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Polícia
caderno A
12
jornal da tarde
domingo, 10 de março de 2002
Polícia sem pistas na morte de libaneses
A polícia só tem uma certeza: não foram assaltantes nem seqüestradores que mataram o casal de libaneses num posto de gasoluna na noite de sexta-feira.
No site de uma entidade libanesa se afirma que os autores pertencem à organização extremista Hizbollah. A comunidade libanesa está assustada
Samir Baptista/AE
A polícia ainda não tem pistas e
a comunidade libanesa de São Paulo está em pânico com a morte do
casal Mikhael Youssef e Marie
Noel Nassar, executados anteontem por um desconhecido num
posto de gasolina na esquina das
Avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi. De acordo
com textos publicados no site da
entidade Fundação Libanesa pela
Paz, o casal teria sido morto pela organização extremista libanesa Hizbollah, porque fornecia armas para
o Exército do Sul do Líbano.
No Brasil, policiais do 15ª Distrito Policial, que investigam o caso,
só têm uma certeza: não foram assaltantes nem seqüestradores que
dispararam os 12 tiros que mataram o casal. Eles teriam sido realmente executados, após pararem
no posto para pedir auxílio na troca de um pneu furado.
O criminoso, um homem alto e
forte vestido de preto e encapuzado, estava escondido atrás de um
vaso, na área do posto, e caminhou
a passos largos em direção ao casal, com uma arma com silenciador na mão direita. Depois da exe-
cução, teria entrado em um Gol
que o esperava ao lado do posto e
fugido.
De acordo com a Fundação Libanesa Pela Paz, um dos motivos que
pode ter levado o Hizbollah a assassinar o casal seria o fato de Mikhael Youssef Nassar ter fornecido
armas para o exército do Sul do Líbano (SLA), durante a ocupação do
exército de Israel no sul do país.
Além disso, Nassar também é sobrinho do general Antonie Lah’d, líder
do SLA, milícia cristã que ajudou o
Exército de Israel durante a ocupação no sul do país.
O empresário morto também
trabalhou com Elie Haerbaica, um
dos chefes da força Cristã da Guerra Civil no país (1975-1990), e que
foi assassinado há um mês e meio
no Líbano, num atentado a bomba
que destruiu seu carro.
A polícia já teria descartado a
participação do motorista do casal
no crime. Foi o motorista, José Petrollino Santos, quem sugeriu a
Nassar que estacionasse no posto,
quando o libanês achou que estava
sendo perseguido e ligou para saber o que deveria fazer.
Apreensivos,
árabes deixam
Foz do Iguaçu
Medo da associação
com terrorismo leva
comerciantes árabes a
sair da região. 500
lojas foram fechadas
no último trimestre na
fronteira com Paraguai
Mauri König
JT/AE
A alta do dólar e a associação
ao terrorismo internacional têm
levado muitos comerciantes árabes a abandonar a fronteira BrasilParaguai. Só no último trimestre,
500 lojas foram fechadas em Ciudad del Este, fronteira com Foz
do Iguaçu, no Paraná. A comunidade árabe lamentou ontem o
vínculo indireto da região com o
assassinato do casal Mkhael Youssef Nassar e Marie Noel Nassar.
O crime, ocorrido quinta-feira,
em São Paulo, foi atribuído ao Hizbollah, grupo extremista que, segundo o governo americano, teria colaboradores na tríplice fronteira formada por Brasil, Paraguai
e Argentina. A região, onde vivem 12 mil pessoas de origem
árabe, já foi apontada como “santuário de terroristas”. Lideranças
árabes passaram a evitar declarações públicas, mas negam o vínculo da comunidade com organizações terroristas.
As investigações na região tiveram início depois do atentado de
1992 contra a embaixada de Israel em Buenos Aires e do atentado contra uma entidade judaica
da Argentina, em 1994. Com troca de informações, os ministérios
públicos do Paraguai e da Argenti-
na chegaram ao nome de Assad
Ahmad Barakat como líder regional do Hizbollah.
Barakat não foi localizado ontem na casa onde mora, em Foz.
Há uma ordem de prisão contra
ele no Paraguai, mas no Brasil
não existe acusação formal. No final do ano passado a Brigada Antiterror do Paraguai apreendeu
na loja dele, em Ciudad del Este,
fitas de vídeo com reportagens
de treinamento de soldados para
lutar contra Israel pela libertação
do Estado da Palestina.
