Professora Me. Márcia Regina de Souza Storer
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA
GRADUAÇÃO
PEDAGOGIA
MARINGÁ-PR
2010
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
a distância:
C397
Problemas e dificuldades de aprendizagem na infância/ Már
cia Regina de Souza Storer- Maringá - PR, 2010.
82 p.
“Curso de Graduação em Pedagogia - EaD”.
1. Pedadogia 2. Desenvolvimento cognitivo. 3.Distúrbios de aprendizagem. 4.EaD. I. Título.
CDD - 22 ed. 370
CIP - NBR 12899 - AACR/2
“As imagens utilizadas nesta apostila foram obtidas a partir dos sites contratados através da empresa LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ.
Animation Factory; Purestockx; Photoobjects; Clipart e Ablestock”.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA
Professora Me. Márcia Regina de Sousa Storer
APRESENTAÇÃO
Prezados alunos,
Muito prazer! Somos as professoras Márcia Regina Sousa Storer e Nadyesda Lessandra F. Martines e, com
muito carinho, escrevemos para você este livro que fará parte da disciplina de Problemas e Dificuldades de
Aprendizagem na Infância. Gostaríamos de dizer que trabalhar com o desenvolvimento humano nos aspectos
motor, cognitivo, emocional e neurológico é uma das facetas mais interessantes da nossa área de conhecimento,
ou seja, a pedagogia.
Compreender o desenrolar desse processo tendo como ponto de partida a infância, torna nossa fonte de estudos
mais intrigante e curiosa, uma vez que nos dedicamos ao estudo do referido período como uma maneira de tornar
essa fase o mais coerente possível para a chegada ao mundo adulto.
Um adulto ponderado, em pleno exercício das faculdades mentais, capaz de estudar, trabalhar e conviver em
grupo mostra uma passagem pelo desenvolvimento infantil de maneira tranquila, dentro do vai e vem de ondas que
competem o desenrolar do mundo humano.
Partindo dessa perspectiva, planejamos, para você, nesse livro, estudar questões referentes ao desenvolvimento
infantil, e dentro desse quesito, nos ateremos, especificamente, aos Problemas e dificuldades na infância. No que
diz respeito a esse ponto, nossos estudos estão concentrados em cinco unidades, as quais são:
I- O desenvolvimento cognitivo da criança.
II- As dificuldades e os distúrbios de aprendizagem.
III-As intervenções escolares nas dificuldades e distúrbios de aprendizagem.
IV-Indicações terapêuticas.
V- Aprendizagem e problemas emocionais.
No que diz respeito à primeira unidade, as alterações do desenvolvimento infantil, assim como os desenvolvimentos
neurológico, psicomotor e cognitivo serão o destino da nossa atenção.
Quando falamos em alterações no desenvolvimento, é comum nos depararmos com o questionamento: “a criança
apresenta o comportamento de chupar chupeta aos nove anos de idade, isso é normal?”. Por isso, nosso primeiro
passo é destacar a diferenciação entre dois conceitos – o normal e o patológico. A fim de aprofundarmos um
pouco essa questão, ampliamos a mesma dentro dos padrões de conhecimento de senso comum e conhecimento
científico.
A ciência é baseada no conhecimento da realidade cotidiana. Ao nos depararmos com essa realidade, enquanto
pesquisadores e estudiosos buscamos um afastamento da mesma a fim de irmos para além das aparências
dadas a priori. Essa realidade cotidiana nos dá um tipo de conhecimento denominado de intuitivo, espontâneo,
de tentativas e erros, que é entendido como senso comum (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Sem esse
conhecimento, nossa vida seria muito complicada, e teria que ser repensada e reorientada a cada geração que
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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surgisse. É como se tivéssemos que re-inventar a roda a cada instante!
Entendemos, pautadas nas referidas autoras, que somente esse conhecimento não seria suficiente para o
desenvolvimento da humanidade. Com o tempo, esse tipo de conhecimento foi sendo aperfeiçoado e especializado
até atingir um nível de sofisticação maior. Vamos pensar nos grandes avanços da humanidade na área da saúde,
da tecnologia e da pesquisa laboratorial. Chegamos à lua! Inventamos vacinas com vistas à prevenção de doenças
outrora incuráveis! Criamos instrumentos cirúrgicos de última geração para o bom andamento de intervenções
hospitalares. Somos capazes de, pelas pesquisas e investimentos na área social, organizarmos inferências acerca
de problemas referentes à aprendizagem e ao desenvolvimento humano de maneira global. Isso é o conhecimento
científico!
Você sabia que o conhecimento dito “senso comum” é tido como a base para o conhecimento científico?
Dessa maneira, ciência pode ser denominada como um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da
realidade expressos por uma linguagem precisa e rigorosa (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).
Retomemos, então, nossa discussão sobre o normal e o patológico. Dentro do exposto sobre o conhecimento
científico, o que é normal? Segundo BUENO (1996), normal é o que segue a norma, exemplar. Ao trazermos
isso para o nosso contexto de estudos, há a necessidade de pontuar que ao lidarmos com seres humanos, essa
normalidade necessita estar pautada no contexto social, histórico e cultural da pessoa. Por exemplo, alguns
tailandeses possuem o hábito de comer grilos, baratas, enfim, insetos em geral. E fica a questão: Isso é normal?
Bem, depende do que é considerado normal para aquela cultura. Para eles é normal, para você isso pode ser
anormal, estranho ou mesmo inconcebível! Nesse sentido, dependerá do ponto de vista do observador.
Já a patologia, é definida por Bueno (1996) como uma parte da medicina destinada ao estudo das doenças, o
patológico refere-se à patologia.
Ao lidarmos com seres humanos é melhor trabalhar a questão da normalidade e da patologia, temos dois
referenciais que nos auxiliam quanto a isso, o Código Internacional das Doenças (CID – 10), e o Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV). Esses materiais dão maior sustentabilidade e coesão aos nossos
estudos e a atuação profissional.
O CID-10 e o DSM IV são os referenciais que auxiliam os estudos sobre patologia.
Nossa preocupação como profissionais da área está em não apresentar algo patológico presente no indivíduo
como um “rótulo” imposto sobre ele, seja qual for a questão presente no quadro apresentado. Nossa intenção
está em auxiliar na identificação do quadro e no prognóstico do mesmo, ou seja, se é possível fazermos algo pelo
sujeito, para o seu progresso.
Essa afirmação é justificada ao observarmos que durante a fase do desenvolvimento humano é possível observar
alguns conflitos relacionados ao desenrolar desse processo, os quais podem emergir nessa fase. É no período da
infância que podem ocorrer alguns momentos de maior desordem, seja ela afetiva ou emocional, pois é uma fase
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de constantes assimilações e interiorizações do meio externo. Nessa perspectiva, é possível afirmar que esse
meio pode auxiliar de maneira positiva ou negativa o processo de desenvolvimento do indivíduo.
É importante estarmos cientes desse conhecimento prévio para que a compreensão acerca dos problemas e
das dificuldades de aprendizagem possa ser trabalhada de maneira mais completa, com a possibilidade de
entendermos as possíveis lacunas deixadas no processo de alfabetização, e/ou no desenvolvimento cognitivo,
e/ou na socialização, e/ou em questões referentes ao desenvolvimento emocional, e/ou ainda em casos mais
específicos de origem genética.
Sendo assim, caro acadêmico, a necessidade de compreendermos algumas especificidades do Sistema Nervoso
Central (SNC) é imprescindível, assim como a junção entre tais especificidades e suas ligações com as reações a
atividades do organismo humano, em especial, na integração de sensações às respostas motoras.
Por isso, para nossa primeira unidade, nos ateremos aos estudos acerca do desenvolvimento cognitivo da criança,
das possíveis alterações nesse desenvolvimento e o desenvolvimento neurológico e psicomotor. Para tanto,
contaremos com a compreensão do referencial teórico de alguns estudiosos que foram de suma importância para
a compreensão do desenvolvimento infantil. São eles: Alexander Luria (1902-1977); Jean Piaget (1896 – 1980);
Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879- 1962); Lev Seminovich Vigotsky (1896-1934); Sigmund Freud, (1856-1939).
Esses autores deixaram um legado de estudiosos que se sentiram encarregados pela propagação dos estudos,
dos questionamentos e das pesquisas, após a morte dos mesmos.
Para facilitar o seu entendimento, trago aqui um pouco da vida de cada um desses estudiosos:
ALEXANDER LURIA (1902-1977), estudioso da Teoria Histórico-Cultural (THC), uma área da psicologia voltada
para os estudos do ser humano sob a perspectiva do socialismo de Karl Marx. Luria é um dos teóricos mais
preocupados coma as funções e desenvolvimentos cerebrais humanos.
Aos 16 anos, Luria obteve seu diploma. No ano de 1921, fundou a Associação Psicanalítica de Kazan, cidade de
seu nascimento, e prosseguiu seus estudos na área da Psicologia. Conheceu Vigotsky e passou a fazer parte da
troika, grupo formado por Lev Semenovitch Vigotsky (1896 -1934), Alexei Nikolaevich Leontiev (1903-1979) e Luria.
A troika era composta pelos russos: Vigotsky, Luria e Leontiev
Após a morte de Vigotsky, em 1934, vítima de tuberculose, continuou seus estudos nas áreas de desenvolvimento
infantil, defectologia e às pesquisas interculturais. Concluiu seus estudos em medicina e passou a pesquisar as
afasias, focando as relações entre a fala e o pensamento, uma forma de continuar os trabalhos antes desenvolvidos
por Vigotsky (TULESKI, 2008).
Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou com os enfermos que sofreram lesões e tumores cerebrais,
relacionando essas patologias com os seus efeitos sobre a cognição, assentando as bases científicas da
neuropsicologia.
Existem conceitos trabalhados por Luria, muito importantes para a compreensão da THC e da visão do estudioso
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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sobre o desenvolvimento infantil. Os processos de generalização e abstração, assim como a dedução e a inferência,
fazem parte destes.
Para Tuleski (2008), os processos de generalização e abstração marcam a transição das operações práticas
para as operações teóricas. Destacamos, nesse ponto, a importância da instituição escolar, pois é nesse local, e
por meio da mediação realizada pelo professor, que a criança começa a compreender e conceber os conceitos
científicos que não são encontrados, necessariamente, na vida cotidiana.
Já nos processos de dedução e inferência, Luria afirma que uma pessoa capaz de desenvolver o pensamento
abstrato reflete o mundo externo de maneira mais profunda, não se pautando apenas na experiência pessoal, mas
também em esquemas lógicos que se formam em um estágio mais avançado do desenvolvimento da atividade
cognitiva.
Ao partirmos das colocações de Luria, podemos perceber a relevância do papel da escola para a formação
das funções psicológicas superiores da criança. Compreendemos que isso se relaciona à apropriação dos
conhecimentos historicamente acumulados. Verificamos, assim, a importância atribuída pelo estudioso ao contexto
cultural e social dos sujeitos, influenciando diretamente o processo educacional do aluno.
Outra contribuição de Luria foi a pesquisa desenvolvida com gêmeos idênticos para provar que não era o fator
genético, biológico que determinava o desenvolvimento das funções psicológicas superiores como se acreditava
na época. Tal pesquisa foi pautada na separação de grupos de gêmeos idênticos, cada grupo recebeu estímulos
diferentes, obtendo resultados diferenciados de acordo com os estímulos mediados pelo pesquisador (LURIA,
2008).
Em 1968, ingressou na National Academy of Science, dos Estados Unidos e seguiu trabalhando em Moscou até
o ano de sua morte, 1977.
Outro estudioso que dá relevantes contribuições a nossa unidade de estudos é do biólogo francês JEAN PIAGET
(1896 – 1980), que encontrou na psicologia do desenvolvimento a maneira de buscar compreender como o
ser humano se desenvolve. A teoria piagetiana possui relevante valor, uma vez que abriu caminhos e novas
perspectivas para o estudo do pensamento e da linguagem na criança (SORATO, 2009).
Você sabia que Piaget não era educador e nem mesmo psicólogo?
Ele era um biólogo em busca da compreensão do desenvolvimento humano.
Ao falarmos em Piaget, prontamente pensamos na Epistemologia Genética. Do ano de 1920 a 1980, Piaget
dedicou-se aos estudos de natureza epistemológica, por isso a denominação Epistemologia Genética. De acordo
com Fabril (2008), a definição de conhecimento é o problema central da epistemologia, sendo motivo de prestígio
para Jean Piaget tê-lo enfrentado e, proposto, ademais, a reformulação da questão epistemológica clássica para
indagar como se processa a mudança de níveis mais simples de conhecimento até os mais complexos, resultante
da interação entre o sujeito e o objeto.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Apenas duas obras Piagetianas relacionam-se à educação!
Em um primeiro momento, as pesquisas piagetianas direcionaram-se à Psicologia Genética para investigar
a gênese de conceitos relacionados ao meio físico, natural e social junto a crianças e adolescentes. O
conjunto dessas pesquisas, como assinala Piaget (1983b), permitiu-lhe chegar à fase posterior de sua
obra, denominada Epistemologia Genética. É como se por meio da investigação e compreensão do sujeito
psicológico – particular e situado – tivesse alcançado o sujeito epistêmico - geral e universal. O sujeito
epistêmico representa a resposta a que o autor pode chegar até o final de sua vida à questão-chave de sua
obra: por meio da teoria da equilibração, o autor reorganiza e sistematiza conceitos essenciais de sua obra [...]
Jean Piaget escreveu como autor e em co-autoria, mais de sessenta livros que registram o desenvolvimento
de suas pesquisas e o consequente aprimoramento de sua teoria. Dentre seus escritos, apenas duas obras
tratam de assuntos relacionados à educação: Psicologia e Pedagogia e Para onde vai a Educação? [...]
(FABRIL, 2008, p. 11).
Mesmo tendo publicado poucas obras na área da educação, esse educador tornou-se referência para muitos
pensadores que vieram à posterióri, como Marta Kohl de Oliveira, por exemplo.
Na teoria piagetiana, de acordo com Sorato (2009), a construção do conhecimento ocorre quando acontecem
ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando, dessa maneira, o desequilíbrio, resultam em assimilação
ou acomodação e assimilação dessas ações e, assim, a construção de esquemas ou conhecimentos.
Resumidamente, é possível entender que uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta
fazer uma acomodação e após uma assimilação e equilíbrio é então alcançado.
A partir do exposto, compreendemos que, para Piaget, o conhecimento é cumulativo e de origem sensorial. Esse
estudioso dispõe o desenvolvimento humano em períodos, os quais são: 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos);
2º período: Pré- operatório (2 a 7 anos); 3º período: Operações Concretas (7 a 11 ou 12 anos); e 4º período:
Operações formais (11 ou 12 anos em diante) (BROTHERHOOD; GALLO, 2009).
No primeiro período, Sensório Motor (0 a 2 anos), ocorre a percepção e movimentos na exploração no meio. É a
fase do egocentrismo, o próprio corpo do bebê é a referência única e constante, a imitação é presente.
No segundo período, Pré-operatório (2 a 7 anos) é anterior a representação lógica do pensamento. Há o
desenvolvimento de uma linguagem afetiva que só se torna comunicativa após os 2 anos de idade, fase em que a
linguagem mostra-se mais desenvolvida e fortalecida.
O terceiro período, Operações Concretas (7 a 11 ou 12 anos), a criança já busca no adulto a objetividade nas
respostas, o adulto é considerado a fonte de conhecimento. Nessa fase, o pensamento é lógico e já pode ser
percebido, ocorrendo, também, o início da socialização. O que vai diferenciar esse período da adolescência é
que, nas operações concretas, a criança estabelece todo o seu raciocínio lógico a partir de experiências vividas
no mundo concreto.
Já o quarto e último período, Operações Formais (11 ou 12 anos em diante) o raciocínio lógico ultrapassa as
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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experiências vividas, pois o adolescente é capaz de analisar questões propostas sem que essas estejam presas
ao real. Sua procura está em uma relação entre os iguais. No aspecto cognitivo, há o domínio da abstração e da
generalização, favorecendo o adolescente a capacidade de lidar com conceitos como: liberdade e justiça.
Na idade adulta não surge nenhuma nova estrutura mental.
Questionamos então: e na idade adulta, não há um período esboçado? Na referida fase não surge nenhuma
nova estrutura mental. O indivíduo caminha então para: um aumento do desenvolvimento cognitivo e para maior
compreensão dos problemas. Tais pontos influenciam os conteúdos emocionais, assim como a sua forma de estar
no mundo.
Piaget reconhece, porém, que apesar de ponderar faixas etárias como formas específicas de pensar e atuar
sobre o mundo pode ocorrer atrasos ou avanços individuais em relação à norma de determinado grupo. De
acordo com Sorato (2009), essa variação pode ser devida à natureza do ambiente em que as crianças vivem. É
possível compreender que, para Piaget, os contextos que colocam desafios às crianças são potencialmente mais
estimulantes para o desenvolvimento cognitivo.
É inegável a importância da teoria de Piaget para a educação. A influência de seus estudos sobre o processo
educacional foi bastante enfática, mesmo não tendo a pretensão de agir dessa maneira. Na realidade, tudo o que
ele queria era compreender como ocorre o processo de desenvolvimento humano, mas estudiosos utilizam-se
desses conhecimentos para buscar compreensões acerca da criança e a apreensão do conhecimento realizada
pela mesma, em especial, nas dependências da instituição escolar.
Outro autor abordado é HENRI PAUL HYACINTHE WALLON (1879- 1962). De origem francesa, sua postura científica
buscava fundamentação no marxismo. Importava-se para com a compreensão acerca do desenvolvimento humano.
Formou-se em medicina e pôs-se a estudar acerca de questões referentes à Psicologia do Desenvolvimento.
Henri Wallon – médico francês preocupado com o processo de desenvolvimento humano.
