METEORITOS
Introdução à meteorítica e uma visão geral
dos meteoritos brasileiros
Higor Martinez Oliveira
2
PREFÁCIO
Este livro foi escrito com o intuito principal de contribuir para a divulgação da meteorítica no
Brasil, um assunto ainda muito desconhecido e pouco compreendido por grande parte das
pessoas, apesar do crescente esforço em divulgar esta ciência, seja por meio de projetos,
campanhas, eventos, e até mesmo na internet; bem como fornecer dados e informações sobre os
meteoritos encontrados e catalogados no Brasil.
Meteoritos são fragmentos de diversos corpos sólidos do Sistema Solar, que vagaram por
milhões / bilhões de anos pelo espaço sideral até chegarem na superfície da Terra. O estudo dos
meteoritos é uma importante fonte para se obter informações sobre a origem e evolução de todo o
nosso Sistema. Para se ter uma ideia, alguns meteoritos são tão antigos quanto o Sistema Solar.
Apesar de sua vasta área territorial, o Brasil possui poucos exemplares encontrados e
catalogados. Até o fechamento deste livro (17/08/2015), o Brasil contava com apenas 69
meteoritos catalogados, um número extremamente pequeno, principalmente se compararmos com
países de área territorial semelhante e que já catalogaram até 25 vezes mais meteoritos. Isso se
deve à diversos fatores, até mesmo climáticos, mas também pela carência de informação sobre os
meteoritos no país.
Porém, vale destacar que o Brasil, apesar de sua pequena coleção de meteoritos, possui
exemplares que figuram entre os mais raros e importantes do mundo. Entre os destaques da
coleção nacional, podemos citar: Angra dos Reis, que deu origem à classe dos meteoritos angritos
e que permaneceu por muito tempo como o único do gênero; Santa Catharina, meteorito com
maior teor de níquel do mundo; Ibitira, um eucrito com vesículas e o Governador Valadares, o único
meteorito marciano brasileiro.
Logo, esta obra tem como intuito fornecer dados e informações, em diversos aspectos, que
serão descritos no decorrer deste livro, sobre os meteoritos brasileiros, produzindo um diagnóstico
geral dos meteoritos no Brasil e fazendo uma breve introdução à meteorítica, trazendo conteúdos
básicos da área de uma forma simplificada.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço todos que contribuíram diretamente ou indiretamente para a realização,
publicação e divulgação deste livro. Agradeço, em especial, à André Moutinho, por todo o suporte
dado e também por fornecer grande parte das imagens utilizadas, principalmente dos meteoritos
brasileiros. Também à professora Maria Elizabeth Zucolotto, pelo grande apoio dado desde o início,
e ainda pelas imagens fornecidas, inclusive a fotomicrografia da capa deste livro e também a da
página de abertura.
Ainda meus agradecimentos especiais para Leila Manttovanni e Katia Veiga, que não
mediram esforços para me ajudar, e muito, nos últimos anos e também para a minha professora,
Valni dos Reis Gonçalves, apoiadora e companheira de várias viagens e jornadas científicas.
Agradeço ainda, minha grande amiga Thyelle Dias, por todo o apoio e força que me dá.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 07
1- PRINCIPAIS TIPOS DE METEORITOS....................................................................... 08
1.1- Meteoritos rochosos....................................................................................... 08
1.1.1- Condritos................................................................................................. 09
1.1.2- Acondritos............................................................................................... 12
1.2- Meteoritos sideritos........................................................................................ 16
1.3- Meteoritos siderólitos..................................................................................... 19
1.3.1- Palasitos................................................................................................. 19
1.3.2- Mesosideritos.......................................................................................... 19
2- A QUEDA DE UM METEORITO.................................................................................. 21
2.1- Quedas e achados brasileiros....................................................................... 22
3- TAMANHO DOS METEORITOS BRASILEIROS......................................................... 24
4- DISTRIBUIÇÃO DOS METEORITOS BRASILEIROS................................................. 27
4.1- Brasil desconhece seus meteoritos............................................................... 30
5- OS METEORITOS BRASILEIROS.............................................................................. 31
5.1- Meteorito Bendegó........................................................................................ 31
5.2- Meteorito Angra dos Reis.............................................................................. 32
5.3- Meteorito Ibitira.............................................................................................. 33
5.4- Meteorito Governador Valadares................................................................... 34
5.5- Meteorito Santa Catharina............................................................................. 34
5.6- Meteorito Vicência......................................................................................... 34
5.7- Outros meteoritos importantes....................................................................... 35
5.8- Quadro de informações gerais....................................................................... 35
6- CRATERAS METEORÍTICAS...................................................................................... 38
6.1- Crateras meteoríticas no Brasil..................................................................... 40
7- ASTEROIDES.............................................................................................................. 41
7.1- O evento de Chelyabinsk............................................................................... 44
8- IDENTIFICANDO METEORITOS................................................................................ 45
8.1- Crosta de fusão............................................................................................. 45
8.2- Forma indefinida............................................................................................ 45
8.3- Densidade...................................................................................................... 45
8.4- Regmaglitos................................................................................................... 46
8.5- Magnetismo................................................................................................... 46
8.6- Interior dos meteoritos................................................................................... 46
8.7- Presença de ferro e níquel............................................................................ 46
8.8- Presença de côndrulos.................................................................................. 47
9- DÚVIDAS FREQUENTES............................................................................................ 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 51
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“Os meteoritos são pequenas caixas pretas codificadas com acontecimentos
passados há 4,5 bilhões de anos que nos foram entregues diretamente do espaço”.
Heide, F. and Wlotzka, F. (1995)
6
INTRODUÇÃO
Meteoritos são fragmentos de corpos sólidos do Sistema Solar, que foram desagregados de
asteroides, cometas, da Lua, de Marte, dentre outros corpos de origem, e que após vagarem por
milhões ou bilhões de anos no espaço, cruzam a atmosfera terrestre e chegam até a superfície.
Quando estes corpos ainda estão no espaço, são denominados meteoroides. Quando penetram na
atmosfera terrestre, com velocidades que variam de 11 a 72 Km/s, o atrito com o ar faz com que
produzam um efeito luminoso, denominado meteoro (popularmente conhecido como “estrela
cadente”). Caso algum fragmento chegue até a superfície, denomina-se então meteorito. Quando a
queda de um meteorito é observada, classifica-se o meteorito como queda (ex.: o meteorito
Vicência, que caiu em 2013), já se o meteorito foi simplesmente encontrado no campo, ele é
classificado como achado (ex.: o meteorito Bendegó, encontrado em 1784). A maioria dos
meteoritos catalogados são classificados como achado.
Basicamente existem três tipos de meteoritos: rochosos, metálicos e mistos. Sendo os
rochosos os mais comuns e os mistos os mais raros.
A grande maioria dos meteoroides são completamente antes de chegar na superfície. No
entanto, alguns corpos conseguem vencer a passagem atmosférica, por conta de seu tamanho ou
velocidade baixa, e costumam produzir, além de um grande meteoro (denominado bólido),
estrondos e assovios.
As quedas de meteoritos acontecem aleatoriamente, portanto podem cair em qualquer lugar
da superfície terrestre e em qualquer momento. Apesar da Terra ser diariamente bombardeada por
cerca de 40 toneladas de material cósmico (estimativa da NASA), grande parte dos fragmentos se
desintegram completamente antes de chegar à superfície, e dos que chegam até o solo, poucos
são descobertos, já que cerca de 2/3 caem no mar e outros caem em áreas desabitadas ou de
difícil acesso.
Como os meteoritos são fragmentos de diversos corpos do Sistema Solar, quando são
estudados podem trazer diversas informações sobre a origem e evolução destes corpos. Existem
meteoritos que são mais antigos do que o próprio Sistema Solar, portanto podem servir de fonte
para o estudo da nebulosa que originou o nosso sistema. O estudo dos meteoritos não se restringe
apenas aos astrônomos. Eles são estudados por diversos profissionais, dos mais diversos ramos
da ciência, como geólogos e biólogos.
No Brasil, 69* meteoritos já foram descobertos e catalogados oficialmente junto à Sociedade
Meteorítica. Número extremamente baixo se comparado ao de países com área territorial
semelhante, como os Estados Unidos e a Austrália, que já catalogaram oficialmente 1.754* e 666*
meteoritos, respectivamente. (* Dados cadastrados no Meteoritical Bulletin até 17/08/15). O
pequeno número de meteoritos brasileiros catalogados é consequência de diversos fatores, dentre
eles, a carência de informação da população, a falta de uma legislação que defina a propriedade
dos meteoritos, e também as condições naturais: o clima quente e úmido favorece o intemperismo,
que faz com que os meteoritos sejam confundidos com rochas terrestres, já que vão perdendo
suas características mais notáveis, além disso, parte do país possui grandes matas nativas, o que
dificulta a busca de meteoritos nestas áreas.
No decorrer deste livro, serão apresentados conceitos básicos relacionados à meteorítica,
juntamente com uma descrição e análise, nos mais diversos aspectos, dos meteoritos brasileiros
catalogados.
7
1- PRINCIPAIS TIPOS DE METEORITOS
Os meteoritos são divididos basicamente em três tipos: rochosos (aerólitos), formados
basicamente de silicatos, metálicos (sideritos), formados basicamente de ferro-níquel e mistos
(siderólitos), formados basicamente por ferro-níquel e silicatos. Estes três tipos são subdivididos
em classes, e estas classes podem ser subdivididas em grupos menores. Os meteoritos rochosos
são os mais comuns, correspondem a cerca de 92,8% dos meteoritos conhecidos. Os metálicos
são mais raros e correspondem a cerca de 5,7% dos meteoritos. E os mistos, tipo básico mais raro,
perfazem apenas 1,5% dos meteoritos conhecidos.
O gráfico abaixo apresenta os meteoritos brasileiros de acordo com os três tipos básicos de
meteoritos: rochoso (aerólito), metálico (siderito) e misto (siderólito). A coleção brasileira é
composta de 33 meteoritos rochosos, 35 meteoritos metálicos e 1 meteorito misto.
METEORITOS BRASILEIROS- PRINCIPAIS TIPOS
BÁSICOS
1%
ROCHOSOS
51%
48%
METÁLICOS
MISTOS
1.1- Meteoritos rochosos
Os meteoritos rochosos são divididos em condritos e acondritos, sendo os condritos o tipo
mais comum de meteorito, correspondendo a maior parte das quedas observadas e coletadas.
Basicamente, os meteoritos condritos são aqueles que possuem côndrulos, pequenas esferas de
minerais que variam de 0,1 a 4 mm, no entanto, existem alguns meteoritos do tipo condrito que não
apresentam côndrulos. Os condritos possuem composição muito semelhante ao do Sol, com
exceção dos elementos voláteis. Seus principais componentes são minerais como olivina e
piroxênios, além de ferro e níquel, cuja quantidade varia para cada tipo de condrito. São meteoritos
rochosos que não sofreram diferenciação, ou seja, não foram fundidos no interior do corpo
parental. Estes meteoritos são muito antigos, possuem de 4,55 a 4,6 bilhões de anos, portanto, são
importantes fontes para o estudo da origem e evolução do Sistema Solar.
Os meteoritos acondritos são meteoritos que não possuem côndrulos, e são bem mais raros
do que os meteoritos condritos, correspondendo a cerca de 7% dos meteoritos rochosos. São
meteoritos que sofreram diferenciação (total ou parcial), possuem texturas distintas e são
originários de processos ígneos. Como são formados por material fundido recristalizado, são
importantes para o estudo das fontes de calor que existiram no início do Sistema Solar. A classe
dos acondritos inclui meteoritos oriundos de grandes asteroides, como Vesta, da Lua e de Marte,
portanto são importantes para entender os processos de origem e evolução destes e de outros
corpos, como a própria Terra. São provenientes do manto ou crosta do corpo parental.
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O gráfico abaixo apresenta os meteoritos rochosos brasileiros, divididos entre os dois tipos
básicos: condritos e acondritos. Os meteoritos rochosos catalogados no Brasil estão divididos da
seguinte maneira: 29 meteoritos condritos e 4 meteoritos acondritos.
METEORITOS BRASILEIROS- TIPOS BÁSICOS DE
METEORITOS ROCHOSOS
12%
CONDRITOS
ACONDRITOS
88%
1.1.1- Condritos
Os meteoritos condritos estão divididos em classes: Enstatita condrito (E), Condritos
ordinários (OC), Condritos carbonáceos (C), Kakangaritos (K) e Rumurutitos (R), sendo estas duas
últimas classes as menores. Algumas classes se dividem ainda em grupos menores. A
classificação leva em conta critérios como: quantidade e distribuição de ferro, petrologia,
mineralogia e os isótopos de oxigênio.
Sobre os principais grupos de condritos:
 Enstatita condrito (E)
Trata-se de um grupo raro de meteoritos, correspondendo a 2% dos meteoritos rochosos. Estão
divididos em dois grupos: alto teor de ferro (EH) e baixo teor de ferro (EL).