Falsificação de documento
e apologia ao terrorismo
A polícia paraguaia diz que o
material faz apologia ao terrorismo e prendeu dois funcionários
que estavam na loja, Mazen Ali
Saleh e Saleh Mahoud Fayoud.
Ambos são acusados de falsificar
documentos de imigração. Barakat também é acusado pelo Ministério Público de financiar o Hizbollah. Documentos comprovam envio de dinheiro ao Líbano.
Barakat é uma das 42 pessoas
de origem árabe que nos últimos
cinco anos enviaram US$ 50 milhões do Paraguai para o exterior
de forma ilegal. A polícia está rastreando as contas, mas ainda não
encontrou provas de ligação com
grupos terroristas.
Depois dos atentados nos Estados Unidos, uma blitz da polícia
no comércio de Ciudad del Este
prendeu 21 árabes com documentos falsos. Eles passaram a
ser investigados como suspeitos
de terrorismo. Nada foi comprovado e 15 foram liberados logo
em seguida. Os outros ainda estão sendo investigados.
Indícios de ligações com
terror crescem na região
Desde os atentados de 9 de
setembro, incidentes ligando
membros da comunidade árabe a
organizações terroristas vem
aumentando no Brasil.
Em novembro, graças a uma
ação iniciada pela Bolívia, a Polícia
Federal brasileira decidiu
investigar um grupo de 15
pessoas, sendo 10 deles de origem
libanesa, mas residentes no Brasil.
Esse grupo enviou U$ 261 milhões
para um banco no Líbano, por
meio de 82 contas abertas em
instituições financeiras bolivianas.
Somente uma das pessoas
investigadas chegou a mandar U$
75 milhões para o Blybos Bank, em
Beirute.
Esta pode ter sido a primeira
informação concreta de que árabes
residentes no Brasil tenham
financiado o terrorismo
internacioonal.
No mesmo mês, o
ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da
Presidência da República, general
Alberto Cardoso, afirmou que
ainda não se descobriu nenhuma
base terrorista no País. “Há mais de
cinco anos, temos operações de
inteligência visando a detectar em
diversas partes do País indícios de
células e bases terroristas, e
podemos afirmar, com certeza,
que não existem esses indícios”,
disse Cardoso à época.
Centrais clandestinas
e ligações suspeitas
Um mês antes, em outubro, três
suspeitos – dois libaneses e um
brasileiro – foram presos por
suspeita de pertencerem a uma
rede de informantes ligada ao
Taliban.
Ghassan Jamil Al Kayal, seu filho
Jamil Al Kayal e Rubens Nunes de
Barros foram presos em Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, por
terem montado duas centrais
clandestinas de telefone.
Ao todo, o grupo operava 17
linhas, sendo que a maioria das
ligações internacionais havia sido
feita para o Líbano, África e
Paquistão. Conforme disseram à
polícia, o objetivo era apenas
ganhar dinheiro usando linhas
telefônicas de terceiros e cobrar as
ligações internacionais. da
clientela estrangeira do Estado.
Para a polícia, não foram assaltantes nem seqüestradores que assassinaram o casal de libaneses na noite de anteontem na zona sul
Motorista não acredita em fornecimento de armas
FRANTHIESCO BALLERINI
Jornal da Tarde
O motorista do casal, José
Petrolino Santos, não acredita no
envolvimento de do empresário
Mikhael Youssef Nassar, de 39
anos, no fornecimento de armas
para o Exército Libanês do Sul,
conforme comentários que
circulam na cidade.
Santos trabalhava há três anos e
três meses para Mikhael e sua
mulher, Maria Noel Georges
Mimassi, de 31 anos. “Depois de
seis anos morando no Brasil, você
acha que ele não teria sido morto
antes, se tivesse envolvimento
com armas?”, questiona o
motorista.
Na noite de quinta-feira,
quando aconteceu o assassinato,
José Petrolino tinha levado as duas
filhas do casal, uma de 6 anos e a
outra de 4, para uma festa infantil.
Ele era o único motorista que
trabalhava para Mikhael, que
também não tinha seguranças: “O
Mikhael não costumava usar
muito meus serviços. Eu
trabalhava mais para a Maria,
umas 12 horas por dia, levando-a
para o escritório da Construtora
Nassar, para ela assinar uns papéis,
e para suas outras atividades,
como a academia”.
