INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE
ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS – ENCE
UMA VIAGEM EPISTEMOLÓGICA AO GEOPROCESSAMENTO
Luiz Henrique Guimarães Castiglione
Dissertação
Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais
Área de Concentração: Produção e Análise da Informação Geográfica
Orientador: Dr. Nelson de Castro Senra
Co-orientador: MSc. Mauro Pereira de Mello
Rio de Janeiro
Dezembro de 2003
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE
ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS – ENCE
UMA VIAGEM EPISTEMOLÓGICA AO GEOPROCESSAMENTO
Luiz Henrique Guimarães Castiglione
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção
de
grau
de
Mestre
em
Estudos
Populacionais e Pesquisas Sociais na Área de
Concentração
em
Produção
Informação Geográfica
Orientador: Dr. Nelson de Castro Senra
Co-orientador: MSc. Mauro Pereira de Mello
Rio de Janeiro
Dezembro de 2003
e
Análise
da
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE
ESCOLA NACIONAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS – ENCE
UMA VIAGEM EPISTEMOLÓGICA AO GEOPROCESSAMENTO
Luiz Henrique Guimarães Castiglione
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção
de
grau
de
Mestre
em
Estudos
Populacionais e Pesquisas Sociais na Área de
Concentração
em
Produção
e
Análise
da
Informação Geográfica
Rio de Janeiro, 17 de Dezembro de 2003
Banca Examinadora:
____________________________________________
Dr. Nelson de Castro Senra
____________________________________________
Dr. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva
____________________________________________
Dr. Cesar Ajara
À memória de meu Pai
AGRADECIMENTOS
Nunca ninguém precisou me dizer que estudar era importante. Cresci a ouvir e a ler a
sinceridade que meus pais tinham aos olhos quando se lamentavam por não terem tido maiores
oportunidades de estudo. Assim é para Marília e Luiz, em razão do quadro amplo de valores que
deles herdei, que vai a primeira e a mais fundamental das gratidões. Como eleger a quem citar e a
quem não citar? Há diversas formas de se ajudar alguém numa empreitada destas e, às vezes,
como já disse José Saramago, uma palavra é o quanto basta. Mas há que começar a agradecer, e a
começar, começo por Nelson Senra, a quem sou grato para muito além do papel de orientador. A
seriedade, a dedicação e a competência com que se dedica à missão de fomentar o aprendizado
deixam patente a sua profunda e natural compreensão do que vem a ser a tarefa de ensinar.
Nelson Senra em muito contribuiu para que esta dissertação chegasse aonde chegou. Para além da
idéia de se implementar a pesquisa qualitativa que muita vida deu à dissertação, há para mim
muitos sinais de seu sensato aconselhamento ao longo deste trabalho. Aconselhamento que se faz
nobre, por que jamais sequer insinuou um sinal de tutela. Estendo meus agradecimentos a Mauro
Pereira de Mello, a quem devo a co-orientação desta dissertação. Muitas das minhas
perspectivas técnico-científicas em cartografia e geoprocessamento inspiram-se nas reflexões por
ele provocadas. Sua inquietação intelectual e sua postura científica de natureza holística são um
exemplo e um alerta à importância do não estabelecimento de fronteiras ao estudo. No plano
pessoal, esta dissertação em tudo deve às inteligências racional e emocional daquela que é metade
de mim, Eugenia Koeler. O seu eventual distanciamento em relação a alguns temas nunca foi
motivo para omissão. E foi, sem dúvida, o seu acompanhamento mais amiúde do processo de
criação que deu leveza a esse processo. Leveza que brota da natureza emocionalmente bela da
sua alma. E neste plano pessoal também incluo a minha gratidão em relação aos meus queridos
filhos. Ao Leo, à Débora e à Bia devo grande parte das esperanças que lanço ao futuro e a
compreensão às minhas ausências. Quanto aos amigos, a minha dívida é enorme e de difícil
listagem. Posso começar por Eduardo, irmão que a vida não me deu. Luiza, a quem devo a
atenção ao Leo e interessantes sugestões sobre a redação de textos. A Lúcia, Ricardinho e Luiza
devo a compreensão e a retarguarda de sossego. Jane, uma amiga de sempre. Ivan Medina e
Inês Cristina Guimarães, dignos representantes de muita gente boa da minha área, de onde fluiu
muita energia positiva. Os amigos que fiz na ENCE têm todos muita importância. Humberto,
uma participação sempre amiga na pesquisa e no mestrado. Juliana, que renovou minhas
esperanças nas gerações mais novas que a minha. E Artur, de quem fluiu muita amizade e
experiência de vida, representam a todos. Fátima de Pina não foi apenas a mãe devotada das
minhas Dé e Bia. Leu com atenção meus textos e deu opiniões que me foram muito importantes.
