Palitot
Resumo
O estresse é uma reação do organismo decorrente de
alterações psicofisiológicas que acontecem quando
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
trabalho realizou-se uma pesquisa do tipo revisão
não-sistemática da literatura sobre a temática,
buscando-se as principais bases de dados da área de
Psicologia e de Educação, através do portal da Capes, a saber: Education Resources Information Center
(ERIC), SciELO (Scientific Eletronic Library Online),
entre outras, tendo como descritores: estresse e rendimento escolar. Como podemos observar no presente
estudo, o estresse sendo causado por fatores internos
e externos que quebram o equilíbrio do indivíduo,
tem como consequência o aparecimento de sintomas
físicos e psicológicos. A escola como instituição que
atua diretamente com crianças, pode desencadear um
estresse mais intenso prejudicando a aprendizagem
e seu desempenho acadêmico.
-se então, como hipótese, a dança espontânea como
uma proposta para a Psicopedagogia no sentido de
ressignificar o processo de aprendizagem para que
a pessoa em questão descubra-se como capaz de
construir estruturas próprias, e estabelecer relação
com outras pessoas, tornando-se um ser relacional,
pensante e desiderativo e assim, perceber-se como um
ser cognoscente. Para Fernández, o corpo estabelece
um diálogo com o organismo, ou seja, é capaz de
acumular experiências diferentemente do organismo que, juntas, promovem a inteligência e o valor
desiderativo pela aprendizagem. Pode-se considerar
o corpo como um templo de toda aprendizagem e
de acordo com Leloup, a pele é a ponte sensível do
contato com o mundo, um local de profundas memórias. Para Briganti, o corpo sempre transfere. É a
expressão da resistência em determinado momento.
Tomar consciência aqui e agora da resistência, é ter
consciência daquele momento corpóreo, daquela expressão, rigidez, movimentos, registrados como aprendizagem naquele momento. Para Fux, concilia-se
dança e criatividade nos movimentos, para veicular o
processo de aprendizagem nessa comunicação com o
mundo. Tanto a criação quanto à improvisação, geram
a descoberta de alternativas de movimentação tanto
corporalmente, como psiquicamente. Tal expe­­­­riência
lúdica é o elemento desencadeador do processo
criativo e capaz de solucionar problemas que geram
novos nós existenciais. Pode-se afirmar, de acordo
com Laban que a dança promove o conhe­­cimento do
corpo, ao conhecimento da relação psique-corpo e
ao conhecimento de si mesmo. No início percebeu-se que a maioria dos participantes apresentava uma
postura de retraimento e até de defensiva diante
das atividades. Quando se iniciou o trabalho com a
expressividade corporal, os indivíduos começaram a
entrar em contato com seu universo e buscaram alternativas para reestruturarem-se. Tal aprendizagem
contribuiu para o desenvolvimento da criatividade, o
espírito de liderança e a exteriorização de seus sentimentos. Dentro desta perspectiva, pode-se considerar
a dança espontânea como uma proposta eficaz para
desenvolver a consciência corporal, fortalecendo um
sujeito transformador do seu tempo e espaço. Deve-se ressaltar que todas as atividades eram convite,
não havia obrigatoriedade de participação e todo
trabalho deu-se de maneira espontânea. Os encontros
efetivados ao longo do ano motivaram a postura de
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: A dança espontânea e o despertar
do ser cognoscente
Autor: Wilma Carla do Amaral
Resumo
Essa pesquisa originou-se no campo científico da
Psicopedagogia, dentro da área da Arteterapia, tendo como fundamentação teórica o estudo da dança
espontânea no processo de construção e aplicação
do conhecimento. O estudo foi realizado numa instituição denominada CEFRAN-Centro Franciscano
na luta contra a AIDS, com adultos de 21 a 65 anos
com baixa instrução (analfabetos ou no máximo com
o ensino fundamental II). Ao abordar esse assunto,
pode-se perguntar se, uma vez que o índice de pessoas
com dificuldades de aprendizagem é cada vez maior,
o trabalho de dança espontânea poderia promover o
surgimento do ser cognoscente. Mesmo conhecendo
a encefalopatia subaguda causada pelo HIV+ que
surge como a primeira demência infecciosa em 40 a
60% dos casos. A metodologia utilizada foi a pesquisa-intervenção que visa conciliar a teoria estudada com
a prática da pesquisa. Como método de procedimento,
utilizou-se a observação participante. Segundo Lima,
é uma abordagem qualitativa, onde se considera uma
abordagem dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
o que promove o estabelecimento do vínculo entre a
subjetividade do sujeito e o mundo objetivo. Levantou-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
emponderamento. Os relatos dos sujeitos expressaram
a mudança de olhar, de comportamento, frente às situações quando começaram a descobrir a mensagem
que o corpo retinha.
observação de suas ações sobre os objetos e da verbalização de seus atos. Participaram da intervenção
dois estudantes com dificuldades na aprendizagem da
matemática, Alfa (14 anos) e Épison (15 anos), do 8º
ano do Ensino Fundamental de uma escola Municipal
da região metropolitana de Porto Alegre. Por meio de
uma lista com quatro problemas algébricos, os sujeitos foram questionados com o propósito de verificar
seu pensamento e possíveis dificuldades, buscando
conduzi-los a compreensão dos erros cometidos. Foi
realizada apenas uma sessão individual de intervenção com tempo médio de 50 minutos. Observou-se
que os estudantes possuíam dificuldades anteriores
ao conteúdo algébrico, apresentando erros concei­
tuais relacionados ao conhecimento aritmético, como
a falta de compreensão das operações elementares e
suas relações, conhecimento mal estruturado sobre
os números racionais e sobre o sinal de igualdade,
não o admitindo como equivalência entre membros.
Além disso, foram observadas dificuldades relativas
à in­terpretação textual e tradução do problema para
símbolos matemáticos, bem como em relação à compreensão das letras como variáveis. Por meio das constantes intervenções, realizadas após a resolução de
cada problema, foi possível observar crescimento dos
estudantes em relação à auto-reflexão sobre o resultado encontrado e o procedimento de resolução adotado,
já que, no primeiro problema, não demonstraram
refletir sobre a resolução, encontrando, por vezes,
resultados não coerentes com a situação apresentada
no problema. Entretanto, após serem questionados sobre o resultado e os meios empregados, verbalizando
seu pensamento, passaram a refletir sobre a resolução
e admitir possibilidade de erro e, no caso de Alfa, a
identificar e compreender o erro cometido. Posto isso,
observa-se a importância desta modalidade avaliativa
para compreender o pensamento dos estudantes e
auxiliá-los a superar suas dificuldades. No entanto,
cabe ressaltar como limitação do estudo o curto tempo
de acompanhamento dos estudantes e alerta-se para
o fato de que um acompanhamento sistemático pode
evidenciar resultados mais significativos do que os
encontrados.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Efeitos de uma intervenção na
modalidade de avaliação formativa no
desempenho algébrico de alunos com
dificuldades na aprendizagem matemática
Autor: Yasmini Lais Spindler Sperafico
Coautor: Clarissa Seligman Golbert
Resumo
O ato de avaliar vai além de classificar educandos
como os que dominam e os que não dominam um
saber anteriormente exposto pelo educador. Avaliar é
realizar um diagnóstico visando o desenvolvimento de
intervenções no processo de ensino e aprendizagem,
ou seja, avaliar é formar. Nessa perspectiva, insere-se
a Avaliação Formativa que tem como objetivo obter
informações que possam auxiliar o professor a planejar uma instrução eficaz para o sujeito, investigando
os obstáculos que impedem o aluno de prosseguir
em sua aprendizagem e desenvolvendo um plano
que o auxilie a transpor essas barreiras, tornando-o
capaz de aprender com autonomia. Assim, destaca-se
a importância deste outro olhar avaliativo no ensino
de álgebra, já que este campo impõe diversos desafios para a aprendizagem dos estudantes, pois esses
deverão dominar conteúdos mais complexos pertencentes ao patamar da generalização. Dessa forma,
uma das maneiras de tornar o estudante ativo em seu
processo de aprendizagem é por meio de práticas que
o auxiliem a refletir sobre o desenvolvimento de suas
tarefas, adquirindo o hábito de auto-avaliar-se, ato indispensável a qualquer empreendimento de formação.
Portanto, é tarefa do educador diagnosticar o aluno e
auxiliá-lo a atingir o patamar da auto-avaliação como
forma de corrigir seus erros. Para isso, o educador
deve dispor de métodos diversificados, como tarefas,
observação e entrevista clínica. O presente relato, de
cunho qualitativo, apropriou-se desse último método
que tem por objetivo compreender o pensamento
do sujeito e como esse está organizado, através da
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144
Resumo dos Trabalhos - Categoria Oral
Tema: Formação do psicopedagogo
Título: Subjetividade no processo de
ensino e aprendizagem
Autor: Yoná Eliane Silva da Cruz
Coautores: Angela Alencar; Francisco de Souza;
José Nilton de Lima; Yolanda Valois
Resumo
O presente artigo objetiva compreender o que significa subjetividade para professores da educação
básica e como este conceito interfere no processo de
ensino aprendizagem. Entendemos que a produção
de sentido pelos educadores sobre a subjetividade
passa por uma construção contínua e envolve aspectos cognitivos, emocionais e afetivos. Neste sentido
procuramos identificar e analisar o conceito de quinze
professores, cinco de cada modalidade de ensino, em
relação a subjetividade e sua interferência no ensino
e na aprendizagem. Foi utilizado questionário aberto
com professores da rede pública do estado de São
Paulo. Os dados foram analisados qualitativamente e
revelam a necessidade de uma formação continuada
dos professores que favoreça novas possibilidades
de realizações em sua prática docente e que esta
for­­­mação pode ser conduzida pelo trabalho do psicopedagogo na instituição de ensino. Concluímos que a
teoria da subjetividade é uma importante contribução
neste percurso.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 82-145
145
RESUMO
Categoria
ResumoDOS
dos TRABALHOS
Trabalhos -- C
ategoria PPoster
ôster
resultados abaixo do esperado em provas de leitura,
escrita e aritmética. No âmbito familiar, detectou-se
que E. é rejeitado pelo pai e presencia frequentemente
brigas entre seus genitores, que apresentam traços
relevantes de ansiedade e agressividade. Observou-se que, embora E. seja dotado de uma série de
habilidades cognitivas, as dificuldades de atenção e
de processamento auditivo encontradas estão intrinsecamente relacionadas às queixas comportamentais
e escolares, pois são dificuldades que alteram a interação da criança com outras crianças e adultos e,
consequentemente, provocam comportamentos não
aceitáveis. Conclui-se que as dificuldades de atenção,
juntamente com alterações no PA e com ausência de
um ambiente adequado, podem agravar sintomas
psiquiátricos e, assim, comprometer seu desempenho
escolar e adequação social. Em casos semelhantes, o
paciente deve ser avaliado e tratado de maneira global, sendo que a participação dos pais é importante
para estimulação cognitiva e promoção de ambiente
adequado para o desenvolvimento. Neste contexto, a
avaliação multidisciplinar auxilia a delinear formas
adequadas de tratamento de acordo com a demanda
individual.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Avaliação multidisciplinar em vítima
de negligência emocional na infância:
relato de caso
Autor: Ana Clara de Deus Mattos
Coautores: Giovanna K. Scarpari,
Paula Approbato de Oliveira, Fernanda Pontes,
Gisely Chelotti, Sandra Scivoletto
Resumo
Os maus-tratos em crianças e adolescentes constituem
um problema de saúde pública no Brasil, devido à
sua alta prevalência e às consequências emocionais e
cognitivas que afetam o desenvolvimento dessa população. Através do relato de caso de um garoto de 8 anos
(E.), com histórico de negligência emocional e suporte
familiar inadequado, com queixas de dificuldade de
aprendizagem, hiperatividade, desatenção e comportamentos desafiadores, o objetivo deste trabalho é
discutir a importância da avaliação multidisciplinar
para o diagnóstico e tratamento adequado de casos de
negligência na infância. Experiências no começo da
vida, combinadas com fatores genéticos, exercem uma
influência importante em padrões de comportamentos
apresentados na vida adulta. Já que os prejuízos em
crianças negligenciadas acometem diversas áreas do
funcionamento, a avaliação multidisciplinar é necessária para detectar quais as áreas do desenvolvimento
são afetadas e assim, auxiliar na elaboração de um
plano de tratamento eficaz. E. foi encaminhado para
o Programa Equilíbrio, um programa multidisciplinar
que atende a crianças e adolescentes em situação
de risco social e vítimas de maus tratos. Passou por
avaliação psiquiátrica, neuropsicológica, psicopedagógica e de processamento auditivo (PA), além
de psicoterapia familiar. Na avaliação psiquiátrica,
foi levantada a hipótese diagnóstica de Distúrbio
Desafiador e de Oposição (F91.3) e Distúrbios da
Atividade e da Atenção (F90.0), conforme a CID-105.
Na avaliação de PA, foi detectada alteração em grau
moderado. E. apresentou Quociente Intelectual (QI)
estimado na média superior para a faixa etária e desempenho dentro do esperado em testes de memória e
aprendizagem. Contudo, apresentou resultados muito
inferiores ao esperado em testes de atenção visual e
verbal. Na avaliação psicopedagógica, apresentou
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Características de uma abordagem
de intervenção centrada na família para a
promoção da saúde da criança
Autor: Ana Maria Roque Mariante
Coautor: Ana Isabel Pinto
Resumo
A eficácia na abordagem de intervenção precoce
centrada na família, baseada nos modelos bioecológico, transacional e sistêmico do desenvolvimento,
tem sido largamente demonstrada, sendo, portanto, a sua implementação primordial. Para Bailey e
McWilliam, as práticas de intervenção centrada na
família incluem toda família como unidade de intervenção e não somente a criança. Os mesmos autores
também salientam que as necessidades e aspirações
da família, e os seus potenciais e capacidades são
vistos como interdependentes no processo de avaliação e de intervenção centrado na família. Portanto,
parece importante verificar se essa abordagem de
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
146
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
práticas centradas na família tem sido empregada
pelos educadores. Por conseguinte, o principal objetivo do presente estudo foi avaliar em que medida
os educadores percebem o apoio que fornecem às
crianças com necessidades educativas especiais
(entre os 0-6 anos de idade) integradas no sistema
regular de ensino, como possuindo características
de uma abordagem de intervenção centrada na família. Assim como, avaliar em que medida as famílias
dessas crianças sentem que o apoio fornecido pelas
educadoras tem características de uma abordagem
centrada na família. Para atingir os referidos objetivos, os docentes dos Agrupamentos de Escolas da
Área Metropolitana da cidade do Porto, em Portugal,
foram escolhidos aleatoriamente. Participaram nesse
estudo 19 docentes do Apoio Educativo do Ensino
Regular, os quais trabalhavam com 27 crianças dos
3 aos 6 anos de idade com necessidades educativas
especiais, inseridas em salas de Jardim-de-infância.
Participaram ainda do estudo as 27 famílias dessas
crianças. O Instrumento utilizado foi a escala Brass
Tacks – “Avaliação das práticas centradas na família
na intervenção precoce, uma adaptação portuguesa
de Pereira da Self-Rating of Family-Centered Practices,
de McWilliam & McWilliam. Versão para profissionais
e para a família. Os principais resultados encontrados
foram que a maioria dos profissionais reconhece que
algumas práticas ainda não são centradas na família,
relativamente a aspectos que se prendem em considerar os pais como parceiros no processo de intervenção.
Com relação à família, verificamos que em média
essas estão satisfeitas com o tipo de participação que
lhes é proporcionado. Contudo, os pais sentem-se
satisfeitos somente pelo fato de estarem recebendo
os serviços, mesmo às vezes desconhecendo o que
deveriam receber e de que forma, pois provavelmente desconhecem outros tipos de participação.
É importante realçar ainda que, quando as famílias
respondem a questões relacionadas diretamente com
os educadores, estas tendem a atribuir-lhes valores
elevados (i.e., concordo ou concordo plenamente). Entretanto, quando as perguntas estão mais relacionadas
com o programa e não com os educadores os valores
atribuídos tendem a ser mais baixos (i.e., descordo ou
descordo totalmente), o que pode indicar uma falta
de parceria e confiança, dificultando assim uma verdadeira comunicação entre pais e profissionais. Por
fim, podemos concluir que a tendência nas práticas
de intervenção contínua a ser baseada nos modelos
mais tradicionais em intervenção precoce, em que
o foco continua a ser a criança, especificamente em
Portugal, onde o presente estudo foi realizado. Esses
resultados indicam uma grande necessidade por parte
dos profissionais de uma formação inicial e contínua,
que se adeque a essas novas abordagens. Assim como,
a realização de projetos de investigação do gênero
deste, mas com amostras maiores, conjugados com
mais instrumentos de investigação poderão permitir
a identificação de fatores para um aperfeiçoamento
dessas práticas de intervenção precoce. Portanto, a
implementação dessas práticas continuam a ser um
desafio para a sociedade como um todo.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Contributos do modelo ecológico e
bioecológico do desenvolvimento humano
para a intervenção precoce
Autor: Ana Maria Roque Mariante
Resumo
O presente estudo tem por objetivo discutir a influên­
cia do modelo ecológico de Urie Bronfenbrenner para
a intervenção precoce. Essa perspectiva realça a
relevância do contexto na compreensão do desenvolvimento e considera a família como um dos sistemas,
em que a criança se insere, dentro de uma organização ecológica de sistemas mais ampla. A Abordagem
ecológica do Desenvolvimento privilegia o estudo
do desenvolvimento nos ambientes naturais em que
a criança vive, e advoga a análise da participação
da pessoa no maior número possível de ambientes e
em contato com diferentes pessoas (díades, tríades).
Bronfenbrenner formulou sua teoria do desenvolvimento humano, demonstrando para o campo científico
a importância do desenvolvimento de pesquisas em
ambientes naturais. Contudo, o autor afirma que a
pessoa é entendida como uma entidade dinâmica e
em desenvolvimento que, ao envolver-se com o seu
meio ambiente, não só é influenciada por ele, como
também reestrutura esse meio em que vive, e, portanto, o influencia. O mesmo autor ressalta assim, que
essa interação entre sujeito e o meio é bidirecional,
requerendo uma acomodação mútua entre eles, caracterizada pela reciprocidade. Considera também
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
147
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
o ambiente ecológico como uma disposição seriada
de estruturas concêntricas, em que cada uma está
contida na seguinte, como um sistema hierárquico
inter-relacionado de subsistemas em que a criança
está no meio. São eles, o microssitema, o mesossistema, o exossistema e o macrossitema. No decorrer de
suas pesquisas, Bronfenbrenner aperfeiçoou o modelo
ecológico e desenvolveu o modelo bioecológico. Nesse
atual modelo, os autores salientam a importância das
características da pessoa (biológicas, psicológicas e
do comportamento) recolocando a pessoa, com seus
elementos imediatos, no centro do processo. A abordagem do desenvolvimento bioecológico perspectiva, assim, o desenvolvimento de forma abrangente,
devendo a aprendizagem ser percebida tal como é
vivenciada pelo ser humano no contexto em que vive.
Considerando essa abordagem de desenvolvimento,
iniciaram-se muitas pesquisas abordando crianças e
adultos em situação de vida real, principalmente nos
Estados Unidos e na Europa, inclusive na área da
intervenção precoce, dentro da psicologia do desenvolvimento. Inicialmente as práticas de intervenção
precoce baseavam-se no modelo médico, focando
somente o “problema”. Em definições mais atuais,
a intervenção precoce reflete uma inspiração sistêmica e ecológica, nomeadamente: “um conjunto de
serviços desenvolvidos em parceria com a família,
visando promover o seu bem-estar e o da criança, que
pode ter o seu desenvolvimento ameaçado devido a
fatores biológicos ou ambientais”. Apesar da grande
evolução que se tem verificado nas últimas décadas
relativamente às práticas de intervenção precoce,
verifica-se que existem ainda alguns equívocos quanto aos conceitos subjacentes a essas práticas. Assim,
verificam-se, ainda, muitas limitações em aspectos
fundamentais como o trabalho em equipes multidisciplinares, a intervenção centrar-se nas prioridades,
necessidades e recursos da família e da comunidade,
e também relativamente ao trabalho em parceria com
a família. Na maioria dos estudos, principalmente em
Portugal, tem-se demonstrado que a tendência é para
que as práticas sejam marcadas por modelos mais
tradicionais em intervenção precoce, em que o foco
continua a ser a criança. O progresso da intervenção
precoce é hoje um desafio eminente, tanto para profissionais, pais, sociedade, como no desenvolvimento
de políticas que servem de base aos modelos organizativos da intervenção precoce.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Agenesia e disgenesia do corpo caloso
Autor: Andrea de Carvalho Perez
Coautor: Priscila Nunes de Oliveira
Resumo
Foi realizada pesquisa bibliográfica em artigos científicos nas bases SciELO e LILACS, bem como na literatura específica das áreas de anatomia e histologia. O
corpo caloso encontra-se dentro do encéfalo e abaixo
do giro do cíngulo; entre suas principais funções estão
as motoras, sensitivas, cognitivas e comportamentais.