 Condritos carbonáceos (C)
Os meteoritos deste tipo são considerados os mais primitivos, seus elementos são os que mais se
aproximam da composição do Sol. Possuem pouco ou nenhum ferro e estão divididos em oito
tipos, descritos resumidamente abaixo:
-Tipo CI: Considerados os mais primitivos do Sistema Solar e não possuem côndrulos.
-Tipo CM: São os mais abundantes entre os carbonáceos e com côndrulos bem formados.
-Tipo CO: Possuem côndrulos pequenos em grande quantidade.
-Tipo CV: Possuem côndrulos grandes e em grande quantidade.
-Tipo CK: Em geral possuem tipo petrográfico 5 e côndrulos em abundância.
-Tipo CR: Se diferenciam dos demais tipos por apresentar grande quantidade de metal.
-Tipo CH: Corresponde a um tipo raro de condrito carbonáceo com alto teor de ferro.
-Tipo CB: Uma das características deste tipo é a presença de côndrulos centimétricos.
 Condritos ordinários (OC)
Trata-se do tipo mais comum de meteorito. Podem ser classificados em: H (alto teor de ferro – de
25 a 30%), L (baixo teor de ferro – de 20 a 25%) e LL (muito baixo teor de ferro). Destes três
grupos, o L é o que corresponde a maior parte dos meteoritos ordinários. A classificação conta
9
ainda com um parâmetro que varia de 3 a 6, que define, entre outros aspectos, a diferenciação dos
côndrulos, sendo que, 3 indica que os côndrulos são muito bem definidos, 4 côndrulos bem
definidos, 5 côndrulos diferenciáveis e 6 côndrulos mal definidos.
CONDRITOS BRASILEIROS:
Os meteoritos brasileiros rochosos condritos são todos do tipo condrito ordinário (OC). O
gráfico abaixo apresenta os meteoritos brasileiros rochosos do tipo condrito divididos de acordo
com o teor de ferro H, L ou LL, indicando o número de exemplares e a porcentagem
correspondente de cada um dos tipos.
METEORITOS BRASILEIROS- CONDRITOS ORDINÁRIOS
POR TEOR DE FERRO
2; 7%
14; 48%
H
L
LL
13; 45%
Abaixo, o gráfico dos meteoritos brasileiros rochosos do tipo condrito divididos pelo tipo
petrológico: 3,4,5 ou 6. “Outros tipos” são meteoritos como o Mafra e o Vicência, que recebem a
classificação como 3-4 e 3-2, respectivamente. O gráfico indica o número de exemplares, seguido
da porcentagem correspondente de cada categoria.
METEORITOS BRASILEIROS- CONDRITOS ORDINÁRIOS
POR TIPO PETROLÓGICO
2; 7%
1; 3%
Tipo 3
9; 31%
7; 24%
Tipo 4
Tipo 5
Tipo 6
Outros tipos
10; 35%
10
Condritos ordinários, tipos petrológicos:
A) Tipo petrológico 3
B) Tipo petrológico 4
C) Tipo petrológico 5
D) Tipo petrológico 6
A) Interior do meteorito brasileiro Buritizal, não catalogado oficialmente. Trata-se de um condrito
ordinário do tipo H3. Note como os côndrulos são bem definidos. Crédito: © André Moutinho.
B) Interior do meteorito brasileiro Marília, um condrito ordinário do tipo H4. Crédito: © André
Moutinho.
C) Interior do meteorito brasileiro Varre-Sai, condrito ordinário do tipo L5. Crédito: © André
Moutinho.
D) Interior do meteorito brasileiro Putinga, condrito ordinário do tipo L6. Crédito: © André Moutinho.
Imagens obtidas no site: http://www.meteorito.com.br
11
O gráfico a seguir mostra os meteoritos brasileiros rochosos do tipo condrito ordinário por
tipo químico (H, L e LL), para cada tipo petrológico. As colunas coloridas apresentam a quantidade
de meteoritos dos tipos H (em azul), L (em laranja) e LL (em cinza) para os tipos petrológicos 3, 4,
5, 6 e os tipos 3-4 e 3-2 presentes na coleção brasileira.
CLASSIFICAÇÃO DOS METEORITOS CONDRITOS
ORDINÁRIOS BRASILEIROS
L
LL
TIPO 4
TIPO 5
0
1
TIPO 3-4
0
0
1
TIPO 6
0
0
1
TIPO 3
0
0
0
1
2
3
3
5
6
6
H
TIPO 3-2
1.1.2- Acondritos
Inicialmente foram classificados de acordo com a quantidade de cálcio (Ca), sendo então
divididos em dois grupos: ricos e pobres em cálcio. Os ricos, apresentam de 5% a 25% de cálcio ou
mais, os pobres, menos de 3% de cálcio. Estão divididos também em:
METEORITOS (HED): São meteoritos oriundos do grande asteroide Vesta, que possui 530
quilômetros de diâmetro. A origem dos meteoritos HED (Howarditos, eucritos e diogenitos), como
sendo de um mesmo corpo parental, foi confirmada pela missão Dawn, da NASA.
 Howarditos (HOW)
São semelhantes aos solos regolíticos da Lua, e por conta da grande quantidade de cálcio
apresentam uma crosta de fusão bem escura e brilhante.
 Eucritos (EUC)
Também apresentam crosta de fusão bem brilhante, se destacando do interior cinza claro. Trata-se
do tipo mais comum de meteorito acondrito.
 Diogenitos (DIO)
São originários de regiões mais profundas, abaixo da crosta.
 Angritos (ANG)
Esta classe é nomeada segundo o meteorito brasileiro Angra dos Reis, que foi por mais de um
século o único meteorito do tipo. Consta no Meteoritical Bulletin (até 17/08/2015) apenas 23
meteoritos angritos em todo o mundo, no entanto o angrito brasileiro se diferencia dos demais
exemplares.
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 Aubritos (AUB)
São meteoritos pobres em ferro, apresenta o interior esbranquiçado e, em geral, crosta de fusão
bege.
 Ureilitos (URE)
Existem evidências que sugerem que os Ureilitos sofreram violentos choques, capaz de
transformar grafite em diamante. Inclusive, em 1888, foi descoberto diamantes em um meteorito
deste tipo que caiu na Rússia em 1866.
 Brachinitos (BRA)
São meteoritos diferentes dos demais acondritos, e inicialmente eram classificados como
“anômalos”. Consta no Meteoritical Bulletin (até 17/08/2015) 38 exemplares catalogados no mundo
todo.
METEORITOS MARCIANOS (SNC): Os meteoritos marcianos são fragmentos que foram ejetados
do planeta Marte e chegaram até a superfície terrestre. Interações gravitacionais entre os corpos
do Sistema Solar causam perturbações que podem resultar em colisões cósmicas. Logo no início
da formação Sistema Solar, tais colisões certamente foram muito mais frequentes e envolveram
massas muito maiores, por isso não é difícil de imaginar que alguns corpos, razoavelmente
grandes, foram destruídos e dispersos em tais eventos.
Hoje, as colisões são menos enérgicas, mas ainda podem ejetar pequenos pedaços de um grande
corpo atingido por um objeto menor, basta que os fragmentos sejam ejetados a uma velocidade
que exceda a velocidade de escape de tal corpo.
As sondas Viking, enviadas pela NASA para estudar Marte em 1976, mediram as quantidades de
diferentes gases da atmosfera rarefeita do planeta vermelho, e a composição isotópica de oxigênio
analisada neste tipo de meteorito, coincide com as medições realizadas pelas sondas.
Estes meteoritos trazem informações sobre os processos que ocorreram durante a história de
Marte. Os meteoritos marcianos com datação mais nova, por exemplo, mostram evidências de que
o vulcanismo ocorreu em Marte até 180 milhões de anos atrás. Alguns meteoritos mostram também
evidências de interação com água.
Na década de 1970, a sonda Viking analisou também rochas do solo marciano, mas não encontrou
indícios de vida. Em 1996, uma equipe de cientistas anunciou a possível descoberta de vida
microbiana no meteorito marciano ALH84001.
Entre as evidências, estavam: a comprovação da existência de água, minerais formados em baixas
temperaturas que continham pequenas quantidades de compostos orgânicos e minúsculas
estruturas que se parecem fósseis de bactérias. Depois de anos de intenso estudo e debate, com
os novos dados que suportam ambos os lados, a questão ainda não está resolvida. Contudo, David
S. McKay, líder da equipe de cientistas, defende a teoria da existência de vida primitiva em Marte:
“Estou convencido de que encontramos no meteorito sinais de vida biológica primitiva em Marte.
Quem quiser que prove que estamos errados. ” .
A- Meteorito
ALH84001.
B- Microscopia que
mostra estruturas
que podem ser
fósseis
microorganismos.
A
B
Crédito: NASA
13
 Shergotitos
Trata-se do tipo mais comum de meteorito marciano. São bem antigos, possuem cerca de 4,5
bilhões de anos. São rochas vulcânicas ricas em basalto e rochas ferruginosas. O primeiro
exemplar caiu em Shergotty, na Índia, no ano de 1865.
 Nakhlitos
O primeiro meteorito do grupo caiu em Nakhla, no Egito, em 1911, e dizem que um fragmento
atingiu e matou um cachorro. Apresentam tonalidade esverdeada devido aos cristais olivina e
diopsídio. Provavelmente são formados por processos ígneos intrusivos. O meteorito brasileiro
Governador Valadares é um meteorito marciano do tipo nakhlito.
 Chassignitos
O primeiro exemplar caiu em Chassigny, em 1815, na França. São, provavelmente, formados no
interior de Marte e são semelhantes aos Nakhlitos quanto à composição, no entanto são mais ricos
em feldspatos.
Existem 154 meteoritos marcianos catalogados oficialmente no mundo todo (dados do Meteoritical
Bulletin, até 17/08/2015).
METEORITOS LUNARES: Meteoritos lunares são fragmentos ejetados da superfície lunar por
meio de impactos, que foram capturados pelo campo gravitacional da Terra e chegaram até a
superfície. Composição química, rácios de isótopos, mineralogia e textura dos meteoritos lunares
são idênticos aos de amostras coletadas na Lua durante as missões Apollo. Tomados em conjunto,
estas características são diferentes das de qualquer tipo de rocha terrestre (mesmo os meteoritos
lunares apresentando algumas semelhanças com algumas rochas da Terra) ou de qualquer outro
tipo de meteorito.
Existem 223 meteoritos lunares catalogados em todo o mundo (dados do Meteoritical Bulletin, até
17/08/2015), e em geral foram encontrados na Antártica ou em desertos, pois a chance de
encontrar um meteorito lunar em um ambiente de clima temperado é muito remota. Não há
registros de meteoritos lunares que tiveram sua queda observada, uma vez que devem ter caído na
Terra há milhares de anos atrás.
 Basálticos
São meteoritos de origem vulcânica, proveniente dos mares lunares (planícies basálticas, vastas e
escuras).
 Brechas regolíticas
Trata-se das rochas mais antigas, da época de formação do satélite e têm origem nas terras
lunares. São formadas de regolito lunar, que é uma camada de rochas e pó fragmentado, devido
aos inúmeros e violentos impactos que aconteceram na Lua. A grande maioria das rochas lunares
são brechas.
ACONDRITOS BRASILEIROS
A coleção brasileira de meteoritos possui quatro acondritos, os quais estão apresentados na tabela
abaixo, com o seu respectivo tipo.
METEORITO
Angra dos Reis
Governador Valadares
Ibitira
Serra de Magé
TIPO
Angrito
Marciano Nakhlito
Eucrito
Eucrito
14
A) Meteorito condrito Vicência
B) Meteorito acondrito Angra dos Reis
C) Meteorito condrito Vicência
D) Meteorito acondrito Ibitira
E) Fotomicrografia condrito Clovis
F) Fotomicrografia acondrito A. dos Reis
A) Meteorito brasileiro condrito LL3.2, Vicência. Crédito © André Moutinho.
B) Meteorito brasileiro acondrito do tipo angrito, A. dos Reis. Crédito Maria Elizabeth Zucolotto.
C) Côndrulos do meteorito Vicência, LL3.2. Crédito © André Moutinho.
D) Interior do meteorito acondrito Ibitira. Crédito © André Moutinho.
E) Fotomicrografia do meteorito condrito H3.6 Clovis. Crédito Maria Elizabeth Zucolotto.
F) Fotomicrografia do meteorito acondrito tipo angrito, Angra dos Reis. Crédito Maria Elizabeth
Zucolotto.
15
1.2- Meteoritos sideritos
Os meteoritos sideritos (metálicos) perfazem cerca de 6% dos meteoritos. São oriundos do
núcleo do corpo parental e constituídos basicamente por uma liga de ferro-níquel, apresentando
pequenas quantidades de minerais.
Uma das principais características deste tipo de meteorito, o que permite que sejam diferenciados
das demais rochas terrestres, é o seu elevado peso. A densidade de um siderito é de cerca de
7g/cm³ a 8g/cm³, para fins de comparação, a água possui densidade de 1g/cm³ e um meteorito
condrito, cerca de 3,21g/cm³ a 3,4g/cm³.
