JOÃO BATISTA DE ASSIS NETO Serviços de informação e cultura nas bibliotecas públicas e híbridas: relações interativas como parâmetro de análise São Paulo – 04 / Dezembro / 2006 JOÃO BATISTA DE ASSIS NETO Serviços de informação e cultura nas bibliotecas públicas e híbridas: relações interativas como parâmetro de análise Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Biblioteconomia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo – 04 / Dezembro / 2006 2 Serviços de informação e cultura nas bibliotecas públicas e híbridas: relações interativas como parâmetro de análise Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Biblioteconomia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Banca Orientadora: __________________________________________ Profa. Dra. Regina Keiko Obata F. Amaro _____________________________________________________ _____________________________________________________ São Paulo, de de 2006 3 À memória de meus pais: grandes mediadores À minha família Aos meus amigos À vida 4 AGRADECIMENTOS À professora Regina Keiko Obata F. Amaro, pelo profissionalismo aplicado na orientação, e pelos diálogos que mantivemos: sempre com dicas corretivas, mas sem perder o encantamento. Aos professores e demais funcionários do CBD, pelo incentivo e atenção ao longo do curso. À “turma de biblio”, pelo convívio e amizade. Aos amigos de fora e família, pela vibração quando ingressei na comunidade uspiana. Às bibliotecas públicas, pelo fascínio que me causam. 5 REFERÊNCIA DE TCC Assis Neto, João Batista de Serviços de informação e cultura nas bibliotecas públicas e híbridas: relações interativas como parâmetro de análise / João Batista de Assis Neto. – São Paulo: ECA/USP, 2006. 111p. : il. ; 26cm. 1. Bibliotecas públicas – São Paulo (cidade). 2. Bibliotecas híbridas – São Paulo (cidade). 3. Biblioteca interativa. 4. Serviço de Referência e Informação - SRInfo. 5. Relações interativas. 6. Centros Educacionais Unificados – CEUs. 7. Biblioteca Rubem Braga. 8. Serviço de informação e cultura. I. Título. CDD – 027.40981 RESUMO Este trabalho faz uma análise dos serviços de informação e cultura em bibliotecas públicas municipais e híbridas da cidade de São Paulo. Tem o intuito de apresentá-los a partir de panorama cultural e educacional, bem como das políticas públicas estabelecidas. Interpreta suas linguagens, carregadas de representação simbólica, as quais devem ser decifradas. Trata de um novo conceito de biblioteca, onde se valorizam as relações culturais; comunicacionais; ambientais; pessoais e sociais, além de informacionais. Mostra a importância de o bibliotecário atuar como mediador entre biblioteca, usuário e comunidade, para que deixem de ser meros receptores e passem a produzir informação e cultura, num processo interativo. Palavras-chave: Bibliotecas públicas. Bibliotecas híbridas. Biblioteca interativa. Serviço de referência e informação – SRInfo. Relações interativas. Centros educacionais unificados – CEUs. Biblioteca Rubem Braga. Serviço de informação e cultura. 6 ABSTRACT This work makes an analysis on the information and culture services in municipal and hybrid public libraries of the city of São Paulo. It has the intention of presenting them based on education and cultural prospectives, as well as of analysis of public politics established. It interprets their languages, Filled with symbolic representation, which must be deciphered. Discusses a new library concept, where the cultural, comunication, environmental; personal and social relationships are enriched and also the information exchange. Shows the librarian's importance to act as mediator between the library, users and community, so that they stop being mere receptors and start to produce information and culture in an interactive process. KEYWORDS: public library; hybrid library; interactive library; information and reference service; interactive relationships; unified education centers; Rubem Braga Library. Information and culture service. 7 SUMÁRIO Apresentação 11 1 Introdução 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo geral 1.1.2 Objetivos específicos 1.2 Justificativa 1.3 Metodologia 1.3.1 Referencial teórico 1.3.2 Recursos documentais e informacionais 12 12 12 13 13 14 14 16 2 Bibliotecas públicas da cidade de São Paulo 2.1 As políticas públicas 2.2 Os públicos e os serviços 16 23 29 3 Centros Educacionais Unificados (CEUs): bibliotecas híbridas 3.1 Panorama educacional e cultural 3.2 Serviços desenvolvidos 33 33 41 4 Biblioteca pública x biblioteca híbrida 4.1 Relação biblioteca / público real 4.2 Relação biblioteca / sociedade 44 45 49 5 Serviço de Referência e Informação (SRInfo) 52 5.1 SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: linguagens e construção de relações 57 5.1.1 Linguagem espacial e do mobiliário 58 5.1.2 Linguagem do acervo 61 5.1.3 Linguagem de representação do acervo 62 5.1.4 Linguagem dos mediadores e da comunidade 64 5.2 Atividades do SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: análise 66 5.3 Propondo atividades interativas 71 6 Considerações finais 82 7 Referências 87 Anexo I Relação das bibliotecas públicas da cidade de São Paulo Anexo II Quadro cronológico de evolução das bibliotecas públicas Anexo III Reportagem sobre a Biblioteca Mário de Andrade Anexo IV Reportagem sobre o estado geral de algumas bibliotecas públicas municipais da cidade de São Paulo 8 Anexo V Reportagem sobre a criação dos CEUs Anexo VI Reportagem sobre educação em São Paulo Apêndice I Síntese de diagnóstico da Biblioteca Rubem Braga Apêndice II Relato de uma experiência fotográfica realizada na Biblioteca Rubem Braga Apêndice III Texto “Meus mediadores” 9 “Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual, mas me descubro membro de uma grande comunidade humana... Sou realmente um homem quando meus sentimentos, pensamentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso”. Albert Einstein 10 APRESENTAÇÃO Este trabalho pretende estudar os serviços de informação e cultura destinados à comunidade, implantados pelas bibliotecas públicas municipais da cidade de São Paulo, tanto daquelas subordinadas à Secretaria Municipal de Cultura (SMC), quanto as bibliotecas dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), ligadas à Secretaria Municipal de Educação (SME). Para tanto, será realizado um levantamento dos serviços desenvolvidos que serão estudados, tendo como base os conceitos operacionais propostos por Amaro, que prevêem fundamentalmente a construção de relações interativas, imprescindíveis para que a biblioteca pública exerça a sua função social transformadora de cotidianos e pessoas. A partir desses estudos, serão propostas algumas ações interativas para os serviços dessas instituições. 11 1 Introdução Diante da sociedade da informação, com as facilidades de comunicação global e grande apoio de tecnologias em inúmeras atividades diárias das pessoas, torna-se interessante verificar o papel das bibliotecas públicas municipais na realidade social, a partir de uma análise de seu Serviço de Referência e Informação (SRInfo). Numa abordagem geral, destacamos os principais fatos e atores do surgimento e desenvolvimento da biblioteca pública e das bibliotecas dos CEUs, bem como os aspectos socioculturais e políticos da época em que foram implantadas. Apresentamos as políticas públicas estabelecidas e seus reflexos nos serviços oferecidos por essas instituições. Incluímos quadro cronológico e matérias publicadas sobre o estado precário em que muitas se encontram. As características do atendimento e dos serviços oferecidos e o tipo de público atingido serão observados. Em seguida, identificaremos as características da relação das bibliotecas com o público real (freqüentadores) e com a sociedade, através desses serviços. 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo geral Fazer uma análise do Serviço de Referência e Informação de bibliotecas públicas e das bibliotecas Educacionais Unificados da cidade de São Paulo. 12 dos Centros 1.1.2 Objetivos específicos a) Analisar como são realizadas algumas atividades da Biblioteca Rubem Braga, do CEU Cidade Dutra; b) Propor ações interativas para se repensar algumas atividades da Biblioteca Rubem Braga; c) Analisar as relações entre biblioteca / escola / sociedade; d) Apresentar e discutir as linguagens que envolvem os serviços de informação e cultura de bibliotecas públicas e da Biblioteca Rubem Braga. 1.2 Justificativa Após tomarmos ciência dos conceitos operacionais e das práticas de um novo serviço de informação, através da disciplina “A biblioteca com função educativa: a criança e o jovem”1, percebemos que o modelo apresentado de Biblioteca Interativa era o parâmetro adequado e inovador para a análise dos Serviços de Referência e Informação das bibliotecas públicas e bibliotecas dos CEUs, da cidade de São Paulo. Outra justificativa para essa análise está no fato de trabalharmos em biblioteca desde 1990, e sentirmos a necessidade de mudanças que possam trazer melhorias aos serviços de informação e cultura das bibliotecas em questão. 1 Disciplina ministrada pela profa. dra. Regina Keiko Obata F. Amaro, ECA/USP, em 2005. 13 1.3 Metodologia 1.3.1 Referencial teórico A base conceitual de nossa análise foi extraída das pesquisas desenvolvidas por Amaro (AMARO, 1998; OBATA, 1999) que fundamentaram a construção de uma nova concepção de biblioteca, a Biblioteca Interativa. Segundo a autora, “A biblioteca interativa é um serviço de informação que busca estabelecer relações de interação entre o sujeito e a informação e a cultura para que o mesmo seja não só um receptor, mas também um produtor. Nessa concepção, a biblioteca deixa de ser apenas um espaço de difusão ou disseminação da informação e da cultura, para ser também um espaço de expressão” (AMARO, 1998, p.58). Torna-se relevante extrair alguns pontos do trabalho de Amaro (2005) que nortearam nosso estudo. A autora destaca a necessidade de se construir uma biblioteca com função educativa diante a globalização e de crises de relações sociais, principalmente no meio familiar. Criança e jovens são os mais atingidos pela desestruturação, quando saem da família e entram nas instituições como escola e biblioteca, por exemplo. São espaços ideais para abarcar os serviços de informação educativos (p.305-06). Esses espaços devem se tornar espaços de socialização, com intuito de se construir interações/inter-relações de informação, cultura, comunicação, ambiente, pessoal e social. Para isso, afirma Amaro, não basta apenas dar o acesso à informação e cultura, é necessário que ocorra a apropriação da biblioteca com seus produtos e serviços, pela criança, 14 pelo jovem e pelo cidadão (p.305). É destacada a importância de se considerar a diversidade cultural dos indivíduos. Destacam-se também as noções de autonomia como uma conquista, uma construção feita pelo indivíduo, para transitar na vida política, social, econômica ou cultural. Outra noção que define essa nova concepção de biblioteca é a interação, em que o indivíduo deixa de ser receptor e passa a ser produtor de informação e cultura. Na Biblioteca Interativa, essa relação de autonomia, apropriação, produção, deve ser um processo contínuo de construção. Ainda, segundo Amaro (2005), toda essa construção apresenta linguagens do sistema de informação. São as linguagens do espaço e dos instrumentos documentários; do acervo (produtor da informação e dos bens culturais); dos agentes (mediadores e comunidade da biblioteca e do seu entorno). Além desses conceitos operacionais, a autora destaca a sociabilidade, a afetividade e a ludicidade (p.307). Mas a construção de biblioteca com função educativa exige formas de interação ou estratégias. Estratégias de negociação e de neutralização, aplicada através de negociação som setores envolvidos para se evitar ou neutralizar resistências, tensões e conflitos provocados pela implantação de algo inovador. Estratégias de apropriação, algo que deve ser construído cotidianamente. Elas visam incorporar práticas, conhecimento e informação de todos os envolvidos na construção da biblioteca, através de relações interativas, ou seja, um subsidiando o outro. Nas estratégias de motivação e manutenção de interesse, implementam-se projetos de planejamento, capacitação, formação, também numa construção cotidiana (p.307-08). 15 1.3.2 Recursos documentais e informacionais Revisão da literatura especializada a partir de levantamento realizado em: a) Diagnóstico da Bibliote ca Rubem Braga (Apêndice I); b) Estudo de documentos administrativos (projetos, relatórios, manuais, normas etc, relativos às bibliotecas públicas e bibliotecas dos CEUs do município de São Paulo); c) Estudo das informações oficiais veiculadas nos sites oficiais das Secretarias de Cultura e de Educação (decretos, programas e propostas de política cultural e educacional, plano diretor etc.); d) Observações in-loco dos espaços, das atividades e dos serviços, conversas informais com profissionais e técnicos das respectivas bibliotecas; e) Utilização da própria experiência acumulada ao longo de 14 anos trabalhando em bibliotecas públicas e dois anos em biblioteca híbrida. 2 Bibliotecas públicas da cidade de São Paulo Existem inúmeras bibliotecas públicas espalhadas pelas quatro regiões da cidade, municipais (BPMs) com maioria na periferia (ANEXO I). E mesmo pertencendo a uma rede, cada qual tem suas especificidades, o que não impede a generalização ao se tratar, por exemplo, de suas funções. Diversos autores (AMARO, 1998; ANDRADE e MAGALHÃES, 1979; CHARTIER, 1999; MILANESI, 1996; NEGRÃO, 1983; OLIVEIRA, 1994), entre outros, abordam a questão de se associar a biblioteca pública com o livro; promoção da leitura, e o público estudantil, 16 que por falta de biblioteca escolar, representa 90% do público atendido pela biblioteca pública, caracterizando sua escolarização. Tal relação direta deve-se a uma parte de sua história (ANEXO II). Durante o Estado Novo, em 1937, foi criado o Instituto Nacional do livro (INL), órgão que, entre outras atribuições, distribuía livros às bibliotecas, mas de maneira autoritária. Com o INL, controlava-se o que seria lido no país. Isso caracterizou a Biblioteca, mas não impediu seu florescimento. De acordo com Negrão (1983), entre inúmeros fatores responsáveis pelo desenvolvimento da BPM, de 1926 a 1951, estão o aumento do número de estudantes e, conseqüentemente, de livros; maior uso da biblioteca, o que refletia no mercado editorial. Permissão de acesso do público à biblioteca [....] como meio de auxiliar nos programas de combate ao analfabetismo. Outros fatores como: ação de seus diretores; profissionalização de bibliotecários e formação de técnicos; propagandas gratuitas em jornais e rádios; desenvolvimento econômico e sociocultural da cidade de São Paulo, responderam também por essa ascensão, até sua expansão pelos bairros da cidade, fato esse ocorrido a partir de 1952. Retornando ao tempo de sua concepção, notam-se esforços de intelectuais e de alguns políticos para impor a presença da BPM como instrumento de transformação social. Infelizmente, naquela época já se fazia uso, nas palavras de Negrão (1983), “de palanque eleitoreiro”, ou seja, tirar vantagem política de inauguração às pressas. Como exemplo, a instalação nova da biblioteca pública na praça Dom José Gaspar, que, inaugurada em janeiro de 1942, só entrou em pleno funcionamento no ano seguinte. É o jogo da politicagem, onde: “Existem homens tenazes que plantam na cabeça a idéia da construção de um centro de cultura e fazem disso uma prioridade em seu programa de governo. Recursos? Aparecem, pois não há miséria que resista a um sonho 17 monumental. Arquitetos famosos são convocados, técnicos visitam obras similares no mundo [....] escavam, plantam alicerces, erguem grandes colunas, arcos [....] jardins. A inauguração [....] para os últimos dias da gestão [....] É sabido que na administração pública brasileira, comprometida fortemente com a política partidária (quando muda o partido no poder, o que a sigla anterior construiu corre o risco de perder o seu valor) raramente há continuidade nos projetos” (MILANESI, 1996, p.23-24). Homens dessa estirpe sempre existiram, mas isso não conseguiu ofuscar o brilhantismo de outros como: Mário de Andrade, Paulo Duarte, Rubens Borba de Moraes e Sérgio Milliet – relevantes intelectuais responsáveis pela criação do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, na década de 30. Criação essa, que na opinião de Machado (2001): “[....] Jogou luz de forma inaugural sobre a questão da cultura nas administrações públicas”, além de – continua o autor – “No terreno das bibliotecas, pelo grau de ineditismo, profundidade das medidas e pela amplitude de visão, mais que as ações, que nem todas puderam ser postas em prática devido à queda do governo, o projeto do Departamento de Cultura pode ser considerado até nossos dias o ponto mais iluminado em termos de políticas públicas para o setor” (MACHADO, 2005, p. 69-70). É sabido que Mário de Andrade ficou à frente desse Departamento entre 1935 e 1938. E nesse período, segundo Barbato (2004), citado por Haag (2004), 18 “Com a experiência do Departamento de Cultura de São Paulo, começa haver no Brasil a noção do que seja propriamente uma política cultural [...] Mário e seu grupo (que incluía Sérgio Milliet, Paulo Duarte, entre outros) tinham aversão à política e acreditavam que apenas a cultura poderia modificar o homem e deixá-lo melhor [....] abdicaram de suas obras pessoais por projeto cultural para a sociedade [....] [....] Mário e seus amigos desejavam “elevar” o povo à cultura burguesa e não destruí-la [...] Assim, ingressos gratuitos para todos e programas didáticos que chegavam mesmo ao ponto de ensinar quando aplaudir durante os concertos. O mesmo se deu com as bibliotecas ambulantes, que deveriam democratizar o acesso à leitura, chamadas de “loucura de menino” por Prestes Maia, para quem a iniciativa “oferecia romances policiais para os desocupados da Praça da República” [....] Em vez de livros e música, Maia queria gastar seu dinheiro com avenidas e pontes [....] Em 1938 Mário foi demitido!” (p.82-85). Partindo-se dessas atitudes, torna-se impossível não imaginarmos a situação atual desse departamento2. A curiosidade aumenta, quando se 2 As bibliotecas públicas estão subordinadas às suas respectivas Subprefeituras (Coordenadoria de Assistência Social e Desenvolvimento), a partir do momento em que houve a descentralização do poder do Governo Municipal, com a criação das Subprefeituras (Lei nº 13.399, de 01 de agosto de 2002 – Projeto de Lei º 546/2001, do Executivo) que prevê a transferência gradual de órgãos e funções da Administração Direta Municipal. A Coordenadoria responde pela implementação e execução das políticas públicas de inclusão e promoção nas áreas de Assistência social, trabalho, abastecimento, esporte, lazer, cultura (na qual a biblioteca se inclui), educação ambiental e atendimento habitacional emergncial. Bibliotecas que se tornaram polos da rede, temática (especializadas), por exemplo, deixarão de estar sob administração das Subprefeituras, retornando Secretaria Municipal de Cultura (SMC), através do Departamento de Bibliotecas Públicas. As instituições centrais Biblioteca Mário 19 de pensa nas bibliotecas, em rede, espalhadas pela cidade de São Paulo. Vemos neste momento cenários que até pouco tempo não eram comuns: inúmeras pessoas comunicando-se via celular nos veículos e ruas, outras carregando computadores portáteis; cinema em terceira dimensão; banco 24 horas e outdoor de plasma nas esquinas; além de locais de acesso à Internet, como lan houses e cibercafés. Tudo isso, é resultado de desenvolvimento científico e tecnológico, mostrando que: “Nas últimas duas décadas do século XX assistiuse a grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia [....] Ainda não se tem idéia clara do que deverá representar, para todos nós, a globalização capitalista da economia, das comunicações transformações tecnológicas surgimento era da da e da tornaram informação cultura. As possível o [....] As novas tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc [....] Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial” (GADOTTI, 2000, p.1-7). Tudo parece ser medido pelo grau de informação que se tem. O que pouco se percebe, são os excessos de informações fragmentadas Andrade, Centro Cultural de São Paulo e Teatro Municipal terão gestões autônomas, criando-se autarquias. 