Henri Wallon elaborou uma teoria sobre o desenvolvimento humano, pois se preocupava muito com a educação,
o que o fez escrever sobre as ideias pedagógicas apontando bases para que a psicologia oferecesse à atuação
pedagógica um campo teórico, mostrando o uso que a pedagogia pode fazer dessas bases, enriquecendo a
experiência pedagógica (DOURADO; PRANDINI, 2001). Contudo, sua teoria ainda é pouco divulgada e conhecida
nos meios educacionais. Também se volta para a compreensão da psicogenética, nesse sentido, Dourado &
Prandini (2001, p. 2) ressaltam que a psicogenética de Wallon é
“[...] essencialmente sociocultural e relativista, com forte lastro orgânico, a teoria de Wallon considera o
desenvolvimento da pessoa completa integrada ao meio em que está imersa, com os seus aspectos afetivo,
cognitivo e motor também integrados [...] Assim, a ênfase é para a integração – entre organismo e meio e
entre as dimensões: cognitiva, afetiva, e motora na constituição da pessoa. A pessoa é vista como o conjunto
funcional resultante da integração de suas dimensões, cujo desenvolvimento se dá na integração de seu
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aparato orgânico com o meio, predominantemente o social”.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Percebemos que Wallon consegue propor a interação entre o organismo e o meio social. Segundo Basso (2010),
Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que a
criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou
um adulto não são capazes de se desenvolver sem nenhum tipo de conflito. A criança se desenvolve com seus
conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica de interação com o outro, é um
desenvolvimento conflituoso. A criança, para Wallon, é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindose em um ser sociocognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no
conjunto de seus comportamentos e suas condições de existência (BASSO, 2010).
O estudioso dividiu a sua teoria afirmando que, no início do desenvolvimento, existe uma preponderância do
aspecto biológico sobre a criança, para Galvão (2000) no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio
regida pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional. No estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos),
predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. Nesse estágio,
estão presentes as relações cognitivas da criança com o meio. Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico,
aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá para a própria ação.
Os estudos de Henri Wallon ainda não alcançaram notoriedade no cenário educacional.
A divisão do desenvolvimento por estágios realmente nos faz perceber semelhanças com a obra piagetiana. O que
ressaltamos é ainda a pouca veiculação da teoria de Henri Wallon no meio educacional.
LEV SEMINOVICH VIGOTSKY psicólogo russo, nasceu em 5 de novembro de 1896, em Orsha. Era judeu, na
época uma condição difícil para se prosperar nos estudos, mas seus pais lhe proporcionaram um tutor particular
como forma de investimento no processo educacional. Vigotsky era um estudioso empenhado em questões
relacionadas à psicologia, às artes, à linguística e às ciências sociais.
Formou-se em Direito pela Universidade de Moscou, teve que conviver com a tuberculose por 14 anos. Trabalhou
no Instituto de Psicologia de Moscou demonstrando muita preocupação para com a educação. Morreu aos 37
anos, na Rússia (REGO, 1995). Muitos de seus escritos encontram-se, ainda, no idioma russo.
A partir dos estudos realizados por Vigotsky, podemos constatar que o ser humano está profundamente ligado ao
movimento histórico e social que o permeia. Esse autor buscou, na teoria de Karl Marx, as bases para a formulação
da sua teoria. Isso nos indica uma preocupação para com o ser humano em sua totalidade.
A formação do psiquismo humano a partir dos pressupostos vigotskyanos tem o historicismo como grande
produtor e norteador dessa teoria, assim como de seus continuadores, como os soviéticos Luria (que já vimos
anteriormente) e Leontiev, ambos conhecidos no meio educacional do Brasil (SILVA; POSSIDÔNIO, 2007).
Na educação, o pensamento de Vigotsky encontrou relativa propagação. Ao defender as zonas de desenvolvimento
real e proximal, mostrou a importância dos processos educacionais para a estimulação da criança. A zona
de desenvolvimento real (ZDR) refere-se aquilo que a criança tem condições de realizar sozinha. A zona de
desenvolvimento potencial (ZDP) refere-se aquilo que a criança realiza, porém, somente com o auxílio de alguém
mais experiente.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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Nosso último estudioso a ser mencionado nessa fase introdutória é SIGMUND FREUD, (1856-1939). Ele foi um
médico vienense que modificou a forma de se compreender a vida psíquica, criando e sistematizando o conceito
de inconsciente. Especializou-se em psiquiatria e trabalhou em um laboratório de fisiologia, ministrou, também,
aulas de neuropatologia. Podemos afirmar que sua teoria é muito extensa e expressiva, a sua contribuição para a
ciência equivale às contribuições de Karl Marx na compreensão dos processos históricos e sociais.
A descoberta da Psicanálise é considerada um marco na história da humanidade.
O pensador criou a PSICANÁLISE. O termo psicanálise é utilizado para se referir teoricamente a um método de
investigação e a uma prática profissional. É um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a vida psíquica
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).
Contudo, para o meio educacional, o maior legado deixado por Freud foi acerca da descoberta do inconsciente
e da sexualidade infantil. Dedicaremos mais a compreensão da segunda. O pensador defendia que a função
sexual existe desde o princípio da vida, logo após o nascimento, ressaltando que o período do desenvolvimento
da sexualidade é longo e complexo até chegar a idade adulta, período em que as funções de reprodução e de
obtenção do prazer podem estar associadas, tanto no homem quanto na mulher.
O desenvolvimento psicossexual mostra o amadurecimento sexual infantil dividido em fases – oral, anal, fálica e Complexo
de Édipo.
Segundo Bock; Furtado; Teixeira (1999), Freud destacou o processo de desenvolvimento psicossexual à função
sexual ligada à sobrevivência, o prazer é encontrado no próprio corpo.
Para o autor, as fases do desenvolvimento psicossexual são: Fase oral; Fase anal; Fase fálica; Complexo de Édipo.
Na Fase oral: a zona de erotização é a boca. Na Fase anal: a zona de erotização é o ânus. Na Fase fálica: a zona
de erotização é o órgão sexual. Logo após a manifestação dessas fases, ocorre o período de latência que se
prolonga até a puberdade. Há uma diminuição das atividades sexuais, um intervalo. Na puberdade temos a fase
genital, quando o objeto de desejo não está mais no próprio corpo, mas sim em um objeto externo ao indivíduo,
“o outro”.
Temos, então, a manifestação do Complexo de Édipo – é a fase de estruturação da personalidade. Ocorre entre 3
e 5 anos, durante a fase fálica. Nesse complexo, a mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai é o rival que impede
seu acesso ao objeto desejado. O menino procura ser o pai para “ter” a mãe, escolhendo-o como modelo de
comportamento, passando a internalizar as regras e normas sociais impostas pela autoridade paterna. Pelo medo
da perda do pai, desiste da mãe pela riqueza do mundo social e cultural. Suas regras básicas de comportamento
foram internalizadas pela identificação com a figura paterna. Esse processo ocorre também com as meninas,
sendo invertidas as figuras de desejo e de identificação (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).
Mas, é preciso ressaltar que Freud não tinha a preocupação para com a instituição escolar, inclusive, fica clara a
ideia de que a sua teoria não possuía o foco na educação e nem mesmo na Pedagogia. Segundo Oliveira (2008,
p. 246):
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
A Psicanálise é para o professor enquanto indivíduo e não para a pedagogia em si.
“[...] é possível afirmar que a Psicanálise serve ao professor como indivíduo, e de modo algum à Pedagogia
como um todo. Ela ajuda na assimilação de uma ética, de um modo de conduzir a educação. Em cada
indivíduo ela pode atuar de uma forma, produzindo saberes. Além disso, pode ser útil à Antropologia e
Filosofia, dentre outras disciplinas. Logo, se a Psicanálise trabalha com o inconsciente, do qual não se pode
prever nada, é impossível a criação de um método que vincule Pedagogia e Psicanálise, pois isto implica
numa imprevisibilidade”.
A relevância dos referidos estudiosos mostram a convergência de algumas posturas frente ao manejo realizado
com crianças. É cabível acentuar, em linhas gerais, as seguintes considerações trazidas por Luria, Piaget, Wallon,
Vigotsky e Freud:
1) preocupação com o desenvolvimento humano de maneira ampla, ou seja, nos aspectos neurológico, motor,
emocional e psicológico;
2) necessidade da contextualização histórica acerca da teoria dos mesmos;
3) observação da criança enquanto sujeito na história, contrariando a visão das mesmas enquanto adultos em
miniaturas, postura essa defendida por Ariès;
4) maior ou menor dedicação teórica aos aspectos educacionais;
5) preocupação manifestada quanto ao processo de desenvolvimento da criança.
A partir da postura desses pensadores, educadores e estudiosos, é possível ampliar o campo e o olhar de atuação
nos dias de hoje, fundamentando o desenvolvimento da criança interligado a diversos setores, acentuando, dessa
forma, o papel da família, da escola e dos profissionais mediante a realização de todo ou qualquer trabalho com o
público infantil, em especial àqueles dedicados ao aspecto neurológico e neuromotor.
Você sabia que dificuldade de aprendizagem e distúrbio de aprendizagem são termos distintos? Você conhecerá essa
diferença no decorrer de suas leituras.
Na SEGUNDA UNIDADE, planejamos estudar as dificuldades e os distúrbios de aprendizagem, assim como os
fatores que ocasionam problemas e dificuldades de aprendizagem, assunto esse, que você precisa conhecer
enquanto pedagogo. Dois pontos serão destacados nessa unidade: a hiperatividade e o déficit de atenção.
No que diz respeito à dificuldade de aprendizagem, as mesmas dizem respeito a qualquer alteração no aprendizado,
considerando todas as fases do desenvolvimento escolar. São consequências extrínsecas ao indivíduo, por vezes,
transitórias e com devida intervenção são extintas.
Já o distúrbio de aprendizagem se diferencia da dificuldade de aprendizagem por se tratar de um conjunto de
sintomas ou comportamentos que comprometem o processo de aprendizagem, ocasionando ao indivíduo muito
sofrimento e perturbação. Nesse, há dois aspectos, o orgânico e o cognitivo. O aspecto orgânico diz respeito à
construção biológica do sujeito, está relacionada ao corpo. O aspecto cognitivo está ligado ao funcionamento
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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das estruturas cognitivas. Nesse caso, o problema de aprendizagem residiria nas estruturas do pensamento do
sujeito. Viu como não é tão complicado assim? Com certeza, no decorrer das leituras do livro, sua compreensão
em relação a isso só tende a aumentar e esse é o nosso objetivo, continue lendo...
Existem dois distúrbios de aprendizagem muito comentados na mídia, em reuniões educacionais, trabalhos
científicos e conversas informais, a hiperatividade e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
A hiperatividade é um sintoma manifesto.
A criança hiperativa é aquela que todos imaginam estar ligada a potencia de 220 volts. São os rotulados como
“endiabrados”, não param quietos, não permanecem nas carteiras, falam sem parar, são impulsivos! A hiperatividade
é um sintoma, que pode, ou não, vir acompanhada de algum transtorno, déficit, síndrome ou deficiência mental.
As crianças e adultos que manifestam o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o TDAH, possuem
um transtorno orgânico, ou seja, possuem uma alteração nos neurotransmissores. O diagnóstico é, geralmente,
realizado a partir do DSM-IV.
Ao continuar lendo o livro, você chegará a TERCEIRA UNIDADE, nela veremos as intervenções escolares nas
dificuldades e distúrbios de aprendizagem, observando as características específicas dos mesmos e a metodologia
adequada a ser utilizada pelo docente em sala de aula.
A principal colocação que sentimos necessidade de fazer é quanto à informação que o professor precisa ter a
respeito dos distúrbios de aprendizagem. Conhecendo, de forma ampla, os distúrbios e as principais características
dos mesmos ocorrerá maior facilidade para o encaminhamento correto aos profissionais que atuam com a área
educacional: psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e neuropsicólogos.
Por isso, nós professores precisamos ter clareza de quanto à metodologia aplicada em sala é fundamental. Ser
diagnosticada com determinado tipo de distúrbio de aprendizagem não significa que a criança está fadada a nunca
aprender. Pelo contrário, com uma atuação mais incisiva do professor em sala isso é possível sim. Destacamos
que não estamos com o objetivo de responsabilizar, em excesso, o professor, na verdade, defendemos a
sustentabilidade quanto ao referencial teórico para que a atuação fique mais fluida, afinal, não existe prática sem
um bom conhecimento acerca da teoria, por isso, caro aluno, para saber como proceder na prática, precisamos
conhecer também e com propriedades a teoria, por isso, lembre-se, você como professor precisa ser um exímio
leitor.
Na QUARTA UNIDADE, as noções terapêuticas quanto a cada caso a ser trabalhado com as crianças será o
destino dos nossos estudos. É um processo terapêutico que envolve o trabalho de profissionais de diversas áreas,
mediante fatores específicos da aprendizagem. Ao encaminhar um aluno para um psicopedagogo, por exemplo,
compreendemos que a ação desse será na tentativa de sanar as lacunas deixadas no processo de ensino e
aprendizagem, independente se está trabalhando com uma criança que apresente dificuldade ou o distúrbio de
aprendizagem. A atividade psicopedagógica é tanto preventiva quanto terapêutica.
14
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Mas, como já afirmamos, não é só o psicopedagogo que lida com a dificuldade e o distúrbio de aprendizagem,
profissionais da área da saúde, como os médicos e os neurologistas, além de psicólogos, psicopedagogos,
psicomotricistas, fonoaudiólogos e oftalmologistas, têm, também, relativa contribuição.
Você sabia que os psicopedagogos estão organizados em uma associação?
É a ABPp.
Acesse o site <http://www.psicopedagogia.com.br> e fique atento às notícias sobre o desenvolvimento infantil.
Na QUINTA UNIDADE, a aprendizagem ligada aos problemas emocionais, assim como a ligação entre a afetividade
e o processo de aprendizagem e os distúrbios emocionais terão a nossa preocupação.
Você, como professor, terá algumas dúvidas como: As emoções interferem no processo de aprendizagem? De
que maneira? Buscamos respostas para suas perguntas em Bueno (1996), para esse autor, afeto significa afeição,
amizade, simpatia. Uma pessoa afetuosa é considerada uma pessoa afável. Então, um professor afetuoso é um
professor afável. Acreditamos que afirmar isso significa poder salientar que o olhar do professor sobre a dificuldade
de aprendizagem ou sobre o distúrbio de aprendizagem necessita ser diferenciado do olhar das outras pessoas
que lidam com a criança. Rotulações e opiniões pautadas no senso comum não são bem acolhidas ou bem-vindas
ao meio escolar, pois naquele ambiente poderá ocorrer o favorecimento do desenvolvimento da criança em seu
processo de ensino aprendizagem.
Acreditamos que o ser humano é dotado de racionalidade e também de afeto. Não há como desvincular esses
dois pontos, mas é possível entender como ocorrem na rotina diária da criança. A afetividade não modifica o
funcionamento da inteligência, mas pode acelerar ou atrasar, podendo interferir no seu funcionamento. Dessa
maneira, a função de mediador precisa ser ocupada pelo professor, para que o processo de aprendizagem ocorra.
Convidamos, você, caro aluno, durante o processo de estudo e leitura, a atentar-se para a seguinte questão:
“Qual a necessidade de retornarmos ao contexto histórico para compreendermos o processo de desenvolvimento
infantil, nos atentando para as nuances apresentadas pelo mesmo, em especial, naquilo que tange a dificuldade/
distúrbio de aprendizagem?”
Durante as aulas, reflita, indague, questione sobre a questão proposta. Esse é o caminho para o processo de
assimilação do conhecimento científico, o qual acreditamos ter o contexto escolar como meio para a facilitação do
processo de aprendizagem.
Precisamos de uma resposta sua! Até breve.
Professoras Márcia e Nadyesda
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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GLOSSÁRIO
Para ajudá-lo na compreensão de seus estudos preparei, para você, um glossário com termos que você encontrará
no decorrer de suas leituras. Fique atento!!!
Abstração: consiste de focalizar nos aspectos essenciais inerentes a uma entidade e ignorar as propriedades
“acidentais”. Em termos de desenvolvimento significa concentrar-se no que um objeto é e o que ele faz. O uso de
abstração preserva a liberdade para tomar decisões de desenvolvimento ou de implementação apenas quando há
um melhor entendimento do problema ou questão a serem resolvidos (RICARTE, 2001).
Assimilação: na fonética, a assimilação é a transmissão de um ou vários movimentos articulatórios de um fonema
vizinho, ou próximo, o que pode determinar até o igualamento deles. Tomando essa colocação para o contexto
estudado, é a capacidade de articular conceitos e informações a pontuações já concebidas (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2010).
Ariès: estudioso francês dedicado ao estudo da história da criança e da família (ARIÈS, 1978).
Cognição: a aquisição de um conhecimento através da percepção. É o conjunto dos processos mentais usados
no pensamento e na percepção, também na classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento
através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas. De uma maneira
mais simples, podemos dizer que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre
toda informação captada através dos cinco sentidos (CIÊNCIA E COGNIÇÃO, 2010).
Dedução: Consequência tirada de um raciocínio; conclusão (DICIONÁRIO ON-LINE DE PORTUGUÊS, 2010).
Defectologia: Campo de estudo que se estudam as pessoas que apresentam algum tipo de “defeito” – aqueles
que não se enquadram nos parâmetros da normalidade. Seja sob uma condição física, seja sob uma condição
psicológica (MARTINS, 2010).
Epistemologia: A epistemologia é o ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade
do conhecimento (ESTUDOS SOBRE INTELIGENCIA ARTIFICIAL, 2010).
Funções Psicológicas Superiores: As funções psicológicas superiores (FPS), tais como a atenção, memória,
imaginação, pensamento e linguagem são organizados em sistemas funcionais, cuja finalidade é organizar
adequadamente a vida mental de um indivíduo em seu meio (VERONEZ; DAMACENO; FERNANDES, 2005).
Generalização: Ação de generalizar; resultado dessa ação.
Operação do espírito que consiste em comparar as qualidades comuns a uma classe de indivíduos, desprezando
as suas diferenças e reunindo essas qualidades comuns numa só ideia, que as fixa e define (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2010).