São também mais resistentes, do que qualquer outro tipo de meteorito, ao processo de
intemperismo (conjunto de processos mecânicos, químicos e biológicos que ocasionam a
desintegração e a decomposição das rochas), portanto depois da queda são preservados por muito
mais tempo, o que permite sua descoberta depois de muitos anos. A grande maioria dos sideritos
catalogados não tiveram queda observada.
Uma curiosidade interessante, é que os sideritos foram utilizados por civilizações antigas,
para cunhar armamentos e outros instrumentos.
Existem dois tipos de classificação para este tipo de meteorito: classificação estrutural e
classificação química.
Classificação estrutural: Feita de acordo com a estrutura apresenta pelo meteorito quando
atacado com nital (solução de ácido nítrico e álcool), podendo apresentar linhas entrelaçadas,
linhas paralelas ou nenhuma estrutura evidente a olho nu. Cada estrutura está relacionada à
largura da lamela de kamacita, que está ligada com a quantidade de níquel do meteorito. Veja a
tabela abaixo:
TEOR DE NÍQUEL
Superior a 16%
6,5% a 15%
4,5% a 6,5%
CLASSIFICAÇÃO
Ataxitos (D) - não apresentam estrutura evidente a olho nu e
constitui o tipo mais raro.
Octahedritos (O) - estrutura mais comum apresentada nos
sideritos. Apresenta lamelas entrelaçadas, seguindo uma
orientação octaédrica. É o chamado ''padrão de
Widmanstatten”.
Hexaedrito (H) - apresenta linhas finas paralelas, conhecidas
como ''linhas ou bandas de Neumann''.
Os meteoritos sideritos octahedritos estão divididos em 6 subgrupos, de acordo com a largura das
lamelas de kamacita:
SUBGRUPO
Octahedritos muito grosseiros
Octahedritos grosseiros
Octahedritos médios
Octahedritos finos
Octahedritos finíssimos
Octahedritos plessíticos
SIGLA
LARGURA DE KAMACITA (mm)
Ogg
Og
Om
Of
Off
Opl
3,3 a 50
1,3 a 3,3
0,5 a 1,3
0,2 a 0,5
< 0,2
< 0,2
16
Classificação química: está relacionada à análise de elementos como germânio, gálio, e irídio,
que divide os meteoritos metálicos em 14 grupos quimicamente distintos: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE,
IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Existe ainda os sideritos “não agrupados”, que não se
encaixam em nenhum dos 14 grupos químicos.
Os meteoritos brasileiros Barbacena, Bocaiuva, Campinorte e Piedade do Bagre, são exemplos de
meteoritos não agrupados.
A classificação estrutural e química dos meteoritos sideritos podem ser associadas. A tabela abaixo
traz a classificação estrutural, com as respectivas classificações químicas que estão associadas.
CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL
Hexaedritos
Ataxitos
Octahedritos muito grosseiros
Octahedritos grosseiros
Octahedritos médios
Octahedritos finos
Octahedritos finíssimos
Octahedritos plessíticos
SIGLA
H
D
Ogg
Og
Om
Of
Off
Opl
CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA
ASSOCIADA
IIAB, IIG
IIF, IVB
IIAB, IIG
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
IID, IIICD, IIIF, IVA
IIC, IIICD
IIC, IIF
SIDERITOS BRASILEIROS
O gráfico abaixo apresenta a distribuição dos meteoritos sideritos da coleção brasileira, por
classificação química. A coleção brasileira de meteoritos possui 35 sideritos catalogados.
METEORITOS BRASILEIROS- SIDERITOS POR
CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
17
A) Meteorito São João Nepomuceno
B) Meteorito Santa Catharina
C) Meteorito Santo Antônio do Descoberto
D) Meteorito Faina
E) Meteorito Canyon Diablo
F) Meteorito Bendegó
A) Interior do siderito brasileiro, São João Nepomuceno, um octaedrito fino IVA. É possível notar o
padrão de Widmanstatten. B) Interior do siderito brasileiro, Santa Catharina, do tipo ataxito. C)
Interior do siderito brasileiro, do tipo hexaedrito IIAB, Santo Antônio do Descoberto. D) Meteorito
brasileiro Faina, siderito do tipo octaedrito IAB completo. E) Fragmento individual do meteorito
Canyon Diablo, octaedrito grosseiro IAB, proveniente do corpo que deu origem à famosa cratera de
Berringer. F) Bendegó, octaedrito grosseiro IC, maior meteorito brasileiro com 5,36 t.
Crédito das imagens: © André Moutinho. Extraído de: www.meteorito.com.br.
18
1.3- Meteoritos siderólitos
Dos três tipos básicos de meteoritos, os siderólitos (mistos) constituem o tipo mais raro,
correspondendo a aproximadamente 1% dos meteoritos. Dos mais de 50.000 meteoritos
catalogados no mundo todo, pouco mais de 300 são siderólitos.
São provenientes do manto do corpo parental e são constituídos de 50% de ferro e 50% de
silicatos, aproximadamente. Podem ser divididos em dois grupos: palasitos e mesosideritos.
1.3.1- Palasitos
São formados entre o núcleo metálico e o manto inferior do corpo parental diferenciado. São
belos meteoritos, apresentando cristais de olivina junto ao ferro. As quantidades de olivina e ferro
não são obrigatoriamente divididas de forma igual, alguns palasitos apresentam mais silicatos e
outros se assemelham com meteoritos sideritos, por apresentarem mais ferro. Os palasitos são
divididos em três grupos, conforme exemplifica a tabela abaixo:
GRUPO

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
Olivinas ricas em magnésio;
A liga de ferro-níquel tem composição semelhante ao
dos sideritos IIIAB.
O teor de níquel é mais elevado do que no grupo
principal; a olivina é rica em ferro.
Composição isotópica parecida com sideritos IIF.

Existência, em pequena quantidade, de clinopiroxênio.


Grupo principal

Grupo Eagle Station
Palasitos piroxênios
1.3.2- Mesosideritos
Apesar de serem constituídos aproximadamente pela mesma quantidade de ferro e
silicatos, se diferenciam dos palasitos por serem compostos por uma mistura de fragmentos de
diferentes corpos parentais.
O gráfico abaixo apresenta os meteoritos siderólitos, do tipo palasito e mesosiderito,
encontrados no mundo todo (dados do Meteoritical Bulletin, registrados até 21/07/2015).
SIDERÓLITOS, POR TIPO, ENCONTRADOS NO MUNDO
103; 32%
218; 68%
PALASITOS
MESOSIDERITOS
SIDERÓLITOS NO BRASIL
No Brasil, o meteorito Quijingue, encontrado na Bahia no ano de 1984, é o único meteorito
do tipo siderólito descoberto e catalogado. Trata-se de um palasito com massa de 59 kg.
19
A) Meteorito Quijingue
B) Meteorito Esquel
C) Meteorito Vaca Muerta
D) Meteorito Imilac
E) Meteorito Bondoc
F) Meteorito Brahin
A) Fatia do meteorito siderólito brasileiro, do tipo palasito, Quijingue. Crédito: © André Moutinho,
via www.meteorito.com.br. B) Fatia polida do meteorito palasito argentino Esquel, exposto no Royal
Ontario Museum. Crédito: Wikipédia, enviado por Captmondo. C) Meteorito mesosiderito
encontrado em Vaca Muerta, Chile. Crédito: Wikipédia, por Brocken Inaglory.
D) Fatia do meteorito palasito Imilac. Crédito: http://www.arizonaskiesmeteorites.com/
E) Meteorito mesosiderito Bondoc. Crédito: http://meteoritegallery.com/bondoc-mesosiderite-b4/.
F) Meteorito palasito, Brahin, fatia de 32,6 gramas. Crédito: © André Moutinho, via
www.meteorito.com.br.
20
2- A QUEDA DE UM METEORITO
Os meteoroides penetram na atmosfera terrestre com velocidades de 11 Km/s a 72 Km/s. A
velocidade de entrada vai depender se o meteoroide está no mesmo sentido de rotação da Terra
(meteoro com baixa velocidade), ou se está no sentido contrário ao de rotação da Terra (meteoro
com alta velocidade).
Após penetrarem na atmosfera, os meteoroides vão sendo freados e perdem velocidade.
Além disso, o atrito com o ar os tornam incandescentes. No caso de objetos maiores, a queda do
meteorito é marcada por um bólido, que pode ser tão brilhante quanto a Lua ou o Sol, podendo
ainda deixar rastros de fumaça no céu. Vale ressaltar, que um observador que esteja na exata
região da queda do meteorito não conseguirá observar o bólido. Ele vai observar apenas uma bola
brilhante crescente e sem cauda. Em 2010, o agricultor Germano da Silva Oliveira, presenciou a
queda de um meteorito, na zona rural de Varre-Sai, no Rio de Janeiro, ele descreve que observou
uma nuvem avermelhada rodando, que em seguida explodiu e produziu alguns estrondos menores.
Posteriormente, ele encontrou um fragmento de cerca de 600 gramas.
Rastro de fumaça deixado pelo meteorito que caiu em Chelyabinsk, nos Montes Urais, Rússia.
Crédito de imagem: Alex Alishevskikh - Flickr: Meteor trace, via Wikipédia.
Devido à resistência do ar, são formadas ondas de choque, criando explosões sônicas que
podem levar à fragmentação do corpo. Isto acontece a aproximadamente 10 Km de altitude, e a
partir de então o meteorito atinge o “ponto de retardamento”, e passa a cair em queda livre.
A atmosfera terrestre só é capaz de frear de forma total meteoroides de até 10 toneladas.
Quando um meteorito tem sua queda observada, como o Varre-Sai, Vicência, Angra dos
Reis, por exemplo, ele é denominado queda. Se ele for simplesmente encontrado no campo, ele é
denominado achado. A maior parte dos meteoritos são achados, visto a raridade de presenciar a
queda de um deles.
21
2.1- Quedas e achados brasileiros
O gráfico abaixo apresenta os dados sobre o número de quedas e achados da coleção
brasileira de meteoritos.
METEORITOS BRASILEIROS - QUEDAS E ACHADOS
24; 35%
QUEDAS
ACHADOS
45; 65%
O gráfico abaixo apresenta as quedas e achados dos meteoritos brasileiros, por tipo:
condrito, acondrito, siderito e siderólito. Note que, nenhum dos meteoritos brasileiros sideritos
catalogados tiveram queda observada. Os sideritos são mais raros, no entanto, por serem mais
resistentes ao intemperismo, podem ser encontrados mesmo depois de muitos anos, por isso
lideram o número de achados. Já os condritos ordinários, são o tipo mais comum de meteorito,
logo, há maiores chances de presenciar sua queda. No entanto, são menos resistentes ao
intemperismo, e são mais difíceis de serem identificados muito tempo depois de terem caído.
Todos os acondritos brasileiros, com exceção do Governador Valadares, tiveram queda observada.
Os acondritos praticamente só são recuperados logo depois da queda.
QUEDAS E ACHADOS POR TIPO
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
QUEDAS
ACHADOS
CONDRITOS
ACONDRITOS
SIDERITOS
SIDERÓLITOS
22
O gráfico a seguir traz o número de quedas e achados em tempo cronológico, de 1784, com
a descoberta do meteorito Bendegó, até 04 de julho de 2015. Com exceção dos séculos XVIII, que
está representado de forma total, e XIX, que está representado em dois períodos, 1800 a 1849 e
1850 a 1899, os séculos XX e XXI estão divididos em décadas. Dos 69 meteoritos brasileiros, 2
deles não apresentam informações do ano em que foram encontrados, portanto o gráfico traz as
informações do ano da queda ou achado de 67 meteoritos brasileiros.
QUEDAS E ACHADOS - DE 1784 A 2015
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Séc.
XVIII
1800 a 1850 a 1900 a 1910 a 1920 a 1930 a 1940 a 1950 a 1960 a 1970 a 1980 a 1990 a 2000 a 2010 a
1849 1899 1909 1919 1929 1939 1949 1959 1969 1979 1989 1999 2009 2015
QUEDAS
ACHADOS
Algumas quedas brasileiras
Varre-Sai: Na tarde do dia 19, o Sr. Germano Oliveira observava algumas nuvens de cor
avermelhada, que pareciam estar rodando no céu, em seguida houve uma forte explosão, seguida
de três outras explosões de intensidade menor do que a primeira.
No dia seguinte, o agricultor encontrou uma pedra escura, que pesava cerca de 600 gramas e tinha
pouco mais de 10 centímetros. O Museu Nacional recolheu uma amostra de 50 gramas e levou
para análise, constatando ser um meteorito do tipo condrito. Além deste primeiro fragmento, outros
foram identificados posteriormente, inclusive um no Espírito Santo. Há quase duas décadas o
Brasil não presenciava um evento como este.
Putinga: Um estranho acontecimento deixou grandes nuvens de fumaça, que cobriram o céu
ensolarado. Seguido de grande barulho, a população sentiu muito medo. Era quatro e meia da
tarde de domingo, do dia 16 de agosto de 1937, toda Putinga estava reunida para comemoração
do padroeiro da cidade, São Roque, até que se ouviram estampidos, como fogos de artifício.