20 recebidas, sem que tenhamos tempo de filtrar, nem de avaliar. Recuperar informações completas, precisas e confiáveis na Internet exige um trabalho árduo de seleção entre milhões de resultados, após as buscas muitas vezes insatisfatórias. Isso acaba sendo um desserviço. Segundo Abramo (1995), citado por Evangelista e colab. (2001), “Uma das graves pragas modernas é a crença na informação. Vemo-la em plena atividade, por exemplo, nas resmas de papel dedicadas à chegada da Internet ao Brasil. A impressão é que, agora sim, saberemos tudo sobre tudo: o conhecimento ready-made nas pontas dos dedos [....]” (p.83). É nesse cenário globalizado, onde parece não existir barreiras nem distâncias para o acesso e a disseminação de informações, que as nossas bibliotecas públicas tentam sobreviver, devido ao atraso de sua inserção na era tecnológica, entre outras mazelas. Sabe-se que uma pequena parcela de brasileiros tem participação ativa na revolução causada pela informática, considerando os preços de computadores em relação ao baixo poder aquisitivo da maioria de nossa população. Tenta-se a sua inclusão digital, com abertura de telecentros, computadores nas escolas e bibliotecas, criando-se a idéia de que somos cidadãos do mundo. A iniciativa é boa, mas seria bem melhor se viesse acompanhada de um processo educacional. Todavia, segundo Takahashi, no Livro Verde (2000), “No Brasil, o crescimento recente das telecomunicações tem democratizado o uso do telefone. O acesso à rede Internet, contudo, ainda é restrito a poucos [....] Formar o cidadão não significa “preparar o consumidor”. Significa capacitar as pessoas para a tomada de decisões e para a escolha informada acerca de todos 21 os aspectos na vida em sociedade que as afetam, o que exige acesso à informação e ao conhecimento e capacidade de processá-los judiciosamente, sem se deixar levar cegamente pelo poder econômico ou político” (p. 7/45). Se de um lado esse cidadão tem de enfrentar os desafios lançados pela globalização, caso queira receber e/ou enviar quaisquer tipos de informação via Internet, seja através de textos, sons ou imagens, ou ter de se reciclar para não ser excluído dos avanços tecnológicos, o que pode significar estagnação ou não inserção no mercado de trabalho; de outro lado, segundo Amaro (2005), “[....] acentua-se uma crise das relações sociais e interpessoais, verificando-se, em grande parte dos centros urbanos do mundo, uma desorganização da família, em cujo interior são construídas as primeiras fases da socialização e da formação da estrutura de personalidade do indivíduo. O segmento da sociedade muito afetado por essas condições é o da criança e o do jovem [....]” (AMARO, 1998b, p.305). Amaro (2005) propõe soluções via biblioteca, mas com largas diferenças das tradicionais, onde há preocupação apenas com a conservação e difusão do acervo. Acha necessário transpor esses paradigmas, através de novas práticas da biblioteconomia e da ciência da informação, construindo referências para os serviços de informação com função educativa. Ela apresenta um novo conceito de biblioteca – como um espaço de socialização – visando construir interações e inter-relações culturais, comunicacionais, ambientais, pessoais e sociais, além de informacionais. Segundo a autora, 22 “[....] Para que esse objetivo seja alcançado, é insuficiente promover o acesso à informação e à cultura, solução freqüentemente presente nas políticas públicas e em programas governamentais e institucionais. Mais do que isso, é fundamental que ocorra a apropriação da instituição biblioteca e seus produtos e serviços pela criança, pelo jovem e pelo cidadão. Para tanto, a diversidade cultural em seus variados aspectos [....] deve ser o conceito fundador das noções orientadoras não só da construção física mas também das ações cotidianas da biblioteca” (AMARO, 2005, p.305-306). 2.1 As políticas públicas As políticas públicas são propostas criadas pelo governo para garantir o bem-estar social da população, seja na área da educação, saúde, cultura etc. Suas ações surtem efeitos a curto, médio e longo prazo, dependendo de vontade política, orçamento e, às vezes, pressão social para que elas ocorram, como pode ser observado na concepção: “Políticas públicas são um conjunto de decisões deliberadas, de longo alcance, condensadas em um corpo de documentos governamentais, com o objetivo de regular a criação, a administração e o desenvolvimento de determinada área da sociedade. São diretrizes que determinam o curso de ação, com visão estratégica e produz uma situação futura.” (OLIVEIRA, 1994, p.28). Buscamos a origem de política de bibliotecas nos estudos de (MILANESI, 1996; OLIVEIRA, 1994). Neles há consenso de que o INL, criado pelo Decreto Lei nº 93, de 21/12/1937, deu início à política de 23 bibliotecas pública no Brasil, além de impor a presença do livro nas bibliotecas através de uma prática autoritária, durante o Estado Novo. “No Brasil, por muito tempo, o Estado e sociedade ignorou a questão da biblioteca pública. A primeira biblioteca deste tipo surgiu 300 anos após o início da colonização e somente a partir de 1937, com a criação do INL, ela passou a contar com respaldo oficial para empreender seu processo sistemático de desenvolvimento. O INL produziu políticas de bibliotecas públicas, mecanismos institucionais que facultavam o compartilhamento, a difusão e o uso da informação disponível para as comunidades” (OLIVEIRA, 1994, p.17). Cabe lembrar que antes desse amparo do Estado, as bibliotecas eram mantidas por ordens religiosas ou por particulares, no intuito de dar apoio educacional aos indivíduos letrados. O acervo importado reproduzia o pensamento europeu da época, na sua maioria em inglês ou francês, o que inviabilizava o acesso de populares, criando-se o estereótipo “biblioteca como templo do saber”. A rigor, até final dos anos 20, não era possível apontar uma política pública para bibliotecas, já que governo e sociedade não agiam na intenção de desenvolvê-las (OLIVEIRA, 1994). Esse quadro começa a mudar com a atuação de Mário de Andrade e seu grupo com a experiência do Departamento de Cultura de São Paulo. Inicia-se a noção do que seria uma política cultural passando-se pela intervenção do INL, órgão responsável pela promoção do livro e da biblioteca pública, o qual estipulava a formação do acervo, os serviços e o tipo de públicos a ser atingido pela instituição, relembrando que sua atuação era autoritária. Esse autoritarismo nos remete à comparação entre políticas públicas e políticas governamentais, tratando-se de bibliotecas públicas 24 espalhadas – em rede – pela cidade, que segundo Monteiro (1982), citado por Oliveira (1994), “As políticas ditas públicas agregam decisões governamentais às de outras instituições da sociedade. Já as políticas governamentais emanam apenas de decisões do governo sem maior participação de outros agentes da sociedade em sua elaboração” (p.28). Em relação às bibliotecas públicas, a impressão de que elas são criadas e mantidas por políticas governamentais está no tratamento recebido da sociedade, como podemos observar nas palavras de Milanesi (1996): “[....] Raramente constam dos orçamentos municipais. Vivem de esmolas, não se atualizam e dispõem de acervo quase sempre incompatíveis à necessidade do público. É provável que os municípios não reagiriam de imediato se elas fechassem as portas [....] Talvez os alunos de primeiro e segundo graus [....] O adulto não encontra nessa instituição a praticidade à qual os alunos se agarram” (p.4-5). Tal quadro revela descaso por parte de autoridades que não consideram a biblioteca como investimento. Faltam políticas públicas pensadas, planejadas e implantadas de modo interativo, com participação e vontade popular, além de profissionais comprometidos com os objetivos da instituição. Outros fatores caracterizam o distanciamento entre biblioteca/sociedade/comunidade. Segundo Amaro (1998), “[....] tanto à ausência ou deficiência das políticas de informação e cultura quanto à inadequação das concepções que fundamentam 25 a organização e o funcionamento dos Sistemas de Informação. Desconsideram-se as particularidades das relações que devem ser estabelecidas entre os produtos culturais e informacionais e o usuário, assim como as especificidades da linguagem de cada um dos atores envolvidos no processo” (p.6) Para exemplificar, apresentamos a proposta de política cultural (2005 – 2008) da Secretaria Municipal de Cultura, da cidade de São Paulo3, da qual extraímos as ações pertinentes ao Sistema Municipal de Bibliotecas, citadas pelo prefeito José Serra: “Ações no curto prazo Transformação de quatro bibliotecas da rede em Bibliotecas-Pólo: uma em cada região funcionando como unidades de referência para as demais, sob administração de SMC Secretaria Municipal de Cultura, e não mais pelas Subprefeituras; Seis unidades da rede se tornarão temáticas: irão acumular determinadas acervos áreas do especializados em conhecimento ou expressão artística [....] passando a atrair um outro público [...] Criação de uma filmoteca: com documentários sobre a memória da política nacional; Reforma, ampliação e construção de bibliotecas, onde não há, como Parelheiros e Cidade Tiradentes; 3 Documento, com 22 páginas, expedido na gestão do prefeito José Serra, tendo como Vice-prefeito Gilberto Kassab; Carlos Augusto Calil como secretário de cultura e Maria Zenita Monteiro como diretora do Sistema Municipal de Bibliotecas. 26 Estender o serviço de leitura aos parques do Carmo, da Luz e da Aclimação; Retomar e ampliar o serviço dos ônibusbiblioteca, de quatro para dez, pelo menos; Implantar programas de leitura e criação literária nas bibliotecas para alunos da rede municipal de ensino; Reformar a Biblioteca Mário de Andrade (ANEXO III) além de retomar o projeto Colégio de São Paulo; Criar autarquias (órgãos centrais com gestão autônoma administrativa e orçamentaria, entre eles a Biblioteca Mário de Andrade, que vai se tornar um departamento próprio); Fusão dos Departamentos de Bibliotecas Públicas com o Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis, incluindo-se a gerência e normatização técnica de bibliotecas da rede etc. Ações no médio prazo Informatizar os catálogos e torná-los acessíveis via Internet; Construir nova sede para a Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda, de Itaquera, por estar em condições precárias; Revitalizar a Biblioteca Monteiro Lobato: reparos no edifício; expansão de acervo; ofertar mais atividades culturais; firmar parcerias com Senac, escritórios de arquitetura, editoras, para revitalizar também sua praça; 27 Expandir a Biblioteca Mário de Andrade: transferir o seu Setor Circulante, Serviços Técnicos e da Hemeroteca para um prédio próximo, na própria praça Dom José Gaspar; restaurar livros e obras raras; Ações permanentes Atualização e expansão do acervo de todas as bibliotecas” (p. 13-14). O documento enfatiza ações voltadas ao espaço físico – como reformas – animação cultural, leitura e expansão de acervo, além de reestruturação administrativa da Secretaria Municipal de Cultura e seus Departamentos. Pretende-se criar o Sistema Municipal de Bibliotecas, unificando os sistemas de bibliotecas específicas para adultos e as Unidades reservadas ao público infanto-juvenil, além de incluir funções temáticas e de pólo para algumas bibliotecas, inspiradas numa experiência francesa que destaca temas sobre história da mulher e feminismo, por exemplo. Tudo muito interessante, mas, onde estão as políticas para expandir o quadro de bibliotecários, hoje tão reduzido e necessário? Onde estão as políticas para melhorar a imagem das bibliotecas perante a sociedade, através de marketing; melhores e novos serviços à comunidade? Onde estão as políticas de atuação das bibliotecas em parceria com outras instituições como a Educação, por exemplo? Essas indagações fizeram parte de conversas informais com bibliotecários de SMC e de CEU, os quais apontam a falta de diálogo com os atores principais: a comunidade geral incluindo os profissionais, técnicos e auxiliares de bibliotecas da rede e de outras secretarias ao se elaborar e aplicar políticas públicas. 28 2.2 Os públicos e os serviços Em nossas análises das políticas públicas para bibliotecas do município, não foram encontrados estudos de usuário, de comunidade, nem política de seleção e aquisição de acervo. Sem esses referenciais, a idéia de qual público atender esvai-se completamente. Vimos que o público estudantil caracteriza a escolarização da biblioteca pública e, isso, contradiz o fato de que, “O objetivo principal de uma biblioteca pública é atender aos vários segmentos da comunidade: cada grupo tem necessidades e interesses específicos, e, por conseguinte, os serviços e produtos são programados de conformidade com esses interesses. Alguns deles serão dirigidos a escolares” (MACEDO, 2005, p.171). Com base na escolarização, observa-se que o objetivo principal, descrito por Macedo, fica comprometido. Nota-se um distanciamento quando se pensa no verdadeiro papel a ser desenvolvido pelas bibliotecas públicas na sociedade. Segundo Miranda (1979), citado por Almeida Júnior (2003), sob esta ótica: “Quanto às suas funções na sociedade ela é passiva4 (geralmente é depositária e não promotora do livro e da leitura), conservadora (excessivamente presa ao livro, com prejuízo de outros veículos de informação), elitista (atende a poucos quando deveria ser um direito de todos) e raramente está engajada na educação contínua, limitando-se ao empréstimo de livros de texto e para a realização de trabalhos escolares (funcionando, portanto, mais como biblioteca escolar)” (p.19). 4 Grifos do autor. 29 O quadro acima nos mostra claramente que biblioteca pública é um lugar hermético, centrado no acervo, tendo o livro como troféu de conquistas passadas, sem abrir espaço para outros suportes de nossa avançada era tecnológica, ainda que repleta de “analfabetos digitais”5. A biblioteca – pública apesar de estar em processo de informatização – ainda não apresenta diretrizes consistentes de atuação em rede porque: boa parte de seu acervo total ainda não está on-line; boa parte dos computadores recebidos em caráter de doação pela empresa Telefônica está sempre necessitando de manutenção terceirizada, sem mencionar os problemas de quedas constantes de redes mantidas pela PRODAM, empresa de processamento de dados da prefeitura de São Paulo. Outro ponto crítico, segundo os funcionários que operam os computadores, nas Unidades pesquisadas, é o baixo desempenho do software adotado, o “Alexandria”. Esse, desde sua implantação, ao substituir o “Dobis Libs”, vem passando por reformulações que não resolvem questões simples como: emissão de determinados relatórios, dados sobre cadastros e empréstimos efetuados diariamente, comprometendo o desempenho do SRInfo. Há casos em que bibliotecas ainda aguardam a chegada de computadores. Enquanto isso, disponibilizam os antigos catálogos manuais a quem se aventurar desbravá-los. Esses problemas estruturais acabam impedindo uma real modernização dos serviços e, isso, desmotiva os profissionais que se iniciam na era digital. Essa preocupação faz sentido. Na visão de Santos (2000), citado por Suaiden (2000), 5 Expressão extraída do livro: Sociedade da Informação no Brasil – Livro Verde. – Brasília, setembro/2000. 30 “A globalização exige de todos os atores, de todos os níveis e em todas as circunstâncias que sejam competitivos: as instituições, igrejas e bibliotecas, onde não há lugar para analfabetos e mão-de-obra 6 desqualificada . Deve destacar que as novas tecnologias produziram um usuário crítico e independente com relação aos serviços bibliotecários, sendo que a biblioteca não é mais a única fonte de informação” (p.18). Em relação às exigências competitivas da globalização, as bibliotecas públicas atendem da maneira que a situação permite (ANEXO IV). Os trabalhos de (ALMEIDA JÚNIOR, 2003; AMARO, 1998; MACEDO, 2005; MILANESI, 1996; NEGRÃO, 1983; SUAIDEN, 2000), entre outros, discorrem sobre os tipos de público nas bibliotecas. Observam-se maioria escolar (90%), alguns alunos de faculdades locais, poucos idosos, além daqueles em busca de jornais com cadernos de empregos e classificados. Os tipos e quantidade de público, acima descritos, se confirmam nas planilhas de controle de portaria, denominadas indicadores, nas quais as pessoas assinam o nome, além de inúmeros outros dados. A seguir, destacamos os serviços que são comuns a todas as bibliotecas da rede e aqueles que são específicos a somente algumas delas: a) Serviços comuns Empréstimos e consultas; contação de histórias ou hora do conto; encontro com escritores; exposições (fotos, artes plásticas, material interno etc); cursos e palestras; oficinas - Workshops (artes, poesia etc); hemeroteca (recortes de jornais e revistas); visitas monitoradas. 6 Grifo nosso 31 b) Serviços específicos de algumas bibliotecas Banco de textos teatrais; biblioteca braile; biblioteca pólo; biblioteca temática; brinquedoteca; cessão de espaço para ensaios; discoteca; elaboração e edição de jornal; estação memória; eventos de RoleplayGames (RPG); eventos em auditório (apresentações teatrais, palestras etc); excursões; exibição de filmes; exposição permanente; gibiteca; grupo melhor idade; grupo teatral; laboratório de línguas; núcleo de memória do respectivo bairro; obras raras; troca de gibis; sala multimídia; xerox. Considerados serviços de extensão: caixa-estante, bosque da leitura; ônibus-biblioteca. Registramos certa autonomia, por parte das Unidades, em realizar essa ou aquela atividade, apesar de responderem, através de relatórios e algumas reuniões, à supervisão de bibliotecas. Com uma situação precária, boa parte opta por exposições simples, visita monitorada, hora do conto, oficinas, pois são elas as que mais aparecem nos relatórios mensais como “eventos”, sem interligação com nenhum projeto. Isso está claro na formatação de relatórios mensais de bibliotecas públicas, nos quais, o item 7 refere-se a Programações, cujos campos reproduzimos abaixo: Quadro 1 7 – PROGRAMAÇÕES SIGLA: NOME DO EVENTO: DIA/PERÍODO: FREQÜÊNCIA: DESCRIÇÃO SUCINTA: Itens de relatório mensal de bibliotecas Não nos convém apresentar todo o modelo, porém vale destacar o fato de ele priorizar o que é quantificável, ou seja, dados numéricos como: dias trabalhados; acervo; freqüência; matrículas; materiais consultados; materiais emprestados; quadro de pessoal; observações diversas; eventos realizados. É curioso não destinar um campo para avaliação, mas descrição sucinta, o que demonstra privilegiar o “quanto” como justificativa para a abertura da Unidade. 32 Alarmante também, foi verificar que o respectivo modelo de relatório – criado pela SMC - é o mesmo utilizado pelas bibliotecas dos CEUs, apresentadas logo a seguir, demonstrando falta de conhecimento do objetivo do relatório ou inadequação na sua aplicação, uma vez que, segundo Almeida (2000), “O relatório serve, em última análise, para aprimorar os serviços da biblioteca, maximizar o uso da informação e dos documentos, e ampliar o âmbito de atendimento da biblioteca na comunidade à qual se destina. Além disso, um relatório bem elaborado vende uma imagem positiva da biblioteca e faz com que o bibliotecário seja reconhecido como um profissional diferenciado na instituição.” (p.41). Seguindo a proposta inicial de incluir em nossa análise outro modelo de biblioteca que surgiu em 2003, na cidade de São Paulo, apresentaremos a seguir as bibliotecas dos CEUs – de caráter público e escolar – que aparecem denominadas na literatura e sites oficiais como bibliotecas híbridas ou multidisciplinares. Para tanto, quando convier, serão feitas algumas comparações com as bibliotecas públicas, consideradas em muitas literaturas como tradicionais. 3 Centros Educacionais Unificados (CEUs): bibliotecas híbridas 3.1 Panorama educacional e cultural As bibliotecas híbridas ou multidisciplinares têm este diferencial: funcionam dentro de escolas públicas municipais, conhecidas por CEUs (ANEXO V), e atendem também à comunidade de seu entorno. São mistas, portanto. Torna-se interessante relatar seu surgimento e como funcionam. Poderemos observar se essa referência arquitetônica na 33 periferia, com piscina, teatro, cinema etc, está mesmo atraindo quem não ia à tradicional biblioteca pública. E confirmar se: “A construção dos Centros Educacionais Unificados visou a oferecer, de forma integrada, o atendimento à população das áreas mais desprovidas da cidade, comunidades satisfazendo que os interesses dessas buscam educação numa perspectiva mais ampla. Os 21 complexos que foram entregues em dezembro de 2003 ampliaram 50 mil vagas para o ensino fundamental, educação infantil e educação de jovens e adultos [....] Outro objetivo do CEU é propiciar à população acesso à biblioteca, centros cultural e esportivos integrados aos centros de educação [....] num mesmo complexo [....]” (PADILHA e SILVA, 2004, p.26-27). Foto de : Nelson Kon CEU Butantã: referência na periferia (Arquitetos: Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza) Longe de afirmar se o palanque eleitoreiro foi, ou não, o propulsor na construção dos CEUs, vale o registro de que – na época de sua 34 inauguração - esse plano de educação, na gestão de Marta Suplicy, fora bastante criticado. Muitos diziam ser um projeto caro e de manutenção também cara. Que os cofres públicos economizariam se criassem várias escolas menores; reformassem as existentes, ou substituissem as escolas de lata encontradas na periferia da cidade. Mais adiante, já na gestão de José Serra, o secretário municipal de educação Pinotti (2005) fez o seguinte comentário: “Esse potencial precisa funcionar na sua plenitude, não só para as 57.000 crianças, adolescentes e jovens matriculados nas unidades educacionais dos CEUs, mas também possibilitar o uso dos equipamentos adicionais (quadras, teatros, piscinas, laboratórios) pelas crianças das escolas do entorno, não de forma esporádica, mas mediante projeto pedagógico corretamente desenvolvido [....] Para tanto, temos que resolver o problema de gestão e manutenção de forma racional e eficiente, manter e ampliar os programas culturais e esportivos [....]” (p. 1617). Com esse desabafo de gestão subseqüente, constata-se uma preocupação com o desempenho dos CEUs, mas isso foge à tônica deste capítulo: desvendar novas possibilidades no ambiente de bibliotecas públicas, frente ao surgimento das bibliotecas híbridas. Cada CEU é composto por Núcleos – Educacional; Ação Cultural; Esporte e Lazer – subordinados ao gestor, que segundo Padilha e Silva (2004), “[....] é o responsável legal pelo CEU e por ele responde junto à Administração Pública Municipal, ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e aos órgãos e instâncias de controle e fiscalização” (p.153). 