JOÃO BATISTA DE ASSIS NETO
Serviços de informação e cultura nas
bibliotecas públicas e híbridas: relações
interativas como parâmetro de análise
São Paulo – 04 / Dezembro / 2006
JOÃO BATISTA DE ASSIS NETO
Serviços de informação e cultura nas
bibliotecas públicas e híbridas: relações
interativas como parâmetro de análise
Trabalho de conclusão de curso
(TCC) apresentado como requisito
parcial para a obtenção de título de
Bacharel em Biblioteconomia pela
Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo.
São Paulo – 04 / Dezembro / 2006
2
Serviços de informação e cultura nas bibliotecas
públicas e híbridas: relações interativas como
parâmetro de análise
Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado como requisito
parcial para a obtenção de título de Bacharel em Biblioteconomia pela
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Banca
Orientadora: __________________________________________
Profa. Dra. Regina Keiko Obata F. Amaro
_____________________________________________________
_____________________________________________________
São Paulo,
de
de 2006
3
À memória de meus pais: grandes mediadores
À minha família
Aos meus amigos
À vida
4
AGRADECIMENTOS
À professora Regina Keiko Obata F. Amaro, pelo profissionalismo aplicado
na orientação, e pelos diálogos que mantivemos: sempre com dicas
corretivas, mas sem perder o encantamento.
Aos professores e demais funcionários do CBD, pelo incentivo e atenção
ao longo do curso.
À “turma de biblio”, pelo convívio e amizade.
Aos amigos de fora e família, pela vibração quando ingressei na
comunidade uspiana.
Às bibliotecas públicas, pelo fascínio que me causam.
5
REFERÊNCIA DE TCC
Assis Neto, João Batista de
Serviços de informação e cultura nas bibliotecas públicas e
híbridas: relações interativas como parâmetro de análise / João
Batista de Assis Neto. – São Paulo: ECA/USP, 2006.
111p. : il. ; 26cm.
1. Bibliotecas públicas – São Paulo (cidade). 2.
Bibliotecas híbridas – São Paulo (cidade). 3. Biblioteca
interativa. 4. Serviço de Referência e Informação - SRInfo. 5.
Relações interativas. 6. Centros Educacionais Unificados –
CEUs. 7. Biblioteca Rubem Braga. 8. Serviço de informação e
cultura. I. Título.
CDD – 027.40981
RESUMO
Este trabalho faz uma análise dos serviços de informação e cultura
em bibliotecas públicas municipais e híbridas da cidade de São Paulo. Tem
o intuito de apresentá-los a partir de panorama cultural e educacional, bem
como das políticas públicas estabelecidas. Interpreta suas linguagens,
carregadas de representação simbólica, as quais devem ser decifradas.
Trata de um novo conceito de biblioteca, onde se valorizam as relações
culturais; comunicacionais; ambientais; pessoais e sociais, além de
informacionais. Mostra a importância de o bibliotecário atuar como
mediador entre biblioteca, usuário e comunidade, para que deixem de ser
meros receptores e passem a produzir informação e cultura, num processo
interativo.
Palavras-chave: Bibliotecas públicas. Bibliotecas híbridas. Biblioteca
interativa. Serviço de referência e informação – SRInfo. Relações
interativas. Centros educacionais unificados – CEUs. Biblioteca Rubem
Braga. Serviço de informação e cultura.
6
ABSTRACT
This work makes an analysis on the information and culture services in
municipal and hybrid public libraries of the city of São Paulo. It has the
intention of presenting them based on education and cultural prospectives,
as well as of analysis of public politics established. It interprets their
languages, Filled with symbolic representation, which must be deciphered.
Discusses a new library concept, where the cultural, comunication,
environmental; personal and social relationships are enriched and also the
information exchange. Shows the librarian's importance to act as mediator
between the library, users and community, so that they stop being mere
receptors and start to produce information and culture in an interactive
process.
KEYWORDS: public library; hybrid library; interactive library; information
and reference service; interactive relationships; unified education centers;
Rubem Braga Library. Information and culture service.
7
SUMÁRIO
Apresentação
11
1 Introdução
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
1.1.2 Objetivos específicos
1.2 Justificativa
1.3 Metodologia
1.3.1 Referencial teórico
1.3.2 Recursos documentais e informacionais
12
12
12
13
13
14
14
16
2 Bibliotecas públicas da cidade de São Paulo
2.1 As políticas públicas
2.2 Os públicos e os serviços
16
23
29
3 Centros Educacionais Unificados (CEUs): bibliotecas híbridas
3.1 Panorama educacional e cultural
3.2 Serviços desenvolvidos
33
33
41
4 Biblioteca pública x biblioteca híbrida
4.1 Relação biblioteca / público real
4.2 Relação biblioteca / sociedade
44
45
49
5 Serviço de Referência e Informação (SRInfo)
52
5.1 SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: linguagens e construção de
relações
57
5.1.1 Linguagem espacial e do mobiliário
58
5.1.2 Linguagem do acervo
61
5.1.3 Linguagem de representação do acervo
62
5.1.4 Linguagem dos mediadores e da comunidade
64
5.2 Atividades do SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: análise
66
5.3 Propondo atividades interativas
71
6 Considerações finais
82
7 Referências
87
Anexo I Relação das bibliotecas públicas da cidade de São Paulo
Anexo II Quadro cronológico de evolução das bibliotecas públicas
Anexo III Reportagem sobre a Biblioteca Mário de Andrade
Anexo IV Reportagem sobre o estado geral de algumas
bibliotecas públicas municipais da cidade de São Paulo
8
Anexo V Reportagem sobre a criação dos CEUs
Anexo VI Reportagem sobre educação em São Paulo
Apêndice I Síntese de diagnóstico da Biblioteca Rubem Braga
Apêndice II Relato de uma experiência fotográfica realizada na
Biblioteca Rubem Braga
Apêndice III Texto “Meus mediadores”
9
“Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual,
mas me descubro membro de uma grande comunidade humana... Sou
realmente um homem quando meus sentimentos, pensamentos e atos
têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso”.
Albert Einstein
10
APRESENTAÇÃO
Este trabalho pretende estudar os serviços de informação e cultura
destinados
à
comunidade,
implantados
pelas
bibliotecas
públicas
municipais da cidade de São Paulo, tanto daquelas subordinadas à
Secretaria Municipal de Cultura (SMC), quanto as bibliotecas dos Centros
Educacionais Unificados (CEUs), ligadas à Secretaria Municipal de
Educação (SME). Para tanto, será realizado um levantamento dos serviços
desenvolvidos que serão estudados, tendo como base os conceitos
operacionais propostos por Amaro, que prevêem fundamentalmente a
construção de relações interativas, imprescindíveis para que a biblioteca
pública exerça a sua função social transformadora de cotidianos e
pessoas. A partir desses estudos, serão propostas algumas ações
interativas para os serviços dessas instituições.
11
1 Introdução
Diante da sociedade da informação, com as facilidades de
comunicação global e grande apoio de tecnologias em inúmeras atividades
diárias das pessoas, torna-se interessante verificar o papel das bibliotecas
públicas municipais na realidade social, a partir de uma análise de seu
Serviço de Referência e Informação (SRInfo).
Numa abordagem geral, destacamos os principais fatos e atores do
surgimento e desenvolvimento da biblioteca pública e das bibliotecas dos
CEUs, bem como os aspectos socioculturais e políticos da época em que
foram implantadas. Apresentamos as políticas públicas estabelecidas e
seus reflexos nos serviços oferecidos por essas instituições. Incluímos
quadro cronológico e matérias publicadas sobre o estado precário em que
muitas se encontram.
As características do atendimento e dos serviços oferecidos e o tipo
de público atingido serão observados. Em seguida, identificaremos as
características
da
relação
das
bibliotecas
com
o
público
real
(freqüentadores) e com a sociedade, através desses serviços.
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
Fazer uma análise do Serviço de Referência e Informação
de
bibliotecas
públicas
e
das
bibliotecas
Educacionais Unificados da cidade de São Paulo.
12
dos
Centros
1.1.2 Objetivos específicos
a) Analisar como são realizadas algumas atividades da
Biblioteca Rubem Braga, do CEU Cidade Dutra;
b) Propor ações interativas para se repensar algumas atividades da
Biblioteca Rubem Braga;
c) Analisar as relações entre biblioteca / escola / sociedade;
d) Apresentar e discutir as linguagens que envolvem os serviços de
informação e cultura de bibliotecas públicas e da Biblioteca
Rubem Braga.
1.2 Justificativa
Após tomarmos ciência dos conceitos operacionais e das práticas
de um novo serviço de informação, através da disciplina “A biblioteca com
função educativa: a criança e o jovem”1, percebemos que o modelo
apresentado de Biblioteca Interativa era o parâmetro adequado e inovador
para a análise dos Serviços de Referência e Informação das bibliotecas
públicas e bibliotecas dos CEUs, da cidade de São Paulo.
Outra justificativa para essa análise está no fato de trabalharmos em
biblioteca desde 1990, e sentirmos a necessidade de mudanças que
possam trazer melhorias aos serviços de informação e cultura das
bibliotecas em questão.
1
Disciplina ministrada pela profa. dra. Regina Keiko Obata F. Amaro, ECA/USP,
em 2005.
13
1.3 Metodologia
1.3.1 Referencial teórico
A base conceitual de nossa análise foi extraída das
pesquisas desenvolvidas por Amaro (AMARO, 1998; OBATA,
1999)
que
fundamentaram
a
construção
de
uma
nova
concepção de biblioteca, a Biblioteca Interativa. Segundo a
autora,
“A biblioteca interativa é um serviço de informação
que busca estabelecer relações de interação entre o
sujeito e a informação e a cultura para que o mesmo seja
não só um receptor, mas também um produtor. Nessa
concepção, a biblioteca deixa de ser apenas um espaço de
difusão ou disseminação da informação e da cultura, para
ser também um espaço de expressão” (AMARO, 1998,
p.58).
Torna-se relevante extrair alguns pontos do trabalho de Amaro
(2005) que nortearam nosso estudo. A autora destaca a necessidade de se
construir uma biblioteca com função educativa diante a globalização e de
crises de relações sociais, principalmente no meio familiar. Criança e
jovens são os mais atingidos pela desestruturação, quando saem da
família e entram nas instituições como escola e biblioteca, por exemplo.
São espaços ideais para abarcar os serviços de informação educativos
(p.305-06).
Esses espaços devem se tornar espaços de socialização, com
intuito de se construir interações/inter-relações de informação, cultura,
comunicação, ambiente, pessoal e social. Para isso, afirma Amaro, não
basta apenas dar o acesso à informação e cultura, é necessário que ocorra
a apropriação da biblioteca com seus produtos e serviços, pela criança,
14
pelo jovem e pelo cidadão (p.305). É destacada a importância de se
considerar a diversidade cultural dos indivíduos.
Destacam-se também as noções de autonomia como uma
conquista, uma construção feita pelo indivíduo, para transitar na vida
política, social, econômica ou cultural. Outra noção que define essa nova
concepção de biblioteca é a interação, em que o indivíduo deixa de ser
receptor e passa a ser produtor de informação e cultura. Na Biblioteca
Interativa, essa relação de autonomia, apropriação, produção, deve ser um
processo contínuo de construção.
Ainda, segundo Amaro (2005), toda essa construção apresenta
linguagens do sistema de informação. São as linguagens do espaço e dos
instrumentos documentários; do acervo (produtor da informação e dos
bens culturais); dos agentes (mediadores e comunidade da biblioteca e do
seu entorno). Além desses conceitos operacionais, a autora destaca a
sociabilidade, a afetividade e a ludicidade (p.307). Mas a construção de
biblioteca com função educativa exige formas de interação ou estratégias.
Estratégias de negociação e de neutralização, aplicada através de
negociação som setores envolvidos para se evitar ou neutralizar
resistências, tensões e conflitos provocados pela implantação de algo
inovador. Estratégias de apropriação, algo que deve ser construído
cotidianamente.
Elas
visam
incorporar
práticas,
conhecimento
e
informação de todos os envolvidos na construção da biblioteca, através de
relações interativas, ou seja, um subsidiando o outro. Nas estratégias de
motivação e manutenção de interesse, implementam-se projetos de
planejamento, capacitação, formação, também numa construção cotidiana
(p.307-08).
15
1.3.2 Recursos documentais e informacionais
Revisão
da
literatura
especializada
a
partir
de
levantamento realizado em:
a) Diagnóstico da Bibliote ca Rubem Braga (Apêndice I);
b) Estudo
de
documentos
administrativos
(projetos,
relatórios, manuais, normas etc, relativos às bibliotecas
públicas e bibliotecas dos CEUs do município de São
Paulo);
c) Estudo das informações oficiais veiculadas nos sites oficiais das
Secretarias de Cultura e de Educação (decretos, programas e
propostas de política cultural e educacional, plano diretor etc.);
d) Observações in-loco dos espaços, das atividades e dos serviços,
conversas informais com profissionais e técnicos das respectivas
bibliotecas;
e) Utilização da própria experiência acumulada ao longo de 14 anos
trabalhando em bibliotecas públicas e dois anos em biblioteca
híbrida.
2 Bibliotecas públicas da cidade de São Paulo
Existem
inúmeras
bibliotecas
públicas
espalhadas pelas quatro regiões da cidade,
municipais
(BPMs)
com maioria na periferia
(ANEXO I). E mesmo pertencendo a uma rede, cada qual tem suas
especificidades, o que não impede a generalização ao se tratar, por
exemplo, de suas funções. Diversos autores (AMARO, 1998; ANDRADE e
MAGALHÃES, 1979; CHARTIER, 1999; MILANESI, 1996; NEGRÃO, 1983;
OLIVEIRA, 1994), entre outros, abordam a questão de se associar a
biblioteca pública com o livro; promoção da leitura, e o público estudantil,
16
que por falta de biblioteca escolar, representa 90% do público atendido
pela biblioteca pública, caracterizando sua escolarização.
Tal relação direta deve-se a uma parte de sua história (ANEXO II).
Durante o Estado Novo, em 1937, foi criado o Instituto Nacional do livro
(INL), órgão que, entre outras atribuições, distribuía livros às bibliotecas,
mas de maneira autoritária. Com o INL, controlava-se o que seria lido no
país. Isso caracterizou a Biblioteca, mas não impediu seu florescimento.
De acordo com Negrão (1983), entre inúmeros fatores responsáveis
pelo desenvolvimento da BPM, de 1926 a 1951, estão o aumento do
número de estudantes e, conseqüentemente, de livros; maior uso da
biblioteca, o que refletia no mercado editorial. Permissão de acesso do
público à biblioteca [....] como meio de auxiliar nos programas de combate
ao analfabetismo. Outros fatores como: ação de seus diretores;
profissionalização de bibliotecários e formação de técnicos; propagandas
gratuitas em jornais e rádios; desenvolvimento econômico e sociocultural
da cidade de São Paulo, responderam também por essa ascensão, até sua
expansão pelos bairros da cidade, fato esse ocorrido a partir de 1952.
Retornando ao tempo de sua concepção, notam-se esforços de
intelectuais e de alguns políticos para impor a presença da BPM como
instrumento de transformação social.
Infelizmente, naquela época já se
fazia uso, nas palavras de Negrão (1983), “de palanque eleitoreiro”, ou
seja, tirar vantagem política de inauguração às pressas. Como exemplo, a
instalação nova da biblioteca pública na praça Dom José Gaspar, que,
inaugurada em janeiro de 1942, só entrou em pleno funcionamento no ano
seguinte. É o jogo da politicagem, onde:
“Existem homens tenazes que plantam na cabeça a
idéia da construção de um centro de cultura e fazem disso
uma prioridade em seu programa de governo. Recursos?
Aparecem, pois não há miséria que resista a um sonho
17
monumental.
Arquitetos
famosos
são
convocados,
técnicos visitam obras similares no mundo [....] escavam,
plantam alicerces, erguem grandes colunas, arcos [....]
jardins. A inauguração [....] para os últimos dias da gestão
[....]
É sabido que na administração pública brasileira,
comprometida fortemente com a política partidária (quando
muda o partido no poder, o que a sigla anterior construiu
corre o risco de perder o seu valor) raramente há
continuidade nos projetos” (MILANESI, 1996, p.23-24).
Homens dessa estirpe sempre existiram, mas isso não conseguiu
ofuscar o brilhantismo de outros como: Mário de Andrade, Paulo Duarte,
Rubens Borba de Moraes e Sérgio Milliet – relevantes intelectuais responsáveis pela criação do Departamento de Cultura do Município de
São Paulo, na década de 30. Criação essa, que na opinião de Machado
(2001):
“[....] Jogou luz de forma inaugural sobre a questão
da cultura nas administrações públicas”, além de –
continua o autor – “No terreno das bibliotecas, pelo grau
de ineditismo, profundidade das medidas e pela amplitude
de visão, mais que as ações, que nem todas puderam ser
postas em prática devido à queda do governo, o projeto do
Departamento de Cultura pode ser considerado até nossos
dias o ponto mais iluminado em termos de políticas
públicas para o setor” (MACHADO, 2005, p. 69-70).
É sabido que Mário de Andrade ficou à frente desse Departamento
entre 1935 e 1938. E nesse período, segundo Barbato (2004), citado por
Haag (2004),
18
“Com a experiência do Departamento de Cultura de
São Paulo, começa haver no Brasil a noção do que seja
propriamente uma política cultural [...] Mário e seu grupo
(que incluía Sérgio Milliet, Paulo Duarte, entre outros)
tinham aversão à política e acreditavam que apenas a
cultura poderia modificar o homem e deixá-lo melhor [....]
abdicaram de suas obras pessoais por projeto cultural para
a sociedade [....]
[....] Mário e seus amigos desejavam “elevar” o
povo à cultura burguesa e não destruí-la [...] Assim,
ingressos gratuitos para todos e programas didáticos que
chegavam mesmo ao ponto de ensinar quando aplaudir
durante os concertos. O mesmo se deu com as bibliotecas
ambulantes, que deveriam democratizar o acesso à leitura,
chamadas de “loucura de menino” por Prestes Maia, para
quem a iniciativa “oferecia romances policiais para os
desocupados da Praça da República” [....] Em vez de livros
e música, Maia queria gastar seu dinheiro com avenidas e
pontes [....] Em 1938 Mário foi demitido!” (p.82-85).
Partindo-se dessas atitudes, torna-se impossível não imaginarmos a
situação atual desse departamento2. A curiosidade aumenta, quando se
2
As bibliotecas públicas estão subordinadas às suas respectivas Subprefeituras
(Coordenadoria de Assistência Social e Desenvolvimento), a partir do momento em que
houve a descentralização do poder do Governo Municipal, com a criação das
Subprefeituras (Lei nº 13.399, de 01 de agosto de 2002 – Projeto de Lei º 546/2001, do
Executivo) que prevê a transferência gradual de órgãos e funções da Administração Direta
Municipal. A Coordenadoria responde pela implementação e execução das políticas
públicas de inclusão e promoção nas áreas de Assistência social, trabalho,
abastecimento, esporte, lazer, cultura (na qual a biblioteca se inclui), educação ambiental
e atendimento habitacional emergncial. Bibliotecas que se tornaram polos da rede,
temática (especializadas), por exemplo, deixarão de estar sob administração das
Subprefeituras, retornando
Secretaria Municipal de Cultura (SMC), através do
Departamento de Bibliotecas Públicas. As instituições centrais Biblioteca Mário
19
de
pensa nas bibliotecas, em rede, espalhadas pela cidade de São Paulo.
Vemos neste momento cenários que até pouco tempo não eram comuns:
inúmeras pessoas comunicando-se via celular nos veículos e ruas, outras
carregando computadores portáteis; cinema em terceira dimensão; banco
24 horas e outdoor de plasma nas esquinas; além de locais de acesso à
Internet, como lan houses e cibercafés. Tudo isso, é resultado de
desenvolvimento científico e tecnológico, mostrando que:
“Nas últimas duas décadas do século XX assistiuse a grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e
político quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia
[....] Ainda não se tem idéia clara do que deverá
representar, para todos nós, a globalização capitalista da
economia,
das
comunicações
transformações
tecnológicas
surgimento
era
da
da
e
da
tornaram
informação
cultura.
As
possível
o
[....]
As
novas
tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos
não apenas por palavras, mas também por imagens, sons,
fotos, vídeos (hipermídia), etc [....]
Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma
área ou especialidade para se tornar uma dimensão de
tudo, transformando profundamente a forma como a
sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em
andamento
uma
Revolução
da
Informação,
como
ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a
Revolução Industrial” (GADOTTI, 2000, p.1-7).
Tudo parece ser medido pelo grau de informação que se tem. O que
pouco se percebe, são os excessos de informações fragmentadas
Andrade, Centro Cultural de São Paulo e Teatro Municipal terão gestões autônomas,
criando-se autarquias.
20
recebidas, sem que tenhamos tempo de filtrar, nem de avaliar. Recuperar
informações completas, precisas e confiáveis na Internet exige um trabalho
árduo de seleção entre milhões de resultados, após as buscas muitas
vezes insatisfatórias. Isso acaba sendo um desserviço. Segundo Abramo
(1995), citado por Evangelista e colab. (2001),
“Uma das graves pragas modernas é a crença na
informação. Vemo-la em plena atividade, por exemplo, nas
resmas de papel dedicadas à chegada da Internet ao
Brasil. A impressão é que, agora sim, saberemos tudo
sobre tudo: o conhecimento ready-made nas pontas dos
dedos [....]” (p.83).
É nesse cenário globalizado, onde parece não existir barreiras nem
distâncias para o acesso e a disseminação de informações, que as nossas
bibliotecas públicas tentam sobreviver, devido ao atraso de sua inserção
na era tecnológica, entre outras mazelas.
Sabe-se que uma pequena parcela de brasileiros tem participação
ativa na revolução causada pela informática, considerando os preços de
computadores em relação ao baixo poder aquisitivo da maioria de nossa
população. Tenta-se a sua inclusão digital, com abertura de telecentros,
computadores nas escolas e bibliotecas, criando-se a idéia de que somos
cidadãos do mundo. A iniciativa é boa, mas seria bem melhor se viesse
acompanhada de um processo educacional. Todavia, segundo Takahashi,
no Livro Verde (2000),
“No
Brasil,
o
crescimento
recente
das
telecomunicações tem democratizado o uso do telefone. O
acesso à rede Internet, contudo, ainda é restrito a poucos
[....]
Formar
o
cidadão
não
significa
“preparar
o
consumidor”. Significa capacitar as pessoas para a tomada
de decisões e para a escolha informada acerca de todos
21
os aspectos na vida em sociedade que as afetam, o que
exige acesso à informação e ao conhecimento e
capacidade de processá-los judiciosamente, sem se deixar
levar cegamente pelo poder econômico ou político” (p.
7/45).
Se de um lado esse cidadão tem de enfrentar os desafios lançados
pela globalização, caso queira receber e/ou enviar quaisquer tipos de
informação via Internet, seja através de textos, sons ou imagens, ou ter de
se reciclar para não ser excluído dos avanços tecnológicos, o que pode
significar estagnação ou não inserção no mercado de trabalho; de outro
lado, segundo Amaro (2005),
“[....] acentua-se uma crise das relações sociais e
interpessoais, verificando-se, em grande parte dos centros
urbanos do mundo, uma desorganização da família, em
cujo interior são construídas as primeiras fases da
socialização e da formação da estrutura de personalidade
do indivíduo. O segmento da sociedade muito afetado por
essas condições é o da criança e o do jovem [....]”
(AMARO, 1998b, p.305).
Amaro (2005) propõe soluções via biblioteca, mas com largas
diferenças das tradicionais, onde há preocupação apenas com a
conservação e difusão do acervo. Acha necessário transpor esses
paradigmas, através de novas práticas da biblioteconomia e da ciência da
informação, construindo referências para os serviços de informação com
função educativa. Ela apresenta um novo conceito de biblioteca – como um
espaço de socialização – visando construir interações e inter-relações
culturais, comunicacionais, ambientais, pessoais e sociais, além de
informacionais. Segundo a autora,
22
“[....] Para que esse objetivo seja alcançado, é
insuficiente promover o acesso à informação e à cultura,
solução freqüentemente presente nas políticas públicas e
em programas governamentais e institucionais. Mais do
que isso, é fundamental que ocorra a apropriação da
instituição biblioteca e seus produtos e serviços pela
criança, pelo jovem e pelo cidadão. Para tanto, a
diversidade cultural em seus variados aspectos [....] deve
ser o conceito fundador das noções orientadoras não só
da construção física mas também das ações cotidianas da
biblioteca” (AMARO, 2005, p.305-306).
2.1 As políticas públicas
As políticas públicas são propostas criadas pelo governo para
garantir o bem-estar social da população, seja na área da educação,
saúde, cultura etc. Suas ações surtem efeitos a curto, médio e longo prazo,
dependendo de vontade política, orçamento e, às vezes, pressão social
para que elas ocorram, como pode ser observado na concepção:
“Políticas públicas são um conjunto de decisões
deliberadas, de longo alcance, condensadas em um corpo
de documentos governamentais, com o objetivo de regular
a criação, a administração e o desenvolvimento de
determinada área da sociedade. São diretrizes que
determinam o curso de ação, com visão estratégica e
produz uma situação futura.” (OLIVEIRA, 1994, p.28).
Buscamos a origem de política de bibliotecas nos estudos de
(MILANESI, 1996; OLIVEIRA, 1994). Neles há consenso de que o INL,
criado pelo Decreto Lei nº 93, de 21/12/1937, deu início à política de
23
bibliotecas pública no Brasil, além de impor a presença do livro nas
bibliotecas através de uma prática autoritária, durante o Estado Novo.
“No Brasil, por muito tempo, o Estado e sociedade
ignorou a questão da biblioteca pública. A primeira
biblioteca deste tipo surgiu 300 anos após o início da
colonização e somente a partir de 1937, com a criação do
INL, ela passou a contar com respaldo oficial para
empreender
seu
processo
sistemático
de
desenvolvimento. O INL produziu políticas de bibliotecas
públicas, mecanismos institucionais que facultavam o
compartilhamento, a difusão e o uso da informação
disponível para as comunidades” (OLIVEIRA, 1994, p.17).
Cabe lembrar que antes desse amparo do Estado, as bibliotecas
eram mantidas por ordens religiosas ou por particulares, no intuito de dar
apoio educacional aos indivíduos letrados. O acervo importado reproduzia
o pensamento europeu da época, na sua maioria em inglês ou francês, o
que inviabilizava o acesso de populares, criando-se o estereótipo
“biblioteca como templo do saber”. A rigor, até final dos anos 20, não era
possível apontar uma política pública para bibliotecas, já que governo e
sociedade não agiam na intenção de desenvolvê-las (OLIVEIRA, 1994).
Esse quadro começa a mudar com a atuação de Mário de Andrade
e seu grupo com a experiência do Departamento de Cultura de São Paulo.
Inicia-se a noção do que seria uma política cultural passando-se pela
intervenção do INL, órgão responsável pela promoção do livro e da
biblioteca pública, o qual estipulava a formação do acervo, os serviços e o
tipo de públicos a ser atingido pela instituição, relembrando que sua
atuação era autoritária.
Esse autoritarismo nos remete à comparação entre políticas
públicas e políticas governamentais, tratando-se de bibliotecas públicas
24
espalhadas – em rede – pela cidade, que segundo Monteiro (1982), citado
por Oliveira (1994),
“As políticas ditas públicas agregam decisões
governamentais às de outras instituições da sociedade. Já
as políticas governamentais emanam apenas de decisões
do governo sem maior participação de outros agentes da
sociedade em sua elaboração” (p.28).
Em relação às bibliotecas públicas, a impressão de que elas são
criadas e mantidas por políticas governamentais está no tratamento
recebido da sociedade, como podemos observar nas palavras de Milanesi
(1996):
“[....]
Raramente
constam
dos
orçamentos
municipais. Vivem de esmolas, não se atualizam e
dispõem de acervo quase sempre incompatíveis à
necessidade do público. É provável que os municípios não
reagiriam de imediato se elas fechassem as portas [....]
Talvez os alunos de primeiro e segundo graus [....] O
adulto não encontra nessa instituição a praticidade à qual
os alunos se agarram” (p.4-5).
Tal quadro revela descaso por parte de autoridades que não
consideram a biblioteca como investimento. Faltam políticas públicas
pensadas, planejadas e implantadas de modo interativo, com participação
e vontade popular, além de profissionais comprometidos com os objetivos
da instituição. Outros fatores caracterizam o distanciamento entre
biblioteca/sociedade/comunidade. Segundo Amaro (1998),
“[....] tanto à ausência ou deficiência das políticas
de informação e cultura quanto à inadequação das
concepções que fundamentam
25
a
organização
e
o
funcionamento
dos
Sistemas
de
Informação.
Desconsideram-se as particularidades das relações que
devem ser estabelecidas entre os produtos culturais e
informacionais e o usuário, assim como as especificidades
da linguagem de cada um dos atores envolvidos no
processo” (p.6)
Para exemplificar, apresentamos a proposta de política cultural
(2005 – 2008) da Secretaria Municipal de Cultura, da cidade de São
Paulo3, da qual extraímos as ações pertinentes ao Sistema Municipal de
Bibliotecas, citadas pelo prefeito José Serra:
“Ações no curto prazo