Historicismo: O historicismo é a ideia de que a história obedece a certas leis, que há uma forma racional de
compreendê-la e prevê-la. O marxismo, por exemplo, é historicista, pois faz da história uma história da luta das
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
classes; e prevê sua dissolução, isto é, acha a única síntese possível (MARTUCHELLI, 2007).
Inferência: dedução, conclusão (BUENO, 1996).
Inconsciente: para a psicanálise, o inconsciente é um “lugar” desconhecido pela consciência: uma "outra cena".
Trata-se de uma instância ou sistema constituído por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias, o
pré consciente e o consciente (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).
Karl Marx: Economista, filósofo e socialista alemão, Karl Marx nasceu em Trier, em 5 de Maio de 1818 e morreu
em Londres a 14 de Março de 1883. Estudou na universidade de Berlim, principalmente, a filosofia hegeliana,
e formou-se em Iena, em 1841, com a tese Sobre as diferenças da filosofia da natureza de Demócrito e de
Epicuro. Em 1842, assumiu a chefia da redação do Jornal Renano, em Colônia, onde seus artigos radicaldemocratas irritaram as autoridades. Em 1843, mudou-se para Paris, editando, em 1844, o primeiro volume dos
Anais Germânico-Franceses, órgão principal dos hegelianos da esquerda. Em 1844, conheceu, em Paris, Friedrich
Engels, começo de uma amizade íntima durante a vida toda. Foi, no ano seguinte, expulso da França, radicandose em Bruxelas e participando de organizações clandestinas de operários e exilados. Ao mesmo tempo em que
na França estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto
Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada marxista. Voltou para Paris,
mas assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em Colônia, primeiro jornal diário francamente socialista.
Depois da derrota de todos os movimentos revolucionários na Europa e o fechamento do jornal, cujos redatores
foram denunciados e processados, Marx foi para Paris e daí expulso, para Londres, onde fixou residência. Em
Londres, dedicou-se a vastos estudos econômicos e históricos, sendo frequentador assíduo da sala de leituras
do British Museum. Escrevia artigos para jornais norte-americanos, sobre política exterior, mas sua situação
material esteve sempre muito precária. Foi generosamente ajudado por Engels, que vivia em Manchester em
boas condições financeiras. Em 1864, Marx foi co-fundador da Associação Internacional dos Operários, depois
chamada I Internacional, desempenhando dominante papel de direção. Em 1867, publicou o primeiro volume da
sua obra principal, O Capital. Dentro da I Internacional encontrou Marx a oposição tenaz dos anarquistas, liderados
por Bakunin, e em 1872, no Congresso de Haia, a associação foi praticamente dissolvida. Em compensação,
Marx podia patrocinar a fundação, em 1875, do Partido Social-Democrático alemão, que foi, porém, logo depois,
proibido. Não viveu bastante para assistir às vitórias eleitorais desse partido e de outros agrupamentos socialistas
da Europa (CULTURA BRASIL, 2010).
Prognóstico: Previsão, suposição sobre o que deve acontecer. Sinal, indício de acontecimento futuro. Medicina
Parecer do médico a respeito da evolução provável de uma doença (DICIONÁRIO ON-LINE DE PORTUGUÊS,
2010).
Socialismo: O Socialismo é um sistema político-econômico ou uma linha de pensamento criado no século XIX
para confrontar o liberalismo e o capitalismo. A ideia foi desenvolvida a partir da realidade na qual o trabalhador
era subordinado naquele momento, como baixos salários, enorme jornada de trabalho entre outras. Nesse sentido,
o socialismo propõe a extinção da propriedade privada dos meios de produção e a tomada do poder por parte do
proletariado e controle do Estado e divisão igualitária da renda. Os precursores dessa corrente de pensamento
foram Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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1858), conhecidos como criadores do socialismo utópico. Outros pensadores importantes que se enquadram no
socialismo científico são os conhecidos Karl Marx e Friedrich Engels (MUNDO EDUCACAO, 2010).
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
SUMÁRIO
UNIDADE I
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO............................................................................................................. 25
DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO E PSICOMOTOR................................................................................... 26
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO................................................................................................................... 29
CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET............................................................................................................................. 34
CONTRIBUIÇÕES DE WALLON........................................................................................................................... 35
CONTRIBUIÇÕES DE FREUD.............................................................................................................................. 35
CONTRIBUIÇÕES DE VIGOTSKI.......................................................................................................................... 36
UNIDADE II
AS DIFICULDADES E OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
FATORES QUE OCASIONAM PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM......................................41
AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM.............................................................................................................41
OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM............................................................................................................... 43
HIPERATIVIDADE.................................................................................................................................................. 45
DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH).......................................................................................... 46
UNIDADE III
INTERVENÇÕES ESCOLARES NAS DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DE DISTÚRBIOS........................................................................................ 53
O PROFESSOR E A METODOLOGIA ADEQUADA.............................................................................................. 59
UNIDADE IV
INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS
O TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO E ENCAMINHAMENTOS ESPECÍFICOS.............................................. 65
UNIDADE V
APRENDIZAGEM E PROBLEMAS EMOCIONAIS
AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM....................................................................................................................... 73
DISTÚRBIOS EMOCIONAIS..................................................................................................................................74
CONCLUSÃO......................................................................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS...................................................................................................................................................... 81
UNIDADE I
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
Professora Me. Márcia R. de Sousa Storer
Professora Esp. Nadyesda Lessandra F. Martinez
Objetivos de Aprendizagem
• Estabelecer critérios de análise sobre o normal e o patológico.
• Identificar “o que se pode fazer por/para” antes de estabelecer o grau de patologia e normalidade.
• Compreender que na infância o que pode caracterizar-se patológico poderá atingir grau de normalidade
de acordo com o processo de desenvolvimento.
• Conhecer o sistema nervoso central e sua sistematização na organização das atividades no organismo,
em especial da aprendizagem e da psicomotricidade.
• Adquirir conhecimento sobre as teorias que norteiam estudos sobre o desenvolvimento cognitivo
desde a infância.
• Refletir a respeito das contribuições científicas de Luria, e sucessivamente Piaget, Wallon, Freud e
Vigotski.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Alterações do Desenvolvimento
• Desenvolvimento Neurológico e Psicomotor
• O Desenvolvimento cognitivo
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
INTRODUÇÃO
Iniciaremos nossos trabalhos estudando conceitos de normal
e patológico, tendo a ótica voltada para o senso comum e o
científico. Após estabelecer critérios de definição e ter em
evidência que, mesmo havendo antítese entre ambos, não
há como separar um do outro, o estudo continuará através
da perspectiva de não apresentar o patológico existente
como um “rótulo” imposto sobre um indivíduo, mas, antes
de tudo, identificar “o que se pode fazer por/para” o mesmo.
A maturidade, a imaturidade e o desenvolvimento agregam
uma análise de conflitos que acompanham o processo de
crescimento de todo ser humano. Na infância é que ocorrem
os momentos de maior desordem afetiva e emocional, pois
crescer requer sacrifícios constantes e compreender o
que está acontecendo é uma tarefa interna que conta com
auxílio externo. O meio que o indivíduo cresce, favorece seu
desenvolvimento de maneira positiva e negativa à medida
que ele internaliza este processo.
São importantes estes conhecimentos prévios para uma compreensão maior sobre as dificuldades na aprendizagem,
casos a serem trabalhados por apresentarem “lacunas” no processo de alfabetização, no desenvolvimento, na
cognição, na socialização, questões emocionais, ou casos de origem genética etc.
Conheceremos, ainda, como funciona o sistema nervoso central e suas ligações com as reações e atividades do
organismo humano, integrando sensações às respostas motoras.
As substâncias químicas produzidas em nosso organismo, responsáveis por algumas sensações e o equilíbrio
emocional. As regiões do cérebro que organizam nossas atividades motoras, a fala, a audição, o tato, a
aprendizagem propriamente dita.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
23
E evidentemente, as relações existentes com as dificuldades de aprendizagem e transtornos. Abrangeremos
desde definição a características próprias de crianças, dando conotação a algumas dicas para identificação
sem rotulação e encaminhamento adequado ao tratamento específico dos casos. Vale ressaltar que distúrbio,
transtorno, dificuldade e déficit possuem características diferentes em seus significados, respectivamente,
indicando desordem, contrariedade, impedimento, deficiência (prejuízo).
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
Ainda, refletiremos o papel necessariamente
ativo da família, da escola e de profissionais
mediante o trabalho. É importante incluir o
conhecimento, para não haver discriminação
profissional de educadores e todo corpo
educativo ao trabalhar a inclusão em sala
de aula e entre colegas durante intervalos
das aulas por mera ignorância dos fatos e o
comprometimento ético que todo profissional
deve adquirir é de grande responsabilidade
social.
Conhecer como acontece o processo do desenvolvimento cognitivo deve, ou deveria ser a base para análise
durante o trabalho de todos que possuem compromisso com a aprendizagem e a educação.
Saber quem atinge êxito e apresenta dificuldades em cada etapa da vida desde o nascimento é de responsabilidade
de todos os envolvidos: pais, parentes, amigos, professores, comunidade escolar e a sociedade. Informar é
uma tarefa que deveria ser exercida por todos que possuem o conhecimento. Quanto mais informamos, mais
combatemos a ignorância e o senso comum que, muitas vezes, é injusto e rotulante.
Sobre o processo cognitivo no funcionamento cerebral, estudaremos algumas das contribuições de Luria e alguns
autores de teorias que fundamentam o desenvolvimento cognitivo (em linhas baseadas no social, no ambiente, no
comportamento ou na psicanálise). Escolhemos para nossos estudos: Piaget, Wallon, Freud e Vigotski.
Segundo os estudos sobre a evolução do cognitivo feitos por Piaget, o indivíduo passa por estados classificados
como adaptação (pode intervir a experiência sobre determinado objeto e ainda a transmissão social exercida
sobre o indivíduo), assimilação e acomodação; e ainda, por períodos de maturação de acordo com a idade da
criança: Período Sensório-motor (de 0 a 2 anos de idade), Período Pré-Operatório (de 2 a 7 ou 8 anos), Período de
operações concretas (de 8 a 11 ou 12 anos), Período de Operações Formais (de 8 a 14 anos).
Nos estudos de Wallon há fases que fazem parte de estados transitórios de equilíbrio no indivíduo, sendo um
processo que sofre mudanças quantitativas e qualitativas partindo de uma base material de maneira dinâmica.
Os estudos sobre as fases que correspondem a “sexualidade infantil”, segundo Freud diz respeito a todas as
atividades na primeira infância: Fase Oral (0 a 1 ano), Fase Anal (2 a 4 anos), Fase Fálica (de 4 a 6 anos), Fase de
Latência (de 6 a 11 anos) e Fase Genital (a partir dos 11 anos).
24
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
A base dos estudos de Vigotski se concentra no conjunto de modificações que ocorrem no indivíduo através da
interação de ações exteriores e interiores, possibilitando, assim, o desenvolvimento cognitivo.
ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO
Definindo Normal e Patológico...
De acordo com a psicopatologia, é considerado normal e patológico tudo que se refere à natureza do problema
humano. A respeito da saúde, uma pessoa é considerada normal, comumente, por estar bem fisicamente,
mentalmente e socialmente. O ser “normal” remete a saúde integralmente orgânica física, psíquica e social. Ainda
assim, é de suma importância considerar questões éticas, sociais, culturais, econômicas e políticas.
Ao considerar a avaliação de uma criança, há de se relevar essa tênue junção, pois, o que é patológico pode, com
o tempo, ser normalizado. Ou, o que está normal, tornar-se patológico. Mas, dentro da medicina, o que é normal
e o que é patológico?
Desde Georges Canguilhem1 faz-se evidente que não há definição de um sem o outro. Ainda mais, quando
associados ao significado fonético de anomalia (o que foge dos padrões de normalidade) e anormal (o que não é
normal).
A reflexão sobre estas definições, remete ao comprometimento profissional em questionar antes tudo, o que se
pode fazer pela criança e, assim, estabelecer os parâmetros sobre os sintomas da mesma. Não julgar o patológico
como um estigma, mas estabelecer meios de padronizar os sintomas, intervindo no dia a dia da criança de maneira
que ela possa viver com equilíbrio seus limites de normalidade no cotidiano.
Maturidade, Imaturidade e Desenvolvimento...
Todo processo requer esforço, mudanças, adaptação, compreensão. Assim, quando o ser humano cresce, seu
corpo dá sinais de modificação, seu cérebro capta essas transformações físicas e busca, com esforço, adaptar-se
a esta realidade. Algumas vezes, sem compreender o que está acontecendo, outras, atingindo esta compreensão,
consegue conquistar com maturidade sua posição social, entre a família, os amigos, o meio em que vive.
O processo de maturação tem um “peso” considerável sobre as crianças. O conflito é constante, pois querer sair do
aconchego de ser infantil. Bate de frente o depender e o ser independente. As crianças procuram imitar os adultos
de sua convivência: pais, irmãos, professores etc. e acabam desprezando crianças menores, ou “cuidando” das
mesmas, como um adulto mirim.
No processo de desenvolvimento, a criança interage com o meio e este pode favorecer ou prejudicar seu
crescimento. Não se deve pensar no crescimento meramente genético, mas todo contexto em torno deste processo:
a família, amigos, professores, escola, sociedade. A criança passará por conflitos e à medida que concebê-los
Georges Canguilhem (1904-1995): Filósofo francês, autor de uma tese de doutorado em medicina, com o título de “O normal e o patológico”, iniciando seus estudos em 1943
e encerrando sua tese de 1962 a 1985.
1
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
25
positivamente e negativamente, irão modular sua personalidade, seu eu, seu ser de acordo com seu tempo. E isso
não acontece harmonicamente. Por isso, a sensibilidade de percepção do profissional em distinguir o que faz parte
desse processo e o que está prejudicando essa formação, é fundamental. Saber que uma criança está com um
comprometimento cognitivo, nos remete a avaliar as causas: desordem familiar, conflito em adaptar-se ao grupo
escolar, método do educador, ou problemas de ordem neurológica. Há varias possibilidades e o profissional deve
avaliá-las minuciosamente.
Uma criança madura passa por conflitos, chora, exclui-se e inclui-se no grupo, intimida-se e toma iniciativas,
surpreende todo instante. Ao passo que a imatura, passa pelos mesmos conflitos e o mesmo processo, mas
demora em atingir resultados, sofre muito mais, cansa-se com frequência, frustra-se e até insiste em acomodar
estados que lhe são agradáveis, opondo-se ao “novo”, ao “diferente”, àquilo que não entende.
O desenvolvimento é um processo contínuo no ser humano, e na infância é onde os maiores conflitos se agregam
ao consciente e ao inconsciente, formando um adolescente, um jovem, um adulto e logo um idoso, futuramente
comprometido patologicamente, devido a traumas, lacunas, cobranças exageradas, incompreensão, estigmas de
uma infância mal vivida.
DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO E PSICOMOTOR
Para melhor compreender como acontece o processo neurológico da aprendizagem é de início saber o que são
as células nervosas ou neurônios.
Os neurônios são células estimuladoras que se comunicam entre si e/ou com as células efetuadoras.
No corpo celular, em que estão o núcleo e as organelas é onde ocorre a permissão do impulso nervoso que
responde às sensações no nosso organismo. Os dentritos ampliam a captação das sensações para avaliação no
corpo celular, portanto quanto mais dendritos, mais informações. O axônio funciona como um fio condutor para o
estímulo elétrico criado pelo corpo celular. Aqui os NT (neurotransmissores) produzidos pelo corpo celular devem
atingir a sinapse, que se localizam nas terminações do axônio. Na sinapse acontece a transformação do estímulo
elétrico em estímulo químico (pelos NT: adrenalina, serotonina, dopamina etc.).
26
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Os neurônios produzem substâncias denominadas neurotransmissores clássicos, produzidas no terminal
pré-sináptico, que em resposta à atividade nervosa são liberados, resultando em alterações em sua ação. Os
neurotransmissores são formados a partir de substâncias (glicose, aminoácidos etc.) que passam a barreira
hematoencefálica.
Os neurônios são extremamente numerosos, aproximadamente, 100 bilhões em cada cérebro, capazes de
aprender e fazer em torno de 60 mil conexões, podendo receber 100 mil impulsos por segundo em cada sinapse.
Já na vida intrauterina começa o desenvolvimento neuropsicomotor – por volta da terceira semana de gravidez – ou
seja, as formações de estruturas nervosas começam desenvolver-se no feto. A importância do acompanhamento
desde o pré-natal, o nascimento e a idade escolar se faz, pois identificar má formação e trabalhar estímulos para
a motricidade e processo de aprendizagem é intenso em todos os momentos da vida de um indivíduo. Essas são
medidas preventivas para que a criança ao chegar à escola não venha sofrer de algum atraso na aprendizagem,
ser ou sentir-se emocionalmente agredida e discriminada pelo seu tempo de aprender ser mais lento do que o dos
demais coleguinhas.
O processo de aprendizagem se dá no sistema nervoso central, assim como a memória. Quando uma informação
chega ao sistema nervoso central ela pode transformar-se em memória se a informação já for conhecida, mas,
quando chega uma informação nova acontece a aprendizagem.
Além de conhecer o sistema nervoso central e sua finalidade é importante saber as funções de cada área específica
de nosso cérebro.
No Lobo Occipital acontece a integração visual por meio da recepção dos estímulos nervosos que já conhecemos.
Responsável pelo tato, a interpretação e integração de estímulos visuais provenientes do córtex occipital é o Lobo
Parietal. No Lobo Temporal, em sua parte posterior, ocorre a recepção e decodificação de estímulos auditivos,
enquanto que sua parte anterior está relacionada com o olfato e a gustação e ainda com comportamentos instintivos.
E no Lobo Frontal é onde ocorrem as conexões das diversas funções nervosas compactuadas ao comportamento
humano. É aqui que, devido a lesões, pode ocorrer perda da concentração, diminuição da habilidade intelectual,
déficit de memória e julgamento (na área do córtex pré-frontal), e ainda, paralisia contralateral e falta de sensibilidade
(na área do córtex motor e sensitivo).