35 As bibliotecas pertencem ao Núcleo de Ação Cultural, o qual recebia orientações técnicas da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) no período de implantação dos CEUs. O acervo inicial das bibliotecas, chamado de acervo reserva, foi cedido por essa secretaria. Nota-se que não houve uma política de formação de acervo específica para cada biblioteca. Apesar de hoje as bibliotecas híbridas serem regidas pela Secretaria Municipal de Educação (SME), ainda é forte a influência de SMC sobre as híbridas, seja com adaptação de normas e práticas de bibliotecas públicas ou inclusão de formulários, sem considerar as diferenças entre as duas instituições. Segundo Macedo (2005), “Precisa ficar claro que a biblioteca escolar não é igual a uma biblioteca pública, e até deve tornar-se comunitária se houver condições para tal. Por outro lado, mesmo que a biblioteca pública faça as vezes de biblioteca escolar, por uma série de razões, a essência dessa última é de uma biblioteca sediada em um estabelecimento de ensino da educação básica . O objetivo principal de uma biblioteca pública é atender a vários segmentos da comunidade: cada grupo tem necessidades e interesses específicos, e, por conseguinte, os serviços e produtos são programados de conformidade com esses interesses. Alguns deles serão dirigidos a escolares [....]” (p.171). Diferenças e semelhanças à parte, em princípio, o número de bibliotecas públicas foi acrescido de 21 unidades, totalizando 88, com a implantação dos CEUs em São Paulo. E por estarem dentro de escolas, essas bibliotecas colocaram num mesmo espaço profissionais distintos – professores e bibliotecários – cena incomum nas bibliotecas públicas tradicionais. Juntos, ambos terão de aprender a conviver e a reconhecer as especificidades de uma biblioteca escolar, que segundo Antunes (1998), citada por Macedo (2005), 36 “Biblioteca escolar é o centro dinâmico de informação da escola, que permeia o seu contexto e o processo ensino-aprendizagem, interagindo com a sala de aula. A partir do perfil de interesses dos usuários, dispõe de recursos informacionais adequados (bibliográficos e multimeios) provindos de rigorosos critérios de seleção, dando acesso ao pluralismo de idéias e saberes. Favorece o desenvolvimento curricular, conta com mecanismos de alerta e divulgação de livros para leitura recreativa, formativa e a pesquisa escolar, sempre sob orientação de mediadores capacitados para funções referenciais e informativas. Estimula a criatividade, a construção de conhecimentos; dá suporte à capacitação de professores; à educação permanente; à qualificação do ensino. Contribui para a formação integral do indivíduo, capacitando-o a viver em um mundo em constante evolução” (p.169). Bibliotecários e professores disseram não reconhecer claramente o papel descrito acima. Nos relatórios iniciais, há apontamentos de atividades de pesquisa escolar na biblioteca. Reservava-se um dia para atendimento exclusivo aos alunos do CEU, com a presença de um professor-monitor, orientados por um bibliotecário. Relatos indicaram inúmeras falhas no pequeno projeto: desinteresse e despreparo por falta de planejamento. Nesse caso, pode-se afirmar que houve estranhamento e falta de interação entre biblioteca/sala de aula e vice-versa. Veremos a seguir, em que contexto os bibliotecários e professores estão atuando. Torna-se pertinente apresentar quadros que revelem o grau de desenvolvimento escolar e cultural, principalmente de nossas crianças e jovens. É muito comum ouvir dizer que o país gasta muito com o ensino superior e pouco com o ensino fundamental; que a cultura recebe uma 37 parcela ínfima do orçamento da União; que o desempenho de nossas escolas está muito abaixo das expectativas, após testes específicos de avaliação de alunos do ensino público (ANEXO VI). O dados mostram a evasão escolar, além de falta de vagas para crianças de 0 a 3 anos de idade etc. Resultados da Prova Brasil, nos dão um panorama do baixo desempenho. Quadro 2 Resultado – cidade de São Paulo - Prova Brasil – (de 350 pontos) Matérias Potuguês Série: 4ª Pontos: 160,42 Colocação: 21º Português Série: 8ª Pontos: 220,09 Colocação: 12º Matemática Série: 4ª Pontos: 166,86 Colocação: 20º Matemática Série: 8ª Pontos: 232,27 Colocação: 12º Fonte: Folha de S.Paulo on-line Prova Brasil: um programa de avaliação sob a responsabilidade do Ministério da Educação (MEC), para escolas públicas municipais urbanas com mais de 30 alunos. Segundo Tófoli (2006), participaram 26 estados (Brasília não tem ensino municipal). São Paulo ficou entre os sete piores do país, com 12 pontos abaixo da média nacional, em português, e 13 pontos abaixo, em matemática. E nas palavras do ex-secretário municipal de educação: “A educação é uma das mais eficientes políticas públicas para diminuir diferenças sociais e, principalmente, se for de qualidade, poderá criar condições de igualdade na oferta de oportunidades. As avaliações do rendimento escolar, aplicadas e conhecidas em nosso país, indicam a 38 necessidade de adoção de medidas urgentes [....] Uma causa básica relevante das avaliações negativas da Educação está situada na pobreza, desemprego e concentração de renda, que não podemos, de forma alguma, desvincular da aprendizagem, desafiando os profissionais de educação a buscar sempre melhores soluções para o aperfeiçoamento do trabalho. [....] Com esse quadro, torna-se necessário ter uma visão renovada e holística do processo ensino- aprendizagem, que deve ser socialmente compromissado, valorizar os professores, dar mais poder às escolas, criar canais e estimular o controle social pelos usuários e objetivar o aluno como sujeito do processo [...] é preciso implantar um gerenciamento estratégico eficiente [....] fazendo com que as modernas e eficientes práticas pedagógicas possam chegar à rotina das escolas” (PINOTTI, 2005, p. 3-10). Fazendo associação direta com escola/biblioteca, pode-se questionar se as bibliotecas dos CEUs foram pensadas para dividir responsabilidades com os professores, e qual será a posição do bibliotecário nessa avaliação. É muito comum ouvir dizer que os professores são culpados pela péssima atuação dos alunos nos programas de avaliação de ensino. Discutindo essa questão, alguns professores disseram que eles são os avaliados. Já os bibliotecários – em suas argumentações sobre o mal desempenho dos alunos – não se incluíram entre os responsáveis. Torna-se bastante oportuno, destacarmos algumas ações de bibliotecário, designado como coordenador de projetos culturais, articulador da biblioteca do CEU: “Participar do processo de planejamento, execução, acompanhamento e avaliação do Projeto Educacional do CEU; propor, elaborar, organizar, implementar e avaliar as 39 atividades de formação e de difusão nas áreas de leitura, literatura e informação para os alunos do CEU e das escolas do entorno; administrar, planejar, organizar, controlar e avaliar os serviços técnicos e especializados da biblioteca; garantir o trabalho cooperativo com as outras bibliotecas integrantes do Sistema Municipal de Bibliotecas Públicas etc” (PADILHA e SILVA, 2004, p.160-161). Todos esses dizeres, contidos no Projeto Educacional dos CEUs, não condizem com nossa análise. Nota-se que a biblioteca funciona como apêndice, coadjuvante, das atividades-fins do CEU, e não tem autonomia para fazer intervenções significativas e/ou transformadoras no processo de planejamento, acima descrito. Há desencontros de objetivos e ações. Outra questão importante – extraída de relatórios mensais – é a formação de equipe das bibliotecas: há falta alarmante de funcionários, principalmente bibliotecários, o que certamente sobrecarrega e inviabiliza a execução e/ou continuidade de tarefas essenciais ao Projeto Educacional do CEU. No projeto inicial – de SMC – estavam previstos três bibliotecários; seis Assistentes de Gestão de Políticas Públicas (AGPPs) e três agentes de serviços gerais. No entanto, há equipes de biblioteca com apenas 2 ou 3 funcionários, distribuídos numa área de quase 600m2, sem divisórias (APÊNDICE I). Esse quadro reduzido, entre outras incoerências, gera a insatisfação da classe bibliotecária, maioria oriunda de último concurso público de 2000. Cargos de chefia (coordenação), de maioria contratada, têm diferença salarial comparando-os com os concursados. A categoria de bibliotecário faz parte do quadro de profissionais de carreira de SMC – da cultura – mas sua atuação difere dos demais devido às peculiaridades do CEU, onde os horários são mais flexíveis, não há gratificação nas substituições de chefias ou quando se trabalha além de 40 horas semanais, sendo recompensados com folgas. 40 Nesse caso específico - nas bibliotecas de SMC - trabalha-se de segunda à sexta, e, aos sábados, em regime de convocação, com adicionais para funcionários previamente cadastrados que se dispõem a cumprir escalas mensais. Outro fator que gera insatisfação, é a possível obrigatoriedade de - a qualquer momento - os bibliotecários de CEUs terem de realizar atividades com alunos, sem que se tenha o perfil ou se conheça as práticas pedagógicas do projeto educacional. Fala-se muito no projeto pedagógico, mas não o encontramos na biblioteca analisada. Insatisfação e desconhecimento de práticas ou de apoio pedagógico, também diminuem o desempenho do SRInfo. 3.2 Serviços desenvolvidos Antes de descrever os serviços, produtos e atividades, desenvolvidos e aplicados nas bibliotecas dos CEUs, retiramos da literatura, alguns requisitos essenciais ao sucesso de uma biblioteca escolar: “Agentes qualificados. Para garantir o aperfeiçoamento e a educação contínua dos diferentes agentes de educação, que devem trabalhar de forma integrada; acervo relevante, abrangente e permanentemente atualizado [....] por sua adequação ao projeto pedagógico [....]; bases de conhecimento. Incluemse aqui bases de dados referenciais do acervo (ferramenta de acesso ao acervo) e bases informatizadas que reúnam dados, informações utilitárias e outras informações sistematizadas, produzidas ou recolhidas pela biblioteca; espaço adequado. O espaço deve garantir um ambiente favorável à leitura, informação e criação, que seja ponto de 41 referência dentro da escola e na comunidade; comunicação eficaz. A comunicação deve assegurar a ampla divulgação do acervo, dos serviços e da informação, de forma que atinja um público o mais amplo possível, dentro dos objetivos a serem alcançados; participação e integração eficazes. Implica desenvolver trabalho cooperativo envolvendo professores, pais e diversos segmentos da comunidade; planejamento. O planejamento colabora para a criação de estratégias para uma gerência renovadora dos espaços de leitura e informação; jamais improvisar; conhecimento de seu público. O conhecimento do perfil e das expectativas de seu público, bem como a avaliação de seu grau de satisfação com o acervo e os serviços oferecidos pela biblioteca, é a única forma de garantir o real cumprimento dos objetivos da biblioteca e a valorização de seu papel dentro da escola; redes. Em organizações complexas, constituídas de mais de uma escola, as bibliotecas escolares podem se organizar de maneira sistêmica [....] pressupõe a existência de um objetivo comum e relações cooperativas integradas que contribuam para o desenvolvimento do todo [....]” (MACEDO, 2005, p.261-262). Tudo isso deveria estar embutido nos programas de qualquer biblioteca, mas não foi percebido nas bibliotecas dos CEUs, que podem ser igualadas às bibliotecas públicas tradicionais, em vários aspectos: há falta de funcionários e de intercâmbio, entre outros problemas estruturais. E com isso, retornamos à questão de o atendimento à pesquisa, em sua maioria escolar, ser orientado por funcionários com desvio de função. Isso significa: um AGPP, por exemplo, cuja função é dar apoio administrativo, acaba na linha de frente da biblioteca, fazendo matrículas, 42 empréstimos, além de dar orientação às pesquisas solicitadas, muitas vezes, sem preparo, nem aptidão. Há exceções: atendentes, extremamente capacitados, que superam muitos bibliotecários, em vários aspectos, demonstrando a paixão como um grande diferencial. De um lado, com base no exposto e nas explicações dadas por funcionários, realizar algo mais nessas bibliotecas, além de serviços de empréstimo, animação cultural e consultas locais, é um grande desafio. De outro lado, sabe-se que os núcleos dos CEUs, desenvolvem suas atividades de forma independente do funcionamento das bibliotecas. Por exemplo, o Núcleo de Ação Cultural do CEU Cidade Dutra, ao qual a Biblioteca Rubem Braga está subordinada, organiza apresentações de cinema, teatro, oficinas de teatro, exposições, cursos de música, orquestra, artesanato etc, sem utilização de acervo e serviços da biblioteca. O Núcleo Educacional realiza as seguintes atividades com os alunos: excursões, festas e cartazes comemorativos pintados, colados e expostos nas áreas de circulação, cursos de alfabetização de jovens e adultos, cursinho pré-vestibular etc, sem nenhuma intervenção ou ação conjunta da biblioteca. Realizaram recentemente evento em que duas editoras apresentaram suas produções, e a biblioteca não foi convidada a participar. Na mesma linha de exclusão da biblioteca, são realizados os eventos esportivos, seja nas quadras, nos ateliês de artes ou na pista de skate. Os próprios professores não são freqüentadores assíduos da biblioteca, afinal, eles contam com a “sala de leitura” e o “Teleceu”, fora da biblioteca7. E nossos informantes opinam: de certa forma, os núcleos estão 7 Sala de leitura com professora coordenando atividades de leitura e apoio pedagógico; o Teleceu com computadores exclusivos para as pesquisas de alunos. De certa forma, estão cumprindo os objetivos próprios da biblioteca. 43 cumprindo os objetivos próprios da biblioteca, uma vez que envolve pesquisa e informação para elaborar tudo isso, além de a biblioteca impor muitas regras quanto ao seu uso. Então, freqüentá-la para quê? Enfim, essas são as explicações dadas, para se justificar a não-utilização da biblioteca pelos núcleos. Na Biblioteca Rubem Braga, do CEU Cidade Dutra, praticamente isolada dos núcleos, o público conta com: Empréstimos e consultas locais; Três computadores com acesso à Internet, sem impressoras (com agendamento prévio, ou não, por 1h); Videoteca (em implantação); Exposições (datas comemorativas e alusivas a personalidades, elaboradas por funcionários); Visita monitorada; Hemeroteca (em implantação); Encontro com escritores (esporadicamente); Clube do Livro (implantado em julho de 2006: sarau mensal; oficina de poesia; conversas literárias). A biblioteca, em questão, tem dois bibliotecários e dois AGPPs. É um quadro de pessoal bastante reduzido para desenvolver atividades, tanto com alunos do CEU quanto público externo. Os funcionários afirmam ter dificuldades em estabelecer prioridades, diante da missão de uma biblioteca híbrida: atender escolares e a comunidade, sem projeto para essa especificidade. Nesse cenário, verificaremos como as relações ocorrem no cotidiano nesse espaço de informação. 4 Biblioteca pública x biblioteca híbrida Para compreender o funcionamento de bibliotecas públicas e híbridas, não nos bastariam os relatos de profissionais, os acessos a documentos importantes, além de apresentar tipos de público e serviços, 44 sem que destacássemos a importância de um sistema de informação preocupado em estabelecer relações entre produtos culturais e informacionais e o seu público, deixando de ser apenas um apoio didático aos estudantes, promotora da leitura e de entretenimento. 4.1 Relação biblioteca / público real Quanto ao relacionamento da biblioteca com o público real (aquele que freqüenta a biblioteca), as análises de relatórios, normas internas, bem como elaboração de diagnóstico, nos permitiram caracterizar algumas formas de relacionamentos que ocorrem nas bibliotecas pública e híbrida. Em ambas, destaca-se o público estudantil8, em busca de ajuda para suas pesquisas. No diálogo inicial, sempre ocorre ruídos, o que significa dificuldade de o aluno expor o que deseja, e a necessidade de muito esforço do bibliotecário para a correta interpretação. No impasse, lança-se mão da enciclopédia como lei do mínimo esforço, reduzindo a tal “entrevista de referência” essencial para responder ao que foi solicitado. Vale relembrar o fato de que boa parte dos atendimentos ser feita por não-bibliotecários. E justamente aí, a presença ativa deles seria fundamental para amenizar um quadro desolador: “Nesse sentido, observando as dificuldades relatadas, vê-se claramente estampado um sério problema educacional que afeta fortemente grande parte de nossos escolares: apesar do esforço que possam realizar indo até a biblioteca, não sabem como, onde, por quê, para quê buscar informação; não têm noção clara do que selecionar, de como tomar notas, registrar, extrair os dados selecionados, organizá-los, comunicá-los; acham-se numa situação em que tudo lhes é estranho, parecendo 8 Constatação feita nos indicadores: planilha preenchida na portaria. Ao entrar escreve-se nome; idade; finalidade (leitura, pesquisa, empréstimo, computador), onde estuda (CEU, ou escolas do entorno?); comunidade, visita. Do total da freqüência, a maioria é estudantil, como na biblioteca pública, num percentual de 90% da freqüência. 45 marinheiros sem bússola, lançados à deriva nos oceanos do conhecimento” (PIERUCCINI9, 2004, p.2). Milanesi (1996) ilustra esta situação com a idéia de que “um bar onde as pessoas se reúnem e discutem talvez exerceria de forma mais adequada a sua função de gerador de idéias do que uma biblioteca travada pelas pesquisas escolares”. E o autor afirma: “É a partir da sensibilidade que o responsável por um espaço de informação deverá possuir – no caso, significando o grau de integração que tem com a sua comunidade e o seu público – que serão criadas oportunidades de reflexão e crítica por meio de seminários, ciclos de debates etc [....] A invenção é conseqüência de paciente trabalho: da organização dos estímulos, da eliminação dos obstáculos à liberdade de expressão, do confronto que não inibe, mas anima. Essas condições raramente são encontradas nas escolas (onde a reprodução é a ordem e a invenção é desacato) ou nas bibliotecas tradicionais (onde o silêncio é regra e a expressão da pessoas é desordem)” (p. 86-87). Mais uma vez, a partir de acesso aos documentos administrativos das respectivas bibliotecas, não foram encontrados registros de intercâmbio de idéias entre biblioteca e seus usuários. Isso demonstra uma relação quase sem diálogo, seminários ou debates, deixando-nos a impressão de que tudo já vem pensado, tecnicamente pronto, sem nenhuma participação dos freqüentadores. Internamente - sem apelo educativo - as ordens são dadas de cima para baixo, através de cartazes com os dizeres: entre; assine; deixe seus 9 Ivete Pieruccini foi Diretora do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis, de São Paulo. 