O corpo caloso é formado por: joelho, rostro, corpo e
esplênio, e torna possível a troca de informação entre
os hemisférios do cérebro. Disgenesia e agenesia do
corpo caloso são malformações cerebrais congênitas
que resultam de insulto durante o período de desenvolvimento cerebral. O objetivo deste trabalho
é comparar a alteração anatômica e histológica do
corpo caloso acometido pela disgenesia e agenesia,
exemplificando a estrutura saudável e a portadora
da anomalia, por meio de achados bibliográficos e
imagens. O corpo caloso é a maior das comissuras
inter-hemisféricas e é formado por um grande número de fibras mielínicas, unindo áreas simétricas
do córtex cerebral de cada hemisfério - essas fibras
são denominadas axônios. As fibras comissurais se
originam, principalmente, das células piramidais das
camadas granular externa e piramidal externa do córtex cerebral. A célula piramidal tem dendritos apicais
direcionados para a superfície do córtex e diversos
grandes dendritos basais. O axônio emerge da base
da célula e, na maioria das vezes, sai do córtex para
atingir outras áreas corticais. O axônio é uma porção
condutora de um neurônio, que transmite os impulsos
elétricos. O seu comprimento varia consideravelmente. Cada neurônio apresenta somente um axônio, mas
cada axônio normalmente apresenta vários ramos.
Os axônios possuem mitocôndrias, microtúbulos e
neurofibrilas. A extremidade distal de cada axônio se
expande no interior de pequenas estruturas chamadas terminais axônicos. A constituição inicia-se por
volta 12ª semana de gestação e encontra-se completamente desenvolvido entre a 18ª e a 20ª semana de
vida intrauterina. A disgenesia e agenesia do corpo
caloso são malformações, podendo apresentar-se de
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
148
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
forma total ou parcial. Na disgenesia, há ausência de
feixes de substância branca, que carregam projeções
corticais de um hemisfério para o outro. A agenesia
é uma anomalia incomum, que acomete com igual
frequência ambos os sexos e pode estar relacionada
a erros inatos do metabolismo, combinado com o uso
abusivo de álcool e cocaína pela mãe. Estão geralmente associadas a outras malformações cerebrais
congênitas por ocorrer no período de desenvolvimento
do cérebro. Essas alterações são encontradas entre 1 a
3:1000 crianças nascidas vivas, sendo essas anomalias
responsáveis por 75% das mortes fatais e cerca de 50%
dos defeitos congênitos. Quando o corpo caloso está
ausente, os axônios que iriam cruzar o plano mediano
retornam à fissura inter-hemisférica e correm paralelamente a esta, formando os feixes calosos longitudinais
de Probst. Devido a sua localização, esses feixes dão
aos ventrículos laterais uma forma crescente mais pronunciada. Como consequência, seus principais sintomas são: epilepsia, problemas neurológicos e atraso
do desenvolvimento. Anatomicamente, a disgenesia
pode causar o aumento ou a diminuição de tamanho
do corpo caloso, que será afetado entre o tronco e o
esplênio. A agenesia parcial ocorre quando está se
desenvolvendo o tronco ou o esplênio; já na agenesia
total, o corpo caloso não se forma. Do ponto de vista
histológico, podemos dizer que o corpo caloso é formado por fibras mielínicas que envolvem os axônios
e os neurônios para passagem de impulsos nervosos.
Com a disgenesia ocorrem os feixes de Probst para
que os axônios cruzem os hemisférios. Os principais
sintomas são: epilepsia, problemas neurológicos e
atraso do desenvolvimento.
decodificação fonológica. A memória de trabalho
pode ser dividida de acordo com o processamento
das informações e dos estímulos compostos por um
sistema executivo central e dois subsistemas: a alça
fonológica e a alça visuoespacial, nas quais ambas as
populações, de dislexia e distúrbio de aprendizagem,
apresentam prejuízos. Nessa perspectiva, a memória
de trabalho relaciona-se a sustentação, integração e
manipulação de informações relevantes a uma tarefa,
sendo fundamental para aquisição de habilidades
acadêmicas, tornando-se importante analisá-las em
crianças em idade escolar. O objetivo deste estudo é
caracterizar a influência da memória de trabalho nas tarefas de leitura em crianças com dislexia e distúrbio de
aprendizagem. Participaram deste estudo 12 crianças
de ambos os gêneros, de 3º ao 7º ano, alunos de escolas
públicas de uma cidade de médio porte do interior do
Estado de São Paulo, com idades de 8 a 13 anos, com
diagnóstico de dislexia e distúrbio de aprendizagem.
Os dados referentes às tarefas de leitura foram coletados no CEES – Centro de Estudos de Educação e Saúde
da UNESP – campus de Marília, SP. Os resultados
foram analisados de forma descritiva pela pontuação
obtida em porcentagem de acertos e evidenciaram
que as crianças com dislexia do desenvolvimento e
distúrbio de aprendizagem apresentaram alterações em
relação às atividades de leitura de palavras isoladas e
leitura do livro de história, posicionando-se aquém do
esperado para escolaridade. No entanto, as crianças
com distúrbio de aprendizagem apresentaram maior
prejuízo quando comparadas àquelas com dislexia do
desenvolvimento.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Desempenho cognitivo de uma
criança com síndrome de Asperger por meio
das provas operatórias de Piaget
Título: Influência da memória de trabalho
nas tarefas de leitura em crianças com
dislexia e distúrbio de aprendizagem
Autor: Andréa Carla Machado
Coautor: Maria Amélia Almeida
Autor: Andréa Carla Machado
Resumo
Resumo
A dislexia do desenvolvimento e o distúrbio de aprendizagem são caracterizados pelo prejuízo em leitura
e escrita, decorrentes de dificuldades no mecanismo
de conversão letra-som ocasionados por falhas na
A síndrome de Asperger e suas diversas manifestações
comportamentais podem comprometer o funcionamento cognitivo de pacientes acometidos por essa
condição. Para tanto, a investigação psicopedagógica
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
mostra-se valiosa, contribuindo para o desenvolvimento acadêmico e diminuição do fracasso escolar.
Este estudo tem o objetivo de descrever o desempenho
em provas operatórias de um caso de uma criança
com síndrome de Asperger. Participou deste estudo
de caso clínico uma criança do sexo masculino, de
nove anos de idade, cursando o Ensino Fundamental,
com diagnóstico de Síndrome de Asperger em atendimento clínico psicopedagógico. Foram aplicadas
cinco provas operatórias do exame clínico de Piaget:
Prova de Conservação de líquido, Conservação de
massa, Conservação de matéria, Conservação de
classes e Seriação. A análise foi baseada nas respostas
e justificativas da criança. O paciente teve conduta
não-conservativa em algumas respostas das tarefas
solicitadas, as quais demonstraram instabilidade
nas noções operatórias que exigiram habilidades
atencionais, visuoperceptivas e inferenciais. Assim,
a criança encontra-se em fase de transição da fase
pré-operatória para operatória, ou seja, a criança
ainda apresenta algumas noções cognitivas anteriores
às esperadas para sua idade cronológica. Os dados
obtidos sugerem que provas operatórias auxiliaram
tanto na avaliação psicopedagógica, como no desenvolvimento de intervenções. Dentro dessa visão
Piagetiana, o conhecimento se constrói pela interação entre sujeito e o meio, de modo que, do ponto
de vista do sujeito, ele não pode aprender algo que
esteja acima de seu nível de competência cognitiva.
Assim, as dificuldades apresentadas pelo paciente
com Síndrome de Asperger encontradas nesse estudo
favorecem a importância do diagnóstico operatório
para a investigação do problema e direcionamento
da conduta/intervenção a ser tomada.
ventricular direito do cérebro; faz uso de sonda e
lavagem intestinal. Logo no início das intervenções,
as deficiências perceptivas cognitivas, envolvendo
o raciocínio e a interpretação de informações, e, em
sua maioria, a presença de deficiências perceptivas
visuais e motoras apresentavam-se sem estímulos,
não havendo vínculo com o “prazer do aprender”.
Através das propostas inseridas nos atendimentos
com jogos, reflexões de seus discursos muitas vezes
desconexos, repetições de experiências, possibilitando
a reorganização de ideias, descobrindo a funcionalidade de objetos, intencionalidades em algumas ações e
iniciativa não só motora, como também de ampliar seu
repertório cognitivo. Explorando com menos superficialidade as oportunidades apresentadas. Além da
escrita espontânea, ela comparou suas hipóteses com
o convencional. Através de listas de palavras de um
mesmo campo da semântica. Podendo hoje ampliar
suas concepções e progredir na aquisição da base
alfabética, como na compreensão de outros aspectos
(a grafia correta das palavras). Simultaneamente,
outros diversos textos foram apresentados como objeto de análise, propiciando diferenciá-los, conhecer
melhor suas funções e características particulares. As
intervenções da Neuropedagogia alteraram significativamente seu desempenho cognitivo, oferecendo
processo evolutivo em seu quadro clínico para o
desenvolvimento, através das etapas de aquisição e
aprimoramento das habilidades sensórias motoras e
emocionais para a aprendizagem. É importante ressaltar que esse caso é acompanhado por uma equipe
Multidisciplinar, o relato acima descrito é uma das
especialidades que contribui para uma independência
futura, melhorando sua qualidade de vida.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Apoio psicopedagógico nas EMEFs de
Carapicuíba: uma intervenção significativa
Título: Mielomeningocele e a
Neuropedagogia
Autor: Anita Santili do Carmo Grego
Coautores: Elaine Siqueira Jeremias,
Elisete Piassa, Maria Aparecida Azevedo de Oliveira,
Marilza Leite Saltorato, Mirian Claro de Oliveira
Autor: Andréa Paula Traini Caltabiano
Resumo
Neste trabalho, irei relatar o caso de uma criança de
gênero feminino, de doze anos, portadora de mielomeningocele, que nos primeiros dias de vida foi submetida a inserção cirúrgica de uma válvula, no sistema
Resumo
Este trabalho relata uma experiência bem sucedida na
rede municipal de ensino de Carapicuíba, município
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
da região oeste da Grande São Paulo. Foi elaborado
pela equipe de psicopedagogos que atua nas EMEFs,
em parceria com os grupos gestores da secretaria
de educação e das escolas, professores, famílias e
rede municipal de serviços públicos de assistência
e saúde. O objetivo é oferecer aos alunos do Ensino
Fundamental I, de primeiro ao quinto ano, o máximo
de oportunidades para que estejam aptos ao prosseguimento de estudos com sucesso. Procura-se, através
da multidiversidade das ações pedagógicas, um espaço para intervenção psicopedagógica, fornecendo
apoio complementar aos professores, coordenadores
e equipe gestora. Primeiramente no sentido de configurar as situações em que ocorrem as dificuldades de
aprendizagem, possibilitando ao educador repensar
as estratégias de ensino mais adequadas para cada
caso, sendo a participação da família fundamental
nesse processo. Através da observação e apurando a
escuta é possível analisar e compreender o fenômeno
que envolve a tríade ensinante-aprendente-família,
otimizando todos os recursos humanos e materiais
para a superação das dificuldades nesta fase da
aprendizagem. Sendo assim, destacamos a ação psicopedagógica com orientação ao professor quanto
às modalidades de aprendizagem em consonância
com o trabalho a ser desenvolvido na sala de aula,
considerando as diferenças individuais, respeitando
o ritmo de cada criança em relação ao grupo-classe;
valorizando os avanços e auxiliando o professor a
buscar saídas metodológicas e avaliativas não exclusivas, refletindo sobre valores e crenças com relação
à diversidade e à igualdade de direitos de todos os
educandos. Os resultados obtidos no ano passado
foram significativos, e ocorreram adequações para
a sua continuidade. Muitos professores passaram a
adotar estratégias mais adequadas ao trabalho diversificado nas salas de aula, houve melhoria quanto à
participação e interação família-escola e também dos
próprios educandos no contexto escolar. A avaliação
do trabalho foi por meio da observação das mudanças
de atitudes do professor com relação ao seu aluno, do
aluno com relação a si próprio e aos seus pares, da
família com relação à escola e com relação ao aluno.
Nosso objetivo continua sendo a priorização de uma
educação voltada à participação de todos os educandos e suas famílias no mundo da cultura, exercitando
sua autoria de pensamento e conquistando a autonomia para uma vida cidadã, com a garantia ao direito
de uma educação de qualidade para todos.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Avaliação de funcionalidade em
ambiente escolar de alunos com deficiência
intelectual
Autor: Camila Miccas
Coautor: Maria Eloisa Famá D’Antino
Resumo
A Associação Americana de Deficiência Intelectual,
anteriormente denominada Associação Americana
de Retardo Mental, trabalhou por duas décadas na
revisão do conceito de deficiência intelectual (DI)
e, na 11ª edição do seu manual de definição, classificação e sistemas de apoio, conceitua a deficiência
intelectual por uma limitação significativa no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo,
abrangendo habilidades sociais e de vida diária, e
que se manifesta antes dos 18 anos. O funcionamento
intelectual refere-se a capacidades mentais, tais como
aprender por experiências, resolver problemas, compreender ideias, pensamento abstrato e aprendizado
rápido. O comportamento adaptativo é o conjunto
de tarefas sociais aprendidas e praticadas no dia a
dia. No contexto educacional, a avaliação dos alunos
com deficiência deve considerar o seu desempenho
global, valendo-se dos resultados para concretizar e
aprimorar os processos educativos. O objetivo desta
pesquisa foi avaliar a funcionalidade de alunos com
deficiência intelectual que frequentam a rede regular
de ensino. A coleta de dados foi realizada utilizando-se instrumento formulado pela pesquisadora baseado
na Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF). Participaram da pesquisa
15 professores do ensino fundamental I, que lecionam
em salas regulares. Eles avaliaram 15 alunos com
Síndrome de Down (SD) (critério de inclusão para
DI) e 15 alunos com desenvolvimento típico (GC)
para o grupo-controle. A média de idade dos escolares
com SD e do GC foi de 8,8 anos. Todos os alunos se
encontravam matriculados no ano escolar correspondente à sua idade cronológica, a saber: seis estavam
matriculados no 2º ano; dois, no 3º ano; cinco, no 4º
ano; e dois, no 5º ano. Os resultados indicaram que
das 15 crianças com SD avaliadas, 14 delas não liam,
nem escreviam e 13 não realizavam cálculos simples,
independentemente do ano escolar que frequentavam.
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
Os alunos com SD não obtiveram bons resultados
em itens que avaliavam comunicação expressiva,
porém são capazes de entender mensagens dirigidas
a eles e expressões faciais. Apesar da variabilidade
nos escores finais dos alunos com SD, percebeu-se
uma evolução dos mesmos conforme o aumento da
escolaridade, principalmente nos itens que avaliam
aspectos do comportamento adaptativo. Os alunos
avaliados, independentemente das séries em que
estavam matriculados e das idades cronológicas, não
obtiveram rendimento escolar satisfatório, o que nos
faz crer que os processos de inclusão necessitam de
apoios pedagógicos, psicológicos e psicopedagógicos
intensos, demonstrando que uma escola inclusiva
requer investimentos.
cada cliente, faz-se necessário ressaltar a importância
da supervisão pedagógica, psicopedagógica (por meio
de grupos de estudos, a fim de fomentar o conhecimento entre profissionais) e psicológica (que promove
o autoconhecimento no contexto do setting terapêutico). É um trabalho de construção e reconstrução sobre
o aprender, realizado dia a dia. Um trabalho que a
psicopedagogia contribui, enriquece com seu olhar e
escuta, enobrece com a prática da ética do silêncio e
do respeito ao tempo e à hora do sujeito aprendente.
Ser APQ é caminhar junto, é conquistar e celebrar a
aprendizagem de cada dia, é a troca de saberes, é a
troca e a partilha de vidas que se entrelaçam.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Avaliação interdisciplinar dos
distúrbios de aprendizagem em clinica escola
Título: Amiga Pedagógica Qualificada (APQ)
e Psicopedagogia: reflexões sobre olhar e
escuta psicopedagógica na atuação da APQ
Autor: Daniella de Moura Pereira Robbi
Coautores: Ana Paula Bonilha Piccoli,
José Maria Montiel, Daniel Bartholomeu
Tema: Formação do psicopedagogo
Resumo
Autor: Carla Laudares Mendonça Gomes
O baixo rendimento escolar tem sido considerado
como uma das mais evidentes manifestações de
dificuldades de aprendizagem. Das dificuldades
que apresentam, as de percepção visual, memória,
processamento de linguagem, habilidades motoras
finas e atencionais são as que mais tendem a causar
dificuldades acadêmicas. Certos autores consideram,
ainda, que podem existir dificuldades permanentes,
que afetam aspectos cognitivos, sensoriais, físicos,
afetivos e socioculturais, tendo base biológica, neuropsicológica ou constitucional, ou transitórias que
caracterizam um momento específico do processo
evolutivo do sujeito, envolvendo déficits de funções
superiores, como linguagem, raciocínio, aspectos
afetivos emocionais ou técnicas e estratégias de
aprendizagem. Esses mesmos teóricos destacam três
fatores que afetam a dificuldade de aprendizagem,
aqueles que dependem da personalidade do sujeito,
da instituição educativa e outros do contexto familiar
e social. Uma distinção deve ser feita, nesse ponto,
entre as dificuldades de aprendizagem e os distúrbios de aprendizagem. Assim, a primeira seria mais
abrangente e englobaria todas as dimensões da vida
do ser humano, derivando de um conjunto de questões
Resumo
Amiga Pedagógica Qualificada é o termo mais usado
para nomear o profissional que atua no atendimento
domiciliar de acompanhamento escolar. É um trabalho
que se tem tornado cada vez mais procurado pela família e escola e também indicado por psicopedagogas,
psicólogas e fonoaudiólogas em seus atendimentos.
Essa demanda surgiu diante da necessidade de
atendimento domiciliar a crianças e adolescentes
que apresentavam dificuldades escolares e estavam
em atendimento emocional. Com o passar do tempo,
surgiram outras variáveis e hoje cresce o número de
atendimentos domiciliares diante de várias demandas da nossa sociedade atual. O olhar e a escuta
psicopedagógica proporcionam uma reflexão sobre
os vários aspectos relacionados às diversas questões
que envolvem o desenvolvimento cognitivo/emocional
da criança e do adolescente que aprende: as relações
aprendente e ensinante, os vínculos afetivos entre
familiares e na escola, a maneira como o sujeito que
aprende lida com o conhecimento e, especialmente,
a questão do desejo relacionado ao aprender. Como a
APQ realiza um trabalho personalizado e único para
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
pessoais do aluno, seu núcleo familiar e escolar, assim
como o meio social em que a criança está inserida.
Dentro desse contexto, há que se considerar que, avaliar os distúrbios de aprendizagem, até mesmo pela
multiplicidade de aspectos envolvidos já mencionados
anteriormente, demanda um melhor domínio dos
pressupostos da modificação cognitiva, considerando
esses como parte integrante do indivíduo. Em outros
termos, há que se responder à pergunta sobre o que
os alunos têm domínio ou não, sendo necessária a
avaliação sistemática do desempenho em aspectos
específicos para se chegar a uma estimativa que seja
estável e válida. Por iniciativa dos professores e da
coordenação do curso de Psicologia da Anhanguera
Educacional Jundiaí, formou-se o grupo de Distúrbios de Aprendizagem, a fim de suprir uma demanda
específica na procura dos serviços da Clínica Escola
nessa unidade. As queixas citadas compunham desde dificuldades em alfabetização, leitura, escrita até
queixas decorrentes de processos atencionais, falta
de concentração e respeito a regras. O objetivo deste
estudo é fornecer avaliação diagnóstica especializada para crianças e adolescentes que apresentam
distúrbios de aprendizagem, além de contribuir para
formação continuada dos alunos de graduação em
Psicologia e de pós-graduação em Psicopedagogia.
Participaram dos atendimentos cinco pacientes encaminhados a uma clínica escola de Psicologia. O
critério utilizado para a seleção desses pacientes foi a
queixa apresentada, idade, série e encaminhamento.
Foram utilizados testes padronizados e avaliações
normatizadas para esse processo de avaliação. Os
cinco pacientes receberam atendimentos específicos
para o processo de avaliação diagnóstica, totalizando 109 horas de sessões efetivas com os mesmos. As
idades, em sua maioria (80%), estiveram entre 6 e 9
anos de idade, com escolaridade entre a 1ª série do
Ensino Fundamental 1 (80%) e o 7º ano do Ensino
Fundamental 2 (20%). Entre os pacientes atendidos,
40% eram do sexo feminino e 60% do sexo masculino. Os pacientes foram avaliados numa perspectiva
interdisciplinar por meio de supervisões ministradas
por psicólogos especialistas em neuropsicologia e
pedagogo especialista em psicopedagogia. Dentre os
casos, 40% apresentaram dificuldades de aprendizagem relacionadas ao contexto familiar e 60%, distúrbio
específico de aprendizagem.