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
27
É no córtex cerebral (região do sistema nervoso central) que acontece a transformação dos estímulos recebidos em
aprendizagem. Mas, para que isso aconteça, toda atividade do SNC (Sistema Nervoso Central) deve funcionar de
maneira adequada, em favor das funções nervosas superiores. Na medida em que os estímulos nervosos atingem
o córtex, há uma comparação (ativação da memória) de experiências anteriores, interpretação, decodificação e
compreensão. Se não houver nenhuma “memória” do que está recebendo, isso ficará registrado e tão logo através
de experimentações posteriores se dará o aprendizado. Portanto, só aprenderei se meu SNC (Sistema Nervoso
Central) estiver pronto para receber e interpretar, à medida que eu estiver atento e interessado.
Portanto, não apenas “traumas” ocasionam dificuldades e transtornos na aprendizagem. É importante saber que
“cada caso é único” por mais similar que possa nos parecer. Cada organismo é único, mesmo entre hipóteses e
características parecidas de diagnóstico. Considerando também os estudos neurológicos que não param e podem,
ainda, revelar muitas dimensões sobre o conhecimento do cérebro humano.
Hemisférios cerebrais
O cérebro possui, em geral, dois hemisférios: o esquerdo e o direito. Ambos os hemisférios processam suas
informações de modos diferentes e de maneira inversa – ações cruzadas. O processo de informações acontece no
lado dominante, mas, a aprendizagem acontece quando ambos os hemisférios funcionam de maneira equilibrada,
o que é resultado do fortalecimento do lado não dominante do cérebro.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Todos os movimentos do corpo humano primeiramente são gerados na mente: a ação dos braços, das mãos, pernas,
músculos etc. E quando se faz necessário exercitar esses movimentos cerebrais e físicos, a psicomotricidade
integra técnicas que trabalham o corpo e todo seu desenvolvimento funcional. Sendo, a evolução psicomotora
normal em uma criança, passar dos movimentos globais aos específicos e do movimento espontâneo ao consciente.
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Como estudamos no capítulo anterior, o
cognitivo está relacionado ao funcionamento
cerebral, propriamente com o sistema nervoso
central e a comunicação existente entre
os neurônios, além do trânsito intraneural.
Portanto, para que a aprendizagem aconteça,
não depende apenas da estrutura que acontece
em toda complexidade do funcionamento dos
hemisférios cerebrais, mas também, do tipo de
aprendizado, como a atenção, que acontece na interação entre o tronco encefálico e o córtex frontal e ainda, de
acordo com estudos recentes, o cerebelo (responsável pelo equilíbrio, tônus muscular e coordenação motora)
também recebe uma fatia participativa na mudança do foco da atenção.
Luria, (apud. - MARCELLI, Infância e Patologia, 1976), dividiu em três unidades os sistemas funcionais:
1 – Primeira Unidade Funcional ou de Vigília: mantém em estado de alerta o córtex cerebral, controlando o ciclo
de sono-vigília. A disfunção deste sistema leva a distração.
2 – Segunda Unidade Funcional ou de Recepção, Análise e Armazenamento: está localizada no córtex
cerebral, parietal e occipital.
3 – Terceira Unidade Funcional de Programação, Regulação e Verificação da atividade: nos lobos frontais,
onde acontece a organização da percepção ao conhecimento.
Além das unidades de Luria referentes às funções cognitivas, não se pode esquecer da afetividade localizada
no sistema límbico. E ainda, de algumas contribuições de outros estudiosos à compreensão do desenvolvimento
cognitivo infantil.
Estudos sobre a atenção
Considerando os trabalhos de investigação nas diferentes habilidades: visuais, motoras e cognitivas, percebe-se
que é importante compreender melhor alguns aspectos que envolvem diretamente a atenção.
De acordo com NAGLIERI e ROJAHN (2001), a atenção é um dos processos importantes que afetam muitas áreas
da vida diária dos indivíduos, como o rendimento escolar.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
29
Na concepção de LURIA (1981), o homem recebe um imenso número de estímulos, mas seleciona os mais
importantes, ignorando os restantes. Potencialmente, ele faria um grande número de movimentos, mas destaca
poucos movimentos racionais, que integram suas habilidades, e inibem outros. Entre o grande número de
associações possíveis que existe, ele conserva apenas algumas essenciais para a sua atividade, e abstrai-se das
outras que dificultam o processo racional de pensamento. A seleção da informação necessária, o asseguramento
dos programas seletivos de ação e a manutenção de um controle permanente sobre ele são convencionalmente
chamados de atenção. O caráter seletivo da atividade consciente, que é função da atenção, manifesta-se
igualmente na percepção, nos processos motores e no pensamento, complementa Luria (1981).
Para este autor, existem pelo menos dois grupos de fatores que são determinantes da atenção e que asseguram
o caráter seletivo dos processos psíquicos que determinam tanto a orientação como o volume e a estabilidade
da atividade consciente. O primeiro desses grupos é constituído por estímulos exteriores; o segundo grupo é
constituído de fatores relacionados “com o próprio sujeito e com a estrutura de sua atividade”. Para o estudo
dos mecanismos neurofisiológicos da atenção é fundamental o fato de que o caráter seletivo da ocorrência dos
processos psíquicos, característicos da atenção, pode ser assegurado apenas pelo estado de vigília do córtex, do
qual é típico um nível ótimo de excitabilidade. Esse nível de vigília (excitabilidade) é assegurado pelos mecanismos
de manutenção do tônus cortical.
De acordo com ASTON-JONES et al. (1999), a atenção pode ser vista de acordo com três aspectos distintos. O
primeiro diz respeito à orientação para os eventos sensoriais, que são as diferentes formas de atenção: motora,
visomotora, auditiva etc. O segundo refere-se ao controle executivo que relaciona a atenção à memória semântica
e à linguagem. O terceiro é o estado de vigília e alerta sustentado que prepara o sistema nervoso para os aspectos
anteriormente mencionados.
Sabe-se que o nível de vigília e alerta pode variar desde o coma profundo até um estado de hiperalerta ansioso
(WEINTRAUB e MESULAM, 1985). Esse nível pode ser definido, operacionalmente, pela intensidade de estímulo
necessário para desencadear uma resposta do indivíduo. A qualidade da resposta em função da intensidade do
estímulo permite caracterizar estados como “estupor”, “sonolência”, “alerta” e “hiperalerta” que descrevem, em
ordem ascendente, os níveis de vigília e alerta de uma pessoa.
Segundo WEINTRAUB e MESULAM (1985), as funções atencionais são divididas em duas grandes categorias.
Uma categoria, geralmente, associada com as funções das vias reticulares ascendentes e com o lobo frontal, é
responsável pela manutenção de um tono, ou matriz, atencional geral. Temos como “vigília”, “concentração” e
“perseverança” são utilizados para descrever os aspectos positivos dessa matriz atencional. Qualquer distúrbio
nessa matriz atencional leva à impersistência, perseveração, distratibilidade, vulnerabilidade aumentada à
interferência e inabilidade peculiar para inibir tendências de respostas imediatas, mas não apropriadas.
A focalização e a concentração da consciência são a essência da atenção. Isso implica privar-se de algumas
coisas a fim de interagir eficientemente com outras (ASTON-JONES et al. 1999; KANDEL et al.,2000).
LURIA (1981) afirma que seria um engano imaginar que a atenção da criança pequena pudesse ser atraída somente
por estímulos poderosos e novos ou por estímulos ligados à exigência imediata. Ele ressalta que a criança vive
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
em um ambiente de adultos. Quando a mãe nomeia um objeto e o aponta com o dedo, a atenção da criança é
atraída para aquele objeto que, assim, começa a se sobressair dentre os demais, não importando se ele origina
um estímulo forte, novo ou importante.
Dessa forma, continua LURIA (1981), o processo de atenção pode ser observado não apenas durante o
comportamento organizado, seletivo, mas reflete-se também em indicadores fisiológicos precisos, que podem ser
usados para estudar a estabilidade da atenção.
Além dos trabalhos clássicos referidos por LURIA (1981) abordando os processos da atenção, outros mais recentes
têm demonstrado que o desenvolvimento da atenção passa pelo desenvolvimento de mecanismos cerebrais
inibitórios (van der MOLEN, 2000).
Deve-se entender inibição como o processo de supressão (ou redução) das funções de uma estrutura ou um órgão
pela ação de um outro. Enquanto a capacidade de executar as funções da estrutura suprimida é mantida, ela pode
se manifestar tão logo a ação supressora seja removida. Tradicionalmente, as teorias do desenvolvimento enfatizam
a importância das mudanças na capacidade de armazenar e processar informações durante o desenvolvimento
cognitivo (Van Der MOLEN, 2000).
A ideia, prossegue ainda o pesquisador, de que os processos inibitórios (processo que ocorre no sistema nervoso
central que inibi, retrai, quando reagimos a alguns estímulos retraidamente e não interferimos na modificação do
meio) no sistema nervoso também podem contribuir para as mudanças do desenvolvimento surgir muito lentamente
a partir de investigações recentes sobre o desenvolvimento cognitivo em crianças e sobre outros aspectos do
comportamento. Essa visão de uma participação crucial das funções inibitórias durante o desenvolvimento decorre
de achados sobre diferenças etárias na habilidade a partir da aplicação de uma grande variedade de tarefas que
exigiam inibição para a execução. Ele exemplifica com o dado de que a criança, à medida que se torna mais adulta,
vai se tornando mais apta a suprimir respostas reflexas. A criança torna-se menos sensível aos ruídos, em tarefas
que exigem atenção seletiva, e a distratores, em tarefas que envolvem memorização.
Nessa mesma revisão, VAN DER MOLEN (2000) assume que os processos inibitórios se tornam mais eficientes
ao longo da infância, possibilitando uma entrada menor de informação irrelevante para a memória de trabalho
(antes referida como “memória de curto prazo” e ainda conhecida como “memória operacional” – componente
cognitivo ligado à memória que retém temporariamente algumas informações necessárias para o cumprimento de
funções cotidianas) e aumentando, assim, a capacidade funcional da criança.
Finalmente, ainda segundo o mesmo autor, revisões recentes sobre a relação entre o desenvolvimento cognitivo e
a maturação cerebral têm ressaltado que os resultados de vários paradigmas experimentais têm sido consistentes
com a noção do crescimento no desenvolvimento cognitivo associado à eficiência dos processos e inibitórios.
Essas evidências incluem achados a partir de tarefas de atenção seletiva, tarefas de memória, tarefas que
requerem habilidade para inibir respostas motoras (incluindo tarefas de “sinal de pare”).
Segundo BRODEUR e POND (2001), muitos estudos sobre o desenvolvimento da atenção têm consistentemente
demonstrado que as crianças melhoram, consideravelmente, sua capacidade de responder seletivamente a
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
31
diferentes estímulos do meio ambiente aos três e doze anos. As crianças com desordem de déficit de atenção
parecem demonstrar deficiências em algumas condições seletivas de atenção, mas não em outras. Por exemplo:
crianças com déficit de atenção demonstram dificuldades em tarefas em que é importante ignorar e inibir repostas
aos estímulos irrelevantes, mas desempenham adequadamente tarefas que requerem memória de localização
espacial. Os autores relatam, ainda, experimentos recentes que têm demonstrado não existirem diferenças entre
o desempenho de crianças com déficit de atenção e o de crianças normais em tarefas que envolvem habilidades
relacionadas à velocidade de classificação ou habilidades de atenção auditiva seletiva.
PLUDE et al. (1994) postulam uma conceitualização multidimensional da atenção. Eles “olham” para a atenção
através de um grande modelo no espaço tridimensional, no qual as tarefas de atenção podem ser colocadas ao
longo de um plano. Segundo os pesquisadores, talvez a dimensão mais fundamental (primeira) da atenção seja a
modalidade ou fonte da informação que está sendo processada, a qual poderia ser primariamente visual, auditiva,
somato-sensorial ou mesmo de memória, conforme o modelo que segue (figura 13).
A segunda dimensão se referiria à distribuição da atenção no espaço e no tempo, sendo que esforços de
processamento seriam focados em um objeto específico, ou localização específica, ou, ainda, divididos entre
objetos e eventos.
A terceira dimensão da atenção enfatizaria as várias tarefas que requerem mecanismos de seleção especializados,
como orientação a um estímulo em particular, seleção de um objeto baseado em atributos específicos e outros.
Ainda segundo os mesmos autores, essas três dimensões seriam amplamente independentes umas das outras,
significando que, em uma dada circunstância, nós estaríamos aptos a definir uma modalidade de informação, um
grau de distribuição e uma tarefa a ser executada.
Em ampla revisão, RIDDERINKHOF e van der STELT (2000) afirmaram que a nossa compreensão limitada
das mudanças no desenvolvimento da seleção da atenção, em crianças durante o processo de crescimento, é
consequência de poucas pesquisas sobre o tema.
Os resultados básicos desses estudos mostraram que, nos processos de filtragem atencional e nos arranjos
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
seletivos (dois paradigmas básicos nas pesquisas de atenção), os processos necessários para a seleção da
atenção estão, em essência, presentes nas crianças desde a idade mais tenra; entretanto, prosseguem os autores,
a velocidade e a eficiência desses processos tendem a aumentar à medida que a criança cresce e se aproxima
da adolescência. Em condições ideais de estimulação, o processo de filtragem ocorre nos estágios bem iniciais
de processamento da informação. Porém, estímulos com características menos ideais e a necessidade de tarefas
podem induzir a uma mudança do lócus (foco) da seleção para estágios posteriores de processamento em crianças
mais jovens, enquanto que indivíduos mais velhos estão mais aptos a reservar seus focos anteriores de atenção.
Para RUFF e LAWSON (1990), o alerta sustentado é uma característica da atenção em um indivíduo que representa
a capacidade de manter a atenção ao longo do tempo. O desempenho adequado de muitas tarefas orientadas
segundo a idade, particularmente nas condições estruturadas na escola, requer a habilidade de sustentar a
atenção por longo tempo.
RUFF et al. (1998) afirmaram que, durante a idade pré-escolar, as crianças focam sua atenção por tempo muito
variável em razão do objeto de atenção e em razão da idade. Entre 2,5 e 4,5 anos de idade, vários índices de
atenção aumentam enquanto os de desatenção diminuem.
SARTER et al. (2001) descreveram o construto psicológico, “atenção sustentada”, como um componente
fundamental da atenção, e o caracterizaram pela prontidão do indivíduo em detectar estímulos de ocorrência rara
e imprevisível por períodos prolongados de tempo. O estado de prontidão para responder a esses estímulos é
caracterizado por uma habilidade generalizada para detectar sinais, conhecida como nível de vigilância. A atenção
sustentada, prosseguem os autores, representa uma função atencional básica, a qual determina a eficácia de
aspectos de ordem superior, ou complexos, da atenção (atenção seletiva e atenção dividida) e das capacidades
cognitivas em geral.
A atenção, de acordo com BRACY (1995), é constituída de habilidades executivas. O sistema sensorial atua
continuamente enviando quantidade inimaginável de informações para o cérebro. As informações vindas de alguns
sistemas e parte da informação vinda de outros sistemas sofrem algum tipo de processamento por centros inferiores
do cérebro, de tal forma que o sinal pode ser combinado, separado, ampliado ou diminuído. As informações, puras
ou parcialmente processadas, são posteriormente enviadas aos centros encefálicos superiores, podendo chegar
até as áreas corticais. Nesse momento, é necessário um processamento adicional para trazer a informação a
informação para o consciente, decodificar, integrar, formar pensamentos e imagens (do estímulo), manipular e
utilizar a informação. Todo o conjunto de habilidades envolvidas nessa tarefa é referido como habilidade executiva
e representa vários aspectos da atenção.
As funções executivas
De acordo com FUSTER (apud. 1997), em seu conceito são consideradas como “um conjunto de funções
responsáveis por iniciar e desenvolver uma atividade com objetivo final determinado”, participando entre os
processos cognitivos o estado de alerta, a atenção, o tempo de reação, a desenvoltura e a flexibilidade do
pensamento.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
33
Memória Operacional (ou, memória de trabalho)
É composta por um conjunto de sistemas cognitivos que funcionam entre si (como um espaço de trabalho),
registrando as representações mentais das informações sensoriais para execução das tarefas de trabalho.
CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET
Os estudos de Jean Piaget (1896-1980) tiveram impacto no campo da
Psicologia e da Pedagogia. Seu trabalho pioneiro no estudo do processo
de raciocínio infantil através da interação com crianças resultou em um
progresso no campo do conhecimento da cognição.
Dois conceitos, definidos por Piaget, fazem parte do processo inicial da
aprendizagem: a assimilação (o meio em função do indivíduo) e a acomodação
(o indivíduo em função do meio) sendo a adaptação o ponto de equilíbrio
entre esses dois momentos.
Jean Piaget
Definidos os dois conceitos, Piaget divide o processo de aprendizagem em
períodos de acordo com a idade e desenvolvimento da criança:
- Período Sensório-motor (0 – 2 anos): neste período, o bebê é capaz de ver, pegar e conduzir a boca (sucção)
um objeto. Pode ainda pegar um objeto em uma mão, sugar a mamadeira ou a chupeta e olhar fixamente o objeto,
ou ver o objeto, pegá-lo e conduzi-lo a boca.
- Período Pré-Operatório (2 – 7 ou 8 anos): neste período, a criança substitui o objeto por uma representação
(substituição – função simbólica), sendo ainda conhecido como estágio da inteligência simbólica. A atividade
sensório-motora se torna mais refinada e os movimentos e percepções intuitivas mais sofisticados. As crianças
tornam-se mais egocêntricas, pedem explicação de tudo (os porquês), podem agir por simulação (como se fosse...),
possuem a percepção global (mas não discrimina detalhes) e não relaciona fatos (é o que parece ser). Na avaliação
de quantidade de massa a criança não distingue as situações modificadas de equivalência.
