Correio
da
Educação
Supervisão
Pedagógica
Fernanda
Lamy1
Em
jeito
de
Introdução
O
conceito
de
supervisão
pedagógica
não
é
novo,
nem
surge
por
imperativos
de
qualquer
espécie
pedagógico‐didáctica,
no
entanto,
com
a
implementação
da
ADD,
ele
volta
a
ganhar
um
estatuto
de
maior
relevância,
na
medida
em
que,
num
contexto
de
mudança
do
exercício
da
profissão
docente,
surge
associado
à
observação
de
aulas
de
todos
os
professores
em
geral
e
não
apenas
dos
que
se
encontram
em
formação
inicial.
Obviamente
que
esta
não
é
uma
situação
pacífica
e
isenta
de
controvérsia,
na
medida
em
que
não
é
uma
prática
comum
e,
muito
menos,
instituída
entre
os
professores,
por
uma
série
de
razões
que
não
cabem
aqui
explanar.
O
certo
é
que
a
supervisão
pedagógica
se
insere
num
novo
paradigma
de
intervenção
e
acção
docente,
em
que
as
palavras‐chave
passam
por
conceitos
como
missão,
finalidades,
competências,
estratégias,
responsabilidade
e
co­responsabilidade,
monitorização,
avaliação,
gestão
do
currículo
e
gestão
da
qualidade.2
1.
O
conceito
de
supervisão:
o
quê?
porquê?
para
quê?
Actualmente,
o
conceito
de
supervisão
pedagógica
ultrapassa
cada
vez
mais
as
“fronteiras”
da
formação
de
profissionais
destinados
à
docência
e
em
formação
inicial.
Não
é
por
acaso
que
se
diversificam
pelas
várias
instituições
de
Ensino
Superior
pós‐graduações,
mestrados
e
doutouramentos
nesta
área;
ela
surge
ainda
como
tema
de
uma
literatura
cada
vez
mais
consistente
e
lata,
realizada
por
diversos
investigadores
e
autores,
que
tratam
este
tema
tentando,
por
um
lado,
contribuir
para
a
(re)qualificação
dos
profissionais
em
exercício
que
trabalham
em
educação,
e,
por
outro,
unir
este
objectivo
ao
da
melhoria
da
qualidade
da
escola;
além
disto,
e
mais
recentemente,
foi
incluída
no
contexto
da
ADD
(reflexo,
também,
da
insistência
crescente
na
sua
importância).
Ao
falar‐se
em
supervisão
pedagógica,
é
inevitável
que
se
fale
também
em
1)
processos
de
apoio/regulação
do
ensino
e
da
aprendizagem
2)
reflexão
e
investigação
sobre
a
acção
educativa
3)
mudança
e
melhoria
de
práticas
pedagógico‐didácticas
(sala
de
aula
e
extra‐
aula
–
escola
‐
comunidade).
Estes
referentes
conceptuais,
balizados
por
conceitos
teóricos
variados
e
mais
ou
menos
consensuais,
estarão,
então,
na
base
da
relevância
da
supervisão
pedagógica,
que
Isabel
Alarcão
e
Maria
do
Céu
Roldão
apresentam
como
um
conceito
alicercante
da
“construção
do
conhecimento
profissional”3,
sendo
a
escola
o
espaço,
por
excelência,
de
referência
da
prática
educativa
do
professor,
com
o
qual
ele
constrói
esse
conhecimento.
Flávia
Vieira
fala
em
“actuação
de
monitoração
sistemática
da
prática
pedagógica,
sobretudo
através
de
procedimentos
de
reflexão
e
de
experimentação
(...)”4
e
o
psicólogo
educacional
Edgar
Stones,
em
1984,
considerou‐a
mesmo
uma
actividade
bastante
complexa.
A
esta
consideração
não
será,
certamente,
alheio
o
facto
de
as
práticas
demorarem
a
alterar‐se,
muitas
atitudes
persistirem
na
resistência
à
mudança
e
a
posição
relativa
às
práticas
supervisivas
continuar
a
ter
(ainda)
uma
conotação
de
algum
modo
1
Artigo proposto por Fernanda Lamy, Docente na Escola Secundária de Albufeira, na disciplina de Português.