Tema: Contribuições contemporâneas
sobre a alfabetização
Título: Aprendendo com as boquinhas
Autor: Edy Simone del Grossi Oliveira
Resumo
Projeto de contraturno da Escola Municipal Mercedes Martins Madureira, na cidade de Londrina, PR,
que teve início em 2010 e continua sendo aplicado
até hoje. O objetivo desse programa é promover o
sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita de
crianças que não conseguiram ser alfabetizadas nos
dois primeiros anos do Ensino Fundamental, tendo
como público-alvo crianças do 3º e 4º anoa, numa
média de 20 crianças por semestre, totalizando até
hoje 84 crianças. O trabalho é realizado por uma
psicopedagoga que aplica o método das Boquinhas,
de Renata Jardini, na íntegra, utilizando estratégias
multissensoriais: fônicas, léxicas, visomotoras e articulatórias (boquinhas). O projeto teve, até agora,
excelente resultado nessa escola, sendo elogiado na
Rede municipal de Londrina.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Dislexia: um jeito novo de aprender
Autor: Edy Simone del Grossi Oliveira
Coautor: Maria Aparecida Negrão
Resumo
A criação da Lei Municipal Nº 245, que cria o Programa de apoio ao aluno portador de distúrbio específico
de aprendizagem diagnosticado como Dislexia, teve a
participação da aluna Maria Aparecida Negrão e da
professora do Curso de Psicopedagogia, aqui autora;
na implantação de cursos e palestras que visam à
capacitação de profissionais da educação e da saúde
pública de Londrina. Criando a partir dessa lei, campanhas educativas de combate ao preconceito para
com o aluno com dislexia e a concientização da família
do disléxico. Dando continuação a esse projeto, foi
elaborada uma cartilha educativa e ilustrada, que
tem como objetivo levantar hipóteses desse distúrbio
e auxiliar os professores no diagnóstico de casos de
falhas na aprendizagem da leitura e da escrita.
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153
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
(meninas: 39,33 ± 14,31 e meninos: 39,81 ± 16,41)
p= 0,90, t= -0,11. Na avaliação psicomotora geral,
foram encontrados resultados significativamente
diferentes entre meninos e meninas (meninas: 26,51
± 3,07 e meninos: 24,77 ± 3,32) p= 0,051, t= 1,99,
já na coordenação fina essa diferença é bem significativa (meninas: 9,06 ± 1,24 e meninos: 7,90± 1,60)
p= 0,004, t= 2,99. Na prova de conhecimentos de
fração, o desempenho das crianças foi semelhante
(meninas: 8,03 ± 2,63 e meninos: 7,22 ± 2,61) p=
0,27, t= 1,10. Na prova de geometria, ambos apresentam desempenho semelhantes (meninas: 24,45
± 3,36 e meninos: 24,04 ± 3,21) p= 0,65, t= 0,44. O
TC apresenta correlação baixa (r= 0,31) com a prova
de fração. O VE apresenta correlação baixa (r= 0,43)
com a prova de fração e com a coordenação fina
(r= 0,30). A avaliação psicomotora geral apresenta
baixa correlação com a prova de fração (r= 0,37) e
com a prova de geometria (r= 0,45). A coordenação
fina e o VE apresentam correlação baixa (r=0,30). Os
resultados encontrados no presente trabalho sugerem
haver diferenças significativas no desempenho motor
de crianças quando comparadas por sexo, nesta faixa
etária, bem como possível influência do desempenho
motor (principalmente coordenação fina) e das habilidades matemáticas.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Estudo do desempenho psicomotor de
crianças de 5-6 anos: análise por sexo
Autor: Fábia Cecília da Silva-Amann
Coautores: Patrícia Hong, Leia Bernardi Bagesteiro,
Virgínia Cardia Cardoso,
Ruth Ferreira Santos-Galduróz
Resumo
Um dos componentes básicos do desenvolvimento da
criança é a sua psicomotricidade pelo seu papel no
desenvolvimento afetivo e cognitivo que são os pré-requisitos para a aprendizagem. Já se é sabido que
as crianças aprendem brincando e muitos estudos
demonstram que entre cinco e seis anos estão com
prontidão para o aprendizado da leitura e da aritmética. Reed et al. estudaram o efeito da inclusão de
atividade física nos currículos escolares, com efeitos
positivos, demonstrando que crianças apresentaram
desempenho significativamente melhor no Teste de
Inteligência e em disciplinas como estudos sociais,
inglês, matemática e ciências, quando estimuladas
motoramente. Também Fernald, de forma mais específica, destaca a importância do suporte ambiental
como forma importante de contribuição para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e também
da linguagem. O objetivo deste estudo é investigar
se existem diferenças psicomotoras entre crianças
de 5-6 anos quando comparadas por sexo e verificar
possíveis correlações entre os parâmetros estudados. Foram avaliadas 55 crianças, sendo 33 do sexo
feminino e 22 do sexo masculino, com idade entre 5
e 6 anos, do 1º ano do ensino fundamental, de duas
escolas municipais da cidade de Ribeirão Pires, em
São Paulo. Todas as crianças foram submetidas ao
Teste de Maturidade Mental Colúmbia (TC), ao Teste
Visuo-espacial (VE), avaliação psicomotora (coordenação global e fina), Escala de Estresse Infantil (ESI)
e a duas provas, sendo uma para conhecimentos de
fração e outra para geometria. Foram encontrados
resultados semelhantes no teste VE (meninas: 1,78 ±
1,34 e meninos: 1,78 ± 0,96) p= 0,46, t= 0,73. No TC,
também os desempenhos foram semelhantes entre os
grupos e todos foram considerados como desempenho
esperado, considerando a idade cronológica (meninas:
46,81 ± 6,83 e meninos: 48± 6,83) p= 0,58, t= -0,54.
Na ESI, os resultados também foram semelhantes
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: TDAH na sala de aula:
o professor desatento, hiperativo ou dividido?
Autor: Flávia Justino Martins
Resumo
O presente trabalho problematiza a prática docente
de profissionais da rede municipal de ensino de Belo
Horizonte (MG) diante de alunos diagnosticados
com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Originado da pesquisa realizada
neste ano para a obtenção do título de licenciatura
em Pedagogia, o objetivo foi refletir sobre a efetiva
prática da Lei 9.078, de 19 de Janeiro de 2005,
contrapondo-a à realidade escolar, em especial, ao
trabalho do professor no interior das salas de aula.
A Lei 9078/05 possui 68 artigos divididos em onze
seções, sancionando o conjunto de normas que visam
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
consolidar os direitos individuais e coletivos dos sujeitos considerados como portadores de deficiências.
O Artigo 3º não deixa dúvida sobre quais deficiências
seriam essas: a física, a auditiva, a visual, a mental
e a múltipla. Não há nenhuma menção ao TDAH.
Essa posição é definitiva no impacto ocasionado no
ambiente da classe escolar, pois, a fim de garantir o
acesso, a permanência e a educação de qualidade,
propostas do Artigo 50º, os alunos considerados
deficientes têm o direito de serem acompanhados
por monitores ao longo de todo o perío­do em que
permanecem na escola, o que não ocorre com aqueles
com TDAH. O TDAH é uma síndrome que, apesar
de não ter uma origem definida, muitas pesquisas
indicam que é causada por alterações neurobiológicas. De acordo com a quarta edição do Manual de
Estatística e Diagnóstico (DSM), ela se subdivide
em três tipos: TDAH com predomínio do sintoma de
desatenção; o TDAH com predomínio do sintoma de
hiperatividade e o TDAH combinado, no qual os sintomas dos tipos anteriores se manifestam. Em 2002,
renomados especialistas assinaram uma declaração
conjunta, a fim de esclarecer e alertar sobre a importância de se diagnosticar e tratar o TDAH. Entre os
onze itens encontram-se afirmações que garantem a
genuinidade desse transtorno, confirmando algu­­­mas
implicações como comprometimento de mecanismos
físicos e psicológicos comuns a todas as pessoas e
desenvolvimento de deficiências que podem acarretar sérios prejuízos à vida de seu portador. Assim,
diante da realidade dos portadores de TDAH inseridos nas escolas de Belo Horizonte e a proposta
da Lei municipal 9.078/05, buscou-se, por meio de
nove entrevistas semiestruturadas com professores
da rede, conhecer as implicações que o não reconhecimento legal desse transtorno tem sobre a prática
docente. Depois de transcritas, as entrevistas foram
analisadas a partir da metodologia proposta por
Bardin (1977), da análise de conteúdo. Os resultados
apontaram para sobrecarga do trabalhador docente
quando possuíam alunos com TDAH. Em 90% das
entrevistas, esses profissionais indicavam a presença
de comorbidades nesses alunos, como transtorno
desafiador opositivo, o que gerava a necessidade
da criação de estratégias para que o comportamento
em sala de aula não prejudicasse aos demais estudantes, nem tampouco deixassem esses sujeitos em
defasagem de conteúdo. Todos os relatos trouxeram
a insatisfação dos profissionais frente ao apoio dado
pela rede de ensino em relação a esses alunos. Para
eles, não havia cursos adequados de formação e a
presença de um monitor foi considerada valiosa para
auxiliar o trabalho que desenvolviam. Apenas uma
entrevistada discordou do auxílio do monitor, pois
para ela de nada adiantaria se não houvesse uma
transformação profunda do sistema de ensino no que
tange à política de inclusão. A pesquisa demonstrou,
assim, que a Lei 9.078/05 falha ao não considerar o
TDAH como inclusão e o município de Belo Horizonte, que se diz inclusivo, acaba excluindo esses
sujeitos dentro dos ambientes escolares, restringindo
suas possibilidades de sucesso escolar.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: O lúdico para o desenvolvimento
psicomotor e social da criança
Autor: Ingrid Merkler Moraes
Resumo
Este trabalho é uma pesquisa de conclusão de curso
do Mestrado em Educação da Universidade Salesiana
de São Paulo. O objetivo é comprovar como a ludicidade, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras infantis
atuam diretamente no desenvolvimento psicomotor
e social da criança de educação infantil, afetando
não apenas as atitudes especificamente corporais e
sociais, mas também sua percepção em geral, sua
capacidade de concentração, reflexos condicionados,
horizonte emocional e cultura física, que a presente
pesquisa se norteará. Serão abordados referenciais
como Vygotsky (1984), que afirma que é através da
brincadeira, do brinquedo que a criança projeta-se nas
atividades da vida adulta de sua cultura e ensaia seus
futuros papeis e valores. Wallon (2007) enfoca a motricidade no desenvolvimento da criança, ressaltando
o papel que as aquisições motoras desempenham
progressivamente para o desenvolvimento individual.
Segundo ele, é pelo corpo e pela sua projeção motora
que a criança estabelece a primeira comunicação
(diálogo tônico) com o meio, apoio fundamental do
desenvolvimento da linguagem. É a incessante ligação da motricidade com as emoções, que prepara a
gênese das representações que, simultaneamente,
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
precede a construção da ação, na medida em que significa um investimento, em relação ao mundo exterior.
Alícia Fernandes (1991), em seu livro “A Inteligência
Aprisionada”, afirma que “Desde o princípio até o
fim, a aprendizagem passa pelo corpo. Não há aprendizagem que não esteja registrada no corpo, assim
como não há imagem enquanto o corpo não começa a
inibir o movimento, e é o registro desta inibição o que
possibilita separar o pensamento do momento em que
esse movimento vai se tornar ativo, ficando o movimento como uma marca registrada”. Vitor da Fonseca
(1993) afirma que a psicomotricidade visa privilegiar
a qualidade da relação afetiva, a mediatização, a
disponibilidade tônica, a segurança gravitacional e o
controle postural, a noção do corpo, sua lateralização
e direcionalidade e a planificação práxica, enquanto
componentes essenciais e globais da aprendizagem
e do seu ato mental concomitante. Nela o corpo e a
motricidade são abordados como unidade e totalidade
do ser. Serão apresentados resultados parciais, visto
que a pesquisação está em sua fase final de coleta de
dados através de um estudo de caso.
possível escolha, certo grau de liberdade, ainda
que seja no conhecimento”. Dessa forma, podemos
ilustrar que o paciente da psicopedagogia, assim
como o Pequeno Príncipe, encontra-se no deserto de
sua própria imensidão e, ao tratar da relação com o
Objeto de Conhecimento, tudo que lhe resta é ir ao
encontro de um poço e em sua fonte fartar-se de saber. Este trabalho visa ilustrar, de modo comparativo
e reflexivo, os momentos paradigmáticos da vida por
meio da comparação entre os mundos visitados pelo
Principezinho. Conclui-se, assim, que a lição ensinada nesse livro pode ser partilhada e sugerida a todos
psicopedagogos em sua prática clinica. Uma vez que
a relação de Saint-Exupéry com o Pequeno Príncipe
mostra não somente a delicadeza do encontro com a
criança interior, mas pode nos conduzir a uma profunda reflexão sobre o agir e interagir com o paciente
em Psicopedagogia. O Aviador respeita essa criança
e, mesmo com dúvidas de sua veracidade, está apto
a ouvi-la com todo empenho. Reflete, e mais tarde
anota, cada pequeno detalhe que lhe parece oportuno e quando o outro, o principezinho, encontra-se
preparado, deixa-o partir.
Tema: Formação do psicopedagogo
Tema: Vida Adulta
Título: Era uma vez um pequeno príncipe:
uma lição de escuta ao psicopedagogo no
atendimento de adultos e crianças
Título: Oficina da memória
Autor: Izabel Cristina Pinheiro Laguna
Autor: Isaac Kassardjian Junior
Coautor: Taís Aparecida Costa Lima
Resumo
Com o envelhecimento, o isolamento social e a queda
da produção física e mental, o idoso apresenta dificuldades para execução das AVDs e se manifesta
a queixa de perda da memória. Assim, estimular o
desenvolvimento das habilidades cognitivas, ampliando a rede neural com novas ligações sinápticas,
e proporcionar interações sociais são os objetivos
desse trabalho. Sabe-se que as interações sociais e a
estimulação cognitiva são fundamentais e têm efeito
positivo sobre a saúde geral do cérebro, neste sentido, realizam-se encontros semanais, uma vez por
semana, de duas horas de duração, com um grupo
de até quinze pessoas, quando são desenvolvidas
ações que estimulam a cognição através de todos
os sentidos, tais como: jogos matemáticos (sudoku);
dominó fonético; escravos de Jó; uso do lado do corpo
contrário ao dominante, escrevendo com a mão es-
Resumo
Ao adentrarmos no livro o Pequeno Príncipe, encontramos a história de um Homem, adulto, com feridas, cicatrizes e sofrimentos que a vida lhe deu. E ainda, um
Homem, que tem a oportunidade rara, daquelas que
nos são ofertadas todos os dias, mas que dificilmente
estamos atentos para reconhecê-las. Um Homem que
toma essa oportunidade para rever sua própria vida
e encontrar-se consigo mesmo, uma criança linda
dos cabelos dourados e ideias que valem ouro. Como
indica Sara Paín, ao trabalho do psicopedagogo não
resta nada mais do que propiciar ao paciente a busca e compreensão de seu problema e pelo problema
construir-se um ser novo. “Não podemos curá-lo nem
entendê-lo. (...) é facilitar seu trabalho de recriar-se
como pessoa interessante. (...) que vislumbre uma
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
querda se for destro e vice-versa, subindo ou descendo
degraus com a perna não-dominante; identificação
de “cheiros” com os olhos vendados, entre tantas
outras atividades. Como resultados verifica-se uma
maior competência às respostas às AVDs, elevação
da qualidade das relações interpessoais, aumento
da autoestima e consequente ganho na qualidade de
vida. É, portanto, um trabalho que pode e precisa ser
ampliado, pois após ser aprendido, constituindo-se de
uma atividade que deve fazer parte do dia a dia do
idoso e de seus parceiros fora do grupo em questão,
servindo como uma possibilidade de prevenção e
qualidade do envelhecimento.
da teoria piagetiana e oferecer ao público em geral
e aos funcionários e alunos da Unicamp um serviço
especializado para seus filhos ou parentes. Para tanto,
conta com uma equipe composta por profissionais que
integram o Laboratório de Psicologia Genética – LPG,
o qual recebe crianças de escolas particulares e públicas com queixa de dificuldades de aprendizagem
que são atendidas pelo Núcleo de Investigação Psicopedagógica dos Problemas na Aprendizagem e no
Desenvolvimento Serviço de Avaliação e Intervenção
Pedagógica (NIPPAD). Inicialmente é realizada uma
entrevista com os pais, com o objetivo de investigar
a trajetória familiar e escolar da criança. Após a coleta de dados da entrevista inicial desenvolve-se a
avaliação diagnóstica da criança através do Método
Clínico Crítico proposto por Jean Piaget, frente aos diferentes aspectos do desenvolvimento infantil: afetivo,
cognitivo e social. Realiza-se uma avaliação através
da Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem
(EOCA), e também uma sondagem da construção do
sistema escrito com o objetivo de verificar em qual
etapa de aquisição a criança está, de acordo com os
fundamentos construtivistas propostos pelos estudos
de Emília Ferreiro: escritas pré-silábicas, escritas
silábico-alfabéticas e escrita alfabética. O processo
de intervenção do NIPPAD é desenvolvido através
do PROEPRE – Programa de Educação Infantil e Ensino Fundamental, que tem como objetivo prin­­­cipal
o procedimento de solicitação do desenvolvimento
infantil, de acordo com a perspectiva de Mantovani de Assis (1976). A intervenção pedagógica tem
por objetivo contribuir para que a criança construa
estruturas mentais importantes para a sua fase de
desenvolvimento, criando situações e oportunidades
em que as mesmas possam dirigir suas próprias ações,
propiciando assim a ação da criança sobre o objeto de
conhecimento, estabelecendo relações com objetivos
variados e em situações desafiadoras. A intervenção
pedagógica pode acontecer individualmente ou em
duplas, uma vez por semana, com 50 minutos de duração para cada sessão, favorecendo, dessa maneira,
a interação entre os pares. Ao final de cada sessão,
são realizados relatórios de acompanhamento do
desenvolvimento dos participantes da intervenção,
possibilitando, assim, acompanhar o progresso da
criança, além de fornecer dados para as próximas
intervenções. Atualmente, o Núcleo atende cerca
de 9 crianças, encaminhadas por escolas e unidades
básicas de saúde, dentre outros locais.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: NIPPAD – Núcleo de Investigação
Psicopedagógica dos Problemas na
Aprendizagem e no Desenvolvimento Serviço
de Avaliação e Intervenção Pedagógica
Autor: Janete Schmidt de Camargo Cesar
Coautores: Daniela Borges da Silva,
Orly Zucatto Mantovani de Assis,
Patrícia Henriques Godoy,
Melissa Sayuri Nakasaki
Resumo
O Núcleo de Investigação Psicopedagógica dos
Problemas na Aprendizagem e no Desenvolvimento
(NIPPAD) Serviço de Avaliação e Intervenção Pedagógica trata-se de um serviço prestado à população
de Campinas e região, pelo Laboratório de Psicologia
Genética da Faculdade de Educação da Unicamp,
o qual tem priorizado a capacitação de professores
e alunos para avaliar processos de aprendizagem
e desenvolvimento do ser humano. O NIPPAD tem
como objetivo avaliar o desenvolvimento intelectual e
socioafetivo da criança e/ou adolescente, por meio das
Provas Piagetianas e do Método Clínico Crítico elaborados por Jean Piaget, bem como realizar intervenções
psicopedagógicas com as crianças que apresentam
atraso no desenvolvimento cognitivo e afetivo, tendo
como suporte metodológico o PROEPRE – Programa
de Educação Infantil e Ensino Fundamental; investigar os distúrbios de aprendizagem; proporcionar a
alunos de graduação um espaço de aprimoramento
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Tema: Infância e Adolescência
Título: Aprendizagem da matemática e
memória de trabalho: um estudo com alunos
da 4ª série do ensino fundamental
Título: As contribuições da terapia
cognitivo-comportamental para controle do
estresse e orientação profissional no
contexto familiar e escolar
Autor: Joanne Lamb Maluf
Coautor: Clarissa Seligman Golbert
Autor: Juliana Junqueira Arruda
Resumo
Resumo
A presente pesquisa aborda o tema das dificuldades
de aprendizagem na matemática à luz da neuropsicologia. Teve como objetivo a investigação da possível
relação entre aprendizagem da matemática e memória
de trabalho. Participaram desta pesquisa vinte alunos
da 4ª série de Ensino Fundamental de escolas públicas
de Porto Alegre, com idades entre 9 e 10 anos, divididos em dois grupos: com bom desempenho e com
baixo desempenho em matemático, a partir da média
dos escores dos participantes na Prova de Aritmética
(Capovilla & Capovilla et al, 2007). A memória de
trabalho foi avaliada por meio da tarefa de Memória
Imediata - dígitos na ordem indireta (Capellini &
Smythe, 2008). A memória de trabalho é definida pelos
autores como responsável pelo armazenamento e pela
manipulação “on-line” da informação, necessária para
as funções cognitivas superiores. É composta por um
sistema coordenador denominado, executivo central
(controlador da atenção) e pelos subsistemas, alça
fonológica; esboço visuoespacial e buffer episódico.