Até a tarde de ontem, Santos
ainda estava abalado com o
assassinato dos seus patrões que,
segundo ele, o consideravam como
integrante da família. “Na casa
deles, não tinha aquela história de
empregado ter um tipo de comida
e patrão outro. Eles nos tratavam
como iguais.”
Por trabalhar quase todo o dia
com Maria Mimassi, José não era
de conversar muito com Mikhael,
que alternava sua rotina de
trabalho entre o escritório que
ficava na Avenida Professor Lúcio
Martins Rodrigues e o escritório
que tinha em casa. “Ele não era de
falar muito quando estava
trabalhando em casa”, diz Santos.
Maria Nassar era comunicativa
e muito religiosa. Pelo menos três
vezes por semana, ela freqüentava
a Paróquia São Pedro e São Paulo,
uma igreja católica na Cidade
Jardim. Santos a levava por volta
das 16h45 até a igreja e Maria
rezava sozinha, sem conversar
com ninguém, até as 17h, quando
os filhos saíam da escola.
O pároco da igreja e os outros
funcionários não a conheciam,
mas dizem estar chocados com o
assassinato e, se for de desejo da
família, farão uma missa em
homenagem ao casal.
Santos aconselhou Mikhael a
parar no posto de gasolina que fica
entre as avenidas Brigadeiro Faria
Lima e Juscelino Kubitschek, no
Itaim Bibi, na zona sul. Depois de
pegar as filhas deles na festa, as
levou para casa e foi embora.
Mikhael ligou para pedir uma
sugestão sobre o que fazer, depois
que o pneu do seu carro foi
atingido por um tiro. Ele só chegou
ao local por volta das 23h, quando
seus patrões já estavam mortos.
Comunidade libanesa está aterrorizada
Libanses que vivem na
cidade não comentam o
crime com pessoas que
não sejam da
comunidade. E muitos
não acreditam que o
Hizbollah esteja por trás
Chadia Moussa
Jornal da Tarde
A comunidade libanesa de São
Paulo está em pânico com a morte
do casal compatriota que foi assassinado. Os libaneses também não
concordam com a acusação feita
pela Fundação Libanesa Pela Paz
que a organização Hizbollah – cujo
significado quer dizer Partido de
Deus – seja a autora do crime.
Apavorados, os libaneses preferem não comentar o assunto com
pessoas que não são da comunidade. Durante o dia de ontem, eles fizeram várias reuniões para decidir
qual a conduta que irão adotar em
relação ao assassinato.
“Eu e a maioria dos libaneses,
tanto muçulmanos como cristãos,
não acreditamos que foi o Hizbollah que cometeu essa barbaridade”, afirmou um dos líderes da comunidade que não quer ser identificado. O grupo extremista, que já
cometeu atentados no sul do Líbano contra alvos israelenses, é classi-
ficado pelos Estados Unidos e Israel como organização terrorista.
Na opinião da comunidade, os
responsáveis pela morte do casal
foram os mesmos que assassinaram há cerca de um mês no Líbano
Elie Haerbaica, um dos líderes do
SLA (Exército do Sul do Líbano) .
“Por serem testemunhas contra
o primeiro-ministro de Israel ,
Ariel Sharon, no caso do massacre
do campo dos refugiados em Beirute em 1982, eles teriam sido mortos”, declarou o líder.
Família não entende
o motivo do crime
O líder libanês enfatizou que antes de qualquer acusação contra o
Hizbollah é preciso ter provas.
“Nem os familiares sabem o motivo do assassinato”, completou o
integrante da comunidade que falou por telefone com parentes do
empresário que moram no Líbano.
“Os muçulmanos são sempre os
primeiros a serem acusados em
qualquer atentado ou morte no
mundo”, disse.
Para decidir qual procedimento
adotar em relação ao caso, a comunidade libanesa iria se reunir na
noite de ontem.
No Brasil, existem cerca de sete
milhões de libaneses. É um número que supera até mesmo a população do próprio país, que conta
aproximadamente com cinco milhões de pessoas.
Hizbollah, organização política, religiosa e militar
Reutes
O Hizbollah ( Partido de Deus ) é
uma organização política, religiosa
e militar, surgida em 1982, no
Líbano, país de maioria
muçulmana, então dirigido por
uma minoria católica que assumiu
o poder com o apoio de Israel.
Anteriormente – em 1959 e nos
anos de 1974 e 1975 –, o
antagonismo entre muçulmanos e
católicos, no Líbano, desencadeou
uma virtual guerra civil no país.
