O BOM É SER DIFERENTE
Genaura Maria da Costa Tormin
(Secretaria de Coordenação Judiciária)
Trabalho neste regional há 18 anos,
onde me sinto contente, feliz e produtiva. Amo o que
faço, gosto dos meus colegas e superiores. Integrome muito bem aos grupos de trabalho e mesmo
forjada a ferro e fogo, tenho por lema a coragem e
jamais me subjugo às subserviências em busca de protecionismo sob o álibi
da cadeira de rodas que ocupo. Ela não me posterga, pelo contrário,
enobrece-me! Convida-me ao desafio. E eu gosto disso.
O nosso Tribunal potencializa os recursos e tecnologias
assistivas visando à plena acessibilidade das pessoas com deficiência. Isso
se chama respeito! Nunca me senti diferente.
Acredito que não há discriminação que resista à
competência. Não é necessário paternalismo nem diferenciação, apenas
respeito às leis e à célebre frase de Rui Barbosa: ’’... tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam’’.
Os colegas só têm a ganhar, aprendendo a dividir espaço,
permitindo-se lidar com a diversidade humana. Isso é exercício da
INCLUSÃO. Bons presságios grassam os nossos dias!
Ana Maria Santana Leite
(3ª Vara do Trabalho - Goiânia)
Em 1982 foi criado pela Organização das Nações Unidas o Programa de Ação
Mundial para Pessoas com Deficiência, que visa
atender as necessidades das pessoas com qualquer
tipo de deficiência física, assim como a Organização
Internacional do Trabalho sempre discute a inclusão do deficiente no
mercado de trabalho com diversas recomendações para a ampliação de
espaço e oportunidades.
Foi assim que o portador de deficiência teve mais êxito em
suas conquistas diárias que, aos poucos, foi conquistando seu espaço no
mercado de trabalho, provando que deficiência física não quer dizer
incapacidade de produzir ou desenvolver uma atividade profissional, claro,
em se tratando de uma atividade que possa ser desempenhada pelo
deficiente.
Foi através desta conquista de integração do deficiente no
mercado de trabalho que foi resgatada sua auto-estima, sendo essa
iniciativa importante para o cidadão, bom para a família e também para o
país que passou a ter uma pessoa produtiva profissionalmente, trabalhando
e aumentando seus recursos próprios, contribuindo para o aumento da
circulação do capital financeiro.
Hoje, muitas empresas estão satisfeitas pela dedicação e
desempenho profissional por parte deles. Mas, infelizmente, ainda são
tratadas com indiferenças, desrespeito e preconceito pela nossa sociedade.
Podemos citar como exemplo, em nosso local de trabalho,
as barreiras arquitetônicas, que causam dificuldades aos cadeirantes,
mostrando que por menor que seja o obstáculo, impede-os de ir e vir,
tirando-lhes a liberdade nas suas escolhas.
Marília Dornela de Melo
(Núcleo de Gestão da Informação
e do Conhecimento)
Vou contar um pouco da minha história.
Meu nome é Marília, tenho 28 anos e minha
deficiência é congenita. Nasci com baixa visão.
Entrei na escola e tinha dificuldade em enxergar no
quadro, foi aí que ganhei muitos amigos. Várias pessoas me ajudavam, me
emprestavam o material pra copiar e sempre fui uma das primeiras da
classe. Desenvolvi muito minha audição com isso.
Entrei na faculdade com 17 anos no curso de direito, logo
percebi que queria fazer concurso público, a estabilidade me agradava
muito. Meu primeiro concurso foi de oficial de justiça, fiz e passei no TJGO.
Depois fiz para escrevente do Fórum de Goiânia onde
também obtive minha aprovação. Nesse meio tempo estudei para o
concurso do TRT 18º Região, concurso tão almejado por mim.
Durante dois anos me dediquei e, enfim, obtive a aprovação. Tomei posse em 2010 e hoje já com quase dois anos de casa posso
falar que estou feliz aqui, mas não vou parar por aí.