O uso de estratégias de contagem e de procedimentos
iniciais sobrecarrega a memória de trabalho, exigindo
um esforço cognitivo muito maior por parte dos alunos. A memória de trabalho está associada a todas
as aprendizagens escolares. No que concerne às
aprendizagens matemáticas, sua associação torna-se
mais visível devido à complexidade do pensamento
matemático e da exigência da memória de conhecimentos prévios que está presente em cada atividade
matemática, como por exemplo, os fatos básicos, as
operações. Os resultados apontam que o grupo com
bom desempenho obteve melhor média na tarefa de
memória de trabalho, enquanto que, o grupo com baixo desempenho obteve resultados inferiores à média.
Os resultados encontrados nesta pesquisa corroboram os dados da literatura que apontam a memória de
trabalho como função essencial para a aprendizagem
da matemática. Constatou-se que, quanto mais recursos de memória de trabalho o participante possui,
melhor é seu desempenho matemático.
O estresse na adolescência advém de um conjunto
de reações frente às adaptações em uma fase em que
as mudanças são constantes. Por meio de estudos da
literatura científica e prática em orientação profissional no contexto escolar, pode-se caracterizar o estresse
no momento da escolha da futura profissão como algo
realmente ameaçador para a qualidade de vida do
estudante, porém o que muitas vezes observou-se é
que a influência do estilo parental e do estilo de pais,
de participativos a negligentes, influencia consideravelmente tanto o processo de escolha profissional
quanto a motivação e o desempenho nos vestibulares. Diante de tal situação e com a rica contribuição
teórica Terapia Cognitivo-Comportamental, criou-se
um protocolo de processo de orientação profissional e
qualidade de vida que se iniciou com o contato direto
do adolescente, posteriormente com a família e através de técnicas, dinâmicas, relaxamento, se conduz
durante todo o ano letivo um trabalho em que família,
escola e aluno caminham juntos. O modelo proposto
e colocado em prática em um curso pré-vestibular
particular no interior de São Paulo apresentou bons
resultados no decorrer de 2010 em que de 297 alunos,
145 participaram do processo e desses, 97% ficaram
satisfeitos com suas escolhas e foram aprovados em
universidades públicas e particulares de grande
importância no cenário acadêmico brasileiro. Além
do bom desempenho nos vestibulares, apresentaram
melhora nos sintomas de estresse e relataram diminuição dos pensamentos irracionais sobre vestibulares e
escolha profissional, menor tensão muscular, melhora
na qualidade do sono, aumento do foco nos estudos
e aumento da motivação para frequentar as aulas e
compartilhar suas escolhas e objetivos com os familiares. O presente protocolo de intervenção continua
sendo utilizado apresentando bons resultados, maior
interesse dos pais em participar das escolhas dos seus
filhos e também apresentou diminuição significativa
nos níveis de estresse dos estudantes, dos familiares
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
e dos professores que também recebem orientações
mensais de como atuar dentro e fora das salas de aula.
dos mesmos. Assim, a presente pesquisa teve como
objetivo principal determinar o impacto de experiên­
cias traumáticas no desempenho acadêmico entre
as diferentes áreas de formação acadêmica (Exatas,
Biológicas/Saúde, Humanas/ Artísticas) a partir
de um estudo censitário conduzido em três áreas
metropolitanas do NE brasileiro. Todos os alunos
com idade igual ou superior a 18 anos do primeiro
e último semestre de seis instituições de ensino superior da região NE do Brasil (Salvador-BA, Feira de
Santana-BA, Cajazeiras-PB) foram escolhidas para
prover uma amostra demográfica diversificada (incluindo universidades de caráter público e privado).
Os estudantes matriculados, de todos os cursos de
graduação, no primeiro e último semestres teóricos,
e presentes em sala de aula, e que consentiram em
participar do estudo, após a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram
solicitados a preencher o protocolo. Os instrumentos
usados para a coleta foram: Questionário sociodemográfico; Questionário de historia de trauma (THQ);
PTSD Checklist-Civilian Version (PCL-C) e a Escala
de Impulsividade de Barratt (BIS 11). Antes de utilizarmos o protocolo com os estudantes, realizamos
um estudo piloto, no qual o instrumento foi aplicado
em uma amostra para fins de determinação de parâmetros de tempo de aplicação dos instrumentos de
avaliação e identificação de possíveis dificuldades
no fluxo de investigação. Os dados estão sendo inseridos no SPSS, versão 15.0. Após encerrada esta
etapa, será realizada análise de associação entre as
variáveis dependentes e independentes. A Razão de
Prevalência (RP) será utilizada para medir as associações entre as variáveis estudadas. O número total
de protocolos preenchidos foi de 2282. Destes, 36,6%
dos estudantes são da universidade pública estadual,
25,1% das instituições federais e 38,3% de instituições particulares. Encontravam-se matriculados
no primeiro semestre 56,9% dos alunos e no último
semestre teórico 43,1%. Até o momento, esses são
dados descritivos possíveis de serem apresentados.
Apesar dos dados serem incipientes, reconhecemos a
importância da pesquisa para conhecermos o desempenho acadêmico de universitários para possíveis
intervenções. O projeto foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa local e conta com financiamento
do Edital Universal 2010 do CNPq.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Impacto de experiências traumáticas
e do transtorno do estresse pós-traumático
(TEPT) no desempenho acadêmico de
estudantes universitários da
Região Nordeste do Brasil
Autor: Juliana Laranjeira Pereira dos Santos
Coautores: Liana R. Netto; José Rômulo Feitosa;
Deivson F. Mundim; Rejane C. Santana;
Lilian Verena S. Carvalho; Susan Carvalho;
Reinilza Nunes; Weslley Batista;
Lucas C. Quarantini
Resumo
Estudos voltados para a investigação de experiências traumáticas em alunos universitários ainda
são escassos no Brasil, assim como a consequente
repercussão que a violência pode ter no desempenho
acadêmico desses indivíduos. Dessa maneira, surgiu
o interesse em se realizar uma pesquisa com a referida população, avaliando a exposição a eventos
traumáticos durante a graduação, mas, principalmente, objetivando mensurar o impacto que tais
eventos, prévios e durante o curso universitário terão
no desempenho acadêmico formal. Os trabalhos
identificados na literatura investigando estudantes
universitários conduzidos no Brasil são, em sua grande maioria, relacionados ao desempenho da leitura
e escrita. Identificamos, entretanto, farta literatura
referente ao tema em outros países, não somente com
as temáticas citadas anteriormente, como também,
referente a tipos de violências sofridas e perpetradas
entre graduandos, diferenciando-os entre os gêneros.
Os graduandos, em sua maioria, se encontraram na
fase da adolescência e início da vida adulta. Estes são
períodos de maior vulnerabilidade às experiências
traumáticas. As causas externas são responsáveis
por cerca de 70% dos óbitos de adolescentes (68,43%
entre 10 e 19 anos) e adultos jovens (70,41% entre
20 e 29 anos). Diante desse contexto, esbarramos em
um hiato no que concerne ao desenvolvimento do
TEPT nos estudantes universitários e suas possíveis
consequências e comorbidades na vida acadêmica
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
pesquisa: Grupo TDAH-C (n = 73) e Controle (n = 64)
foram compostos de crianças de ambos os sexos, com
idade de 8,5 ± 1,0 anos (média ± dp), cursando em
média o 3º ou 4º ano (2ª ou 3ª séries). Resumo dos
resultados no TDE: Grupo TDAH–C: Escrita: Inferior
90%, Média 7%, Superior 3%; Aritmética; Inferior 75%,
Média 22%, Superior 3%; Leitura: Inferior 75%, Média
8%, Superior 17%. Grupo Controle: Escrita: Inferior
11%, Média 39%, Superior 50%; Aritmética: Inferior
3%, Média 19%, Superior 78%; Leitura: Inferior 0%,
Média 31%, Superior 69%. Encontrou-se p< 0, 001
em todos os Subtestes. Analisando os resultados dos
Subtestes de Escrita, Aritmética e Leitura percebeu-se
uma diferença estatística significativa entre os dois
grupos. O Subteste de Leitura foi o que apresentou
maior diferença. Os resultados indicam que existe
uma necessidade de adaptações curriculares e de
professores mais capacitados para ajudar as crianças
com TDAH a amenizar os prejuízos provocados pelos
seus sintomas, e consequentemente, ter um melhor
desempenho escolar.
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: Transtorno de déficit de atenção/
hiperatividade e o desempenho acadêmico
Autor: Leandra Felicia Martins
Coautores: Maria Tereza Costa,
Cássia Roberta Benko, Antonio Carlos de Farias,
Mara Lúcia Cordeiro
Resumo
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
(TDAH) aparece cedo na infância e, frequentemente,
causa prejuízos funcionais que geralmente afetam o
desenvolvimento escolar nos seus portadores. Vários
estudos internacionais relataram que o Transtorno
de Aprendizagem (TA) co-ocorre em 20% a 30% das
crianças com TDAH. Porém, existem poucos estudos
nacionais comparando o desempenho escolar de
portadores de TDAH no Brasil com crianças sem
TDAH ou outra psicopatologia. Utilizando o Teste
de Desempenho Escolar (TDE), comparar o desempenho acadêmico de crianças diagnosticadas com
TDAH com crianças sem psicopatologia ou déficits
acadêmicos. O TDAH é uma doença neurobiológica
de origem multifatorial e é um dos transtornos psi­
quiátricos mais comuns em crianças e adolescentes.
Os sintomas característicos: desatenção, hiperatividade e impulsividade podem interferir no desempenho
escolar. Estudantes com TDAH podem apresentar
dificuldades nas relações estabelecidas e alterações
no processo de aprendizagem, uma vez que têm
maior propensão a não prestar atenção a detalhes,
dificuldade em acompanhar instruções longas e em
permanecer atentos até o final das tarefas escolares
o que, com frequência, os leva a cometerem erros.
Participantes da linha de pesquisa “Transtornos
Neurocognitivos e Comportamentais de Crianças e
Adolescentes”, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno
Príncipe, diagnosticadas com TDAH - tipo Combinado, não medicadas, foram selecionadas para o estudo. O grupo Controle foi recrutado em duas Escolas
Municipais de Curitiba preenchendo os critérios de
bom rendimento escolar e ausência de psicopatologias. Análise comparativa estatística usando o teste
t-Student foi realizada baseada nos resultados obtidos
pelo TDE entre os dois grupos, considerando significativo p<0,05. Dados Demográficos encontrados na
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Contribuição da psicopegagogia
no desenvolvimento da resiliência em
crianças hospitalizadas
Autor: Maria Cristina Braido Delalibera Jacob
Coautor: Maria Cristina Braido Delalibera Jacob
Resumo
Este trabalho tem como objeto de estudo a Psicopedagogia em educação e saúde, focalizando o
desenvolvimento do processo da resiliência em crianças hospitalizadas. A abordagem desse problema
deve-se ao fato da grande incidência de crianças e
adolescentes enfrentando situações adversas, como
doenças, hospitalização, procedimentos médicos
dolorosos e perspectiva de morte, afetando e alterando o convívio com família, escola e sociedade.
Por isso, estes jovens indivíduos podem ser afetados
nos aspectos cognitivos e afetivos, podendo esses
fatos repercutirem no seu desenvolvimento como
aprendentes. É um trabalho de pesquisa bibliográfica descritiva, baseado nas teorias de Vygotsky,
Wallon, Pichón Riviére, tomando como referência a
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
práxis Psicopedagógica de Fernandez e os estudos
de Tavares sobre resiliência. As teorias vygotskyana,
walloniana e pichoniana relatadas destacam a importância das relações que são estabelecidas entre o
sujeito e o outro e ou com o meio cultural. Conforme
o olhar que o sujeito atribui nessa relação é que se
estabelece um sentimento subjetivo de bem-estar.
A função do psicopedagogo no contexto hospitalar,
além de dar suporte ao desenvolvimento da criança
nos aspectos cognitivo, emocional e social, é facilitar o relacionamento entre a criança e a sua família
frente à doença que ora está permeando sua vida,
levando em consideração a condição socioeconômica
da família e o meio cultural. As crianças assim como
a família necessitam continuar se desenvolvendo,
aprendendo e também prosseguindo com os cuidados
necessários à saúde. O fortalecimento dos vínculos
afetivos do sujeito com o outro e com o meio pode
ser um caminho para a construção do processo da
resiliência. Orientar o aprendente/paciente hospitalizado quanto aos conhecimentos básicos de sua
condição de saúde e ainda valorizar a importância
do autocuidado e da responsabilidade em se cuidar,
conduzindo ao autoconhecimento e à autonomia,
conduz ao desenvolvimento da resiliência. A pesquisa apontou que resiliência é um processo e a
construção do seu conceito que se pretende divulgar
é compará-la com a confecção de uma renda do tipo
de bilro, tecida pelas mulheres do litoral cearense.
Para uma renda de bilro ser confeccionada, não é
necessário ter um equipamento sofisticado, pelo
contrário, o material e o equipamento são simples.
Para isto é preciso ter uma almofada para apoiar os
fios de algodão que vão tecer a renda, um cartão de
papel com o esquema do traçado da renda, alfinetes
que podem ser espinhos de mandacaru, e os bastões
de madeira chamados de bilro. Mas o que é essencial é a presença de habilidosas e rápidas mãos da
mulher rendeira para conduzir e tecer os fios, os
quais são entrelaçados e atados nas mais diversas
formas e cores, formando uma linda renda. Assim
deveria ser a vida de uma criança, simples, fina e
delicada como os fios de uma renda, que precisam
de cuidados específicos para ser conservada sempre
bonita. Assim também como a renda, à medida que
a criança cresce, ela vai se entrelaçando com outras
pessoas e situações e, através deste entrelaçamento,
vão surgindo sentimentos e emoções, os quais ela
possa expressar e ser aceita na sua individualidade. Conclui-se que a resiliência é um processo que
necessita ser constantemente tecido e elaborado ao
longo da vida. Da mesma forma que a renda necessita de mãos habilidosas e seguras para que os fios
possam produzir uma linda renda, a criança também
necessita de adultos seguros, confiantes, habilidosos
e dispostos a investir e auxiliar na sua caminhada
pela vida. Para que no futuro possa ser um adulto
responsável, humorado com capacidade de amar e
que queira vivenciar a sua experiência de sucesso
com o outro.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Intervenção psicopedagógica
institucional: inovação pedagógica na
educação ambiental em colônia de férias
Autor: Maria Cristina Braido Delalibera Jacob
Coautor: Francisca Francineide Cândido
Resumo
As férias pode ser um momento de grande conflito
para as famílias de poder socioeconômico baixo, com
o agravante de que, normalmente, as férias dos filhos
não coincidem com as dos seus pais. Além da falta
de condições financeiras para proporcionar lazer
aos filhos, há também dificuldade de ter alguém
para cuidá-los. As colônias oferecidas pelas escolas, e/ou entidades educativas são, muitas vezes,
uma opção para essas famílias. A ideia é combater
o ócio das férias e oferecer uma nova opção de entretenimento e lazer, de forma segura e prazerosa.
Não precisa ser só brincadeira; muitos valores estão
ocultos nas atividades lúdicas, pois é exatamente no
momento da brincadeira livre e, principalmente, no
resgate das brincadeiras infantis que a criança se
expõe. Este trabalho trata-se de um relato de uma
intervenção psicopedagógica institucional realizada
durante uma colônia de férias, em julho de 2011. A
entidade participante é uma ONG, localizada no
bairro Vila União, em Fortaleza (CE). Essa instituição
acolhe, há mais de duas décadas, no contraturno do
período letivo, alunos carentes, em desvantagem
cultural, em nível da Educação Infantil e do Ensino
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
Fundamental, do 1º ao 6º ano, oriundos da escola
pública, oferecendo-lhes apoio pedagógico (reforço),
atividades recreativas e socioeducativas, focadas
na formação religiosa, ética e cidadania, incluindo
a formação musical (coral e oficina de música). A
colônia de férias recebeu 94 crianças, de 4 a 14 anos.
A intervenção constou de atividades lúdicas, significativas e edificantes. Além de oferecer um suporte
pedagógico-cultural, o projeto tinha por objetivo
estimular e desenvolver uma reflexão crítica com as
crianças e adolescentes, sobre a defesa e preservação
do meio ambiente, culminando com a coleta seletiva do lixo, na perspectiva de despertar no aluno a
consciência de que suas práticas e atitudes podem
causar impacto na natureza. Uma ação educativa
significativa produz um sujeito transformador para si
próprio e para a sociedade. O processo metodológico
enfatizou o diálogo reflexivo e a intervenção em meio
real, práticas pedagógicas inovadoras observadas na
inter-relação positiva professor-aluno. No grupo, e
nas boas práticas de preservação do meio ambiente,
com efeito positivo na aprendizagem significativa
das crianças e adolescentes. A atividade ambiental desenvolvida na colônia de férias considerou
como referência a teoria de Ausubel (1986), a qual
avalia com sendo essencial as práticas e fatores
motivacionais focados na da aprendizagem significativa, bem como as concepções construtivistas de
Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934) e Wallon
(1879-1962), os quais refletem sobre as questões de
aprendizagem e a compreensão do desenvolvimento
cognitivo do homem, e a abordagem Psicopedagogia
Institucional Aplicada, obra de Fagali & Vale. Ao final
da colônia de férias, ficou evidente que a atividade
focada na educação ambiental, por meio de reflexão
e ação interventiva, coletiva, com coleta seletiva
do lixo, despertou em cada criança e adolescente o
sentimento da importância da preservação do meio
ambiente, fazendo com que se percebessem cidadãos e, que, com tal, fazem parte do meio em que
vivem. As crianças e adolescentes declararam que
aprenderam muito com a coleta seletiva de lixo e que
isto contribuiu muito para seus aprendizados significativos. Por fim, entendemos que o trabalho com
crianças e adolescentes na perspectiva da formação
de uma consciência e de uma postura crítica diante
da realidade deve ser assumido pelas escolas por
meio de práticas e atitudes cotidianas que valorizem
a qualidade do meio ambiente.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Neurofibromatose tipo I e perfil de
alterações cognitivas e psiquiátricas:
relato de caso
Autor: Maria Luiza da Fonseca Zamboni
Coautor: Sarah Teófilo de Sá Roriz,
Erikson Felipe Furtado
Resumo
Embora relativamente raros, quadros orgânicos cerebrais podem ser a causa subjacente de sintomas
psiquiátricos na infância e merecem investigação
cuidadosa. Este trabalho apresenta um relato de caso
clínico de paciente de 15 anos, aluna de escola de
educação especial para indivíduos com problemas
de visão. Diagnóstico de neurofibromatose tipo I
(NFI) com glioma óptico. Ressonância magnética
(RM) indicativa de glioma, comprometendo quiasma e trato óptico, estendendo-se para hipotálamo e
mesencéfalo. Controles periódicos de neuroimagem
para monitoramento do crescimento do glioma, sem
alterações, assim como inalterado o exame neurológico até o momento. Avaliação fonoaudiológica apontou
existência de problemas de linguagem com trocas/
omissões de fonemas. Os sintomas psiquiátricos são
hiperatividade e problemas de conduta, com início
aos 7 anos: não permanece na sala de aula, desentendimentos diários com colegas, envolve-se em brigas
físicas, dificuldade em assumir responsabilidade por
erros, mentiras frequentes para receber vantagens
ou comprometer colegas, onicofagia, tricotilomania e
mordedura de lábios, e acessos de raiva durando 10
minutos, diários, após ser cobrada/punida. Os diagnósticos psiquiátricos atuais são TDAH e Transtorno
de Conduta, e o tratamento atual é Metilfenidato
40 mg e Haloperidol 5 mg. A Neurofibromatose é
uma doença neurocutânea com prevalência estimada
de 1/3500, causada por mutação em gene supressor
de tumor, cujo produto proteico, a neurofibrina, tem
importante papel na transdução celular envolvida
na neuroplasticidade, memória e aprendizagem. A
doença está associada a um perfil de manifestações
cognitivas e comportamentais, como os transtornos de
aprendizagem (até 60% dos casos), que afetam mais
a escrita e a leitura que a matemática. A incidência
de Retardo Mental é duas a três vezes maior que a
população geral (até 7%), mas insuficiente para ex-
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
plicar o déficit de aprendizagem. A associação com o
TDAH, por critérios do DSM-IV, chega a 40%, sendo o
prejuízo atencional mais frequentemente encontrado
e mais evidente do que sintomas de hiperatividade
ou impulsividade. O transtorno da aprendizagem e o
TDAH contribuem para baixas aquisições acadêmicas
nesse grupo. Os problemas comportamentais mais
descritos na literatura são agressividade, sintomas
ansiosos/depressivos e alterações do padrão do sono.