Transformação de quatro bibliotecas da rede
em Bibliotecas-Pólo: uma em cada região
funcionando como unidades de referência para
as demais, sob administração de SMC Secretaria Municipal de Cultura, e não mais
pelas Subprefeituras;

Seis unidades da rede se tornarão temáticas:
irão
acumular
determinadas
acervos
áreas
do
especializados
em
conhecimento
ou
expressão artística [....] passando a atrair um
outro público [...]

Criação de uma filmoteca: com documentários
sobre a memória da política nacional;

Reforma,
ampliação
e
construção
de
bibliotecas, onde não há, como Parelheiros e
Cidade Tiradentes;
3
Documento, com 22 páginas, expedido na gestão do prefeito José Serra, tendo
como Vice-prefeito Gilberto Kassab; Carlos Augusto Calil como secretário de cultura e
Maria Zenita Monteiro como diretora do Sistema Municipal de Bibliotecas.
26

Estender o serviço de leitura aos parques do
Carmo, da Luz e da Aclimação;

Retomar e ampliar o serviço dos ônibusbiblioteca, de quatro para dez, pelo menos;

Implantar programas de leitura e criação
literária nas bibliotecas para alunos da rede
municipal de ensino;

Reformar
a Biblioteca Mário de Andrade
(ANEXO III) além de retomar o projeto Colégio
de São Paulo;

Criar autarquias (órgãos centrais com gestão
autônoma administrativa e orçamentaria, entre
eles a Biblioteca Mário de Andrade, que vai se
tornar um departamento próprio);

Fusão
dos
Departamentos
de
Bibliotecas
Públicas com o Departamento de Bibliotecas
Infanto-Juvenis,
incluindo-se
a
gerência
e
normatização técnica de bibliotecas da rede etc.
Ações no médio prazo

Informatizar os catálogos e torná-los acessíveis
via Internet;

Construir nova sede para a Biblioteca Sérgio
Buarque de Holanda, de Itaquera, por estar em
condições precárias;

Revitalizar
a
Biblioteca
Monteiro
Lobato:
reparos no edifício; expansão de acervo; ofertar
mais atividades culturais; firmar parcerias com
Senac, escritórios de arquitetura, editoras, para
revitalizar também sua praça;
27

Expandir a Biblioteca Mário de Andrade:
transferir o seu Setor Circulante, Serviços
Técnicos e da Hemeroteca para um prédio
próximo, na própria praça Dom José Gaspar;
restaurar livros e obras raras;
Ações permanentes