Reflexão crítica, no âmbito da formação sobre Avaliação de Desempenho Docente e Supervisão Pedagógica, Centro
de Formação de Albufeira, Setembro-Outubro de 2008.
2
in, CASEIRO, Maria dos Anjos Cohen, Acção de formação “Supervisão Pedagógica”, Funchal , 2007.
3
in, ALARCÃO, Isabel e ROLDÃO, Maria do Céu, Supervisão. Um contexto de desenvolvimento profissional
dos professores, Edições Pedago, Mangualde, 2008.
4
in, VIEIRA, Flávia, Supervisão: Uma Prática reflexiva de formação professores, Ed. Asa, Porto, 1993.
Correio
da
Educação
negativa
(faz‐se
“só”
quando
se
tem
pouca
experiência
ou
nenhuma,
por
isso
há
que
“aprender
a
ser
professor”
–
formação
inicial
‐
ou
então
quando
surgem
problemas
ligados
às
práticas
de
sala
de
aula
e
há
que
proceder
a
“averiguações”
–
mediante
a
observação
de
aulas,
encarada
errada
e
obsoletamente
como
o
único
instrumento
da
supervisão).
Então,
o
que
é
a
supervisão
pedagógica,
neste
momento?
Porquê
a
renovada
importância
deste
conceito?
Para
quê
a
insistência
nesta
ferramenta
de
orientação
e
formação,
sobretudo
em
contexto
de
ADD?
Independentemente
das
várias
teorias
e
estudos
sobre
a
supervisão
pedagógica
e
dos
vários
cenários/modelos
de
práticas
existententes
(behaviorista,
clínico,
psicopedagógico,
de
diagnóstico,
etc),
o
que
aparece
comummente
consensual
entre
os
vários
investigadores
é
a
relevância
do
processo
supervisivo
na
construção
e
desenvolvimento
do
professor
enquanto
indivíduo
aprendente,
colaborativo
e
reflexivo.
A
supervisão,
desde
que
encarada
de
uma
forma
positiva
e
construtivista
e
não
apenas
destinada
à
formação
inicial,
mas
ligada
à
aprendizagem
e
melhoria
de
práticas
ao
longo
da
vida,
pode
dar
um
valioso
contributo
para
1)
o
crescimento
pessoal
e
profissional
2)
a
qualidade
na
educação
3)
adquirir/reciclar
conhecimentos
4)
escolher
percursos/perspectivas
em
educação.
Também
consensual
parece
ser
a
consideração
do
papel
fulcral
da
sala
de
aula
na
promoção
do
sucesso,
apesar
de
todas
as
complexas
variáveis
que
nela
coexistem
e
o
influenciam.
Se
a
gestão
curricular,
a
metodologia
de
trabalho
utilizada
para
promover
a
organização
dos
alunos
(preferencialmente
através
da
diferenciação
pedagógica
–
mais
fácil
de
concretizar
no
Básico)
e
as
competências
relacionais
e
comunicacionais
do
professor
são
factores
determinantes
na
qualidade
e
eficácia
da
sala
de
aula,
então
a
supervisão
tem
um
campo
de
actuação
para
o
qual
pode
dar
uma
importante
contribuição,
desde
que
haja
diálogo,
vontade
de
partilhar
e
gerar
conhecimento
em
comum,
entre‐ajuda,
confiança
mútua
e
humildade
para
“aprender
sempre”.
“Negociar”
surge,
assim,
como
a
palavra‐chave
(sobretudo
na
ADD).
No
entanto,
neste
ponto
da
reflexão,
e
exactamente
no
âmbito
da
Avaliação
de
Desempenho
Docente,
a
supervisão,
porque
exercida
entre
pares,
não
revestirá
um
carácter
problemático?
E,
seguramente
em
muitos
contextos
escolares,
não
aparecerá
como
algo
delicado
e
complicado?