Em torno de 50% dos indivíduos apresentam macrocefalia, com predomínio frontal e parietal. Foi encontrada associação entre menor assimetria do planum
temporale, importante área de linguagem, e prejuízos
específicos de aprendizagem. Até 80% de pacientes
com NF1 apresentam, ao exame por RM, áreas de
hiperintensidade em T2 chamadas Unidentified Bright
Objects, as quais tem sido muito discutidas devido
sua localização, quando no tálamo, estar associada
com prejuízo cognitivo e déficit atencional. Estudos
funcionais propõem uma desconectividade entre áreas
frontais e posteriores. Estudos genéticos investigam
associações entre alterações na neurofibrina e problemas no turnover da mielina.
por meio de convênio com a Prefeitura Municipal de
Altinópolis. 1) Oferecer suporte técnico através de
Aulas-tema; 2) Contribuir para a integração entre os
serviços de Saúde, Assistência Social e Educação, por
meio de discussão de situações clínicas, para o treinamento de uma resolução compartilhada de problemas
da infância e adolescência entre os setores. Criação
de a) Programa de Capacitação de Temas em Saúde
Mental Infanto-Juvenil e Uso de SPA e b) Programa
de Discussão de Situações Clínicas em Saúde Mental
Infanto-Juvenil e Uso de SPA. Público-alvo: 20 participantes/sessão, com integrantes dos serviços de Saúde,
Educação e Assistência Social do município. Carga
horária de 20 horas/mês; duração dos Programas: 1
ano. O Programa de Capacitação de Temas ocorreu
quinzenalmente, intercalado pelo Programa de Discussão de Situações Clínicas, compondo 2 capacitações
teóricas/mês (1 em Saúde Mental Infanto-Juvenil e 1
em Uso de SPA). As ações foram centralizadas pela Coordenação de Saúde Mental do município, composta
por 1 psicóloga, e realizadas no Ambulatório de Saúde
Mental local. O Programa foi executado por psiquiatra
especialista em Dependência Química e psiquiatra
em formação cursando residência em Psiquiatria da
Infância e Adolescência, sob supervisão do Docente
responsável e Coordenador do Programa. Foram rea­
lizadas 10 Capacitações de Temas e 20 sessões de
Discussões de situações clínicas para treinamento
dos profissionais. Ocorreram ainda capacitações em
2 eventos de Prevenção de Uso de SPA e Síndrome
Fetal do Álcool. Ao término do Programa, observou-se
grande assiduidade e interesse por parte das áreas da
Educação, através de profissionais de um Núcleo de
Apoio Psicopedagógico Educacional, e de assistentes
sociais dos CRAS, com menor participação dos profissionais da Saúde, o que pôde ser considerado no
planejamento da continuidade do Programa.
Tema: Infância e Adolescência
Título: Matriciamento em Psiquiatria
e Saúde Mental da Infância e Adolescência
Autor: Maria Luiza da Fonseca Zamboni
Coautores: Alex Melgar Figueroa,
Karolina Murakami, Erikson Felipe Furtado
Resumo
Matriciamento constitui-se na oferta de suporte
técnico-pedagógico de retaguarda para serviços ou
grupos profissionais visando potencializar a interação
resolutiva entre recursos disponíveis em diversos setores da sociedade. A Psiquiatria constitui-se uma das
especialidades solicitadas nas equipes matriciadoras,
no Brasil, e na modalidade de consultoria escolar, em
muitos países. Objetivos: Implantar um programa piloto de matriciamento e consultoria em Saúde Mental
Infanto-Juvenil e Uso de Substâncias Psicoativas em
município de 15 mil habitantes do interior do estado
de São Paulo, coordenado pelo PAI-PAD (Programa
de Ações Integradas para Prevenção e Atenção ao Uso
de Álcool e Drogas na Comunidade), da FMRP-USP,
Tema: Transtornos associados ao
desenvolvimento e à aprendizagem
Título: A compatibilidade entre altas
habilidades/superdotação e TDAH em
crianças e adolescentes
Autor: Maria Tereza Costa
Coautores: Leandra Felicia Martins;
Cássia Roberta Benko; Antonio Carlos de Farias;
Mara Lúcia Cordeiro
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
53%; curiosidade intelectual 67%; poder excepcional
de observação 52%; B) Capacidade Acadêmica Específica: característica de motivação por disciplinas
acadêmicas e tópicos do seu interesse 87%; desempenho acadêmico acima da média 80%; C) Pensamento
Criativo ou Produtivo; característica de criatividade
93%; originalidade de pensamento 87%; capacidade
de resolver problemas de forma diferente e inovadora
93%; D) Capacidade de Liderança: característica de
sensibilidade interpessoal 60%; atitude cooperativa
73%; poder de persuasão e de influência no grupo
67%; E) Talento Especial para Artes: característica
de alto desempenho em artes dramáticas 67%; F)
Capacidade Psicomotora: característica de habilidades físicas e atléticas 40%. Os resultados indicaram,
mesmo diante de uma pequena amostra, que existe
compatibilidade entre os diagnósticos de TDAH e
AHSD, uma vez que os aspectos referentes às AHSD
apontados pelo MEC foram identificados em algumas
crianças com diagnóstico de TDAH.
Resumo
O diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade (TDAH) em crianças com Altas Habilidades/Superdotação (AHSD) tem sido validado por
meio de recentes e rigorosas pesquisas empíricas. No
entanto, a literatura científica tem poucos relatos a
esse respeito, confirmando que a presença desses dois
aspectos em uma mesma pessoa é pouco discutida
cientificamente. O objetivo deste estudo é identificar
aspectos e características das AHSD que aparecem,
com maior frequência, em crianças com diagnóstico
de TDAH e AHSD, utilizando os critérios do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para AHSD. A
Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação e Cultura (MEC) adota como definição
para Altas Habilidades/Superdotação ou talentosos,
os educandos que apresentam notável desempenho
ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: Capacidade
Intelectual Geral; Aptidão Acadêmica Específica;
Pensamento Criativo ou Produtivo; Capacidade de
Liderança; Talento Especial para Artes; Capacidade
Psicomotora. O TDAH, enquanto doença neurobiológica de origem multifatorial, é um dos transtornos
psiquiátricos mais comuns na criança, tendo como
principais características: desatenção, hiperatividade
e impulsividade. Tanto as AHSD como o TDAH podem
apresentar sintomas que interferem no processo de
aprendizagem, o que pode justificar, muitas vezes,
o encaminhamento de crianças para avaliação. A
amostra foi composta por 15 educandos com AHSD,
do 1º ao 6º ano das escolas municipais de Curitiba,
participantes da linha de pesquisa “Transtornos
Neurocognitivos e Comportamentais de Crianças e
Adolescentes”, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe. Foram utilizados Teste de Inteligência
WISC-III, Teste de Desempenho Escolar (TDE),
inventários, provas e atividades específicas para
determinar aspectos e características relacionados
às AHSD. Na identificação das características foram
empregadas análises quanti-qualitativas. O grupo
foi composto por educandos de ambos os sexos, na
faixa etária entre 7 e 14 anos. Abaixo se encontram
resumidos os principais achados das AHSD, onde
os participantes apresentaram predominância dos
seguintes aspectos: A) Capacidade Intelectual Geral
em 100% dos casos, com as características: memória
elevada 93%; capacidade de pensamento abstrato
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: A utilização do sistema de triagem
pré- escolar como instrumento no processo
de avaliação diagnóstica psicoeducacional
na educação infantil
Autor: Maria Tereza Costa
Coautores: Leandra Felicia Martins;
Jaqueline Gnata de Freitas; Marcia Rms Valiati;
Shiderlene Vieira de Almeida;
Maria Cristina Bromberg; Sérgio Antonio Antoniuk
Resumo
A Avaliação Diagnóstica Psicoeducacional tem como
objetivo investigar o desenvolvimento intelectual,
emocional, percepto-motor, psicomotor, de linguagem,
e pedagógico. Todas essas áreas do desenvolvimento
humano estão envolvidas no processo de aprendizagem. Para que a investigação aconteça de forma segura, são necessários vários recursos complementares,
o que evidencia a importância da elaboração de instrumentos e técnicas adequados. Diante do exposto,
apresentamos o Sistema de Triagem Pré-escolar (PSS)
enquanto um sistema de triagem que tem por objetivo
investigar as três principais áreas cognitivas respon-
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
sáveis pela aprendizagem: motricidade, linguagem e
funções visuo-espaciais. Esse sistema avalia a entrada
da informação, a análise e integração, e a produção
e expressão, sendo um importante instrumento na
Avaliação Diagnóstica Psicoeducacional. O objetivo
deste estudo é apresentar o PSS, por meio de estudo
de caso, como um instrumento de triagem para a identificação de sinais de risco para a aprendizagem, que
pode ser incluído na bateria de testes para a Avaliação
Diagnóstica Psicoeducacional na primeira infância. O
Sistema de Triagem Pré-Escolar – Preschool Screening
System (PSS) – é um instrumento criado para verificar
o desenvolvimento de crianças de dois anos e seis
meses a seis anos e sete meses. É de fácil aplicação,
com duração aproximada de vinte minutos, e permite
a avaliação das principais áreas cognitivas envolvidas
na aprendizagem: Motricidade, Linguagem e Funções
Visuo-espaciais. Oferece resultados quantitativos da
capacidade de aprendizagem da criança e estabelece
a idade equivalente do desenvolvimento em relação
à idade cronológica. Estudo de caso no qual o PSS
foi incluído como um dos instrumentos. Os demais
instrumentos utilizados na bateria de testes foram:
Provas do Diagnóstico Operatório, Audibilização,
Realismo Nominal, Confias, Provas Projetivas Psico­
pedagógicas, Teste Wechsler Intelligence Scale for
Children - 3ª edição (WISC III), RAVEN, ETPC –
Escala de Traços de Personalidade para Crianças e
Observação lúdica. Caracterização da criança – V.J.D.,
sexo masculino, seis anos e seis meses, matriculado
em escola particular da cidade de Curitiba no 1º ano
do Ensino Fundamental. De acordo com a aplicação
do PSS, V.J.D. apresentou resultado quantitativo que
refere idade equivalente de cinco anos e sete meses,
demonstrando uma defasagem de onze meses. Na
área que investiga Consciência e Controle Corporal,
obteve percentil entre 40 – 49 e na área da Linguagem,
obteve percentil entre 50 – 59, indicando resultados
dentro do esperado para a faixa etária. No entanto, na
área Visuoperceptivo-Motora obteve percentil entre
0 – 9, apresentando uma pontuação abaixo da obtida
por 10% das crianças que estão dentro do esperado,
conforme a população estudada pelo PSS. Nesse
sentido, o PSS, como instrumento de identificação
precoce, contribui para a identificação de crianças
situadas fora dos parâmetros esperados para sua faixa
etária e que podem apresentar problemas no processo
de aprendizagem. Em conjunto com os demais ins-
trumentos, aponta os necessários encaminhamentos
e intervenções.
Tema: Infância e Adolescência
Título: Estudo de caso de uma criança
atendida em psicodiagnóstico interventivo
com enfoque fenomenológico
Autor: Mariana Medeiros Assed
Coautor: Patricia Di Lorenzo;
Thays Guimarães Perillo
Resumo
O objetivo do trabalho é apresentar o estudo de caso de
um menino de 8 anos diagnosticado com Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade/TDAH, realizado em 9 sessões de psicodiagnóstico interventivo,
na clínica-escola de uma universidade de São Paulo.
O fio condutor foi a abstenção da mãe de qualquer
responsabilidade no desenvolvimento do filho com
diagnóstico de TDAH em uso de medicamento. A
criança foi encaminhada pela escola com avaliação
neuropsicológica e diagnóstico clínico de TDAH. Os
encontros foram alternados entre mãe e filho, de março a maio de 2011, trabalhados sob enfoque fenomenológico, alguns ligados à construção de identidade e à
autoimagem. Realizadas visitas escolares e domiciliar.
Os dados coletados foram analisados e relatórios escritos embasados em diferentes fontes de informação
para sintomas de TDAH. Mesmo inacabado o processo
por desistência da mãe, os resultados apontaram que
não houve concordância para diagnóstico de TDAH.
O comportamento era adequado à faixa etária da
criança, no entanto, visto por seus familiares como
inadequado; a mãe relatou mais sintomas de TDAH
do que avaliado. Concluiu que o processo de medicalização e uso do medicamento não são suficientes
para mudar comportamento e capacidade de aprendizagem da criança. A presença da mãe e a necessidade
de formar aliança terapêutica colaborativa durante o
processo é de fundamental importância.
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
verificar sua capacidade para identificar cada quadro
psicopatológico como “problema” e fazer o encaminhamento correspondente. O estudo caso-controle
avaliou diferenças entre dois grupos de estudantes,
aqueles selecionados pelos professores como apresentando possíveis problemas emocionais/comportamentais (casos identificados pelos professores antes
da capacitação; N=26) e aqueles não selecionados
pelos professores (controles da mesma série, sexo e
faixa etária; N=26). Um questionário de rastreamento
para problemas emocionais/comportamentais (Youth
Self Report/YSR) identificou problemas de externalização (violação de regras/comportamento agressivo)
e problemas de internalização (ansiedade/depressão)
em casos e controles. Os professores mostraram capacidade prévia para identificar na prática os alunos
mais sintomáticos (comorbidade entre problemas de
internalização e externalização) como necessitados
de assistência em saúde mental. A maioria dos professores já sabia identificar teoricamente como “problema” todos os quadros psicopatológicos descritos
nas vinhetas e mostraram dificuldade em identificar
ausência de problemas na vinheta de adolescência
normal. A estratégia psicoeducativa foi efetiva para os
professores que não sabiam identificar depressão, alto
risco e adolescência normal. Quanto à identificação
associada ao encaminhamento adequado, a capacitação foi efetiva para todos os quadros psicopatológicos
e também para a adolescência normal. A estratégia
psicoeducativa adotada foi mais efetiva nas áreas onde
os professores tinham maior dificuldade, como em
discernir adolescência normal de adolescência com
PSM e, principalmente, realizar o encaminhamento
adequado dos alunos com necessidade de assistência
em saúde mental.
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Projeto Cuca-Legal: capacitação
de professores para identificação e
encaminhamentos de alunos com
problemas de saúde mental
Autor: Marlene Apolinário Vieira
Coautores: Rodrigo Affonseca Bressan;
Isabel Altenfelder Santos Bordin
Resumo
Internacionalmente, a aproximação dos serviços de
saúde mental com as escolas tem sido efetiva na
facilitação do acesso dos alunos aos cuidados em
saúde mental, diminuição do estigma e aumento
das oportunidades de promover e manter tratamento
especializado e prevenir problemas. A escola é o
local onde naturalmente as crianças e adolescentes
são encontrados, daí a importância de contar com os
educadores na identificação precoce de problemas
de saúde mental (PSM) entre os escolares, para que
auxiliem no adequado encaminhamento destes aos
serviços de saúde. Objetivos: (1) Verificar a capacidade prévia dos professores (em teoria e na prática)
de identificar e encaminhar adequadamente alunos
do ensino fundamental II e ensino com possíveis
PSM; (2) Avaliar a efetividade de uma estratégia de
psicoeducação para professores, visando a aumentar a
competência desses educadores para identificar PSM
em alunos adolescentes e de realizar os encaminhamentos a serviços especializados. Referencial Teórico:
Ecologia do desenvolvimento humano. Esta é uma
pesquisa exploratória e descritiva, que compreende
dois estudos: (1) o estudo principal é longitudinal
com análise tipo antes e depois, sem grupo controle,
que possibilita avaliar a efetividade de um modelo de
capacitação em saúde mental para professores da rede
de ensino público do Estado de São Paulo; (2) o segundo estudo (caso-controle) é complementar ao primeiro
e possibilita avaliar a capacidade de identificação do
professor de PSM entre seus alunos antes da intervenção psicoeducativa. A amostra do estudo longitudinal
incluiu 32 professores de uma escola pública estadual
da região Centro-Sul da cidade de São Paulo. Antes
e depois da capacitação, solicitou-se aos professores
que avaliassem sete vinhetas (alto risco, depressão,
conduta, hiperatividade, mania, problemas de aprendizagem e adolescência normal) com o propósito de
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Uma proposta de avaliação
interdisciplinar em grupo a crianças com
dificuldades de aprendizagem escolar
Autor: Morgana Múrcia Ortega
Coautores: Josefa Emília Lopes Ruiz Paganinni;
Leandro Osni Zaniolo; Mari Elaine Leonel Teixeira;
Sandra Fernandes de Freitas;
Taísa Borges de Souza
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
culo mental e/ou apoio no concreto; 8) observação da
atenção, percepção, memória visual e coordenação
motora através de jogos estruturados; 9) vínculos
afetivos e familiares através do desenho da família e
atividades expressivas. C) Visita escolar: obter informações sobre os vários aspectos da vivência escolar
da criança. D) Devolutiva aos pais: informamos por
meio de um relatório, os aspectos observados na avaliação, com uma síntese das informações, na tentativa
de elaborar uma hipótese diagnóstica. Sugerem-se,
quando necessário, encaminhamentos e orientações
relacionadas às dificuldades da criança. Os alunos
da Pedagogia que participam deste estágio acompanham todo esse processo, observando, registrando as
sessões e também na discussão dos casos. Diante do
exposto, concluímos que este trabalho tem permitido
à equipe uma maior integração e troca de conhecimentos, realizando uma avaliação onde se procura
observar a criança como um todo e sua interação com
o objeto da leitura e escrita. Concluímos que a busca
da interdisciplinaridade no trabalho que a equipe
desenvolve tem proporcionado maior integração entre
os profissionais na construção e reconstrução do conhecimento para o entendimento das dificuldades de
aprendizagem. Essa proposta tem permitido também
uma formação diferenciada aos alunos da pedagogia,
futuros educadores.
Resumo
Reconhecendo a complexidade do trabalho com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem
escolar e o aumento da demanda para atendimento
psicopedagógico, a equipe multiprofisssional deste
Centro elaborou uma nova proposta de avaliação e intervenção, integrando várias áreas do conhecimento:
Fonoaudiologia, Psicopedagogia, Psicologia e Serviço
Social e está inserida no Programa de Estágio Interdisciplinar Extracurricular oferecido aos alunos do Curso
de Pedagogia. Nosso objetivo é apresentar uma proposta de avaliação interdisciplinar em grupo, a crianças com dificuldades de aprendizagem escolar, de 6
a 12 anos, encaminhadas pela comunidade. Segundo
Freitas, o pluralismo de perspectivas e as diferentes
áreas do conhecimento contribuem para a compreensão dos vários fatores que levam as dificuldades de
aprendizagem. Entendemos como interdisciplinar, a
integração das várias áreas do conhecimento, a fim de
instaurar um novo nível de discurso e um novo nível
de compreensão das dificuldades e/ou distúrbios de
aprendizagem. Inicialmente, as famílias das crianças
encaminhadas passam por uma triagem realizada
pelo Serviço Social. Semestralmente são organizados
grupos de 6 crianças para a avaliação, selecionadas
de acordo com a idade, o período escolar e o nível da
aprendizagem escolar. A avaliação é coordenada por
dupla de profissionais e ocorre da seguinte forma: A)
Com os pais: anamnese em grupo em 3 encontros.
B) Com as crianças: avaliação em 6 encontros, nos
quais investigam-se os seguintes aspectos com os
respectivos instrumentos: 1) relação da criança com a
aprendizagem por meio do Desenho do Par Educativo,
segundo Visca; 2) linguagem oral, discriminação auditiva e memória auditiva através de jogo estruturado e
roteiro elaborado pela Fonoaudiologia; 3) consciência
fonológica, em roteiro adaptado por Alvarez et al. e
Capovilla; 4) produção da escrita, segundo Emília
Ferreiro, investigando a escrita espontânea e o ditado. Para os já alfabetizados, aplicamos um ditado
de palavras e frases ortograficamente balanceadas,
analisadas e classificadas segundo Zorzi e ainda investigamos, a cópia de letras e formas geométricas;
5) leitura e interpretação de texto através de livros de
estórias com roteiro de questões para interpretação;
6) desenvolvimento cognitivo por meio de algumas
provas operatórias piagetianas; 7) raciocínio lógico
matemático por meio de jogos e atividades com cál-
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: A oficina de arte como instrumento de
mediação em psicologia e educação
Autor: Mônica Cintrão França Ribeiro
Coautor: Andréa Chatah
Resumo
A educação brasileira enfrenta hoje desafios que nos
remetem a um novo pensar, a uma nova forma de agir
e principalmente de educar. A realidade apresenta
professores frente a problemas no processo de escolarização do aluno em relação à aprendizagem da alfabetização e dificuldades na área do comportamento.