- Período de Operações Concretas (8 – 11 anos): no operatório-concreto a criança estabelece noções de
temporalidade, de espaço e organização. Consegue distinguir aspectos reais e irreais, dependendo do concreto
que consegue abstrair. Tem também a capacidade de verificação e ação do sentido inverso, sendo capaz de anular
a primeira ação observada.
- Período de Operações Formais (8 – 14 anos): as estruturas cognitivas da criança alcançam um nível mais
elevado. A criança consegue atingir um nível de abstração total, pensa logicamente, consegue levantar hipóteses
buscando soluções para problemas matemáticos sem precisar partir do concreto, compreende metáforas
(capacidade lógica e não dedutiva).
34
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
CONTRIBUIÇÕES DE WALLON
Filósofo, médico e psicólogo, Wallon (1879-1962) manteve-se próximo
à educação, contribuindo de maneira especial através de estudos e
observações voltadas às crianças portadoras de deficiência mental.
Para Wallon há fases vividas pela criança, correspondentes a estados de
transição do equilíbrio entre raízes do passado que avançam no seu futuro.
Devido às experiências de contradições vivenciadas, ocorrem crises que
possibilitam a reorganização e passagem para uma nova fase. A este autor
se deve o salto aos conhecimentos sobre a motricidade – eixo do equilíbrio
Wallon
tônico-motor –, um dos eixos de sua referência, sendo também o da
afetividade-emotividade. De acordo com Wallon, todo indivíduo humano é geneticamente social, portanto aprende
e desenvolve suas funções a partir de seu relacionamento com o meio (a expressão e recepção afetiva-emocional).
CONTRIBUIÇÕES DE FREUD
Conhecido como o pai da psicanálise, Sigmund Freud concluiu com maestria
seus estudos na área da cognição, deixando inúmeros seguidores adeptos.
Para Freud a evolução da criança se dá em etapas muito bem definidas sob
o molde da sexualidade que determina alguns tipos de comportamento.
O aspecto de sexualidade ao qual se referia Freud nada mais é do que a
relação da criança com seu próprio corpo. Que a busca pela satisfação, ou
pelo prazer é a fonte de motivação para o comportamento de todo indivíduo,
modificando-se de acordo com a fase que se encontra. Nomeando as fases
de psicosexuais, sendo elas:
Sigmund Freud
Fase Oral (de 0 a 1 ano): tudo que a criança estabelece interesse vai a boca,
região do corpo que, nessa fase, ocasiona maior satisfação (devido a sucção, é através da boca que ela estabelece
ligação com o mundo).
Fase Anal (de 2 a 4 anos): a relação de dar e reter é estabelecida nesta fase. A criança passa a adquirir o controle
dos esfíncteres. Nesta etapa, a criança começa a ter noção de higiene e posse de objetos, estabelecendo limite
do que está fora de seu corpo.
Fase Fálica (de 4 a 6 anos): nesta fase, a criança tem a curiosidade das diferenças entre meninos e meninas e
volta-se para a região genital do seu corpo, identificando uma área de prazer. Apresenta uma manifestação forte
e grandiosa de si mesma, surgindo aqui o complexo de Édipo, em que o menino apresenta intensa referência pela
figura materna e a menina pela figura paterna.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
35
Fase de Latência (de 6 a 11 anos): a característica principal, nesta fase, é um deslocamento da libido para atividades
sociais. O interesse por si, desloca-se para a satisfação gerada nas relações externas. A criança gasta sua energia
em atividades escolares e sociais, investindo no que recebe do externo.
Fase Genital (a partir de 11 anos): tendo início a adolescência, tornam-se nítidas as características de impulsos
sexuais. O adolescente busca “algo para amar” que não seja de seu grupo familiar. Sua referência são os amigos
e pode receber influências nesse meio, pois “tem” que adquirir uma “identidade adulta”, não tão depende dos pais
como na infância. Ao mesmo tempo em que quer se inserir em um grupo, busca um diferencial que determine seu
jeito e estilo próprio.
CONTRIBUIÇÕES DE VIGOTSKI
Para nos basearmos com clareza na definição da teoria de Vigotski nos
utilizaremos de sete palavras chaves:
1 – Sociabilidade do homem – Refere-se a tese da existência de uma
sociabilidade primária e em parte por uma sociabilidade geneticamente
determinada.
2 – Interação Social – Desempenha um papel de formação no processo de
desenvolvimento, em que a criança interage com o meio buscando áreas de
Vigotski
seu interesse para aprender.
3 – Signo – é a linguagem simbólica desenvolvida pelo ser humano (imagens, letras), são utilizados para simbolizar
alguma coisa e tem a função de regular as ações sobre o psiquismo das pessoas.
4 – Instrumento – é qualquer objeto que tem alguma utilidade prática (um lápis, tesoura, papel, colher) e tem a
função de regular as ações sobre os objetos.
5 – Cultura – esta não regula os processos naturais da criança, mas substitui os elementares, segundo sua
vivência.
6 – História – o processo de formação no sujeito remete a sua historicidade, suas vivências e experiências de
forma global, ao longo de sua história social.
7 – Funções Mentais Superiores – são funções permanentes da pessoa diretamente ligadas as funções da
linguagem e atividade lógica racional no ser humano, sendo três unidades funcionais: - Unidade para regular
o sono e a vigília; - Unidade de processamento e armazenamento de informações; e – Unidade para regular e
programar a atividade mental.
Mas, para resumir este conjunto de palavras nos utilizamos do termo: “Teoria Histórico-cultural”.
Através das interações assimétricas (com os adultos) e a utilização de instrumentos, acontece o estabelecimento
36
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
da transmissão cultural e nessa interação os signos desempenham um papel essencial: o de comunicar. Logo o
indivíduo começa a organizar e adquirir o controle do comportamento individual.
Vigotski e seus colaboradores basearam seus estudos na problemática das transformações das ações exteriores
e interiores no processo de desenvolvimento do ser humano: do ato motor ao ato simbólico. Confirmando, assim,
a importância da socialização para que o cognitivo seja bem desenvolvido. Embora os trabalhos da escola russa
se aproximar bastante da piagetiana, seus autores afirmam que para a passagem do ato motor ao simbólico
acontecer é essencial um aporte externo sem correspondência com o interno, o que descaracteriza a aproximação
com a teoria piagetiana.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Faça uma síntese sobre as contribuições nos estudos do desenvolvimento cognitivo dos autores e suas
respectivas teorias científicas estudadas nesta unidade.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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UNIDADE II
AS DIFICULDADES E OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
Professora Me. Márcia R. de Sousa Storer
Professora Esp. Nadyesda Lessandra F. Martinez
Objetivos de Aprendizagem
• Estabelecer critérios de análise sobre os fatores que podem gerar os problemas, as dificuldades e os
distúrbios de aprendizagem.
• Conhecer algumas características que classificam alguns tipos de dificuldades de aprendizagem.
• Entender o que são dificuldades e os distúrbios de aprendizagem.
• Evidenciar a ação do sistema nervoso central em casos de Hiperatividade e Déficit de Atenção (TDAH)
e os elementos químicos produzidos no organismo cerebral.
• Como identificar o TDAH, de que forma agir e estabelecer a compreensão da criança em seu espaço
escolar, na família e na sociedade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• As dificuldades de aprendizagem
• Os Distúrbios de aprendizagem
INTRODUÇÃO
Os fatores que ocasionam as dificuldades de aprendizagem fazem parte do cotidiano de muitos, mas de maneira
independente, reagem de diferentes formas em cada indivíduo.
Cada um de nós possui uma história e uma maneira – que aprendemos com os mais próximos – de agir diante de
cada situação, o que definirá um futuro padrão de comportamento e reações diante de situações futuras.
Além de um padrão de comportamento que se dará definição em cada ser humano dependendo do meio em que
este vive, cultura e hábitos vão sendo internalizados. Para um bom desenvolvimento cognitivo, existem etapas e
fases, como já estudamos anteriormente no capítulo III, que caracterizam parte de uma soma de fatores para o
resultado do que fomos capazes de aprender até hoje.
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
FATORES QUE OCASIONAM
PROBLEMAS E DIFICULDADES
DE APRENDIZAGEM
Para compreender os fatores que
ocasionam problemas na aprendizagem,
segundo a neuropsicologia, é importante
voltar-se ao estudo sistêmico (sistema
organizado através de métodos prédefinidos) da condição humana através
de três dimensões: a causa, o processo
e o sintoma.
Encontrando-se no estudo da causa, os fatores geradores do problema, o estudo do processo se dá através
da investigação das funções mentais superiores (as estruturas sensoriais, cognitivas, motoras, perceptuais) que
articulam este indivíduo e no resultante de todas essas dimensões encontramos o sintoma, efeito da problemática
do sujeito, esta que “desemboca” na escola.
Para entendermos as disfunções do sistema nervoso central que ocasionam um distúrbio de aprendizagem
precisamos diferenciar os termos dificuldade e distúrbios.
AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Dificuldade: qualquer alteração no aprendizado considerando todas as fases do desenvolvimento escolar. São
consequências de causas extrínsecas ao indivíduo, por vezes, transitórias e com a devida intervenção são extintas.
Podemos considerar inúmeros fatores (socioculturais, emocionais, físicos e metodológicos).
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
41
Segundo Moojen (apud. site ABPP) as dificuldades de aprendizagem são compreendidas em duas categorias:
- Dificuldades naturais: Corresponde às dificuldades que todos os indivíduos possuem em alguma disciplina
e em algum momento acadêmico. As causas podem estar relacionadas a aspectos evolutivos decorrentes de
metodologia inadequada, conflitos familiares e faltas frequentes na escola.
- Dificuldades secundárias: Corresponde a dificuldades dentro de um quadro diagnóstico na área neurológica ou
psicológica. Incluindo casos de portadores de deficiência mental, sensorial e transtornos emocionais.
As causas das dificuldades de aprendizagem são reveladas a partir de um levantamento de hipóteses realizado por
um especialista da área, no qual estão relacionados fatores biológicos, emocionais, familiares e sociais.
Alguém que, diariamente, comporta-se de maneira tranquila, amorosa e de maneira “repentina” passa a ser
agressivo, revoltado e indisciplinado, não se modifica por nada, aliás, não existe isso de dizer “do nada fulano
mudou”. Alguma coisa aconteceu, ou está acontecendo e ninguém percebeu antes de tudo chegar “no limite”.
Crianças que não permanecem sentadas nas carteiras são irrequietas, falantes ou quietas demais, não gostam de
perder ou receber um “não” como resposta, choram, fazem birra ou agem com autopunição, batem nos colegas
ou em si próprias, estão expressando algo que não está bem interiormente. Pais, familiares, amigos e professores
devem estar atentos e não apenas punir, agradar, ou achar que é “só uma fase”, pois os problemas podem se
agravar com o passar do tempo.
O desajuste familiar, irresponsabilidade, desafeto, abandono, entre tantos outros agravantes, resultam em
problemas emocionais que futuramente podem piorar, tanto para os adultos, quanto muito mais em crianças que
convivem com alguns desses tipos de realidade familiar e social.
A escola é o ambiente que encontramos um misto da realidade dos problemas sociais, familiares que resultam em
problemas de aprendizagem, desde a indisciplina à depressão infantil (ou adolescente) e casos de vandalismo,
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
ameaças entre tantos outros.
O eixo em que se pode encontrar a causa,
conhecer o processo e os sintomas
nos problemas e nas dificuldades de
aprendizagem de qualquer sujeito, está
na família, na escola e na sociedade.
A dificuldade de aprendizagem nos
remete ao ato de aprender, que é uma
ação dificultosa. Quando nos pomos a
aprender, buscamos significado para
aquilo que não sabemos que nos é difícil
de compreender.
42
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Assim, como afirma Piaget (apud. 2009), temos dificuldades que nos desequilibram e na busca do equilíbrio é que
aprendemos.
O que “prende” o aprender, muitas vezes, não é a própria dificuldade em si, mas o não saber “lidar” com ela.
Palavras do tipo: “eu não consigo!” “eu não sei aprender!”, demonstra um sentimento profundo de incapacidade
no indivíduo.
Ouvimos muitos pais e professores se referirem as crianças da seguinte maneira: “meu filho é um disléxico!”, “essa
criança tem distúrbio de atenção”, “minha filha é distraída” etc. Ora, os sujeitos possuem dificuldades, não são as
dificuldades. A incapacidade vivaz surge à tona diante de comentários do gênero, o que pode ser o início de uma
complicação diante do ato de aprender.
O ato de aprender está dentro de cada um de nós, mas acontece mediante a interação com o ambiente, o contato
com os símbolos e com quem media a aprendizagem. O “não saber” faz que cada indivíduo tenha dificuldades
menores e maiores, dependendo do que está internalizado em cada um, de conhecer e saber trabalhar as limitações
individuais. Às dificuldades dos que não sabem como trabalhar com os próprios limites, sentindo-se incapazes é
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
que se atribui o termo dificuldade de aprendizagem.
OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
O termo Distúrbio de Aprendizagem se diferencia de
Dificuldade de Aprendizagem por se tratar de um conjunto
de sintomas ou comportamentos que comprometem a
aprendizagem, ocasionando no indivíduo muito sofrimento
e perturbação.
A mais recente definição de Distúrbios de Aprendizagem foi
publicada em 1998 pelo National Joint Commitee on Learning
Disabilities (NJCLD), que diz: “Distúrbio de Aprendizagem é
uma expressão geral que se refere a um grupo heterogêneo
de distúrbios, manifestado por dificuldades significativas
na aquisição e no uso de capacidades de atenção, fala,
leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estes
distúrbios são intrínsecos ao indivíduo, supostamente devido
a uma disfunção do sistema nervoso central e podem ocorrer
ao longo da duração de vida. Problemas de comportamentos
auto-reguladores, percepção social e interação social podem
coexistir com distúrbios de aprendizagem, mas não consistem, por si só, em distúrbios de aprendizagem. Embora
distúrbios de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes (ex: prejuízo
sensorial, retardo mental, distúrbio emocional grave), ou com influências extrínsecas (como diferenças culturais,
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
43
instrução insuficiente ou inadequada), eles não são decorrentes destas condições ou influências.”
Assim, os distúrbios de aprendizagem são disfunções psiconeurológicas, em que a causa é neurológica e o
comportamento é a manifestação de que algo não está bem.
Devido a este conjunto de sintomas o sujeito necessita de ajuda psicológica e acompanhamento adequado às suas
dificuldades em aprender.
Portanto, os Distúrbios Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares são compostos por grupos
com comprometimentos específicos na aprendizagem, não sendo resultados de outros transtornos, como D.M.,
problemas visuais etc. Muito embora podendo ocorrer concomitantemente com essas condições e com outras
síndromes.
“Quando leio, somente escuto o que estou lendo e sou incapaz de lembrar da imagem visual da palavra escrita.”
(ALBERT EINSTEIN)
Vejamos alguns:
Distúrbios da linguagem: são diretamente ligados a problemas na ordem cerebral das áreas instrumentais da
linguagem. Sendo:
- Na linguagem oral: distúrbios da fonação, do ritmo, Retardo no desenvolvimento da fala, Afasias e Disfasias.
Dislexia: segundo MYKLEBUST e JOHNSON se trata de uma síndrome complexa de disfunções psiconeurológicas
de maneira associada (percepção visual e auditiva, soletração, tempo, memória etc.).
Alexia: é uma disfunção na capacidade de leitura, geralmente, acompanhada por dificuldades na habilidade
escrita, em que a criança não estabelece significado da palavra.
Disgrafia: Desordem na integração visomotora. Apresenta apropriação na linguagem oral e leitura, mas não
consegue escrever.
Distúrbios específicos da Habilidade Matemática: ligados a problemas na
ordem cerebral das áreas instrumentais da lógica. Sendo: Discalculia e Acalculia.
Discalculia: Dificuldade em compreender princípios e processos matemáticos.
Incapacidade de realizar operações matemáticas, classificar números e
sequência.
Acalculia: A perda da capacidade de realizar cálculos e desenvolver o raciocínio
aritmético.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Distúrbios na ordem das relações dos movimentos e objetos: afeta a aérea motora,
responsável pela ordem dos movimentos – praxia. Sendo: Apraxias e Dispraxias.
Praxia: é a capacidade motora que o indivíduo tem de aprender movimentos.
Apraxias: ocorre através de desordens no hemisfério cerebral responsável pela
coordenação, corresponde à desordem nos movimentos do corpo.
Dispraxias: A perda da habilidade do movimento do corpo devido a alguma lesão.
Distúrbio da Memória: comprometimento da atenção, sendo, geralmente, acompanhado por hiperatividade,
impulsividade e distratibilidade. Sendo: TDA com ou sem Hiperatividade.
TDA: Transtorno de Déficit de Atenção. Disfunção que compromete a concentração e atenção.
TDAH: Denominado Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. Além do comprometimento da
concentração e atenção vem acompanhado de hiperatividade.
HIPERATIVIDADE
Partindo da apropriação da concepção de que o aprendizado caminha de acordo com um conjunto de fatores
internos – atenção, concentração, interesse, maturidade neurológica e funcionabilidade das estruturas cerebrais
– fica mais fácil perceber que algumas dificuldades na aprendizagem estão ligadas a fatores que não dependem
somente de uma boa educação, ou de uma família exemplar. O que não podemos deixar de revelar a essencial
contribuição familiar, numa intervenção patológica. A sinceridade, a conscientização da família e o apoio contribuem
tanto para as hipóteses levantadas desde anamnese e o diagnóstico até os encaminhamentos e orientações de
profissionais específicos para cada caso. As cobranças fundamentadas numa satisfação social de ter o(a) filho(a)
exemplar, só atrapalham, estressando a criança (ou adolescente), a escola e os profissionais envolvidos. Embora,
que para algumas famílias ter um filho hiperativo é moda, pois justifica a falta de limites e educação, a ausência do
dever que os cabe que é transferida para a escola e profissionais da área.