Várias foram as suposições, de castigo de Deus a fim do mundo, mas um médico italiano, ali
domiciliado, Dr. Vicenzo Guaragna, sabia que, com certeza, aquele evento presenciado pela
população se tratava da queda de um meteorito. No dia seguinte, cerca de 200 quilos de pedras
foram retirados de buracos com profundidade de cerca de 1 a 2 metros. A chuva de meteoritos,
talvez a maior delas já ocorrida no Brasil, atingiu o município vizinho, Ilópolis e parte de Soledade.
Especula-se que pelo menos 1.000 quilos ainda se encontram perdidos entre as matas de pinheiro
da região. Hoje, nada se sabe de grandes fragmentos, como um de 55 quilos, que foi na época,
exposto na sede do jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre.
23
3- TAMANHO DOS METEORITOS BRASILEIROS
A atmosfera terrestre é bombardeada por material cósmico todos os dias. Cientistas
estimam que cerca de 40 toneladas de material meteorítico atinge a atmosfera terrestre
diariamente. Em uma noite, por exemplo, é possível observar alguns meteoros cruzando distintas
regiões do céu, são os meteoros esporádicos, ou seja, que não são previstos e acontecem a
qualquer momento. Em determinadas épocas a taxa de meteoros pode aumentar drasticamente,
quando acontecem as chuvas de meteoros, que diferente dos meteoros esporádicos, possuem
datas certas para acontecerem e parecem surgir de uma determinada constelação.
Das 40 toneladas de material cósmico que atingem diariamente a atmosfera terrestre, a
grande maioria possui milímetros, ou tamanhos menores, de diâmetro e se desintegra
completamente durante a passagem atmosférica. No passado, durante a formação da Terra, a
queda de grandes meteoritos acontecia com frequência, formando crateras meteoríticas e
provocando até mesmo extinções em massa.
A tabela a seguir, traz a relação do tamanho do corpo que penetra na atmosfera e o tempo médio
para que aconteça tais impactos.
TAMANHO DO CORPO (diâmetro)
0,001 mm (1 mícron)
1 mm
1m
100 m
10 Km
TEMPO MÉDIO DE IMPACTO
A cada 30 microssegundos
A cada 30 segundos
A cada 12 meses
A cada 100.000 anos
A cada 100.000.000
O tamanho dos meteoritos pode variar de microgramas, no caso de micrometeoritos, até
algumas toneladas. O maior meteorito encontrado até hoje, o Hoba-West, possui cerca de 60
toneladas. Ele foi encontrado na Namíbia, África.
O gráfico* abaixo apresenta a massa total dos meteoritos catalogados no Brasil.
METEORITOS BRASILEIROS- MASSA TOTAL
6%
1%
Até 1Kg
9%
20%
>1Kg até 10Kg
>10Kg até 50Kg
14%
>50Kg até 100Kg
29%
21%
>100Kg até 500Kg
>500Kg até 1t
>1t
24
O gráfico* a seguir apresenta a massa total dos meteoritos brasileiros por tipo básico,
rochosos (condritos e acondritos), sideritos e siderólitos. Em geral, os sideritos são maiores do que
os demais tipos de meteoritos, devido sua maior resistência à passagem atmosférica.
MASSA TOTAL DOS METEORITOS BRASILEIROS, POR
TIPO
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Até 1Kg
>1Kg até 10Kg
CONDRITOS
>10Kg até
50Kg
>50Kg até
100Kg
ACONDRITOS
>100Kg até
500Kg
SIDERITOS
>500Kg até 1t
>1t
SIDERÓLITOS
*Observação: Os dados obtidos no Meteoritical Bulletin podem estar arredondados e podem
apresentar o peso total conhecido do meteorito (incluindo mais de um fragmento). O gráfico
apresenta os dados de 66 meteoritos brasileiros, uma vez que 3 meteoritos não possuem
informação de massa na página do Meteoritical Bulletin.
Como anteriormente dito, os meteoritos sideritos, em geral, são maiores do que os demais
tipos de meteorito, já que possuem maior resistência para atravessar a atmosfera terrestre. A lista
abaixo traz os dez maiores meteoritos encontrados no mundo, sendo todos eles sideritos. O maior
meteorito brasileiro, Bendegó, que possui 5,36 t, já não faz mais parte desta lista, no entanto, na
época em que foi descoberto (1784), era o segundo maior do mundo. Hoje o Bendegó é o 16º
maior meteorito no mundo.
METEORITO / LOCALIZAÇÃO
Hoba (Namíbia)
Campo del Cielo - Eu Chaco (Argentina)
Cape York - Ahnighito (Groelândia)
Armanty - Xinjiang (China)
Bacubirito - Sinaloa (México)
Cape York - Agpalilik (Groelândia)
Mbosi - Rungwe (Tanzânia)
Campo del Cielo - Chaco (Argentina)
Willamette (Estados Unidos)
Chupaderos - Chihuahua (México)
MASSA
ANO
60 t
37 t
30,9 t
28 t
22 t
20,1 t
16 t
14,8 t
14,4 t
14,1 t
1920
1969
1894
1898
1863
1963
1930
2005
1902
1852
25
Meteorito Hoba. Crédito: Eugen Zibiso, via Wikipédia.
A tabela abaixo traz os maiores meteoritos brasileiros (maiores massas). Vale ressaltar, que
a massa apresentada para os meteoritos abaixo pode considerar vários fragmentos do meteorito
em questão, ou seja, nem todos são uma única massa.
METEORITO
Santa Catharina
Bendegó
Campinorte
Santa Luzia
Itapuranga
Nova Petrópolis
Putinga
Porto Alegre
Patos de Minas (octa)
Pará de Minas
MASSA
ANO
7t
5,36 t
2t
1,92 t
628 Kg
305 Kg
300 Kg
200 Kg
200 Kg
116,3 Kg
1875
1784
1992
1921
?
1967
1937
2005
1925
1934
TIPO
Siderito IAB-ung
Siderito IC
Siderito não agrupado
Siderito IIAB
Siderito IAB-MG
Siderito IIIAB
Condrito L6
Siderito IIIE
Siderito IAB complexo
Siderito IVA
26
4- DISTRIBUIÇÃO DOS METEORITOS BRASILEIROS
Das 27 unidades federativas do Brasil (26 estados e 1 distrito federal), apenas 15 estados
possuem pelo menos um meteorito encontrado e catalogado. Isso se deve a diversos fatores, entre
eles, a carência de informação sobre o assunto, ausência de uma legislação que regule a
propriedade de meteoritos e também das condições naturais – o clima quente e úmido faz com que
o processo de intemperismo se acelere, assim os meteoritos acabam sendo confundidos com as
demais rochas da região. O Brasil possui 516 milhões de hectares de florestas, o equivalente a
cerca de 60% do território nacional (dados do IBGE 2012), as grandes áreas de florestas também
dificultam a busca e coleta de meteoritos.
O gráfico apresentado a seguir, mostra o número de meteoritos descobertos por estado,
seguido da respectiva porcentagem correspondente à coleção nacional. Os estados que não
constam no gráfico não possuem nenhum meteorito encontrado e catalogado.
METEORITOS BRASILEIROS DESCOBERTOS POR
ESTADO
Bahia
4; 6%
Ceará
5; 7%
4; 6%
Goiás
4; 6%
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
8; 12%
Minas Gerais
7; 10%
1; 1%
2; 3%
3; 4%
1; 2%
20; 30%
2; 3%
1; 2%
Pará
Paraná
Pernambuco
Rio de Janeiro
Rio Grande do Norte
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
São Paulo
4; 6% 1; 2%
O gráfico abaixo apresenta o número de meteoritos descobertos por região brasileira,
seguido da respectiva porcentagem correspondente à coleção nacional de meteoritos.
METEORITOS BRASILEIROS DESCOBERTOS POR
REGIÃO
1; 2%
REGIÃO NORTE
16; 24%
14; 21%
9; 13%
27; 40%
REGIÃO NORDESTE
REGIÃO CENTRO-OESTE
REGIÃO SUDESTE
REGIÃO SUL
27
O seguinte gráfico traz a distribuição dos meteoritos brasileiros por tipo (acondritos,
condritos, sideritos e siderólitos), em cada uma das unidades da federação. Os estados que não
constam no gráfico não apresentam meteoritos catalogados.
METEORITOS BRASILEIROS, POR TIPO, DISTRIBUÍDOS
POR ESTADO
14
12
10
8
6
4
2
0
Acondrito
Condrito
Siderito
Siderólito
A distribuição dos meteoritos brasileiros, por massa, em cada um dos quinze estados
brasileiros, que já catalogaram pelo menos um meteorito, está representada pelo gráfico abaixo.
Três meteoritos brasileiros não possuem informação de massa no Meteoritical Bulletin, portanto,
não constam no presente gráfico.
METEORITOS BRASILEIROS, POR MASSA, DISTRIBUÍDOS
POR ESTADO
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Até 50 Kg
>50 Kg até 100 Kg
>100 Kg até 500 Kg
>500 Kg até 1t
> 1t
28
A distribuição dos registros de quedas e achados, por estado brasileiro, apresenta-se da
seguinte forma:
REGISTRO DE QUEDAS E ACHADOS POR ESTADO
16
14
12
10
8
6
4
2
0
QUEDAS
ACHADOS
MAPA DE DISTRIBUIÇÃO
Os 69 (sessenta e nove) meteoritos brasileiros catalogados estão representados no mapa
abaixo pelos pontos em vermelho. As estrelas indicam as crateras meteoríticas no Brasil.
29
4.1- Brasil desconhece seus meteoritos
O Brasil possui uma área territorial de 8.516.000 Km², no entanto apenas 69 meteoritos já
foram encontrados e catalogados oficialmente, sendo que em alguns países com área territorial
semelhante já foram catalogados 25 vezes mais meteoritos do que no Brasil.
Os meteoritos caem aleatoriamente na Terra, distribuindo-se equitativamente pela
superfície. Por isso, devem existir muitos meteoritos espalhados pelo país. No entanto, alguns
fatores contribuem para o pequeno número de meteoritos descobertos no Brasil.
Primeiramente, ainda existe uma grande carência de informação nessa área, grande parte das
pessoas desconhece o valor científico e a importância dos meteoritos, bem como identifica-los. Nos
últimos anos, projetos e campanhas de divulgação da meteorítica no país, como o projeto
“Meteoritos Brasileiros” do Museu Nacional, estão contribuindo para a disseminação da informação
sobre os meteoritos no Brasil e vem alcançando resultados. Outro fator que dificulta a descoberta
de meteoritos no país é o clima e as condições naturais. O clima quente e úmido contribui para o
rápido intemperismo (conjunto de processos que ocasionam a desintegração e a decomposição
das rochas) dos meteoritos, fazendo com que eles sejam confundidos com as demais rochas
terrestres.
Vale ressaltar ainda, que cerca de 60% do território brasileiro é coberto por florestas, que
acabam dificultando a busca e coleta dos meteoritos; isso pode ser exemplificado com o mapa da
página anterior, note que a região norte do país, onde existem densas florestas, como a
Amazônica, possui apenas um meteorito catalogado. Já em outras regiões, o número de meteoritos
mostra-se bem mais elevado.
Além disso, o Brasil não conta com uma legislação que regule a propriedade dos meteoritos. Isso
contribui para que muitos meteoritos brasileiros acabem sendo vendidos para o exterior, sem
serem estudados e catalogados por uma instituição.
O quadro abaixo apresenta informações sobre o número de meteoritos catalogados em
outros países, com área territorial semelhante ou inferior (no caso da Índia e Chile) à do Brasil.
Apenas para fins de comparação, a área territorial (Km²) foi dividida pelo número de meteoritos
catalogados, tendo como resultado um número Y de Km² para cada 1 meteorito, denominado
“Índice de meteoritos” (apenas para fins de comparação).
METEORITOS PELO MUNDO
ÁREA
TERRITORIAL
METEORITOS
CATALOGADOS
“ÍNDICE DE
METEORITOS”
Brasil
8.515.767 Km²
69
Estados Unidos
9.371.174 Km²
1.754
Austrália
7.692.024 Km²
677
Índia
3.287.590 Km²
137
Chile
756.945 Km²
715
1 meteorito para cada
~123.416 Km².
1 meteorito para cada
~5.342 Km².
1 meteorito para cada
~11.361 Km².
1 meteorito para cada
~23.997 Km².
1 meteorito para cada
~1.058 Km².
PAÍS
30
5- OS METEORITOS BRASILEIROS
Apesar dos poucos meteoritos descobertos e catalogados, o Brasil possui exemplares muito
importantes, e alguns deles figuram entre os mais raros do mundo.
5.1- Meteorito Bendegó
O meteorito Bendegó é um dos meteoritos brasileiros mais conhecidos, sendo o maior da
coleção brasileira, com 5.360 quilos. Descoberto em 1784, época em que ainda se discutia a
origem extraterrestre dos meteoritos, foi por muito tempo o maior meteorito em exposição no
mundo, depois de providenciado o seu transporte para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, após
um século de sua descoberta. A notícia do achado de Bendegó chegou em diversos países, e
viajantes famosos, como os naturalistas alemães Johann Spix e Carl Martius, visitaram o meteorito,
que foi um dos primeiros no mundo a ter a origem extraterrestre reconhecida.