Atualização e expansão do acervo de todas as
bibliotecas” (p. 13-14).
O documento enfatiza ações voltadas ao espaço físico – como
reformas – animação cultural, leitura e expansão de acervo, além de
reestruturação administrativa da Secretaria Municipal de Cultura e seus
Departamentos. Pretende-se criar o Sistema Municipal de Bibliotecas,
unificando os sistemas de bibliotecas específicas para adultos e as
Unidades reservadas ao público infanto-juvenil, além de incluir funções
temáticas e de pólo para algumas bibliotecas, inspiradas numa experiência
francesa que destaca temas sobre história da mulher e feminismo, por
exemplo.
Tudo muito interessante, mas, onde estão as políticas para
expandir o quadro de bibliotecários, hoje tão reduzido e necessário? Onde
estão as políticas para melhorar a imagem das bibliotecas perante a
sociedade,
através
de
marketing;
melhores
e
novos
serviços
à
comunidade? Onde estão as políticas de atuação das bibliotecas em
parceria com outras instituições como a Educação, por exemplo?
Essas indagações fizeram parte de conversas informais com
bibliotecários de SMC e de CEU, os quais apontam a falta de diálogo com
os atores principais: a comunidade geral incluindo os profissionais,
técnicos e auxiliares de bibliotecas da rede e de outras secretarias ao se
elaborar e aplicar políticas públicas.
28
2.2 Os públicos e os serviços
Em nossas análises das políticas públicas para bibliotecas do
município, não foram encontrados estudos de usuário, de comunidade,
nem política de seleção e aquisição de acervo. Sem esses referenciais, a
idéia de qual público atender esvai-se completamente. Vimos que o público
estudantil caracteriza a escolarização da biblioteca pública e, isso,
contradiz o fato de que,
“O objetivo principal de uma biblioteca pública é
atender aos vários segmentos da comunidade: cada grupo
tem necessidades e interesses específicos, e, por
conseguinte, os serviços e produtos são programados de
conformidade com esses interesses. Alguns deles serão
dirigidos a escolares” (MACEDO, 2005, p.171).
Com base na escolarização, observa-se que o objetivo principal,
descrito por Macedo, fica comprometido. Nota-se um distanciamento
quando se pensa no verdadeiro papel a ser desenvolvido pelas bibliotecas
públicas na sociedade. Segundo Miranda (1979), citado por Almeida Júnior
(2003), sob esta ótica:
“Quanto às suas funções na sociedade ela é
passiva4 (geralmente é depositária e não promotora do
livro e da leitura), conservadora (excessivamente presa ao
livro, com prejuízo de outros veículos de informação),
elitista (atende a poucos quando deveria ser um direito de
todos) e raramente está engajada na educação contínua,
limitando-se ao empréstimo de livros de texto e para a
realização de trabalhos escolares (funcionando, portanto,
mais como biblioteca escolar)” (p.19).
4
Grifos do autor.
29
O quadro acima nos mostra claramente que biblioteca pública é um
lugar hermético, centrado no acervo, tendo o livro como troféu de
conquistas passadas, sem abrir espaço para outros suportes de nossa
avançada era tecnológica, ainda que repleta de “analfabetos digitais”5.
A
biblioteca
–
pública
apesar de
estar em
processo
de
informatização – ainda não apresenta diretrizes consistentes de atuação
em rede porque: boa parte de seu acervo total ainda não está on-line; boa
parte dos computadores recebidos em caráter de doação pela empresa
Telefônica está sempre necessitando de manutenção terceirizada, sem
mencionar os problemas de quedas constantes de redes mantidas pela
PRODAM, empresa de processamento de dados da prefeitura de São
Paulo.
Outro ponto crítico, segundo os funcionários que operam os
computadores, nas Unidades pesquisadas,
é o baixo desempenho do
software adotado, o “Alexandria”. Esse, desde sua implantação, ao
substituir o “Dobis Libs”, vem passando por reformulações que não
resolvem questões simples como: emissão de determinados relatórios,
dados
sobre
cadastros
e
empréstimos
efetuados
diariamente,
comprometendo o desempenho do SRInfo.
Há casos em que bibliotecas ainda aguardam a chegada de
computadores. Enquanto isso, disponibilizam os antigos catálogos manuais
a quem se aventurar desbravá-los. Esses problemas estruturais acabam
impedindo uma real modernização dos serviços e, isso, desmotiva os
profissionais que se iniciam na era digital. Essa preocupação faz sentido.
Na visão de Santos (2000), citado por Suaiden (2000),
5
Expressão extraída do livro: Sociedade da Informação no Brasil – Livro Verde. –
Brasília, setembro/2000.
30
“A globalização exige de todos os atores, de todos
os níveis e em todas as circunstâncias que sejam
competitivos: as instituições, igrejas e bibliotecas, onde
não
há
lugar
para
analfabetos
e
mão-de-obra
6
desqualificada . Deve destacar que as novas tecnologias
produziram um usuário crítico e independente com relação
aos serviços bibliotecários, sendo que a biblioteca não é
mais a única fonte de informação” (p.18).
Em relação às exigências competitivas da globalização, as
bibliotecas públicas atendem da maneira que a situação permite (ANEXO
IV). Os trabalhos de (ALMEIDA JÚNIOR, 2003; AMARO, 1998; MACEDO,
2005; MILANESI, 1996; NEGRÃO, 1983; SUAIDEN, 2000), entre outros,
discorrem sobre os tipos de público nas bibliotecas. Observam-se maioria
escolar (90%), alguns alunos de faculdades locais, poucos idosos, além
daqueles em busca de jornais com cadernos de empregos e classificados.
Os tipos e quantidade de público, acima descritos, se confirmam nas
planilhas de controle de portaria, denominadas indicadores, nas quais as
pessoas assinam o nome, além de inúmeros outros dados. A seguir,
destacamos os serviços que são comuns a todas as bibliotecas da rede e
aqueles que são específicos a somente algumas delas:
a) Serviços comuns
Empréstimos e consultas; contação de histórias ou hora do conto;
encontro com escritores; exposições (fotos, artes plásticas, material interno
etc); cursos e palestras; oficinas - Workshops (artes, poesia etc);
hemeroteca (recortes de jornais e revistas); visitas monitoradas.
6
Grifo nosso
31
b) Serviços específicos de algumas bibliotecas
Banco de textos teatrais; biblioteca braile; biblioteca pólo; biblioteca
temática; brinquedoteca; cessão de espaço para ensaios; discoteca;
elaboração e edição de jornal; estação memória; eventos de RoleplayGames (RPG); eventos em auditório (apresentações teatrais, palestras
etc); excursões; exibição de filmes; exposição permanente; gibiteca; grupo
melhor idade; grupo teatral; laboratório de línguas; núcleo de memória do
respectivo bairro; obras raras; troca de gibis; sala multimídia; xerox.
Considerados serviços de extensão: caixa-estante, bosque da leitura;
ônibus-biblioteca.
Registramos certa autonomia, por parte das Unidades, em realizar
essa ou aquela atividade, apesar de responderem, através de relatórios e
algumas reuniões, à supervisão de bibliotecas. Com uma situação
precária, boa parte opta por exposições simples, visita monitorada, hora do
conto, oficinas, pois são elas as que mais aparecem nos relatórios mensais
como “eventos”, sem interligação com nenhum projeto. Isso está claro na
formatação de relatórios mensais de bibliotecas públicas, nos quais, o item
7 refere-se a Programações, cujos campos reproduzimos abaixo:
Quadro 1
7 – PROGRAMAÇÕES
SIGLA:
NOME DO EVENTO:
DIA/PERÍODO:
FREQÜÊNCIA:
DESCRIÇÃO SUCINTA:
Itens de relatório mensal de bibliotecas
Não nos convém apresentar todo o modelo, porém vale destacar o
fato de ele priorizar o que é quantificável, ou seja, dados numéricos como:
dias trabalhados; acervo; freqüência; matrículas; materiais consultados;
materiais emprestados; quadro de pessoal; observações diversas; eventos
realizados. É curioso não destinar um campo para avaliação, mas
descrição sucinta, o que demonstra privilegiar o “quanto” como justificativa
para a abertura da Unidade.
32
Alarmante também, foi verificar que o respectivo modelo de relatório
– criado pela SMC - é o mesmo utilizado pelas bibliotecas dos CEUs,
apresentadas logo a seguir, demonstrando falta de conhecimento do
objetivo do relatório ou inadequação na sua aplicação, uma vez que,
segundo Almeida (2000),
“O
relatório
serve,
em
última
análise,
para
aprimorar os serviços da biblioteca, maximizar o uso da
informação e dos documentos, e ampliar o âmbito de
atendimento da biblioteca na comunidade à qual se
destina. Além disso, um relatório bem elaborado vende
uma imagem positiva da biblioteca e faz com que o
bibliotecário seja reconhecido como um profissional
diferenciado na instituição.” (p.41).
Seguindo a proposta inicial de incluir em nossa análise outro modelo
de
biblioteca
que
surgiu
em
2003,
na
cidade
de
São
Paulo,
apresentaremos a seguir as bibliotecas dos CEUs – de caráter público e
escolar – que aparecem denominadas na literatura e sites oficiais como
bibliotecas híbridas ou multidisciplinares. Para tanto, quando convier, serão
feitas algumas comparações com as bibliotecas públicas, consideradas em
muitas literaturas como tradicionais.
3 Centros Educacionais Unificados (CEUs): bibliotecas híbridas
3.1 Panorama educacional e cultural
As bibliotecas híbridas ou multidisciplinares têm este diferencial:
funcionam dentro de escolas públicas municipais, conhecidas por CEUs
(ANEXO V), e atendem também à comunidade de seu entorno. São
mistas, portanto. Torna-se interessante relatar seu surgimento e como
funcionam. Poderemos observar se essa referência arquitetônica na
33
periferia, com piscina, teatro, cinema etc, está mesmo atraindo quem não
ia à tradicional biblioteca pública. E confirmar se:
“A
construção
dos
Centros
Educacionais
Unificados visou a oferecer, de forma integrada, o
atendimento à população das áreas mais desprovidas
da
cidade,
comunidades
satisfazendo
que
os
interesses
dessas
buscam
educação
numa
perspectiva mais ampla. Os 21 complexos que foram
entregues em dezembro de 2003 ampliaram 50 mil
vagas para o ensino fundamental, educação infantil e
educação de jovens e adultos [....] Outro objetivo do
CEU é propiciar à população acesso à biblioteca,
centros cultural e esportivos integrados aos centros
de educação [....] num mesmo complexo [....]”
(PADILHA e SILVA, 2004, p.26-27).
Foto de : Nelson Kon
CEU
Butantã:
referência
na
periferia
(Arquitetos: Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley
Ariza)
Longe de afirmar se o palanque eleitoreiro foi, ou não, o propulsor
na construção dos CEUs, vale o registro de que – na época de sua
34
inauguração - esse plano de educação, na gestão de Marta Suplicy, fora
bastante criticado. Muitos diziam ser um projeto caro e de manutenção
também cara. Que os cofres públicos economizariam se criassem várias
escolas menores; reformassem as existentes, ou substituissem as escolas
de lata encontradas na periferia da cidade. Mais adiante, já na gestão de
José Serra, o secretário municipal de educação Pinotti (2005) fez o
seguinte comentário:
“Esse potencial precisa funcionar na sua plenitude,
não só para as 57.000 crianças, adolescentes e jovens
matriculados nas unidades educacionais dos CEUs, mas
também possibilitar o uso dos equipamentos adicionais
(quadras, teatros, piscinas, laboratórios) pelas crianças
das escolas do entorno, não de forma esporádica, mas
mediante projeto pedagógico corretamente desenvolvido
[....] Para tanto, temos que resolver o problema de gestão
e manutenção de forma racional e eficiente, manter e
ampliar os programas culturais e esportivos [....]” (p. 1617).
Com esse desabafo de gestão subseqüente, constata-se uma
preocupação com o desempenho dos CEUs, mas isso foge à tônica deste
capítulo: desvendar novas possibilidades no ambiente de bibliotecas
públicas, frente ao surgimento das bibliotecas híbridas. Cada CEU é
composto por Núcleos – Educacional; Ação Cultural; Esporte e Lazer –
subordinados ao gestor, que segundo Padilha e Silva (2004),
“[....] é o responsável legal pelo CEU e por ele
responde junto à Administração Pública Municipal, ao
Ministério Público, ao Poder Judiciário e aos órgãos e
instâncias de controle e fiscalização” (p.153).
35
As bibliotecas pertencem ao Núcleo de Ação Cultural, o qual recebia
orientações técnicas da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) no período
de implantação dos CEUs. O acervo inicial das bibliotecas, chamado de
acervo reserva, foi cedido por essa secretaria. Nota-se que não houve uma
política de formação de acervo específica para cada biblioteca.
Apesar de hoje as bibliotecas híbridas serem regidas pela Secretaria
Municipal de Educação (SME), ainda é forte a influência de SMC sobre as
híbridas, seja com adaptação de normas e práticas de bibliotecas públicas
ou inclusão de formulários, sem considerar as diferenças entre as duas
instituições. Segundo Macedo (2005),
“Precisa ficar claro que a biblioteca escolar não é
igual a uma biblioteca pública, e até deve tornar-se
comunitária se houver condições para tal. Por outro lado,
mesmo que a biblioteca pública faça as vezes de biblioteca
escolar, por uma série de razões, a essência dessa última
é de uma biblioteca sediada em um estabelecimento de
ensino da educação básica . O objetivo principal de uma
biblioteca pública é atender a vários segmentos da
comunidade: cada grupo tem necessidades e interesses
específicos, e, por conseguinte, os serviços e produtos são
programados de conformidade com esses interesses.
Alguns deles serão dirigidos a escolares [....]” (p.171).
Diferenças e semelhanças à parte, em princípio, o número de
bibliotecas públicas foi acrescido de 21 unidades, totalizando 88, com a
implantação dos CEUs em São Paulo. E por estarem dentro de escolas,
essas bibliotecas colocaram num mesmo espaço profissionais distintos –
professores e bibliotecários –
cena incomum nas bibliotecas públicas
tradicionais. Juntos, ambos terão de aprender a conviver e a reconhecer as
especificidades de uma biblioteca escolar, que segundo Antunes (1998),
citada por Macedo (2005),
36
“Biblioteca
escolar
é
o
centro
dinâmico
de
informação da escola, que permeia o seu contexto e o
processo ensino-aprendizagem, interagindo com a sala de
aula. A partir do perfil de interesses dos usuários, dispõe
de recursos informacionais adequados (bibliográficos e
multimeios) provindos de rigorosos critérios de seleção,
dando acesso ao pluralismo de idéias e saberes.
Favorece o desenvolvimento curricular, conta com
mecanismos de alerta e divulgação de livros para leitura
recreativa, formativa e a pesquisa escolar, sempre sob
orientação de mediadores capacitados para funções
referenciais e informativas.
Estimula
a
criatividade,
a
construção
de
conhecimentos; dá suporte à capacitação de professores;
à educação permanente; à qualificação do ensino.
Contribui
para
a
formação
integral
do
indivíduo,
capacitando-o a viver em um mundo em constante
evolução” (p.169).
Bibliotecários e professores disseram não reconhecer claramente o
papel descrito acima. Nos relatórios iniciais, há apontamentos de
atividades de pesquisa escolar na biblioteca. Reservava-se um dia para
atendimento exclusivo aos alunos do CEU, com a presença de um
professor-monitor, orientados por um bibliotecário. Relatos indicaram
inúmeras falhas no pequeno projeto: desinteresse e despreparo por falta
de planejamento. Nesse caso, pode-se afirmar que houve estranhamento e
falta de interação entre biblioteca/sala de aula e vice-versa. Veremos a
seguir, em que contexto os bibliotecários e professores estão atuando.
Torna-se pertinente apresentar quadros que revelem o grau de
desenvolvimento escolar e cultural, principalmente de nossas crianças e
jovens. É muito comum ouvir dizer que o país gasta muito com o ensino
superior e pouco com o ensino fundamental; que a cultura recebe uma
37
parcela ínfima do orçamento da União; que o desempenho de nossas
escolas está muito abaixo das expectativas, após testes específicos de
avaliação de alunos do ensino público (ANEXO VI).
O dados mostram a evasão escolar, além de falta de vagas para
crianças de 0 a 3 anos de idade etc. Resultados da Prova Brasil, nos dão
um panorama do baixo desempenho.
Quadro 2
Resultado – cidade de São Paulo - Prova Brasil – (de 350 pontos)
Matérias
Potuguês
Série: 4ª
Pontos: 160,42
Colocação: 21º
Português
Série: 8ª
Pontos: 220,09
Colocação: 12º
Matemática
Série: 4ª
Pontos: 166,86
Colocação: 20º
Matemática
Série: 8ª
Pontos: 232,27
Colocação: 12º
Fonte: Folha de S.Paulo on-line
Prova Brasil: um programa de avaliação sob a responsabilidade do
Ministério da Educação (MEC), para escolas públicas municipais urbanas
com mais de 30 alunos. Segundo Tófoli (2006), participaram 26 estados
(Brasília não tem ensino municipal). São Paulo ficou entre os sete piores
do país, com 12 pontos abaixo da média nacional, em português, e 13
pontos abaixo, em matemática.
E nas palavras do ex-secretário municipal de educação:
“A educação é uma das mais eficientes políticas
públicas para diminuir diferenças sociais e, principalmente,
se for de qualidade, poderá criar condições de igualdade
na oferta de oportunidades. As avaliações do rendimento
escolar, aplicadas e conhecidas em nosso país, indicam a
38
necessidade de adoção de medidas urgentes [....] Uma
causa básica relevante das avaliações negativas da
Educação está situada na pobreza, desemprego e
concentração de renda, que não podemos, de forma
alguma, desvincular da aprendizagem, desafiando os
profissionais de educação a buscar sempre melhores
soluções para o aperfeiçoamento do trabalho.
[....] Com esse quadro, torna-se necessário ter uma
visão
renovada
e
holística
do
processo
ensino-
aprendizagem, que deve ser socialmente compromissado,
valorizar os professores, dar mais poder às escolas, criar
canais e estimular o controle social pelos usuários e
objetivar o aluno como sujeito do processo [...] é preciso
implantar um gerenciamento estratégico eficiente [....]
fazendo com que as modernas e eficientes práticas
pedagógicas possam chegar à rotina das escolas”
(PINOTTI, 2005, p. 3-10).
Fazendo
associação
direta
com
escola/biblioteca,
pode-se
questionar se as bibliotecas dos CEUs foram pensadas para dividir
responsabilidades com os professores, e qual será a posição do
bibliotecário nessa avaliação.
É muito comum ouvir dizer que os
professores são culpados pela péssima atuação dos alunos nos programas
de avaliação de ensino. Discutindo essa questão, alguns professores
disseram que eles são os avaliados. Já os bibliotecários – em suas
argumentações sobre o mal desempenho dos alunos – não se incluíram
entre os responsáveis. Torna-se bastante oportuno, destacarmos algumas
ações de bibliotecário, designado como coordenador de projetos culturais,
articulador da biblioteca do CEU:
“Participar do processo de planejamento, execução,
acompanhamento e avaliação do Projeto Educacional do
CEU; propor, elaborar, organizar, implementar e avaliar as
39
atividades de formação e de difusão nas áreas de leitura,
literatura e informação para os alunos do CEU e das
escolas do entorno; administrar, planejar, organizar,
controlar e avaliar os serviços técnicos e especializados da
biblioteca; garantir o trabalho cooperativo com as outras
bibliotecas integrantes do Sistema Municipal de Bibliotecas
Públicas etc” (PADILHA e SILVA, 2004, p.160-161).
Todos esses dizeres, contidos no Projeto Educacional dos CEUs,
não condizem com nossa análise. Nota-se que a biblioteca funciona como
apêndice, coadjuvante, das atividades-fins do CEU, e não tem autonomia
para fazer intervenções significativas e/ou transformadoras no processo de
planejamento, acima descrito. Há desencontros de objetivos e ações.
Outra questão importante – extraída de relatórios mensais – é a
formação de equipe das bibliotecas: há falta alarmante de funcionários,
principalmente bibliotecários, o que certamente sobrecarrega e inviabiliza a
execução e/ou continuidade de tarefas essenciais ao Projeto Educacional
do CEU. No projeto inicial – de SMC – estavam previstos três
bibliotecários; seis Assistentes de Gestão de Políticas Públicas (AGPPs) e
três agentes de serviços gerais. No entanto, há equipes de biblioteca com
apenas 2 ou 3 funcionários, distribuídos numa área de quase 600m2, sem
divisórias (APÊNDICE I).
Esse quadro reduzido, entre outras incoerências, gera a insatisfação
da classe bibliotecária, maioria oriunda de último concurso público de
2000. Cargos de chefia (coordenação), de maioria contratada, têm
diferença salarial comparando-os com os concursados. A categoria de
bibliotecário faz parte do quadro de profissionais de carreira de SMC – da
cultura – mas sua atuação difere dos demais devido às peculiaridades do
CEU, onde os horários são mais flexíveis, não há gratificação nas
substituições de chefias ou quando se trabalha além de 40 horas
semanais, sendo recompensados com folgas.
40
Nesse caso específico - nas bibliotecas de SMC - trabalha-se de
segunda à sexta, e, aos sábados, em regime de convocação, com
adicionais para funcionários previamente cadastrados que se dispõem a
cumprir escalas mensais.
Outro fator que gera insatisfação, é a possível obrigatoriedade de - a
qualquer momento - os bibliotecários de CEUs terem de realizar atividades
com alunos, sem que se tenha o perfil ou se conheça as práticas
pedagógicas do projeto educacional. Fala-se muito no projeto pedagógico,
mas não o encontramos na biblioteca analisada. Insatisfação e
desconhecimento de práticas ou de apoio pedagógico, também diminuem
o desempenho do SRInfo.
3.2 Serviços desenvolvidos
Antes
de
descrever
os
serviços,
produtos
e
atividades,
desenvolvidos e aplicados nas bibliotecas dos CEUs, retiramos da
literatura, alguns requisitos essenciais ao sucesso de uma biblioteca
escolar:
“Agentes
qualificados.
Para
garantir
o
aperfeiçoamento e a educação contínua dos diferentes
agentes de educação, que devem trabalhar de forma
integrada;
acervo
relevante,
abrangente
e
permanentemente atualizado [....] por sua adequação ao
projeto pedagógico [....]; bases de conhecimento. Incluemse aqui bases de dados referenciais do acervo (ferramenta
de acesso ao acervo) e bases informatizadas que reúnam
dados,
informações
utilitárias
e
outras
informações
sistematizadas, produzidas ou recolhidas pela biblioteca;
espaço adequado. O espaço deve garantir um ambiente
favorável à leitura, informação e criação, que seja ponto de
41
referência
dentro
da
escola
e
na
comunidade;
comunicação eficaz.
A comunicação deve assegurar a ampla divulgação
do acervo, dos serviços e da informação, de forma que
atinja um público o mais amplo possível, dentro dos
objetivos a serem alcançados; participação e integração
eficazes.
Implica
desenvolver
trabalho
cooperativo
envolvendo professores, pais e diversos segmentos da
comunidade; planejamento. O planejamento colabora para
a criação de estratégias para uma gerência renovadora
dos espaços de leitura e informação; jamais improvisar;
conhecimento de seu público.
O conhecimento do perfil e das expectativas de seu
público, bem como a avaliação de seu grau de satisfação
com o acervo e os serviços oferecidos pela biblioteca, é a
única forma de garantir o real cumprimento dos objetivos
da biblioteca e a valorização de seu papel dentro da
escola; redes. Em organizações complexas, constituídas
de mais de uma escola, as bibliotecas escolares podem se
organizar
de
maneira
sistêmica
[....]
pressupõe
a
existência de um objetivo comum e relações cooperativas
integradas que contribuam para o desenvolvimento do
todo [....]” (MACEDO, 2005, p.261-262).
Tudo isso deveria estar embutido nos programas de qualquer
biblioteca, mas não foi percebido nas bibliotecas dos CEUs, que podem ser
igualadas às bibliotecas públicas tradicionais, em vários aspectos: há falta
de funcionários e de intercâmbio, entre outros problemas estruturais. E
com isso, retornamos à questão de o atendimento à pesquisa, em sua
maioria escolar, ser orientado por funcionários com desvio de função.
Isso significa: um AGPP, por exemplo, cuja função é dar apoio
administrativo, acaba na linha de frente da biblioteca, fazendo matrículas,
42
empréstimos, além de dar orientação às pesquisas solicitadas, muitas
vezes,
sem
preparo,
nem
aptidão.
Há
exceções:
atendentes,
extremamente capacitados, que superam muitos bibliotecários, em vários
aspectos, demonstrando a paixão como um grande diferencial.
De um lado, com base no exposto e nas explicações dadas por
funcionários, realizar algo mais nessas bibliotecas, além de serviços de
empréstimo, animação cultural e consultas locais, é um grande desafio. De
outro lado, sabe-se que os núcleos dos CEUs,
desenvolvem suas
atividades de forma independente do funcionamento das bibliotecas. Por
exemplo, o Núcleo de Ação Cultural do CEU Cidade Dutra, ao qual a
Biblioteca Rubem Braga está subordinada, organiza apresentações de
cinema, teatro, oficinas de teatro, exposições, cursos de música, orquestra,
artesanato etc, sem utilização de acervo e serviços da biblioteca.
O Núcleo Educacional realiza as seguintes atividades com os
alunos: excursões, festas e cartazes comemorativos pintados, colados e
expostos nas áreas de circulação, cursos de alfabetização de jovens e
adultos, cursinho pré-vestibular etc, sem nenhuma intervenção ou ação
conjunta da biblioteca. Realizaram recentemente evento em que duas
editoras apresentaram suas produções, e a biblioteca não foi convidada a
participar. Na mesma linha de exclusão da biblioteca, são realizados os
eventos esportivos, seja nas quadras, nos ateliês de artes ou na pista de
skate.
Os próprios professores não são freqüentadores assíduos da
biblioteca, afinal, eles contam com a “sala de leitura” e o “Teleceu”, fora da
biblioteca7. E nossos informantes opinam: de certa forma, os núcleos estão
7
Sala de leitura com professora coordenando atividades de leitura e apoio
pedagógico; o Teleceu com computadores exclusivos para as pesquisas de alunos. De
certa forma, estão cumprindo os objetivos próprios da biblioteca.
43
cumprindo os objetivos próprios da biblioteca, uma vez que envolve
pesquisa e informação para elaborar tudo isso, além de a biblioteca impor
muitas regras quanto ao seu uso. Então, freqüentá-la para quê? Enfim,
essas são as explicações dadas, para se justificar a não-utilização da
biblioteca pelos núcleos. Na Biblioteca Rubem Braga, do CEU Cidade
Dutra, praticamente isolada dos núcleos, o público conta com:

Empréstimos e consultas locais;

Três computadores com acesso à Internet, sem impressoras (com
agendamento prévio, ou não, por 1h);

Videoteca (em implantação);

Exposições (datas comemorativas e alusivas a personalidades,
elaboradas por funcionários);

Visita monitorada;

Hemeroteca (em implantação);

Encontro com escritores (esporadicamente);