A hiperatividade não é um diagnóstico, tão pouco uma solução justificativa de má criação. É nada menos que um
sintoma, podendo ser acompanhado de algum transtorno, déficit, síndrome ou deficiência mental.
Os hiperativos, geralmente, são aqueles rotulados como “endiabrados”. Não param quietos em qualquer
ambiente. Na escola são impossíveis de permanecer na carteira. Mexem as pernas, os pés, as mãos ou os dedos
constantemente, falam sem parar, terminam frases de outras pessoas, são impacientes, impulsivos, curiosos e
irritam pessoas próximas com facilidade. Mantêm esse comportamento não apenas em um ambiente de convívio,
mas em todos os lugares. Um exemplo clássico: “Denis, o pimentinha”, o menino do desenho animado que não
deixa seus pais, seus amigos e especialmente o Sr. Wilson em paz.
Compreender o que está acontecendo com a criança não é sinal de permissividade, mas de verdadeiro interesse
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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em ajudar. Procurar ajuda de especialista não é vergonha e nem deve ser visto como um tabu preconceituoso pela
sociedade ou pela família e amigos. Essa preocupação os mais próximos não devem ter, pois mesmo que exista
“o rótulo” de maneira disfarçada ou explícita, o que realmente importa é a maturidade que se enfrentam os fatos
para uma melhoria na qualidade de vida de qualquer ser humano.
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)
Como estudamos anteriormente um aspecto necessário para a aprendizagem é a
atenção (função de uma estrutura localizada no tronco encefálico – Formação
Reticular – e da atividade dos neurotransmissores até o lobo frontal e demais
partes do cérebro).
Quando uma criança nasce, a falta de atenção é uma característica relativa até,
aproximadamente, seu primeiro ano de vida. Isso ocorre, pois a FR ainda está
imatura. Mas, partindo do primeiro até o segundo aninho de vida, sua atenção irá
melhorar progressivamente. A maturidade da FR se completa até o quarto ano de
vida da criança.
As crianças, ou adultos com TDAH possuem uma alteração nos neurotransmissores, responsáveis pela transmissão
das informações nas células nervosas através de substâncias, com o controle de liberação da dopamina e da
noradrenalina alterados. Assim, as informações necessárias se alteram ou não chegam ao lobo frontal, sendo esta
parte do cérebro responsável por manter a atenção até o tempo necessário, planejamento, organização, controlar
impulsos, emoções e a memória, o que não acontece de maneira adequada com o TDAH.
Quando a criança completa a idade escolar, logo surgem os primeiros comentários, do tipo: - “Nossa, essa criança
não para, em?” “É assim em casa também?” “Parece que não tem limite!” “Onde ela desliga?” “Mãe, você dá leite
ou ela se alimenta com o dedinho na tomada?” “Vive no mundo da lua!” “É desligada!”.
Na verdade, não é tão simples diagnosticar uma criança com TDAH. Seu comportamento e atitudes, transtornos
e desconfortos devem ser uma constante em sua vida, não apenas ser hiperativa e desatenta na escola, só
desatenta em casa e hiperativa em meio à família e amigos. De acordo com ASSENCIO-FERREIRA (2003),
“não existe exame laboratorial, radiológico ou de neuroimagem que permita o estabelecimento do diagnóstico
de certeza,” O que se utiliza com frequência é o Manual de Diagnóstico e Estatística – IV edição (DSM-IV) da
Associação Psiquiátrica Americana que veremos a seguir.
Este guia só poderá ser utilizado para obtenção de diagnóstico clínico por profissionais especializados em TDAH,
sendo o objetivo deste em apenas conhecer para possuir uma base de como acontece o processo de realmente
diagnosticar se alguém possui ou não o TDAH. (Extraído do livro: Neurologia e Fonoaudiologia de Vicente José
Assencio-Ferreira)
46
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
CRITÉRIO A: Assinale com um “x” a coluna correta.
Nunca ou
Quase
Pouco
Bastante
raramente
sempre
Ele presta pouca atenção em detalhes e faz erros por falta de
atenção nos deveres?
Ele mexe com as mãos e pés quando está sentado ou se mexe
muito na cadeira?
Ele tem dificuldade de manter-se concentrado nos deveres e
também nos jogos?
Ele sai do lugar na sala de aula ou em outras situações (ex:
mesa de jantar). Quando deveria ficar sentado?
Ele parece estar prestando atenção em outras coisas quando
se está falando com ele?
Ele corre ou trepa nas coisas quando deveria ficar tranqüilo?
Ele tem dificuldade em seguir instruções até o fim ou deixa os
deveres sem terminar?
Ele tem dificuldade de ficar em silêncio enquanto brinca?
Ele é desorganizado com os deveres e outras atividades do diaa-dia?
Ele é “elétrico” e fica a “mil por hora”?
Ele evita ou antipatiza com deveres ou atividades que exijam
concentração?
Ele fala demais?
Ele perde material da escola ou coisas do dia-a-dia?
Ele responde às perguntas antes dos outros terminarem de
falar?
Ele se distrai com facilidade com coisas fora daquilo que está
fazendo?
Ele tem dificuldade de esperar a vez?
Ele se esquece de coisas que deveria fazer no dia-a-dia?
Ele interrompe os outros ou se mete na conversa dos outros?
CRITÉRIO C: Responda SIM ou NÃO.
Existem problemas causados pelos sintomas em duas ou mais situações (por ex: na escola, no trabalho e em
casa?)
CRITÉRIO D: Responda SIM ou NÃO.
Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas?
CRITÉRIO E: Os sintomas não são mais bem explicados pela presença de um outro problema (tal como depressão,
deficiência mental, psicose etc.).
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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ADULTOS
1) É OBRIGATÓRIO ter tido TDAH na infância. Isso pode exigir consultar os pais, parentes mais velhos ou mesmo
professores. O TDAH no adulto é meramente a continuação do TDAH da infância e adolescência.
2) Veja no quadro abaixo quantos sintomas são necessários para o diagnóstico:
Idade
17 a 29 anos
45
30 a 49 anos
44
Mais que 50 anos
33
3) Os CRITÉRIOS B, C, D devem obrigatoriamente ter resposta SIM.
4) O CRITÉRIO E necessita da avaliação de um especialista, uma vez que os sintomas do critério A ocorrem em
muitos outros transtornos do adulto (especialmente ansiedade e depressão).
Para o diagnóstico do TDAH não é de única causa, portanto, a indisciplina ou falta de controle parental, como
muitos confundem devido ao comportamento e falta de limites de algumas crianças. O TDAH é resultado do mau
funcionamento dos neurotransmissores e demais órgãos responsáveis pela atenção e controle da impulsividade
(FR) e apenas especialistas qualificados na área poderão investigar com precisão até o resultado diagnóstico e
encaminhamentos necessários e adequados à cada caso.
Somente em último caso considera-se o uso de medicamentos em crianças com TDAH. O importante é estabelecer
a partir do diagnóstico os encaminhamentos necessários à terapia e reabilitação da criança com terapeutas,
fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos, de acordo com necessidades específicas do indivíduo.
Trabalhando com as Dificuldades:
As dificuldades de aprendizagem podem ser comedidas direcionadas a cada caso e situação. Podendo ser
dadas orientações a professores para participarem, adequadamente, do processo de desenvolvimento de tais
dificuldades. Para facilitar esta participação é interessante primeiramente que o professor observe os seguintes
critérios:
• A clareza das expectativas do educador diante de cada atividade.
• Estabelecimento de rotina com períodos de descanso.
• Reforçar o estabelecimento de rotina, através de meios visuais e auditivos (cartazes, calendários etc.).
• As instruções e orientações devem ser transmitidas de maneira clara, direta e curta (sem extensos sermões).
• Observando se o aluno tem todos os materiais necessários para realização das atividades propostas, se não,
ajudar a consegui-los.
• Não dar atividades extensas de uma vez só, mas dividi-las em etapas: Pedir que resolva cinco questões no
máximo e depois que terminar pedir mais cinco, por exemplo.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
• Iniciar a aula com as atividades que requerem maior atenção e deixar as mais “agradáveis” para o final da aula.
• Supervisionar, constantemente, o tempo que falta para terminar as atividades.
Quanto às modificações que tem tido êxito durante as avaliações:
• Propiciar um ambiente tranquilo.
• Dar mais tempo para os alunos.
• Elaborar um número menor de atividades por página.
• Pedir que a criança volte observando suas respostas, em especial aquelas que possuem tipo impulsivo/
hiperativo.
O importante é ter em mente que quando estudamos sobre as dificuldades de aprendizagem precisamos
compreender e avaliar o momento correto de encaminhamento para profissionais especializados para as
intervenções.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Estabeleça um conceito à distinção entre dificuldades e distúrbios de aprendizagem, envolvendo análise de
dificuldade natural e secundária e distúrbios específicos do desenvolvimento das habilidades escolares.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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UNIDADE III
INTERVENÇÕES ESCOLARES NAS DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
Professora Me. Márcia R. de Sousa Storer
Professora Esp. Nadyesda Lessandra F. Martinez
Objetivos de Aprendizagem
• Avaliar criteriosamente medidas metodológicas que podem ser realizadas pelo educador no âmbito
escolar diante das dificuldades e distúrbios de aprendizagem.
• Conhecer alguns “sinais” de alerta que caracterizam alguns distúrbios e quais medidas em
encaminhados podem ser realizadas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Características específicas de distúrbios
• O professor e a metodologia adequada
INTRODUÇÃO
As características que norteiam, especificamente, cada distúrbio de aprendizagem podem servir de indicativos
para que professores solicitem encaminhamentos a especialistas. Realizando atividades adaptadas, avaliações e
intervenções, de acordo com as necessidades específicas do educando.
CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DE DISTÚRBIOS
Os caminhos da leitura
“Para que a fantástica e complexa função de aprender seja adequada, é necessário o envolvimento do tono
muscular, da noção de esquema corporal e do afeto.” (NEWRA TELLECHEA ROTTA, 2007)
A afetividade e a inteligência são indissociáveis e constituem os dois aspectos complementares de toda conduta
humana. A conduta é um restabelecimento ou fortalecimento do equilíbrio e toda conduta supõe movimentos e
inteligência.
O cérebro humano tem uma notável plasticidade, a habilidade em ser modelado e modificado pelo crescimento de
novas e mais complexas conexões entre células. Alguns neurônios desenvolvem até 50.000 conexões, um número
espantoso quando consideramos que existem bilhões de neurônios no cérebro.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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A mente humana é capaz de criar um mundo interior que espelha a realidade exterior, mas possui uma existência
própria.
Distúrbios Específicos do Aprendizado
- Distúrbios específicos da leitura (dislexia).
- Distúrbios específicos de linguagem e escrita (disgrafia, distúrbio de produção textual, disortografia).
- Distúrbios específicos de raciocínio matemático (discalculia).
Outros distúrbios
-TDA/H
- Distúrbio de comportamento que pode e, frequentemente, altera o aprendizado.
Alguns sinais:
Na Educação Infantil
- Falar tardiamente.
- Dificuldade para pronunciar alguns fonemas.
- Demorar a incorporar palavras novas ao seu vocabulário.
- Dificuldade para rimas.
- Dificuldade para aprender cores, formas, números e escrita do nome.
- Dificuldade para seguir ordens e seguir rotinas.
- Dificuldade na habilidade motora fina.
- Dificuldade de contar ou recontar uma história na sequência certa.
- Dificuldade para lembrar nomes e símbolos.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Na Alfabetização – 1º ano do Ensino Fundamental
- Dificuldade em aprender o alfabeto.
- Dificuldade no planejamento motor de letras e números.
- Dificuldade para separar e sequenciar sons (ex: p-a-t-o).
- Dificuldades com rimas (habilidades auditivas).
- Dificuldade em discriminar fonemas homorgânicos (p-b, t-d, f-v, k-g, x-j, s-z).
- Dificuldade em sequência e memória de palavras.
- Dificuldade para aprender a ler, escrever e soletrar.
- Dificuldade em orientação temporal (ontem – hoje – amanhã, dias da semana, meses do ano).
- Dificuldade em orientação espacial (direita – esquerda, embaixo, em cima...).
- Dificuldade na execução da letra cursiva.
- Dificuldade na preensão do lápis.
- Dificuldade de copiar do quadro.
2º a 9º ano do Ensino Fundamental
- Nível de leitura abaixo do esperado para sua série.
- Dificuldade na sequenciação de letras em palavras.
- Dificuldade em soletração de palavras.
- Não gostar de ler em voz alta diante da turma.
- Dificuldade com enunciados de problemas matemáticos.
- Dificuldade na expressão através da escrita.
- Dificuldade na elaboração de textos escritos.
- Dificuldade na organização da escrita.
- Podem ter dificuldade na compreensão de textos.
- Podem ter dificuldade em aprender outros idiomas.
- Dificuldade na compreensão de piadas, provérbios e gírias.
- Presença de omissões, trocas e aglutinações de grafemas.
- Dificuldade de planejar e organizar (tempo) tarefas.
- Dificuldade em conseguir terminar as tarefas dentro do tempo.
- Dificuldade na compreensão da linguagem não verbal.
- Dificuldade em memorizar a tabuada.
- Dificuldade com figuras geométricas.
- Dificuldade com mapas.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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Figuras tridimensionais da superfície do cérebro de um disléxico (imagens superiores) e de uma criança não
disléxica (imagens abaixo) durante a leitura.
Observe a ausência quase completa de atividade em partes da metade esquerda do cérebro (quadrado) azul no
leitor disléxico, junto com uma riqueza de atividade em áreas especulares da metade oposta do cérebro.
O contrário é verdadeiro no caso da criança normal de não dislexia.
Imagens de vários estudos da habilidade de leitura e de linguagem mostram que o giro angular do cérebro está
envolvido na dislexia. Um grupo de pesquisadores estuda como um disléxico aprende, em comparação com um
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
normal, fala uma palavra: “porco”.
A palavra “porco” exige dissecar e reorganizar os sons dentro da palavra.
Por exemplo: se uma palavra começa com uma consoante, a primeira letra é movida ao fim da palavra e “ai” é
adicionado. “Porco” torna-se “orcopai”.
A imagem acima mostra essa atividade aumentada no giro angular do cérebro de um leitor normal que lê a palavra
“porco”.
Os pesquisadores suspeitam que a atividade seja mais baixa em leitores disléxicos.
Antes do tratamento
Depois do tratamento
Exames de crianças disléxicas antes e depois da aplicação terapêutica intensiva (8 semanas de treinamento em
habilidades de consciência fonológica).
Os resultados mostraram uma melhora na fluência da leitura.
Os perfis das crianças mostram aumentos dramáticos em ativação da região têmporo-parietal esquerda do
cérebro, que os deixam quase indistinguíveis dos perfis de leitores normais.
O que uma criança disléxica apresenta?
- Dificuldade de discriminação visual (confusão entre m/n, a/e, d/b).
- Dificuldade em Discriminação Fonemática (confusão de sons semelhantes: v/f, c/g etc.).
- Baixa velocidade de percepção (é lento).
- Tendência para reversão (data/bata).
- Tendência para inversão (m/w).
- Dificuldade em reter sequências visuais e/ou auditivas.
- Prejuízo na memória visual e/ou auditiva.
- Carência na expressão de detalhes em desenhos.
- Dificuldade em análise/síntese visuais e/ou auditivas.
- Dificuldade e/ou ausência em consciência fonológica.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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E quem tem distúrbio específico de escrita?
- Dificuldade na escrita de números.
- Dificuldade no alinhamento dos números.
- Comprometimento dos conceitos básicos de espaço, distância e tempo.
- Dificuldade na cópia.
- Carência de detalhes no desenho da figura humana.
- Omissão de palavras durante a escrita.
- Ordem errada das palavras em uma frase.
- Falta ou uso incorreto dos sinais de pontuação.
- Omissão ou uso incorreto de tempos verbais, pronomes etc.
Discalculia?
- Deficiência na integração não verbal.
- Dificuldades na organização viso espacial.
- Não percebe diferenças de quantidade, forma, tamanho, comprimento.
- Falam mais cedo que as demais crianças.
- Excelente capacidade auditiva e vocabulário correto, mas têm dificuldade de compreensão.
- Falta de lateralidade e discriminação de sentidos de direção: direita/esquerda.
- Geralmente, possuem desempenho verbal superior.
- Podem apresentar distúrbio de imagem corporal e dificuldades quanto ao padrão-motor para a escrita.
TDAH...
-Desatenção.
- Parece “fingir” não escutar.
- Não segue instruções e não consegue terminar o que começou.
- Dificuldade para organização de deveres e tarefas.
- Perde objetos com frequência.
- Esquece orientações e instruções.
- Mãos e pés agitados – se remexe demais na cadeira.
- Não consegue parar sentado.
- “Corre demais”, quer fazer tudo e bem rápido.
- Dá respostas precipitadas diante de questionamentos.
- Não sabe esperar.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
O PROFESSOR E A METODOLOGIA ADEQUADA
A desatenção e demais prejuízos na retenção dos conteúdos
e nas realizações de tarefas e atividades em sala de aula são
indicativos de que algo não está bem com o aluno, sendo
necessário uma reestruturação metodológica de auxílio na
aprendizagem.
Para isso é interessante:
- Clareza quanto aos objetivos de cada atividade.
- Estabelecimento de rotina diária, com períodos de descanso.
- Utilização de reforço auditivo e visual, como calendá-rios,
agenda, cartazes.
- Orientações breves, com clareza.
- Conferir os materiais do aluno, se este possui os necessários
para realização das atividades do dia.
- Divisão das atividades em unidades menores.
- Começar com atividades que exigem mais atenção e deixar as mais simples para o final da aula.
- Observar o tempo que falta para conclusão de uma tarefa.
- Preparar um ambiente tranquilo.
- Ceder mais tempo para que o aluno termine as atividades sem atropelos.
- Colocar um menor número de exercícios por página.
- Pedir que o aluno confira suas respostas e corrija seus erros.
- Expor as atividades de maneira estruturada.
Nas dificuldades de leitura....