46 pertences, não guarde os livros, proibido isso e aquilo, leia as normas de utilização; sinalização de serviço tal e tal, ordem de livros e outros materiais, seguindo uma classificação numérica (CDD – Classificação Decimal de Dewey) incompreensível aos olhos de muitos usuários, a mudança de lay-out etc. Nota-se uma relação pautada na escrita, sem ouvir o que o outro tem a dizer, cortando-se laços mais estreitos e a oralidade, parceiros na construção interativa de conhecimentos. Segundo Amaro, “[....] ambientes de informação com caráter educativo, numa sociedade globalizante em que o conhecimento é multidimensional, exige a busca de concepções inovadoras de serviços de informação que permita o estabelecimento de relações de interação do sujeito com o universo cultural e informacional da comunidade/sociedade a qual ele pertence. Acreditamos ainda que esse sujeito deverá ser não somente um receptor de cultura e informação, mas um indivíduo capaz de produzir e exercer a sua própria expressão baseado na harmonização entre a identidade individual e a diversidade cultural do seu meio social” (AMARO, 1998, p.12). Vemos que essas relações de interação precisam fazer parte do cotidiano das bibliotecas. O que significaria relações interativas com informação, cultura e conhecimento para que qualquer sujeito articule o seu próprio discurso, expressando-se com total liberdade. Relacionandose, comunicando-se, o sujeito fica mais atento ao mundo, apesar de que: “[....] o homem pode, de quando em quando, suspender sua ocupação direta com as coisas, desligar-se de seu entorno, desentender-se dele e, submetendo a sua faculdade de atender 47 a uma torção radical – incompreensível zoologicamente – voltar-se, por assim dizer, de costas para o mundo, e meter-se dentro de si, atender à sua própria intimidade ou, o que é igual, ocuparse de si e não do outro, das coisas [....] O homem pode ensimesmar-se [....] Sair virtualmente do mundo” (ORTEGA Y GASSET, 1973, p.57). Evita-se isolamento comunicando-se sempre com o meio social. E para isso, quando se dirigir a uma biblioteca, por exemplo, o sujeito necessitará de comunicação fácil, através de linguagens compreensíveis, seja do espaço físico; do conteúdo informacional, ou dos mediadores (pessoas, produtos, como catálogo eletrônico ou manual), visando a autonomia do indivíduo. Só assim, ele se sentirá verdadeiramente acolhido, reconhecido e seguro para expor – com a competência - as suas carências de informação, e não se ensimesmar. Isso acontece quando: “Ancorados na compreensão de que o acesso ao conhecimento é um percurso extenso e complexo, implicando competências e atitudes socialmente constituídas, países com políticas educacionais que visam à inclusão efetiva das massas excluídas historicamente dos circuitos de produção e circulação do conhecimento, realizam ações de educação para a informação que visam colocar crianças e jovens em condições de produtores de conhecimento, num mundo em que a cultura ganha contornos completamente diferenciados, colocando em crise não apenas conteúdos, mas também formas e modos de pensar, sentir e atuar” (PIERUCCINI, 2004, p.3). Na respectiva pesquisa, percebe-se a importância de se educar para se ter melhor acesso à informação, tornando-se competente para isso. Diante do exposto, torna-se evidente que a biblioteca tem um grande papel a desenvolver, caso reflita bem sobre sua atuação no processo 48 educativo. Uma atuação que provavelmente deve ser estendida à sociedade geral. No ambiente da biblioteca, objeto desta análise, pairam as dúvidas: será que a comunidade escolar conhece as linguagens descritas? Haverá preocupação com o outro de fora, da sociedade? 4.2 Relação biblioteca / sociedade Como não foi encontrado registro de troca de idéias entre biblioteca e seus públicos, nem estudo que levasse ao conhecimento de perfil, nem expectativas de informação de seus usuários, fica evidente a existência de uma comunicação em sentido único, apenas no circuito interno, sem se abrir ao mundo externo, como se muros e alambrados impedissem o contato. Onde estaria o entrave? “Talvez o grande e persistente erro da Biblioteconomia foi voltar-se para si própria e ficar amarrada ao seu arsenal de normas técnicas sem se preocupar com o “para quem” e o “porque”. Em outras palavras, a serviço de quem estariam todas as habilidades biblioteconômicas? E essa despreocupação não ocorreu só com os usuários – aqueles que usam os serviços – mas em relação ao público como um todo. O antigo bibliotecário nunca se mostrou suficientemente preocupado com as pessoas que procuravam os serviços. E, muito menos, com aquelas que deveriam ser usuárias mas não eram. Há notícias raras de pesquisas para detectar a satisfação do usuário e, menos ainda, para avaliar as necessidades do público” (MILANESI, 2002, p.29-30). Obtivemos a confirmação, através de nossos olhares mediadores (Apêndice I) de que há relacionamento sob a direção de normas técnicas e 49 de uso do espaço, muito distante do interesse afetivo, para se detectar as reais necessidades e expectativas do outro que ainda não conhece a biblioteca. Essa falta de relacionamento e de afinidade para com a biblioteca pública ocorrem, “Quando o homem se defronta com um espaço que não ajudou a criar, cuja história desconhece, cuja memória lhe é estranha, esse lugar é a sede de uma vigorosa alienação. Mas o homem, um ser dotado de sensibilidade, busca reaprender o que nunca lhe foi ensinado, e vai pouco a pouco substituindo sua ignorância do entorno pelo conhecimento, ainda que fragmentário. O entorno vivido é lugar de uma troca, matriz de um processo intelectual” (SANTOS10, 1993, p.61). Dizem que a biblioteca ainda é vista – pela sociedade - apenas como o lugar do livro. Nos CEUs, essa idéia é reforçada porque muitos pensam que suas bibliotecas são apenas para estudantes. Essa concepção – em tese - pode ser melhor entendida se retornarmos à criação do INL, segundo Oliveira (1994), citada por Suaiden (2000), “As bibliotecas públicas dependeram do INL, ao longo de seus 52 anos de atuação que somaram contribuições expressivas e alguns percalços [....] a vinculação da política de biblioteca à de promoção do livro; a falta de acompanhamento nas transformações ocorridas na sociedade e uma política, conservadora, baseada em conceitos de cultura erudita, de elite (o livro como tesouro intelectual, a biblioteca como guardiã da cultura [....]” (p. 16). Outras literaturas mostram o afastamento da biblioteca e também do bibliotecário, em relação à sociedade/comunidade. A esse profissional 10 Notável geógrafo brasileiro Milton Santos, já falecido. 50 competiria não só organizar espaços e recursos informacionais, mas – como numa barraca de feira – expor e vender seus produtos e serviços. Um peixeiro, por exemplo, procura deixar seu peixe (o produto) apresentável, mas também grita bom preço, com simpatia (o marketing), para torná-lo conhecido, além de oferecê-lo já descamado e cortado, se alguém assim o desejar (o serviço). E, certamente, vai vender bem (o reconhecimento). Nessa linha de raciocínio: “Falta ao bibliotecário uma discussão consigo mesmo, um questionamento sobre sua postura, seu modo de ver, interpretar e entender o mundo, fazendo-se partícipe das decisões sobre os destinos da sociedade. Da mesma forma, deve estar preocupado em oferecer aos usuários, à comunidade, ferramentas e instrumentos que auxiliem a participação deles também na gestão dos rumos da sociedade. Hoje, o bibliotecário está alheio e excluído desse processo, o que pode ser o principal motivo pelo qual é reconhecido pela sociedade como um profissional inútil” (ALMEIDA JÚNIOR, s.d,, p.10). Discordamos do autor apenas quanto ao uso da palavra inútil, uma vez que se há um distanciamento entre biblioteca e sociedade, segundo outros estudos (OBATA, 1999; MILANESI, 1996; SUAIDEN, 2000), há, portanto, um desconhecimento sobre o profissional e, provavelmente, sobre o que ele faz. Por isso, como considerar inútil alguém que se desconhece? Todo esse questionamento, cuidados e atenção, que o bibliotecário deve dispensar ao seu público irá ser refletido num serviço/processo/local da biblioteca, que será analisado a seguir. 51 5 Serviço de Referência e Informação (SRInfo) Segundo Macedo (1990), citada por Almeida Júnior (2003), com base na literatura internacional, conceitua o Serviço de Referência e Informação dividindo-o em dois segmentos, subdividindo o segundo em dois. No conceito com sentido restrito: “A essência do conceito de referência é o atendimento pessoal do bibliotecário – profissional preparado para esse fim – ao usuário que, em momento determinado, o procura para obter uma publicação ou informação, por Ter alguma dificuldade, ou para usar a biblioteca e seus recursos e precisar de orientação; ou, ainda, não encontrando a informação na biblioteca, precisar ser encaminhado para outra instituição” (p.53) E na conceituação com sentido amplo, divide em dois segmentos, ou, no dizer da autora, duas personalidades: “a) Serviço de Referência: interface entre informação e usuário, tendo a frente o bibliotecário de referência, respondendo questões, auxiliando, por meio de conhecimentos profissionais, os usuários. Momento de interação bibliotecário/usuário, é tipicamente o processo de referência. b) Serviço de Referência e Informação: Um recorte do todo da biblioteca, com pessoal, arquivo, equipamento, metodologia própria para melhor canalizar o fluxo final da informação e otimizar o seu uso, por meio de linhas de atividades. Momento em que o acervo de documentos existente na biblioteca vai transformar-se em acervo informacional, tendo o bibliotecário de referência como o 52 principal interpretador. Enfim, é o esforço organizado da biblioteca toda, no seu momento fim, quando o SRI representa a biblioteca funcionando na sua plenitude para o público” (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p. 54). Segundo Figueiredo (1992), citada por Yin (2005), “A primeira menção de que se tem notícia sobre serviço de referência ocorreu durante a 1ª Conferência da American Library Association, em 1876, quando o bibliotecário Samuel Sweet Green alertou sobre a necessidade de se orientar os leitores sobre os serviços que a biblioteca oferece” (p. 17). Mesmo com o alerta feito por Green, em fins do século dezenove, ainda hoje a preocupação formal com o usuário parece não ser prioridade no atendimento de bibliotecas públicas. De acordo com os relatórios, inexistem estudos de usuário11 e/ou de comunidade12. E quais seriam as funções básicas de um bibliotecário, frente ao SRInfo? Disponibilizar um Serviço de Referência e Informação, funcionando a todo vapor, requer um trabalho sistematizado de gerência, com base cooperativa, para oferecê-lo ao público de maneira eficiente e eficaz. Antes, será preciso: “[....] Realizar, sistematicamente, estudos de identificação, hábitos, necessidades e segmentação de grupos específicos de usuário [....] Preliminarmente, esses mediadores da informação, devem ter passado por 11 Verificar se as pessoas utilizam o acervo, em que quantidade e tipos de materiais. Conhecer seus hábitos de informação. 12 Levantamento de aspectos gerais da comunidade, que podem ser obtidos através de censos do IBGE, SEADE, por exemplo. 53 programas de capacitação-em serviço, a fim de dominar não só o universo da biblioteca em si como institucionalmente [...] Repassar seus conhecimentos e experiência [....] ao seu público-alvo, incluindo, nesta ação educativa, os próprios colegas e pessoal de apoio [....]” (MACEDO e MODESTO, 1999, p.46-47) Nessa tarefa de mediação, cabe-nos frisar a importância da formação e da capacitação dos envolvidos no SRInfo. Foi observado que tanto nas bibliotecas públicas quanto nas bibliotecas dos CEUs, não são realizados cursos constantes e específicos de capacitação aos atendentes das bibliotecas, agora, mediadores, seja por parte dos bibliotecários, ou da própria instituição. Há um treinamento informal. E os poucos cursos já oferecidos pela SMC, principalmente, não foram tão específicos para bibliotecas, nem obrigatórios. Há uma ligação direta entre o fazer o curso e o ganhar pontos para mudar de letra nas escalas de categoria funcional, cuja mudança gradativa reflete em leve aumento do salário-base. Não há, geralmente, registros de aplicação do que foi aprendido nos tais cursos. Com base no exposto, consideramos que esses cursos deveriam ser mais constantes e mais direcionados, para solucionar problemas detectados nas próprias Unidades das duas redes; ser mais divulgados, para atrair os verdadeiros interessados, além de avaliados posteriormente. Aliás, avaliação não aparece nos documentos analisados. A única avaliação que ocorre todo final de ano é a de funcionários e chefias. Essa avaliação também contará pontos na mudança de padrão de cargos e funções. É importante observar que: “A avaliação não ocorre no vácuo, mas como parte do processo do planejamento e da tomada de decisões [....] consiste em identificar e coletar dados sobre serviços 54 ou atividades, estabelecendo critérios de mensuração tanto a qualidade do serviço ou atividade, quanto o grau de satisfação de metas e objetivos [....] consiste, finalmente, em desenvolver estudos relativos ao não-público dessas unidades de informação, investigando as razões pelas quais não utilizam serviços dos quais teoricamente, seriam considerados público-alvo [....] é, portanto, necessária à revisão de objetivos e metas, ao estabelecimento de prioridades e à alocação de recursos, além de fornecer feedback para o planejamento organizacional e a mudança” (ALMEIDA, 2000, p. 14-15). Após essa digressão, com ou sem avaliação, apontaremos quais atribuições são necessárias ao bibliotecário que atua no SRInfo: “Função gerencial – chefes e/ou diretores, que estruturam o SRI, baseando-se em técnicas administrativas de planejamento, coordenação, supervisão, avaliação [....] programam estudos e capacitação de usuário [....] Função dominam – informacional o universo profissionais bibliográfico e que os multimeios, [....] e com a devida preparação para ministrar respondendo diálogos a com usuário [...] [....] ou questões encaminhando-o a outros recursos [....] Função educacional – mediadores, com a devida fundamentação pedagógica, além de preparação para ministrar instruções rápidas e informais ao item anterior [....] programar visitas, palestras [....] preparar recursos didáticos convencionais e/ou provindos de novas tecnologias [....] 55 Função de disseminação da informação – membros da equipe, com intuito de propiciar atualização e alertar o usuário [....] tais como murais [....] exposições [....] exibir materiais novos [....] índices de periódicos [....] Função promocional e divulgativa – membros da equipe, em trabalho conjunto com outros setores, estarão programando e refinando os tradicionais guias [....] e folhetos [....] para instruções, treinamentos e cursos internos [....] ainda se ocupando do sistema de comunicação visual e de sinalização [....]” (MACEDO e MODESTO, 1999, p. 47-48). Conhecer essas linhas de ação permitiria avaliar melhor a importância desses profissionais e auxiliares de bibliotecas e, também, os serviços realizados. Mas, em muitas bibliotecas falta sistematização para que todas essas funções ocorram. Retomando o modelo de biblioteca interativa, verificaremos como algumas atividades são realizadas para repensá-las. O nosso foco é a Biblioteca Rubem Braga do CEU Cidade Dutra. E segundo Bajard (2002), partimos do princípio de que a observação não pode ficar neutra em relação ao objeto observado. É o agir para quebrar barreiras que impedem as relações, com benefícios recíprocos, cientes de que, “As barreiras que distanciam a biblioteca da escola são derrubadas paulatinamente durante o processo de apropriação da biblioteca pela comunidade escolar. A apropriação não é um processo de ocorrência natural, espontâneo. Ela deve ser construída pelos próprios atores do processo” (OBATA, 1999, p.99). 56 O derrubar barreiras, explicitado nos estudos de Obata, terá papel fundamental em nossas próximas exposições. Trataremos sobre a importância das “linguagens” em todo e qualquer sistema de informação. 5.1 SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: linguagens e construção de relações Quando alguém vai a uma biblioteca – seja lá qual for o motivo – certamente terá de se comunicar para que ocorra a mediação, capaz de satisfazer, ou não, o motivo de sua ida. Antes de ir, essa pessoa tem de pensar na localização, seja na sua comunidade ou um pouco mais distante. Entrando na biblioteca, vai se deparar com algumas linguagens que expressam as relações possíveis nesse espaço-informação, com os seus recursos de comunicação, através de sua arquitetura; mobiliário; acervo; o modo como esse acervo está organizado; diversidade de pessoas encontradas no seu interior etc. A pessoa deverá reconhecer essas linguagens, interpretá-las e compreendê-las, com mediação ou não (APÊNDICE III), para se ter autonomia de sujeito da ação e desbravar o ambiente informacional, o qual está organizado, representado e disponibilizado, por diferentes linguagens, as quais, demonstraremos a partir de estudos de (AMARO, 1998; OBATA, 1999). Estudos, cujas bases conceituais e operacionais fundamentaram a construção de um serviço de informação educativo, a Biblioteca Escolar Interativa na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Prof. Roberto Mange”, localizada em uma região periférica da cidade de São Paulo, inaugurada em 13/05/98. Uma iniciativa do Programa Serviços de 57 Informação em Educação (PROESI) – CBD/ECA/USP, sob direção do Prof. Dr. Edmir Perrotti. “As referências de Biblioteca Interativa consideram a necessidade de uma relação autônoma do sujeito com essas linguagens, para que ele possa apropriar-se da biblioteca e esta, ao mesmo tempo, incorpore a sua expressão, num processo contínuo de construção” (OBATA, 1999, p.96) 5.1.1 Linguagem espacial e do mobiliário Estrategicamente, a linguagem espacial da Biblioteca Rubem Braga tem de ser decifrada já no portão de entrada do CEU, uma vez que ele é todo cercado por alambrados, e possui portarias com catracas e seguranças. Todo esse aparato é a representação simbólica de exclusão da comunidade externa, subentendendo ser um espaço construído para receber apenas os estudantes que estudam ou freqüentam o CEU. A sua localização inibe a inclusão social, enquanto nas bibliotecas públicas os portões de entrada são de fácil acesso e sempre abertos. Foto de: João B. A. Neto – Portaria do CEU Cidade Dutra 58 Catracas e alambrados: do lado de dentro, segurança. Do lado de fora, nada convidativos. O espaço físico das bibliotecas públicas, onde existe setorização, permite diferentes leituras de suas linguagens: acessos restritos; ambientes fechados reservados a determinadas atividades e pessoas (isolando-se da realidade); lugares que pedem silêncio e/ou afastam usuários de funcionários, inibindo tipos de relações mais estreitas. Cada sala com suas regras e seus responsáveis que trabalham de maneira isolada, na certeza de estar fazendo a sua parte de um todo que se desconhece. O espaço físico interno da Biblioteca Rubem Braga – de 600m2 – não apresenta divisórias, nem salas de pesquisa, circulante, infantil, administração etc, como ocorre nas bibliotecas públicas tradicionais, e a circulação interna sem delimitações pode representar livre acesso; sinal verde para avançar no espaço do outro que, talvez, não queira se relacionar no momento porque prefere ler em silêncio, apesar de ter esse direito, mas não é possível, uma vez que há entrecruzamento de atividades, causando ruídos: funcionários que reclamam por privacidade e não reconhece os objetivos desse espaço sem barreiras. Há necessidade de se aplicar as estratégias de negociação e de neutralização. Nessas estratégias, segundo Amaro (2005), “A interação dos vários agentes, envolvidos na construção cotidiana da biblioteca escolar, exige intensa negociação com todos os segmentos e neutralização das fortes resistências, das tensões e dos conflitos que a proposta de algo inovador sempre provoca, principalmente nos setores técno-administrativo-burocráticos do sistema de ensino” (p.307) 59 Foto de: João B. A. Neto Área interna da Biblioteca Rubem Braga Espaço sem divisórias: maior integração, desde que haja respeito ao espaço do outro. O mobiliário também tem sua linguagem, já que a existência de apenas cadeiras e mesas, significa que sentado, é única opção de leitura. A falta de nichos com poltronas confortáveis, cores mais suaves, e outros cuidados, denota despreparo ou desinteresse para receber idosos. Já a inexistência de nichos mais descontraídos, com móveis versáteis no uso, nas dimensões apropriadas, de aspecto lúdico, além de resistentes, comunica que não se orienta de forma adequada para o grupo de crianças e adolescentes. Essas duas linguagens podem tanto acolher quanto afastar público. Não existem mobiliários para nichos específicos nas duas bibliotecas analisadas. Foto de João B. A. Neto Momento de leitura 60 Mesa, cadeira...única forma de leitura? 5.1.2 Linguagem do acervo O acervo deve contemplar a diversidade cultural, linguagens e conteúdos, e formas diferentes de usos. É o que afirma Obata quando descreve a constituição do acervo da Biblioteca Escolar Interativa: “[....] conjunto de recursos informacionais que dialogam entre si [....] o Sítio do Pica-pau amarelo, proporciona um diálogo intertextual com os livros da década de 50 e 90, com a versão multimídia em CD-ROM, com o documentário sobre Monteiro Lobato em vídeo, com um número especial da revista Veja São Paulo e com o CD do Gilberto Gil com a música da trilha sonora do seriado [....] ”(OBATA, 1999, P.98). Vale um registro: apesar de seu caráter escolar, inaugurada em 2003, a Biblioteca Rubem Braga começou a receber seus livros didáticos em 2006. Há sempre interrupções nos contratos de assinatura de periódicos. Detalhe observado nas planilhas de recebimentos. No CEU há cursos de teatro, instrumentos musicais, mas a biblioteca dispõe de poucos livros dessas práticas, bem como skate, judô, balé etc., mostrando a ausência de relação da biblioteca com todos os programas oferecidos pelo CEU. 61 Foto de: João B. A. Neto Diversos jornais Acervo: diversidade para a construção de idéias. 