Márcio Alves de Freitas
(Gabinete do Desembargador Platon Filho)
Não é difícil imaginar os obstáculos
com que se depara um deficiente físico em uma
sociedade pensada e formatada para pessoas
comuns, que não tem como característica promover a
inclusão daqueles que fogem aos parâmetros da
normalidade.
Talvez sejamos sempre vistos como estranhos, como
diferentes entre os iguais, mas é justo reconhecer que, aos poucos, a
sociedade vem tomando consciência da dignidade e do valor intrínseco das
pessoas portadoras de necessidades especiais. Os obstáculos ainda
permanecem, mas há esperança de um futuro melhor.
Hosana Mary de Lacerda
(Gestão Ambiental)
Sou de uma família muito pobre. Sou a
13ª filha, meu pai é lavrador analfabeto, minha mãe é
lavadeira de roupas e aprendeu a ler rezando os livros
da Igreja. Nasci cega. Saí de casa, na cidade de Novo
Mundo, interior de Goiás, aos 7 anos de idade e fui para
uma instituição de cegos em Goiânia. Eu chorava para aprender a ler e
escrever, como meus irmãos. Fiz até a quarta série na instituição
especializada. Depois, tive de ir para a chamada escola regular, o despreparo
era total, Ninguém sabia nada sobre deficiências ou inclusão. Não havia
nenhum livro em braile. Cursei Filosofia na PUC, havia ficado em 3º lugar na
classificação geral do vestibular. Fui muito discriminada em toda a minha
vida.
Para entrar no TRT, foi outra luta. Tive minha inscrição
indeferida pelo Tribunal que, na época, alegou não possuir equipamentos
para atender servidor cego. Lutei, chamei a imprensa e obtive êxito, na
inscrição e no concurso. Assumi o cargo de Analista Administrativo em 1998.
De 10 anos para cá, muita coisa mudou, o terceiro mundo
evoluiu. Hoje, o deficiente vive com mais dignidade. Também o TRT vem
caminhando para atender essa demanda. A tecnologia está muito avançada
e nos proporciona uma vida digna.
Minha principal atividade fora daqui é viajar. Adoro viajar,
conhecer outras culturas, novas pessoas. Meu sonho era ir à Grécia,
conhecer uma cultura antiga em que a história foi preservada. Quando
estive lá, as esculturas não podiam ser tocadas, exceto por pessoas
totalmente cegas, como é o meu caso. Conheci também Israel, Holanda e
alguns países da América do Sul. Meu desafio agora é conhecer a Itália.
Mára Cristina Machado Rodrigues
(Vara do Trabalho de Catalão)
Minha luta contra a perda auditiva
começou desde os seis meses de idade. Com o passar
do tempo, após percorrer muitas cidades atrás dos
melhores médicos e melhores tratamentos, cresci e
entendi que eu deveria me aceitar do jeito que eu sou.
Depois de algumas cirurgias, umas de sucesso e outras
não, resolvi que com aparelho auditivo tudo estaria resolvido. Até então, eu
já havia me formado e estudava para concurso. Veio a independência e
percebi que apesar da deficiência, a vida é muito maior e vale a pena ser
desfrutada. É sublime a acessibilidade que o TRT 18 proporciona aos
portadores de necessidades especiais. Isso nos faz crer que a vale a pena
lutar por um ideal melhor.
Cláudio Antônio de Araújo
(Coordenadoria de Infraestrutura
e Comunicações)
Meu nome é Cláudio Antônio de Araújo,
lotado na STI, e adquiri Paralisia Infantil, que deixou
sequelas em minha perna direita, nos primeiros anos
de vida.
Para que as sequelas não viessem a impedir que eu
tivesse uma vida normal, minha mãe, com muita fé, sempre fazia remédios
caseiros e colocava na minha perna.