A história do meteorito Bendegó, desde sua descoberta até sua chegada no Museu
Nacional, é bem interessante:
O meteorito foi descoberto por um garoto, Domingos da Motta Botelho, em 1784, enquanto
campeava gado. O garoto percebeu que a pedra, grande e estranha, era diferente das demais
rochas que havia na região. Depois de contar a descoberta para o seu pai, este um súdito ao
governo, comunicou às autoridades que havia na região de Monte Santo uma “grande pedra”, na
qual achava que podia conter elementos como prata e ouro. D.Rodrigo, governador na época,
impressionado com a descoberta, pediu em 1785, um ano depois do achado, o transporte da rocha
para a capital Salvador.
Bernardo Carvalho da Cunha foi o encarregado para realizar o transporte. Ele, em conjunto
com 30 homens, após escavar ao redor do meteorito, conseguiu colocá-lo em uma carreta que
havia sido construída exclusivamente para realizar o translado. A carreta era puxada por doze
juntas de bois, que caminhavam vagarosamente por uma estrada que foi pavimentada até o Riacho
Bendegó.
Iniciado o transporte, tudo ocorria como planejado. Porém, ao se deparar com a descida do
leito do riacho Bendegó, a carreta ganhou velocidade, pois não tinha freios, e correu o morro
abaixo desenfreadamente, indo parar dentro do leito do riacho junto com o meteorito. Com o
fracasso, abandonaram a missão.
Comunicado sobre a falha no transporte, D. Rodrigo enviou amostras do meteorito para
Portugal. O fracasso arruinou o transporte do meteorito, mas foi ele que também permitiu que o
Bendegó permanecesse no Brasil, pois talvez, este poderia ter sido levado para Portugal, ou até
mesmo destruído em busca de metais preciosos.
A notícia obviamente chegou a várias partes do mundo. Atraiu visitantes como A. F. Mornay
em 1810, que suspeitou que a rocha poderia se tratar de um meteorito e foi até Monte Santo, onde
encontrou o meteorito no mesmo lugar em que haviam deixado, e confirmou então a sua suspeita.
Mornay recolheu algumas amostras, que foram enviadas a Wollaston, da Real Sociedade de
Londres. Outros visitantes foram Spix e Martius, em 1820, estes recolheram cerca de 10 quilos dos
fragmentos e espalharam por diversos museus ao redor do mundo.
O meteorito que havia então caído no riacho, na tentativa de locomoção para Salvador,
permaneceu lá por 102 anos, quando Dom Pedro II tomou conhecimento de que aquela pedra era
um meteorito, e providenciou o seu transporte para o Rio de Janeiro.
A remoção para o Rio teve apoio da Sociedade Brasileira de Geografia, e uma comissão foi
criada para recuperar e dar início ao transporte do Bendegó. A comissão era formada pelo oficial
31
aposentado da Guerra do Paraguai, Sr. José Carlos de Carvalho, e por dois engenheiros. A
remoção do meteorito iniciou-se em 7 de setembro de 1887.
A comissão estudou e analisou o melhor trajeto para o transporte do meteorito até a estação
férrea de Jacuricy. Embora o caminho escolhido fosse o mais curto, foi necessário reestruturar as
estradas, que estavam em péssimas condições. Um relatório do transporte de Bendegó,
juntamente com detalhes sobre a geografia local e as dificuldades enfrentadas, foi escrito pelo
capitão Carvalho, em duas versões, inglês e português.
Carvalho projetou uma carreta que se locomovia conforme as condições da estrada, com
rodas de madeira para andar no solo e rodas metálicas para andar em trilhos. O transporte
começou em 25 de novembro e até o dia 7 de dezembro havia andado apenas 17 quilômetros. O
Rio Tocas foi o primeiro desafio a ser enfrentado na viagem. Com dois dias de chuva, o leito do rio
encheu, atrapalhando o transporte e tornando o caminho escorregadio, o que ocasionou a queda
do Bendegó em um rio, devido o descarrilamento da carreta. Trabalharam um dia sem parar para
continuar a viagem.
Porém, depois de superar esta dificuldade novos desafios apareceram, como grandes
subidas inclinadas. Consta no relatório, que uma árvore, após ceder-se, fez com que rebentassem
os cabos que ajudavam a subir uma árdua ladeira, fazendo com que o meteorito caísse
novamente, mas agora, este descera até o meio da ladeira, segurando o carretão. Se o meteorito
não tivesse segurado o carretão, este iria cair em uma grota profunda.
Não pense que após esse processo todo o Bendegó chegou rapidamente no Rio de
Janeiro, caiu mais sete vezes, interrompendo a viagem. Além disso, a viagem precisou parar por
mais quatro vezes para substituir eixos que se romperam. Avançavam cerca de 900 metros por dia,
para percorrer um trajeto de 113 Km, do ponto em que caiu pela primeira vez, no Riacho Bendegó,
até a estação de Jacuricy.
Depois de 116 dias, em 14 de maio de 1888 o meteorito chegou até a estação. Dois dias
depois assentou-se o marco de chegada, denominado “Barão de Guahy”. Em seguida, o meteorito
foi de trem até Salvador, onde chegou no dia 22 de maio. Lá foi pesado e constatou-se que tinha
então 5,36 toneladas, ficou em exposição em Salvador por alguns dias, sendo que no dia 1 de
junho embarcou para Recife e em seguida para o destino final. Chegou ao Rio de Janeiro apenas
no dia 15 de junho e foi recebido pela Princesa Isabel e entregue ao Arsenal de Marinha da Corte.
Nas oficinas do arsenal fizeram cortes para o estudo do Bendegó, que foi transportado para o
Museu Nacional em 27 de novembro de 1888, onde se encontra até os dias de hoje.
5.2- Meteorito Angra dos Reis
O meteorito caiu em janeiro de 1869, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, em frente à Igreja
do Bonfim, na Praia Grande. A queda foi testemunhada por Joaquim Carlos Travassos e dois de
seus escravos, que recuperaram dois fragmentos a cerca de 2 metros de profundidade. Um dos
fragmentos ficou com o sogro de Travassos, que passou para as próximas gerações da família, e
foi perdido, o outro foi doado para o Museu Nacional. Este chegou a ser furtado em 1997 por dois
norte-americanos, Ronald Edward Farrelle e Frederick Marselli. Eles foram até o Museu Nacional
com sua coleção de meteoritos para supostamente realizar uma troca de espécimes, o que é
comum. Enquanto observavam os meteoritos brasileiros, furtaram o meteorito Angra dos Reis e
colocaram uma réplica em seu lugar.
O meteorito foi recuperado pela astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, curadora de
meteoritos no Museu Nacional, que percebeu que o Angra dos Reis legítimo havia sido trocado por
uma réplica. Ronald Edward Farrelle e Frederick Marselli, já estavam no aeroporto, prontos para
embarcar, quando a astrônoma impediu que eles deixassem o país levando o meteorito.
32
Com muita dificuldade ela convenceu os policiais federais a procurarem por eles, e depois
de um bom tempo o meteorito foi encontrado em uma caixa, dentro de uma meia, em um sapato na
mala, com a numeração, que o identifica, raspada.
A tentativa de furto não foi por um motivo qualquer. O meteorito Angra dos Reis figura entre
os mais raros do mundo, e é muito valioso. Ele deu origem à classe dos meteoritos Angritos, e por
mais de cem anos permaneceu como o único meteorito deste tipo. Atualmente já existem 23
meteoritos angritos catalogados em todo o mundo, mas o Angra dos Reis se difere de todos eles,
provavelmente porque é originado de um corpo parental diferente dos demais. Estudos revelam
que o meteorito possui 4,56 bilhões de anos, logo tem um grande valor científico.
O fragmento doado ao Museu Nacional tinha cerca de 446 gramas, mas hoje restam apenas
61 gramas deste meteorito, devido à utilização para pesquisas e doações. Por conta do encaixe
dos dois fragmentos encontrados na época, especula-se que exista um terceiro fragmento do
meteorito na baía.
5.3- Meteorito Ibitira
O meteorito teve sua queda presenciada no dia 30 de junho de 1957, por volta das 17h, na
Fazenda Monjolo, em Martinho Campos, próximo de Ibitira, Minas Gerais. Este meteorito possui
uma interessante história pois foi recuperado graças a um programa de busca.
Enquanto o astrônomo amador Sr. Salles Lemos dirigia-se para Belo Horizonte, avistou a
passagem de um bólido seguindo para oeste. O bólido era avermelhando, tornando-se prateado;
ouviu-se então um barulho semelhante a trovão e uma longa trilha de fumaça foi deixada no céu
durante e após a sua passagem.
Salles, sócio do Clube de Estudos Astronômicos César Lattes, hoje o CEAMIG, avisou o
clube, que tomou diversas providências, como o envio de cartas circulares a todas as prefeituras
municipais que estavam em um raio de 100 Km de Belo Horizonte e pedindo pelos jornais
informações às pessoas que presenciaram o evento.
Foram recebidas mais de trinta cartas com informações sobre o evento, o que foi crucial para
determinar a trajetória real do bólido. Foram selecionadas 19 cartas para a realização de uma
entrevista com o auxílio de instrumentos como mapas e bússolas, tendo todas as informações
registradas. Depois de analisada as informações, as pesquisas foram direcionadas para a região
de Martinho Campos, onde se presumia ter caído o meteorito.
Determinou-se posteriormente que o local da queda era Ibitira, onde observadores locais
relataram ter observado a explosão do bólido e a queda de fragmentos. Uma busca, sem sucesso,
foi feita no campo com o intuito de encontrar os fragmentos do meteorito. Em 3 de agosto, em uma
segunda tentativa, descobriram que um agricultor tinha achado um fragmento, que foi entregue a
um farmacêutico local.
O meteorito de 2,5 Kg foi recuperado em um buraco de 20 cm de diâmetro e 25 cm de
profundidade. O meteorito que tinha uma crosta de fusão preta brilhante, típica de acondritos,
apresentava vesículas no seu interior, o que o diferenciava de qualquer outro meteorito. Uma
análise realizada pelo Instituto Tecnológico de Belo Horizonte não o classificou como meteorito. A
publicação e reconhecimento foi dada em dezembro de 1957, no Meteoritical Bulletin de número 6.
O Ibitira é um meteorito muito raro, apresentando muito valor para os estudos científicos e para
colecionadores, por conta de suas diversas particularidades.
33
5.4- Meteorito Governador Valadares
Não se sabe muito sobre o achado desse meteorito. Sabe-se que foi encontrado por um
garimpeiro, por volta de 1958, próximo de Governador Valadares, Minas Gerais. Consta apenas um
fragmento de 158 gramas, bem preservado, mostrando praticamente nenhum sinal de que tenha
ficado exposto ao tempo, o que sugere que foi encontrado não muito tempo depois de sua queda.
Possui crosta de fusão preta brilhante e vítrea, que cobre quase toda a sua superfície.
O meteorito Governador Valadares é o único meteorito marciano encontrado no Brasil e é
classificado como Nakhlito.
5.5- Meteorito Santa Catharina
O meteorito Santa Catharina teria sido encontrado em 1875, na ilha de São Francisco do
Sul. É considerado o meteorito com maior teor de níquel do mundo, com 66,5%. A princípio
pensaram que se tratava de uma mina de níquel, e cerca de 25 toneladas foram exportadas para a
Inglaterra, restando pouquíssimo material. O trecho abaixo, escrito por Orville Derby, diz respeito
ao meteorito Santa Catharina:
"Atribui-se a sua descoberta ao Sr. Manuel Gonçalves da Rosa, no ano de 1875, mas
parece incrível que estando apenas 3 a 4 quilômetros distante de um centro populoso não fôsse
conhecido antes pelo povo do lugar. O certo é que o Sr. Rosa, julgando ter uma mina de ferro, tirou
concessão e por seu intermédio vieram amostras para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde
foram analisadas pelos Profs. Guignet e Osório de Almeida, que publicaram nos "Comptes Rendus"
de 1876 uma notícia acompanhada por uma nota do Prof. Damour. No entanto, continuava a
exploração do suposto depósito até esgotar o local, sendo, conforme me informou o próprio Sr.
Rosa, o metal exportado para a Inglaterra onde foi fundido para extração do níquel. O mesmo
senhor informa que o livro da Mesa de Rendas de São Francisco do Sul acusou a saída de 25 000
quilogramas. Era, portanto, a maior massa de ferro nativo cujo pêso tem sido verificado, pôsto que
não era reunido em uma só massa. O maior bloco encontrado foi do pêso de cêrca de 2 250
quilogramas. Vários outros de menores dimensões, completaram o pêso total exportado do lugar.
Infelizmente, êstes blocos foram reduzidos a fragmentos para facilitar o transporte e a maior parte
foi fundida para extração do níquel antes de ser reconhecido o grande interêsse científico que se
liga a êste ferro. Entretanto, acham-se conservadas amostras em quase tôdas as principais
coleções de meteoritos".