Por
conseguinte,
poder‐se‐á
assistir
à
sua
desvirtualização,
não
só
enquanto
prática
reflexiva
de
formação
contínua
de
professores,
mas
também
como
metodologia,
instrumento
e
estratégia
de
regulação,
apoio,
cooperação/colaboração,
auto‐
aprendizagem,
partilha
de
conhecimento,
enfim,
tudo
o
que
a
enforma
com
um
espírito
democrático
no
seio
do
exercício
da
profissão
docente.
Os
professores
sabem
que
as
suas
competências
profissionais
serão
avaliadas
com
os
itens
“Preparação,
organização
e
realização
das
actividades
lectivas”,
“Relação
pedagógica
com
os
alunos”
e
“Processo
de
avaliação
das
suas
aprendizagens”,
os
quais
apontam
para
a
observação
de
aulas
(e
consequentes
dimensões
de
eficácia)
como
instrumento
privilegiado
de
recolha
de
níveis
de
desempenho,
portanto,
é
lógico
que
a
maioria,
actualmente
e
no
quadro
da
ADD,
não
encare
a
supervisão
de
uma
forma
construtivista
e
esqueça
a
função
de
“apoio
docente”
que
esta
deve
constituir;
assim,
considera‐a
apenas
com
a
função
de
avaliar
o
desempenho
do
professor
e,
até,
muito
provavelmente,
numa
dimensão
hierárquica
e
autoritária,
receando
que
ela
se
limite
a
um
arbitrário
e
subjectivo
exercício
de
poder
de
alguém
que,
“por
mero
acaso”
e
não
por
competência
provada
ou
demonstrada,
foi
provido
como
professor
titular
e,
consequentemente,
como
avaliador.
As
relações
interpessoais
podem,
assim,
acabar
por
ser
afectadas
e
estabelecida
uma
posição
tácita
de
defesa
por
ambas
as
partes
(avaliador/avaliado).
Correio
da
Educação
Estes
receios
“ensombram”
aquilo
que
Isabel
Alarcão
e
Maria
do
Céu
Roldão
consideram
fundamental
em
supervisão
pedagógica:
a
“criação
e
sustentação
de
ambientes
promotores
da
construção
e
do
desenvolvimento
profissional
num
percurso
sustentado,
de
progressivo
desenvolvimento
da
autonomia
profissional”,
em
que
“a
essência
da
supervisão
aparece
com
a
função
de
apoiar
e
regular
(...)”.5
Logo,
considerada,
assim,
num
âmbito
mais
lato
e
vasto,
a
supervisão
nao
é
nem
pode
ser
limitada
a
controlo,
inspecção,
verificação
do
que
o
professor
faz
na
sua
prática
lectiva
diária
(através
da
observação
de
um
número
restrito
de
aulas
assistidas).
A
supervisão
não
pode:
 assentar
numa
relação
interpessoal
pouco
dinâmica;
 desligar‐se
da
sua
vertente
fundamentalmente
formativa
para
enfatizar
uma
dimensão
correctiva
e
classificativa;
 ser
controlo,
superioridade,
imposição
ou
os
seus
opostos.
Então,
numa
óptica
positivista
e
que
se
pretende
concretizável,
a
supervisão
tem
que
ser:
análise
e
interpretação
–
de
práticas,
processos,
acções,
resultados;
incentivo
à
(auto­)
reflexão
‐
na
acção
e
sobre
a
acção,
sobre
a
educação,
o
ensino,
a
profissão,
estratégias/meios
motivadores
e
gestores
da
aprendizagem
e
seus
efeitos,
processo
no
qual
a
construção
de
portefólios
reflexivos
pode
assumir
primordial
relevância;
estratégia
‐
para
a
afirmação
de
professores
reflexivos
e
criativos,
que
apreciam
as
suas
decisões
e
as
consequências
que
delas
advêm,
de
modo
a
desenvolverem
saberes
e
performances
cada
vez
mais
competentes
no
âmbito
pedagógico,
didáctico
e
relacional;
partilha
e
colaboração
–
mediante
o
incremento
de
práticas
de
colegialidade
cada
vez
mais
dialogadas
e
negociadas.