Devo gratidão aos professores e alunos da Engenharia Cartográfica da UERJ, que sempre me
apoiaram nesta empreitada. À ENCE devo as condições para desenvolvimento das pesquisas e do
mestrado em geral. A Escola supera todas as suas limitações pela força da iniciativa e da
competência de seus funcionários e professores. Aos professores represento o agradecimento
através do respeito e do carinho que tenho por Marilourdes Lopes. A serenidade e a doçura de
sua força me são exemplares, e este exemplo responde por muito da força que encontrei para
levar o mestrado à frente. Preciso também reafirmar que considero que um trabalho feito com
todo empenho se quer sempre expor à mais competente possível das críticas. Uma dissertação
lançada à aceitação inopinada nada acrescenta à ciência, ou mesmo às reflexões daquele que o
produziu. Esta perspectiva é que está na raiz da decisão de convidar Cesar Ajara e Luiz Felipe
Coutinho para compor a banca de avaliação deste trabalho. A ambos sou incondicionalmente
grato e honrado, pelo aceite do convite para criticar e avaliar esta dissertação. A Latour e
Hobsbawm referencio o dom divino de articular palavras e construir textos que em tudo instilam
a reflexão e a emoção. Representam outros que, como eles, foram companhias sempre prazerosas
ao longo deste trabalho. Este texto de agradecimento, escrito sem parágrafos, é uma forma
singelíssima de agradecer e homenagear a José Saramago, um humanista que reiteradamente
prova que a representação pela palavra pode ser tão bela quanto substancial. E a encerrar esta
viagem retorno ao princípio e ao reconhecimento que tenho pela educação que recebi. E apesar
da importância em tudo equivalente que meus pais tiveram em relação à consolidação destes
valores, não posso deixar de destacar que para o menino que fui, as referências vinham mais
naturalmente da figura paterna. O velho Luiz Gonzaga sabia disso e, porque sabia, jamais deixou
de associar ao discurso da educação o seu próprio exemplo de homem íntegro, razão pela qual é à
memória dele que dedico esta dissertação.
Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Livro dos Conselhos
Epígrafe tomada emprestada ao livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
RESUMO
O geoprocessamento tem uma natureza interdisciplinar que parece inconteste. Por conta
disso, a produção de seu conhecimento se faz a partir das perspectivas de diversas ciências. Esta
diversidade de pontos de vista encerra riquezas e desafios, bem como provoca tensões que podem
desarticular a construção de um conhecimento que se pretenda paradigmático.
Uma leitura mais atenta da produção científica permite detectar indícios aparentes de uma
provável desarticulação na edificação do seu conhecimento, bem como deixa a impressão de que
esta forma de representação do espaço é consubstanciada por um corpo de saberes, cuja natureza
e articulação ainda não se encontram definitivamente exploradas. O mesmo vale para seu objeto e
para os seus métodos de produção de informações e conhecimento. Num sentido mais amplo, sua
epistemologia encontra-se aberta à exploração, garantindo ao explorador tão-somente a esperança
de que a viagem possa lhe aduzir mais conhecimentos do que certezas.
Esta viagem de exploração e investigação pelo corpo de conhecimentos fundamentais,
pelo objeto e pelos princípios gerais que orientam os métodos de produção do geoprocessamento
constituem a reflexão essencial desta dissertação, cujo objeto amplo, por conseqüência, é a
atividade de elaboração de representações do espaço geográfico.
O objetivo desta dissertação, ou seja, desta viagem epistemológica pelo geoprocessamento
contempla a ambição de lançar luz sobre as fragilidades do processo de edificação do
conhecimento que se vem empreendendo, bem como de reportar, na profundidade possível a um
trabalho desta natureza, as conseqüências mais importantes que resultam desta aparente
imaturidade do conhecimento até agora edificado.
A forma do trabalho foi talhada no sentido de empreender um estudo crítico de parte da
produção científica acerca do geoprocessamento, sequenciado por uma pesquisa qualitativa que
objetivou levar à consideração da comunidade científica as principais questões epistemológicas
identificadas na análise crítica empreendida.
Em síntese, a tese que sustentou e que resulta reafirmada por esta dissertação dá conta de
que existe, hoje, uma assimetria na contribuição aduzida por cada uma das disciplinas científicas
que participam da construção científica do geoprocessamento e que, para além desta assimetria,
há também uma desarticulação destas ciências, no âmbito da edificação interdisciplinar do
conhecimento. Desta assimetria e desta desarticulação, resulta um conhecimento fragmentado,
que não explora as reais potencialidades que adviriam de uma sinergia verdadeira entre as
disciplinas que subsidiam a elaboração de representações do espaço geográfico.
ABSTRACT
The geoinformation systems has an interdisciplinary nature, which seems to be
indubitable. On account of this, the production of its knowledge is made out of the perspectives
of different sciences. And it closes not only wealth and challenges, but it also causes tensions
which can take into pieces the building of a knowledge made of paradigmatic ambitions.
A more analytical reading of scientific production can allow one to remark apparent signs
of a probable disengagement on the building of its knowledge, as well as it leaves the impression
that this form of space representation is drawn up by a body of knowledge, whose nature and
articulation are definitely not yet explored. The same is valid for its object and methods of
information and knowledge production. In a broader sense, its epistemology is still open for
exploration, guarantying to the scholar nothing but the hope that this journey can adduce him
more knowledge than certainties.