5.6- Meteorito Vicência
O meteorito Vicência é um dos meteoritos mais novos da coleção brasileira e possui uma
interessante história.
A queda do meteorito aconteceu no dia 21 de setembro de 2013, e foi presenciada pelo Sr.
Adeilson, enquanto trabalhava em frente da sua marcenaria, em Borracha, distrito do município de
Vicência, que fica a cerca de 120 Km de Recife, capital de Pernambuco.
Por volta das 15h, Sr. Adeilson abaixou-se para pegar algo no chão, quando de repente
escutou um barulho muito alto de alguma coisa que tinha acabado de cair bem próximo dele.
Apesar de não saber ao certo o que tinha acontecido, ele logo notou uma pedra escura a menos de
1 metro dele. Um lado da “pedra” ainda estava quente, e o outro já frio.
Muitos vizinhos que estavam em frente de suas casas presenciaram a queda do meteorito.
Diferentemente do que muitos pensam, eles ouviram apenas o barulho do impacto do meteorito no
solo, não avistando nenhuma bola de fogo no céu, o que é comum quando um observador está
próximo do local da queda de um meteorito. Um ou dois vizinhos estavam no local exato da queda
alguns minutos antes.
34
André Moutinho, grande colecionador de meteoritos, e a astrônoma Maria Elizabeth
Zucolotto, curadora de meteoritos no Museu Nacional, tomaram conhecimento sobre a queda do
meteorito e foram até Borracha. Chegando lá, no dia 28, encontraram o Sr. Adeilson, que já estava
famoso na vila pelas diversas entrevistas concedidas para portais de notícias, canais de TV e
rádios locais. Felizmente, o meteorito ainda estava em suas mãos, apesar das várias ofertas de
compra que foram negadas por ele, como a de um morador local que ofereceu uma moto em troca
do meteorito.
Eles procuraram por outros fragmentos do meteorito, apesar da grande dificuldade, já que
as montanhas eram cobertas por plantações de cana de açúcar, ensinaram ainda os moradores
locais a identificarem meteoritos, oferecendo uma recompensa para os que encontrassem.
Tentaram também descobrir a direção do bólido, para traçar o campo de dispersão. Para isso,
tentaram entrevistar moradores que estavam afastados da zona de impacto, no entanto, ninguém
diz ter visto o bólido ou algum sinal de fumaça no céu no dia 21 de setembro. Apenas tiveram
algumas pistas de que um ruído teria sido ouvido em uma cidade próxima.
No dia seguinte, conversaram com o prefeito de Vicência, Maria Elizabeth disse que
forneceria uma réplica do meteorito para cidade e voltaria para organizar uma exposição de
meteoritos, se pudessem comprar o meteorito do Sr. Adeilson. Em seguida, voltaram para a casa
do Sr. Adeilson, que aceitou vender o meteorito.
O meteorito Vicência possui 1540 gramas, é um condrito ordinário do tipo LL3.2, o que o
torna um meteorito raro, já que existem apenas mais três quedas na história de meteoritos deste
tipo de condrito primitivo.
Já foram feitas trocas deste meteorito com diversas instituições do mundo, entre elas:
Universidade do Novo México, Universidade do Arizona, Museu Nacional- UFRJ, Universidade da
Califórnia e Smithsonian Institution. O meteorito também foi destaque no artigo publicado pelo
Meteoritics and Planetary Science, em junho de 2015: “The Vicência meteorite fall: A new
unshocked (S1) weakly metamorphosed (3.2) LL chondrite”.
5.7- Outros meteoritos importantes
O Brasil possui ainda outros meteoritos importantes, o Serra de Magé, que teve queda
presenciada em 1983 e possui 1800 gramas, é um meteorito acondrito do tipo eucrito e possui
crosta de fusão verde. O São João Nepomuceno é o segundo meteorito siderito rico em sílica, só
existem dois meteoritos no mundo, incluindo ele, que fazem parte dos meteoritos siderofilos, classe
que alguns pesquisadores classificam os meteoritos que apresentam uma matriz de ferro-níquel
com minerais de bronzita e tridimita. O meteorito tem massa de 15,3 Kg e foi encontrado em 1960.
5.8- Quadro de informações gerais
A lista a seguir apresenta o nome, ano (da queda ou achado), localidade, tipo e massa dos
69 meteoritos brasileiros catalogados oficialmente.
Informações sobre a lista:
-Os nomes destacados em cinza, são daqueles meteoritos que tiveram queda observada.
-Na coluna do tipo do meteorito, se estiver destacado de amarelo, quer dizer que o meteorito é
acondrito; de laranja, condrito; de azul, siderito e de verde, siderólito.
-Os pontos “?” indicam que não há informação.
35
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
NOME
Angra dos Reis
Avanhandava
Balsas
Barbacena
Bendegó
Blumenau
Bocaiuva
Cacilandia
Campinorte
Campos Sales
Casimiro de Abreu
Conquista
Cratheús (1931)
Cratheús (1950)
Cruz Alta
Faina
Governador Valadares
Ibitira
Iguaraçu
Indianópolis
Ipiranga
Ipitinga
Itapicuru-Mirim
Itapuranga
Itutinga
Lavras do Sul
Macau
Mafra
Maria da Fé
Marília
Minas Gerais
Minas Gerais (B)
Morro do Rocio
Nova Petrópolis
Palmas de Monte Alto
Pará de Minas
Paracutu
Parambu
Paranaíba
Patos de Minas (hexaedrito)
Patos de Minas (octaedrito)
Patrimônio
Piedade do Bagre
Pirapora
ANO
LOCAL
TIPO
MASSA
1869
1952
1974
1918
1784
1986
1965
?
1992
1991
1947
1965
1914
1909
2008
2011
1958
1957
1977
1989
1972
1989
1879
?
1960
1985
1836
1941
1987
1971
1888
2001
1928
1967
1954
1934
1980
1967
1956
1925
1925
1950
1922
1888
Rio de Janeiro
São Paulo
Maranhão
Minas Gerais
Bahia
Santa Catarina
Minas Gerais
Brasil
Goiás
Ceará
Rio de Janeiro
Minas Gerais
Ceará
Ceará
Rio Grande do Sul
Goiás
Minas Gerais
Minas Gerais
Paraná
Minas Gerais
Paraná
Pará
Maranhão
Goiás
Minas Gerais
Rio Grande do Sul
Rio Grande do Norte
Santa Catarina
Minas Gerais
São Paulo
Minas Gerais
Minas Gerais
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Bahia
Minas Gerais
Brasil
Ceará
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Minas Gerais
Minas Gerais
Minas Gerais
Minas Gerais
Angrito
H4
IIIAB
Não agrupado
IC
IVA
Não agrupado
H6
Não agrupado
L5
IIIAB
H4
IVA
IIC
IIAB
IAB complexo
Nakhlito
Eucrito
H5
IIAB
H6
H5
H5
IAB-MG
IIIAB
L5
H5
L3-4
IVA
H4
L6
H4
H5
IIIAB
IIIAB
IVA
IAB Complexo
LL5
L6
IIAB
IAB Complexo
L6
Não agrupado
IIAB
1500 G
9.33 KG
41 KG
9.03 KG
5.36 T
?
64 KG
?
2T
23.68 KG
25 KG
20.35 KG
27.5 KG
367 G
48 KG
440 G
158 G
2.5 KG
1200 G
14.85 KG
7 KG
7 KG
2.02 KG
628 KG
3.2 KG
1000 G
1500 G
600 G
18 KG
2.5 KG
1224 G
42.6 G
369 G
305 KG
97 KG
116.3 KG
?
2 KG
100 KG
32 KG
200 KG
2.12 KG
59 KG
6.18 KG
36
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
Pontes e Lacerda
Porangaba
Porto Alegre
Putinga
Quijingue
Rio do Pires
Rio Negro
Sanclerlandia
Santa Bárbara
Santa Catharina
Santa Luzia
Santa Vitória do Palmar
Santo Antônio do Descoberto
São João Nepomuceno
São José do Rio Preto
Sapopema
Serra de Magé
Sete Lagoas
Soledade
Uberaba
Uruaçu
Varre-Sai
Veríssimo
Vicência
Vitória da Conquista
2013
2015
2005
1937
1984
1991
1934
1971
1873
1875
1921
2003
2011
1960
1962
2010
1923
1908
1986
1903
1992
2010
1965
2013
2007
Mato Grosso
São Paulo
Rio Grande do Sul
Rio Grande do Sul
Bahia
Bahia
Paraná
Goiás
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Goiás
Rio Grande do Sul
Goiás
Minas Gerais
São Paulo
Paraná
Pernambuco
Minas Gerais
Rio Grande do Sul
Minas Gerais
Goiás
Rio de Janeiro
Minas Gerais
Pernambuco
Bahia
IIIAB
L4
IIIE
L6
Palasito
L6
L4
IIIAB
L4
IAB Complexo
IIAB
L3
IIAB
IVA-an
H4
IVA
Eucrito
H4
IAB-MG
H5
IAB-MG
L5
IIIAB
LL3.2
IVA
224 G
976 G
200 KG
300 KG
59 KG
118 G
1310 G
279 KG
400 G
7T
1.92 T
50.4 KG
52.15 KG
15.3 KG
927 G
12 KG
1800 G
350 G
68 KG
40 KG
72.5 KG
2.5 KG
14 KG
1540 G
10.5 KG
37
6- CRATERAS METEORÍTICAS
As crateras meteoríticas, ou crateras de impacto, são formadas quando um planeta ou
satélite é atingido por grandes asteroides. Apenas meteoroides de até 10 toneladas são freados
pela atmosfera terrestre; os asteroides maiores do que isto manterão parte da sua velocidade
cósmica. Os corpos acima de 100 toneladas, por exemplo, mantêm 50% da sua velocidade
cósmica.
Observando a Lua com um telescópio ou binóculo é possível observar inúmeras crateras na
superfície (a “face oculta” da Lua possui ainda mais crateras!), que são resultado do intenso
bombardeio de meteoritos que o nosso satélite sofreu há bilhões de anos atrás. Mas crateras
meteoríticas não ocorrem apenas na Lua, as sondas espaciais já mostraram que todos os planetas
rochosos e satélites do Sistema Solar apresentam sinais de impacto de grandes asteroides.
Atualmente, são conhecidas cerca de 200 crateras meteoríticas espalhadas pelo mundo. No
entanto, a Terra, assim como a Lua, provavelmente sofreu no passado um grande bombardeio de
meteoritos, mas as crateras desapareceram devido ao processo de erosão, vulcanismo e tectônica
de placas.
A descoberta da primeira cratera meteorítica na Terra aconteceu por volta de 1870, no
Arizona, hoje conhecida como Cratera do Meteoro ou Cratera de Barringer. A princípio, acreditavase que a cratera era na verdade um vulcão extinto. Porém, existiam pedaços metálicos ao seu
redor, que posteriormente foram identificados como meteoritos por um comerciante de minerais,
que publicou um artigo descrevendo detalhadamente a cratera. Na década de 1920, Barringer
supôs que existia um grande meteorito enterrado no fundo da cratera. Ele investiu muito dinheiro
em busca do meteorito, mas não encontrou nada.
Em geral, meteoritos com velocidade final de até 4 Km/s atingem o solo e produzem uma
cratera com diâmetro superior ao do meteorito; fragmentos do meteorito e do solo serão lançados
para todas as direções. Caso o meteorito tenha uma velocidade final superior a 4 Km/s, o que é
possível apenas se ele tiver mais de 10 toneladas, nenhum fragmento do meteorito é encontrado
no interior, por conta da explosão provocada. No entanto, vale ressaltar que o impacto causado por
um meteorito quando atinge o solo dependerá de diversos fatores, como a velocidade, massa, tipo
de solo em que ocorrerá a queda, resistência, etc.
Cratera do Meteoro, ou Cratera de Barringer. Crédito: NASA.