Clube do Livro (implantado em julho de 2006: sarau mensal; oficina de
poesia; conversas literárias).
A biblioteca, em questão, tem dois bibliotecários e dois AGPPs. É
um quadro de pessoal bastante reduzido para desenvolver atividades,
tanto com alunos do CEU quanto público externo. Os funcionários afirmam
ter dificuldades em estabelecer prioridades, diante da missão de uma
biblioteca híbrida: atender escolares e a comunidade, sem projeto para
essa especificidade. Nesse cenário, verificaremos como as relações
ocorrem no cotidiano nesse espaço de informação.
4 Biblioteca pública x biblioteca híbrida
Para compreender o funcionamento de bibliotecas públicas e
híbridas, não nos bastariam os relatos de profissionais, os acessos a
documentos importantes, além de apresentar tipos de público e serviços,
44
sem que destacássemos a importância de um sistema de informação
preocupado
em
estabelecer
relações
entre
produtos
culturais
e
informacionais e o seu público, deixando de ser apenas um apoio didático
aos estudantes, promotora da leitura e de entretenimento.
4.1 Relação biblioteca / público real
Quanto ao relacionamento da biblioteca com o público real (aquele
que freqüenta a biblioteca), as análises de relatórios, normas internas, bem
como elaboração de diagnóstico, nos permitiram caracterizar algumas
formas de relacionamentos que ocorrem nas bibliotecas pública e híbrida.
Em ambas, destaca-se o público estudantil8, em busca de ajuda
para suas pesquisas. No diálogo inicial, sempre ocorre ruídos, o que
significa dificuldade de o aluno expor o que deseja, e a necessidade de
muito esforço do bibliotecário para a correta interpretação. No impasse,
lança-se mão da enciclopédia como lei do mínimo esforço, reduzindo a tal
“entrevista de referência” essencial para responder ao que foi solicitado.
Vale relembrar o fato de que boa parte dos atendimentos ser feita
por não-bibliotecários. E justamente aí, a presença ativa deles seria
fundamental para amenizar um quadro desolador:
“Nesse
sentido,
observando
as
dificuldades
relatadas, vê-se claramente estampado um sério problema
educacional que afeta fortemente grande parte de nossos
escolares: apesar do esforço que possam realizar indo até
a biblioteca, não sabem como, onde, por quê, para quê
buscar informação; não têm noção clara do que selecionar,
de como tomar notas, registrar, extrair os dados
selecionados, organizá-los, comunicá-los; acham-se numa
situação em que tudo lhes é estranho, parecendo
8
Constatação feita nos indicadores: planilha preenchida na portaria. Ao entrar
escreve-se nome; idade; finalidade (leitura, pesquisa, empréstimo, computador), onde
estuda (CEU, ou escolas do entorno?); comunidade, visita. Do total da freqüência, a
maioria é estudantil, como na biblioteca pública, num percentual de 90% da freqüência.
45
marinheiros sem bússola, lançados à deriva nos oceanos
do conhecimento” (PIERUCCINI9, 2004, p.2).
Milanesi (1996) ilustra esta situação com a idéia de que “um bar
onde as pessoas se reúnem e discutem talvez exerceria de forma mais
adequada a sua função de gerador de idéias do que uma biblioteca travada
pelas pesquisas escolares”. E o autor afirma:
“É a partir da sensibilidade que o responsável por
um espaço de informação deverá possuir – no caso,
significando o grau de integração que tem com a sua
comunidade e o seu público – que serão criadas
oportunidades de reflexão e crítica por meio de seminários,
ciclos de debates etc [....] A invenção é conseqüência de
paciente trabalho: da organização dos estímulos, da
eliminação dos obstáculos à liberdade de expressão, do
confronto que não inibe, mas anima. Essas condições
raramente
são
encontradas
nas
escolas
(onde
a
reprodução é a ordem e a invenção é desacato) ou nas
bibliotecas tradicionais (onde o silêncio é regra e a
expressão da pessoas é desordem)” (p. 86-87).
Mais uma vez, a partir de acesso aos documentos administrativos
das
respectivas
bibliotecas,
não
foram
encontrados
registros
de
intercâmbio de idéias entre biblioteca e seus usuários. Isso demonstra uma
relação quase sem diálogo, seminários ou debates, deixando-nos a
impressão de que tudo já vem pensado, tecnicamente pronto, sem
nenhuma participação dos freqüentadores.
Internamente - sem apelo educativo - as ordens são dadas de cima
para baixo, através de cartazes com os dizeres: entre; assine; deixe seus
9
Ivete Pieruccini foi Diretora do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis, de
São Paulo.
46
pertences, não guarde os livros, proibido isso e aquilo, leia as normas de
utilização; sinalização de serviço
tal e tal, ordem de livros e outros
materiais, seguindo uma classificação numérica (CDD – Classificação
Decimal de Dewey) incompreensível aos olhos de muitos usuários, a
mudança de lay-out etc.
Nota-se uma relação pautada na escrita, sem ouvir o que o outro
tem a dizer, cortando-se laços mais estreitos e a oralidade, parceiros na
construção interativa de conhecimentos. Segundo Amaro,
“[....]
ambientes
de
informação
com
caráter
educativo, numa sociedade globalizante em que o
conhecimento é multidimensional, exige a busca de
concepções inovadoras de serviços de informação que
permita o estabelecimento de relações de interação do
sujeito com o universo cultural e informacional da
comunidade/sociedade a qual ele pertence. Acreditamos
ainda que esse sujeito deverá ser não somente um
receptor de cultura e informação, mas um indivíduo capaz
de produzir e exercer a sua própria expressão baseado na
harmonização entre a identidade individual e a diversidade
cultural do seu meio social” (AMARO, 1998, p.12).
Vemos que essas relações de interação precisam fazer parte do
cotidiano das bibliotecas. O que significaria relações interativas com
informação, cultura e conhecimento para que qualquer sujeito articule o
seu próprio discurso, expressando-se com total liberdade. Relacionandose, comunicando-se, o sujeito fica mais atento ao mundo, apesar de que:
“[....] o homem pode, de quando em quando,
suspender sua ocupação direta com as coisas, desligar-se
de seu entorno, desentender-se dele e, submetendo a sua
faculdade
de
atender
47
a
uma
torção
radical
–
incompreensível zoologicamente – voltar-se, por assim
dizer, de costas para o mundo, e meter-se dentro de si,
atender à sua própria intimidade ou, o que é igual, ocuparse de si e não do outro, das coisas [....] O homem pode
ensimesmar-se
[....]
Sair
virtualmente
do
mundo”
(ORTEGA Y GASSET, 1973, p.57).
Evita-se isolamento comunicando-se sempre com o meio social. E
para isso, quando se dirigir a uma biblioteca, por exemplo, o sujeito
necessitará de comunicação fácil, através de linguagens compreensíveis,
seja do espaço físico; do conteúdo informacional, ou dos mediadores
(pessoas, produtos, como catálogo eletrônico ou manual), visando a
autonomia do indivíduo. Só assim, ele se sentirá verdadeiramente
acolhido, reconhecido e seguro para expor – com a competência - as suas
carências de informação, e não se ensimesmar. Isso acontece quando:
“Ancorados na compreensão de que o acesso ao
conhecimento é um percurso extenso e complexo,
implicando
competências
e
atitudes
socialmente
constituídas, países com políticas educacionais que visam
à inclusão efetiva das massas excluídas historicamente
dos circuitos de produção e circulação do conhecimento,
realizam ações de educação para a informação que visam
colocar crianças e jovens em condições de produtores de
conhecimento, num mundo em que a cultura ganha
contornos completamente diferenciados, colocando em
crise não apenas conteúdos, mas também formas e modos
de pensar, sentir e atuar” (PIERUCCINI, 2004, p.3).
Na respectiva pesquisa, percebe-se a importância de se educar para
se ter melhor acesso à informação, tornando-se competente para isso.
Diante do exposto,
torna-se evidente que a biblioteca tem um grande
papel a desenvolver, caso reflita bem sobre sua atuação no processo
48
educativo. Uma atuação que provavelmente deve ser estendida à
sociedade geral. No ambiente da biblioteca, objeto desta análise, pairam
as dúvidas: será que a comunidade escolar conhece as linguagens
descritas? Haverá preocupação com o outro de fora, da sociedade?
4.2 Relação biblioteca / sociedade
Como não foi encontrado registro de troca de idéias entre biblioteca
e seus públicos, nem estudo que levasse ao conhecimento de perfil, nem
expectativas de informação de seus usuários, fica evidente a existência de
uma comunicação em sentido único, apenas no circuito interno, sem se
abrir ao mundo externo, como se muros e alambrados impedissem o
contato. Onde estaria o entrave?
“Talvez
o
grande
e
persistente
erro
da
Biblioteconomia foi voltar-se para si própria e ficar
amarrada ao seu arsenal de normas técnicas sem se
preocupar com o “para quem” e o “porque”. Em outras
palavras, a serviço de quem estariam todas as habilidades
biblioteconômicas? E essa despreocupação não ocorreu
só com os usuários – aqueles que usam os serviços – mas
em relação ao público como um todo. O antigo
bibliotecário
nunca
se
mostrou
suficientemente
preocupado com as pessoas que procuravam os serviços.
E, muito menos, com aquelas que deveriam ser usuárias
mas não eram. Há notícias raras de pesquisas para
detectar a satisfação do usuário e, menos ainda, para
avaliar as necessidades do público” (MILANESI, 2002,
p.29-30).
Obtivemos a confirmação, através de nossos olhares mediadores
(Apêndice I) de que há relacionamento sob a direção de normas técnicas e
49
de uso do espaço, muito distante do interesse afetivo, para se detectar as
reais necessidades e expectativas do outro que ainda não conhece a
biblioteca. Essa falta de relacionamento e de afinidade para com a
biblioteca pública ocorrem,
“Quando o homem se defronta com um espaço que
não ajudou a criar, cuja história desconhece, cuja memória
lhe é estranha, esse lugar é a sede de uma vigorosa
alienação. Mas o homem, um ser dotado de sensibilidade,
busca reaprender o que nunca lhe foi ensinado, e vai
pouco a pouco substituindo sua ignorância do entorno pelo
conhecimento, ainda que fragmentário. O entorno vivido é
lugar de uma troca, matriz de um processo intelectual”
(SANTOS10, 1993, p.61).
Dizem que a biblioteca ainda é vista – pela sociedade - apenas
como o lugar do livro. Nos CEUs, essa idéia é reforçada porque muitos
pensam que suas bibliotecas são apenas para estudantes. Essa
concepção – em tese - pode ser melhor entendida se retornarmos à
criação do INL, segundo Oliveira (1994), citada por Suaiden (2000),
“As bibliotecas públicas dependeram do INL, ao
longo de seus 52 anos de atuação que somaram
contribuições expressivas e alguns percalços [....] a
vinculação da política de biblioteca à de promoção do livro;
a falta de acompanhamento nas transformações ocorridas
na sociedade e uma política, conservadora, baseada em
conceitos de cultura erudita, de elite (o livro como tesouro
intelectual, a biblioteca como guardiã da cultura [....]” (p.
16).
Outras literaturas mostram o afastamento da biblioteca e também do
bibliotecário, em relação à sociedade/comunidade. A esse profissional
10
Notável geógrafo brasileiro Milton Santos, já falecido.
50
competiria não só organizar espaços e recursos informacionais, mas –
como numa barraca de feira – expor e vender seus produtos e serviços.
Um peixeiro, por exemplo, procura deixar seu peixe (o produto)
apresentável, mas também grita bom preço, com simpatia (o marketing),
para torná-lo conhecido, além de oferecê-lo já descamado e cortado, se
alguém assim o desejar (o serviço). E, certamente, vai vender bem (o
reconhecimento). Nessa linha de raciocínio:
“Falta ao bibliotecário uma discussão consigo
mesmo, um questionamento sobre sua postura, seu modo
de ver, interpretar e entender o mundo, fazendo-se
partícipe das decisões sobre os destinos da sociedade. Da
mesma forma, deve estar preocupado em oferecer aos
usuários, à comunidade, ferramentas e instrumentos que
auxiliem a participação deles também na gestão dos
rumos da sociedade. Hoje, o bibliotecário está alheio e
excluído desse processo, o que pode ser o principal motivo
pelo qual é reconhecido pela sociedade como um
profissional inútil” (ALMEIDA JÚNIOR, s.d,, p.10).
Discordamos do autor apenas quanto ao uso da palavra inútil, uma
vez que se há um distanciamento entre biblioteca e sociedade, segundo
outros estudos (OBATA, 1999; MILANESI, 1996; SUAIDEN, 2000), há,
portanto, um desconhecimento sobre o profissional e, provavelmente,
sobre o que ele faz. Por isso, como considerar inútil alguém que se
desconhece?
Todo esse questionamento, cuidados e atenção, que o bibliotecário
deve dispensar ao seu público irá ser refletido num serviço/processo/local
da biblioteca, que será analisado a seguir.
51
5 Serviço de Referência e Informação (SRInfo)
Segundo Macedo (1990), citada por Almeida Júnior (2003), com
base na literatura internacional, conceitua o Serviço de Referência e
Informação dividindo-o em dois segmentos, subdividindo o segundo em
dois. No conceito com sentido restrito:
“A essência do conceito de referência é o
atendimento
pessoal
do
bibliotecário
–
profissional
preparado para esse fim – ao usuário que, em momento
determinado, o procura para obter uma publicação ou
informação, por Ter alguma dificuldade, ou para usar a
biblioteca e seus recursos e precisar de orientação; ou,
ainda, não encontrando a informação na biblioteca,
precisar ser encaminhado para outra instituição” (p.53)
E na conceituação com sentido amplo, divide em dois segmentos,
ou, no dizer da autora, duas personalidades:
“a) Serviço de Referência: interface entre
informação e usuário, tendo a frente o bibliotecário de
referência, respondendo questões, auxiliando, por meio de
conhecimentos profissionais, os usuários. Momento de
interação bibliotecário/usuário, é tipicamente o processo
de referência.
b) Serviço de Referência e Informação: Um recorte
do todo da biblioteca, com pessoal, arquivo, equipamento,
metodologia própria para melhor canalizar o fluxo final da
informação e otimizar o seu uso, por meio de linhas de
atividades. Momento em que o acervo de documentos
existente na biblioteca vai transformar-se em acervo
informacional, tendo o bibliotecário de referência como o
52
principal interpretador. Enfim, é o esforço organizado da
biblioteca toda, no seu momento fim, quando o SRI
representa a biblioteca funcionando na sua plenitude para
o público” (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p. 54).
Segundo Figueiredo (1992), citada por Yin (2005),
“A primeira menção de que se tem notícia sobre
serviço de referência ocorreu durante a 1ª Conferência da
American Library Association, em 1876, quando o
bibliotecário Samuel Sweet Green alertou sobre a
necessidade de se orientar os leitores sobre os serviços
que a biblioteca oferece” (p. 17).
Mesmo com o alerta feito por Green, em fins do século dezenove,
ainda hoje a preocupação formal com o usuário parece não ser prioridade
no atendimento de bibliotecas públicas. De acordo com os relatórios,
inexistem estudos de usuário11 e/ou de comunidade12. E quais seriam as
funções básicas de um bibliotecário, frente ao SRInfo?
Disponibilizar um Serviço de Referência e Informação, funcionando
a todo vapor, requer um trabalho sistematizado de gerência, com base
cooperativa, para oferecê-lo ao público de maneira eficiente e eficaz.
Antes, será preciso:
“[....]
Realizar,
sistematicamente,
estudos
de
identificação, hábitos, necessidades e segmentação de
grupos específicos de usuário [....] Preliminarmente, esses
mediadores da informação, devem ter passado por
11
Verificar se as pessoas utilizam o acervo, em que quantidade e tipos de
materiais. Conhecer seus hábitos de informação.
12
Levantamento de aspectos gerais da comunidade, que podem ser obtidos através
de censos do IBGE, SEADE, por exemplo.
53
programas de capacitação-em serviço, a fim de dominar
não
só
o
universo
da
biblioteca
em
si
como
institucionalmente [...] Repassar seus conhecimentos e
experiência [....] ao seu público-alvo, incluindo, nesta ação
educativa, os próprios colegas e pessoal de apoio [....]”
(MACEDO e MODESTO, 1999, p.46-47)
Nessa tarefa de mediação, cabe-nos frisar a importância da
formação e da capacitação dos envolvidos no SRInfo. Foi observado que
tanto nas bibliotecas públicas quanto nas bibliotecas dos CEUs, não são
realizados cursos constantes e específicos de capacitação aos atendentes
das bibliotecas, agora, mediadores, seja por parte dos bibliotecários, ou da
própria instituição. Há um treinamento informal. E os poucos cursos já
oferecidos pela SMC, principalmente, não foram tão específicos para
bibliotecas, nem obrigatórios.
Há uma ligação direta entre o fazer o curso e o ganhar pontos para
mudar de letra nas escalas de categoria funcional, cuja mudança gradativa
reflete em leve aumento do salário-base. Não há, geralmente, registros de
aplicação do que foi aprendido nos tais cursos. Com base no exposto,
consideramos que esses cursos deveriam ser mais constantes e mais
direcionados, para solucionar problemas detectados nas próprias Unidades
das duas redes; ser mais divulgados, para atrair os verdadeiros
interessados, além de avaliados posteriormente.
Aliás, avaliação não aparece nos documentos analisados. A única
avaliação que ocorre todo final de ano é a de funcionários e chefias. Essa
avaliação também contará pontos na mudança de padrão de cargos e
funções. É importante observar que:
“A avaliação não ocorre no vácuo, mas como parte
do processo do planejamento e da tomada de decisões
[....] consiste em identificar e coletar dados sobre serviços
54
ou atividades, estabelecendo critérios de mensuração
tanto a qualidade do serviço ou atividade, quanto o grau de
satisfação de metas e objetivos [....] consiste, finalmente,
em desenvolver estudos relativos ao não-público dessas
unidades de informação, investigando as razões pelas
quais não utilizam serviços dos quais teoricamente, seriam
considerados público-alvo [....] é, portanto, necessária à
revisão de objetivos e metas, ao estabelecimento de
prioridades e à alocação de recursos, além de fornecer
feedback
para
o
planejamento
organizacional
e
a
mudança” (ALMEIDA, 2000, p. 14-15).
Após essa digressão, com ou sem avaliação, apontaremos quais
atribuições são necessárias ao bibliotecário que atua no SRInfo:

“Função gerencial – chefes e/ou diretores, que
estruturam o SRI, baseando-se em técnicas
administrativas de planejamento, coordenação,
supervisão, avaliação [....] programam estudos
e capacitação de usuário [....]

Função
dominam
–
informacional
o
universo
profissionais
bibliográfico
e
que
os
multimeios, [....] e com a devida preparação
para
ministrar
respondendo
diálogos
a
com
usuário
[...]
[....]
ou
questões
encaminhando-o a outros recursos [....]

Função educacional – mediadores, com a
devida fundamentação pedagógica, além de
preparação para ministrar instruções rápidas e
informais ao item anterior [....] programar
visitas,
palestras
[....]
preparar
recursos
didáticos convencionais e/ou provindos de
novas tecnologias [....]
55

Função de disseminação da informação –
membros da equipe, com intuito de propiciar
atualização e alertar o usuário [....] tais como
murais [....] exposições [....] exibir materiais
novos [....] índices de periódicos [....]