Refletindo criticamente sobre os caminhos que temos
tomado frente aos atuais problemas educacionais e
a maneira como a psicologia atuou dentro desse cenário, esta pesquisa teve como objetivo investigar os
principais expoentes da psicanálise que fazem interfa-
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
ce entre psicologia e arte, como processo de expressão
e ferramenta para autoconhecimento, e estabelecer
analogias dos mesmos com os conceitos de mediação
e processo de internalização propostos pela psicologia
sócio-histórica. Além disso, investigamos os benefícios
da Oficina de Arte como mediadora na formação de
professores, para o desenvolvimento da percepção
sobre si mesmo, relacionamento interpessoal e empatia com alunos e colegas. O método constitui-se
em uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e uma
pesquisa de campo em uma escola particular na zona
sul da cidade de São Paulo (Brasil), onde realizamos
oito oficinas de arte com seis professores, um diretor
e uma secretária escolar. A proposta foi articular os
pressupostos teóricos investigados à marcação de
indicadores previamente elaborados e registrados em
formato de diário de bordo. Como resultado pode-se
constatar o papel da oficina de arte como um bom
instrumento de mediação e sua função ao promover saúde na instituição, uma vez que possibilita a
transformação de seus participantes e do contexto
nos quais estão inseridos. Conclui-se a importância
do psicopedagogo-oficineiro como mediador humano
para a elaboração e significação do vivido durante as
oficinas, auxiliar nos processos educativos e suporte
para o desenvolvimento pessoal.
habilidades tem sido um desafio à área, sobretudo
quando se referindo à avaliação de crianças em idade
pré-escolar e mesmo no início do Ensino Fundamental. Este estudo teve como objetivo apresentar dois
instrumentos para avaliação das funções executivas
que podem ser úteis na testagem de crianças. Especificamente, o estudo objetivou verificar diferenças
no desempenho nos testes como função da idade e
da série, o que pode sugerir tendências de desenvolvimento, e investigar as relações entre as medidas de
desempenho e de relato. Participaram 93 crianças de
4 a 6 anos de idade, estudantes de pré-escola (1ª e 2ª
Fase) e 1º ano do Ensino Fundamental de uma escola
municipal da Grande São Paulo. Todas as crianças
foram avaliadas individualmente no Simon Task,
instrumento computadorizado que demanda para sua
resolução as habilidades de memória de trabalho e
controle inibitório. Além disso, pais e professores das
crianças participantes responderam ao Inventário de
Funcionamento Executivo Infantil (IFEI), que mensura as funções executivas da criança em contexto mais
ecológico, por meio de relato. A IFEI possui quatro
subescalas: memória de trabalho, planejamento, inibição e regulação. A análise de variância revelou efeito
significativo da idade e do nível escolar sobre desempenhos em ambas as medidas, mas especialmente no
Simon Task. De forma geral, com o avanço da idade
e escolaridade, as crianças tenderam a ter maiores
escores e menores tempos de reação no Simon Task.
Análise de correlação de Pearson evidenciou diversas
correlações significativas, de magnitude entre leve
e moderada, entre as medidas do Simon Task e as
escalas da IFEI. De modo geral, as correlações tenderam a ser mais significativas quando consideradas
as respostas dos professores do que as dos pais. Isso
pode ser devido ao fato do professor ter maior conhecimento acerca do desenvolvimento infantil e de que
tipos de comportamento são, ou não, esperados para
cada faixa etária, de modo que sua resposta seria
mais fidedigna que a dos pais, que podem não dispor
desse conhecimento. O presente estudo verificou
que o Simon Task é capaz de discriminar os desempenhos das crianças ainda no início da fase escolar,
indicando o desenvolvimento das funções executivas
demandadas pelo instrumento, corroborando estudos
anteriores. Adicionalmente, também foi verificado que
há relações importantes entre os construtos avaliados
pelo Simon Task, como instrumento de desempenho,
Tema: Infância e Adolescência
Título: Funções executivas em crianças
pré-escolares: como avaliar?
Autor: Natália Martins Dias
Coautores: Bruna Tonietti Trevisan;
Ana Paula Prust Pereira; Alessandra Gotuzo Seabra
Resumo
Funções executivas são habilidades importantes para
a regulação de comportamentos, cognições e emoções. Estão implicadas na aprendizagem de novas
tarefas e possibilitam ao indivíduo controlar suas
ações, adequando-as às demandas e exigências do
ambiente. Evidências sugerem que o desenvolvimento
dessas habilidades inicia-se precocemente, em torno
do primeiro ano de vida, e continua ao longo de toda
a infância e adolescência, com algumas habilidades
atingindo desenvolvimento pleno na vida adulta
inicial. Apesar de sua importância, avaliar essas
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
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Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
e o IFEI, como instrumento de relato. São necessárias
novas investigações sobre tais relações e acerca da
contribuição de cada tipo de instrumento à avaliação
neuropsicológica das funções executivas em crianças
no início da fase escolar.
inconsciente, nos sonhos e na neurose, o dinheiro é
intimamente relacionado com a sujeira”. O segundo
motivo refere-se ao contraste entre o mais precioso e
o mais desprezível: a identificação entre o ouro e as
fezes se deve justamente por sua justa oposição, como
é comum acontecer no inconsciente, a representação
de algo pelo seu contrário. Por fim, o terceiro motivo
da equação entre as fezes e o dinheiro tem a ver com
o período da fase anal e o interesse espontâneo pelo
dinheiro. Por outro lado, o trabalho em clínica pode levar anos e certas dificuldades precisavam de soluções
imediatas. Foi quando busquei a Psicopedagogia. “A
Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana,
que adveio de uma demanda, o problema de aprendizagem, colocado num território pouco explorado,
situado além dos limites da Psicologia e da própria
Pedagogia e evoluiu devido à existência de recursos,
ainda que embrionários, para atender a essa demanda, constituindo-se, assim, numa prática.” Nessa
apresentação, gostaria de dividir com os profissionais
minha experiência e questionamentos dessa proposta
de trabalho. Juntos é possivel abrir novos caminhos
nesse campo do saber, criando colaborações com educadores, alunos e instituições que já investem hoje em
finanças pessoais. Percebo, entretanto, que é preciso
procurar o real sentido em Apreender Finanças. “A
modalidade de aprendizagem é como uma matriz,
um molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas diferentes situações de aprendizagem. Se
analizarmos a modalidade de aprendizagem de uma
pessoa, veremos semelhanças com sua modalidade
sexual e até com sua modalidade de relação com o
dinheiro. A sexualidade como a aprendizagem e até a
conquista do dinheiro são maneiras diferentes que o
desejo de posessão do objeto tem para apresentar-se”.
Sabemos que educar financeiramente é, sem duvida,
uma questão de lógica, porém o valor aqui não está
em números e sim no se fazer ser humano.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: A atuação do psicopedagogo junto à
educação financeira
Autor: Patrícia de Rezende Chedid Simão
Resumo
A Educação Financeira ganha espaço, fazendo parte
inclusive no curriculo escolar. “O ilustre Deputado
Lobbe Neto propõe a criação da disciplina Educação
financeira a ser introduzida nos currículos das últimas quatro séries do ensino fundamental e no ensino
médio.” No entanto, por se tratar de uma nova área,
alguns professores estão geralmente despreparados
em atender tal demanda, mesmo porque não existe
formação em educador financeiro. Além disso, a minha experiência clínica mostrou que as desordens financeiras são formas de expressar diferentes aspectos
da nossa personalidade. Mesmo economistas reforçam
a ideia de que finanças não envolvem apenas matemástica e sim fatores de ordem emocional-cognitiva e
socioculturais. “O economista da Yale University, Robert Shiller, um dos líderes do movimento das finanças
comportamentais, enfatizou que as modas e as dinâmicas sociais têm uma função muito importante na
determinação do preço das ações. Isso explica o fato
da psicologia também vir atuando no campo das Finanças. Quando me propus trabalhar junto a clientes
que portavam dificuldades com o dinheiro; a demanda
fez com que eu pesquisasse o assunto, encontrando
sobre ele alguns trabalhos, entre os quais a Tese Avareza e Perdularismo, de Fábio Roberto Rodrigues Belo e
Lúcio Roberto Marzagão, que com apoio na Psicanálise, abordam a relação entre o complexo monetário e a
fase anal. “A psicanálise sempre associou o “complexo
monetário” do sujeito à fase anal. No artigo Caráter e
erotismo anal, Freud (1908) sugere três motivos para
essa associação. O primeiro nos é dado pela cultura
“nas formas arcaicas de pensamento, nos mitos, nos
contos de fada, nas superstições, no pensamento
Tema: Saúde Mental e Escola
Título: Estudo descritivo das avaliações
cognitivas e sua correlação com o
desempenho na matemática em crianças
entre 5 e 6 anos
Autor: Patrícia Hong
Coautor: Silva-Amann FC; Cardoso VC;
Santos-Galduróz RF,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
169
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
correlações nos seguintes testes: na presença de uma
pontuação elevada no teste de frações, o desempenho
de geometria (r= 0,45), Colúmbia (r= 0,31), visuo-espacial (r= 0,45), estória 1 (r= 0,39) e estória 2
(r= 0,32) também se mostraram com um desempenho
elevado. Crianças que conseguiram maiores pontuações no Colúmbia, além de obterem pontuação
elevada em problemas de frações, obtiveram melhores desempenhos em estória 1 (r= 0,38) e estória 2
(r= 0,38). Para crianças que conseguiram melhores
pontuações na estória 1, também alcançaram resultados elevados na estória 2. Os resultados da avaliação
das provas de fração parecem sofrer influência dos
testes cognitivos aplicados, embora tenha apresentado
baixa correlação.
Resumo
Os estágios do desenvolvimento infantil estão bem
estabelecidos na teoria de Piaget, onde se espera que
a criança utilize as habilidades matemáticas intuitivamente. Ainda na fase pré-operatório e já na fase operatório concreto, é possível observar a manipulação
de alguns conceitos. A Cognição envolve uma série de
processos internos, que incluem atenção, percepção,
aprendizagem, memória, linguagem, pensamento,
raciocínio e resolução de problemas. Sendo assim, o
presente estudo buscou analisar se o desempenho dos
testes cognitivos (Teste de Memória, Visuo-espacial,
Escala de maturidade mental Colúmbia) tem correlação com o nível de desempenho das provas de
matemática (fração e geometria), em crianças entre
5 e 6 anos. O objetivo deste estudo é avaliar a relação
entre os conhecimentos matemáticos de fração e geo­
metria com habilidades cognitivas. Foram avaliadas
55 crianças, sendo 22 do sexo masculino e 33 do sexo
feminino, com idade entre 5 e 6 anos, matriculadas no
1º ano do ensino fundamental de escolas públicas do
ensino regular do município de Ribeirão Pires – SP.
As crianças foram submetidas ao teste Visuo-espacial,
Escala de Estresse Infantil, questões de conhecimento de fração e geometria, elaborado pela equipe de
pesquisa e Teste de memória, onde uma estória foi
contada à criança para que recontasse logo após o
término (estória 1) e passados 30 minutos (estória 2).
A análise estatística foi realizada pelo programa STATISTICA, utilizando o teste de correlação de Pearson
e adotando o nível de significância de 95% (p<0,05).
Não foram encontradas diferenças nos resultados
quando comparados por sexo nesta faixa etária. Na
Escala de estresse infantil, meninas: 46,96 ± 17,75
e meninos: 38,77 ± 12,90; p= 0,24 e t= 1,17. Na
avaliação de Frações, meninas: 7,87 ± 2,52 e meninos: 7,22 ± 2,61; p= 0,36 e t= 0,91. Na avaliação de
Geometria, meninas: 24,43 ± 3,41 e meninos: 24,04
± 3,21); p= 0,67 e t= 0,42. Na escala de maturidade
mental Colúmbia, meninas: 46,68 ± 6,89 e meninos:
48 ± 9,11; p= 0,54 e t= -0,60. No teste Visuo-espacial, meninas: 1,78 ± 1,36 e meninos: 1,54 ± 0,96;
p= 0,48 e t= 0,69. Na Estória 1, meninas: 4,18 ± 3,55
e meninos: 4,45 ± 3,71; p= 0,79 e t= -0,26. Na Estória 2, meninas: 3,56 ± 3,84 e meninos: 40,40 ± 4,07;
p= 0,44 e t= -0,77. Na diferença das estórias, meninas: 0,62 ± 1,45 e meninos: 0,04 ± 2,21; p= 0,25 e
t= 1,16. Por meio do teste de correlação de Pearson
e valor de significância (p<0,05), foram observadas
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Crianças com dislexia do
desenvolvimento na escola:
relato de uma experiência positiva
Autor: Raquel Tonioli Arantes do Nascimento
Resumo
Dislexia do Desenvolvimento é um dos transtornos
que mais afetam a aprendizagem e, segundo a Associação Internacional de Dislexia, é um transtorno
específico, sendo caracterizado pela dificuldade na
correta e/ou fluente leitura de palavras, na escrita
e nas habilidades de decodificação, interferindo na
ampliação do vocabulário e de conhecimentos gerais,
quando se comparam sujeitos com todas as habilidades preservadas e outros com transtornos de leitura
e escrita com a mesma idade, escolaridade e nível de
inteligência. O DSM IV a caracteriza por um rendimento da leitura inferior ao esperado, considerando
a idade cronológica e o nível de inteligência normal;
por afetar significativamente as atividades diárias,
inclusive o rendimento escolar; por não coexistirem
déficits sensoriais, além daqueles associados a esse
transtorno, consistindo em uma leitura oral caracterizada por distorções, substituições ou omissões.
A.C.S.S é uma criança com oito anos de idade, sendo
que foi diagnosticada aos sete; estuda no 3º ano do
Ensino Fundamental I; sua família é bastante presente e comprometida com o crescimento dela, o que
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
170
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
de antemão favorece todo o processo de diagnóstico
e intervenção. O levantamento de hipóteses de que
seu desenvolvimento em leitura e escrita não estava
adequado, quando comparada às outras crianças da
mesma faixa etária, teve início em 2010; o colégio a
acompanhou criteriosamente ao longo dos meses para
não alarmar os familiares sem dados concretos. Em
2011, quando a aluna, embora com muitas dificuldades – relação fonema-grafema e grafema-fonema,
ritmo extremamente lento, trocas fonológicas em
quase todas as palavras, entre outras características
– foi encaminhada para avaliação neuropsicológica,
a princípio, e reencaminhada para os outros profissionais em seguida. Seu diagnóstico foi o de Dislexia
do Desenvolvimento e nos relatórios emitidos pelos
profissionais para escola seguiam as seguintes recomendações: sentar-se próxima à professora, de
modo que a professora possa observá-la e encorajá-la
a solicitar ajuda; os profissionais que atuam junto à
criança nunca devem sugerir que a criança é lenta,
preguiçosa ou pouco inteligente, bem como evitar
comparações de suas produções as de seus colegas;
não solicitar para que ela leia em voz alta na frente da
classe, a não ser que aceite esse desafio; sua habilidade e conhecimento devem ser julgados mais pelas
respostas orais que escritas; sempre que possível pedir
à criança que reconte, com suas próprias palavras, o
que a professora pediu para ela fazer, pois isso ajuda
na memorização; a apresentação de material escrito
deve ser cuidadosa, com cabeçalhos destacados, letras claras, maior uso de diagramas e menor uso de
palavras escritas; o ambiente de trabalho deve ser
quieto e sem distratores; incentivar a autoconfiança da
criança, mostrando suas habilidades em outras áreas
(música, esporte, artes, tecnologia etc). O processo
interventivo, dessa forma, foi delineado principalmente por meio de dois métodos de alfabetização,
o multissensorial e o fônico. Para exemplificar este
breve estudo apresentam-se duas atividades – uma
realizada ainda quando a aluna estava em processo
de avaliação diagnóstica, em 2011, e a segunda, no
início de março de 2012.
Resumo
Tendo em vista certa dificuldade no relacionamento
entre professores e alunos na educação à distância
(EAD) pretende-se por meio deste estudo possibilitar
maior entendimento do assunto, que permita facilitar esse relacionamento, discutindo-se as teorias
construtivistas podem nortear o trabalho docente
em um ambiente virtual de aprendizagem. Para elaboração deste trabalho, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica com vários autores que estudaram as
teorias construtivistas, bem como as principais características da EAD. Durante a pesquisa, percebeu-se
que, nos últimos anos, a EAD transformou-se numa
forma necessária de aprendizagem e ensino, sendo
o melhor canal de interação de alunos e professores
no mundo inteiro. A EAD é um processo de ensino-aprendizagem, mediado por diversas tecnologias,
em que professores e alunos estão separados no
meio físico e temporalmente. Apesar de não estarem
juntos, de maneira presencial, podem estar conectados e interligados por meio da tecnologia. A EAD se
caracteriza, principalmente, pela flexibilidade e maior
autonomia do aluno, sendo um processo de ensino-aprendizagem centrado no aluno. Essa característica
da EAD pode ser comparada com as teorias construtivistas, caracterizando-se como uma nova linha
pedagógica em que o aluno toma parte do próprio
aprendizado, mediante a experimentação, o estímulo
à dúvida, pesquisa em grupo e o desenvolvimento do
raciocínio lógico. Portanto, pode-se dizer que a EAD
pode favorecer na prática do construtivismo. Estudando as teorias construtivistas de Piaget, Vygotsky
e Wallon, compreendeu-se que suas ideias construtivistas estão presentes na EAD. A visão piagetiana
considera o conhecimento humano uma construção do
próprio homem, em que o conhecimento se organiza
por meio da interação entre sujeito e o ambiente, com
seus desafios e informações. Presume-se que, numa
atividade que possibilite a interação, como a EAD,
deve existir cooperação entre os participantes para
que exista aprendizagem e desenvolvimento e, para
tanto, deve-se estimular atividades em grupo. O trabalho em grupo é importante na prática pedagógica
construtivista, pois se supõe que a troca de ideias
favoreça o progresso na construção do conhecimento
e, por meio do trabalho em grupo, facilita-se a aprendizagem na zona de desenvolvimento proximal, teoria
formulada por Vygotsky, autor que influenciou as
Tema: Novas linguagens e novas narrativas
Título: Relacionamento professor x aluno e a
educação à distância no ensino superior
Autor: Rita Aparecida Ponchio
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
171
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
da base alfabética, mas fracasso escolar, sentimento
de menos valia, tendência à desistência, dificuldade
na participação das aulas e de produção de registros.
Impulsionada por esses dados, levantei uma questão
que permeou meu trabalho ao longo de um ano de
atendimento, que me causou inquietações e buscas
infindáveis para a formação e desenvolvimento dos
indivíduos atendidos: Os alunos indicados para atendimento psicopedagógico apresentam questões relacionadas à aprendizagem ou a escolha da concepção
de ensino e aprendizagem da língua não favorece a
conquista da base alfabética? Dessa forma, o objetivo
deste trabalho é analisar o processo de alfabetização
dos sujeitos envolvidos e se seu fracasso está relacionado às questões de aprendizagem ou à concepção
de alfabetização proposta e qual o papel da psicopedagogia nessa totalidade. Os dados desta pesquisa
foram coletados por meio de um trabalho participante
e influenciado pelo contexto no qual estava inserida. A
intervenção psicopedagógica acontecia semanalmente, tendo duração de 1h30 min. Inicialmente tinha por
objetivo realizar um diagnóstico das hipóteses conceituais de escritas dos sujeitos atendidos e levantar a
representação e o papel que a escrita tinha para cada
um deles. Em nossa primeira sondagem, colhemos
os seguintes dados: Hipóteses conceituais de escrita
Maio Pré-silábica 6; Silábica inicial 0; Silábica estrita
2; Silábico alfabética 0; Alfabética 0. Na observação e
análise dos registros individuais, permeava a cópia e
repetição de palavras, revelando-nos que a concepção
dos educadores era de que a escrita seria um código
de transcrição. Após diagnóstico inicial, o trabalho
foi redirecionado, visando estimular os sujeitos pesquisados a pensarem sobre o sistema de escrita e de
aproximar as práticas sociais de escrita de seu cotidiano escolar para que avançassem gradativamente
em seus conceitos sobre a língua. Para tanto, escolhi
trabalhar com Projetos, eleito pela turma como um
livro de receitas. Os alunos tinham por que e para quê
escrever, ou seja, um propósito didático e um propósito comunicativo: registrar as receitas para poderem
fazer com suas famílias. Ao final do ano, tivemos os
seguintes resultados: Hipóteses conceituais de escrita
Maio Novembro Pré-silábica 6 1; Silábica inicial 0 0;
Silábica estrita 2 5; Silábico alfabética 0 0; Alfabética
0 2. A concepção que os professores têm sobre ensino
e aprendizagem interferiu diretamente no desenvolvimento emocional, físico, cognitivo e social dos alunos,
teorias construtivistas. Também no processo da EAD,
o uso da linguagem simbólica, tão importante para
Vygotsky, é essencial, pois sem a presença física de
um mediador, a linguagem é o principal instrumento
para realizar o processo de ensino-aprendizagem. Já
para Wallon a dimensão afetiva tem papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. E, assim, após o
estudo dessas teorias, observou-se que a intervenção
do professor e dos atores sociais no ambiente escolar
é fundamental para promoção do desenvolvimento do
indivíduo, pois este não se desenvolve plenamente
sem o apoio dos outros, porém essa intervenção não
precisa ser necessariamente física, ela pode ser à
distância, utilizando-se recursos como webcam, salas
virtuais, e-mails e outros dispositivos virtuais que, por
meio da Internet, podem aproximar as pessoas. Além
disso, percebeu-se que a afetividade é uma característica emocional importante e esta pode ser expressa por
palavras e por símbolos também, como por exemplo
os emoticons, tão usados na comunicação via Internet, que refletem as emoções que são transmitidas
pelos atores sociais envolvidos nesse diálogo virtual.