5.1.3 Linguagem de representação do acervo Boa parte de quem entra na biblioteca não entende as etiquetas coladas nas lombadas dos livros. Nelas contêm números decimais de classificação para o conteúdo de obras, retirados da Classificação Decimal de Dewey (CDD), além de código de autor e do título, composto de letras e números e outras informações como edição e exemplar. A CDD possibilita a organização temática dos recursos informacionais e é utilizada na maioria das bibliotecas públicas dos mais variados países do mundo. Se necessário, esses códigos podem ser adaptados para serem melhor entendidos. E tudo na biblioteca deve estar bem sinalizado de forma legível e esteticamente bem elaborado para que facilite ao usuário interpretá-lo. Isso lhe dará autonomia para circular entre as estantes e dinamizar a busca direta da informação. A maioria das bibliotecas públicas disponibiliza o acervo através de fichários manuais, com fichas por autor, título e assunto. Já nas bibliotecas dos CEUs, o catálogo é eletrônico, sem as tais fichas, mas ambas classificam seus acervos pela CDD, sem adaptações. Na concepção da 62 Biblioteca Interativa (Amaro, 1998, Obata, 1999), a escolha da linguagem de representação e organização dos recursos informacionais deve levar em consideração três condições básicas: “a) ser de f ácil assimilação, para não se constit uir em um obstáculo no processo de comunicação do sujeito com a biblioteca; b) possibilitar a multiplicidade de aç ões e relações e mobilidade para transf ormações; c) permitir o reconhecimento das linguagens utilizadas em outras inst ituições de inf ormação e cultural do país e de outras partes do mundo.” (Obata, 1999, p. 98). Essas condições foram determinantes para a s adaptações e novos elementos propostos na construção da Biblioteca Interativa, ou seja, uso do terceiro sumário da CDD (1000 seções), rearranjo das 10 classes em 6 classes mais uma categoria para as obras de referências; codificação das classes por cor possibilitando a mobilidade necessária do acervo que se completa com a concepção adequada do mobiliário; construção de um sistema de sinalização e comunicação que explicita a linguagem da organização da biblioteca (Obata, 1999, p. 98)”. 63 Foto de João B. A.Neto Códigos de localização: a interface entre documento e usuário Foto de João B. A. Neto Recuperação da informação Autonomia na localização do acervo 5.1.4 Linguagem dos mediadores e da comunidade Somando-se às linguagens anteriores, existe a linguagem de cada pessoa ou grupos envolvidos no cotidiano de um sistema de informação, o que chama a atenção para os cuidados que se deve ter para contemplar a 64 diversidade cultural, idade, gênero, cultura etc. E essa diversidade também deve se comunicar com as demais. É a linguagem do mediador (pessoa ou um produto com o qual a pessoa se relaciona), da mediação (conector entre o indivíduo e o mundo), em contato com a linguagem da comunidade, seja a escolar ou do entorno da biblioteca, que deve ser clara para que haja entendimento das regras, como também das outras linguagens do serviço de informação e suas representações simbólicas que cada um faz da biblioteca. É o reconhecer o outro. Para tanto, a política de serviços e produtos a ser adotada deve ser bem definida, segundo a meta e objetivos da biblioteca, considerando-se que nem tudo serve para todos. Segundo Amaro, como se estabelece as relações entre mediador e mediado? Não existe, não deve haver uma via de mão única. Por isso, “[....] a biblioteca deve dialogar também com a cultura da comunidade escolar e do seu entorno, constituindo-se como seu instrumento e, ao mesmo tempo, seu espaço de produção e expressão. É preciso possibilitar a permanência dessa produção, reconhecendoa como informação e cultura. Assim textos, quadros, painéis, fotos, produções das mais variadas devem ser publicadas, exibidas pela biblioteca, além de fazer parte do seu acervo” (AMARO, 2005, p.312) 65 Foto de João B. A. Neto Um momento de expressão na Rubem Braga A vivência com o outro, através do lúdico. 5.2 Atividades do SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: análise Destacamos algumas atividades que ilustram como ocorre a relação entre o SRInfo da biblioteca e os atores envolvidos nas mesmas. E, ao mesmo tempo, verificar se elas estão contextualizadas na comunidade escolar. É possível detectar, também, se ocorre mediação, apropriação e interação. “Se considerarmos dois pólos – A e B – podemos caracterizar a mediação enquanto ato que permite a relação entre os referidos elementos. Numa concepção passiva (tecnicista, “neutra”) de mediação o mediador teria como função a simples transferência da informação; um canal entre os dois pólos. Ao contrário, numa concepção dinâmica, participativa, interativa da mediação, a ação tenderia a intervir entre os dois pólos, definindo e/ou alterando as relações entre eles” (PIERUCCINI, 1999, p.64). 66 a) Hora do conto ou contação de histórias No CEU Cidade Dutra, professoras de EMEIs levam suas crianças para ouvir histórias na biblioteca. As visitas de CEIs (Creches) e EMEFs (até 4ª série) são raríssimas. No espaço, nenhuma decoração especial: mesas e cadeiras baixas e nada confortáveis, além de dois almofadões em formato de bicho; estantes altas (com livros nas prateleiras inferiores) e nada mais. Começa a contação pela professora, sempre alertando: psiu, silêncio... São essas as linguagens presentes nas relações entre o mediador e as crianças. Vêem-se muitas crianças inquietas, algumas atentas, outras distantes. Às vezes se agitam, diante da proibição de se mexer nas estantes (há desobediência, claro). Depois, saem enfileiradas agradecendo ao funcionário, aquele que registrou a presença de todos, para fins estatísticos. Os livros retirados das estantes – lidos ou não – também farão parte da estatística mensal. Nenhuma impressão fica registrada. Pode-se questionar se houve apropriação ou apenas permitiu-se o acesso através da promoção do espaço da biblioteca. “A distinção imediata que se identifica nas duas noções reside no papel do sujeito objeto da ação: na promoção da leitura, o sujeito é o receptor da ação; na apropriação, ao contrário, o sujeito é o produtor da ação. Deve-se ter claro que a apropriação não é algo que ocorra naturalmente, mas é uma construção cotidiana” (OBATA, 1999, p.95). b) Sessões – isoladas – de cinema e peças teatrais De todos os filmes e peças teatrais, aos quais os adolescentes assistem no CEU Cidade Dutra, a biblioteca pouco toma conhecimento, a não ser pela agenda mensal de programações e panfletos e cartazes 67 afixados em seu mural, alguns dias antes. Reforça-se aquela falta de comunicação – de que já tratamos - entre os núcleos educacional, de ação cultural, esportivo e a Biblioteca Rubem Braga. E essa falta de interação é reproduzida aos alunos que assistem aos filmes e peças sem que interajam com a biblioteca, após essas atividades. Fora a sala de aula, a biblioteca poderia ser um local de discussão ou de acréscimo sobre o que foi visto, lido e ouvido, na tela grande e no palco. Mas a falta de uma proposta educativa e cultural adequada impossibilita a interatividade e a veracidade de sentido das letras “U” unificado e do próprio “E” educacional na sigla “CEU” a biblioteca como um todo não dialoga com a comunidade escolar nem com a comunidade do entorno. c) Pesquisas escolares: reprodução e colagens Já retratamos nesse trabalho todo o cenário que envolve a pesquisa – feita em sua maioria por estudantes – nas bibliotecas públicas, mas vale reforçar: sabe-se que muitos executam meramente cópias de trechos de enciclopédias ou – se pesquisam na Internet – fazem uma espécie de colcha de retalhos, onde recortam e colam pedaços de textos encontrados, sem avaliar, nem sintetizar seus conteúdos e transformá-los num relatório para entrega e/ou apresentação. Uma situação assim descrita por Almeida Jr.: “Já afirmamos que a pesquisa é a grande farsa do ensino no Brasil, em especial do ensino público. O professor indica um tema e exige uma pesquisa. Por seu lado, o bibliotecário (ou aquele que atende ao aluno) apresenta para o aluno o material, no seu entender, é o mais adequado para satisfazer o pedido do professor. Em boa parte dos casos, a Enciclopédia é a fonte para responder à necessidade do aluno. O aluno copia o 68 verbete e o entrega para o professor dentro de um formato pré-estabelecido” (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p. 271-272). Na Biblioteca Rubem Braga não seria diferente. Como não há educação para a informação, incluindo-se alunos, professores e bibliotecários, o ritual é o mesmo visto em qualquer outra biblioteca da rede pública, onde se repete – exatamente – o quadro acima. Esses atores não têm autonomia para interagir com o espaço e se apropriar dos instrumentos documentários, nem recebem cursos de capacitação para realizar nem publicar seus trabalhos. Onde estão os mediadores? d) Palestras: o escritor na biblioteca O projeto “Escritor na biblioteca” foi implantado nas bibliotecas públicas municipais e estendido às bibliotecas dos CEUs. Autores de livros, quase sempre de ficção, visitam as bibliotecas para um bate-papo com crianças e/ou adolescentes. Quem determina os escritores dos encontros é a Supervisão de Bibliotecas, que decide após receber sugestões das bibliotecas. Nas bibliotecas, organizam-se, divulgam-se as visitas. Alguns livros do respectivo autor são repassados aos professores. Houve casos – disseram – que não se tinha livros do autor escolhido, ou quando havia, eram insuficientes, tendo de recorrer a outros meios. Enfim, os alunos lêem antes e na palestra fazem perguntas ao autor, sobre sua vida e obras lidas. No final, pedem autógrafos. Muitas vezes, as palestras são filmadas e/ou fotografadas, mas não é de praxe montar uma exposição com as fotos, nem sessões de vídeo. Segundo bibliotecários de uma Unidade, há falhas, por parte dos supervisores do projeto, em relação ao apoio técnico melhor que deveria ser dado às Unidades. Além de falta de livros, relataram um caso em que a 69 bibliotecária – de SMC - teve de ir buscar o autor numa estação de metrô, por falta de respaldo de instâncias superiores que se contentam com dados de relatórios posteriores aos eventos. A biblioteca, nem o público têm autonomia para decidir que autores preferem receber. Foto de João B. A. Neto Evento “o escritor na biblioteca” - Wagner Costa Encontro de perguntas e respostas e) Quadro de avisos: informações soltas O quadro de avisos da biblioteca, não foge à regra: sempre repleto de cartazes e papeis avulsos, nos quais as informações se misturam – internas e externas – sem nenhuma categorização e padronização, seguido de uma despreocupação estética e de atualização. Às vezes, ele aparece descentralizado, ou seja, em dois, três locais com esse mesmo propósito, repetindo e/ou omitindo informações. Um quadro, forrado com cortiça muito fina; outros com fórmica, o que dificulta afixar, além de indiscutível poluição visual. Nota-se que cada biblioteca, seja pública ou dos CEUs, decide sinalizar sem padronizações, ou logotipos estrategicamente criados. A biblioteca Interativa leva em consideração uma sinalização criativa, com a participação de seu público. 70 5.3 Propondo atividades interativas É possível observar que as atividades descritas são realizadas sem conexão com propósitos interativos. É imperativo que os indivíduos realizem algo mais conscientes de suas ações, para que deixem de ser apenas ouvintes ou meros reprodutores inexpressivos. Segundo Obata (1999), “Numa sociedade em que parcela signif icat iva da população é excluída da vid a polít ica, social, econômica e/ou cultural do país, uma nova concepção de biblioteca tem um papel importante a cumprir ” (p. 96). Para a autora, é preciso que o indivíduo construa -se não só como receptor, mas também produtor; por isso, “A bibliot eca deix a de ser apenas um espaço de dif usão, promoção ou disseminação de inf ormação e cultura; deve ser tam bém um espaço de expressão” (OBATA, 1999, p. 9 6). É a partir dessas reflexões que fundamentam a Biblioteca Interativa como espaço de expressão que faremos propostas de ações que poderiam ser implementadas na Biblioteca Rubem Braga, do CEU Cidade Dutra. No Espaço de Expressão – a ser criado – serão realizadas ações interativas com planejamento e avaliação. Nada ocorrerá sem que, segundo Almeida (2000) se fixe objetivos, defina linhas de ação, detalhe as etapas para atingi-los e se preveja os recursos necessários à consecução. Depois de elaboradas e realizadas, as atividades serão avaliadas para que 71 se corrijam eventuais distorções do planejado, e se obtenha melhor qualidade, mas com maior participação do público. a1) Leituras ao sol ou banho de leitura Algumas manhãs – com rodízio de classes – determinada professora levará suas crianças de CEI – Creche de Educação Infantil, EMEI – Escola Municipal de Educação Infantil, EMEF- Escola Municipal de Ensino Fundamental (No caso, somente até 4ª série) à biblioteca, acolhidos por um bibliotecário, ou outro mediador qualificado, para escolherem livremente os livros que serão lidos,. Os livros serão levados aos dois quiosques do CEU, e expostos em display. Os quiosques poderão ser decorados pelas crianças, com orientação de seus respectivos professores e bibliotecários. Elas poderão decorar também dois carrinhos, quadrados, em madeira (utilizados para transportar as crianças de CEI), e levar os livros, os tatames13 e os almofadões até aos quiosques. Os livros da biblioteca que ensinam a arte de decorar objetos serão utilizados. O display, para dispor os livros, também poderá ser confeccionado pelos alunos, com panos costurados, trançados, como uma sapateira. Será uma aventura transportar os livros até os quiosques de leitura e vê-los expostos no tal mostruário. As crianças também poderão contar suas histórias: sendo dois quiosques, a união dos grupos vai permitir uma relação de troca. Todo o processo das atividades será fotografado e/ou filmado. Retornando à classe, as crianças irão expressar – através de escrita; pintura; desenho; argila etc - o seu Banho de Leitura. As produções serão expostas na biblioteca, decorando o espaço por um mês, junto às 13 Espécie de colchão, pequeno, em espuma, revestido com napa. 72 fotos. Essas exposições também serão feitas por elas. Caso tenha sido filmado, deve-se marcar uma sessão vídeo – na biblioteca - para que as crianças se vejam e se reconheçam no vídeo. Algumas produções poderão ser inseridas no acervo infantil, inclusive as fitas. A partir daí, o espaço de leitura da biblioteca deverá ter um outro significado para essas crianças que, antes, apenas ouvia e, agora, fazem uso da criatividade. Aplicaram-se estratégias de apropriação, motivação e manutenção do interesse, conforme Amaro (2005, p.307-08). b1) Sessões – interativas – de cinema e teatro Quem cuida de teatro e cinema, no CEU Cidade Dutra, é o Núcleo de Ação Cultural. De um lado, esse núcleo não participa à biblioteca suas decisões quanto à escolha de filmes e peças. De outro lado, a biblioteca não procura interagir com as programações. Se houvesse um relacionamento mais estreito, a biblioteca poderia ser o espaço ideal para o público desses eventos expressar e publicar algo sobre o que assistiu. Os alunos - com auxilio de professores - fariam recortes de filme e/ou de peça assistidos. Poderiam pesquisar e retratar, por exemplo, sobre épocas e contextos; temática (política, violência, relações humanas, figurino, linguagem, fotografia etc). Outros públicos também seriam bemvindos nesse processo de interatividade. Formariam – livremente - um grupo de discussão, tendo a biblioteca como mediadora na construção e publicação das idéias estruturadas. A ênfase seria dada aos diálogos, nos quais a voz seria o instrumento para se opinar livremente. Em determinadas ocasiões, o grupo poderia convidar pessoas, talvez da própria comunidade, ou não, que 73 fossem profissionais ou apenas conhecedoras do assunto em discussão. Para dinamizar e aumentar a interatividade, professores de artes, português e história, entre outras disciplinas, seriam convidados, como orientadores e, também, como produtores. No que se referir à pesquisa, o bibliotecário poderia interagir ainda mais, dando oficinas sobre a arte de pesquisar nos variados suportes de informação existentes na biblioteca, como livro, CD-Rom, fita de vídeo; Internet etc. Toda forma de expressão produzida seria incentivada a ser publicada, em qualquer suporte também. E se necessário, computadores com impressora, scaner, gravador de CD; vídeos; TV; DVD; Data Show etc, seriam disponibilizados. Toda produção poderia ser divulgada, seja na agenda cultural, ou no site da educação, espaço reservado aos CEUs, e, principalmente, na própria biblioteca, que se encarregaria de recepcionar as exposições e/ou apresentações (montadas pelo próprio grupo). Sendo viável, algumas produções poderiam fazer parte do acervo da biblioteca. É uma forma de interação entre biblioteca, o Núcleo de Ação Cultural do CEU Cidade Dutra, e seus públicos – interno e externo - em nome da informação e da arte. Repensar essas atividades, é uma forma de desenvolver capacidades dentro de realidade e experiências de cada pessoa que se expressa, dilatando-se o campo cultural desses cidadãos. Com essas ações, tenta-se alterar o pensamento de quem: “[....] Considera a biblioteca como um instrumento de apoio didático ou de promoção de leitura e entretenimento. Observa-se que a criança e o jovem – público-alvo das bibliotecas assinaladas – têm sido vistos como “usuários” de estoques de conhecimento, geralmente do conhecimento consolidado, registrado em suportes tradicionais como os livros. A sua própria história 74 e a sua experiência não são reconhecidas, assim como não se considera que sejam indivíduos capazes de construir sua própria expressão [....]” (OBATA, 1999, p.93). c1) Pesquisas: o papel do mediador No item anterior o assunto pesquisa foi tratado, mas direcionado a um grupo e propósitos específicos. Neste item vamos falar de pesquisa, porém fazendo um recorte sobre como se faz uma pesquisa com a ajuda de um bibliotecário: o grande mediador. A idéia é repensar a maneira como essa atividade é realizada na biblioteca. A intenção é resolver ou amenizar a situação de “perdidos” dos alunos e – inclusive - professores diante de um trabalho escolar. Antes, tudo começará com o bibliotecário: o profissional da informação será o responsável por atuar na raiz do problema. Ele poderá repetir as oficinas ao grupo das sessões de cinema e teatro, porém, com foco na pesquisa escolar. Professores conhecimentos e e alunos práticas, serão incentivados tornando-se, assim, a repassarem eles próprios, multiplicadores desses conhecimentos. A formação de grupo será livre, no intuito de se reunir pessoas realmente interessadas. Formado o grupo, entra em cena o bibliotecário como mediador entre biblioteca, alunos e professores. Ele deverá criar um projeto simples: “educar para a informação”. Alunos e professores saberão como utilizar melhor os recursos informacionais da biblioteca, ao pedir ou elaborar suas pesquisas. Os professores serão incluídos nesse aprendizado, uma vez que a literatura nos mostra: “[....] Alguns contatos possibilitados pela proximidade de interesse e pelo acompanhamento de projetos de bibliotecas públicas que visavam a uma 75 interação entre biblioteca e escola, além de cursos que tivemos a oportunidade de ministrar para professores da rede de ensino municipal da cidade de São Paulo, permitenos afirmar que a pesquisa, como forma ou não de ensino, é ainda desconhecida pela maior parte dos educadores do ensino fundamental e médio [....]” (ALMEIDA JÚNIOR, 2000, p.273) Toda a prática pedagógica de uma pesquisa será comentada diante dos três atores principais: o professor que a pede; o aluno que terá de apresentá-la, e o bibliotecário encarregado de decifrá-la e apontar as melhores fontes de informação. Antes, deverá reuni-los e mostrar como a biblioteca funciona, a partir da pesquisa solicitada. Depois, fazendo as adaptações necessárias, poderá se basear nos cinco passos que envolvem o ato de pesquisar, deste programa: “Construção do tema da busca de informação: formulação de questionamento (finalidade e métodos: motivação e plano de trabalho) – O que e por que buscar?; Experimentação dos instrumentos de busca: organização