AS-22
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22 • Brasília, segunda-feira, 11 de maio de 2009 •
CORREIO BRAZILIENSE
CIDADES
PLANALTINA
MORTES EM SÉRIE
Homens do Grupo de Patrulhamento Tático respondem por maioria
dos casos. Comandante tem apoio da cúpula de Segurança de Goiás
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HOMICÍDIOS
RENATO ALVES
s mortes em Formosa em
que policiais militares
apareceram como autores envolvem praticamente apenas um grupo de seis
homens do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT). O batalhão
da cidade tem 300 militares. Comandante da unidade (16º Batalhão da Polícia Militar de Goiás),
o major Ricardo Rocha Batista, 35
anos, assume as mortes em série
e apoia os subordinados que mataram em nome de um combate
rígido à criminalidade. Alega que
elas ajudaram a diminuir a violência na cidade, sem apresentar
as estatísticas.
O comandante se gaba, entre
outras coisas, de Formosa não
ser mais alvo de assaltantes de
outras unidades da Federação.
“Nenhum bandido do DF, por
exemplo, vem para cá mais, como acontecia antes”, ressalta. Em
1º de maio de 2008, um morador
de Planaltina morreu baleado
por uma equipe do GPT. Ele e outro homem foram perseguidos
após serem acusados de roubar e
dar tiros em um restaurante às
margens da BR-020 (BrasíliaFortaleza), no território de Formosa. Baleados e desarmados,
os suspeitos foram colocados em
um carro do GPT. Um deles chegou sem vida ao pronto-socorro
do Hospital Municipal de Formosa. Um sargento da PM acabou ferido de raspão, sem gravidade. Foi o único dos 15 casos de
confrontos na era major Ricardo
Rocha em que um PM se feriu.
Nenhum morreu.
Sobre as acusações de abusos
e crimes por onde passou, o major Ricardo Rocha diz apenas
que não foi condenado. Mas reconhece a fama de linha dura.
“Não suporto ver o povo reclamando de roubos em comércio
como em outras cidades do Entorno. Aqui, não tem dessas coisas”, afirma. Ele destaca ainda os
reforços enviados ao batalhão
pelo secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller.
“Recebemos 16 viaturas e até um
helicóptero, além de 32 câmeras
de monitoramento. Agora, temos 38 viaturas. Todo dia, duas
equipes do GPT vão para as ruas”,
diz Rocha.
O comandante da PM em Formosa não só assume as mortes
cometidas pelos comandados
como participa diretamente das
supostas trocas de tiros. Em uma
delas, o major Ricardo Rocha
afirmou na delegacia da cidade
ter efetuado dois dos três disparos que vitimaram Antônio Borges da Silva, 19 anos, em 28 de setembro de 2008. O rapaz morreu
no quintal de casa, às 6h10. Vizinhos contam que ele acordou
com quatro militares invadindo a
residência pelos fundos e pelo telhado. O jovem morreu com uma
bala no pescoço, uma no peito e
outra no pé. Foi enterrado com os
dois punhos quebrados.
Após os três tiros, Antônio foi
colocado em um carro da GPT e
levado ao Hospital Municipal de
Formosa, onde chegou sem vida.
Cadu Gomes/CB/D.A Press
O integrante do diretório nacional do Partido dos
Trabalhadores (PT) Wilmar Lacerda, 48 anos, foi vítima de
sequestro relâmpago na noite de sábado, em Planaltina,
onde mora desde 1969. Por volta das 22h, ele sacou R$ 50 em
uma agência bancária próxima à Adminitração Regional da
cidade e, depois, fez um lanche nas proximidades. Quando
se dirigia ao carro, um EcoSport, para atender uma ligação —
o celular estaria no veículo —, Lacerda foi surpreendido por
dois bandidos, um deles armado com um revólver. Os
assaltantes mandaram que a vítima fosse para o banco do
passageiro. Perto do Núcleo Rural Rajadinha, o veículo
estourou o pneu ao bater no meio-fio. Lacerda foi obrigado a
trocar o pneu, mas o carro ficou parado. Os bandidos
deixaram a vítima no local e fugiram pela mata. Até o
fechamento desta edição, continuavam foragidos.
TRÂNSITO
LEI SECA FLAGRA 43 MOTORISTAS
A
O estudante Ricardo Montenegro de Ávila Ferreira, 19
anos, foi autuado na manhã de ontem por agentes do
Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran). Segundo os
policiais, o rapaz fazia manobras perigosas na 203 Sul em
um Audi prata, placa JFM 1101-DF. Moradores da quadra
perceberam a imprudência e ligaram para a polícia, que o
encontrou na comercial. O teste do bafômetro acusou que
Ferreira estava com 0,68mg de álcool por litro de ar
expelido dos pulmões. Ele foi levado à 1ª Delegacia de
Polícia (Asa Sul). Entre a última segunda-feira e a manhã de
ontem, o BPTran autuou 43 motoristas por dirigir
embriagado. Desses, nove foram parar na delegacia.