Mas, vale lembrar que a tecnologia pode facilitar no
relacionamento professor x aluno na EAD, porém as
pessoas sempre serão a parte mais importante num
processo educativo, independentemente se presencial
ou à distância.
Tema: Contribuições contemporâneas
sobre a alfabetização
Título: Psicopedagogia na escola:
uma alfabetização possível
Autor: Roberta Estevão Cassará
Resumo
A convite da coordenadora do Grupo de Estudos e
Trabalhos Psicodramáticos, Geórgia Vassimon, iniciei
o atendimento psicopedagógico em parceria com
instituições públicas e privadas. A ação aconteceria
em uma Escola Estadual de Ensino Fundamental I,
em uma comunidade da cidade de São Paulo, tendo como demanda do projeto social, crianças que
apresentassem dificuldades de aprendizagem relacionadas à alfabetização. Ao iniciar o diagnóstico,
pudemos observar que o público que atenderíamos
não trazia questões relacionadas apenas à conquista
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
172
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
demonstrando-nos a importância da formação dos
professores alfabetizadores. O trabalho realizado na
instituição escolar pesquisada pode contribuir para a
superação do fracasso escolar das crianças atendidas,
pois houve investimento do psicopedagogo nas melhorias das relações de aprendizagem e na construção
da independência rumo à autonomia. Inicialmente,
os alunos em questão estavam rotulados por si e pela
comunidade escolar. Ao término do trabalho, pudemos observar avanços significativos em relação ao
pertencimento ao grupo, desenvolvimento do papel de
aluno, ao protagonismo em suas aprendizagens e em
suas hipóteses conceituais de escrita, foco principal
da pesquisa.
gence Scale for Children, Third Edition - WISC-III,
pontuação nos subtestes e total da Prova de Aritmética - PA). Para análise dos dados foram conduzidas
análises de variância (ANOVA), para verificar se havia
diferença de desempenho entre os participantes de
acordo com a idade e nível de escolaridade e análises de correlação, a fim de verificar a existência de
relação entre a pontuação obtida pelos sujeitos e as
seguintes variáveis: o tipo de teste e o diagnóstico.
Os resultados demonstraram evidências de validade
de desenvolvimento quando a pontuação nos testes
foi comparada com outras variáveis, como idade e
escolaridade, sendo observado um desempenho crescente nas pontuações obtidas. A análise de correlação
entre a pontuação total do subteste de Aritmética da
WISC-III e a pontuação total da PA revelou índice de
correlação moderado (r= 0, 501 p=0,117). Já a análise de correlação entre o subteste de Aritmética da
WISC-III e o diagnóstico recebido por cada sujeito ao
final das avaliações revelou índice baixo de correlação
(r= 0,156 p=0,647). Esses resultados apontam que
todas as crianças avaliadas apresentaram desempenho inferior ao esperado para sua idade e/ou nível de
escolaridade nos testes que envolviam habilidades
matemáticas, indicando dificuldades nessa área. É
importante perceber que os problemas com a matemática têm sido considerados secundários na vida
desses sujeitos, uma vez que a queixa que os levou
a buscar avaliação foram as dificuldades na leitura
e na escrita. Nesse sentido, vale ressaltar que essas
análises apontam evidências da interconexão entre
matemática e linguagem, corroborando os achados
de outros estudos. Espera-se que este estudo possa
contribuir para a necessidade de se considerar que,
além de serem multicausais, as dificuldades de aprendizagem podem comprometer mais do que uma área
de conhecimento, já que estas, por vezes, encontram
bases comuns de funcionamento. Acredita-se que uma
investigação mais apurada do funcionamento desses
processos poderá oferecer importantes subsídios de
trabalho, tanto para a intervenção clínica quanto
para o contexto educacional, na psicopedagogia
institucional, de forma a prevenir as dificuldades
de aprendizagem, sendo um importante recurso na
identificação de crianças de risco para desenvolver
distúrbios específicos nas áreas de conhecimento
linguístico e matemático.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Incidência de dificuldades em
matemática em sujeitos com queixa na
aprendizagem de leitura e escrita
Autor: Roselaine Pontes de Almeida
Coautor: Barbosa ACC; Cruz-Rodrigues C
Resumo
Este trabalho teve como objetivo verificar a existência
de dificuldades no aprendizado e manejo da matemática em um grupo de crianças com dificuldades de
aprendizagem na leitura e na escrita. Para tal, uma
pesquisa documental foi conduzida no laboratório de
Neurociências do Comportamento da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, no ano de 2010. Foram
analisados 31 prontuários que correspondiam às
avaliações por queixa de leitura e escrita, englobando
todos os tipos de dificuldades de aprendizagem nessas áreas: dificuldade na leitura de palavras isoladas
e de textos, na compreensão de sentenças e textos,
problemas na ortografia, na conversão letra-som
(grafofonêmica) e som-letra (fonografêmica), dentre
outras. Os prontuários selecionados eram de sujeitos
com idade entre 7 e 14 anos, estudantes do Ensino
Fundamental. Para análise dos prontuários foi elaborado um protocolo específico contendo informações
que caracterizassem a população envolvida, como
dados de identificação (nome, sexo, idade, escola,
série) e informações sobre as avaliações (pontuação
total no subteste de Aritmética da Wechsler Intelli-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
173
Resumo dos Trabalhos - Categoria Pôster
utilitário. As narrativas das crianças sobre o insucesso
escolar apontam para uma desvalorização narcísica
e denunciam um sentimento de incapacidade diante
das situações que as remetem ao saber escolar. Observamos um desinvestimento em seu próprio eu. O
professor não aparece como modelo identificatório; as
crianças apresentaram situações escolares nas quais
não há investimento afetivo na relação professor-aluno. Podemos dizer que a experiência de alguns
anos de escolarização e de seu vínculo com o aprender
não vem sendo uma experiência positiva para germinar a fantasia nas crianças - sustentáculo da vida
psíquica. Consideramos que a falta de investimento
libidinal na relação com o aprender e com o cenário
que o envolve, pode ser um dos fatores que torna
mais difícil o aprendizado da leitura/escrita, já que
esses não são viabilizados como objetos de desejo.
A conclusão mais geral é que a técnica é recurso de
uma arte e instrumentos são aqueles que produzem
um saber, são meios de “fazer saber”. No caso em
questão, foi possível instaurar um espaço de escuta e
de acolhimento às crianças, tomando-se recursos do
método psicanalítico, de investigação do psiquismo,
sem tomá-lo, entretanto, no sentido mais tradicional
do termo, enquanto trabalho de tratamento sistemático de consultório. Apesar dos ajustes na escolha dos
instrumentos, concluímos que o método se mostrou
soberano, possibilitando um importante espaço de
interlocução para pensarmos o insucesso escolar a
partir da subjetividade do aprendente. “Dar voz” e/ou
escutar a criança e/ou o professor, nesta perspectiva,
pode ser uma possibilidade importante para o trabalho
do psicopedagogo na clínica ou na escola.
Tema: Trabalho psicopedagógico:
contribuições, releituras e autorias
Título: Instrumentos clínicos e a soberania
do método psicanalítico numa experiência
de investigação acadêmica
Autor: Sandra Fernandes de Freitas
Coautor: Maria Lúcia de Oliveira
Resumo
Trata-se de focalizar os instrumentos utilizados numa
pesquisa de mestrado que teve por objetivo a investigação da narrativa de crianças sobre o insucesso
escolar. Foram sujeitos da pesquisa quatro crianças
(entre 9 e 11 anos), encaminhadas para avaliação
psicopedagógica. A narrativa é concebida como
experiência emocional, considerando-se que a informação veiculada por ela está implicada na realidade
psíquica. Desse modo, abre-se a possibilidade de um
tipo de conhecimento que não se limita à vida racional e consciente. No primeiro momento da pesquisa
utilizou-se entrevista aberta, inspirada na entrevista
psicológica de Bleger e o Desenho do Par Educativo
de Visca, uma técnica psicopedagógica que permite
investigar a relação vincular com a aprendizagem e
o contexto que a envolve. A experiência inicial de
utilização desses instrumentos foi apontando uma
característica geral das narrativas ligada à ausência
de espontaneidade e pobreza de vida imaginativa,
esta muito clara nos registros gráficos dos desenhos.
A utilização num segundo momento, de entrevista
semiaberta fundamentada no método psicanalítico,
apontou para a função terapêutica do mesmo, no
sentido da produção/construção e da expressão de
aspectos e elementos significativos da subjetividade
da criança sobre seu insucesso escolar. Foi possível
focalizar com clareza a eficácia terapêutica da relação
vincular construída numa situação de entrevista tal
como já apontado desde Freud, Winnicott, Herrmann,
entre outros, o que permite dizer da força do método posto em ação numa cena de entrevista. Nesse
caminho, uma análise individual das narrativas,
possibilitou-nos apreender como cada criança se coloca na situação de aprendiz e identificar os aspectos
que se repetem na problemática do insucesso escolar.
De modo geral, constatamos que a alfabetização não
é vista como um instrumento civilizatório e como
conquista do ideal de ego e sim como um instrumento
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 146-74
174
de
5
a
8
de julho de
2012 - S ã o P a u l o
Índice dos Trabalhos
C ategorias O ral e P ôster
Índice dos Trabalhos - Categorias Oral e Pôster
A
A sistematização como foco no
atendimento do paciente com TDAH........... 139
A atuação do psicopedagogo junto
à educação financeira................................... 169
A utilização do sistema de triagem pré-escolar
como instrumento no processo de avaliação
diagnóstica psicoeducacional na educação
infantil............................................................ 164
A compatibilidade entre altas habilidades/
superdotação e TDAH em crianças e
adolescentes.................................................. 163
Agenesia e disgenesia do corpo caloso........ 148
A construção da práxis psicopedagógica
clínica em um estudo de caso de TDAH........ 89
Alegria na escola por adolescentes paulistanos
com deficiência............................................. 123
A construção do conhecimento sobre as
diferenças sexuais: um estudo a partir do
diálogo entre as teorias piagetiana
e freudiana..................................................... 121
Amiga Pedagógica Qualificada (APQ) e
Psicopedagogia: reflexões sobre olhar e escuta
psicopedagógica na atuação da APQ........... 152
A dança espontânea e o despertar do ser
cognoscente................................................... 143
Apoio psicopedagógico nas EMEFs de
Carapicuíba: uma intervenção
significativa................................................... 150
A difícil ruptura de padrões de aprendizagens
deficientes: um estudo de caso..................... 133
Aprendendo com as boquinhas.................... 153
Aprendizagem da matemática e memória de
trabalho: um estudo com alunos da
4ª série do ensino fundamental.................... 158
A dimensão psicossocial na formação de
professores das séries iniciais do ensino
fundamental.................................................... 92
Aprendizagem de jovens e adultos no
ensino médio integrado................................ 128
A função visual e aprendizagem:
o que o psicopedagogo deve saber................ 87
A importância da afetividade nos
primeiros anos do ensino básico para o
ensino-aprendizagem .................................. 120
As contribuições da terapia cognitivocomportamental para controle do
estresse e orientação profissional no
contexto familiar e escolar............................ 158
A importância da ressignificação do
processo de aprendizagem dos pais para o
processo de aprendizagem dos filhos............ 91
Avaliação de funcionalidade em
ambiente escolar de alunos com
deficiência intelectual................................... 151
A importância do espaço de escuta
na escola........................................................ 134
Avaliação e intervenção nas dificuldades
de aprendizagem da matemática em
alunos do 3º ano do Ensino Fundamental..... 94
A influência de fatores externos na
aprendizagem: um caso de bullying.............. 84
Avaliação interdisciplinar dos distúrbios de
aprendizagem em clinica escola.................. 152
A oficina de arte como instrumento de
mediação em psicologia e educação............ 167
Avaliação multidisciplinar em vítima de
negligência emocional na infância:
relato de caso................................................. 146
A prática psicopedagógica em clínicaescola – Relato de experiência no Núcleo
de Psicopedagogia da Faculdade União das
Américas – UNIAMÉRICA
Foz do Iguaçu - PR........................................ 130
Avaliação neuropsicológica das funções
executivas: planejamento e inibição numa
perspectiva psicopedagógica........................ 131
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 175-80
176
Índice dos Trabalhos - Categorias Oral e Pôster
C
Diálogos possíveis entre saúde e educação no
processo de ensino-aprendizagem da
criança com paralisia cerebral...................... 115
Características de uma abordagem de
intervenção centrada na família para a
promoção da saúde da criança..................... 146
Dislexia: um jeito novo de aprender............ 153
E
Compreensão leitora e raciocínio lógico não
verbal: busca por identificação de alunos com
necessidades educativas especiais
no ensino regular.......................................... 135
E a borboleta rompe o casulo:
o sabor de saber em família ......................... 141
Contribuição da psicopegagogia no
desenvolvimento da resiliência em
crianças hospitalizadas................................. 160
Efeitos de uma intervenção na modalidade de
avaliação formativa no desempenho algébrico
de alunos com dificuldades na
aprendizagem matemática........................... 144
Contribuições da Psicopedagogia aos
graduandos com transtornos na
aprendizagem................................................ 138
Elaboração de protocolo escolar para avaliação
de alunos com deficiência intelectual............ 88
Contribuições das ideias das crianças
à prática psicopedagógica............................ 105
Era uma vez um pequeno príncipe:
uma lição de escuta ao psicopedagogo no
atendimento de adultos e crianças............... 156
Contributos do modelo ecológico e
bioecológico do desenvolvimento humano
para a intervenção precoce........................... 147
Escola e crianças “desatentas”:
cuidados e descuidos.................................... 116
Corpo, escola e vida: o uso do corpo,
o movimento e a exploração do espaço,
como dispositivos para o aprender.
Discussões na formação de professores....... 140
Estimulação precoce e salas de atendimento
educacional especializado:
um estudo de caso......................................... 136
Crianças com dislexia do desenvolvimento
na escola: relato de uma experiência
positiva........................................................... 170
Estudo de caso de uma criança atendida em
psicodiagnóstico interventivo com enfoque
fenomenológico............................................. 165
D
Estudo descritivo das avaliações cognitivas
e sua correlação com o desempenho na
matemática em crianças entre 5 e 6 anos.... 169
Desempenho cognitivo de uma criança com
síndrome de Asperger por meio das provas
operatórias de Piaget.................................... 149
Estudo do desempenho psicomotor
de crianças de 5-6 anos: análise por sexo.... 154
Desempenho de alunos de oitava série
no jogo Sudoku............................................. 127
Estudo exploratório sobre as estratégias de
aprendizagem de estudantes do
ensino fundamental ....................................... 90
Desempenho de estratégias realizadas em
tarefas de compreensão leitora em crianças
com dislexia do desenvolvimento.................. 86
Experiência Psicopedagógica Clínica no
Núcleo de Psicopedagogia da Uniamérica –
Faculdade União das Américas –
Um Estudo de Caso....................................... 137
Diagnosticando um escolar: um estudo
psicopedagógico.............................................. 92
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 175-80
177
Índice dos Trabalhos - Categorias Oral e Pôster
F
Intervenção psicológica em escolas:
construção de novas práticas em
psicologia e saúde......................................... 125
Formação contínua de professores:
sentidos e significados de aprendizagem
em contexto colaborativo................................ 98
Intervenção psicopedagógica em
uma comunidade de periferia...................... 113
Funções executivas em crianças pré-escolares:
como avaliar?................................................. 168
Intervenção psicopedagógica institucional:
inovação pedagógica na educação ambiental
em colônia de férias ..................................... 161
G
Intervenção psicopedagógica sob enfoque
fonovisuoarticulatorio em crianças de
risco para dislexia......................................... 104
Grupo de Apoio a Diversidade Escolar
(GADE): tecendo novos olhares para as
demandas escolares...................................... 132
Intervenção Psicopedagógica:
uma proposta de atendimento em dupla..... 113
H
L
Habilidades escolares e atencionais
de alunos do ensino fundamental com
queixa de fracasso escolar............................ 105
Letramento e seu significado na formação
do profissional da contemporaneidade:
a importância do professor como agente de
letramento nos cursos de graduação............ 122
Habilidades psicomotoras e dificuldade
de aprendizagem: análise de crianças com
diagnóstico de DE, DA e TDAH .................. 121
M
I
Matriciamento em Psiquiatria e
Saúde Mental da Infância e Adolescência.... 163
Impacto de experiências traumáticas e do
transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)
no desempenho acadêmico de
estudantes universitários da
Região Nordeste do Brasil............................ 159
Mediação familiar: intervenção alternativa
e interdisciplinar na resolução de conflitos
relacionais..................................................... 102
Incidência de dificuldades em matemática em
sujeitos com queixa na aprendizagem
de leitura e escrita......................................... 173
Mielomeningocele e a Neuropedagogia..... 150
N
Influência da memória de trabalho
nas tarefas de leitura em crianças com
dislexia e distúrbio de aprendizagem.......... 149
Neurociências e os processos educativos:
um saber necessário na formação
do professor................................................... 101
Influência do estresse na aprendizagem:
um debate atual............................................. 142
Neurofibromatose tipo I e perfil de alterações
cognitivas e psiquiátricas: relato de caso.... 162
Instrumentos clínicos e a soberania do
método psicanalítico numa experiência de
investigação acadêmica................................ 174
NIPPAD – Núcleo de Investigação
Psicopedagógica dos Problemas na
Aprendizagem e no Desenvolvimento Serviço
de Avaliação e Intervenção Pedagógica...... 157
Intervenção coletiva em nível preventivo:
aplicação em escola pública......................... 130
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 175-80
178
Índice dos Trabalhos - Categorias Oral e Pôster
Programa métodos e técnicas para
estudos independentes: uma experiência
psicopedagógica no ensino superior............ 111