Função promocional e divulgativa – membros
da equipe, em trabalho conjunto com outros
setores, estarão programando e refinando os
tradicionais guias [....] e folhetos [....] para
instruções, treinamentos e cursos internos [....]
ainda se ocupando do sistema de comunicação
visual e de sinalização [....]” (MACEDO e
MODESTO, 1999, p. 47-48).
Conhecer essas linhas de ação permitiria avaliar melhor a
importância desses profissionais e auxiliares de bibliotecas e, também, os
serviços realizados. Mas, em muitas bibliotecas falta sistematização para
que todas essas funções ocorram.
Retomando o modelo de biblioteca interativa, verificaremos como
algumas atividades são realizadas para repensá-las. O nosso foco é a
Biblioteca Rubem Braga do CEU Cidade Dutra. E segundo Bajard (2002),
partimos do princípio de que a observação não pode ficar neutra em
relação ao objeto observado. É o agir para quebrar barreiras que impedem
as relações, com benefícios recíprocos, cientes de que,
“As barreiras que distanciam a biblioteca da escola
são derrubadas paulatinamente durante o processo de
apropriação da biblioteca pela comunidade escolar. A
apropriação não é um processo de ocorrência natural,
espontâneo. Ela deve ser construída pelos próprios atores
do processo” (OBATA, 1999, p.99).
56
O derrubar barreiras, explicitado nos estudos de Obata, terá papel
fundamental em nossas próximas exposições. Trataremos sobre a
importância das “linguagens” em todo e qualquer sistema de informação.
5.1 SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: linguagens e construção de
relações
Quando alguém vai a uma biblioteca – seja lá qual for o motivo –
certamente terá de se comunicar para que ocorra a mediação, capaz de
satisfazer, ou não, o motivo de sua ida. Antes de ir, essa pessoa tem de
pensar na localização, seja na sua comunidade ou um pouco mais
distante.
Entrando na biblioteca, vai se deparar com algumas linguagens que
expressam as relações possíveis nesse espaço-informação, com os seus
recursos de comunicação, através de sua arquitetura; mobiliário; acervo; o
modo como esse acervo está organizado; diversidade de pessoas
encontradas no seu interior etc.
A pessoa deverá reconhecer essas linguagens, interpretá-las e
compreendê-las, com mediação ou não (APÊNDICE III), para se ter
autonomia de sujeito da ação e desbravar o ambiente informacional, o qual
está organizado, representado e disponibilizado, por diferentes linguagens,
as quais, demonstraremos a partir de estudos de (AMARO, 1998; OBATA,
1999). Estudos, cujas bases conceituais e operacionais fundamentaram a
construção de um serviço de informação educativo, a Biblioteca Escolar
Interativa na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Prof. Roberto
Mange”, localizada em uma região periférica da cidade de São Paulo,
inaugurada em 13/05/98. Uma iniciativa do Programa Serviços de
57
Informação em Educação (PROESI) – CBD/ECA/USP, sob direção do Prof.
Dr. Edmir Perrotti.
“As referências de Biblioteca Interativa consideram
a necessidade de uma relação autônoma do sujeito com
essas linguagens, para que ele possa apropriar-se da
biblioteca e esta, ao mesmo tempo, incorpore a sua
expressão,
num
processo
contínuo
de
construção”
(OBATA, 1999, p.96)
5.1.1 Linguagem espacial e do mobiliário
Estrategicamente, a linguagem espacial da Biblioteca Rubem Braga
tem de ser decifrada já no portão de entrada do CEU, uma vez que ele é
todo cercado por alambrados, e possui portarias com catracas e
seguranças. Todo esse aparato é a representação simbólica de exclusão
da comunidade externa, subentendendo ser um espaço construído para
receber apenas os estudantes que estudam ou freqüentam o CEU. A sua
localização inibe a inclusão social, enquanto nas bibliotecas públicas os
portões de entrada são de fácil acesso e sempre abertos.
Foto de: João B. A. Neto –
Portaria do CEU Cidade Dutra
58
Catracas e alambrados: do lado de dentro, segurança. Do lado de fora,
nada convidativos.
O espaço físico das bibliotecas públicas, onde existe setorização,
permite diferentes leituras de suas linguagens: acessos restritos;
ambientes fechados reservados a determinadas atividades e pessoas
(isolando-se da realidade); lugares que pedem silêncio e/ou afastam
usuários de funcionários, inibindo tipos de relações mais estreitas. Cada
sala com suas regras e seus responsáveis que trabalham de maneira
isolada, na certeza de estar fazendo a sua parte de um todo que se
desconhece.
O espaço físico interno da Biblioteca Rubem Braga – de 600m2 –
não apresenta divisórias, nem salas de pesquisa, circulante, infantil,
administração etc, como ocorre nas bibliotecas públicas tradicionais, e a
circulação interna sem delimitações pode representar livre acesso; sinal
verde para avançar no espaço do outro que, talvez, não queira se
relacionar no momento porque prefere ler em silêncio, apesar de ter esse
direito, mas não é possível, uma vez que há entrecruzamento de
atividades, causando ruídos: funcionários que reclamam por privacidade e
não reconhece os objetivos desse espaço sem barreiras. Há necessidade
de se aplicar as estratégias de negociação e de neutralização. Nessas
estratégias, segundo Amaro (2005),
“A interação dos vários agentes, envolvidos na
construção cotidiana da biblioteca escolar, exige intensa
negociação com todos os segmentos e neutralização das
fortes resistências, das tensões e dos conflitos que a
proposta de algo inovador sempre provoca, principalmente
nos setores técno-administrativo-burocráticos do sistema
de ensino” (p.307)
59
Foto de: João B. A. Neto
Área interna da Biblioteca Rubem Braga
Espaço sem divisórias: maior integração, desde que haja respeito ao
espaço do outro.
O mobiliário também tem sua linguagem, já que a existência de
apenas cadeiras e mesas, significa que sentado, é única opção de leitura.
A falta de nichos com poltronas confortáveis, cores mais suaves, e outros
cuidados, denota despreparo ou desinteresse para receber idosos. Já a
inexistência de nichos mais descontraídos, com móveis versáteis no uso,
nas dimensões apropriadas, de aspecto lúdico, além de resistentes,
comunica que não se orienta de forma adequada para o grupo de crianças
e adolescentes. Essas duas linguagens podem tanto acolher quanto
afastar público. Não existem mobiliários para nichos específicos nas duas
bibliotecas analisadas.
Foto de João B. A. Neto
Momento de leitura
60
Mesa, cadeira...única forma de leitura?
5.1.2 Linguagem do acervo
O acervo deve contemplar a diversidade cultural, linguagens e
conteúdos, e formas diferentes de usos. É o que afirma Obata quando
descreve a constituição do acervo da Biblioteca Escolar Interativa:
“[....] conjunto de recursos informacionais que
dialogam entre si [....] o Sítio do Pica-pau amarelo,
proporciona um diálogo intertextual com os livros da
década de 50 e 90, com a versão multimídia em CD-ROM,
com o documentário sobre Monteiro Lobato em vídeo, com
um número especial da revista Veja São Paulo e com o
CD do Gilberto Gil com a música da trilha sonora do
seriado [....] ”(OBATA, 1999, P.98).
Vale um registro: apesar de seu caráter escolar, inaugurada em
2003, a Biblioteca Rubem Braga começou a receber seus livros didáticos
em 2006. Há sempre interrupções nos contratos de assinatura de
periódicos. Detalhe observado nas planilhas de recebimentos. No CEU há
cursos de teatro, instrumentos musicais, mas a biblioteca dispõe de poucos
livros dessas práticas, bem como skate, judô, balé etc., mostrando a
ausência de relação da biblioteca com todos os programas oferecidos pelo
CEU.
61
Foto de: João B. A. Neto
Diversos jornais
Acervo: diversidade para a construção de idéias.
5.1.3 Linguagem de representação do acervo
Boa parte de quem entra na biblioteca não entende as etiquetas
coladas nas lombadas dos livros. Nelas contêm números decimais de
classificação para o conteúdo de obras, retirados da Classificação Decimal
de Dewey (CDD), além de código de autor e do título, composto de letras e
números e outras informações como edição e exemplar. A CDD possibilita
a organização temática dos recursos informacionais e é utilizada na
maioria das bibliotecas públicas dos mais variados países do mundo.
Se necessário, esses códigos podem ser adaptados para serem
melhor entendidos. E tudo na biblioteca deve estar bem sinalizado de
forma legível e esteticamente bem elaborado para que facilite ao usuário
interpretá-lo. Isso lhe dará autonomia para circular entre as estantes e
dinamizar a busca direta da informação.
A maioria das bibliotecas públicas disponibiliza o acervo através de
fichários manuais, com fichas por autor, título e assunto. Já nas bibliotecas
dos CEUs, o catálogo é eletrônico, sem as tais fichas, mas ambas
classificam seus acervos pela CDD, sem adaptações. Na concepção da
62
Biblioteca Interativa (Amaro, 1998, Obata, 1999), a escolha da
linguagem
de
representação
e
organização
dos
recursos
informacionais deve levar em consideração três condições
básicas:
“a) ser de f ácil assimilação, para não se
constit uir
em
um
obstáculo
no
processo
de
comunicação do sujeito com a biblioteca;
b) possibilitar a multiplicidade de aç ões e
relações e mobilidade para transf ormações;
c) permitir o reconhecimento das linguagens
utilizadas em outras inst ituições de inf ormação e
cultural do país e de outras partes do mundo.”
(Obata, 1999, p. 98).
Essas condições foram determinantes para a s adaptações
e novos elementos propostos na construção da Biblioteca
Interativa, ou seja, uso do terceiro sumário da
CDD (1000
seções), rearranjo das 10 classes em 6 classes mais uma
categoria para as obras de referências; codificação das classes
por cor possibilitando a mobilidade necessária do acervo que
se
completa
com
a
concepção
adequada
do
mobiliário;
construção de um sistema de sinalização e comunicação que
explicita a linguagem da organização da biblioteca (Obata,
1999, p. 98)”.
63
Foto de João B. A.Neto
Códigos de localização: a interface entre documento e usuário
Foto de João B. A. Neto
Recuperação da informação
Autonomia na localização do acervo
5.1.4 Linguagem dos mediadores e da comunidade
Somando-se às linguagens anteriores, existe a linguagem de cada
pessoa ou grupos envolvidos no cotidiano de um sistema de informação, o
que chama a atenção para os cuidados que se deve ter para contemplar a
64
diversidade cultural, idade, gênero, cultura etc. E essa diversidade também
deve se comunicar com as demais.
É a linguagem do mediador (pessoa ou um produto com o qual a
pessoa se relaciona), da mediação (conector entre o indivíduo e o mundo),
em contato com a linguagem da comunidade, seja a escolar ou do entorno
da biblioteca, que deve ser clara para que haja entendimento das regras,
como também das outras linguagens do serviço de informação e suas
representações simbólicas que cada um faz da biblioteca.
É o reconhecer o outro. Para tanto, a política de serviços e produtos
a ser adotada deve ser bem definida, segundo a meta e objetivos da
biblioteca, considerando-se que nem tudo serve para todos. Segundo
Amaro, como se estabelece as relações entre mediador e mediado? Não
existe, não deve haver uma via de mão única. Por isso,
“[....] a biblioteca deve dialogar também com a
cultura da comunidade escolar e do seu entorno,
constituindo-se como seu instrumento e, ao mesmo tempo,
seu espaço de produção e expressão. É preciso
possibilitar a permanência dessa produção, reconhecendoa como informação e cultura. Assim textos, quadros,
painéis, fotos, produções das mais variadas devem ser
publicadas, exibidas pela biblioteca, além de fazer parte do
seu acervo” (AMARO, 2005, p.312)
65
Foto de João B. A. Neto
Um momento de expressão na Rubem Braga
A vivência com o outro, através do lúdico.
5.2 Atividades do SRInfo da Biblioteca Rubem Braga: análise
Destacamos algumas atividades que ilustram como ocorre a relação
entre o SRInfo da biblioteca e os atores envolvidos nas mesmas. E, ao
mesmo tempo, verificar se elas estão contextualizadas na comunidade
escolar. É possível detectar, também, se ocorre mediação, apropriação e
interação.
“Se considerarmos dois pólos – A e B – podemos
caracterizar a mediação enquanto ato que permite a
relação entre os referidos elementos. Numa concepção
passiva (tecnicista, “neutra”) de mediação o mediador teria
como função a simples transferência da informação; um
canal entre os dois pólos. Ao contrário, numa concepção
dinâmica, participativa, interativa da mediação, a ação
tenderia a intervir entre os dois pólos, definindo e/ou
alterando as relações entre eles” (PIERUCCINI, 1999,
p.64).
66
a) Hora do conto ou contação de histórias
No CEU Cidade Dutra, professoras de EMEIs levam suas crianças
para ouvir histórias na biblioteca. As visitas de CEIs (Creches) e EMEFs
(até 4ª série) são raríssimas. No espaço, nenhuma decoração especial:
mesas e cadeiras baixas e nada confortáveis, além de dois almofadões em
formato de bicho; estantes altas (com livros nas prateleiras inferiores) e
nada mais. Começa a contação pela professora, sempre alertando: psiu,
silêncio... São essas as linguagens presentes nas relações entre o
mediador e as crianças.
Vêem-se muitas crianças inquietas, algumas atentas, outras
distantes. Às vezes se agitam, diante da proibição de se mexer nas
estantes (há desobediência, claro). Depois, saem enfileiradas agradecendo
ao funcionário, aquele que registrou a presença de todos, para fins
estatísticos. Os livros retirados das estantes – lidos ou não – também farão
parte da estatística mensal. Nenhuma impressão fica registrada. Pode-se
questionar se houve apropriação ou apenas permitiu-se o acesso através
da promoção do espaço da biblioteca.
“A distinção imediata que se identifica nas duas
noções reside no papel do sujeito objeto da ação: na
promoção da leitura, o sujeito é o receptor da ação; na
apropriação, ao contrário, o sujeito é o produtor da ação.
Deve-se ter claro que a apropriação não é algo que ocorra
naturalmente, mas é uma construção cotidiana” (OBATA,
1999, p.95).
b) Sessões – isoladas – de cinema e peças teatrais
De todos os filmes e peças teatrais, aos quais os adolescentes
assistem no CEU Cidade Dutra, a biblioteca pouco toma conhecimento, a
não ser pela agenda mensal de programações e panfletos e cartazes
67
afixados em seu mural, alguns dias antes. Reforça-se aquela falta de
comunicação – de que já tratamos - entre os núcleos educacional, de ação
cultural, esportivo e a Biblioteca Rubem Braga.
E essa falta de interação é reproduzida aos alunos que assistem aos
filmes e peças sem que interajam com a biblioteca, após essas atividades.
Fora a sala de aula, a biblioteca poderia ser um local de discussão ou de
acréscimo sobre o que foi visto, lido e ouvido, na tela grande e no palco.
Mas a falta de uma proposta educativa e cultural adequada impossibilita a
interatividade e a veracidade de sentido das letras “U” unificado e do
próprio “E” educacional na sigla “CEU” a biblioteca como um todo não
dialoga com a comunidade escolar nem com a comunidade do entorno.
c) Pesquisas escolares: reprodução e colagens
Já retratamos nesse trabalho todo o cenário que envolve a pesquisa
– feita em sua maioria por estudantes – nas bibliotecas públicas, mas vale
reforçar: sabe-se que muitos executam meramente cópias de trechos de
enciclopédias ou – se pesquisam na Internet – fazem uma espécie de
colcha de retalhos, onde recortam e colam pedaços de textos encontrados,
sem avaliar, nem sintetizar seus conteúdos e transformá-los num relatório
para entrega e/ou apresentação. Uma situação assim descrita por Almeida
Jr.:
“Já afirmamos que a pesquisa é a grande farsa do
ensino no Brasil, em especial do ensino público. O
professor indica um tema e exige uma pesquisa. Por seu
lado, o bibliotecário (ou aquele que atende ao aluno)
apresenta para o aluno o material, no seu entender, é o
mais adequado para satisfazer o pedido do professor. Em
boa parte dos casos, a Enciclopédia é a fonte para
responder à necessidade do aluno. O aluno copia o
68
verbete e o entrega para o professor dentro de um formato
pré-estabelecido” (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p. 271-272).
Na Biblioteca Rubem Braga não seria diferente. Como não há
educação
para
a
informação,
incluindo-se
alunos,
professores
e
bibliotecários, o ritual é o mesmo visto em qualquer outra biblioteca da rede
pública, onde se repete – exatamente – o quadro acima. Esses atores não
têm autonomia para interagir com o espaço e se apropriar dos
instrumentos documentários, nem recebem cursos de capacitação para
realizar nem publicar seus trabalhos. Onde estão os mediadores?
d) Palestras: o escritor na biblioteca
O projeto “Escritor na biblioteca” foi implantado nas bibliotecas
públicas municipais e
estendido às bibliotecas dos CEUs. Autores de
livros, quase sempre de ficção, visitam as bibliotecas para um bate-papo
com crianças e/ou adolescentes. Quem determina os escritores dos
encontros é a Supervisão de Bibliotecas, que decide após receber
sugestões das bibliotecas.
Nas bibliotecas, organizam-se, divulgam-se as visitas. Alguns livros
do respectivo autor são repassados aos professores. Houve casos –
disseram – que não se tinha livros do autor escolhido, ou quando havia,
eram insuficientes, tendo de recorrer a outros meios. Enfim, os alunos lêem
antes e na palestra fazem perguntas ao autor, sobre sua vida e obras
lidas. No final, pedem autógrafos.
Muitas vezes, as palestras são filmadas e/ou fotografadas, mas não
é de praxe montar uma exposição com as fotos, nem sessões de vídeo.
Segundo bibliotecários de uma Unidade, há falhas, por parte dos
supervisores do projeto, em relação ao apoio técnico melhor que deveria
ser dado às Unidades. Além de falta de livros, relataram um caso em que a
69
bibliotecária – de SMC - teve de ir buscar o autor numa estação de metrô,
por falta de respaldo de instâncias superiores que se contentam com
dados de relatórios posteriores aos eventos. A biblioteca, nem o público
têm autonomia para decidir que autores preferem receber.
Foto de João B. A. Neto
Evento “o escritor na biblioteca” - Wagner Costa
Encontro de perguntas e respostas
e) Quadro de avisos: informações soltas
O quadro de avisos da biblioteca, não foge à regra: sempre repleto
de cartazes e papeis avulsos, nos quais as informações se misturam –
internas e externas – sem nenhuma categorização e padronização,
seguido de uma despreocupação estética e de atualização. Às vezes, ele
aparece descentralizado, ou seja, em dois, três locais com esse mesmo
propósito, repetindo e/ou omitindo informações. Um quadro, forrado com
cortiça muito fina; outros com fórmica, o que dificulta afixar, além de
indiscutível poluição visual. Nota-se que cada biblioteca, seja pública ou
dos
CEUs,
decide
sinalizar
sem
padronizações,
ou
logotipos
estrategicamente criados. A biblioteca Interativa leva em consideração uma
sinalização criativa, com a participação de seu público.
70
5.3 Propondo atividades interativas
É possível observar que as atividades descritas são realizadas sem
conexão com propósitos interativos. É imperativo que os indivíduos
realizem algo mais conscientes de suas ações, para que deixem de ser
apenas ouvintes ou meros reprodutores inexpressivos. Segundo Obata
(1999),
“Numa
sociedade
em
que
parcela
signif icat iva da população é excluída da vid a
polít ica, social, econômica e/ou cultural do país,
uma nova concepção de biblioteca tem um papel
importante a cumprir ” (p. 96).
Para a autora, é preciso que o indivíduo construa -se não só
como receptor, mas também produtor; por isso,
“A
bibliot eca
deix a
de
ser
apenas
um
espaço de dif usão, promoção ou disseminação
de inf ormação e cultura; deve ser tam bém um
espaço de expressão” (OBATA, 1999, p. 9 6).
É a partir dessas reflexões que fundamentam a Biblioteca
Interativa como espaço de expressão que faremos propostas de
ações que poderiam ser implementadas na Biblioteca Rubem
Braga, do CEU Cidade Dutra.
No Espaço de Expressão – a ser criado – serão realizadas ações
interativas com planejamento e avaliação. Nada ocorrerá sem que,
segundo Almeida (2000) se fixe objetivos, defina linhas de ação, detalhe as
etapas para atingi-los e se preveja os recursos necessários à consecução.
Depois de elaboradas e realizadas, as atividades serão avaliadas para que
71
se corrijam eventuais distorções do planejado, e se obtenha melhor
qualidade, mas com maior participação do público.
a1) Leituras ao sol ou banho de leitura
Algumas manhãs – com rodízio de classes – determinada
professora levará suas crianças de CEI – Creche de Educação Infantil,
EMEI – Escola Municipal de Educação Infantil, EMEF- Escola Municipal de
Ensino Fundamental (No caso, somente até 4ª série) à biblioteca,
acolhidos por um bibliotecário, ou outro mediador qualificado, para
escolherem livremente os livros que serão lidos,. Os livros serão levados
aos dois quiosques do CEU, e expostos em display.
Os quiosques poderão ser decorados pelas crianças, com
orientação de seus respectivos professores e bibliotecários. Elas poderão
decorar também dois carrinhos, quadrados, em madeira (utilizados para
transportar as crianças de CEI), e levar os livros, os tatames13 e os
almofadões até aos quiosques.
Os livros da biblioteca que ensinam a arte de decorar objetos serão
utilizados. O display, para dispor os livros, também poderá ser
confeccionado pelos alunos, com panos costurados, trançados, como uma
sapateira. Será uma aventura transportar os livros até os quiosques de
leitura e vê-los expostos no tal mostruário. As crianças também poderão
contar suas histórias: sendo dois quiosques, a união dos grupos vai
permitir uma relação de troca. Todo o processo das atividades será
fotografado e/ou filmado.
Retornando à classe, as crianças irão expressar – através de
escrita; pintura; desenho; argila etc - o seu Banho de Leitura. As produções
serão expostas na biblioteca, decorando o espaço por um mês, junto às
13
Espécie de colchão, pequeno, em espuma, revestido com napa.
72
fotos. Essas exposições também serão feitas por elas. Caso tenha sido
filmado, deve-se marcar uma sessão vídeo – na biblioteca - para que as
crianças se vejam e se reconheçam no vídeo.
Algumas produções poderão ser inseridas no acervo infantil,
inclusive as fitas. A partir daí, o espaço de leitura da biblioteca deverá ter
um outro significado para essas crianças que, antes, apenas ouvia e,
agora, fazem uso da criatividade. Aplicaram-se estratégias de apropriação,
motivação e manutenção do interesse, conforme Amaro (2005, p.307-08).
b1) Sessões – interativas – de cinema e teatro
Quem cuida de teatro e cinema, no CEU Cidade Dutra, é o Núcleo
de Ação Cultural. De um lado, esse núcleo não participa à biblioteca suas
decisões quanto à escolha de filmes e peças. De outro lado, a biblioteca
não
procura
interagir
com
as
programações.
Se
houvesse
um
relacionamento mais estreito, a biblioteca poderia ser o espaço ideal para o
público desses eventos expressar e publicar algo sobre o que assistiu.
Os alunos - com auxilio de professores - fariam recortes de filme
e/ou de peça assistidos. Poderiam pesquisar e retratar, por exemplo, sobre
épocas e contextos; temática (política, violência, relações humanas,
figurino, linguagem, fotografia etc). Outros públicos também seriam bemvindos nesse processo de interatividade. Formariam – livremente - um
grupo de discussão, tendo a biblioteca como mediadora na construção e
publicação das idéias estruturadas.
A ênfase seria dada aos diálogos, nos quais a voz seria o
instrumento para se opinar livremente. Em determinadas ocasiões, o grupo
poderia convidar pessoas, talvez da própria comunidade, ou não, que
73
fossem profissionais ou apenas conhecedoras do assunto em discussão.
Para dinamizar e aumentar a interatividade, professores de artes,
português e história, entre outras disciplinas, seriam convidados, como
orientadores e, também, como produtores.
No que se referir à pesquisa, o bibliotecário poderia interagir ainda
mais, dando oficinas sobre a arte de pesquisar nos variados suportes de
informação existentes na biblioteca, como livro, CD-Rom, fita de vídeo;
Internet etc. Toda forma de expressão produzida seria incentivada a ser
publicada, em qualquer suporte também. E se necessário, computadores
com impressora, scaner, gravador de CD; vídeos; TV; DVD; Data Show
etc, seriam disponibilizados.
Toda produção poderia ser divulgada, seja na agenda cultural, ou
no site da educação, espaço reservado aos CEUs, e, principalmente, na
própria biblioteca, que se encarregaria de recepcionar as exposições e/ou
apresentações (montadas pelo próprio grupo). Sendo viável, algumas
produções poderiam fazer parte do acervo da biblioteca.
É uma forma de interação entre biblioteca, o Núcleo de Ação
Cultural do CEU Cidade Dutra, e seus públicos – interno e externo - em
nome da informação e da arte. Repensar essas atividades, é uma forma de
desenvolver capacidades dentro de realidade e experiências de cada
pessoa que se expressa, dilatando-se o campo cultural desses cidadãos.
Com essas ações, tenta-se alterar o pensamento de quem:
“[....] Considera a biblioteca como um instrumento
de
apoio
didático
ou
de
promoção
de
leitura
e
entretenimento. Observa-se que a criança e o jovem –
público-alvo das bibliotecas assinaladas – têm sido vistos
como
“usuários”
de
estoques
de
conhecimento,
geralmente do conhecimento consolidado, registrado em
suportes tradicionais como os livros. A sua própria história
74
e a sua experiência não são reconhecidas, assim como
não se considera que sejam indivíduos capazes de
construir sua própria expressão [....]” (OBATA, 1999, p.93).
c1) Pesquisas: o papel do mediador
No item anterior o assunto pesquisa foi tratado, mas direcionado a
um grupo e propósitos específicos. Neste item vamos falar de pesquisa,
porém fazendo um recorte sobre como se faz uma pesquisa com a ajuda
de um bibliotecário: o grande mediador. A idéia é repensar a maneira como
essa atividade é realizada na biblioteca.
A intenção é resolver ou amenizar a situação de “perdidos” dos
alunos e – inclusive - professores diante de um trabalho escolar. Antes,
tudo começará com o bibliotecário: o profissional da informação será o
responsável por atuar na raiz do problema. Ele poderá repetir as oficinas
ao grupo das sessões de cinema e teatro, porém, com foco na pesquisa
escolar.
Professores
conhecimentos
e
e
alunos
práticas,
serão
incentivados
tornando-se,
assim,
a
repassarem
eles
próprios,
multiplicadores desses conhecimentos.
A formação de grupo será livre, no intuito de se reunir pessoas
realmente interessadas. Formado o grupo, entra em cena o bibliotecário
como mediador entre biblioteca, alunos e professores. Ele deverá criar um
projeto simples: “educar para a informação”. Alunos e professores saberão
como utilizar melhor os recursos informacionais da biblioteca, ao pedir ou
elaborar
suas
pesquisas.
Os
professores
serão
incluídos
nesse
aprendizado, uma vez que a literatura nos mostra:
“[....]
Alguns
contatos
possibilitados
pela
proximidade de interesse e pelo acompanhamento de
projetos de bibliotecas públicas que visavam a uma
75
interação entre biblioteca e escola, além de cursos que
tivemos a oportunidade de ministrar para professores da
rede de ensino municipal da cidade de São Paulo, permitenos afirmar que a pesquisa, como forma ou não de ensino,
é ainda desconhecida pela maior parte dos educadores do
ensino fundamental e médio [....]” (ALMEIDA JÚNIOR,
2000, p.273)
Toda a prática pedagógica de uma pesquisa será comentada diante
dos três atores principais: o professor que a pede; o aluno que terá de
apresentá-la, e o bibliotecário encarregado de decifrá-la e apontar as
melhores fontes de informação. Antes, deverá reuni-los e mostrar como a
biblioteca funciona, a partir da pesquisa solicitada. Depois, fazendo as
adaptações necessárias, poderá se basear nos cinco passos que
envolvem o ato de pesquisar, deste programa:

“Construção do tema da busca de informação:
formulação
de
questionamento
(finalidade
e
métodos: motivação e plano de trabalho) – O que e
por que buscar?;

Experimentação
dos
instrumentos
de
busca:
organização documentária local e formas de
recuperação; organização da rede Internet, formas
de acesso e recuperação – Como encontrar as
fontes de informação?;

Recursos para localização de informações nos
diferentes materiais: paratexto, contexto da autoria,
pertinência
do
conteúdo
–
Como
usar
os
materiais?;

Procedimentos para seleção das informações: tipos
de leitura; palavras-chaves, critérios e formas para
anotação de informações – Como localizar e
selecionar as informações de interesse?;
76

Organização
das
informações:
critérios
para
organização da apresentação dos resultados da
pesquisa (tipos de apresentação), critérios para
citação
das
fontes
–
Como
elaborar
as
informações?;

Avaliação do trabalho: exposição, leitura das
anotações do diário de bordo – Qual o significado
do processo?” (PIERUCCINI, 2004, P.157-158).
d1) Palestras na biblioteca: diversidade de temas
As palestras do projeto “O escritor nas bibliotecas”, sempre de
ficção, mencionadas anteriormente, terão continuidade. Mas especialistas
de outras áreas do conhecimento serão convidados. Antes de qualquer
escolha dos respectivos palestrantes, a biblioteca deve abrir um canal de
comunicação com professores, alunos e parte da comunidade externa,
incluindo os familiares dos alunos do CEU, através dos coordenadores dos
Núcleos Educacional; de Ação Cultural; Esportivo e Lazer.
A
biblioteca
pedirá
aos
coordenadores
que
reunam
três
representantes de cada uma das categorias “professor”, “aluno”, “pais de
alunos”, os quais participarão de visitas monitoradas – especiais de duas
horas - à biblioteca, durante uma semana. Nesse período esses
representantes irão conhecer o Serviço de Referência e Informação da
Biblioteca Rubem Braga.
A intenção é que os bibliotecários façam uma apresentação
holística ao grupo, mostrando os mecanismos de funcionamento da
biblioteca e, principalmente, os recursos informacionais existentes, bem
como o conteúdo temático de boa parte deles. Feita essa exploração, de
reconhecimento e uso da biblioteca, os representantes terão a liberdade de
escolher entre os materiais estudados, aqueles que gostariam de expor no
77
saguão da biblioteca, com justificativas para as escolhas feitas, seja pelo
conteúdo temático e/ou pelos autores das obras.
A partir dessa exposição, a biblioteca e representantes farão uma
enquete com os usuários para que apontem cinco autores preferidos – de
ficção – que gostariam de tê-los no “O Escritor na Biblioteca”. A lista
contendo os cinco mais votados será encaminhada ao setor que faz as
contratações. A interação já começa na seleção de materiais feita pelo
grupo.
Escolhido e contratado o escritor, o bibliotecário vai tratar de
divulgar – por convite e e-mail - entre a comunidade escolar e externa,
uma vez que a participação será aberta a todos, incluindo os estudantes.
Os livros serão distribuídos nas classes e emprestados aos externos,
antecipadamente. A diferença em relação às palestras atuais está na
orientação dada ao público para o bate-papo. Além de perguntas clássicas
sobre a vida e obra do autor (idade, personagens etc), os participantes
devem se ater também ao tema central que levou o autor a escrever tal
obra.
Exemplificando: se a trama central envolve drogas; gravidez na
adolescência ou violência; seria interessante conhecer o que o respectivo
autor pensa a respeito. A partir disso, abre-se à discussão, interagindo
ficção com a vida real, com a expressão dos participantes.
Na mesma linha de organização, será feita a enquete que escolherá
o palestrante de outras especialidades, além de literatura de ficção.
Poderão ser escolhidos os temas sobre “Direitos do Consumidor”; “Câncer
de mama”; “Direitos do Trabalhador”; “Economia Doméstica”; “Direitos da
Criança e do Adolescente”; “Depressão”; “Estatuto do Idoso”; “Doenças do
Trabalho” etc, caso façam parte dos conteúdos temáticos expostos no
saguão da biblioteca.
78
Tudo que foi exposto, interativamente, poderá ser consultado ou
emprestado. Isso auxiliará nas discussões esperadas durante as palestras.
A exposição deverá permanecer no saguão, um bom tempo depois das
apresentações, que deverão ser fotografadas e/ou filmadas.
A biblioteca deverá manter as fitas em seu acervo para consultas e
empréstimos futuros, enquanto as fotos, expostas. Certamente, a biblioteca
terá outra significação para os participantes e para quem fizer uso das
fitas. As pessoas deixarão de ser somente receptoras. Essas ações são
caracterizadas pelo uso das estratégias de apropriação de
informação e cultura propostas por Amaro .
“[....] O “usuário” não está mais somente no final da
cadeia, acionando o sistema; ao contrário ele é parte do
processo como um todo. Ele faz parte da linguagem do
documento/acervo, ele está presente na linguagem de
representação, ele está presente, enfim, na construção
cotidiana da biblioteca interativa, a partir de suas ações
[....]” (AMARO, 1998, p.115).
e1) Mural da cidadania: informações utilitárias
O Mural da Cidadania será um grande painel em madeira, revestido
em cortiça bem espessa, que será colocado em toda a extensão da parede
(aproximadamente 8m de comprimento x 2m de largura) do saguão da
Biblioteca Rubem Braga. Diferentemente do quadro de avisos, o mural
será constituído de informações afixadas pela comunidade escolar (todas
as áreas do CEU) e, principalmente, pela comunidade (população do
entorno), sob o controle da biblioteca.
A intenção de se construir o mural, e seus objetivos serão levados
ao Conselho Gestor do CEU no qual todos os núcleos estão
representados, inclusive a comunidade do entorno. Após contratação de
79
um marceneiro da região e a compra de materiais necessários será
marcada uma reunião na biblioteca para explicar que o Mural da Cidadania
será dividido em espaços específicos, com subdivisões. São eles:
1) COMUNIDADE ESCOLAR (3mx2m de espaço)

Biblioteca: informações administrativas e eventos;

CEU geral: informações diversas dos Núcleos Educacional; Ação
Cultural; Esporte e Lazer; telecentro. Cada qual, responsável pelas
atualizações. Um grupo de alunos poderá representar a voz da escola
no mural, afixando o que achar importante divulgar, como se fosse um
Jornal-Mural.
2) COMUNIDADE DO ENTORNO (3mx2m de espaço)
Todos os segmentos poderão afixar informações utilitárias, com a
supervisão de um bibliotecário, criando-se uma base de dados. Essa parte
do mural poderá ter as seguintes subdivisões iniciais, caso haja consenso
entre os envolvidos:

Saúde: endereços de hospitais e postos de saúde da região (com
horários e especialidades); farmácias populares; dicas de saúde;
campanhas públicas; cursos e palestras gratuitos; livros, revistas e sites
especializados etc;

Educação: cursos populares (pré-vestibular, técnicos etc); escolas
públicas da região (orientações gerais, incluindo vagas para alunos
especiais); dicas de vestibular e resultados; livros, revistas e sites
especializados etc;

Trabalho: leis trabalhistas; sindicatos; ofertas de empregos e
empregados (na região); modelo de currículo; currículos preenchidos
etc;
80

Consumo: Código de Defesa do Consumidor (artigos principais); feiras
livres; mercado municipal; reaproveitamento de alimentos etc;

Habitação: planos populares; instalações (redes de água, esgoto,
telefones) junto aos órgãos públicos etc;

Estatutos: do Idoso; da Criança e do adolescente (pontos principais e
outras informações);

Informação legal e jurídica: assistência jurídica gratuita; documentos
(informações gerais);

Lazer e cultura: programações gratuitas (informações gerais); livros,
revistas e sites especializados;

Telefones úteis: Fonte – Guias;

Pessoas Desaparecidas: cartazes com fotos;

Achados e perdidos: animais e objetos;
3) ESPAÇO DE EXPRESSÃO DA COMUNIDADE (2mx2m do
espaço)
Esse espaço será reservado para que pessoas afixem suas críticas,
com dois subtítulos:
a) Cole aqui suas críticas:

Reclamações (bem fundamentadas e assinadas);

Elogios;

Dúvidas sobre quaisquer assuntos a biblioteca tentará responder ou
encaminhá-lo.
(sobre quaisquer serviços e produtos dos tópicos acima)
b) Cole aqui suas idéias:

Poesias; pensamentos; crônicas;

Desenhos;