This exploration and investigation journey through the body of basic knowledge, as well
as along the object and the general principles, which guide the methods of production of the
geoinformation systems shape the essential considerations of this work, whose broad object is
consequently the activity of elaborating representations of the geographic space.
The objective of this work, that is, this epistemology journey along the geoinformation
systems considers not only the ambition of illuminating the fragility of the process of knowledge
building which have been made, as well as reporting in a possible depth, considering a research
like this one, the more important consequences, that result from this apparent immaturity of the
knowledge that was built until now.
Considering its form, this work was shaped in order to undertake a critical study of part
of scientific production about geoinformation systems, followed by a qualitative research which
aimed to submit the most important epistemological questions identified in the critical analysis
undertaken to the scientific community.
Summing up, the thesis that sustained and confirmed by this study provide that there is
nowadays an irregularity on the contribution adduced by each one of the scientific disciplines that
take part on the scientific building of the geoinformation systems and that far beyond this
irregularity there is also a disengagement between these sciences within the bounds of the
interdisciplinarity building of knowledge. From this irregularity and out of this disengagement
results a disintegrated knowledge, which does not explore the real potentialities that would follow
from a real and positive articulation between the disciplines, which support the elaboration of
geographic space representations.
SUMÁRIO
Introdução
1
Metodologia da Investigação Epistemológica
A Elaboração de um quase-guia de viagem
10
Elaboração do quadro conceitual da investigação epistemológica
20
1.1.1
A crise paradigmática das ciências
22
1.1.2
Mentalidades e Espírito do Tempo
31
1.1.3
Interdisciplinaridade
46
1.1.4
Dicotomia ciências naturais / ciências sociais
56
1.1.5
Rede da produção científica
65
1.2
Metodologia para a análise crítica da produção científica
75
1.3
Metodologia de elaboração e aplicação da pesquisa qualitativa
92
1.4
Metodologia para análise das respostas dos consultados
103
1.5
Uma impressão geral sobre as questões metodológicas
105
Análise Crítica da Produção Científica
As impressões da viagem epistemológica
107
2.1
A análise
crítica e a elaboração das perguntas que formam o questionário
108
2.2
A fundamentação epistemológica do geoprocessamento
109
2.3
Geoprocessamento: ciência, tecnologia ou tecnociência?
118
2.4
A rede de produção científica e a interdisciplinaridade
130
2.5
As modelagens e o papel do conhecimento geográfico
136
2.6
O geoprocessamento e o conhecimento do espaço geográfico
149
2.7
A evolução do conhecimento sobre geoprocessamento
157
2.8
Uma impressão geral sobre a análise crítica
163
Diálogo com a Comunidade Científica
Cotejando as impressões da viagem
165
A contextualização do diálogo
167
3.1.1
Encaminhamento dos questionários
167
3.1.2
Recebimento dos questionários respondidos
169
3.1.3
A comunidade dialogal formada
173
3.1.4
A apresentação do diálogo
177
3.1.5
O estabelecimento do diálogo: cotejando as impressões da viagem
178
Capítulo 1
1.1
Capítulo 2
Capítulo 3
3.1
3.2
A fundamentação epistemológica do geoprocessamento
180
3.3
Geoprocessamento: ciência, tecnologia ou tecnociência?
189
3.4
A rede de produção científica e a interdisciplinaridade
199
3.5
As modelagens e o papel do conhecimento geográfico
206
3.6
O geoprocessamento e o conhecimento do espaço geográfico
213
3.7
A evolução do conhecimento sobre geoprocessamento
217
3.8
Uma impressão geral sobre o diálogo
220
Conclusão
223
Bibliografia
228
Anexo A
Introdução ao Questionário da Pesquisa Qualitativa
235
Anexo B
Perguntas e Respostas da Pesquisa Qualitativa
239
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura
Título
Figura 1.1
Idéia central da elaboração metodológica
14
Figura 1.2
O território do conhecimento
21
Figura 1.3
Hiperespaço interdisciplinar
70
Figura 1.4
Uma produção científica como centro de cálculo
80
Figura 1.5
O olhar epistemológico a montante
86
Figura 1.6
Vínculo fluente da primeira questão
87
Figura 1.7
Vínculo fluente da segunda questão
87
Figura 1.8
Vínculo fluente da terceira questão
88
Figura 1.9
O olhar epistemológico a jusante
89
Figura 1.10
Vínculo fluente da quarta questão
89
Figura 1.11
Vínculo fluente da quinta questão
90
Figura 1.12
Vínculo fluente da sexta questão
90
Figura 1.13
Síntese da metodologia de análise crítica da produção científica
91
Figura 3.1
Síntese da evolução do conjunto de questionários
Pág.
171
LISTA DE QUADROS
Quadro
Título
Quadro 1.1
Programas de pós-graduação relacionados ao geoprocessamento
Quadro 1.2
Quadro de distribuição da escolha de consultados
102
Quadro 3.1
Síntese da formação da comunidade dialogal
172
Quadro 3.2
Listas das ciências fundamentais ao geoprocessamento
189
Quadro 3.3
O geoprocessamento pode ser considerado ema ciência?
198
Quadro 3.4
O geoprocessamento é uma tecnologia?
198
Pág.
66
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Capa da Dissertação