UM PADRAo ETARIO RECORRENTE EM FENOMENOS
DE VARIACAo FONOLOGICA
MARIA CEcILIA MOLLICA - UFRJ
PAULA BARRETO D~ MATTOS - UFRJ
SONIA MARIA FERREIRA GODINHO - UFRJ
Estio em andamento tris estudos sobr. varia~io
fonoloqica na fala do Portuquis do Rio de Janeiro:
alternincia das liquidas, como em Flamcnqo/Framenqo,
desenvolvido ~las
professoras Cecilia Mollica e
Conce1~io de Paiva, ver por exemplo Mollica e Paiva
(1987); a assimila~io de -ndo a -no, como em
fazendo/fazeno, estudado por Paula B. Mattos sob a
orienta~io da professora Cecilia Mollica, var por
exemplo Mattos e Mollica (1988)1 a assimila~io de
-mb- a -m-, que ocorre no vocabulo tambim, passando para
tamem, realizado por Sonia Godinho e Paula B. Mattos
sob a superviseo da professora Cecilia Mollica.
Os dados que serviram para anilise foram extraldos
de uma amostra composta por 64 ialantas do municIpio do
Rio de Janeiro, conhecida como WAmostra Cen.o".
o.
tris trabalbos em questio sequem a mesme linha
metodoloq1ca, que se baseia na Teoria da Varia~eo de
William Labov.
Esta constitui a orientacao mais
indicada para fenom.nos de variacio lingUistica, quando
se deseja faz.r uma abordagem quantitativa de
correlacio de variiveis.
Foram testada. as mesmas variiveis sociais nos
tres estudos: escolaridade, idade e sexo, que sao
variivei. estratificada. na amostra, e m~dia, mercado
ocupacional, sensibilidade linglistica, renda e bairro,
va~iivei. nio estratificadas.
Esses parimetros tem
side tambem testados em outros fenomenos, de variacao
pel0 Programa de Estudos sobre 0 Uso da LIngua, que
desenvolv. atualmente
sobre
0
0
projeto -Mecanismos Funcionai.
Uso LingUIstico: convenio UFRJ!FINEP
4387077600.
Para processar os dados e obter os cilculos de
freqUencia e probabilidade, utilizamos
0
programa
computacional VARBRUL 2~(SANKOFF, Mimeo).
Sendo a amostra, a metodologia e os parametros
comuns aos tres estudos, tem sido possivel entio
estabelecer uma comparacio entre eles ao nIvel dos
resultados.
Em nossa analise comparativa, encontramos
alguns achados paralelos, e esta comunicacio visa
mostrar, p.specialmente, a questio da idade, que nos
parece digna de nota.
Deparamo-nos aqui com urnpadrio peculiar nio
esperado normalmente nos estudos sociolingUisticos.
De modo
jovens
qeral,
esper~-se
emprequem
menos
que os informantes
a variante
pau1atinamente
vai aumentando
se tornam
ve1hos.
mais
Este
padrao
a1ternancia
emprego
presenca
ou ausencia
(Oliveira
e Silva,
apresentados
termino
do artiqo
1986).
no Re1atorio
do projeto
(Omena,
(Oliveira
Estes
"Subsidios
1986)
a
no
e na
ao possessivo
estudos
Fina1/FlNEP
sobre
1986),
e Silva,
frente
a qual
que os fa1antes
nos estudos
nos e ~ gente
e dele
de prestIqio,
medida
foi verificado
entre
de ~
a
mais
encontram-se
(1986),
como
Socio1ingdisticos
a
Educacao".
Como
referidos
ja mencionamos,
inicia1mente
que compreende
comporta
Visto
tres
fenomenos
Estariamos
aparecem
inesperada
fato aparece
ate entao
diante
Pa5semos
contrariam
os informantes
de forma
que este
os fenomenos
tal padrao:
de 15 a 25 anos
em relacao
nao apenas
estudados,
a faixa
5e
as demais.
em um, mas em
como
exp1icf!-'107
de uma coincidencia7
entio
na Tabela
fono1oqicos
para
I.
0
exame
dos nUmeros,
que
TABELA
,ADRAo ETAlIO RECORRENTE EM FEN~NOS
rONOLOGICOS:
ALTiRNANCIA DAS LtOUIDAS EM GRUPOS CONSONANTA~S t
ASSIMlLAClO DE ndo/no i ab/.
J
r/1
DE
IDADE
ndo/no
mb/m
~
PEle
.
-.
7/14
15/25
26/49
I
I
I
Aci\'!l~
de
50 ar.os
TOT1,~
I
I
PERC
i"IT7 •• 80 \
-
399
416
96\
.73
H2
414
83\
.22
531
--c
95\
.57
SSg
I
PRO
502
_c
91\
551
I 1774
ji940.
91\
.48
898
PRO
.
_.
.66
638
1050
61\
.37
-622
985
63\
.41
686
949
72'
I
69'
I
_10
2!..!.t
4101
10
PRO
PERC
-.
-.
I
118
450
26\
.50
85
392
22\
.40
..ll!. .• 31\
.53
489
1
.S4
-.
139
409
34\
496
-=
1740
29\
.55
;
,I
I
Ao observar os resultados para a questio da idade
na Tabela I, com relacao
a
alternancia das l~quidas em
grupos consonantais e i assimilacao de
ndo/no
•
mb/m,
constatamos que nao ha uma hierarquia clara entre as
quatro faixas etarias em nenhum dos tres fenomenos,
tal como descrito no que aqui denominamos "padrao
esperado".