Nível de estresse e prevalência de
dependência de internet em adolescentes.... 109
O
Projeto Aprender em Grupo: adolescentes
refletindo sobre autoconhecimento e
aprendizagem................................................ 100
O acompanhamento psicopedagógico
nas salas de atendimento educacional
especializado ................................................ 102
Projeto articulação: parceria entre a formação
do psicopedagogo e a escola pública............. 96
O desenvolvimento da linguagem infantil no
exercício do jogo simbólico coletivo:
um estudo com uma criança de 5 anos........ 103
Projeto Cuca-Legal: capacitação de professores
para identificação e encaminhamentos de
alunos com problemas de saúde mental...... 166
O ensino e uso da análise funcional na
formação do psicopedagogo:
uma experiência na Faculdade Ideal............. 86
Projeto de orientação profissional
desenvolvido na UNESP/Araraquara: um
espaço educacional com efeito terapêutico... 108
O lúdico para o desenvolvimento
psicomotor e social da criança...................... 155
Proposta de construcão de protocolos
psicopedagógicos na rede municipal
de ensino de Campos do Jordão – SP:
relato de experiência....................................... 84
O processo de construção do conhecimento
permeado pelas relações afetivo-cognitivas
professor-aluno ............................................... 93
Psicopedagogia clínica: da intervenção
possível à constituição do sujeito desejante de
aprender no campo da saúde metal............... 99
O projeto pedagógico como estratégia para
prevenção das dificuldades
de aprendizagem........................................... 109
Psicopedagogia Clínica: um saber, um fazer Dialogando uma prática............................... 107
O que você faz para aprender? Um
levantamento das estratégias utilizadas
por alunos do ensino fundamental............... 110
Psicopedagogia Hospitalar:
equipamentos digitais e aprendizagem....... 127
Oficina da memória...................................... 156
Psicopedagogia na escola:
uma alfabetização possível........................... 172
Olhar do psicopedagogo para crianças e
adolescentes em instituições
de acolhimento ............................................. 118
Psicopedagogia: espaço necessário
de atuação entre a educação e a saúde ........ 99
P
R
Panlexia plus: método de avaliação e
intervenção para dificuldades de
leitura e escrita.............................................. 117
Raciocínio quantitativo e memória de
trabalho na aprendizagem da matemática:
um estudo comparativo entre grupos........... 106
Perfil motivacional para leitura de crianças
do 5º ano do ensino fundamental................. 124
Reconsiderações sobre o agressor e o
agredido nas práticas de bullying................ 126
Processamento auditivo e leitura:
um estudo com pré-escolares....................... 124
Refletindo sobre o cuidado de adolescentes na
estratégia saúde da família: contribuições da
psicopedagogia............................................... 96
Processos identitários: a relação possível entre o
orientador educacional e o psicopedagogo...... 89
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 175-80
179
Índice dos Trabalhos - Categorias Oral e Pôster
Relacionamento professor x aluno e a
educação à distância no ensino superior..... 171
Tecnologia educacional: a formação
continuada empresarial frente às constantes
inovações tecnológicas................................... 97
Representação social de professores
universitários a respeito do trabalho
e atuação do psicopedagogo........................ 123
Teste de Trilhas para pré-escolares e a
avaliação da flexibilidade cognitiva em
crianças............................................................ 85
Ressignificando o luto em Arteterapia......... 114
S
Transtorno de déficit de atenção/
hiperatividade e o desempenho
acadêmico ..................................................... 160
Saúde emocional nas escolas: a necessidade
de aprender a se relacionar e a
conviver com as diferenças........................... 118
U
Síndrome de Tourette: do diagnóstico ao
conhecimento................................................ 129
Um olhar psicopedagógico às
gestantes de Canoas-RS............................... 140
Subjetividade no processo de ensino e
aprendizagem................................................ 145
Um olhar psicopedagógico para
educação infantil........................................... 138
T
Um projeto de Psicopedagogia na
terceira idade................................................... 95
TDAH na sala de aula: o professor desatento,
hiperativo ou dividido?................................. 154
Uma leitura psicopedagógica de
“O catador de pensamentos”........................ 135
TDAH: contribuições das técnicas
corporais na clínica psicopedagógica............ 84
Uma proposta de avaliação interdisciplinar
em grupo a crianças com dificuldades de
aprendizagem escolar................................... 166
Teacher assistent: os benefícios da mediação
para a inclusão de alunos autistas na
Educação Infantil.......................................... 112
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(88): 175-80
180
ASSOCIADOS TITULARES PARA REVISTA 88 – 2012
ALAGOAS
Maceió
ELIANE CÁSSIA ROCHA BLANES
LUCIANA BARROS DE ALMEIDA SILVA
[email protected]
(82) 3223-4258 – Farol
ELISABETE SILVEIRA CASTELO BRANCO
MARISTELA NUNES PINHEIRO
BAHIA
Feira de Santana
FRANCISCA FRANCINEIDE CÂNDIDO
MATO GROSSO
Cuiabá
ELIANE CALHEIROS CANSANÇÃO
LOURDES MARIA DA SILVA TEIXEIRA
[email protected]
(75) 3221-3456 – Mangabeira
[email protected]
(85) 3244-2820 – Dionísio Torres
[email protected]
(85) 3881-1673 – Rodolfo Teófilo
[email protected]
(85) 3272-3966 – Fátima
GALEÁRA MATOS DE FRANÇA SILVA
[email protected]
(62) 3293-3067 – Setor Marista
[email protected]
(62) 3259-0247 – Nova Suíça
ÂNGELA CRISTINA MUNHOZ MALUF
[email protected]
(65) 9214-4484 – Jardim Cuiabá
Itabuna
[email protected]
(85) 3264-0322 – Aldeota
GENIGLEIDE SANTOS DA HORA
GERALDO LEMOS DA SILVA
MARIA MASARELA MARQUES DOS PASSOS
[email protected]
(85) 3246-7000 – Dionísio Torres
[email protected]
(65) 3028-1372 – Campo Velho
Salvador
MARIA JOSÉ WEYNE MELO DE CASTRO
MINAS GERAIS
Campanha
[email protected]
(73) 3617-0372 – São Caetano
ARLENE NASCIMENTO PESSOA
[email protected]
(71) 9983-0470 – Caminho das Árvores
DEBORA SILVA DE CASTRO PEREIRA
[email protected]
(71) 3341-2708 – Candeal
JACY CÉLIA DA FRANCA SOARES
[email protected]
(71) 3347-8777 – Pituba
JOZELIA DE ABREU TESTAGROSSA
[email protected]
(71) 3341-2708 – Caminho das Árvores
KARENINA AZEVEDO
[email protected]
(71) 3345-3535 – Pituba
LEILA DA FRANCA SOARES
[email protected]
(71) 3347-8777 – Pituba
MÁRCIA GONÇALVES NUNES
[email protected]
(71) 3374-4505 – Federação
MARIA ANGELICA MOREIRA ROCHA
[email protected]
(85) 3261-0064 – Parque Manibura
MARISA PASCARELLI AGRELLO
[email protected]
(85) 3267-5714 – Varjota
OTILIA DAMARIS QUEIROZ
[email protected]
(85) 3246-7000 – Dionísio Torres
Tianguá
[email protected]
(35) 3422-2050 – Fátima
Uberlândia
MARINA LIMA BEUST
[email protected]
(34) 3224-3687 – Lidice
[email protected]
(61) 3326-9314 – Asa Norte
MARLI LOURDES DA SILVA CAMPOS
[email protected]
(61) 3321-3666 – Plano Piloto
MARIA DA GRAÇA VON KRUGER PI­­­MEN­­TEL
[email protected]
(27) 3225-9978 – Praia do Canto
SANDRA MARIA FURTADO ANDRADE
MARISTELA DO VALLE
CEARÁ
Fortaleza
GOIÁS
Goiânia
ANDRÉA AYRES COSTA DE OLIVEIRA
CARLA BARBOSA DE ANDRADE JAYME
DALMA RÉGIA MACEDO PINTO
JANAÍNA CARLA R. DOS SANTOS
[email protected]
(85) 3491-2280 – Vila União
CLAUDIA MARQUES CUNHA SILVA
DISTRITO FEDERAL
Brasília
[email protected]
(88) 9963-5854 – Centro
MARIA AUXILIADORA DE A. RABELLO
[email protected]
(85) 3261-0064 – Aldeota
Pouso Alegre
SÔNIA REGINA BELLARDI TAVARES
ESPÍRITO SANTO
Vitória
[email protected]
(71) 3351-9973 – Itaigara
[email protected]
(35) 3261-2119 – Centro
GRAÇA MARIA DE MORAIS AGUIAR E
SILVA
[email protected]
(71) 3345-1111 – Pituba
[email protected]
(71) 3353-2207 – Pituba
RAMONA CARVALHO FERNANDEZ NOGUEIRA
[email protected]
(27) 3215-5039 – Jardim da Penha
[email protected]
(62) 3225-9805 – Setor Oeste
[email protected]
(62) 3241-7837 – Setor Sul
[email protected]
(35) 3425-3456 – Santa Filomena
SANDRA MEIRE DE OLIVEIRA R. ARANTES
Varginha
HELENA SCHERER GIORDANO
[email protected]
(35)3212-7296 – Novo Horizonte
JÚLIA EUGÊNIA GONÇALVES
[email protected]
(35)3222-1214 – Centro
MARIA CLARA R. R. FORESTI
[email protected]
(35) 3212-3496 – Centro
REGINA CLAUDIA A. S. FERRAZ
[email protected]
(35) 3214-5660 – Jardim Andere
PARÁ
Belém
CARMEM CYLBELLE PEREIRA ALVES
VIÉ­GAS
[email protected]
(91) 3259-3531 – São Braz
Guarapuava
Niterói
ADRIANA CRISTINE LUCCHIN
FÁTIMA GALVÃO PALMA
Londrina
Rio de Janeiro
ROSA MARIA JUNQUEIRA SCICCHITANO
ANA MARIA ZENÍCOLA
NEOCLEIDE MILANI
[email protected]
(43) 3223-2654 – Centro
Maringá
ANA PAULA LOUREIRO E COSTA
Cornélio Procópio
[email protected]
(44) 3261-4887 – Campus Universitá­rio
ELIANE SOUZA DE DEUS NETO ALMEIDA
[email protected]
(91) 8850-8628 – Cidade Velha
MARIA DE NAZARÉ DO VALE SOARES
[email protected]
(91) 9981-2076 – São Braz
PARANÁ
Cambé
IVANI APARECIDA C. A. OLIVEIRA
[email protected]
(43) 3524-2377 – Centro
Curitiba
ADRIANE CREDIDIO R.C.DYMINSKI ARRUDA
[email protected]
(41) 3672-3454 – Jardim Menino Deus
ARLETE ZAGONEL SERAFINI
[email protected]
(42) 3622-4022 – Trianon
[email protected]
(43) 3342-7308 – Jardim Caiçaras
NERLI NONATO RIBEIRO MORI
DIRCE MARIA MORRISSY MACHADO
[email protected]
(41) 8445-1444 – Ouro Fino
LORIANE DE FÁTIMA FERREIRA
[email protected]
(41) 3282-9357 – Centro
DAISY FLORIZA C. AMARAL
[email protected]
(41) 3332-2156 – Rebouças
[email protected]
(81) 3326-1927 – Boa Viagem
EVELISE M. LABATUT PORTILHO
MANUELA BARBOSA PIMENTEL DE FREITAS
ISABEL CRISTINA HIERRO PAROLIN
[email protected]
(81) 9694-7857 – Boa Viagem
MARIA DAS GRAÇAS SOBRAL GRIZ
[email protected]
(81) 3231-1461 – Graças
[email protected]
(41) 3264-8061 – Alto da XV
PIAUÍ
Floriano
LAURA MONTE SERRAT BARBOSA
RAIMUNDA FERREIRA PAIVA NETA
[email protected]
(41) 3363-1500 – Alto da Glória
[email protected]
(89) 3515-1156 – Centro
REGINA BONAT PIANOVSKI
Teresina
[email protected]
(41) 3345-8798 – Portão
ROSE MARY DA FONSECA SANTOS
[email protected]
(41) 3026-2865 – Centro Cívico
SIMONE CALBERG
[email protected]
(41) 3363-1500 – Alto da Glória
SONIA MARIA GOMES DE SÁ KUSTER
[email protected]
(41) 3264-8061 – Centro
[email protected]
(21) 2236-2012 – Copacabana
HELOISA BEATRIZ ALICE RUBMAN
[email protected]
(21) 2259-9959 – Jardim Botânico
JANE BRAVO GORNE
[email protected]
(21) 8746-4623 – Botafogo
LUCIA HELENA MACHADO SAAVEDRA
[email protected]
(21) 2239-5878 – Gávea
MARIA HELENA C. LISBOA BARTHOLO
[email protected]
(21) 2266-0818 – Humaitá
MARIA KATIANA VELUK GUTIERREZ
[email protected]
(21) 2527-1933 – São Conrado
MARIA LÚCIA DE OLIVEIRA FIGUEI­
REDO
[email protected]
(21) 9345-4020 – Botafogo
MARLENE DIAS PEREIRA PINTO
AMÉLIA CUNHA RIO LIMA COSTA
amé[email protected]
(86) 3233-2878 – Fátima
JOYCE MARIA BARBOSA DE PADUA
[email protected]
(86) 3221-1013 – Centro/Sul
MARIA DA SANTIDADE LOPES DIAS
[email protected]
(86) 3221-4444 – Centro
Foz do Iguaçu
RIO DE JANEIRO
Ilha do Governador
ANA ZANIN ROVANI
DULCE CONSUELO RIBEIRO SOARES
[email protected]
(45) 3523-4655
CLYTIA SIANO FREIRE DE CASTRO
CÉLIA REGINA BENUCCI CHIODI
CINTIA BENTO M. VEIGA
[email protected]
(41) 3022-4041 – Batel
[email protected]
(21) 2436-1803 – Jacarepaguá
[email protected]
(21) 2247-3185- Ipanema
PERNAMBUCO
Recife
FABIANE CASAGRANDE C. O. MELLO
[email protected]
(21) 2556-3767 – Flamengo
São José dos Pinhais
[email protected]
(41) 3363-1500 – Santa Cândida
[email protected]
(41) 3271-1655 – Prado Velho
[email protected]
(21) 2710-5577 – Icaraí
[email protected]
(21) 3366-2468 – Freguesia
[email protected]
(21) 9739-5332 – Leblon
MARTHA IZAURA DO NASCIMENTO TABOADA
[email protected]
(21) 2570-0065 – Barra da Tijuca
VERA BEATRIZ DA COSTA NUNES MENDONÇA
[email protected]
(21) 2295-4838 – Botafogo
RIO GRANDE DO NORTE
Natal
ADRIANNA FLÁVIA DE FIGUEIREDO M.
P. GUIMARÃES
[email protected]
(84) 3231-0193 – Tirol
CHRISTINA SALES NOVO
[email protected]
(84) 3206-4449 – Dix Sept Rosado
EDNALVA DE AZEVEDO SILVA
[email protected]
(84) 3221-6573 – Lagoa Seca
SONIA APARECIDA MONÇÃO GONÇALVES
[email protected]
(84) 3211-4220 – Ribeira
Parnamirim
FRANCY IZANNY DE BRITO BASTOS MAR­­­­
TINS
[email protected]
(84) 8839-0539
RIO GRANDE DO SUL
Caxias do Sul
LOVAINE SALETE STREIT JUNGES
[email protected]
(54) 3536-3516
Passo Fundo
IARA SALETE CAIERÃO
[email protected]
(54) 3311-5230 – Centro
Porto Alegre
CLARA GENI BERLIM
[email protected]
(51) 3221-1740 – Santana
FABIANI ORTIZ PORTELLA
[email protected]
(51) 3209-5722 – Cidade Baixa
MARILENE DA SILVA CARDOSO
[email protected]
(51) 8182-0721 – Higienópolis
NEUSA KERN HICKEL
[email protected]
(51) 3333-5478 – Centro
SANDRA MARIA CORDEIRO SCHRÖEDER
[email protected]
(51) 3328-3872 – Chácara das Pedras
SONIA MARIA PALLAORO MOOJEN
[email protected]
(51) 3333-8300 – Petrópolis
VERÔNICA ABELLA MARQUES
SANTA CATARINA
Florianópolis
ALBERTINA C. MATTOS CHRAIM
[email protected]
(11) 3885-7200 – Jardim Paulista [email protected]
(48) 3244-5984 – Estreito
ANDRÉA DE CASTRO RACY
JANICE MARIA BETAVE
[email protected]
(48) 8453-7791 – Ingleses
BEATRIZ JUDITH LIMA SCOZ
LILIANA STADNIK
[email protected]
(48) 3248-0401 – Balneário
MÁRCIA FIATES
[email protected]
(48) 3224-0441 – Centro
MARIA ALICE MOREIRA BAMPI
[email protected]
(48) 3333-1745 – Agronômica
MARIA GUILHERMINA COSTA ACIOLI
[email protected]
(48) 3223-6402 – Centro
MARIA LÚCIA ALMADA FERNANDES
[email protected]
(48) 3331-1952 – Trindade
Maravilha
SILVANA MARIA BEDUSCHI DA SIL­­­
VEIRA
[email protected]
(49) 3664-2186 – Centro
SÃO PAULO
Araraquara
ALINE RECK PADILHA ABRANTES
[email protected]
(11) 3335-7440 – Centro
Campinas
MARIA LAURA CASSOLI MACEDO
[email protected]
(19) 3254-2714 – Jardim N. Sra. Auxiliadora
Cotia
MARIA CECILIA CASTRO GASPARIAN
[email protected]
(11) 4702-2192 – Granja Viana
Ribeirão Preto
ANA LUCIA DE ABREU BRAGA
[email protected]
(16) 3021-5490 – Jardim Sumaré
São Bernardo do Campo
[email protected]
(51) 3374-6938 – Higienópolis
BEATRIZ PICCOLO GIMENES
Santa Maria
São Paulo
FABIANI ROMANO DE SOUZA BRIDI
ADA MARIA GOMES HAZARABEDIAN
[email protected]
(55) 3225-1577 – N. Sra. de Lourdes
ANA LISETE P. RODRIGUES
[email protected]
(11) 4368-0013 – Rudge Ramos
[email protected]
(11) 2261-2377 – Jardim França
[email protected]
(11) 5572-1331
[email protected]
(11) 3651-9914 – Alto de Pinheiros
CARLA LABAKI
[email protected]
(11) 3815-5774 – Vila Madalena
CLEOMAR LANDIM DE OLIVEIRA
[email protected]
(11) 9302-5501 – Moema
DILAINA PAULA DOS SANTOS
[email protected]
(11) 9219-5114 – Santana
EDITH REGINA RUBINSTEIN
[email protected]
(11) 3743-0090 – Vila Sônia
ELISA MARIA DIAS DE TOLEDO PITOMBO
[email protected]
(11) 5184-1340 – Granja Julieta
ELOISA QUADROS FAGALI
[email protected]
(11) 3864-2869 – Perdizes HERVAL G. FLORES
[email protected]
(11) 3257-5106 – Higienópolis
LEDA MARIA CODEÇO BARONE
[email protected]
(11) 3045-9064 – Vila Olímpia
LUCIA BERNSTEIN
[email protected]
(11) 3209-8071 – Aclimação
MÁRCIA ALVES SIMÕES
[email protected]
(11) 8192-0921 – Tatuapé
MARIA BERNADETE GIOMETTI PORTÁSIO
[email protected]
(11) 2950-6072 – Santana
MARIA CÉLIA R. MALTA CAMPOS
[email protected]
(11) 3819-9097 – Alto de Pinheiros
MARIA CRISTINA NATEL
[email protected]
(11) 5081-2067 – Vila Mariana
MARIA DE FATIMA MARQUES GOLA
[email protected]
(11) 3052-2381 – Jardim Paulista
MARIA IRENE DE MATOS MALUF
[email protected]
(11) 3258-5715 – Higienópolis
MARIA TERESA MESSEDER ANDION
REGINA ZAIDAN PEREIRA MENDES
VIVIANE MASSAD DE AGUIAR
MARISA IRENE S. CASTANHO
SANDRA G. DE SÁ KRAFT MOREIRA DO
NASCIMENTO
YARA PRATES
SANDRA LIA NISTERHOFEN SANTILLI
WYLMA FERRAZ LIMA
[email protected]
(11) 3259-0837 – Higienópolis
[email protected]
(11) 3721-6421 – Morumbi
[email protected]
(11) 2268-4545 – Mooca
SILVIA AMARAL DE MELLO PINTO
Taubaté
NEIDE DE AQUINO NOFFS
TELMA PANTANO
[email protected]
(11) 3023-5834 – Alto de Pinheiros
[email protected]
(11) 3491-0522 – Ipiranga
MÔNICA HOEHNE MENDES
[email protected]
(11) 5041-1988 – Indianópolis
NÁDIA APARECIDA BOSSA
[email protected]
(11) 3670-8162 – Perdizes
NIVEA MARIA DE CARVALHO FABRICIO
[email protected]
(11) 3868-3850 – Perdizes
[email protected]
(11) 3872-2434 – Pacaembu
[email protected]
(11) 3805-9799 – Morumbi
[email protected]
(11) 3097-8328 – Pinheiros
[email protected]
(11) 9840-6337 – Pompéia
[email protected]
(11) 2976-8937 – Vila Ester
BENEDITA ILZA VIEIRA FORTES
[email protected]
(11) 3062-6580 – Jardins
VALÉRIA RIVELLINO LOURENZO
[email protected]
(11) 5041-7896 – Brooklin
[email protected]
(12) 3411-6637 – Centro
Vinhedo
CRISTINA VANDOROS QUILICI
[email protected]
(19) 9259-6652 – Portal Itália
QUÉZIA BOMBONATTO SILVA
VÂNIA M. CARVALHO BUENO DE SOUZA
vâ[email protected]
(11) 7204-7894 – Lapa
SERGIPE
Aracaju
REGINA A. S. I. FEDERICO
VERA MEIDE MIGUEL RODRIGUES
AUREDITE CARDOSO COSTA
[email protected]
(11) 3815-8710 – Vila Madalena
[email protected]
(11) 5041-1988 – Brooklin
[email protected]
(11) 3511-3888 – Pacaembu
[email protected]
(79) 3211-8668 – São José
Cadastre-se no site da
ABPp
www.abpp.com.br
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programação de eventos da ABPp e de seus parceiros
A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é
uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins
lucrativos, que congrega profissionais militantes na área da
Psicopedagogia.
Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais já
envolvidas e atuantes nas questões relativas aos problemas da
aprendizagem fundou a Associação Estadual de
Psicopedagogos do Estado de São Paulo, a AEP.
Devido ao grande interesse em torno dessa Associação, a sua
expansão a nível Nacional surgiu como necessidade imperiosa.
Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e gradativamente
foram sendo criados os seus escritórios de representação por
todo o Brasil, denominados de Núcleos e Seções.
ANOS
30
Durante estes anos, a ABPp vem cuidando de questões
referentes à formação, ao perfil, à difusão e ao
reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil, já tendo
alcançado muitas vitórias na luta pela sua regulamentação.
Atualmente, conta com 16 Seções e 2 Núcleos, espalhados
pelo Brasil, para melhor divulgar a Psicopedagogia e
aproximar os profissionais em torno de seus objetivos comuns.
A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas,
congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua
área de atuação, por meio da revista científica
Psicopedagogia, da Revista do Psicopedagogo, do informativo Diálogo Psicopedagógico e do site www.abpp.com.br.
Oferece, ainda, descontos tanto nos eventos que
organiza quanto em eventos de terceiros, que são parceiros e
interessados nos assuntos desta área.
Preocupada com as questões sociais, a atual diretoria da
ABPp Nacional organizou um novo trabalho de cunho
sociocientífico, que visa não só ao atendimento
da população carente, promovendo a inserção social e a
divulgação da importância da prática psicopedagógica,
como também à implantação de um novo modelo de estudo
e pesquisa nesse campo. Dele poderão participar todos os
associados interessados em prestar um trabalho social.
Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas
nessa área de atuação, tendo ou não concluído a sua
especialização em Psicopedagogia.
Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
www.abpp.com.br - [email protected]
de
5
a
8
de julho de
2012 - S ã o P a u l o
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VOLUME - Revista Psicopedagogia