Em
conclusão,
e
referindo
novamente
Maria
dos
Anjos
Caseiro,
“A
relação
facilitadora
e
encorajadora,
que
se
pretende
estabelecer,
assentará
na
existência
de
uma
relação
interpessoal
positiva,
saudável,
em
que
[todos]
(...)
se
sintam
comprometidos
com
um
objectivo
comum
–
a
melhoria
da
aprendizagem
dos
alunos
através
de
um
processo
de
ensino/aprendizagem
de
qualidade,
ministrado
em
condições
facilitadoras
da
aprendizagem.”6
2.
O
conceito
de
supervisor:
quem?
Como?
No
âmbito
da
ADD,
o
supervisor
pedagógico
exercerá
a
sua
função
entre
pares.
Tendo‐lhe
sido
conferido
legalmente
esse
poder,
o
titular
com
esta
responsabilidade
terá
que
instaurar
os
dois
princípios
éticos
fundamentais
da
sua
actuação
desde
o
início
do
processo:
o
da
transparência
e
o
da
confiança
mútua,
bases
para
a
consideração
da
supervisão
como
uma
negociação,
caso
contrário
os
riscos
relacionais
serão
imensos,
com
antagonismos
e
litígios
entre
avaliadores
e
avaliados,
que
influenciarão,
inevitavelmente,
o
clima
da
escola.
Este
é
o
cenário
que
as
competências,
a
perspicácia
e
sensibilidade
do
5
6
in, Alarcão e Roldão, op. cit.
in Caseiro, op. cit.
Correio
da
Educação
supervisor,
par
entre
pares,
terá
que
evitar,
adoptando
a
postura
e
modelo
de
supervisão
adequados
ao
contexto
das
competências
e
performances
que
lhe
caberão
avaliar.
Sabendo‐se
que
qualquer
avaliação
envolve
uma
dimensão
subjectiva
e
que
a
objectividade
é
um
ideal
inalcansável
em
absoluto,
espera‐se
que
os
supervisores
pedagógicos
promovam
entre
os
avaliados
e
entre
estes
e
eles
próprios
aspectos
como
(entre
outros):
 a
co‐responsabilização
no
processo
avaliativo;
 o
diálogo
sobre
esse
mesmo
processo,
numa
óptica
auto
e
hetero‐reflexiva,
visando
(i)
a
evolução
do
professor
avaliado
enquanto
agente
educativo
(ii)
a
melhoria/mudança
de
práticas
(iii)
a
qualidade
e
eficácia
da
sala
de
aula
(iv)
o
desenvolvimento
profissional;
 a
constituição
de
uma
equipa
de
trabalho,
de
modo
a
proporcionar
transferências
de
saberes7;
 o
estabelecimento
de
um
ciclo
de
supervisão
reflexivo,
dinâmico,
colaborativo;
 a
construção
de
uma
relação
dialéctica
e
cooperativa,
encorajadora
e
facilitadora
do
processo
avaliativo.
Perante
o
que
foi
exposto,
parece,
então,
assumido
pelas
várias
autoridades
na
matéria,
e
de
acordo
com
o
esquema
conceptual
esboçado
anteriormente,
que
à
figura
do
avaliador
cabe
a
determinante
função
de
favorecer
a
maximização/optimização
das
capacidades
pessoais
e
profissionais
dos
avaliados,
através
da
monitorização,
observação,
avaliação.
No
entanto,
como
João
Barbosa
refere8,
o
papel
do
supervisor
não
pode
ser
encarado
como
medição,
controlo,
julgamento,
mas
reveste,
pelo
contrário,
uma
dimensão
positiva,
logo,
oposta,
que
Flávia
Vieira,
da
Universidade
do
Minho
e
uma
das
nossas
autoridades
nesta
área,
apresenta,
em
várias
obras,
com
um
leque
de
funções
facilitadoras
e
encorajadoras
(por
exemplo:
informar,
sugerir,
criticar,
encorajar).