A faixa dos informantes de 15 a 25 anos
apresenta sensivel decrescimo na.taxa de uso das formas
standard em relacao
14 anos.
a
faixa etaria mais jovem, de 7 a
Compare-se a probabilidade de .73 associ.da
i alternincia das liquidas, de .66 para a passagem de
ndo/no
e de .50 para a variacio de mb/m, para a faixa
de 7 a 14 anos, i queda da probabilidade para .22, .37
e .40, respectivamente, para a faixa de 15 a 25 anos.
Era de se esperar que ocorresse justamente
0
oposto,
correspondendo i hip5tese de que os falantes mais
jovens utilizam menos a variante standard, enquanto
que os falantes mais velhos a utilizam com maior
freqGencia.
Vale ressaltar entretanto que, apesar dos tris
fenomenos apresentarem esta peculiaridade, hi uma
diferenca de gradaCao entre eles.
Na regra variivel
da alternincia das lIquidas em grupoa consonantais, a
"irregularidade" mostra-se mais acentuada.
Boa parte
dos informantes na faixa de idade entre 7 e 14 anos
detim 0 padrio, havendo na faixa aequinte uma
diminuicio drastica, que demonstra, dirIamos, um
"relaxamento" no uso da variante de prestIqio.
A
mesma "anomalia" aparece no processo de assimilacio
de -ndo a -no, porim d. forma menos ~centuada.
De
novo aqui podemos dizer que os falante. entre 7 e 14
ano. utilizam mai. a forma standard que o. mai. velhos,
superando ati ique1e. de 50 anos em diante, .os·de
15 a 25 anoa reafirmam 0 menor ajuste i norma.
No
proc.aso de as.imilacio d. -mb- a -m-, 0 decrescimo
relacio i 1.
da 2' faixa etaria (15-25 anos) _
(7-14 an08)
e
bem menos marcado, mas ainda aasim
ateata-ae novamente um comportamento linqOIstico
particular a08 falantes entre 15
R
25 anos.
Ao nIvel daB estatIsticas, esta e a realidade que
se apresenta.
Resta, porim, a tarefa de interpretar
os numeroB com explicaOoea Batisfatorias.
0 que
levaria os jovena de 15 a 25 anos a atuar de tal forma?
Haveria uma correlacio entre 0 desempenho linqGIstico
e 0 comportamento de uma qeraoio?
Estas sio questo.s
re1evantes para posteriores estudos que investiqam a
re1aoio entre lIngua e sociedade.
Por enquanto, podemos conc1uir que oa nUrneros
apresentadoB, alim de evidenciar uma pecu1iaridade a
um certo grupo etario, podem conduzir i afirmaoio de
que as regras variaveis estudadas mostram-se
no sistema.
estaveis
Mas somente urn estudo em tempo real nos
permitiria
concluir que esses fenomenos
fonologicos
constituem
variacio inerente.
Labov
apenas urn estudo diacronico.
observacio
Conforme
que compreenda
(1981).
a
de varios estados de tempo sobre urn dado
fenomeno. i capaz de fornecer conc1uso.s
sobre a estabi1idade
da variacio.
0
definitivas
recuo ou
0
avanco
•• uma mudanca.
LABOV. William.
progress
from synchronic description?W
omnibus.
Cedergren.
MATTOS.
-What can be learned about change
In: Variation
Edited by David Sankoff and Henrietta
19a1. p.177-199.
P.B. e MOLLICA M.C.
portugues?
in
-Falando ou -falano-
Condicionamentos
em wndo- na fala carioca-.
sociais i queda do -dw
Comunicacio
~ 40e
Reuniio Anual da SBPC. julho/1988.
MOLLICA.
M.C. e PAIVA. M.C.
na alternincia
wCondicionamentos
sociais
das liquidas da fala cariocaw.
In:
XII Anais de seminirios do GEL, Grupo de Estudo8
Lingftlsticos do Estado de sio Paulo, UNICAMP, 1987.
OLIVEIRA e SILVA.
proprios-.
NArtigo frente a possessivos • nome8
In: Relatorio final 4e pesguisar Proieto
subsldios do Pr01eto Cen80 i educario.
Rio 4e
Janeiro, UFRJ, 1986, V.II, p.232-2S5 at.eo.
In: Relatorio final de pe.guisa: Projeto subsldios
do Projeto Censo i educayio.
Rio de Janeiro, UFRJ,
1986, V.II, p.275-285 mimeo.
OMENA, Nelize Pires de.
-A referineia variivel da
primeira pe8soa do di8curso, no plural-.
In:
Relatorio final de pesguisa: Projeto 8ubsidio. do
projeto,Censo i educacio.
Rio de Janeiro, UFRJ,
1986, V.II, p.286-3l9 mimeo.
RELATORIO FINAL: SUBSIDIOS SOCIOLINGOISTICOS DO PROJETO
'CENSO' ~ EDUCAClo.
SANXOFF, D. Varbrul
FINEP!UfRJ, 1986.
version 2 Montreal, Univ. de
Montreal, Cent~e de Recherches Mathematiques, mimeo.
Download

UM PADRAo ETARIO RECORRENTE EM FENOMENOS DE