O Hizbollah surgiu da fusão de
dois grupos: o partido islâmico
pró-Síria, Amal (que significa
Esperança) – dirigido por Hussein
Musawi, primo de Abu Abbas,
dirigente do Hizbollah que morreu
nas mãos de um comando
israelense. E um grupo originário
do Vale do Bekah, dirigido por
Subbi Tufaili.
O Vale Bekah, ao sul do Líbano,
contava, na época, com a proteção
das tropas sírias. Sua economia
consistia nos cultivos mais
importantes do mundo, da
papoula, de onde é extraído o ópio,
e do haxixe. Na região estava
instalada uma plataforma síria de
lançamento de mísseis.
O grupo xiita representa 30% da
população do Líbano e é
considerado o mais radicalizado da
maioria muçulmana do país. Esse
grupo, a partir da revolução
iraniana, tentou criar um Estado
regido pelas leis islâmicas e
expulsar do país a minoria cristã.
Sua política com relação aos
habitantes do sul do Líbano era
similar à desenvolvida atualmente
pela guerilha das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia
(FARC): em regiões onde o Estado
não existe, auxiliam as populações
desassistidas e impõem a sua lei.
Homens da Hizbollah mostram uniforme de um israelense morto
Em outubro de 1983, o
Hizbollah realizou sua primeira
operação terrorista: um
caminhão-bomba dirigido por um
militante-suicida foi lançado
contra um quartel da Infantaria de
Marinha dos EUA, perto do
Aeroporto de Beirute, causando
241 mortes. Pouco tempo depois,
um outro caminhão foi lançado
contra um quartel das tropas
francesas, também em Beirute,
deixando 58 vítimas.
Grupo utilizava a imprensa
como parte da ação
Após cada atentado o Hizbollah
comunicava-se com a imprensa,
reivindicava a ação e enviava uma
série de fotos dos quartéis, obtidas
antes dos ataques, revelando o
planejamento do ataque.
Na lista de atentados do grupo,
os seguintes são os mais
importantes: quartel do Exército
israelense na cidade de Tiro, no
Líbano, em 4 de novembro de
1983 (60 mortos); Embaixada da
França e EUA no Kwait, em 12 de
dezembro de 1983 (7 mortos);
anexo da Embaixada dos EUA em
Beirute, em 21 de setembro de
1984 (23 mortos); Embaixada dos
EUA em Beirute, em 8 de abril de
1993 (63 mortos).
Todos esses atentados foram
reivindicados pelo Hizbollah, que
além disso realizou uma extensa
série de seqüestros e atentados
individuais, com a tomada da
Embaixada dos EUA no Irã durante
444 dias, em novembro de 1979; o
assassinato de Malcom Kerr,
Presidente da Universidade
Americana em Beirute, em 18 de
janeiro de 1984; o seqüestro do
jornalista Jeremy Levin, da rede
CNN, em 7 de março de 1984; o
seqüestro do vôo 221, com destino
a Teerã, em 3 de dezembro de
1984, durante o qual dois oficiais
do Departamento de Estado dos
EUA foram mortos; o seqüestro,
em Beirute, do jornalista Terry
Anderson, em 16 de março de
1985; atentado a bomba na
sinagoga de Compenhague, em 22
de julho de 1985. uma série de
atentados a bomba em Paris, o mês
de setembro de 1985, deixando
nove mortos; o seqüestro de
quatro professores do University
College, em Beirute, em 1987.
Nessas ações, o Hizbollah
utilizou distintas denominações,
objetivando confundir os Órgãos
de Inteligência ocidentais: Jihad
Islâmica (quando de objetivos
ocidentais no Líbano); Resistência
Islâmica (quando os objetivos
eram israelenses); e outras
denominações ocasionais, como
Organização para a Justiça
Revolucionária, Organização dos
Oprimidos da Terra, ou Jihad
Islâmica para a Libertação da
Palestina.
Embora o Alcorão proíba o
suicídio, a morte dos condutores
de carros-bombas é justificada sob
a alegação de que o resultado é
equivalente ou excede a perda da
alma do suicida.
As divisões internas do grupo
acentuaram-se a partir de 1989.
No Congresso realizado em 1991,
Abbas Musawi foi eleito dirigente
máximo. No entanto, foi
assassinado logo depois, em
fevereiro de 1992, por Israel. Essa
morte foi assinalada por alguns
como motivadora do atentado a
bomba à Embaixada de Israel em
Buenos Aires, um mês depois.
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