Breno Fortes/CB/D.A Press
BASE DA PM EM FORMOSA: PARA COMANDANTE, AÇÕES DA POLÍCIA AFASTAM BANDIDOS DE OUTRAS CIDADES DO ENTORNO
MEMÓRIA
ESQUADRÕES
DA MORTE
Em Goiás, são corriqueiras as
denúncias de ações de grupos de
extermínio comandados por policiais militares. Eles aterrorizaram várias cidades do estado
Águas Lindas
Em 2000, o líder comunitário João Elísio foi assassinado.
Ele era considerado um potencial candidato à prefeitura do
município de 180 mil moradores, distante 50km de Brasília. Morreu porque supostamente denunciava a existência de um grupo de extermínio
na região. O assassinato de
João Elísio mexeu com o processo eleitoral. Em Águas Lindas, nas eleições de 2000, ninguém subia em carro de som
para fazer discursos sem coletes à prova de balas.
Aragarças
O grupo, formado por integrantes do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT) da Polícia
Militar, começou a agir em
ASSALTO NO QG
2006 no município de 18 mil
habitantes na divisa com Mato
Grosso. Após investigação, o
Ministério Público denunciou
sete PMs por três homicídios,
uma tentativa, espancamentos, ameaças e intimidação a
testemunhas e autoridades.
Em 19 de novembro de 2008, os
PMs acusados, presos em Goiânia, foram transferidos para o
presídio federal de Campo
Grande (MS), por ordem da
Justiça Federal.
Rocha, é acusado de liderar um
grupo de extermínio em Rio
Verde, quando era subcomandante do batalhão da cidade
do sudoeste goiano. Então capitão, Rocha teria participado
da execução de ao menos seis
pessoas, segundo investigações
do MP. Cinco teriam sido assassinadas de uma vez, à beira de
um córrego, em 2003. Eram foragidas da cadeia do município e morreram após serem rendidas e sem portar armas.
Planaltina de Goiás
Valparaíso
Policiais civis prenderam,
em 20 de abril de 2005, 10 acusados de integrar um grupo de
extermínio que agia havia dois
anos na cidade, distante 80km
de Brasília. Eles eram suspeitos
de 53 assassinatos. As prisões
fizeram despencar as estatísticas de assassinatos na cidade,
que era considerada uma das
mais violentas do estado. A média de homicídios era de seis
por mês até abril de 2005. Depois, passou a dois por mês.
Policiais federais prenderam em 13 de dezembro de
2005 quatro suspeitos de integrar quadrilha de falsificação
de dinheiro, grilagem de terras
e grupo de extermínio. O suposto líder do bando, Alfredo
Ribeiro, 70 anos, foi acusado
de mandar matar o então prefeito de Valparaíso (GO), José
Valdécio (PTB), promotores e
juízes de Brasília. Valdécio sobreviveu aos quatro tiros que
levou durante a campanha
eleitoral, em setembro de 2004.
Alfredo é suspeito de participação em 18 assassinatos no
interior goiano.
Rio Verde
O atual comandante da PM
em Formosa, major Ricardo
O boletim de ocorrência registrado pelo próprio comandante, no
qual não há nenhum morador
como testemunha, diz que Ricardo reagiu à chegada dos PMs com
tiros, por isso foi baleado. O major apresentou uma arma como
sendo da vítima. Mas os peritos,
vindos de Luziânia (GO), a 130km
de Formosa, só chegaram à cena
do crime às 12h, quando o corpo
já havia sido retirado.
Os pais admitem que Antônio
era viciado em cocaína, mas negam que ele fosse bandido. “Se
fosse traficante, meu filho não
deixava faltar leite aos dois filhos
pequenos”, comenta o pai, um
aposentado de 69 anos. Com uma
renda de R$ 500 mensais, ele cria
os outros seis filhos e os dois netos, de 3 e 4 anos, filhos de Antônio. Segundo o pai, o rapaz morava sozinho em um barraco de três
cômodos e vivia de instalação de
som automotivo. “Mas o que ganhava gastava com essa droga.
Tanto que foi preso com cocaína
quando tinha 15 anos. Mas meu
filho nunca matou nem roubou.
Nem nunca teve arma.”
Uma semana antes de ser morto, Antônio havia sido abordado
por uma dupla de PMs na rua de
casa. “Ele levou um tapa na cara e
gás de pimenta nos olhos”, conta
o pai. Junto com outros cinco jovens, Antônio foi deitado no chão
e fotografado pelos policiais.
“Disseram para todo mundo ouvir que preparavam uma lista de
40 mortos”, completa o aposentado. Nem ele nem os parentes e vizinhos foram convocados a depor sobre a morte. “Ninguém
conta nada pra gente”, reclama.
LINHA DURA NA TERRA
NATAL DO SECRETÁRIO
nunca apresentou as estatísticas.
O Correio tentou entrevistar o
secretário nos últimos quatro
dias. Falou com assessores dele.