Resenhas; receitas culinárias, etc.
81
A intenção é fazer com que a comunidade utilize esse Mural da
Cidadania, não só para obter informações básicas para o seu dia-a-dia,
mas que as traga também, participando da dinâmica de construir e
atualizar, sob a supervisão de um bibliotecário.
Outro objetivo do mural é abrir um Espaço de Expressão na
biblioteca, onde as pessoas possam publicar suas idéias, críticas e
produções, deixando de ser receptoras de informação e cultura, além de
reconhecer e ser reconhecido nesse espaço, integrando-se ao processo
cotidiano de construção de relações interativas, na biblioteca Rubem Braga
ou em qualquer outro serviço de informação e cultura, com as devidas
adaptações.
6 Considerações Finais
O estudo que fizemos dos Serviços de Referência e Informação
das bibliotecas públicas e bibliotecas dos CEUs, da cidade de São Paulo,
tendo como parâmetro a Biblioteca Interativa, evidenciou reflexões e
questionamentos sobre a atuação dessas instituições num cenário
globalizado, onde tudo e todos parecem estar conectados.
Temos a falsa impressão de que a informação nos chega inteira,
através de meios avançados de tecnologias. No entanto, o que se recebe é
totalmente fragmentado. A cultura do instantâneo está embutida em nós,
num processo metonímico, ou seja, temos a parte pelo todo, extraído da
Internet, de livros, enciclopédias e periódicos, sem nenhuma filtragem. E
assim agem as pessoas que vão e as que não vão à uma biblioteca
pública, por exemplo.
82
Essa instituição traz consigo especificidades que perpetuam a
impressão descrita. Ainda está no paradigma do acervo: mais preocupada
com técnicas de organização dos recursos informacionais, conservando os
documentos – em suportes variados - para difundir basicamente serviços
de empréstimo e consulta local. Privilegia-se o público estudantil, além de
oferecer atividades de animação cultural, sem nenhuma tendência a
discutir conteúdos, a se preocupar com quem vai utilizá-los, muito menos
com o motivo da respectiva busca.
Inúmeros problemas estruturais, detectados e apontados neste
estudo, são consenso entre a comunidade envolvida desta instituição, para
justificar os serviços e produtos desenvolvidos, ou a falta deles, pela
biblioteca pública.
Outro modelo de biblioteca, que surgiu na periferia da cidade,
causou controvérsias no seu tempo de implantação, em 2003: as
bibliotecas dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Uma arquitetura
que se destaca na paisagem – entre bolsões de pobreza – pelo arrojo de
suas formas e dimensões. Grande escola que aloja uma biblioteca de
600m2, muito semelhante a uma biblioteca pública tradicional, tratando-se
dos serviços que oferece, como mostrou nossas pesquisas, apesar de
diferente por funcionar em escolas públicas que nunca tiveram bibliotecas,
mas salas de leitura. Interessante observar que apesar de as escolas dos
CEUs terem uma biblioteca, essas salas foram mantidas.
A biblioteca híbrida tem as mesmas características de uma
biblioteca pública: atende – na sua maioria - estudantes internos e
externos, além de poucos adultos e idosos da comunidade em geral. É
passiva diante de seu entorno, presa ao livro, sem políticas de formação e
desenvolvimento de acervo, funcionários insatisfeitos, administração sem
autonomia ou interesse para intervir ou atuar no projeto pedagógico ou nas
questões de parcerias para melhorar o sistema de informação, falta de
83
comunicação e interação com a sociedade ou, no caso dos CEUs, a falta
de interação com os núcleos educacional, cultural e esportivo. Enfim duas
instituições bem semelhantes, que não dialogam com o meio social.
Este trabalho destacou a importância das relações sociais que têm
apresentado fases de crises, a começar dentro das famílias (a base de
formação do indivíduo), levando ao confinamento cultural crianças e
jovens.
Confinamento
por
terem
suas
liberdades
privatizadas,
institucionalizadas por escolas, igrejas e outras instituições, inclusive as
bibliotecas, em momentos importantes de formação de sua personalidade.
Foi analisada a questão das relações interativas nos serviços de
informação e cultura, com função educativa, pensando na criança, no
jovem, e em todo cidadão.
Entender que a biblioteca tem ou deveria ter função educativa, não
foi consenso entre profissionais, técnicos e atendentes consultados
durante as análises nas bibliotecas públicas e nas bibliotecas híbridas dos
CEUs. Procuramos demonstrar, ao longo do estudo, que essa é uma
concepção inovadora de serviços de informação que busca estabelecer
relações de interação do indivíduo com a cultura e informação. Que esse
indivíduo deve ser sujeito da ação para produzir a sua expressão diante da
diversidade cultural que o cerca. As bibliotecas públicas e dos CEUs estão
bem distantes dessa concepção.
Atingimos, portanto, o objetivo de lançar essa idéia de interação, ao
demonstrar como algumas atividades são realizadas na Biblioteca Rubem
Braga, do CEU Cidade Dutra, sem nenhum vestígio de interação dos
atores envolvidos, porque, entre outras questões, há um desconhecimento
das linguagens que envolvem os serviços de informação e cultura.
Linguagem arquitetônica e do mobiliário, linguagem do acervo,
linguagem de representação e organização desse acervo, linguagem dos
84
mediadores e da comunidade. Mostramos a importância do indivíduo ter
autonomia diante dessas linguagens para que consiga se apropriar da
biblioteca, de seus produtos e serviços, e principalmente se expressar,
construindo, produzindo e publicando, como sujeito da ação perante a
informação e a cultura.
Exemplificamos com a Hora do Conto, atividade na qual as crianças
só ouvem e nada criam. Com as sessões de cinema e teatro, nos CEUs,
ou nas bibliotecas com auditório, nas quais não há nenhuma discussão
anterior e/ou posterior. Comentamos os encontros com escritores
monótonos, pesquisas escolares sem interesse e desconhecimento de
como fazê-las corretamente e melhor, por parte de alunos e professores,
incluindo alguns bibliotecários que não se identificam com o ato de educar
para a informação. Mostrou-se como transformar o quadro de aviso,
geralmente confuso, num grande mural da cidadania, repleto de
informações utilitárias, afixadas também pelas comunidades: da biblioteca
e do entorno, valorizando a sua função informacional e social.
Utilizar essa nova concepção de biblioteca, a Biblioteca Interativa,
que trata da diversidade cultural, como parâmetro de análise,
nos fez
pensar nas diferenças entre bibliotecas públicas e escolares e seus
públicos com necessidades e interesses específicos, que precisam ter
serviços e produtos de acordo com suas necessidades e expectativas. Mas
a nossa análise constatou o contrário: não há política de atendimento
voltada para o usuário ou entorno, na qual eles participem ativamente.
Com este estudo, certificamos que nas bibliotecas públicas e nas
bibliotecas dos CEUs, as políticas públicas, projetos de construção e/ou
reformas
de
bibliotecas,
aquisição
de
acervo,
oferecimento
de
serviços/atividades/produtos, formação de equipes etc., são desenvolvidos
e aplicados sem nenhuma das estratégias utilizadas para uma construção
interativa de biblioteca com função educativa.
85
São estratégias bem colocadas nos trabalhos de Amaro. Esses
trabalhos propõem base conceitual e operacional riquíssimas que prevêem
fundamentalmente a construção de relações interativas, imprescindíveis
para que a biblioteca pública exerça a sua função social transformadora de
cotidianos e pessoas. Fica a expectativa de numa próxima etapa, colocar
em prática todas as ações interativas apresentadas. Enquanto houver
relações interativas, que valorizam o outro, o homem não precisará mais
se ensimesmar, parafraseando Ortega Y Gasset (1973).
86
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89
ANEXOS
Anexo I: relação das Bibliotecas Públicas e híbridas da cidade de
São Paulo.
BIBLIOTECAS DA CIDADE DE SÃO PAULO
Adelpha Figueiredo
Pça Ilo Ottani, 146 - Tel.: 6694-0013 - (Canindé- CEP 03028-003)
Adelpha Figueiredo (Unificada com Biblioteca Adelpha Figueiredo)
Pça Ilo Ottani, 146 - Tel.: 6292-3439 - (Canindé- CEP 03028-003)
(atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado)
Affonso Taunay
R. Taquari, 549 - Tel.: 6292-5126 - (Mooca- CEP 03166-000)
Afonso Schmidt
Av. Elisio Teixeira Leite, 1.470 - Tel.: 3975-2305 - (Cruz das Almas- CEP 02801000)
Alceu Amoroso Lima
R. Henrique Schaumann, 777 - Tel.: 3082-5023 - (Pinheiros- CEP 05413-021)
Álvares de Azevedo
Pça. Joaquim José da Nova s/nº. - Tel.: 6954-3118 - (Vila Maria Alta- CEP 02126000)
Álvares de Azevedo (Unificada com Biblioteca Pablo Neruda)
Pça. Joaquim José da Nova, s/nº - Tel.: 6954-2813 - (Vila Maria Alta- CEP 02126000)
Álvaro Guerra
R. Pedroso de Moraes, 1919 - Tel.: 3031-7784 - (Pinheiros- CEP 05419-001)
(atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado )
Amadeu Amaral
R. José C. Castro, s/nº - Tel.: 5061-3320 - (Jd. da Saúde- CEP 04290-100)
Anne Frank
R. Cojuba, 45 - Tel.: 3078-6352 - (Itaim Bibi- CEP 04533-040)
(atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado )
Arnaldo Magalhães de Giácomo, Prof.
Rua Restinga, 136 - Tel.: 2295-0785 - (Tatuapé- CEP 03065-020)
(atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado )
90
Arquivo Histórico Municipal Washington Luís
Praça Cel. Fernando Prestes, 152 - Tel.: 3326-1010 ramal 2037 - (Luz- CEP 01124060)
Aureliano Leite
R. Otto Schubart, 196 - Tel.: 6211-7716 - (Pq. São Lucas- CEP 03238-030)
Belmonte (Antiga Biblioteca Benedito Bastos Barreto)
R. Paulo Eiró, 525 - Tel.: 5687-0408 - (Santo Amaro- CEP 04752-010)
(atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado )
Bosque da Leitura Ibirapuera
Av.República do Líbano, 1151 - Portão7 - Tel.: - (Parque do Ibirapuera- CEP )
Brito Broca
Av. Mutinga, 1425 - Tel.: 3904-1444 - (Pirituba- CEP 05110-000)
Brito Broca (Unificada com Biblioteca Orígenes Lessa)
Av. Mutinga, 1425 - Tel.: 3904-2476 - (Pirituba- CEP 05110-000)
Camila Cerqueira César
R. Valdemar Sanches, 41 - Tel.: 3731-5210 - (Butantã- CEP 05589-050)
(atendimento: 8h às 17h - 2ª. a 6ª. Feira / 9h às 14h - sábado )
Cassiano Ricardo
Av. Celso Garcia, 4200 - Tel.: 6192-4570 - (Tatuape- CEP 03064-000)
Castro Alves
R. Abrahão Mussa, s/nº. - Tel.: 6946-4562 - (Jd.Patente Novo- CEP 04256-190)
Cecília Meireles
R. Araçatuba, 522 - Tel.: 3834-0004 - (Lapa- CEP 05058-010)
Centro Cultural São Paulo. Biblioteca Sergio Milliet
Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 - (Paraíso- CEP 01504-000)
Centro Cultural São Paulo. Discoteca Oneyda Alvarenga
Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 - (Paraíso- CEP 01504-000)
Centro Cultural São Paulo. Gibiteca Henfil
Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 - (Paraíso- CEP 01504-000)
Centro de Documentação Técnica da Secretaria Municipal do Verde e Meio
Ambiente
Rua do Paraíso, 387 - Tel.: 3372-2409 - (Paraiso- CEP 04103-000)
CEU Alvarenga
91
Estrada do Alvarenga, nº 3.752 - Tel.: 5672-2554 - (Balneário São Francisco- CEP
04474-340)
CEU Aricanduva
Rua Olga Fadel Abarca, s/n - Tel.: 6723-7513 - (Jd. Santa Terezinha- CEP 03572020)
CEU Butantã
Rua Engº Heitor Eiras Garcia, nº 1.700 - Tel.: 3732-4516 - (Butantã- CEP 05588001)
CEU Campo Limpo
Av. Carlos Lacerda, nº 678 - Tel.: 5843-4827 - (Chácara São Pedro- CEP 05789000)
CEU Casablanca
Rua João Damasceno, nº 85 - Tel.: 5519-5245 - (Jd. Casa Blanca- CEP 05841-160)
CEU Cidade Dutra
Rua Cristina de Vasconcelos Cecatto, s/n - Tel.: 5668-1915 - (Jd. São NicolauCEP 04802-080)
(atendimento: 9h às 17h – 3ª a 6ª / 9h às 15h - sábados )
CEU Da Paz
Rua Firminópolis com Rua da Paz - Tel.: 3898-3436 - (Vila Brasilândia- CEP
02878-030)
CEU Inácio Monteiro
Rua Barão Barroso do Amazonas, s/nº - Tel.: 6518-9014 - (Cidade Tiradentes- CEP
08472-720)
CEU Jambeiro
Av. Flores do Jambeiro, s/nº - Tel.: 6960-2017 - (Jd. Lajeado- CEP 08430-810)
CEU Meninos
Rua Barbinos, nº 111 - Tel.: 6945-2512 - (São João Climaco- CEP 04240-110)
CEU Navegantes
Rua Maria Moassab Barbour, s/nº - Tel.: 5976-5521 - (Pq. Res. Coacaia- CEP
04849-503)
CEU Parque Veredas
Rua Daniel Müller, 347 - Tel.: 6563-6212 - (Itaim Paulista- CEP 08141-290)
CEU Pêra Marmelo
Rua Pêra Marmelo, 226 - Tel.: 3948-3912 - (Jaraguá- CEP 05185-420)
CEU Perus
Rua Bernardo José de Lorena, s/nº - Tel.: 3915-8710 - (Perus- CEP 05203-200)
CEU Rosa da China
92
Rua Clara Petrela, s/nº - Tel.: 6701-2316 - (Jd. São Roberto- CEP 03978-500)
CEU São Carlos
Rua Clarear, 141 - Tel.: 6145-4238 - (Jd.São Carlos- CEP 08062-590)
CEU São Mateus
Rua Curumatim, 221 - Tel.: 6732-8117 - (Pq. Boa Esperança- CEP 08341-240)
CEU São Rafael
R. Cinira Polônio, 100 - Tel.: 6752-1044 - (São Mateus- CEP 08395-320)
CEU Três Lagos
Estrada do Barro Branco com Rua Nereu Bertini Magalhães - Tel.: 5976-5610 (Jd. Três Corações- CEP 04852-320)
CEU Vila Atlântica
Rua Coronel José Venâncio Dias, 840 - Tel.: 3901-8720 - (Jd. Nardini- CEP
05160-180)
CEU Vila Curuçá
Rua Marechal Tito, nº 3.450 - Tel.: 6563-6137 - (Vila Curuçá- CEP 08115-000)
Chácara do Castelo
R. Brás Lourenço, 333 - Tel.: 5573-4929 - (Jd. da Glória- CEP 04113-110)
Clarice Lispector
R. Jaricunas, 458 - Tel.: 3672-1423 - (Lapa- CEP 05053-070)
Cora Coralina
R. Otelo Augusto Ribeiro, 113 - Tel.: 6557-8004 - (Guaianazes- CEP 08461-000)
Divisão de Desenvolvimento de Coleções e Tratamento da Informação
Av.São João - Tel.: 3334-0001 - (Centro- CEP 05049-000)
Divisão de iconografia e museus
Rua Roberto Simonsem, 136 - Tel.: 3106-2218 - (- CEP 01017-020)
Érico Veríssimo
R. Diógenes Dourado, 101 - Tel.: 3972-0450 - (Parada de Taipas- CEP 02815-140)
Gilberto Freyre
R. José Joaquim, 290 - Tel.: 6103-1811 - (Sapopemba- CEP 03272-000)
Hans Christian Andersen
Av. Celso Garcia, 4142 - Tel.: 2295-3447 - (Tatuapé- CEP 03064-000)
Helena Silveira
R. Dr. João Batista Reimão, 146 - Tel.: 5841-1259 - (Campo Limpo- CEP 05788270)
93
Jamil Almansur Haddad
R. Andes, 491-A - Tel.: 6557-0067 - (Guaianazes- CEP 08440-180)
José de Anchieta, Pe.
R. Antonio Maia, 651 - Tel.: 3917-0751 - (Perus- CEP 05204-110)
José Mauro de Vasconcelos
Pça. Com. Eduardo Oliveira, 100 - Tel.: 6242-8196 - (Pq. Edu Chaves- CEP
02233-060)
José Paulo Paes (Antigas Bibliotecas Guilherme de Almeida e Sra. Leandro Dupré)
Largo do Rosário, 20 - Tel.: 2295-0401 - (Penha de França- CEP 03634-000)
José Paulo Paes (Antigas Bibliotecas Sra. Leandro Dupré e Guilherme de Almeida)
Largo do Rosário, 20 - Tel.: 2295-9624 - (Penha de França- CEP 03634-000)
Jovina Rocha A. Pessoa (Unificada com Biblioteca Plínio Ayrosa)
Av. Pe. Francisco de Toledo, 331 - Tel.: 6741-0371 - (Itaquera- CEP 03590-120)
Jovina Rocha Álvares Pessoa
Av. Pe. Francisco de Toledo, 331 - Tel.: 6741-7371 - (Itaquera- CEP 03590-120)
Lenyra Fraccaroli
Pça. Haroldo Daltro, 451 - Tel.: 2295-2295 - (V. Nova Manchester- CEP 03444090)
Malba Tahan
R. Brás Pires Meira, 100 - Tel.: 5523-4556 - (Veleiros- CEP 04784-150)
Marcos Rey
Av. Anacé, 92 - Tel.: 5845-2572 - (Campo Limpo- CEP 05755-090)
Mário de Andrade
R. da Consolação, 94 - Tel.: 3256-5270 - (Consolação- CEP 01302-000)
Mário de Andrade - Seção Circulante
R. da Consolação, 1.024 - Tel.: 3257-8787 - (Consolação- CEP 01302-000)
Mário de Andrade - Seção de Obras Raras
Rua da Consolação, 94 - Tel.: 3256-5270 r.204 - (Consolação- CEP 01302-000)
Mário Schenberg (Antiga Biblioteca Francisco Pati)
R. Catão, 611 - Tel.: 3672-0456 - (Lapa- CEP 05049-000)
Menotti del Picchia
R. São Romualdo, 382 - Tel.: 3966-4814 - (Limão- CEP 02557-060)
Milton Santos
Av. Aricanduva, 5.777 - Tel.: 6726-4882 - (Jd. Aricanduva- CEP 03527-000)
94
Monteiro Lobato
R. Gal. Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 - (Vila Buarque- CEP 01223-011)
Monteiro Lobato - Acervo Monteiro Lobato
R. Gal. Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 - (Vila Buarque- CEP 01223-011)
Monteiro Lobato - Seção de Bibliografia e Documentação
R. Gal. Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 - (Vila Buarque- CEP 01223-011)
Museu Afro Brasil. Biblioteca Carolina Maria de Jesus
Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega Parque do Ibirapuera Portão 10 - Tel.: 55790593 - (Moema- CEP 04094-050)
Narbal Fontes
Av. Cons. Moreira de Barros, 170 - Tel.: 6973-4461 - (Santana- CEP 02018-010)
Nuto Sant'anna
Pça Tenório Aguiar, 32 - Tel.: 6973-0072 - (Santana- CEP 02044-080)
Ônibus-Biblioteca
Rua Gal.Jardim, 485 - Tel.: 3256-4122 r:111 - (Vila Buarque- CEP 01223-011)
Paulo Duarte
R. Arsênio Tavolieri, 45 - Tel.: 5011-7445 - (Jabaquara- CEP 04321-030)
Paulo Duarte (Unificada com Biblioteca Joaquim José de Carvalho)
R. Arsênio Tavollieri, 45 - Tel.: 5011-8819 - (Jabaquara- CEP 04321-030)
Paulo Sérgio Duarte Milliet
Pça. Ituzaingó, s/nº - Tel.: 6671-4974 - (Mooca- CEP 03334-020)
Paulo Setúbal (Unificada com a antiga Biblioteca José Paulo Paes)
Av. Renata, 163 - Tel.: 6211-1508 - (Vila Formosa- CEP 03377-000)
Paulo Setúbal (Unificada com antiga Biblioteca Paulo Setúbal e José Paulo Paes)
Av. Renata, 163 - Tel.: 6211-1507 - (Vila Formosa- CEP 03377-000)
Pedro da Silva Nava
Av. Engº Caetano Álvares, 5.903 - Tel.: 6973-7293 - (Mandaqui- CEP 02413-100)
Prestes Maia, Pref. (Antiga Biblioteca Presidente Kennedy)
Av. João Dias, 822 - Tel.: 5687-0513 - (Santo Amaro- CEP 04724-001)
Raimundo de Menezes
Av.Nordestina, 780 - Tel.: 6297-4053 - (São Miguel Paulista- CEP 08021-000)
Raul Bopp (Antiga Biblioteca Ophélia França)
R. Muniz de Sousa, 1155 - Tel.: 3208-1895 - (Aclimação- CEP 01534-001)
Ricardo Ramos
95
Pça.Centenário de Vila Prudente, 25 - Tel.: 2273-4860 - (Vila Prudente- CEP
03132-050)
Roberto Santos (Antiga Biblioteca Min. Genésio de Almeida Moura)
R. Cisplatina, 505 - Tel.: 2273-2390 - (Ipiranga- CEP 04211-040)
Rubens Borba de Moraes
R. Sampei Sato, 440 - Tel.: 6943-5255 - (Ermelino Matarazzo- CEP 03814-000)
Sérgio Buarque de Holanda
R. Augusto C. Baumann, 564 - Tel.: 6205-7406 - (Itaquera- CEP 08210-590)
Sylvia Orthof (Antiga Biblioteca Dinah Silveira de Queiróz unificada com Sylvia
Orthof)
Av.Tucuruvi, 808 - Tel.: 6981-6264 - (Tucuruvi- CEP 02304-002)
Sylvia Orthof (Unificada com Biblioteca Dinah Silveira de Queiróz)
Av.Tucuruvi, 808 - Tel.: 6981-6263 - (Tucuruvi- CEP 02304-002)
Thales Castanho de Andrade
R. Dr. Artur Fajardo, 447 - Tel.: 3975-7439 - (Freguesia do Ó- CEP 02963-000)
Vicente de Carvalho
R. Guilherme Valência, 210 - Tel.: 6521-0553 - (Itaquera- CEP 08253-280)
Vicente Paulo Guimarães
R. Jaguar, 225 - Tel.: 6135-5322 - (Vila Curuçá- CEP 08030-460)
Vinícius de Morais
Av. Jardim Tamoio, 1.119 - Tel.: 6521-6914 - (Itaquera- CEP 08255-010)
Viriato Correa
R. Sena Madureira, 298 - Tel.: 5573-4017 - (Vila Mariana- CEP 04021-050)
Zalina Rolim
R. Corredeira, 26 - Tel.: 5573-2606 - (Saúde- CEP 04127-140)
Disponível em: http://www.prefeitura.gov.br/sistemadebiblioteca.htm. Acesso:
03/10/06.
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Anexo II: quadro cronológico de evolução das Bibliotecas Públicas
Paulistas.
Sistema Municipal de Bibliotecas
Histórico
A história das Bibliotecas Municipais acompanha as diversas modificações
estruturais da prefeitura de São Paulo em relação à criação de divisões e secretarias,
mas sua concretização foi possível principalmente pela visão e pelo empenho dos
intelectuais da década de 20 que, cientes da necessidade da disseminação cultural,
trabalharam por esta causa.
Década de 20 – Elaboração do projeto
O escritor Mário de Andrade já antevia a organização de um departamento
específico para a área de cultura, e a criação de uma biblioteca representava um
avanço cultural para a cidade de São Paulo trazendo novas perspectivas para todas
as áreas do conhecimento humano. Em 1925, a Biblioteca da Câmara Municipal de
São Paulo foi liberada ao público e já no ano seguinte foi instalada à Rua Sete de
abril, nº 37 como Biblioteca Pública Municipal.
Entre os anos de 1926 a 1931 um seleto grupo de intelectuais, entre eles Mário de
Andrade, Sérgio Milliet, Rubens Borba de Moraes e Antonio de Alcântara
Machado, reunia-se para discutir a idéia de estruturar a atividade cultural da cidade
de São Paulo através da criação de um Departamento de Cultura. Paulo Duarte
preparou então um anteprojeto no qual esboçava um sistema de parques infantis,
restauração e publicação de documentos históricos, teatros, bibliotecas, discoteca,
entre outros; este anteprojeto foi encaminhado a vários outros intelectuais da época
para conhecimento e atualizações. Com as sugestões incorporadas, Mário de
Andrade, Paulo Duarte e Paulo Barbosa de Campos redigiram o projeto final do
Departamento de Cultura.
Década de 30 – Criação do Departamento de Cultura
O Departamento de Cultura foi então criado oficialmente pelo ato nº 861 de 30 de
maio de 1935 e consolidado e modificado pelo prefeito Fábio Prado, através do ato
nº 1.146 de 4 de julho de 1936. Inicialmente, foi estruturado em cinco divisões:
Divisão da Expansão Cultural – Diretor: Mário de Andrade
Divisão de Educação e Recreio - Diretor: Nicanor Miranda
Divisão de Documentação Histórica e Social - Diretores: Sérgio Milliet e Bruno
Rudolfer
Divisão de Bibliotecas - Diretor: Rubens Borba de Morais
Divisão de Turismo e Divertimentos Públicos - não chegou a ser implantada