Logo,
a
prática
da
supervisão
e
o
perfil
do
supervisor
devem
ser,
sobretudo,
indirectos
(utilizando
o
termo
citado
do
investigador
A.
Blumberg
por
Maria
do
Céu
Caseiro,
no
trabalho
já
referido
anteriormente)
e
passar
pelos
três
habituais
momentos
do
ciclo
supervisivo
(pré‐observação,
observação
e
pós‐
observação),
característicos
de
uma
avaliação
negociada,
partilhada,
interactiva,
mutuamente
confiante
entre
avaliador
e
avaliado,
que
assim
se
sentirão
pessoas
(e
não
objectos),
estimulados
e
tranquilos
para
planificarem
adequadamente
a
sua
acção
e
concretizá‐la
da
melhor
maneira
possível.
É,
sem
dúvida,
uma
actuação
com
este
estilo
(analítico
e
interactivo)
que,
apesar
de
complexa,
poderá,
efectivamente,
melhorar,
não
só
a
competência
profissional
e
as
práticas
dos
professores,
mas
também
as
aprendizagens
dos
alunos.
Contudo,
exactamente
por
todo
este
processo
de
supervisão
se
vir
a
a
desenrolar,
presentemente,
num
contexto
problemático
e
tenso,
ele
surge
envolto
em
grande
desconfiança
e
descrédito,
o
que
dificultará,
indubitavelmente,
a
função
e
actuação
dos
supervisores,
além
do
cumprimento
da
pretendida
e
defendida
eficácia
do
sistema
de
7
Para o professor Gerard Fourez, embora relativo a uma metodologia que integre a interdisciplinaridade, “O
trabalho de equipa exige tempo, negociação de projecto, preparação de módulos de aprendizagem, elaboração de
indicadores comuns de competências... mas a longo prazo significa um ganho de tempo e de qualidade.” ( in,
Abordagens didácticas da interdisciplinaridade, Lisboa, Instituto Piaget, 2008).
8
in, “Avaliação e construção da aprendizagem: a aprendizagem como negociação”, in Formação e Inovação, nºs 3 e
4, Set/97 a Fev/98.
Correio
da
Educação
avaliação,
que
os
agentes
institucionais
e
responsáveis
pela
sua
criação
proclamam.
Assim,
deles
se
espera
um
contributo
para
o
incentivo
à
mudança
e
melhoria
de
práticas,
provendo
a
dimensão
(auto)
reflexiva,
a
investigação
em
acção
e
o
crescimento
pessoal/profissional
por
parte
dos
professores
supervisionados.
No
entanto,
sendo
pares
entre
pares,
os
avaliadores
poderão
ver‐se
contestados
/desafiados
nas
suas
avaliações,
sobretudo
por
(1)
lhes
apontarem
lacunas
nos
conhecimentos
científico‐formativos
para
tal
(para
muitos,
a
sua
actuação
assentará
no
conhecimento
obtido
na
sua
formação
inicial
e
contínua,
a
que
acrescem
os
saberes
adquiridos
na
sua
prática
profissional,
sem
qualquer
preparação
específica
mais
consistente
do
que
algumas
sessões
formativas,
para
o
que
deles
é
exigido
(2)
muitos
dos
professores
avaliados
serem
titulares
em
topo
de
carreira,
que,
após
tantos
anos
de
dedicação
ao
ensino,
encaram
de
forma
bastante
negativa,
não
só
uma
supervisão,
como
também
o
seu
exercício
por
um
professor
mais
novo,
com
menos
tempo
de
serviço,
embora
titular,
como
ele,
mas
com
aquela
função
“apenas”
por
ser
Coordenador
de
Departamento
(3)
as
avaliações
envolverem,
inevitavelmente,
um
considerável
nível
de
subjectividade.
Ora,
estes
problemas
verificar‐se‐ão
independentemente
da
mais
cordial,
cooperativa
e
profícua
relação
interpessoal
estabelecida
durante
o
ciclo
de
supervisão.