Mas sequer houve retorno das oito ligações seguintes à sua assessoria. As mortes cometidas pela
PM em supostos confrontos e o
trabalho do major Ricardo Rocha
são enaltecidos nos sites da Secretaria de Segurança Pública de
Goiás e da PM goiana.
Única autoridade a falar publicamente sobre a matança, o
juiz Clauber Costa, da Vara
Criminal de Formosa, comunicou a série de mortes em dezembro à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados
de Goiás (OAB-GO) e à chefia do
MP do estado. “Tomei tal medida
porque percebi essas situações
extraordinárias”, explica, comedido. Desde então, o juiz não teve
retorno da OAB-GO. O presidente da comissão, Paulo Gonçalves,
não atendeu nem deu retorno às
12 ligações feitas pela reportagem em seu celular e em escritório de advocacia. (RA)
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Batalhão da PM goiana, o Batalhão Itiquira, com sede em Formosa. Em solenidades e entrevistas à imprensa do estado, Roller
não economizou elogios ao major. Declarou que ele tem diminuído a violência na região do
Entorno Norte. Mas também
correiobraziliense.com.br
Ouça entrevista:
com o comandante da PM
em Formosa
AS-22
Formosa é a terra natal e base
eleitoral do secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto
Roller, deputado estadual pelo PP
e pretenso candidato a deputado
federal por Goiás. Foi o próprio
Roller quem nomeou o major Ricardo Rocha para assumir o 16º
LIDERANÇA DO PT
SOFRE SEQUESTRO
POLÍCIA VAI OUVIR GENERAL
A Polícia Civil ouve esta semana o general do Exército que
foi amarrado por dois bandidos dentro do Quartel General
(foto), no Setor Militar Urbano (SMU), na última sexta-feira.
O depoimento será na Delegacia de Repressão a Roubos,
mas ainda não tem data marcada. A identidade do general
não foi revelada. O delegado Adval Cardoso de Matos
confirmou ontem que as imagens feitas pelas 32 câmeras de
vídeo do complexo militar não flagraram a movimentação
dos dois assaltantes, que levaram R$ 8 mil de um banco do
quartel. “Ou eles burlaram o sistema ou as câmeras não
estavam funcionando”, afirmou Matos. A polícia suspeita
que funcionários da agência bancária ou mesmo militares
possam ter facilitado o acesso dos assaltantes ao local.
BUSCA
DESAPARECIDO NO GAMA
O Corpo de Bombeiros procura um homem de 39 anos
desaparecido desde o último sábado, no Gama. José
Hamilton Santos Paranhos saiu da casa da irmã, no Setor de
Chácaras Norte, por volta das 14h, com 10 vassouras de
palha para vender. Ontem, uma equipe com oito militares,
cães farejadores e o helicóptero dos bombeiros vasculhou a
região, mas não encontrou o homem. Ele morava em Barra
(BA) com a mulher e quatro filhos até a última quinta-feira,
quando mudou-se para o Gama, em busca de emprego.
Segundo a irmã, a diarista Adriana Cordeiro dos Santos, 29,
José Hamilton sofre de alcoolismo e há um ano tenta parar
de beber. Por conta das crises de abstinência, estaria
sofrendo confusões e alucinações. “Ele passou mal na
sexta-feira, foi até internado”, disse a irmã. Segundo ela, o
homem não está com documentos de identificação. José
Hamilton não foi encontrado nos hospitais públicos do DF.
OBITUÁRIO
SEPULTAMENTOS REALIZADOS EM 10 DE MAIO DE 2009
CAMPO DA ESPERANÇA
Abelardo Nespereira Andelo,
75 anos
Antônio Ribeiro do Prado,
94 anos
Gisely Maria Bomtempo,
30 anos
Hamilton Queiroz Carvalho,
97 anos
Ivone Bigeli Torre,
77 anos
Marie Benac,
88 anos
Manoel Alves de Lima,
89 anos
Railson Gomes do Nasxcimento,
14 anos
Tatiana Medeiros de Godoi,
21 anos
Vaderico Batista de Oliveira,
47 anos
TAGUATINGA
Calirto Martins Lira,
51 anos
Firmina Maria da Silva,
63 anos
Francisco Pinheiro,
44 anos
Lazaro Ferreira de Oliveira,
69 anos
Marcelo Barbosa Pinheiro,
16 anos
Sebastião Osório da Silva,
51 anos
SOBRADINHO
Ludugério Rodrigues Barbosa,
92 anos
GAMA
Clebson Júnio dos Santos,
26 anos
PLANALTINA
Antônio Raimundo de Lima,
93 anos
Layssa Soares Nunes,
10 anos
BRAZLÂNDIA
Isac Guimarães Rodrigues,
67 anos
Vanderson Francisco de Oliveira,
25 anos
Wellington de Aquino Soares,
17 anos
JARDIM METROPOLITANO
Josualdo Oliveira,
35 anos
Valdecir de Souza,
59 anos
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Grupo de PMs concentra