38
O mapa a seguir traz as crateras meteoríticas descobertas em todo o mundo, as quais estão
representadas pelos pontos vermelhos:
Crédito: http://www.passc.net/EarthImpactDatabase/Worldmap.html
Entre as maiores crateras meteoríticas do mundo, podemos destacar:
NOME
Vredefort
Chicxulub
Sudbury
Popigai
Acraman
Manicouagan
Morokweng
Kara
Beaverhead
Tookoonooka
Charlevoix
Siljan
Kara-Kul
Montagnais
Chesapeake Bay
Mjolnir
LOCALIDADE
África do Sul
Yucatán, México
Ontário, Canadá
Rússia
Sul da Austrália
Quebec, Canadá
África do Sul
Rússia
Estados Unidos
Austrália
Canadá
Suécia
Tajiquistão
Canadá
Estados Unidos
Mar de Barents
DIÂMETRO
IDADE (Ma)
160 Km
150 Km
130 Km
90 Km
90 Km
85 Km
70 Km
65 Km
60 Km
55 Km
54 Km
52 Km
52 Km
45 Km
40 Km
40 Km
2023 ± 4
64.98 ± 0.05
1850 ± 3
35.7 ± 0.2
~590
214 ± 1
145 ± 0.8
70.3 ± 2.2
~600
128 ± 5
342 ± 15
376.8 ± 1.7
<5
50.50 ± 0.76
35.3 ± 0.1
142 ± 2.6
39
6.1- Crateras meteoríticas no Brasil
No Brasil já foram identificadas e comprovadas 6 crateras meteoríticas, as quais estão
listadas na tabela abaixo:
NOME
Araguainha
Colônia
Riachão Ring
Serra da Cangalha
Vargeão Dome
Vista Alegre
IDADE
LOCAL
DIMENSÃO
254.7 +/- 2.5 Milhões de anos
5-36 Milhões de anos
< 200 Milhões de anos
< 300 Milhões de anos
< 70 Milhões de anos
< 65 Milhões de anos
Mato Grosso
São Paulo
Maranhão
Tocantins
Santa Catarina
Paraná
40 Km
3.6 Km
4.5 Km
12 Km
12 Km
9.5 Km
As estrelas (em amarelo) no mapa abaixo representam as crateras meteoríticas brasileiras:
Existem ainda algumas estruturas que não foram reconhecidas como crateras meteoríticas,
algumas delas estão listadas abaixo:
NOME
São Miguel do Tapuio
Piratininga
Inajah
Ubatuba
Santa Maria
IDADE
Pré-abertura do Atlântico
117 +/- 17
(?)
Pleistoceno
(?)
LOCAL
Piauí
São Paulo
Pará
São Paulo
Piauí
DIMENSÃO
~20 Km
12 Km
6 Km
1 Km
10 Km
40
7- ASTEROIDES
Asteroides são corpos metálicos e rochosos que orbitam o Sol, não possuem atmosfera e
são muito pequenos para serem considerados planetas. São conhecidos como “planetas
secundários”, e dezenas de milhares deles estão localizados no Cinturão de Asteroides, entre as
órbitas de Marte e Júpiter.
Acredita-se que os asteroides sejam materiais primordiais que foram impedidos pela forte
gravidade de Júpiter de se agregarem para a formação de um planeta, quando o Sistema Solar
estava em formação, há 4,6 bilhões de anos. Estima-se que se todos os asteroides fossem
comprimidos em uma única massa, seria formado um corpo de aproximadamente 1.500
quilômetros de diâmetro, o que é menor do que a Lua.
O tamanho dos asteroides conhecidos varia de 1 metro a 1.000 quilômetros, como por
exemplo Ceres, que possui cerca de 950 quilômetros de diâmetro. Aproximadamente 16 asteroides
conhecidos possuem diâmetro igual ou superior a 240 quilômetros. Geralmente apresentam
formato irregular, embora alguns sejam quase esféricos.
A maior parte dos asteroides do Cinturão Principal possuem órbita elíptica e estável,
levando de três a seis anos para completar uma volta em torno do Sol; realizam também
movimento de rotação, muitas vezes bastante irregular. Mais de 150 asteroides são conhecidos por
terem uma pequena lua, sendo que alguns apresentam duas luas. Existem ainda asteroides
binários, ou seja, quando dois asteroides de tamanhos similares orbitam um ao outro.
São divididos em três classes de composição: C, S e M. Eles são classificados de acordo
com a refletividade, brilho intrínseco e composição. O tipo C, condrito, é o mais comum,
representando mais de 75% dos asteroides. Possuem aparência escura e composição semelhante
à do Sol, porém são pobres em hidrogênio, hélio e outros elementos voláteis. Os asteroides do tipo
C orbitam regiões externas do cinturão principal e estão entre os objetos mais antigos do Sistema
Solar. Os do tipo S apresentam composição mista, ferro e silicatos, são relativamente brilhantes e
dominam o interior do cinturão principal. Por fim, os asteroides do tipo M, apresentam composição
metálica e são relativamente brilhantes, habitam a região média do cinturão principal.
Asteroide 243 Ida e sua lua, fotografados pela sonda Galileo. Crédito de imagem: NASA/JPL.
41
Os asteroides que possuem órbita que passa próxima da Terra são denominados NEOs
(Near Earth Objects, do inglês) ou NEAs (Near Earth Asteroids, do inglês). Mais de 10.000
asteroides “NEOs” já foram identificados, cerca de 860 deles possuem mais de 1 Km de diâmetro,
e mais de 1.400 são classificados como potencialmente perigosos, ou seja, aqueles que podem
apresentar alguma ameaça para a Terra.
O gráfico ao lado
apresenta o número de
asteroides próximos da
Terra descobertos ao
longo dos anos, de 1980
até junho de 2015.
Em azul estão
representados todos os
asteroides descobertos
próximos da Terra, e em
vermelho, os grandes
asteroides com órbita
próxima da Terra que
foram descobertos
durante este período.
Crédito: JPL / NASA.
Ao lado, o número total
de descobertas de
asteroides próximos da
Terra por tamanho.
Crédito: JPL / NASA.
Em 1999, em uma reunião em Turim, na Itália, sobre asteroides próximos da Terra, introduziu-se a
Escala de Torino. A escala vai de 0 a 10 e é utilizada para quantificar o risco de um impacto de um
determinado NEO.
42
SEM PERIGO (ZONA BRANCA)
NORMAL (ZONA VERDE)
MERECE ATENÇÃO DOS
ASTRÔNOMOS
(ZONA AMARELA)
0- A probabilidade de colisão é zero, ou muito próxima de
zero. Se aplica também a pequenos objetos, como
meteoros, que se queimam na atmosfera terrestre.
1- A chance de colisão é improvável e não merece a atenção
e preocupação pública. Novos estudos e observações
geralmente costumam fazer o objeto cair para nível 0.
2- Merece a atenção dos astrônomos, mas não há motivo
para preocupação ou interesse público, a colisão é muito
improvável.
3- Chance de 1% ou mais de colisão, com capacidade de
destruição local. Requer atenção e interesse público se o
impacto ocorrer em menos de uma década. No entanto,
novos estudos podem fazer o objeto cair para nível 0.
4-Chance de 1% ou mais de colisão, com capacidade de
devastação regional. Requer atenção e interesse público se
o impacto ocorrer em menos de uma década. No entanto,
novos estudos podem fazer o objeto cair para nível 0.
5- O impacto representa uma séria ameaça, podendo causar
devastação regional. Atenção crítica por astrônomos, para
determinar conclusivamente se a colisão irá acontecer. Pode
ser concedido planejamento de contingência pelo governo,
caso o impacto ocorra em menos de uma década.
AMEAÇADOR
(ZONA LARANJA)
6- Representa ameaça grave, mas ainda incerto de causar
uma catástrofe global. Atenção crítica por astrônomos, para
determinar conclusivamente se a colisão irá acontecer. Pode
ser concedido planejamento de contingência pelo governo,
caso o impacto ocorra em menos de uma década.
7- Ameaça sem precedentes, mas ainda incerto de
catástrofe global. Para tal ameaça, requer planejamento de
contingência internacional.
43
8- Colisão certa, capaz de destruição localizada se ocorrer
em terra e possivelmente um tsunami se ocorrer no oceano.
Tais eventos podem ocorrer, em média, entre 1.000 anos.
COLISÃO CERTA
(ZONA VERMELHA)
9- Colisão certa, capaz de devastação regional sem
precedentes para um impacto em terra. Um grande tsunami
pode ser provocado caso o impacto seja no oceano. Tais
eventos ocorrem, em média, entre 10.000 a 100.000 anos.
10- Colisão certa, capaz de causar uma catástrofe climática
global, que pode ameaçar o futuro da civilização.
7.1- O evento de Chelyabinsk
No dia 15 de fevereiro de 2013, por volta das 9h20 (horário local), um grande meteoroide
adentrou na atmosfera terrestre sobre a Rússia, formando um imenso bólido brilhante que cruzou o
sul dos montes Urais, explodindo sobre a cidade de Chelyabinsk. A queda do meteorito deixou um
imenso rastro de fumaça que podia ser visto a quilômetros da cidade.
A onda de choque provocada pela explosão quebrou centenas de janelas, mais de 1.200
pessoas ficaram feridas, alarmes de carros dispararam, e telefones celulares tiveram o
funcionamento afetado. Pelo menos 6 cidades da região foram afetadas.
Ao entrar na atmosfera terrestre, o meteoroide tinha aproximadamente 10.000 toneladas e
17 metros de diâmetro, liberando 500 quilotons de energia, o que equivale a mais de 30 vezes a
bomba de Hiroshima. A explosão foi detectada por sensores de infrassom em outros continentes e
o bólido foi brilhante o suficiente para projetar sombras.
Cerca de 100 Kg em fragmentos pesando menos de 1 g a 1,8 quilos foram encontrados. E
em agosto do mesmo ano, mergulhadores encontraram a massa principal do meteorito no lago
Chebarkul. O fragmento pesa 570 Kg e possui cerca de 1,5 metro de comprimento.
No mesmo dia do evento, o asteroide 2012 DA14 passava bem próximo da Terra, no
entanto a possibilidade de os dois eventos estarem relacionados foi descartada pelos cientistas.
Alguns meses depois, pesquisadores da Universidade Complutense de Madrid, Carlos e Raul de la
Fuente Marcos, por meio de simulações e estatísticas, concluíram que o meteorito que caiu em
Chelyabinsk pode ser originário do asteroide 2011 E040.
Na imagem ao lado, massa
principal do meteorito
Chelyabinsk, que tem massa de
570 Kg e está exposto no
Chelyabinsk State Museum of
Local History.
Crédito de imagem: Andrey
Yarantsev, Science/AAAS.
44
8- IDENTIFICANDO METEORITOS
Para diferenciar um meteorito das demais rochas terrestres requer o conhecimento de
algumas características típicas dos meteoritos. Vale ressaltar, que não existe uma característica
específica que caracteriza claramente se uma rocha é ou não um meteorito, existem muitos
minerais e rochas terrestres que são comumente confundidos com meteoritos (meteorwrongs).
8.1- Crosta de fusão
Durante a passagem atmosférica as
camadas externas do meteorito fundem-se e
vaporizam, ao chegar na superfície é possível
notar apenas uma fina camada (em geral de 1 a 2
mm) deste material fundido, denominado crosta
de fusão.
A crosta de fusão em geral é preta, mas
pode apresentar outras colorações como cinza,
marrom e verde. Todo meteorito recém caído irá
apresentar uma crosta de fusão evidente, que
com o passar do tempo em ambiente terrestre vai
ficando mais clara e se perdendo.
Na imagem¹ acima é possível notar a crosta de fusão escura se destacando do interior mais claro
do meteorito condrito Avanhandava.
8.2- Forma indefinida
Meteoritos não possuem uma forma
definida, até mesmo porque antes de entrarem na
atmosfera terrestre sofrem grandes alterações de
formato devido as colisões cósmicas. Depois,
quando penetram na atmosfera terrestre, sofrem os
efeitos da ablação (queima) e geralmente
fragmentação. Contudo, não são fininhos e
compridos, nem redondinhos e polidos por fora, e
raramente apresentam formatos aerodinâmicos.
Na imagem² ao lado, uma massa do meteorito
Henbury que lembra um pássaro.
8.3- Densidade
Em geral, os meteoritos são um pouco ou muito mais pesados do que uma rocha terrestre
de tamanho similar, já que a grande maioria apresenta ferro e níquel, variando apenas a
quantidade em cada tipo de meteorito. Os metálicos são cerca de 3-4 vezes mais pesados do que
uma rocha terrestre de tamanho similar, pois são basicamente constituídos por ferro e níquel,
apresentando uma densidade de ~ 7 a 8 g/cm³.
¹ ² Crédito de imagens: Museu Nacional UFRJ.
45
8.4- Regmaglitos
Em geral, os meteoritos apresentam sulcos
e depressões na superfície (regmaglitos), que se
assemelham com marcas de dedos deixadas em
uma massa de modelar. Os regmaglitos são
consequência da ablação (queima) durante a
passagem atmosférica. Meteoritos que sofrem
fragmentação no final do percurso de queda
apresentam menos regmaglitos, como por exemplo
os meteoritos rochosos. Já nos meteoritos
metálicos essa característica costuma ser bem
mais evidente.
Note na imagem³ ao lado os diversos regmaglitos
na superfície do meteorito siderito Pirapora.
8.5- Magnetismo
Praticamente todos os meteoritos são atraídos por ímã, uma vez que a grande maioria deles
possui ferro em sua composição; são raras as exceções de meteoritos que não apresentam essa
propriedade. Nos meteoritos metálicos, obviamente, a atração é bem mais forte. Contudo, vale
lembrar que nem toda pedra atraída por ímã é um meteorito. Existem inúmeras rochas terrestres
que são atraídas por ímã.
8.6- Interior dos meteoritos
Na grande parte das quedas (cerca de 86%) os meteoritos apresentam o interior mais claro,
semelhante a cor de cimento, com pequenos pontos de ferrugem (amarronzados), por conta da
oxidação em ambiente terrestre das partículas de ferro.