Hoje, confesso que aprendi a conviver com essa
"limitação" e não me vejo sem ela. Apesar dela não me impedir fazer nada,
foi por causa dela que sempre busquei a educação como forma de vencer os
desafios da vida. Fiz faculdade, pós graduação e atualmente faço algumas
disciplinas no mestrado em Ciência da Computação na UFG. Fui servidor do
Ministério Público Estadual e, há quase 2 anos, sou servidor no Tribunal
Regional do Trabalho da 18ª Região. Acredito que a melhor forma de inclusão
é através da educação. Isso vale para todos, com ou sem deficiência.
Fausto Gomes da Rocha
(Vara do Trabalho de Goiatuba)
Sabe-se que a visão das pessoas e instituições em
regra é deturpada, enxergam o que é perfeito e belo
por um ângulo materialista e não humano
propriamente dito, de modo que a verdadeira
perfeição e beleza existente no próprio homem acaba
sendo esquecida ou subestimada. Me lembro que certo
dia, fui pedir emprego numa farmácia da cidade onde
morava, o proprietário fez-me algumas perguntas,
inclusive acerca do meu problema auditivo, pois o
aparelho que eu usava denotava claramente minha deficiência. Depois de
explicar tudo, meu interlocutor começou a falar mais baixo, de modo que eu
não conseguia entender e depois sorriu, dizendo que eu não conseguiria
trabalhar com ele, pois ele precisava de alguém que se comunicasse bem, e
não era o meu caso.
Aquele fato marcou decisivamente minha vida de duas
formas, primeiro fiquei traumatizado, bateu sobre mim um sentimento de
incapacidade, não conseguia me ver fazendo um atendimento interpessoal,
daí passei a procurar empregos que exigiam esforços apenas individuias e,
em segundo, coloquei na minha cabeça que eu deveria estudar.
O fato de pertencer a uma família pobre não impediu que
meus sonhos fossem ricos, sonhava muito em fazer uma faculdade. Não
seria fácil, a caminhada, seria árdua. Não tive uma boa formação estudantil
como a maioria dos brasileiros de baixa renda. Muitas vezes não
compreendia a explanação dos professores em sala de aula, em decorrência
do problema auditivo e, ainda, pela pressão por conta das várias chacotas
que sofria. Quando entrei na faculdade, trabalhava como lavador de carros,
era uma jornada estafante, pouco dava para estudar.
Em 2003 fiz o concurso do TRT18ª. Em fevereiro de 2004
seria a data da posse. Fiquei muito feliz!, todavia, tinha medo de não
conseguir ser compreendido e também de não conseguir compreender as
pessoas. Certamente não venceria o estágio probatório. Era uma angústia
dolorosa.
Quando fiz os procedimentos preliminares para ingresso no TRT18ª, todo
aquele meu medo foi se desfazendo a cada minuto que passei a viver entre
a família do Tribunal. Uma atenção que nunca tinha presenciado. Me lembro
claramente que a Sílvia do Recursos Humanos foi uma das primeiras
pessoas que tive contato, ela descreveu para mim o que representava o
técnico judiciário no TRT, me senti importante, e mas do que isso, percebi
que a minha missão como servidor público era preciosa. A partir dali, ao
passo que fui conhecendo as pessoas do Tribunal, fui me libertando daquele
medo. Eram pessoas amáveis, compromissadas com a missão que lhes foi
incumbida. Logo me sentia totalmente liberto daquele trauma.
Diante deste quadro, sempre procurei corresponder com
amor e responsabilidade a esta dádiva que Deus me deu, enriquecendo-me
com cada valor que o Tribunal me oferecia, de modo que, aquela pessoa que
temia trabalhar com mais de uma pessoa, hoje é um diretor de Secretaria.
Dirige uma equipe maravilhosa na Vara do Trabalho de Goiatuba, a qual
ama de um modo especial.
É importante ressaltar que esta cura, esta vitória
somente foi possível devido à visão que o Tribunal tem do ser humano, isto
é, a genuína e perfeita visão, aquela que enxerga o homem do ponto de
vista humano, sem colocar obstáculos a sua capacidade de agir, o que faz
com que nossas deficiências não sejam motivos limitadores de nossos
sonhos.
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Genaura Maria da Costa Tormin (Secretaria de