documentária local e formas de recuperação; organização da rede Internet, formas de acesso e recuperação – Como encontrar as fontes de informação?; Recursos para localização de informações nos diferentes materiais: paratexto, contexto da autoria, pertinência do conteúdo – Como usar os materiais?; Procedimentos para seleção das informações: tipos de leitura; palavras-chaves, critérios e formas para anotação de informações – Como localizar e selecionar as informações de interesse?; 76 Organização das informações: critérios para organização da apresentação dos resultados da pesquisa (tipos de apresentação), critérios para citação das fontes – Como elaborar as informações?; Avaliação do trabalho: exposição, leitura das anotações do diário de bordo – Qual o significado do processo?” (PIERUCCINI, 2004, P.157-158). d1) Palestras na biblioteca: diversidade de temas As palestras do projeto “O escritor nas bibliotecas”, sempre de ficção, mencionadas anteriormente, terão continuidade. Mas especialistas de outras áreas do conhecimento serão convidados. Antes de qualquer escolha dos respectivos palestrantes, a biblioteca deve abrir um canal de comunicação com professores, alunos e parte da comunidade externa, incluindo os familiares dos alunos do CEU, através dos coordenadores dos Núcleos Educacional; de Ação Cultural; Esportivo e Lazer. A biblioteca pedirá aos coordenadores que reunam três representantes de cada uma das categorias “professor”, “aluno”, “pais de alunos”, os quais participarão de visitas monitoradas – especiais de duas horas - à biblioteca, durante uma semana. Nesse período esses representantes irão conhecer o Serviço de Referência e Informação da Biblioteca Rubem Braga. A intenção é que os bibliotecários façam uma apresentação holística ao grupo, mostrando os mecanismos de funcionamento da biblioteca e, principalmente, os recursos informacionais existentes, bem como o conteúdo temático de boa parte deles. Feita essa exploração, de reconhecimento e uso da biblioteca, os representantes terão a liberdade de escolher entre os materiais estudados, aqueles que gostariam de expor no 77 saguão da biblioteca, com justificativas para as escolhas feitas, seja pelo conteúdo temático e/ou pelos autores das obras. A partir dessa exposição, a biblioteca e representantes farão uma enquete com os usuários para que apontem cinco autores preferidos – de ficção – que gostariam de tê-los no “O Escritor na Biblioteca”. A lista contendo os cinco mais votados será encaminhada ao setor que faz as contratações. A interação já começa na seleção de materiais feita pelo grupo. Escolhido e contratado o escritor, o bibliotecário vai tratar de divulgar – por convite e e-mail - entre a comunidade escolar e externa, uma vez que a participação será aberta a todos, incluindo os estudantes. Os livros serão distribuídos nas classes e emprestados aos externos, antecipadamente. A diferença em relação às palestras atuais está na orientação dada ao público para o bate-papo. Além de perguntas clássicas sobre a vida e obra do autor (idade, personagens etc), os participantes devem se ater também ao tema central que levou o autor a escrever tal obra. Exemplificando: se a trama central envolve drogas; gravidez na adolescência ou violência; seria interessante conhecer o que o respectivo autor pensa a respeito. A partir disso, abre-se à discussão, interagindo ficção com a vida real, com a expressão dos participantes. Na mesma linha de organização, será feita a enquete que escolherá o palestrante de outras especialidades, além de literatura de ficção. Poderão ser escolhidos os temas sobre “Direitos do Consumidor”; “Câncer de mama”; “Direitos do Trabalhador”; “Economia Doméstica”; “Direitos da Criança e do Adolescente”; “Depressão”; “Estatuto do Idoso”; “Doenças do Trabalho” etc, caso façam parte dos conteúdos temáticos expostos no saguão da biblioteca. 78 Tudo que foi exposto, interativamente, poderá ser consultado ou emprestado. Isso auxiliará nas discussões esperadas durante as palestras. A exposição deverá permanecer no saguão, um bom tempo depois das apresentações, que deverão ser fotografadas e/ou filmadas. A biblioteca deverá manter as fitas em seu acervo para consultas e empréstimos futuros, enquanto as fotos, expostas. Certamente, a biblioteca terá outra significação para os participantes e para quem fizer uso das fitas. As pessoas deixarão de ser somente receptoras. Essas ações são caracterizadas pelo uso das estratégias de apropriação de informação e cultura propostas por Amaro . “[....] O “usuário” não está mais somente no final da cadeia, acionando o sistema; ao contrário ele é parte do processo como um todo. Ele faz parte da linguagem do documento/acervo, ele está presente na linguagem de representação, ele está presente, enfim, na construção cotidiana da biblioteca interativa, a partir de suas ações [....]” (AMARO, 1998, p.115). e1) Mural da cidadania: informações utilitárias O Mural da Cidadania será um grande painel em madeira, revestido em cortiça bem espessa, que será colocado em toda a extensão da parede (aproximadamente 8m de comprimento x 2m de largura) do saguão da Biblioteca Rubem Braga. Diferentemente do quadro de avisos, o mural será constituído de informações afixadas pela comunidade escolar (todas as áreas do CEU) e, principalmente, pela comunidade (população do entorno), sob o controle da biblioteca. A intenção de se construir o mural, e seus objetivos serão levados ao Conselho Gestor do CEU no qual todos os núcleos estão representados, inclusive a comunidade do entorno. Após contratação de 79 um marceneiro da região e a compra de materiais necessários será marcada uma reunião na biblioteca para explicar que o Mural da Cidadania será dividido em espaços específicos, com subdivisões. São eles: 1) COMUNIDADE ESCOLAR (3mx2m de espaço) Biblioteca: informações administrativas e eventos; CEU geral: informações diversas dos Núcleos Educacional; Ação Cultural; Esporte e Lazer; telecentro. Cada qual, responsável pelas atualizações. Um grupo de alunos poderá representar a voz da escola no mural, afixando o que achar importante divulgar, como se fosse um Jornal-Mural. 2) COMUNIDADE DO ENTORNO (3mx2m de espaço) Todos os segmentos poderão afixar informações utilitárias, com a supervisão de um bibliotecário, criando-se uma base de dados. Essa parte do mural poderá ter as seguintes subdivisões iniciais, caso haja consenso entre os envolvidos: Saúde: endereços de hospitais e postos de saúde da região (com horários e especialidades); farmácias populares; dicas de saúde; campanhas públicas; cursos e palestras gratuitos; livros, revistas e sites especializados etc; Educação: cursos populares (pré-vestibular, técnicos etc); escolas públicas da região (orientações gerais, incluindo vagas para alunos especiais); dicas de vestibular e resultados; livros, revistas e sites especializados etc; Trabalho: leis trabalhistas; sindicatos; ofertas de empregos e empregados (na região); modelo de currículo; currículos preenchidos etc; 80 Consumo: Código de Defesa do Consumidor (artigos principais); feiras livres; mercado municipal; reaproveitamento de alimentos etc; Habitação: planos populares; instalações (redes de água, esgoto, telefones) junto aos órgãos públicos etc; Estatutos: do Idoso; da Criança e do adolescente (pontos principais e outras informações); Informação legal e jurídica: assistência jurídica gratuita; documentos (informações gerais); Lazer e cultura: programações gratuitas (informações gerais); livros, revistas e sites especializados; Telefones úteis: Fonte – Guias; Pessoas Desaparecidas: cartazes com fotos; Achados e perdidos: animais e objetos; 3) ESPAÇO DE EXPRESSÃO DA COMUNIDADE (2mx2m do espaço) Esse espaço será reservado para que pessoas afixem suas críticas, com dois subtítulos: a) Cole aqui suas críticas: Reclamações (bem fundamentadas e assinadas); Elogios; Dúvidas sobre quaisquer assuntos a biblioteca tentará responder ou encaminhá-lo. (sobre quaisquer serviços e produtos dos tópicos acima) b) Cole aqui suas idéias: Poesias; pensamentos; crônicas; Desenhos; Resenhas; receitas culinárias, etc. 81 A intenção é fazer com que a comunidade utilize esse Mural da Cidadania, não só para obter informações básicas para o seu dia-a-dia, mas que as traga também, participando da dinâmica de construir e atualizar, sob a supervisão de um bibliotecário. Outro objetivo do mural é abrir um Espaço de Expressão na biblioteca, onde as pessoas possam publicar suas idéias, críticas e produções, deixando de ser receptoras de informação e cultura, além de reconhecer e ser reconhecido nesse espaço, integrando-se ao processo cotidiano de construção de relações interativas, na biblioteca Rubem Braga ou em qualquer outro serviço de informação e cultura, com as devidas adaptações. 6 Considerações Finais O estudo que fizemos dos Serviços de Referência e Informação das bibliotecas públicas e bibliotecas dos CEUs, da cidade de São Paulo, tendo como parâmetro a Biblioteca Interativa, evidenciou reflexões e questionamentos sobre a atuação dessas instituições num cenário globalizado, onde tudo e todos parecem estar conectados. Temos a falsa impressão de que a informação nos chega inteira, através de meios avançados de tecnologias. No entanto, o que se recebe é totalmente fragmentado. A cultura do instantâneo está embutida em nós, num processo metonímico, ou seja, temos a parte pelo todo, extraído da Internet, de livros, enciclopédias e periódicos, sem nenhuma filtragem. E assim agem as pessoas que vão e as que não vão à uma biblioteca pública, por exemplo. 82 Essa instituição traz consigo especificidades que perpetuam a impressão descrita. Ainda está no paradigma do acervo: mais preocupada com técnicas de organização dos recursos informacionais, conservando os documentos – em suportes variados - para difundir basicamente serviços de empréstimo e consulta local. Privilegia-se o público estudantil, além de oferecer atividades de animação cultural, sem nenhuma tendência a discutir conteúdos, a se preocupar com quem vai utilizá-los, muito menos com o motivo da respectiva busca. Inúmeros problemas estruturais, detectados e apontados neste estudo, são consenso entre a comunidade envolvida desta instituição, para justificar os serviços e produtos desenvolvidos, ou a falta deles, pela biblioteca pública. Outro modelo de biblioteca, que surgiu na periferia da cidade, causou controvérsias no seu tempo de implantação, em 2003: as bibliotecas dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Uma arquitetura que se destaca na paisagem – entre bolsões de pobreza – pelo arrojo de suas formas e dimensões. Grande escola que aloja uma biblioteca de 600m2, muito semelhante a uma biblioteca pública tradicional, tratando-se dos serviços que oferece, como mostrou nossas pesquisas, apesar de diferente por funcionar em escolas públicas que nunca tiveram bibliotecas, mas salas de leitura. Interessante observar que apesar de as escolas dos CEUs terem uma biblioteca, essas salas foram mantidas. A biblioteca híbrida tem as mesmas características de uma biblioteca pública: atende – na sua maioria - estudantes internos e externos, além de poucos adultos e idosos da comunidade em geral. É passiva diante de seu entorno, presa ao livro, sem políticas de formação e desenvolvimento de acervo, funcionários insatisfeitos, administração sem autonomia ou interesse para intervir ou atuar no projeto pedagógico ou nas questões de parcerias para melhorar o sistema de informação, falta de 83 comunicação e interação com a sociedade ou, no caso dos CEUs, a falta de interação com os núcleos educacional, cultural e esportivo. Enfim duas instituições bem semelhantes, que não dialogam com o meio social. Este trabalho destacou a importância das relações sociais que têm apresentado fases de crises, a começar dentro das famílias (a base de formação do indivíduo), levando ao confinamento cultural crianças e jovens. Confinamento por terem suas liberdades privatizadas, institucionalizadas por escolas, igrejas e outras instituições, inclusive as bibliotecas, em momentos importantes de formação de sua personalidade. Foi analisada a questão das relações interativas nos serviços de informação e cultura, com função educativa, pensando na criança, no jovem, e em todo cidadão. Entender que a biblioteca tem ou deveria ter função educativa, não foi consenso entre profissionais, técnicos e atendentes consultados durante as análises nas bibliotecas públicas e nas bibliotecas híbridas dos CEUs. Procuramos demonstrar, ao longo do estudo, que essa é uma concepção inovadora de serviços de informação que busca estabelecer relações de interação do indivíduo com a cultura e informação. Que esse indivíduo deve ser sujeito da ação para produzir a sua expressão diante da diversidade cultural que o cerca. As bibliotecas públicas e dos CEUs estão bem distantes dessa concepção. Atingimos, portanto, o objetivo de lançar essa idéia de interação, ao demonstrar como algumas atividades são realizadas na Biblioteca Rubem Braga, do CEU Cidade Dutra, sem nenhum vestígio de interação dos atores envolvidos, porque, entre outras questões, há um desconhecimento das linguagens que envolvem os serviços de informação e cultura. Linguagem arquitetônica e do mobiliário, linguagem do acervo, linguagem de representação e organização desse acervo, linguagem dos 84 mediadores e da comunidade. Mostramos a importância do indivíduo ter autonomia diante dessas linguagens para que consiga se apropriar da biblioteca, de seus produtos e serviços, e principalmente se expressar, construindo, produzindo e publicando, como sujeito da ação perante a informação e a cultura. Exemplificamos com a Hora do Conto, atividade na qual as crianças só ouvem e nada criam. Com as sessões de cinema e teatro, nos CEUs, ou nas bibliotecas com auditório, nas quais não há nenhuma discussão anterior e/ou posterior. Comentamos os encontros com escritores monótonos, pesquisas escolares sem interesse e desconhecimento de como fazê-las corretamente e melhor, por parte de alunos e professores, incluindo alguns bibliotecários que não se identificam com o ato de educar para a informação. Mostrou-se como transformar o quadro de aviso, geralmente confuso, num grande mural da cidadania, repleto de informações utilitárias, afixadas também pelas comunidades: da biblioteca e do entorno, valorizando a sua função informacional e social. Utilizar essa nova concepção de biblioteca, a Biblioteca Interativa, que trata da diversidade cultural, como parâmetro de análise, nos fez pensar nas diferenças entre bibliotecas públicas e escolares e seus públicos com necessidades e interesses específicos, que precisam ter serviços e produtos de acordo com suas necessidades e expectativas. Mas a nossa análise constatou o contrário: não há política de atendimento voltada para o usuário ou entorno, na qual eles participem ativamente. Com este estudo, certificamos que nas bibliotecas públicas e nas bibliotecas dos CEUs, as políticas públicas, projetos de construção e/ou reformas de bibliotecas, aquisição de acervo, oferecimento de serviços/atividades/produtos, formação de equipes etc., são desenvolvidos e aplicados sem nenhuma das estratégias utilizadas para uma construção interativa de biblioteca com função educativa. 85 São estratégias bem colocadas nos trabalhos de Amaro. Esses trabalhos propõem base conceitual e operacional riquíssimas que prevêem fundamentalmente a construção de relações interativas, imprescindíveis para que a biblioteca pública exerça a sua função social transformadora de cotidianos e pessoas. Fica a expectativa de numa próxima etapa, colocar em prática todas as ações interativas apresentadas. Enquanto houver relações interativas, que valorizam o outro, o homem não precisará mais se ensimesmar, parafraseando Ortega Y Gasset (1973). 86 7 Referências ALMEIDA, Maria Christina Barbosa de. Planejamento de bibliotecas e serviços de informação. – Brasília: Briquet de Lemos, 2000, 112p. ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca pública: avaliação de serviços / Oswaldo de Almeida Júnior. – Londrina: Eduel, 2003. 289p. com anexos. ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca pública: ambigüidade, conformismo e ação guerrilheira do bibliotecário. Ensaios APB, n. 15, sd, 10p. AMARO, Regina Keiko Obata F. Biblioteca Interativa: concepção e construção de um serviço de informação em ambiente escolar. Tese de doutoramento. São Paulo: ECA/USP, 1998, 171p.ilus. com anexos. AMARO, Regina Keiko Obata F. Biblioteca Interactiva: espacio de expresión . Paper apresentado no 1999 Program for Children’s Libraries Tour, com apresentação do paper. 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Henrique Schaumann, 777 - Tel.: 3082-5023 - (Pinheiros- CEP 05413-021) Álvares de Azevedo Pça. Joaquim José da Nova s/nº. - Tel.: 6954-3118 - (Vila Maria Alta- CEP 02126000) Álvares de Azevedo (Unificada com Biblioteca Pablo Neruda) Pça. Joaquim José da Nova, s/nº - Tel.: 6954-2813 - (Vila Maria Alta- CEP 02126000) Álvaro Guerra R. Pedroso de Moraes, 1919 - Tel.: 3031-7784 - (Pinheiros- CEP 05419-001) (atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado ) Amadeu Amaral R. José C. Castro, s/nº - Tel.: 5061-3320 - (Jd. da Saúde- CEP 04290-100) Anne Frank R. Cojuba, 45 - Tel.: 3078-6352 - (Itaim Bibi- CEP 04533-040) (atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado ) Arnaldo Magalhães de Giácomo, Prof. Rua Restinga, 136 - Tel.: 2295-0785 - (Tatuapé- CEP 03065-020) (atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado ) 90 Arquivo Histórico Municipal Washington Luís Praça Cel. Fernando Prestes, 152 - Tel.: 3326-1010 ramal 2037 - (Luz- CEP 01124060) Aureliano Leite R. Otto Schubart, 196 - Tel.: 6211-7716 - (Pq. São Lucas- CEP 03238-030) Belmonte (Antiga Biblioteca Benedito Bastos Barreto) R. Paulo Eiró, 525 - Tel.: 5687-0408 - (Santo Amaro- CEP 04752-010) (atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado ) Bosque da Leitura Ibirapuera Av.República do Líbano, 1151 - Portão7 - Tel.: - (Parque do Ibirapuera- CEP ) Brito Broca Av. Mutinga, 1425 - Tel.: 3904-1444 - (Pirituba- CEP 05110-000) Brito Broca (Unificada com Biblioteca Orígenes Lessa) Av. Mutinga, 1425 - Tel.: 3904-2476 - (Pirituba- CEP 05110-000) Camila Cerqueira César R. Valdemar Sanches, 41 - Tel.: 3731-5210 - (Butantã- CEP 05589-050) (atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado ) Cassiano Ricardo Av. Celso Garcia, 4200 - Tel.: 6192-4570 - (Tatuape- CEP 03064-000) Castro Alves R. Abrahão Mussa, s/nº. - Tel.: 6946-4562 - (Jd.Patente Novo- CEP 04256-190) Cecília Meireles R. Araçatuba, 522 - Tel.: 3834-0004 - (Lapa- CEP 05058-010) Centro Cultural São Paulo. Biblioteca Sergio Milliet Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 - (Paraíso- CEP 01504-000) Centro Cultural São Paulo. Discoteca Oneyda Alvarenga Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 - (Paraíso- CEP 01504-000) Centro Cultural São Paulo. Gibiteca Henfil Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 - (Paraíso- CEP 01504-000) Centro de Documentação Técnica da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente Rua do Paraíso, 387 - Tel.: 3372-2409 - (Paraiso- CEP 04103-000) CEU Alvarenga 91 Estrada do Alvarenga, nº 3.752 - Tel.: 5672-2554 - (Balneário São Francisco- CEP 04474-340) CEU Aricanduva Rua Olga Fadel Abarca, s/n - Tel.: 6723-7513 - (Jd. Santa Terezinha- CEP 03572020) CEU Butantã Rua Engº Heitor Eiras Garcia, nº 1.700 - Tel.: 3732-4516 - (Butantã- CEP 05588001) CEU Campo Limpo Av. Carlos Lacerda, nº 678 - Tel.: 5843-4827 - (Chácara São Pedro- CEP 05789000) CEU Casablanca Rua João Damasceno, nº 85 - Tel.: 5519-5245 - (Jd. Casa Blanca- CEP 05841-160) CEU Cidade Dutra Rua Cristina de Vasconcelos Cecatto, s/n - Tel.: 5668-1915 - (Jd. São NicolauCEP 04802-080) (atendimento: 9h às 17h – 3ª a 6ª / 9h às 15h - sábados ) CEU Da Paz Rua Firminópolis com Rua da Paz - Tel.: 3898-3436 - (Vila Brasilândia- CEP 02878-030) CEU Inácio Monteiro Rua Barão Barroso do Amazonas, s/nº - Tel.: 6518-9014 - (Cidade Tiradentes- CEP 08472-720) CEU Jambeiro Av. Flores do Jambeiro, s/nº - Tel.: 6960-2017 - (Jd. Lajeado- CEP 08430-810) CEU Meninos Rua Barbinos, nº 111 - Tel.: 6945-2512 - (São João Climaco- CEP 04240-110) CEU Navegantes Rua Maria Moassab Barbour, s/nº - Tel.: 5976-5521 - (Pq. Res. Coacaia- CEP 04849-503) CEU Parque Veredas Rua Daniel Müller, 347 - Tel.: 6563-6212 - (Itaim Paulista- CEP 08141-290) CEU Pêra Marmelo Rua Pêra Marmelo, 226 - Tel.: 3948-3912 - (Jaraguá- CEP 05185-420) CEU Perus Rua Bernardo José de Lorena, s/nº - Tel.: 3915-8710 - (Perus- CEP 05203-200) CEU Rosa da China 92 Rua Clara Petrela, s/nº - Tel.: 6701-2316 - (Jd. São Roberto- CEP 03978-500) CEU São Carlos Rua Clarear, 141 - Tel.: 6145-4238 - (Jd.São Carlos- CEP 08062-590) CEU São Mateus Rua Curumatim, 221 - Tel.: 6732-8117 - (Pq. Boa Esperança- CEP 08341-240) CEU São Rafael R. Cinira Polônio, 100 - Tel.: 6752-1044 - (São Mateus- CEP 08395-320) CEU Três Lagos Estrada do Barro Branco com Rua Nereu Bertini Magalhães - Tel.: 5976-5610 (Jd. Três Corações- CEP 04852-320) CEU Vila Atlântica Rua Coronel José Venâncio Dias, 840 - Tel.: 3901-8720 - (Jd. Nardini- CEP 05160-180) CEU Vila Curuçá Rua Marechal Tito, nº 3.450 - Tel.: 6563-6137 - (Vila Curuçá- CEP 08115-000) Chácara do Castelo R. Brás Lourenço, 333 - Tel.: 5573-4929 - (Jd. da Glória- CEP 04113-110) Clarice Lispector R. Jaricunas, 458 - Tel.: 3672-1423 - (Lapa- CEP 05053-070) Cora Coralina R. Otelo Augusto Ribeiro, 113 - Tel.: 6557-8004 - (Guaianazes- CEP 08461-000) Divisão de Desenvolvimento de Coleções e Tratamento da Informação Av.São João - Tel.: 3334-0001 - (Centro- CEP 05049-000) Divisão de iconografia e museus Rua Roberto Simonsem, 136 - Tel.: 3106-2218 - (- CEP 01017-020) Érico Veríssimo R. Diógenes Dourado, 101 - Tel.: 3972-0450 - (Parada de Taipas- CEP 02815-140) Gilberto Freyre R. José Joaquim, 290 - Tel.: 6103-1811 - (Sapopemba- CEP 03272-000) Hans Christian Andersen Av. Celso Garcia, 4142 - Tel.: 2295-3447 - (Tatuapé- CEP 03064-000) Helena Silveira R. Dr. João Batista Reimão, 146 - Tel.: 5841-1259 - (Campo Limpo- CEP 05788270) 93 Jamil Almansur Haddad R. Andes, 491-A - Tel.: 6557-0067 - (Guaianazes- CEP 08440-180) José de Anchieta, Pe. R. Antonio Maia, 651 - Tel.: 3917-0751 - (Perus- CEP 05204-110) José Mauro de Vasconcelos Pça. Com. Eduardo Oliveira, 100 - Tel.: 6242-8196 - (Pq. Edu Chaves- CEP 02233-060) José Paulo Paes (Antigas Bibliotecas Guilherme de Almeida e Sra. Leandro Dupré) Largo do Rosário, 20 - Tel.: 2295-0401 - (Penha de França- CEP 03634-000) José Paulo Paes (Antigas Bibliotecas Sra. Leandro Dupré e Guilherme de Almeida) Largo do Rosário, 20 - Tel.: 2295-9624 - (Penha de França- CEP 03634-000) Jovina Rocha A. Pessoa (Unificada com Biblioteca Plínio Ayrosa) Av. Pe. Francisco de Toledo, 331 - Tel.: 6741-0371 - (Itaquera- CEP 03590-120) Jovina Rocha Álvares Pessoa Av. Pe. Francisco de Toledo, 331 - Tel.: 6741-7371 - (Itaquera- CEP 03590-120) Lenyra Fraccaroli Pça. Haroldo Daltro, 451 - Tel.: 2295-2295 - (V. Nova Manchester- CEP 03444090) Malba Tahan R. Brás Pires Meira, 100 - Tel.: 5523-4556 - (Veleiros- CEP 04784-150) Marcos Rey Av. Anacé, 92 - Tel.: 5845-2572 - (Campo Limpo- CEP 05755-090) Mário de Andrade R. da Consolação, 94 - Tel.: 3256-5270 - (Consolação- CEP 01302-000) Mário de Andrade - Seção Circulante R. da Consolação, 1.024 - Tel.: 3257-8787 - (Consolação- CEP 01302-000) Mário de Andrade - Seção de Obras Raras Rua da Consolação, 94 - Tel.: 3256-5270 r.204 - (Consolação- CEP 01302-000) Mário Schenberg (Antiga Biblioteca Francisco Pati) R. Catão, 611 - Tel.: 3672-0456 - (Lapa- CEP 05049-000) Menotti del Picchia R. São Romualdo, 382 - Tel.: 3966-4814 - (Limão- CEP 02557-060) Milton Santos Av. Aricanduva, 5.777 - Tel.: 6726-4882 - (Jd. Aricanduva- CEP 03527-000) 94 Monteiro Lobato R. Gal. Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 - (Vila Buarque- CEP 01223-011) Monteiro Lobato - Acervo Monteiro Lobato R. Gal. Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 - (Vila Buarque- CEP 01223-011) Monteiro Lobato - Seção de Bibliografia e Documentação R. Gal. Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 - (Vila Buarque- CEP 01223-011) Museu Afro Brasil. Biblioteca Carolina Maria de Jesus Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega Parque do Ibirapuera Portão 10 - Tel.: 55790593 - (Moema- CEP 04094-050) Narbal Fontes Av. Cons. Moreira de Barros, 170 - Tel.: 6973-4461 - (Santana- CEP 02018-010) Nuto Sant'anna Pça Tenório Aguiar, 32 - Tel.: 6973-0072 - (Santana- CEP 02044-080) Ônibus-Biblioteca Rua Gal.Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 r:111 - (Vila Buarque- CEP 01223-011) Paulo Duarte R. Arsênio Tavolieri, 45 - Tel.: 5011-7445 - (Jabaquara- CEP 04321-030) Paulo Duarte (Unificada com Biblioteca Joaquim José de Carvalho) R. Arsênio Tavollieri, 45 - Tel.: 5011-8819 - (Jabaquara- CEP 04321-030) Paulo Sérgio Duarte Milliet Pça. Ituzaingó, s/nº - Tel.: 6671-4974 - (Mooca- CEP 03334-020) Paulo Setúbal (Unificada com a antiga Biblioteca José Paulo Paes) Av. Renata, 163 - Tel.: 6211-1508 - (Vila Formosa- CEP 03377-000) Paulo Setúbal (Unificada com antiga Biblioteca Paulo Setúbal e José Paulo Paes) Av. Renata, 163 - Tel.: 6211-1507 - (Vila Formosa- CEP 03377-000) Pedro da Silva Nava Av. Engº Caetano Álvares, 5.903 - Tel.: 6973-7293 - (Mandaqui- CEP 02413-100) Prestes Maia, Pref. (Antiga Biblioteca Presidente Kennedy) Av. João Dias, 822 - Tel.: 5687-0513 - (Santo Amaro- CEP 04724-001) Raimundo de Menezes Av.Nordestina, 780 - Tel.: 6297-4053 - (São Miguel Paulista- CEP 08021-000) Raul Bopp (Antiga Biblioteca Ophélia França) R. Muniz de Sousa, 1155 - Tel.: 3208-1895 - (Aclimação- CEP 01534-001) Ricardo Ramos 95 Pça.Centenário de Vila Prudente, 25 - Tel.: 2273-4860 - (Vila Prudente- CEP 03132-050) Roberto Santos (Antiga Biblioteca Min. Genésio de Almeida Moura) R. Cisplatina, 505 - Tel.: 2273-2390 - (Ipiranga- CEP 04211-040) Rubens Borba de Moraes R. Sampei Sato, 440 - Tel.: 6943-5255 - (Ermelino Matarazzo- CEP 03814-000) Sérgio Buarque de Holanda R. Augusto C. Baumann, 564 - Tel.: 6205-7406 - (Itaquera- CEP 08210-590) Sylvia Orthof (Antiga Biblioteca Dinah Silveira de Queiróz unificada com Sylvia Orthof) Av.Tucuruvi, 808 - Tel.: 6981-6264 - (Tucuruvi- CEP 02304-002) Sylvia Orthof (Unificada com Biblioteca Dinah Silveira de Queiróz) Av.Tucuruvi, 808 - Tel.: 6981-6263 - (Tucuruvi- CEP 02304-002) Thales Castanho de Andrade R. Dr. Artur Fajardo, 447 - Tel.: 3975-7439 - (Freguesia do Ó- CEP 02963-000) Vicente de Carvalho R. Guilherme Valência, 210 - Tel.: 6521-0553 - (Itaquera- CEP 08253-280) Vicente Paulo Guimarães R. Jaguar, 225 - Tel.: 6135-5322 - (Vila Curuçá- CEP 08030-460) Vinícius de Morais Av. Jardim Tamoio, 1.119 - Tel.: 6521-6914 - (Itaquera- CEP 08255-010) Viriato Correa R. Sena Madureira, 298 - Tel.: 5573-4017 - (Vila Mariana- CEP 04021-050) Zalina Rolim R. Corredeira, 26 - Tel.: 5573-2606 - (Saúde- CEP 04127-140) Disponível em: http://www.prefeitura.gov.br/sistemadebiblioteca.htm. Acesso: 03/10/06. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.- 96 Anexo II: quadro cronológico de evolução das Bibliotecas Públicas Paulistas. Sistema Municipal de Bibliotecas Histórico A história das Bibliotecas Municipais acompanha as diversas modificações estruturais da prefeitura de São Paulo em relação à criação de divisões e secretarias, mas sua concretização foi possível principalmente pela visão e pelo empenho dos intelectuais da década de 20 que, cientes da necessidade da disseminação cultural, trabalharam por esta causa. Década de 20 – Elaboração do projeto O escritor Mário de Andrade já antevia a organização de um departamento específico para a área de cultura, e a criação de uma biblioteca representava um avanço cultural para a cidade de São Paulo trazendo novas perspectivas para todas as áreas do conhecimento humano. Em 1925, a Biblioteca da Câmara Municipal de São Paulo foi liberada ao público e já no ano seguinte foi instalada à Rua Sete de abril, nº 37 como Biblioteca Pública Municipal. Entre os anos de 1926 a 1931 um seleto grupo de intelectuais, entre eles Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Rubens Borba de Moraes e Antonio de Alcântara Machado, reunia-se para discutir a idéia de estruturar a atividade cultural da cidade de São Paulo através da criação de um Departamento de Cultura. Paulo Duarte preparou então um anteprojeto no qual esboçava um sistema de parques infantis, restauração e publicação de documentos históricos, teatros, bibliotecas, discoteca, entre outros; este anteprojeto foi encaminhado a vários outros intelectuais da época para conhecimento e atualizações. Com as sugestões incorporadas, Mário de Andrade, Paulo Duarte e Paulo Barbosa de Campos redigiram o projeto final do Departamento de Cultura. Década de 30 – Criação do Departamento de Cultura O Departamento de Cultura foi então criado oficialmente pelo ato nº 861 de 30 de maio de 1935 e consolidado e modificado pelo prefeito Fábio Prado, através do ato nº 1.146 de 4 de julho de 1936. Inicialmente, foi estruturado em cinco divisões: Divisão da Expansão Cultural – Diretor: Mário de Andrade Divisão de Educação e Recreio - Diretor: Nicanor Miranda Divisão de Documentação Histórica e Social - Diretores: Sérgio Milliet e Bruno Rudolfer Divisão de Bibliotecas - Diretor: Rubens Borba de Morais Divisão de Turismo e Divertimentos Públicos - não chegou a ser implantada Novas seções foram surgindo, como a de teatro com a direção de Antonio Alcântara Machado, a de discoteca com Oneyda Alvarenga e a do Teatro Municipal com Paulo Magalhães. A primeira biblioteca infantil foi criada e inaugurada em 1936 e entregue à direção de Lenyra Fraccaroli. Década de 40 – Biblioteca Pública Municipal Em 1942 o então prefeito, engenheiro Prestes Maia, entregou à população o prédio 97 da Biblioteca Pública Municipal, que em 1960 recebeu o nome de Biblioteca Municipal Mário de Andrade. Em 1945 foi criada a Secretaria de Cultura e Higiene constituída pelo Departamento de Cultura, pelo Departamento de Higiene e pelos serviços relativos ao Estádio Municipal. Esta secretaria foi novamente reestruturada em 1947, quando se separaram em Secretaria de Higiene e Secretaria de Educação e Cultura. Décadas de 50 e 60 – Expansão da rede Durante as décadas de 50 e 60 houve uma grande expansão da rede de Bibliotecas da cidade de São Paulo. Essa expansão ocorreu graças à criação e inauguração de diversas Bibliotecas de Bairro em todas as regiões da cidade. Com ênfase em acervos voltados para o público infanto-juvenil, foram criadas mais de trinta bibliotecas durante este período. Em 1951 o atendimento das Bibliotecas Públicas foi diferenciado por faixa etária; criaram-se, então, duas divisões: Divisão de Bibliotecas para o atendimento de adultos e jovens a partir de quinze anos e Divisão de Bibliotecas Infanto-Juvenis para crianças. Em 1955 a primeira biblioteca infantil passou a denominar-se Biblioteca InfantoJuvenil Monteiro Lobato em homenagem ao escritor. Por seu desempenho, tornouse o embrião da Rede de bibliotecas Infanto-Juvenis da cidade de São Paulo. Década de 70 Em 1975, com a reestruturação da Secretaria Municipal de Cultura, o atendimento diferenciado por faixa etária deu origem a dois departamentos: o Departamento de Bibliotecas Públicas e o Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis. Da década de 80 até hoje Em 1982 foi inaugurado o Centro Cultural São Paulo. Além de manter sob sua guarda expressivos acervos da cidade de São Paulo (a Pinacoteca Municipal, a Discoteca Oneyda Alvarenga, a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, o Arquivo Multimeios), possui um conjunto de bibliotecas que ocupa uma área superior a 9 mil m². Em 6 de fevereiro de 2003, através do decreto n. 42.832, foram criados os Centros Educacionais Unificados – CEUs. As suas bibliotecas atendem tanto o público escolar quanto a comunidade. Nos últimos anos os departamentos - Departamento de Bibliotecas Públicas e o Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis - passaram por um processo de integração das políticas culturais. Em 6 de outubro de 2005, o decreto nº 46.434 reuniu todas as bibliotecas instituindo o Sistema Municipal de Bibliotecas. Fontes de pesquisa: DUARTE, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo. 2. ed. São Paulo: HUCITEC, 1985. SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Cultura. Relatório de Gestão 1993-2000. São Paulo, 2000. DEPOIMENTOS. R. Bras. Bibliotecon. e Doc. São Paulo, v.20, n.1/4, p.95-104, jan. /dez. 1987. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/sistemadebibliotecas.htm Acesso realizado em: 03/10/06 98 .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.- Anexo III: reportagem do Jornal Folha de S. Paulo, sobre a destruição da Biblioteca Mário de Andrade Folha de São Paulo, 02/06/2004 - São Paulo SP A destruição de uma biblioteca Marco Antonio Villa No século 7, a célebre biblioteca de Alexandria sucumbiu definitivamente após mais um incêndio. Em São Paulo, a Biblioteca Mário de Andrade não precisou de nenhum conquistador para ser destruída: bastaram os últimos dois prefeitos e a gestão de Marta Suplicy. Hoje, a Mário de Andrade vive o momento mais grave de sua história. Abandonada pelo poder público municipal, está à mingua, sem funcionários para os serviços essenciais, raros bibliotecários - pois grande parte se aposentou nos últimos anos- e com o prédio em situação precária. A única intervenção do governo municipal foi a realização de uma pequena obra na praça Dom José Gaspar, meramente decorativa - tanto que o monumento em homenagem ao poeta simbolista Cruz e Souza, destruído desde 2002, continua jogado no jardim que cerca a praça. Porém o prédio que reúne o acervo de mais de 300 mil livros grande parte doada, apesar de hoje não existir nenhum setor para receber bibliotecas- continuou intocado. A crise da biblioteca vem desde a gestão Paulo Maluf. Depois de uma grande reforma no final do governo Luiza Erundina, o prédio foi reinaugurado às pressas, no final de 1992, pouco antes da eleição municipal. Para Maluf, nunca uma biblioteca foi prioridade, muito menos a Mário de Andrade. Durante sua administração foram transferidos para lá muitos funcionários da Secretaria da Saúde que não aderiram ao PAS. De uma hora para outra, atendentes, auxiliares de enfermaria, funcionários burocráticos dos hospitais foram transferidos para um ambiente distinto: em vez dos doentes, tinham de cuidar dos livros. Os serviços da biblioteca continuaram funcionando precariamente e não foi comprado sequer um livro para o acervo. Nos quatro anos seguintes, os problemas foram se agravando: o acervo continuava desatualizado e necessitando de conservação, os equipamentos estavam deteriorados, as vagas dos aposentados não foram preenchidas, o prédio, devido à pressa na entrega da reforma, apresentava graves problemas hidráulicos e elétricos. Esperava-se que, na administração do PT, tudo fosse mudar. Doce ilusão. Um dos primeiros atos do então secretário da Cultura, Marco Aurélio Garcia, por incrível que pareça, foi a proposta de fechar a biblioteca, o que não ocorreu graças à mobilização dos funcionários, que realizaram um "abraço ao prédio". Acreditava-se que tudo não tivesse passado de um engano do secretário, que desconhecia a riqueza do acervo da biblioteca, por não ser um consulente daquele espaço. Mas, se não havia recursos para manter a biblioteca, havia para fundar o Colégio de São Paulo, à semelhança do Colégio de França, criado por Francisco 1º, 99 tendo como local a própria biblioteca. Puro marketing para imortalizar a prefeita como uma protetora das artes, uma Catarina 2ª tupiniquim, infelizmente sem um Diderot. Contudo a atividade-fim da biblioteca, o atendimento dos consulentes, foi, apesar dos esforços dos funcionários, piorando a cada dia, pela absoluta falta de recursos. Em 2004, a situação chegou a um ponto intolerável. O setor de cabines, reservado aos pesquisadores, que funcionava sofregamente, foi simplesmente fechado. Logo em seguida mais uma péssima notícia: o setor de livros raros, que só abria no período da tarde, também foi fechado. Para quem não conhece, o setor de raros tem um importante acervo e, dependendo da área, é indispensável para inúmeros pesquisadores nacionais e estrangeiros. Mas a lista de problemas continua: as máquinas leitoras de microfilmes vivem quebradas; quando funcionam não podem tirar cópias, pois falta papel ou falta toner. O acervo até hoje não foi informatizado e nem sequer existem banheiros abertos para o público em quantidade suficiente. Devido à ausência generalizada de funcionários, o horário de todos os setores que ainda funcionam deve ser reduzido, indo na contramão das políticas de bibliotecas em todo o mundo, que cada vez mais ampliam os horários de atendimento: algumas ficam abertas 24 horas. E, pior, nos três anos e meio de gestão do PT não foi comprado nem um mísero livro, o que iguala a triste marca cultural da dupla Maluf-Pitta. Diante desse quadro, é natural que os pesquisadores tenham abandonando a biblioteca. A solução foi buscar outro local, em São Paulo ou em outro Estado -especialmente a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Todavia é inexplicável o silêncio complacente de todos aqueles que utilizaram os serviços da biblioteca e que agora assistem calados à sua destruição. Uma política emergencial de conservação e ampliação do acervo, de recebimento de doações de livros e revistas, de unificação do acervo - pois parte está em Santo Amaro -, de reposição de funcionários e pleno funcionamento de todos os setores da biblioteca antecede qualquer programa de reforma, por mais importante que seja. E mais: a Mário de Andrade tem de voltar a ser uma biblioteca de referência e de visitação pública. Marco Antonio Villa, 48, historiador, é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos e autor de "Jango, um Perfil (1945-1964)" (editora Globo). Site: Http://listas.ibict.br/pipermail_virtual/2004-june/thread.html Acesso: 09/10/06 -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.- 100 Anexo IV: Bibliotecas de SP improvisam atendimento: Com a crônica falta de funcionários, porteiros e vigilantes acabam orientando pesquisas dos visitantes. Luísa Brito, Folha de S. Paulo, 30 de setembro de 2005 Um cartaz colado na porta da biblioteca municipal Afonso Schmidt, na zona norte de São Paulo, alerta os freqüentadores: "Há 10 meses estamos sem limpadora, por isso continuamos pedindo a compreensão de todos, já que os banheiros continuam fechados". Na entrada, um envelope colado na parede marca uma contagem já defasada: "Estamos há 255 dias sem limpadora". A crônica falta de funcionários nas bibliotecas públicas da cidade de São Paulo faz com que bibliotecários tenham de ajudar a varrer o chão. Já empregados que deveriam trabalhar como porteiros ou vigilantes acabam orientando os usuários em suas pesquisas. De acordo com um levantamento da Secretaria Municipal da Cultura, o déficit no número de bibliotecários chega a 61%. A Prefeitura de São Paulo deveria ter 390 bibliotecários, mas possui somente 150 em seus quadros. O problema também ocorre com os assistentes de gestão de políticas públicas -funcionários com ensino médio concluído que deveriam trabalhar como auxiliares de pesquisa- cargo no qual a defasagem é de 66%. A maioria do quadro funcional das bibliotecas da cidade administrada pelo prefeito José Serra (PSDB) é formada pelos chamados agentes de apoio, empregados que possuem apenas o ensino fundamental concluído e deveriam exercer atividade operacional, como porteiros ou vigilantes. Na falta de pessoal capacitado, no entanto, esses agentes atuam como bibliotecários em grande parte das unidades. Isso ocorre, inclusive, em unidades de grande porte, como a Affonso Taunay, na Mooca (zona leste), a Adelpha Figueiredo, no Canindé (zona leste), e até na Mário de Andrade (centro), a maior biblioteca pública da cidade, com 3 milhões de itens documentais. A situação é ainda pior na periferia. Bibliotecas com grande acervo, como a Cassiano Ricardo, a Jamil Almansur Haddad e a Rubens Borba de Morais, todas na zona leste, e a Afonso Schmidt (na Freguesia do Ó, zona norte) têm só um bibliotecário cada uma. Acervo desatualizado e problemas estruturais também são situações comuns em várias bibliotecas visitadas pela reportagem nos últimos dias. Usuários perdidos Os freqüentadores sentem as dificuldades da falta de orientação. "Falta atenção aqui. Na primeira vez tive dificuldade em entender o índice das fichas e a atendente disse " é só copiar os números'", contou o supervisor de vendas José Antônio Alves, 41, freqüentador da biblioteca Mário de Andrade. "É difícil para quem vem a primeira vez encontrar logo o livro. Não é fácil procurar. Os funcionários até ajudam, mas são poucos", disse Marcelo de Souza, 24, freqüentador da Afonso Schmidt. Para a aluna de pedagogia Priscila Kacelnikas Ferreira, 26, os funcionários deveriam ser mais bem informados. "Só dizem aonde 101 está o livro. Não sabem passar informação", diz a universitária, que estava, na última quarta, na biblioteca Helena Silveira, Campo Limpo (zona sul). Como também está sem funcionário de limpeza, a unidade teve de interditar um banheiro. Há só um bibliotecário. Nenhuma das bibliotecas públicas contém o número mínimo de funcionários exigidos. Só a Mário de Andrade precisa de mais 77 bibliotecários. Tem apenas 24. A sessão circulante da biblioteca, onde se emprestam livros, é a única municipal da cidade que fecha para almoço. O intervalo é necessário porque não há funcionários suficientes. No local, há apenas quatro empregados e nenhum é bibliotecário, diz o diretor Luís Francisco Carvalho. "Em 1992 havia 76 bibliotecários, mas muitos se aposentaram e não houve reposição. É fundamental que seja aberto concurso público", afirmou Carvalho. A diretora do departamento de bibliotecas públicas e infanto-juvenis da prefeitura, Maria Zenita Monteiro, reconhece o problema e diz que isso pode até afastar leitores. "Sem funcionários, o atendimento deixa muito a desejar." Segundo o chefe do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes), Waldomiro Vergueiro, o atendimento numa biblioteca deve ser direcionado. "Tem de haver diálogo com o usuário. Ele deve ser orientado a ler vários materiais e chegar a uma conclusão sobre o tema", disse. "Pesquisar não é copiar verbete de enciclopédia". -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-..