- Solicitar a leitura oral do aluno.
- Sugerir a ilustração da história para melhor compreensão da história, ou texto.
- Ressaltar com o aluno as ideias centrais do texto, antes da leitura.
- Antes da leitura, discutir com aluno as ideias centrais do texto, que serão respondidas posteriormente.
- Incentivar histórias através de vídeo e áudio.
- Propiciar às famílias a utilização de livros didáticos, para que os conteúdos possam ser retomados em casa.
Na escrita...
- Por se tratar, geralmente, de dificuldades no aspecto gráfico e ortográfico, nunca corrigir o aluno na frente dos
demais colegas, além do constrangimento pode ocasionar bloqueios e oposição à escrita.
- Auxiliar a discriminação gráfica durante a escrita.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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- Não utilizar caneta vermelha na correção das atividades.
- Pedir que o aluno revise a atividade realizada e corrija os erros encontrados.
- Permitir, em alguns casos, que o aluno não use a letra cursiva.
- Em caso de grafia, ensinar o aluno a resumir o conteúdo através de anotações, sintetizando o assunto.
- Sempre que possível disponibilizar fotocópias dos textos que serão passados no quadro.
- Compreender que escutar e escrever de maneira simultânea é muito difícil para quem possui essas dificuldades.
- Lançar desafios: aprender cada dia uma palavra nova.
- Permitir a utilização de um dicionário, ou a construção de um caderno de vocabulários com as palavras que,
geralmente, esquece.
- Permitir o uso de corretores ortográficos no uso de meios informatizados.
- Valorizar os conteúdos nos trabalhos e não os erros de escrita.
- Em provas, não corrigir todos os erros ortográficos.
- Não punir com a repetição na realização do mesmo trabalho pelo fato de tê-lo feito mal.
Na produção textual...
- Ensinar, individualmente, ao estudante como deve organizar seu trabalho escrito – estético.
- Mostrar a organização de narrativas (personagens, local e ação; conflito e resolução).
- Incentivar que o aluno verifique suas produções.
Matemática...
- Permitir, quando possível, que o aluno verifique a tarefa com o auxílio da calculadora.
- Verificar com o aluno passo a passo, após a resolução.
- Manter espaços entre as operações para facilitar a organização.
- Realçar os símbolos aritméticos (+, -, =, x etc.) para que o aluno não se confunda na operação (pode ser com
caneta marca-texto).
- Incentivar o uso de lápis e papel para fazer as contas, ao invés de usar o cálculo mental, pois se o aluno errar
fica mais fácil de retomar.
- Garantir que os conhecimentos matemáticos sejam assimilados, progressivamente, sempre verificando os
conhecimentos anteriores.
- Circular a palavra-chave que indica a operação que será realizada. Ex: “no total”, ou “a soma”, indicam que a
operação é de adição.
- Utilizar material concreto.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Dentre as intervenções escolares nas dificuldades e distúrbios de aprendizagem, argumente os critérios
apresentados neste capítulo para o trabalho do professor no processo interventivo que auxilie o progresso na
aprendizagem do aluno.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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UNIDADE IV
INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS
Professora Me. Márcia R. de Sousa Storer
Professora Esp. Nadyesda Lessandra F. Martinez
Objetivos de Aprendizagem
• Estabelecer medidas de como realizar devidamente um encaminhamento para o processo avaliativo
de diagnóstico e acompanhamento terapêutico.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• O trabalho do psicopedagogo, terapias e encaminhamentos específicos
INTRODUÇÃO
O processo terapêutico envolve o trabalho de profissionais de diversas áreas, mediante fatores específicos de
dificuldades e/ou distúrbios.
Ao perceber que “algo não vai bem” com o aluno, o professor deve comunicar aos pais para que haja um
encaminhamento a profissionais que irão avaliar e diagnosticar as dificuldades e/ou distúrbios.
O trabalho do psicopedagogo é preventivo e terapêutico diretamente relacionado à aprendizagem. E ainda, de
acordo com cada caso, há o acompanhamento direcionado a diferentes profissionais, como: psicólogo, neurologista,
terapeuta, fonoaudiólogo, oftalmologista etc.
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
O TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO E
ENCAMINHAMENTOS ESPECÍFICOS
O Psicopedagogo é um profissional especialista voltado ao
processo de desenvolvimento e aprendizagem, podendo
atuar numa linha preventiva e terapêutica. Deve ser estudioso
constante frente às diversas áreas de conhecimento, sendo
sua formação de cunho pedagógico, filosófico, sociológico,
psicológico e ainda neuropsicológico (lembrando que o
psicopedagogo opera nessas áreas de conhecimento,
mas a ele não é dada a priori, esta é edificada com sua
sensibilidade estudo e experiência).
Podemos compreender melhor o fazer psicopedagógico,
tendo como base o código de ética da ABPp (Associação
Brasileira de Psicopedagogia):
Capítulo I – Dos princípios – Artigo 1º
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que lida com o processo de aprendizagem
humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e sociedade
– no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia. Parágrafo único: A intervenção
psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem.
Sendo assim, o psicopedagogo atua em diferentes casos e de diversas maneiras no trato com a aprendizagem,
assumindo as responsabilidades para as quais esteja preparado, de modo que não compromete profissionais
especialistas em áreas específicas de intervenção. Possibilita, portanto, a intervenção necessária visando à
solução dos problemas de aprendizagem, envolvendo, nesse processo, a criança, o adolescente, a família e a
instituição de ensino. Não sendo o “vilão” que quer mudar tudo, mas aquele que quer contribuir para um trabalho
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
65
evolutivo na criança, no adolescente, na família e na escola. Também podendo atuar no processo do “reaprender”
em alguns casos de AVC ou traumatismo, com dislexia adquirida.
A ação do psicopedagogo envolve desde ações preventivas (palestras, cursos, orientações) ao processo terapêutico
de diagnóstico avaliativo, devolutiva aos pais e à escola, acompanhamento e encaminhamento a profissionais
específicos às áreas de dificuldade da criança (adolescente e/ou adulto). Lembrando que para um bom resultado
é necessária a participação dos pais, professores, da escola e do próprio indivíduo.
Além das terapias convencionais são adequados à especificidade de cada caso: acompanhamento psicológico,
psicomotor, equoterápico, T.O. (Terapeuta Ocupacional), fisioterápico, odontológico, oftalmológico, fonoaudiológico
etc...
Panlexia: a Panlexia é um programa para dificuldades específicas de linguagem, cuja autora é PAMELA
KVILEKVAL. O objetivo principal do programa é promover, no indivíduo, a possibilidade (a capacidade) de aprender
a ler e escrever, trabalhando a melhorada consciência fonológica, a diferenciação dos sons por meio de um sério
programa de intervenção no ensino, que deve ser criteriosamente seguido.
Conhecendo a Dislexia
Márcia Regina de Sousa Storer
Colaboradoras: Márcia R. Volpato de Oliveira e Soraya Regina L. Denardi
Aprender a ler não é um ato isolado. Quando a criança aprende a ler está simultaneamente aprendendo a soletrar e
a escrever, assim, processando informações não só em nível visual e auditivo, mas também atencional, sequencial,
conceitual e de fala, em diferentes fases do desenvolvimento.
Para que a criança desenvolva uma leitura fluida, com compreensão e também consiga expressá-la através
da linguagem verbal e escrita, seu cérebro deve possuir uma boa estrutura funcional. Isso envolve os sistemas
sensorial, visual, auditivo e tátil, integrados e organizados que coordenam uma resposta cognitiva, motora, ocular,
manual e articulatória.
De acordo com o autor do livro “Dislexia, Distúrbios da Leitura e Escrita”, Jaime Luizo Zorzi, o processo da aquisição
de leitura e escrita é individual, variável e dependente de fatores como idade, maturação, motivação, experiências
culturais, integridade do sistema nervoso e do desenvolvimento global.
Porém, quando existe uma falha nesse processo, por motivos variados, surgem os chamados distúrbios específicos
da aprendizagem, acompanhados ou não de uma disfunção neurologia, sendo a mais comum a dislexia.
A dislexia é um distúrbio específico do aprendizado de origem neurológica, caracterizada pela dificuldade em
efetuar uma leitura fluente e por pouca habilidade na escrita e na decodificação. Crianças disléxicas apresentam
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
déficit perceptivo, transposições de letras e sílabas, inversões, substituições, inclusões, omissões, confusões entre
vogais, confusões entre sons surdos e sonoros.
Para o autor do livro “Entendendo a dislexia”, Sally Shaywitz, o princípio alfabético é o principal domínio que
um leitor em potencial deve apresentar para aprender a ler, mas uma em cada cinco crianças não apresenta tal
domínio.
Durante a Educação Infantil consideram-se fatores importantes tais como: a história familiar com disléxicos, atraso
na aquisição da fala, confusão em pronunciar palavras, inabilidade para recordar nomes; confusão com palavras
de orientação espacial, complicações nas tarefas escolares, dificuldades com rimas e com palavras rimadas.
Crianças de sete aos nove anos, observam-se dificuldades para ler e escrever, escrita espelhada ou alterações
espaciais, dificuldade em definir esquerda e direita, dificuldades para aprender o alfabeto, reter sequências,
dificuldades de atenção e concentração, frustração e alterações comportamentais.
Dos nove aos doze anos detectam-se erros de leitura e de compreensão e formas irregulares de escrita.
Durante a adolescência já se percebe escrita descuidada, incompreensível dificuldades gramaticais e erros
ortográficos, dificuldade para planejar e organizar composições escritas; confusão para instruções verbais,
dificuldade para línguas estrangeiras, baixa auto-estima e auto-imagem, dificuldade para seguir instruções, pouca
compreensão de leituras, condutas alteradas, depressão e aversões para leitura e escrita.
Uma vez identificado o problema do comprometimento no rendimento escolar, deve-se procurar ajuda especializada,
que envolve uma equipe multidisciplinar para uma minuciosa e detalhada investigação. Outros fatores deverão ser
descartados, déficit intelectual, disfunção ou deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais, desordens afetivas.
É muito importante o parecer da escola, dos pais, o levantamento do histórico familiar e a evolução acadêmica da
criança.
Não há um tratamento medicamentoso específico, tampouco, uma terapia cognitiva única. O tratamento deve basearse em medidas que favoreçam a plasticidade cerebral, caminhos cerebrais alternativos para o processamento da
leitura, com profissionais habilitados.
A criança e o ensino fundamental de 9 anos
Por Cristiana P. Martini Bolfer e
Márcia Regina de Sousa Storer
A aprovação da Lei nº. 11.274/2006 incluirá mais crianças no sistema educacional brasileiro em especial aquelas
dos setores populares, que as crianças de classe média e alta já se encontram como integrantes do sistema de
ensino (pré-escola e 1ª série do ensino fundamental). Outro fator de suma importância para tal ingresso está
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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relacionado aos resultados de estudos que comprovam a superioridade àqueles que ingressam aos seis anos do
que aqueles que ingressam aos sete anos, no que diz respeito às medidas de proficiência em leitura.
Para Haddad e Fernandes (2006), fica claro que o ingresso da criança de seis anos no ensino fundamental não
pode ser visto somente como uma medida administrativa, mas sim, ter-se em mente o processo de desenvolvimento
e aprendizagem infantil o que implica em conhecimento e total respeito as suas características: etárias, sociais,
psicológicas e cognitivas.
No nosso país são inúmeros questionamentos de pais e profissionais da área da saúde e educação com relação
à idade com que a criança está preparada para a alfabetização. Muitas vezes, pelo fato da criança se interessar
em copiar números, letras, gostar de folhear livros infantis e revistas e gostar de manusear lápis e papel, os pais
parecem acreditar que os filhos estão aptos à alfabetização.
Coelho (1999) atribui que o estudo das funções senso-percepto-cognitivo-motoras não estão suficientemente
desenvolvidas e integradas, emocionalmente, a criança não apresenta a maturidade referida para a realização de
atividades refinadas e bem mais elaboradas.
A criança passa, neste momento, por uma fase de “instabilidade” emocional, sua atenção e coordenação visuoespacial ainda não estão neurologicamente desenvolvidas para suprir as exigências que encontrará na escola a
partir da alfabetização.
Levando-se em consideração os aspectos neuropsicomotores e emocionais da criança, sugere-se que aos sete
anos de idade ela estará apta para o exercício das múltiplas e elaboradas atividades.
Com a Deliberação nº. 03/07, aprovada em 15/06/07, normas complementares são implementadas ao ensino de
nove anos. O conselho, diante da liminar, editou a regra de transição, para o ano de 2008, por meio da Deliberação
nº. 02/07 – CEE/PR, nos seguintes termos:
ǿ Art. 1º. Fica alterado o Artigo 12 e seus parágrafos, da Deliberação nº. 03/06-CEE, que passa a apresentar:
1) Art.12. Para a matrícula de ingresso no 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos de duração, o educando
deverá ter seis anos completos ou a completar no início do ano letivo, admite-se, em caráter excepcional, o acesso
ao ensino fundamental de crianças que completem seis anos no decorrer ao ano letivo.
Quando se fala em ensino de nove anos, a primeira reflexão centra-se na compreensão dos benefícios em que
mudanças como essas trazem as crianças, os maiores envolvidos.
Há décadas, a educação no Brasil busca novas medidas para reparar possíveis falhas nas práticas pedagógicas
em que, muitas vezes, não favorecem o real aprendizado e a formação global do indivíduo.
Por outro lado, vivemos numa época em que a preocupação com a melhor qualidade encontra-se acima de
tudo. As famílias e os profissionais primam por um ensino melhor. Surgem então os questionamentos: o ensino
fundamental sendo ampliado para nove anos, traria benefícios reais aos alunos? A criança seria respeitada em
seu desenvolvimento?
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
A criança de seis anos, que passa a fazer parte do ensino fundamental, não poderá ser vista como sujeito a quem
falta conteúdo de educação infantil ou como sujeito que será preparado neste primeiro ano para os anos seguintes
desse nível e tão pouco ter como objetivo a alfabetização. A criança está em ensino obrigatório e para tanto precisa
ser atendida em termos legais, pedagógicos e socioafetivos.
Quando os pais matriculam seus filhos na escola demonstram certa expectativa em torno do trabalho desenvolvido.
Muitos acreditam que a educação infantil seja desnecessária, outros esperam que seus filhos sejam alfabetizados
na educação infantil.
Compreendendo que o fato de uma criança ingressar aos seis anos no ensino fundamental, não significa a
obrigatoriedade em alfabetizá-la, mas sim levar em consideração as questões afetivas, emocionais, sociais e
cognitivas pode-se ressaltar pontos importantes para o seu desenvolvimento nesta nova etapa da educação formal:
- Respeito à dignidade e aos direitos das crianças.
- Direito de brincar.
- Acesso aos bens socioculturais disponíveis.
- Socialização por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais.
- Viver experiências prazerosas nas instituições.
Neste sentido, diz Bleger (1984), que toda instituição é um instrumento de organização, regulação da personalidade
e controle social dos indivíduos, uma vez que o ser humano encontra nas instituições elementos de identificação,
apoio, suporte, segurança e pertença.
Todos os sistemas, baseados na interação pessoal (família, escola, grupos profissionais) são grupos que possuem
sua própria história e a partir do qual se faz necessário repetir sequências de interação e definir relações.
Embora a lei do ensino fundamental de nove anos pareça de toda forma complexa à sociedade e aos pais de
crianças oriundas da educação infantil, a problemática e a responsabilidade dos educadores continua a mesma
se aprofundarmos nossa análise, já que é o professor, como mediador de conteúdos, que terá a metodologia e o
objetivo de proporcionar, dentro da sala de aula, uma educação de qualidade.
A relação estabelecida pelos educadores e alunos incidirá, notavelmente, sobre a aprendizagem do mesmo.
Assim, acredita Vigotski (1993), que os educadores devem ter em mente qual aprendizagem desejam estimular,
quais capacidades priorizarem e, deste modo, conduzir a aprendizagem para que esta seja a mais completa e
integral possível.
A importância do vínculo afetivo na relação aluno – educador é fundamental quando pensamos no desenvolvimento
das capacidades e habilidades dos alunos, bem como as dificuldades de aprendizagem inerentes a esta relação.
O educador vive numa sociedade complexa, participando das interações sociais, sendo fruto da realidade
cotidiana das escolas e cabe a ele a tarefa de individualizar as situações de aprendizagem oferecidas às crianças,
considerando suas potencialidades.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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Acreditando que a criança possui uma natureza singular, caracterizando-a como ser que sente e pensa o mundo de
um jeito próprio e que a escola estará em “sintonia” com as capacidades etárias, sociais, psicológicas e cognitivas,
a ampliação do ensino fundamental para nove anos pode significar uma possibilidade de qualificação do ensino e
de aprendizagem, visto que a criança terá mais tempo para se apropriar dos conteúdos.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
Nesta unidade, vimos a importância da ética profissional no trabalho psicopedagógico. Sabemos que a ética é
fundamental ao exercício comprometido de toda profissão.
1. Escolha uma profissão no âmbito educacional e escreva um texto a respeito da ética.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
UNIDADE V
APRENDIZAGEM E PROBLEMAS EMOCIONAIS
Professora Me. Márcia R. de Sousa Storer
Professora Esp. Nadyesda Lessandra F. Martinez
Objetivos de Aprendizagem
• Entender como as emoções ajudam ou interferem na aprendizagem.
• Compreender como a afetividade auxilia na aprendizagem e como este vínculo é positivo e produtivo
no processo terapêutico.
• Conhecer alguns dos distúrbios emocionais para melhor identificação e indicação terapêutica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Afetividade e Aprendizagem
• Distúrbios Emocionais
INTRODUÇÃO
A afetividade, na teoria de Piaget, funciona como uma fonte de energia para o funcionamento da inteligência.
Através de um conjunto de experiências de apegos que a criança vai adquirindo vai sendo constituído nela um
modelo interno de relações afetivas.