Não
é
por
acaso
que
este
é
um
dos
aspectos
que
mais
celeuma
tem
levantado
entre
os
professores
no
âmbito
da
implementação
da
ADD,
o
que
apela
a
competências
dos
supervisores
ligadas,
por
um
lado,
ao
seu
carácter
(ponderação,
serenidade,
bom
senso,
paciência,
até)
e,
por
outro,
ao
seu
perfil
ético
(idoneidade,
profissionalismo,
sentido
do
dever,
isenção).
Caso
contrário,
a
afirmação
de
Andy
Hargreaves,
referida
na
reflexão
sobre
o
módulo
anterior,
será
mesmo
uma
infeliz
realidade:
“À
medida
que
as
escolas
se
forem
movendo
em
direcção
à
idade
pós­moderna,
algo
vai
ter
de
ceder.
Poderá
ser
a
qualidade
da
aprendizagem
na
sala
de
aula
(...)
Poderá
ser
a
saúde,
a
vida
e
a
força
dos
próprios
professores,
quando
soçobram
perante
a
pressão
das
múltiplas
mudanças
decretadas.
(...)”
9
Em
jeito
de
conclusão
Capacidades
de
acção
educativa
e
auto­regulação,
postura
crítica
face
aos
contextos
profissionais,
promoção
da
autonomia
dos
alunos,
gestão
diferenciada
das
aprendizagens,
processos
de
reflexão
e
experimentação,
desenvolvimento
profissional
e
qualidade
em
parceria
na
educação,
competências
do
supervisor,
saber
experiencial
e
documental,
observação,
abertura,
monitorização,
comunicação
e
negociação,
diálogo,
partilha
são
apenas
algumas
das
expressões
e
palavras‐chave,
alguns
dos
termos
e
conceitos
fundamentais
quando
se
fala
em
supervisão
pedagógica
e,
no
caso
desta
reflexão,
realizada
no
âmbito
de
uma
formação
sobre
Avaliação
de
Desempenho
Docente,
todos
eles
revestem
uma
importância
ainda
mais
fulcral.
Longe
de
ser
um
assunto
encerrado,
a
implementação
sustentada
do
presente
modelo
de
ADD
passa,
como
já
foi
referido,
pelo
estabelecimento
de
uma
plataforma
de
entendimento
mútuo
entre
avaliadores
e
avaliados,
sobretudo
por
se
tratar
de
uma
avaliação
por/entre
pares.
Por
conseguinte,
nenhum
modelo
de
supervisão
pode
resultar,
nem
nenhum
perfil
de
supervisor
pode
prevalecer
se
os
princípios
da
confiança
mútua
e
transparência
forem
esquecidos
ou
traídos,
o
que
subverterá,
entre
outros
aspectos
mais
gerais,
(i)
o
envolvimento
positivo
dos
sujeitos
envolvidos
(avaliadores
e/ou
avaliados)
na
problematização
e
valorização
da
sua
profissão
(ii)
a
qualidade
e
eficácia
dos
resultados
9
in, HARGREAVES, Andy, Os professores em tempo de mudança, Ed. Asa, Porto, 2006.
Correio
da
Educação
esperados
(iii)
as
“dinâmicas
de
prestação
de
contas
orientadas
para
padrões
de
melhoria
e
de
desenvolvimento
profissional
e
organizacional
mais
contextualizados
e
sustentados”10
Paulo
Freire,
pedagogo
brasileiro
do
século
passado,
refere
que
“dificilmente
alguém
ensina
algo
a
alguém;
mas
as
pessoas
aprendem
nas
relações
com
os
seus
semelhantes,
mediatizadas
pelo
mundo.”
É
este
pensamento
que
finaliza
esta
reflexão.
Cabe
a
cada
um
de
nós
apropriar‐se
dele
na
proporção
que
entender.
10
in, página de apresentação da acção de formação “A Avaliação de Desempenho Docente e a Supervisão
Pedagógica”, do Centro de Formação José Pereira Tavares, de Aveiro.
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