Essas características, acima citadas, são válidas para a maioria dos meteoritos, que são os
rochosos do tipo condrito. Nos meteoritos metálicos, segundo tipo básico mais 'popular', o interior
apresenta-se completamente prateado como aço. Lembre-se ainda: o interior dos meteoritos é
compacto, ou seja, sem vesículas (buracos) como uma esponja.
8.7- Presença de ferro e níquel
Como já dito, a grande maioria dos meteoritos contém ferro e níquel. Quando lixados vão
exibir o interior com pontinhos prateados (no caso da grande parte dos meteoritos rochosos), ou
inteiramente prateado como aço (no caso dos meteoritos metálicos).
A quantidade de pontinhos prateados nos meteoritos rochosos varia de acordo com a
quantidade de ferro destes meteoritos. Nos meteoritos do tipo metálico, o interior será sempre
prateado como aço.
46
Veja as imagens abaixo, uma fatia do meteorito Patrimônio, rochoso do tipo condrito, com
pintinhas prateadas, e a outra uma fatia do meteorito Campo del Cielo, do tipo metálico, com o
interior completamente prateado como aço.
8.8- Presença de côndrulos
Como também já dito anteriormente, os meteoritos rochosos do tipo condrito são os mais
abundantes. Uma das características deste tipo de meteorito são os côndrulos, esférulas ovais ou
elipsoidais de minerais. Os côndrulos estão presentes apenas nos meteoritos do tipo condrito,
sendo que alguns poucos meteoritos deste tipo não apresentam côndrulos.
Em alguns tipos de condrito eles são muito bem definidos, como nos condritos do tipo 3. Nos
condritos do tipo 4 já são bem definidos, e chegando nos condritos do tipo 6, os côndrulos são mal
definidos.
Na imagem acima, côndrulos definidos do meteorito Vicência (LL 3.2). Crédito: © André Moutinho,
www.meteorito.com.br
¹ ² ³ Crédito de imagens: Museu Nacional
http://www.museunacional.ufrj.br/exposicoes/geologia/exposicao/meteoritos
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Exceções
Existem alguns meteoritos que não apresentam as características apresentadas anteriormente
(exceto a crosta de fusão, regmaglitos, forma indefinida). Estes meteoritos são bem raros e
praticamente só são recuperados logo após a queda.
Meteorwrongs
Meteorwrongs são rochas que as pessoas pensam que são meteoritos, mas que na verdade não
passam de pedregulhos terrestres. Nos laboratórios de análises de meteoritos, para cada mil
rochas analisadas 99% não são meteoritos, mas sim rochas terrestres que por algum motivo foram
confundidas com meteorito.
O fluxograma abaixo (ref. M. Elizabeth Zucolotto) é um interessante meio que elimina a maioria
destes meteorwrongs.
Acha que tem um meteorito?
Para ter valor e ser reconhecido oficialmente como meteorito, o mesmo precisa ser
submetido a uma análise em um laboratório e então, ser autenticado, sendo que são poucos os
laboratórios que fazem esse tipo de serviço em todo o mundo. No Brasil, o Museu Nacional faz
esse tipo de trabalho. Logo, você deverá enviar uma amostra de pelo menos 30 gramas (ou 20%
do suposto meteorito) para o Museu Nacional-UFRJ, cujo endereço segue no fluxograma acima.
Depois do estudo do suposto meteorito pela Instituição, se for mesmo um meteorito, ele
será submetido à aprovação junto ao Meteoritical Society (Sociedade Meteorítica). Este comitê,
que se reúne algumas vezes no ano, analisa os pedidos de aprovação de nomes; ao ser aprovado,
todas as informações do meteorito passam a constar na página do Meteoritical Bulletin.
48
9- DÚVIDAS FREQUENTES

Onde os meteoritos tendem cair?
Não existe nenhum lugar em que há uma tendência maior ou menor para um meteorito cair. Eles
caem aleatoriamente na Terra, ou seja, podem cair em qualquer ponto da superfície e a qualquer
momento. Na Antártida e nos desertos encontram-se mais meteoritos pelo fato de que nestes
ambientes o intemperismo (processo que modifica as características dos meteoritos, dificultando a
sua descoberta) ocorre de forma mais lenta. Também são ambientes em que um meteorito recém
caído, por exemplo, se destaca facilmente devido a crosta de fusão.

Quanto vale um meteorito?
Muitos pensam que qualquer meteorito vale uma verdadeira fortuna, mas não é bem assim.
Existem os que valem muito, e que consequentemente são mais raros (ex.: marcianos e lunares),
mas em geral os outros meteoritos não são tão valiosos assim. O valor de um meteorito vai
depender de diversos fatores, entre eles: aparência estética, tipo, raridade, peso, se ele é uma
queda ou um achado, se ele foi catalogado junto ao Meteoritical Society, etc. Vale ressaltar
também que os meteoritos não possuem uma cotação específica. Outro fator que influencia o valor
do meteorito é o peso total, quanto mais se tem de um determinado meteorito, menor o preço. Por
exemplo, um meteorito siderito de peso total 10 Kg vale mais do que um meteorito siderito de 2 t.

Os meteoritos são radioativos?
Não, os meteoritos não são radioativos.

É legal a exportação ou importação de meteoritos?
No Brasil não existe nenhuma legislação que proíba a exportação ou importação de meteoritos.
Mas na Argentina, por exemplo, os meteoritos pertencem ao governo, sendo proibido o comércio
de meteoritos. A exportação de meteoritos provenientes do Canadá, África do Sul, Namíbia e da
Austrália é proibido, ou requer licença para isso.

Alguém já foi atingido ou morto por um meteorito?
Não existem relatos de mortes provocadas por meteoritos, pelo menos desde que foi reconhecido
que meteoritos são extraterrestres. Mas um cachorro já morreu atingido por um meteorito marciano,
em Nakhla, no Egito, em 1911. E vacas também já foram mortas em Macau, em 1836. Uma
também já foi morta na Venezuela, em 1972. Em 2013, em Borracha (Pernambuco), um meteorito
caiu a cerca de 1 metro de distância de um homem que estava trabalhando.

Observei a passagem de um bólido, o meteorito caiu perto?
Muito provavelmente não! Pois quando vemos um bólido desaparecer atrás de uma montanha,
geralmente ele percorre muitos quilômetros adiante, pois estão em uma posição bem alta, entre
100 e 10 quilômetros de altitude. Quando o meteorito está caindo bem próximo do observador, ele
não vê uma bola de fogo passando no céu!

Onde posso encontrar um meteorito?
O melhor lugar para se achar um meteorito é onde já se achou outro, nos chamados campos de
dispersão. Os meteoritos explodem a uma altura de aproximadamente 10 quilômetros, depois
caem em queda livre até a superfície, espalhando fragmentos ao longo da sua trajetória,
denominada elipse de dispersão, que pode atingir quilômetros. Portanto, em um lugar que já foi
encontrado um meteorito é possível encontrar outros fragmentos de tal queda.
49

Onde posso caçar meteoritos?
Como já dito no item anterior, o melhor lugar para se achar um meteorito é onde já se achou
outro, nos chamados campos de dispersão. Durante a queda, a cerca de 10 quilômetros da
superfície, os meteoritos explodem, espalhando fragmentos no decorrer de sua trajetória em queda
livre, formando as chamadas “elipses de dispersão”, que podem ter quilômetros de extensão. Os
fragmentos maiores do meteorito caem na frente, e os menores atrás.
Em um campo de dispersão podemos procurar por fragmentos de uma queda recente, o
que é melhor já que não estarão intemperizados, ou de uma queda ou achado antigo. No entanto,
como o Brasil possui poucos meteoritos conhecidos, existem poucos campos de dispersão (que se
tem conhecimento).
Para começar a caça aos meteoritos você deverá escolher o local, lembrando que se for
procurar em algum campo de dispersão é necessário estudar um pouco sobre a história do
meteorito e onde foi achado, vale lembrar que algumas áreas são bastante difíceis para se procurar
por meteoritos. Pode ser importante buscar por informações históricas sobre a queda ou achado,
assim como procurar por pessoas que possam ter alguma informação.
Entre os equipamentos básicos que se deve levar, podemos citar: detector de metais, mapa, e
ferramentas para fazer algumas escavações.
Estude as características principais dos meteoritos para identificar possíveis “candidatos”.
Lembre-se que meteoritos que tiveram sua queda recente irão apresentar uma fina crosta bem
escura por fora, e se caíram há muito tempo estarão meio oxidados, a crosta de fusão pode ter
sido completamente ou parcialmente perdida e/ou alterada, havendo mudanças na sua coloração,
devido a ação do ambiente terrestre. Lembre-se ainda que a grande maioria dos meteoritos são
atraídos por ímã, sendo que a atração é mais forte nos meteoritos metálicos, e em geral os
meteoritos são um pouco ou muito mais densos do que uma rocha terrestre de tamanho similar (um
meteorito metálico pesa cerca de 3-4 vezes mais que uma rocha terrestre).
A forma mais comum de procurar por meteoritos é com o auxílio de um detector de metais.
Apesar de ser mais usado para procurar meteoritos sideritos, é possível procurar por alguns
condritos também. Divida a área de busca entre os membros que estão participando da caçada,
para que ela possa ser explorada ao máximo, de modo que as pessoas não fiquem desorientadas
passando sempre pelo mesmo local, e deixando de passar em outros. Um modo bem tradicional é
fazer uma fileira de pessoas ligeiramente afastadas que vão andando e procurando em linha reta
por possíveis meteoritos.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
André Moutinho, meteorito Vicência. Disponível em:
<http://www.meteorito.com.br/meteoritos.php?action=view&pg=207&ct=&idT=2> Acesso em 12 de
agosto de 2015.
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8 de agosto de 2015.
IG, Meteorito atinge região central da Rússia e deixa quase mil feridos. Disponível em:
<http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-02-15/meteorito-atinge-regiao-central-da-russia-edeixa-400-feridos.html> Acesso em 15 de agosto de 2015.
M. Elizabeth Zucolotto, Brasil desconhece seus meteoritos. Disponível em
<http://meteoritos.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48:brasil-desconheceseus-meteoritos&catid=35:meteoritos-brasileiros&Itemid=54> Acesso em 2 de agosto de 2015.
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<http://meteoritosbrasil.weebly.com/identificaccedilatildeo.html> Acesso em 15 de agosto de 2015.
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<http://solarsystem.nasa.gov/planets/profile.cfm?Object=Asteroids> Acesso em 15 de agosto de
2015.
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Acesso em 13 de agosto de 2015.
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<https://solarsystem.nasa.gov/planets/profile.cfm?Object=Meteors> Acesso em 22 de julho de
2015.
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NASA, The Torino impact hazard scale. Disponível em: <http://neo.jpl.nasa.gov/torino_scale.html>
Acesso em 14 de agosto de 2015.
NEO – JPL, Near Earth Object Program. Disponível em: <http://neo.jpl.nasa.gov/> Acesso em 15
de agosto de 2015.
NORTON, Richard. Rocks from Space. 2.ed. Mountain Press Publishing Company, 1998. 447 p.
The Meteoritical Society, Meteoritical Bulletin. Disponível em:
<http://www.lpi.usra.edu/meteor/index.php> Acesso em 10 de julho de 2015.
Sofia Moutinho, busca implacável. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/11/busca-implacavel> Acesso em 11 de
agosto de 2015.
ZUCOLOTTO, M. Elizabeth; FONSECA Ariadne C.; ANTONELLO Loiva L. Decifrando os
meteoritos. 1.ed. Museu Nacional- Série Livros 52, 2013. 160 p.
51
HIGOR MARTINEZ OLIVEIRA
Apaixonado por astronomia desde os 7 anos de idade, em 2011, com 13 anos, criou um
blogue de astronomia para compartilhar informações gerais sobre a área. A partir de então, passou
a dedicar-se aos estudos independentes em astronomia e um ano depois ganhava sua primeira
medalha, de ouro, na OBA – Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, o que o motivou
mais ainda.
Tomou conhecimento sobre os meteoritos com a campanha “Tem um ET no seu quintal? ”,
que contou com a distribuição de cartazes sobre o tema nas escolas participantes da OBA. Assim,
criou um site para contribuir na divulgação e popularização da meteorítica no Brasil.
De 2012 até 2014, foi
premiado mais de 10 vezes
em olimpíadas científicas.
Entre os prêmios, 3
medalhas de ouro na
Olimpíada Brasileira de
Física das Escolas
Públicas, 1 medalha de
ouro e 1 de prata na
Olimpíada Brasileira de
Astronomia e Astronáutica,
1 medalha de bronze na
Mostra Brasileira de
Foguetes e 3º colocado do
Brasil, na categoria ensino
médio, no Concurso de
Astronomia para
Estudantes do Laboratório
Nacional de Astrofísica.
Futuramente pretende se
tornar astrônomo e se
dedicar a pesquisas na
área de astronomia
planetária.
Profª Valni Gonçalves, Astronauta Marcos Montes e Higor Martinez
durante a participação na VI Jornada de Foguetes.
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