A relação pais e filhos independem de apenas possuir sensibilidade materna ou paterna, mas implica na sensibilidade
padrão de conduta que contextualiza esta relação. Sendo esta sensibilidade uma disposição em prestar atenção
aos sinais da criança e interpreta-los de maneira adequada para responder claramente e rapidamente.
Na escola, a atenção do educador não foge à figura central de observação constante: a criança. A esta deve ser
dada de maneira adequada e bem dirigida respostas e direcionamentos em forma mediativa. O professor não está
na escola para resolver os problemas afetivos das crianças, mas para acompanhar e mediar situações de conflitos
nas relações e na aprendizagem.
AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM
Desde a família as práticas educativas podem
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
produzir diferentes efeitos na criança. A
individualidade da criança exerce uma influência
na educação utilizada pelos pais, pois há a
influência de diversos fatores intra e extrafamiliares.
Em
uma
perspectiva
externa
quanto
à
aprendizagem, podemos observar os estímulos
que o meio propicia através das condições
afetivas, sociais, econômicas e culturais que a
criança está inserida.
Além da família, o professor deve-se colocar
como um mediador para uma aprendizagem
significativa através da afetividade durante todo
processo de apropriação do conhecimento.
A afetividade não modifica o funcionamento da inteligência, mas pode acelerar ou atrasar, podendo interferir no
seu funcionamento.
Wallon (...), distingue afetividade de emoção, tendo a afetividade um contexto mais amplo, incluindo aspectos:
orgânico, corporal, motor, emocional, cognitivo, os sentimentos e a comunicação. E a emoção corresponde à
afetividade.
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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Confirmando assim, a interferência que esta pode exercer sobre o indivíduo, em um contexto familiar e escolar,
enquanto meio, a afetividade influencia na construção da individualidade da criança e no desenvolvimento de sua
personalidade.
Na escola, as relações com os amigos e professores, estabelecem um amplo espaço para desenvolver a
individualidade através dos conflitos cotidianos em sala de aula, no pátio, nas brincadeiras, tornando a escola um
dos centros de relações mais importantes na vida das crianças.
As interações podem resultar na criança sentimentos de competência ou de frustração, fracasso, inferioridade e
incompetência. Aqui se pode distinguir o papel do professor como “animador”, estimulando o processo que leva a
criança a aprender “administrar” tais sentimentos.
Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ
Através da afetividade, revela-se o desejo e sendo este desejo revelado
surge o querer que busca algo a ser alcançado: o aprender. Ou seja, a
afetividade rompe com “barreiras” que bloqueiam a aprendizagem, tornando-a
satisfatória e não “enfadonha” em todos os momentos. Entre estas barreiras
encontra-se o medo do fracasso, de perder o controle, medo da reação do
meio. Bloqueios estes vão sendo enraizados no decorrer das experiências de
sucesso e fracasso na vida da criança.
O medo revela expressões de insegurança, fuga, auto-proteção e busca por
atenção. Ele paralisa e o estímulo à coragem pode mediar o processo de
superação, podendo ser apenas o desejo de tentar um triunfo.
Crianças que apresentam dificuldades e/ou distúrbios de aprendizagem
apresentam constantes alterações de sentimentos: tristeza e alegria.
Crianças com dificuldades emocionais podem apresentar olhos oblíquos
(para evitar olhar nos olhos), lábios contraídos, tronco curvo, poucos gestos e
palavras, movimentos inseguros, tensão muscular principalmente na área do
pescoço, nas mãos e na postura.
Alguns sinais emocionais podem ser indicativos de que algo não está bem e ainda podem interferir e/ou prejudicar a
aprendizagem. Podendo ser: a raiva, a agressividade, o medo, a timidez em excesso, a ansiedade e a insegurança.
Crianças com fortes experiências de frustração e falta de afeto e amor, que vivem em ambientes de opressão e
agressão podem adotar a agressividade como proteção.
DISTÚRBIOS EMOCIONAIS
Distúrbio Desafiador e de Oposição: ocorre em um quadro com padrão de comportamento negativista, hostil e
desafiador, por um longo período de tempo – ao menos seis meses de duração – acompanhado por quatro ou
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
mais dos seguintes sintomas:
- Costume de perder a paciência.
- Costume de discutir com adultos.
- Costume de desafiar de maneira ativa, ou de se recusar a cumprir regras ou pedidos feitos por adultos.
- Aborrece as pessoas de maneira deliberada.
- Justifica seus erros ou mau comportamento culpando os outros.
- É sensível e se aborrece com facilidade.
- Fica zangado e aborrecido com frequência.
- Apresenta maldade e sentimento de vingança.
O DDO em crianças sem tratamento adequado pode transformar-se em um Distúrbio de Conduta e com tratamento
ainda pode evoluir para um quadro de Transtorno de humor ou ansiedade, podendo persistir alguns sintomas de
agressividade.
Distúrbio de Conduta: este é o mais grave distúrbio psiquiátrico da infância, sendo um padrão repetitivo e persistente
de violação de regras, constantemente, violados. Dos sintomas abaixo mencionados ao menos três devem estar
presentes nos últimos doze meses e pelo menos um critério presente nos últimos seis meses:
- Agressividade com pessoas e animais: costuma tiranizar, ameaçar ou intimidar os outros; costuma iniciar
lutas físicas; usou alguma arma que possa causar danos físicos a outros; crueldade física com animais e/ou
pessoas; roubou durante confronto (assalto, furto de bolsa etc.).
- Destruição de propriedade: envolveu-se em incêndios com intenção de prejudicar; destrói propriedade alheia.
- Violações graves das regras: costuma “matar aula” antes dos 13 anos de idade; já fugiu de casa à noite pelo
menos duas vezes; fica fora durante a noite apesar das proibições dos pais.
- Fraudes ou roubo: furtou artigos de valor; costuma mentir para adquirir favores ou bens para evitar trabalhar;
já invadiu domicílios, edifícios ou carros.
Os pais e as preparações necessárias para a chegada de um novo bebê
Por Márcia Regina de Sousa Storer e Patrícia Daniele Constantin
A afetividade é o sentimento que une as pessoas com o desejo de se amarem, estarem juntas e viverem juntas,
dinamizando as relações e constituindo, assim, uma família.
A família é uma instituição sagrada, na qual o ser humano desenvolve a base e encontra referências para a vida.
Planejar o nascimento dos filhos costuma ser uma decisão difícil para os pais, sendo essencial que aconteça em
momento de verdadeira cumplicidade do casal. Segundo Aguiar (2005), o nascimento do filho inaugura uma família
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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e realiza significativas modificações que vão desde espaço físico para abrigar o bebê até a vida social, conjugal e
financeira. Os pais têm muito a aprender com a chegada do primogênito.
Quando o segundo filho nasce, os pais já estão mestres no que diz respeito à paternidade e maternidade, então,
não serão eles, e sim, o filho mais velho que precisará de mais atenção neste processo de aprendizado.
Minuchin (1985) confirma que a chegada de um novo filho pode gerar um aumento na tensão familiar, pois traz
consigo a necessidade de uma reformulação nos papéis de cada um de seus membros e nas suas regras de
funcionamento.
Cabe aos pais proporcionar afeto, pois a ausência de uma relação saudável pode prejudicar o desenvolvimento
emocional dos filhos. Preocupações dos pais quanto à possibilidade de o primeiro filho sentir ciúmes do irmãozinho
que está por vir e a nova adaptação dependerão da mentira como os pais irão proceder com a vinda do novo bebê.
Podemos, assim, dizer que quem proporcionará um momento de tranquilidade para este acontecimento familiar
serão os pais. O clima de ansiedade ou tranquilidade começa com e nos pais.
Uma nova reorganização acontecerá de forma a abrigar esse novo elemento, em que todos são afetados e afetam
esse novo ser que chegou para fazer parte desta família que estava organizada (AGUIAR, 2005).
A criança percebe que há “algo” estranho no ar, que a mãe está diferente e que os adultos conversam sobre um
assunto que ela desconhece. É importante que após a confirmação da gestação, os pais contem à criança que um
irmãozinho irá chegar. Quanto mais cedo isto acontecer, mais tempo terão para que a criança se acostume com a
ideia e possa iniciar a criação do vinculo de amor com o irmão que virá.
O melhor a fazer é dar mais atenção e carinho, com presença marcante dos pais, principalmente, nos momentos
considerados mais difíceis para ela.
As possíveis alterações na vida do irmão mais velho podem e devem ser ministradas antes do nascimento do
bebê, pois ele pode associar tais mudanças à chegada do irmãozinho. São elas: troca de quarto ou cama, treino
de toalete e maior independência no cumprimento das tarefas diárias com maior envolvimento e presença do pai,
realizando, frequentemente, as rotinas de alimentação, passeios, brincadeiras, banho e hora de dormir, para que
a criança possa substituir gradativamente e habilidosamente a ausência da mãe quando esta estiver no hospital
ou ocupada com o bebê.
Nesse sentido, as interações e relações familiares durante a gestação desempenham um papel fundamental na
adaptação da família após o nascimento do segundo filho.
Estudos já comprovam que as mudanças vêm acompanhadas de ansiedade e instabilidade nas relações, porém
os resultados destacam a capacidade adaptativa dos membros dessas famílias. Com o passar do tempo tudo se
resolverá e os irmãos possivelmente se tornarão amigos inseparáveis.
A criança pode e deve fazer parte dos preparativos da chegada do irmãozinho.
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
Os pais podem convidá-la a fazer carícias na barriga da mãe, conversar com o bebê que está se desenvolvendo
dentro dela, assim entenderá as transformações que irão acontecer com a mamãe. Acompanhar os pais em uma
consulta médica e a um ultra-som, lembrando que o momento de espera deve ser preenchido com brinquedos e
lanches preferidos pela criança, tornando-se prazeroso participar com a mamãe desse momento.
Convide a criança para participar da compra e da escolha dos móveis, roupas e brinquedos para o quarto do bebê.
Estimule a criança a escolher sozinha um dos pertences ou roupinhas para o bebê, pois se sentirá integrante e
ativa desse novo contexto.
Acostume seu filho a passar menos tempo sozinho com você, principalmente, se você nunca o deixou com um
cuidador e vai precisar fazê-lo depois que o bebê chegar, comece a deixá-lo aos poucos por curtos períodos
durante o dia.
Durante os diálogos sobre o bebê evite frases como: - “Não fique preocupado, não vamos gostar mais do seu
irmãozinho do que de você”. Por melhor que seja sua intenção, tal afirmação pode causar angústia em seu filho.
Ele pode desenvolver um sentimento de menos valia com relação ao irmão.
Peça ajuda na escolha do nome para o bebê, lembrando que a decisão final cabe aos pais.
Com a aproximação da data do parto explique ao seu filho sobre o período que a mãe ficará no hospital. Convide-o
para arrumar as malas e certifique-se de que a pessoa que ficará com ele está completamente familiarizada com
sua rotina.
É importante que os pais compreendam que a vinda do irmão pode significar, para o primogênito, ter que dividir
seus brinquedos, a atenção dos pais, o carinho e que tudo isto, provavelmente, será acompanhado do sentimento
de ciúmes. Assim como entender que será a estrutura e a maturidade deles de fundamental importância para a
amenização deste momento de passagem da criança, de “centro das atenções” para “o filho mais velho”.
Os pais devem envolver o filho nas tarefas com o irmãozinho, como ajudar a dar banho, escolher a roupa para o
bebê, passar os cremes, trocar as fraldas, entre outras atividades, criando assim uma simpatia mútua.
Nesse momento, o pai desempenha um papel muito importante e indispensável na vida do filho mais velho, com
maior dedicação aos passeios, parques e outras atividades de escolha da criança, minimizando o desconforto de
ter que dividir o tempo da mãe com o bebê.
O comportamento do filho mais velho varia de criança para criança. Alguns ficam mais nervosos, outros mais
chorões. Há os que ficam mais tímidos ou mais agressivos, os que retrocedem ou resolvem ser mais independentes.
Segundo relatos de Janeth, 35 anos e mãe de três filhas que passou por essa experiência com gravidez de
gêmeas, quando a filha Maria Luiza estava com 8 meses de idade, entender todo o processo e saber administrálo nem sempre é uma tarefa fácil. Segundo ela, a chegada de um bebê é uma alegria para toda a família. –
“Certamente que ter um irmão mais novo é uma alegria sim, mas também pode vir a ser um processo doloroso
demais. Cabe aos pais e cuidadores a difícil tarefa de ensinar o irmão mais velho que sentimentos opostos como
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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amor x raiva, carinho x ciúmes, coexistem em todos nós, basta que aprendamos a administrá-los em nossas
vidas”. Em seu depoimento Janeth ressalta que Maria Luiza precisou aprender muito precocemente que a atenção
pode ser dividida e nem por isso ela é menos amada ou menos importante. Segundo a mãe, ao mesmo tempo
em que é preciso dar atenção, cuidar para que não se sinta preterida, também se faz necessário lhe impor limites,
ter autoridade para dizer-lhe o que é certo ou errado, enfim, educá-la e não mimá-la, pois sabemos que existe
uma mistura de sentimentos que aflora no coração dos pequeninos quando recebem um irmãozinho ou duas
irmãzinhas, como no caso de Maria Luiza.
“Ao completar dois anos, ganhou uma bela festa de aniversário, ficou feliz, divertiu-se com seus primos, tios,
tias, avós, mãe, pai e irmãs apesar de alguns adultos, menos sensíveis aos sentimentos da aniversariante, ficar
às voltas com as gêmeas, como se estas fossem as donas da festa. Mas, mamãe e papai, ao perceberem isso,
ficaram ao seu lado e dedicaram o tempo todo à estrela da festa”.
Portanto, podemos afirmar que a decisão de aumentar a família vem acompanhada de desafios e conquistas e que
sem dúvida, a compreensão e o companheirismo entre os pais são ingredientes indispensáveis ao fortalecimento
da vida familiar.
“Acima de tudo o Amor” (I Cor 13).
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
No capítulo presente, estudamos a importância da afetividade na aprendizagem e em especial no processo
terapêutico de algumas dificuldades e/ou transtornos de comportamento.
1. Nesta perspectiva, o que a expressão do medo pode revelar em um quadro de problemas na aprendizagem e o
que pode ajudar na superação deste fator?
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
CONCLUSÃO
Caro aluno, durante todo o nosso processo de ensino e aprendizagem tivemos a oportunidade de acompanhar o
desenrolar teórico-metodológico acerca de uma temática central: Os problemas e dificuldades de aprendizagem
na infância.
Convidamos você, agora, a pensar sobre o questionamento proposto em nossa parte introdutória: “Qual a
necessidade de retornarmos ao contexto histórico para compreendermos o processo de desenvolvimento infantil,
nos atentando para as nuances apresentadas pelo mesmo, em especial naquilo que tange a dificuldade/distúrbio
de aprendizagem?”
Pensemos por um minuto, se todas as vezes que fôssemos explicar o que é um círculo para os nossos alunos
tivéssemos que estudar o que é um círculo, ou melhor, criar uma ideia nova do que esse círculo seja, ou ainda,
articular uma tese sobre círculos, estaríamos a todo o momento iniciando a nossa atuação do marco zero.
Dessa maneira, ao propormos, a você, um estudo sobre problemas e dificuldades de aprendizagem na infância,
necessitamos, piamente, buscar autores que já iniciaram esse caminho para nós, assim damos continuidade ao
processo, não ensaiando um retrocesso. Melhor ainda, quando fazemos isso, damos sustentabilidade a nossa
atuação enquanto professores, educadores ou profissionais ligados à educação. Mostramos que uma prática
consistente exige um arcabouço teórico sustentável, forte e direcionado.
Dessa maneira, compreendemos a relevância dos estudos de Luria, Piaget, Wallon, Vigotsky e Freud para o
processo de desenvolvimento infantil. Além do mais, são esses autores que embasam o trabalho não só do
professor em sala de aula, mas também a atuação de profissionais como o psicopedagogo, o psicólogo escolar
etc. Esses podem não optar pelo trabalho com alguns dos autores mencionados, mas precisam conhecê-los,
interpretá-los e, acima de tudo, respeitar a influência dos mesmos na história da humanidade, em especial, à
história das correntes pedagógicas educacionais.
É possível ressaltar que autores como Luria, Piaget e Vigotsky norteiam documentos importantes do meio
educacional do nosso país, um desses documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
Desse modo, ao falarmos sobre qualquer tema pertinente a educação ou mesmo ao desenvolvimento infantil, a
contextualização histórica é fundamental. Justifica-se ai a nossa escolha pelo caminho percorrido.
Pontuamos, ainda, que no decorrer do texto tratamos do desenvolvimento infantil englobando a esse a dificuldade
de aprendizagem da criança, pontuando sempre a relação intrínseca entre esse processo e o contexto escolar, no
qual há o desenrolar da aprendizagem conceitual.
A partir desse momento, você, educador, professor ou interessado em questões escolares, tem a base necessária
para a sua atuação e possíveis intervenções com os seus alunos em sala de aula, utilize bem os seus instrumentos,
faça uso dos mesmos para o crescimento de seus alunos. Se for preciso, encaminhe, auxilie, conduza.
Poucos têm a chance de atuar na área educacional lidando com o desenvolvimento desde a mais tenra idade. Ser
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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um observador próximo a esse processo ocorre por escolha, opte bem sobre como usar a sua. Releia Piaget e os
demais autores, qualquer dúvida, busque orientação. O processo de conhecimento é interminável, mas também
adorável para os olhos daqueles que querem apreciá-lo.
Sucesso!
Professoras Márcia e Nadyesda
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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA | Educação a Distância
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Apostilas utilizadas como recurso de estudo:
Compreendendo o TDAH. Material elaborado em parceria por: Helena da Silva Padro – Sérgio Antoniuk – Maria
Cristina Bromborg.
Distúrbios do Aprendizado. Material elaborado por: Magda Solange Vanzo Pestun.
Sites consultados:
www.scielo.org
www.abpp.com.br
www.psicopedagogia.com
www.psicopedagogiabrasil.com.br
www.casadopsicolog.com.br
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