- Anexo V: reportagem sobre a criação dos CEUs Novo CEU zera déficit de vagas na Região de Capela do Socorro, uma das mais carentes da capital paulista A Prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, inaugurou o Centro Educacional Unificado Cidade Dutra, o quarto centro a ser entregue para a população, sendo o primeiro das seis unidades que serão inauguradas na Zona Sul da capital. No total, serão 21 megacentros que vão criar mais de 50 mil novas vagas na rede municipal de ensino. “Esta é a primeira vez que o Estado está presente com qualidade na periferia da cidade. Não apenas com escola, mas com teatro, cinema e outras manifestações culturais”, afirmou Marta Suplicy, na festa de inauguração, no último dia 30. O CEU Cidade Dutra está atendendo 2.400 crianças. Entre os alunos matriculados, estão os filhos dos operários que trabalharam na construção da unidade. “Isso nunca aconteceu. As pessoas constroem as coisas boas para os ricos, nunca para elas mesmas ou para as famílias. Isso me deixou feliz”, afirmou Marta ao ressaltar que o centro vai quebrar o ciclo de pobreza ao oferecer aos jovens da periferia novas oportunidades, como o acesso ao teatro, a instrumentos musicais, à prática de esportes e lazer em geral. Com o CEU Cidade Dutra, o Navegantes e o Três Lagos, que serão inaugurados ainda este ano, a região que possuía até agora apenas uma biblioteca infanto-juvenil e um centro cultural, vai ganhar três teatros com equipamento de qualidade para serem adaptados para cinema; três bibliotecas com mais de 30 mil volumes entre livros, impressos e áudio visuais; três telecentros com acesso a internet e cursos de informática básica; salas de multiuso com estrutura para ensaios de peças teatrais, palestras, atividades artísticas, 102 exibição de vídeos; além de nove piscinas, quadras poliesportivas cobertas e ao ar livre, padarias comunitárias e estúdios de rádio, tv e fotografia. Os alunos das unidades, os estudantes das outras escolas da região e os moradores vão participar de todas as atividades culturais e esportivas desenvolvidas nos centros. REGIÃO CONCENTRA ALTOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA E DE ANALFABETISMO “Com os CEUs abertos, os índices de violência e de evasão escolar diminuirão. Estamos atendendo regiões onde o poder público nunca olhou”, afirmou Marta Suplicy. Com a entrega do Centro, a demanda por educação infantil no bairro foi praticamente zerada na região da subprefeitura da Capela do Socorro, que apresenta grande índice de analfabetismo, superior cerca de duas vezes e meia ao restante da cidade. Entre os chefes de família, 17% são analfabetos ou têm apenas um ano de estudo e 44% possuem uma renda de no máximo três salários mínimos. CRISTIANE FONSECA – Disponível em: http://www.horadopovo.com.br/2003/setembro/05-09-03/pag5b.htm Acesso : 10/10/06 -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.- Anexo VI: Reportagem sobre a educação em São Paulo Atingir o ensino básico universal: Baixa qualidade compromete alfabetização País alcança meta antes de 2015, mas alunos saem sem domínio elementar de língua portuguesa e matemática ESTANISLAU DE FREITAS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Até 2003, parte dos alunos de três escolas rurais de Capão Bonito -cidade de 47 mil habitantes no Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do Estado de São Paulo- chegava à quarta série sem saber ler ou escrever, alguns com dificuldades de alfabetização. A partir de 2004, o desempenho desses estudantes, com os mesmos professores, saltou 18 pontos nas avaliações aplicadas. "O curso de capacitação de professores provocou uma revolução", analisa a exdiretora da escola Ana Benta, Eliana Silva, 40. A "revolução", na verdade, foi de pequenas modificações na rotina das escolas, como valorização da participação dos pais, criação de oficinas de leitura, estímulo aos professores para usar recursos além da lousa e da cartilha e mais trabalhos em grupo. Resultado de uma parceria com a Fundação Lemann, que deu o curso de formação para diretores -e estes para os professores-, a iniciativa envolveu 200 escolas de São Paulo e de Santa Catarina e beneficiou 100 mil alunos. Agora o projeto será implantado em outras cidades e Estados. Outra experiência nesse sentido vem da capital paulista. Wesley Lima, 13, e 103 Marcelo Henrique Godói, 13, tocam violino; Izabela Dallmann, 13, violoncelo. Eles moram no bairro pobre de Cidade Dutra, na zona sul, uma das áreas mais violentas da cidade, e estudam no CEU (Centro de Educação Unificada) local. Ali, graças a uma parceria entre o Instituto Pão de Açúcar, o banco Santander e a prefeitura, foi montada uma orquestra com os alunos, que ensaiam todas as terças e quintas. Outros três CEUs participam desse projeto. Quantidade vs. qualidade Exemplos como os de Capão Bonito e Cidade Dutra ilustram o principal alvo da responsabilidade social das empresas hoje: educação. "O chamado terceiro setor faz uma pressão importante para que as pessoas e as autoridades vejam e tratem a educação como prioridade", afirma o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, 64. "E educação de qualidade", completa. O Objetivo do Milênio (ODM) relacionado à universalização do acesso à escola será atingido no país bem antes de 2015, mas só quantitativamente. A qualidade de ensino continua baixíssima. Relatório do Saeb 2001 (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), do Ministério da Educação, revela que o país forma cidadãos semi-analfabetos e que não dominam nem sequer operações básicas da matemática. A soma de conceitos "muito crítico" e "crítico" passa dos 52%, na quarta série, e dos 58%, na oitava. O percentual de "avançado", na quarta série, foi zero, e 0,1% na oitava. Entre os alunos de quarta série, na prova de língua portuguesa, 22,2% não passaram do conceito mínimo, "muito crítico"; 36,8% tiveram desempenho "crítico"; 36,2%, "intermediário"; 4,4%, "adequado", e 0,4%, "avançado". "Isso significa que mais da metade deles [59%] não entendeu nada da prova e a devolveu em branco ou rasurada ou entendeu algo, mas não conseguir montar uma única frase para responder", analisou o professor de macroeconomia da PUC-MG Márcio Antônio Salvato, 35, coordenador do laboratório do Sudeste de acompanhamento de testes do ODM para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Além do Saeb, o Brasil participa do Pisa (Programa Internacional para Avaliação do Estudante), sob a coordenação da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). A prova tem conceitos de 1 a 5. Na avaliação da língua, 55,7% dos brasileiros não passaram do conceito 1. Apenas 3,1% chegaram no 4; e 0,6%, no 5. Os mexicanos foram melhores: 6,9% dos alunos chegaram a 4 ou 5, e 44% ficaram abaixo de 1. Os americanos se destacaram mais: 17,9% não passaram de 1, mas 33,7% alcançaram 4 ou 5. Segundo o IDH-Educação (Índice de Desenvolvimento Humano específico da 104 área), o Brasil tinha índice 0,745 em 1991 e melhorou um pouco, chegando a 0,849 em 2000. Era o mesmo nível de Costa Rica, Argélia e Vietnã. Para 2015, as projeções apontam um IDH de 0,906, próximo do que já têm hoje Israel e os vizinhos Argentina, Uruguai e Chile. O índice varia de 0 (nota mais baixa) a 1 (mais alta). Para piorar, o acesso aos ensinos médio e superior tornam-se gargalos. A Taxa de Escolaridade Líquida (percentual da população estudando no nível de escolaridade de sua idade) no nível fundamental está em torno de 94%. Mas a Taxa de Escolaridade Líquida no ensino médio despenca para 40%. E cai para menos de 10% no ensino superior. Ano da qualidade Nem o governo nega a situação do ensino, tanto que o Ministério da Educação instituiu 2005 como o ano da qualidade da educação básica. Entre outras medidas, haverá a troca do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Fundamental e Valorização do Magistério) pelo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), que estende financiamentos até o ensino médio. "Com o novo fundo, cerca de R$ 4 bilhões devem ser injetados", diz o secretário-executivo do Conselho Nacional de Educação, Ronaldo Mota. Além disso, a proposta de emenda constitucional prevê o aumento da vinculação de tributos federais à educação dos atuais 18% para 22,5%, em quatro anos. A Unesco recomenda gastos anuais de 6% do PIB na educação (somando recursos federais, estaduais e municipais). "Faz décadas que o Brasil não atinge o mínimo. Fica entre 4,5% e 4,6% do PIB. Para pagar a dívida educacional, o país precisa investir mais", alerta Werthein. FOLHA ONLINE BRASIL - 31/03/2005 – Disponível em: http://www.folhaonline.com.br Acesso:31/10/06 .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.- 105 APÊNDICE I Síntese de Diagnóstico Organizacional Título “Biblioteca Rubem Braga do Centro Educacional Unificado Cidade Dutra: um diagnóstico organizacional” Objetivo Geral Avaliar o desempenho da Biblioteca Rubem Braga. Objetivos Específicos a) – Analisar espaço físico e sua adaptação ao acervo, públicos e funções; b) – Analisar serviços executados; c) - Analisar perfis de usuários, suas necessidades e o índice de satisfação. Justificativas Uma biblioteca tecnicamente subordinada a diferentes equipes de Secretarias Municipais; desprovida de setorização, bem diferente de outras bibliotecas públicas tradicionais; inserida num grande projeto educacional e que ainda não foi avaliada. Enfim, o respectivo diagnóstico se justifica pelo seu caráter exploratório e informativo sobre o desempenho geral de uma biblioteca tão singular. Metodologia A coleta de dados foi apoiada em fontes variadas. O projeto inicial definiu objetivos e metas organizacionais da biblioteca, apontando suas prioridades em termos de serviços e atividades, com as respectivas etapas e a formulação de problemas detectados. Foram aplicados questionários a cinco funcionários e a quarenta usuários reais da biblioteca; entrevistas com os coordenadores dos Núcleos de Ação Educacional e de Ação Cultural, além de contato informal com um dos arquitetos responsáveis pelo projeto básico dos CEUS – Centros Educacionais Unificados. Outras fontes consultadas foram o respectivo projeto; relatórios; estatutos; normas; regimentos; conversas informais, e muita observação in-loco. Problemas detectados na Instituição CEU: Complexidade ao se reunir diferentes secretarias como Educação/Cultura/ Esportes; Falta de sincronismo e interatividade entre gestão, núcleos, biblioteca e comunidade, quanto ao fluxo de informações, inclusive internamente; Reuniões gerais inexistentes; Com recursos improvisados, a comunicação não chega ao grande público; Problemas de relacionamento com equipes sem muito contato informal etc. 106 Problemas detectados na Biblioteca: Escolarizada. Onde está o seu caráter público? (pouco trabalhado!); Apenas equipamento de apoio, sem autonomia, e sem organograma próprio; Equipe de seis funcionários, sendo que a proposta inicial era de doze, sobrecarrega; leva ao desvio de funções; compromete o atendimento e serviços; Formação de acervo sem estudo de comunidade, e com faltas em muitas áreas; Falta de orçamento próprio que gera falta de materiais e que interrompe serviços; Há interrupções de assinaturas de periódicos; Os periódicos não são indexados; Faltam sinalização e móveis mais adequados; Não possui um site e se comunica de maneira improvisada; Problemas de automação: o sistema não gera determinados relatórios; Funcionários apostam na setorização para melhorar acústica e atendimento; A política de atendimento não define prioridades; Faltam políticas de educação e reeducação de usuários; A biblioteca está no paradigma do acervo e se distancia do social; Falta conhecer as necessidades de informação da comunidade e oferecer a ela informações práticas para que possa resolver problemas do seu cotidiano etc. Considerações finais: No regimento padrão dos CEUs, incluindo-se aí o CEU – Cidade Dutra, diz que a biblioteca é um equipamento de apoio às atividades fins e sua coordenadora de projetos dará auxilio ao coordenador do Núcleo de Ação Cultural. O que se percebe nesse contexto é a falta de autonomia da biblioteca, para se construir a sua identidade, e um largo distanciamento entre esse núcleo e a realidade da biblioteca, com seus serviços, seu público interno, seus funcionários, e sua comunidade externa. Algo mais estreito precisa se tornar o elo dessa relação. Algumas diretrizes precisam ser estabelecidas e discutidas por todos, incluindo-se aí, claro, a vontade política dos dirigentes para dar voz à Rubem Braga. João Batista de Assis Neto. Síntese de Diagnóstico elaborado a partir de proposta final de aproveitamento da disciplina “Planejamento Bibliotecário I”, ministrada pela Profa. Dra. Maria Christina Barbosa de Almeida, 7º semestre do curso de Biblioteconomia da ECA/USP. São Paulo – Agosto/2005 107 APÊNDICE II A MEDIAÇÃO EM FOCO: UM SIMPLES RELATO Com grande prazer – e por que não dizer, com encantamento – inicio este meu relato sobre a elaboração de um trabalho final de disciplina tão singular. Singular por sair daquele enquadramento padrão “capa; página de rosto; sumário; introdução...” e por deixar correr solta a liberdade de expressão, sem abolir a importância de se reter conceitos e conteúdos discutidos em sala de aula, claro. Afinal, eles foram os conectores de todo o processo de criação. E quando se fala de processo, vem à tona a idéia de construção cotidiana de algo no seu todo. Apesar dessa pluralidade, vou fazer apenas um recorte de tudo que vi, ouvi e senti, ao tentar traduzir iconograficamente o conceito “mediação” num ambiente de biblioteca com missão pública e escolar. Trabalho nesse lugar, mas com uma câmera na mão e os conceitos na cabeça, confesso que perdi a identidade de funcionário. Deixá-la morrer, por instantes, foi fundamental na relação com o outro, no caso, aqui, os mediadores do espaço, avaliado sob a ótica da câmera. A lente permitiu um “outro olhar”. No enquadramento, tentei ressignificar a realidade do lugar, há pouco tão igual. Explico: ao fotografar catracas, alambrados, os senti como “barreiras à mediação”. Ao captar o belo sorriso da contadora de histórias, vi algo pouco comum em recepção de áreas públicas. Quando enquadrei lombadas de livros, os números de classificação saltavam importantes dizendo: localize-me! Aqui está o que procuras! E onde estariam as pessoas? Bem, fotografei muitas. E muitas imagens disseram muito. Sobre cadeirinhas, três meninas liam, teatralizando a história. Antes, a olho nu, juro que não perceberia tal magia num gesto de leitura. Pude notar que elas estavam se reconhecendo naquele pequeno espaço. Aquele, como poucos numa biblioteca pública, era um momento de expressão. Eis, diziam-me os olhos da câmera, aqui há “indício” de um processo interativo. Elas estavam produzindo 108 algo, e me pareciam bem felizes. Só não sei se veria isso novamente, pois isso, talvez, não fizesse parte da política do lugar. Que pena! Continuei clicando e imaginando essa tal “política do lugar”. Política do lugar seria o que alguém decidisse colocar ali? Algo estrategicamente pensado à disposição de outro alguém? Mas esse alguém me parecia ser ninguém, sem forma, sem cor, sem nome. Impossível entender? Explico: quem faz o quê pra quem? Há um projeto? Qual é a construção simbólica? Ao fotografar, passei a questionar isso, também. Ah, reflitam comigo: quando aquelas três meninas descerem das cadeirinhas, o processo de aprendizagem delas terá continuidade? Mesmo na dúvida, o meu olhar se apropriou da lente e captou outra cena: um rapaz retira da estante um livro de “História do Brasil”. Tudo bem, ele teve autonomia na localização, mas...quem ali está preocupado com o seu grau de apropriação das informações contidas naquele exemplar? Será que ele irá internalizar conhecimentos e modificar seus pensamentos e atitudes? Ao computador, uma jovem posa para a foto. Retomo as indagações: isso é mesmo inclusão digital? Está ocorrendo interação dela com a linguagem da máquina? Alguém aqui se preocupa se suas habilidades estão sendo desenvolvidas para resolver problemas do seu cotidiano? Digo-lhes apenas que por detrás da câmera não obtive nenhuma resposta, mas a lente desnudava cada problemática, como metáfora da intervenção. Vocês devem estar cansados de tanto questionamento, não? As fotos também trouxeram afirmações tais como: quando fotografamos, a realidade tem diversos ângulos de observação; a lente tem o poder de aglutinar aspectos invisíveis a olho nu; a experiência do outro parece não valer muito numa instituição pública; o mecanismo da interação, do olhar o outro, não se faz presente nas atividades fotografadas, uma vez que não aparece claramente nenhum vínculo entre elas, ou seja, algo que demonstre ser uma construção cotidiana como parte de um projeto. Eis aí uma palavra que parece figurar apenas no papel. 109 A biblioteca em questão, por estar dentro de uma escola, sem nenhuma atividade aparente integrada com professores e alunos, além de rodeada por piscinas e casarões, pouco faz para que seus freqüentadores nela se reconheçam; minhas lentes não conseguiram captar as veias – eu disse veias com o “e” fechado - educativas da biblioteca. Sei que elas existem, mas parecem adormecidas a espera de alguém com interesse em despertá-las, ou implementá-las, através não só de políticas públicas, mas de verdadeiras relações interativas e de um processo de sensibilização. Eis o clique final para abrir novos horizontes: ainda há tempo de aprender a olhar mais o outro, com os nossos próprios olhos. Ah, aquela minha identidade de funcionário está, agora, com seu foco mais ajustado e enxergando com maior nitidez, graças as boas intervenções da “câmera” e de “Regina Obata” ao expor com clareza o rico conteúdo da disciplina “A Biblioteca Com Função Educativa: a Criança e o Jovem”. Todos foram grandes mediadores de minha imersão no ambiente fotografado. João Batista de Assis Neto Texto elaborado a partir de proposta parcial de aproveitamento da disciplina “Biblioteca com função educativa: a criança e o jovem”, ministrada pela Profa. Dra. Regina Obata, 8º semestre, curso Biblioteconomia, ECA/USP, 2005. Dezembro / 2005 110 APÊNDICE III Os meus mediadores Os meus pais foram os primeiros “mediadores” que tive. Eles foram os conectores entre mim e o mundo. A partir de uma relação, fui inserido no contexto de suas vidas, criei formas, ocupei espaços e comecei a perceber tudo a minha volta. Outros “mediadores” levaram-me a explorar o desconhecido na ânsia por sobreviver: o choro era – acredito - para expressar emoções como o medo; a dor; a fome, e logo ganhava o peito com leite, ou me livrava de fraldas molhadas; o riso que dava logo vinha acompanhado de carícias, ou de palavras meigas; os membros inferiores e superiores – ainda não tão fortes – sustentavam movimentos tímidos rumo a longas caminhadas futuras; os olhos, os ouvidos, o paladar e o tato, iam reconhecendo pelo caminho o que podiam. Enquanto isso, minha mente registrava cada gesto, cada voz, cada cor, cada forma, cada sabor e dissabores. Enfim, cresci, porque esse era o processo. Cresci em meio a tantas outras fontes de mediação que me ajudaram na criação e interpretação da idéia de mundo, continuamente. As instituições família, igreja, escola, formaram o tripé de muitos ensinamentos e aprendizados; a cultura, o poder de classes, o grupo étnico, as comunicações com seus meios, em especial a linguagem, também me instruíram na construção de sentidos sobre o que eu via, ouvia e sentia. E, com isso, meus pensamentos voaram, às vezes muito baixo, outras vezes acima do condor. E desses altos e baixos fui somando experiências, subtraindo dúvidas. O cotidiano e tudo que vivi e vivo se transformam em grandes mediadores para que eu possa ter as minhas percepções, me apropriar de informações, estabelecer relações com o “outro”, resolver crises, adotar uma conduta e enfrentar os leões. Enfrentamento, seja do que for, é um termo duro e requer força e ajuda de facilitadores ao praticá-lo. Partindo desse pressuposto, reconheço “meus pais” – in memorian - “meus bons professores democráticos” e “minha mente” como os meus melhores mediadores! Mediadores entre o mundo que desenho; aquele que tenho e o outro que eles esperam que eu conquiste. João Batista de Assis Neto. Texto elaborado a partir de proposta da disciplina “Biblioteca com função educativa: a criança e o jovem”, ministrada pela Profa. Dra. Regina Obata, 8º semestre, curso Biblioteconomia, ECA/USP, 2005. 111 112