Novas seções foram surgindo, como a de teatro com a direção de Antonio
Alcântara Machado, a de discoteca com Oneyda Alvarenga e a do Teatro
Municipal com Paulo Magalhães. A primeira biblioteca infantil foi criada e
inaugurada em 1936 e entregue à direção de Lenyra Fraccaroli.
Década de 40 – Biblioteca Pública Municipal
Em 1942 o então prefeito, engenheiro Prestes Maia, entregou à população o prédio
97
da Biblioteca Pública Municipal, que em 1960 recebeu o nome de Biblioteca
Municipal Mário de Andrade.
Em 1945 foi criada a Secretaria de Cultura e Higiene constituída pelo
Departamento de Cultura, pelo Departamento de Higiene e pelos serviços relativos
ao Estádio Municipal. Esta secretaria foi novamente reestruturada em 1947, quando
se separaram em Secretaria de Higiene e Secretaria de Educação e Cultura.
Décadas de 50 e 60 – Expansão da rede
Durante as décadas de 50 e 60 houve uma grande expansão da rede de Bibliotecas
da cidade de São Paulo. Essa expansão ocorreu graças à criação e inauguração de
diversas Bibliotecas de Bairro em todas as regiões da cidade. Com ênfase em
acervos voltados para o público infanto-juvenil, foram criadas mais de trinta
bibliotecas durante este período.
Em 1951 o atendimento das Bibliotecas Públicas foi diferenciado por faixa etária;
criaram-se, então, duas divisões: Divisão de Bibliotecas para o atendimento de
adultos e jovens a partir de quinze anos e Divisão de Bibliotecas Infanto-Juvenis
para crianças.
Em 1955 a primeira biblioteca infantil passou a denominar-se Biblioteca InfantoJuvenil Monteiro Lobato em homenagem ao escritor. Por seu desempenho, tornouse o embrião da Rede de bibliotecas Infanto-Juvenis da cidade de São Paulo.
Década de 70
Em 1975, com a reestruturação da Secretaria Municipal de Cultura, o atendimento
diferenciado por faixa etária deu origem a dois departamentos: o Departamento de
Bibliotecas Públicas e o Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis.
Da década de 80 até hoje
Em 1982 foi inaugurado o Centro Cultural São Paulo. Além de manter sob sua
guarda expressivos acervos da cidade de São Paulo (a Pinacoteca Municipal, a
Discoteca Oneyda Alvarenga, a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas de
Mário de Andrade, o Arquivo Multimeios), possui um conjunto de bibliotecas que
ocupa uma área superior a 9 mil m².
Em 6 de fevereiro de 2003, através do decreto n. 42.832, foram criados os Centros
Educacionais Unificados – CEUs. As suas bibliotecas atendem tanto o público
escolar quanto a comunidade.
Nos últimos anos os departamentos - Departamento de Bibliotecas Públicas e o
Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis - passaram por um processo de
integração das políticas culturais. Em 6 de outubro de 2005, o decreto nº 46.434
reuniu todas as bibliotecas instituindo o Sistema Municipal de Bibliotecas.
Fontes de pesquisa:
DUARTE, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo. 2. ed. São Paulo: HUCITEC, 1985.
SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Cultura. Relatório de Gestão 1993-2000. São
Paulo, 2000.
DEPOIMENTOS. R. Bras. Bibliotecon. e Doc. São Paulo, v.20, n.1/4, p.95-104, jan. /dez. 1987.
Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/sistemadebibliotecas.htm Acesso realizado em: 03/10/06
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Anexo III: reportagem do Jornal Folha de S. Paulo, sobre a
destruição da Biblioteca Mário de Andrade
Folha de São Paulo, 02/06/2004 - São Paulo SP
A destruição de uma biblioteca
Marco Antonio Villa
No século 7, a célebre biblioteca de Alexandria sucumbiu definitivamente após
mais um incêndio. Em São Paulo, a Biblioteca Mário de Andrade não precisou de
nenhum conquistador para ser destruída: bastaram os últimos dois prefeitos e a
gestão de Marta Suplicy. Hoje, a Mário de Andrade vive o momento mais grave de
sua história. Abandonada pelo poder público municipal, está à mingua, sem
funcionários para os serviços essenciais, raros bibliotecários - pois grande parte se
aposentou nos últimos anos- e com o prédio em situação precária. A única
intervenção do governo municipal foi a realização de uma pequena obra na praça
Dom José Gaspar, meramente decorativa - tanto que o monumento em homenagem
ao poeta simbolista Cruz e Souza, destruído desde 2002, continua jogado no jardim
que cerca a praça. Porém o prédio que reúne o acervo de mais de 300 mil livros grande parte doada, apesar de hoje não existir nenhum setor para receber
bibliotecas- continuou intocado.
A crise da biblioteca vem desde a gestão Paulo Maluf. Depois de uma grande
reforma no final do governo Luiza Erundina, o prédio foi reinaugurado às pressas,
no final de 1992, pouco antes da eleição municipal. Para Maluf, nunca uma
biblioteca foi prioridade, muito menos a Mário de Andrade. Durante sua
administração foram transferidos para lá muitos funcionários da Secretaria da
Saúde que não aderiram ao PAS. De uma hora para outra, atendentes, auxiliares de
enfermaria, funcionários burocráticos dos hospitais foram transferidos para um
ambiente distinto: em vez dos doentes, tinham de cuidar dos livros. Os serviços da
biblioteca continuaram funcionando precariamente e não foi comprado sequer um
livro para o acervo.
Nos quatro anos seguintes, os problemas foram se agravando: o acervo continuava
desatualizado e necessitando de conservação, os equipamentos estavam
deteriorados, as vagas dos aposentados não foram preenchidas, o prédio, devido à
pressa na entrega da reforma, apresentava graves problemas hidráulicos e elétricos.
Esperava-se que, na administração do PT, tudo fosse mudar. Doce ilusão. Um dos
primeiros atos do então secretário da Cultura, Marco Aurélio Garcia, por incrível
que pareça, foi a proposta de fechar a biblioteca, o que não ocorreu graças à
mobilização dos funcionários, que realizaram um "abraço ao prédio".
Acreditava-se que tudo não tivesse passado de um engano do secretário, que
desconhecia a riqueza do acervo da biblioteca, por não ser um consulente daquele
espaço. Mas, se não havia recursos para manter a biblioteca, havia para fundar o
Colégio de São Paulo, à semelhança do Colégio de França, criado por Francisco 1º,
99
tendo como local a própria biblioteca. Puro marketing para imortalizar a prefeita
como uma protetora das artes, uma Catarina 2ª tupiniquim, infelizmente sem um
Diderot. Contudo a atividade-fim da biblioteca, o atendimento dos consulentes, foi,
apesar dos esforços dos funcionários, piorando a cada dia, pela absoluta falta de
recursos.
Em 2004, a situação chegou a um ponto intolerável. O setor de cabines, reservado
aos pesquisadores, que funcionava sofregamente, foi simplesmente fechado. Logo
em seguida mais uma péssima notícia: o setor de livros raros, que só abria no
período da tarde, também foi fechado. Para quem não conhece, o setor de raros
tem um importante acervo e, dependendo da área, é indispensável para inúmeros
pesquisadores nacionais e estrangeiros.
Mas a lista de problemas continua: as máquinas leitoras de microfilmes vivem
quebradas; quando funcionam não podem tirar cópias, pois falta papel ou falta
toner. O acervo até hoje não foi informatizado e nem sequer existem banheiros
abertos para o público em quantidade suficiente. Devido à ausência generalizada de
funcionários, o horário de todos os setores que ainda funcionam deve ser reduzido,
indo na contramão das políticas de bibliotecas em todo o mundo, que cada vez mais
ampliam os horários de atendimento: algumas ficam abertas 24 horas.
E, pior, nos três anos e meio de gestão do PT não foi comprado nem um mísero
livro, o que iguala a triste marca cultural da dupla Maluf-Pitta. Diante desse
quadro, é natural que os pesquisadores tenham abandonando a biblioteca. A
solução foi buscar outro local, em São Paulo ou em outro Estado -especialmente a
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Todavia é inexplicável o silêncio
complacente de todos aqueles que utilizaram os serviços da biblioteca e que agora
assistem calados à sua destruição.
Uma política emergencial de conservação e ampliação do acervo, de recebimento
de doações de livros e revistas, de unificação do acervo - pois parte está em Santo
Amaro -, de reposição de funcionários e pleno funcionamento de todos os setores
da biblioteca antecede qualquer programa de reforma, por mais importante que
seja. E mais: a Mário de Andrade tem de voltar a ser uma biblioteca de referência e
de visitação pública.
Marco Antonio Villa, 48, historiador, é professor do Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos e autor de "Jango, um
Perfil (1945-1964)" (editora Globo).
Site: Http://listas.ibict.br/pipermail_virtual/2004-june/thread.html
Acesso: 09/10/06
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100
Anexo IV: Bibliotecas de SP improvisam atendimento: Com a
crônica falta de funcionários, porteiros e vigilantes acabam orientando
pesquisas dos visitantes.
Luísa Brito, Folha de S. Paulo, 30 de setembro de 2005
Um cartaz colado na porta da biblioteca municipal Afonso Schmidt, na zona norte
de São Paulo, alerta os freqüentadores: "Há 10 meses estamos sem limpadora, por
isso continuamos pedindo a compreensão de todos, já que os banheiros continuam
fechados". Na entrada, um envelope colado na parede marca uma contagem já
defasada: "Estamos há 255 dias sem limpadora". A crônica falta de funcionários
nas bibliotecas públicas da cidade de São Paulo faz com que bibliotecários tenham
de ajudar a varrer o chão. Já empregados que deveriam trabalhar como porteiros ou
vigilantes acabam orientando os usuários em suas pesquisas. De acordo com um
levantamento da Secretaria Municipal da Cultura, o déficit no número de
bibliotecários chega a 61%.
A Prefeitura de São Paulo deveria ter 390 bibliotecários, mas possui somente 150
em seus quadros. O problema também ocorre com os assistentes de gestão de
políticas públicas -funcionários com ensino médio concluído que deveriam
trabalhar como auxiliares de pesquisa- cargo no qual a defasagem é de 66%. A
maioria do quadro funcional das bibliotecas da cidade administrada pelo prefeito
José Serra (PSDB) é formada pelos chamados agentes de apoio, empregados que
possuem apenas o ensino fundamental concluído e deveriam exercer atividade
operacional, como porteiros ou vigilantes.
Na falta de pessoal capacitado, no entanto, esses agentes atuam como bibliotecários
em grande parte das unidades. Isso ocorre, inclusive, em unidades de grande porte,
como a Affonso Taunay, na Mooca (zona leste), a Adelpha Figueiredo, no Canindé
(zona leste), e até na Mário de Andrade (centro), a maior biblioteca pública da
cidade, com 3 milhões de itens documentais. A situação é ainda pior na periferia.
Bibliotecas com grande acervo, como a Cassiano Ricardo, a Jamil Almansur
Haddad e a Rubens Borba de Morais, todas na zona leste, e a Afonso Schmidt (na
Freguesia do Ó, zona norte) têm só um bibliotecário cada uma. Acervo
desatualizado e problemas estruturais também são situações comuns em várias
bibliotecas visitadas pela reportagem nos últimos dias.
Usuários perdidos
Os freqüentadores sentem as dificuldades da falta de orientação. "Falta atenção
aqui. Na primeira vez tive dificuldade em entender o índice das fichas e a atendente
disse " é só copiar os números'", contou o supervisor de vendas José Antônio
Alves, 41, freqüentador da biblioteca Mário de Andrade.
"É difícil para quem vem a primeira vez encontrar logo o livro. Não é fácil
procurar. Os funcionários até ajudam, mas são poucos", disse Marcelo de Souza,
24, freqüentador da Afonso Schmidt. Para a aluna de pedagogia Priscila Kacelnikas
Ferreira, 26, os funcionários deveriam ser mais bem informados. "Só dizem aonde
101
está o livro. Não sabem passar informação", diz a universitária, que estava, na
última quarta, na biblioteca Helena Silveira, Campo Limpo (zona sul). Como
também está sem funcionário de limpeza, a unidade teve de interditar um banheiro.
Há só um bibliotecário. Nenhuma das bibliotecas públicas contém o número
mínimo de funcionários exigidos. Só a Mário de Andrade precisa de mais 77
bibliotecários. Tem apenas 24.
A sessão circulante da biblioteca, onde se emprestam livros, é a única municipal da
cidade que fecha para almoço. O intervalo é necessário porque não há funcionários
suficientes. No local, há apenas quatro empregados e nenhum é bibliotecário, diz o
diretor Luís Francisco Carvalho. "Em 1992 havia 76 bibliotecários, mas muitos se
aposentaram e não houve reposição. É fundamental que seja aberto concurso
público", afirmou Carvalho.
A diretora do departamento de bibliotecas públicas e infanto-juvenis da prefeitura,
Maria Zenita Monteiro, reconhece o problema e diz que isso pode até afastar
leitores. "Sem funcionários, o atendimento deixa muito a desejar." Segundo o chefe
do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP (Escola de
Comunicações e Artes), Waldomiro Vergueiro, o atendimento numa biblioteca
deve ser direcionado. "Tem de haver diálogo com o usuário. Ele deve ser orientado
a ler vários materiais e chegar a uma conclusão sobre o tema", disse. "Pesquisar
não é copiar verbete de enciclopédia".
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Anexo V: reportagem sobre a criação dos CEUs
Novo CEU zera déficit de vagas na Região de Capela do Socorro, uma das mais
carentes da capital paulista
A Prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, inaugurou o Centro Educacional Unificado Cidade
Dutra, o quarto centro a ser entregue para a população, sendo o primeiro das seis unidades
que serão inauguradas na Zona Sul da capital. No total, serão 21 megacentros que vão criar
mais de 50 mil novas vagas na rede municipal de ensino. “Esta é a primeira vez que o
Estado está presente com qualidade na periferia da cidade. Não apenas com escola, mas
com teatro, cinema e outras manifestações culturais”, afirmou Marta Suplicy, na festa de
inauguração, no último dia 30.
O CEU Cidade Dutra está atendendo 2.400 crianças. Entre os alunos matriculados, estão os
filhos dos operários que trabalharam na construção da unidade. “Isso nunca aconteceu. As
pessoas constroem as coisas boas para os ricos, nunca para elas mesmas ou para as
famílias. Isso me deixou feliz”, afirmou Marta ao ressaltar que o centro vai quebrar o ciclo
de pobreza ao oferecer aos jovens da periferia novas oportunidades, como o acesso ao
teatro, a instrumentos musicais, à prática de esportes e lazer em geral.
Com o CEU Cidade Dutra, o Navegantes e o Três Lagos, que serão inaugurados ainda
este ano, a região que possuía até agora apenas uma biblioteca infanto-juvenil e um centro
cultural, vai ganhar três teatros com equipamento de qualidade para serem adaptados para
cinema; três bibliotecas com mais de 30 mil volumes entre livros, impressos e áudio
visuais; três telecentros com acesso a internet e cursos de informática básica; salas de
multiuso com estrutura para ensaios de peças teatrais, palestras, atividades artísticas,
102
exibição de vídeos; além de nove piscinas, quadras poliesportivas cobertas e ao ar livre,
padarias comunitárias e estúdios de rádio, tv e fotografia. Os alunos das unidades, os
estudantes das outras escolas da região e os moradores vão participar de todas as atividades
culturais e esportivas desenvolvidas nos centros.
REGIÃO CONCENTRA ALTOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA E DE
ANALFABETISMO
“Com os CEUs abertos, os índices de violência e de evasão escolar diminuirão. Estamos
atendendo regiões onde o poder público nunca olhou”, afirmou Marta Suplicy. Com a
entrega do Centro, a demanda por educação infantil no bairro foi praticamente zerada na
região da subprefeitura da Capela do Socorro, que apresenta grande índice de
analfabetismo, superior cerca de duas vezes e meia ao restante da cidade. Entre os chefes
de família, 17% são analfabetos ou têm apenas um ano de estudo e 44% possuem uma
renda de no máximo três salários mínimos.
CRISTIANE FONSECA – Disponível em:
http://www.horadopovo.com.br/2003/setembro/05-09-03/pag5b.htm
Acesso : 10/10/06
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Anexo VI: Reportagem sobre a educação em São Paulo
Atingir o ensino básico universal: Baixa qualidade compromete
alfabetização
País alcança meta antes de 2015, mas alunos saem sem domínio
elementar de língua portuguesa e matemática
ESTANISLAU DE FREITAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Até 2003, parte dos alunos de três escolas rurais de Capão Bonito -cidade de 47 mil
habitantes no Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do Estado de São
Paulo- chegava à quarta série sem saber ler ou escrever, alguns com dificuldades de
alfabetização. A partir de 2004, o desempenho desses estudantes, com os mesmos
professores, saltou 18 pontos nas avaliações aplicadas.
"O curso de capacitação de professores provocou uma revolução", analisa a exdiretora da escola Ana Benta, Eliana Silva, 40. A "revolução", na verdade, foi de
pequenas modificações na rotina das escolas, como valorização da participação dos
pais, criação de oficinas de leitura, estímulo aos professores para usar recursos
além da lousa e da cartilha e mais trabalhos em grupo.
Resultado de uma parceria com a Fundação Lemann, que deu o curso de formação
para diretores -e estes para os professores-, a iniciativa envolveu 200 escolas de
São Paulo e de Santa Catarina e beneficiou 100 mil alunos. Agora o projeto será
implantado em outras cidades e Estados.
Outra experiência nesse sentido vem da capital paulista. Wesley Lima, 13, e
103
Marcelo Henrique Godói, 13, tocam violino; Izabela Dallmann, 13, violoncelo.
Eles moram no bairro pobre de Cidade Dutra, na zona sul, uma das áreas mais
violentas da cidade, e estudam no CEU (Centro de Educação Unificada) local.
Ali, graças a uma parceria entre o Instituto Pão de Açúcar, o banco Santander e a
prefeitura, foi montada uma orquestra com os alunos, que ensaiam todas as terças e
quintas. Outros três CEUs participam desse projeto.
Quantidade vs. qualidade
Exemplos como os de Capão Bonito e Cidade Dutra ilustram o principal alvo da
responsabilidade social das empresas hoje: educação. "O chamado terceiro setor faz
uma pressão importante para que as pessoas e as autoridades vejam e tratem a
educação como prioridade", afirma o representante da Unesco no Brasil, Jorge
Werthein, 64. "E educação de qualidade", completa.
O Objetivo do Milênio (ODM) relacionado à universalização do acesso à escola
será atingido no país bem antes de 2015, mas só quantitativamente. A qualidade de
ensino continua baixíssima.
Relatório do Saeb 2001 (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), do
Ministério da Educação, revela que o país forma cidadãos semi-analfabetos e que
não dominam nem sequer operações básicas da matemática. A soma de conceitos
"muito crítico" e "crítico" passa dos 52%, na quarta série, e dos 58%, na oitava. O
percentual de "avançado", na quarta série, foi zero, e 0,1% na oitava.
Entre os alunos de quarta série, na prova de língua portuguesa, 22,2% não passaram
do conceito mínimo, "muito crítico"; 36,8% tiveram desempenho "crítico"; 36,2%,
"intermediário"; 4,4%, "adequado", e 0,4%, "avançado".
"Isso significa que mais da metade deles [59%] não entendeu nada da prova e a
devolveu em branco ou rasurada ou entendeu algo, mas não conseguir montar uma
única frase para responder", analisou o professor de macroeconomia da PUC-MG
Márcio Antônio Salvato, 35, coordenador do laboratório do Sudeste de
acompanhamento de testes do ODM para o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento.
Além do Saeb, o Brasil participa do Pisa (Programa Internacional para Avaliação
do Estudante), sob a coordenação da OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico). A prova tem conceitos de 1 a 5.
Na avaliação da língua, 55,7% dos brasileiros não passaram do conceito 1. Apenas
3,1% chegaram no 4; e 0,6%, no 5.
Os mexicanos foram melhores: 6,9% dos alunos chegaram a 4 ou 5, e 44% ficaram
abaixo de 1. Os americanos se destacaram mais: 17,9% não passaram de 1, mas
33,7% alcançaram 4 ou 5.
Segundo o IDH-Educação (Índice de Desenvolvimento Humano específico da
104
área), o Brasil tinha índice 0,745 em 1991 e melhorou um pouco, chegando a 0,849
em 2000. Era o mesmo nível de Costa Rica, Argélia e Vietnã.
Para 2015, as projeções apontam um IDH de 0,906, próximo do que já têm hoje
Israel e os vizinhos Argentina, Uruguai e Chile. O índice varia de 0 (nota mais
baixa) a 1 (mais alta).
Para piorar, o acesso aos ensinos médio e superior tornam-se gargalos. A Taxa de
Escolaridade Líquida (percentual da população estudando no nível de escolaridade
de sua idade) no nível fundamental está em torno de 94%. Mas a Taxa de
Escolaridade Líquida no ensino médio despenca para 40%. E cai para menos de
10% no ensino superior.
Ano da qualidade
Nem o governo nega a situação do ensino, tanto que o Ministério da Educação
instituiu 2005 como o ano da qualidade da educação básica. Entre outras medidas,
haverá a troca do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Fundamental e Valorização do Magistério) pelo Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação), que estende financiamentos até o ensino médio. "Com o novo fundo,
cerca de R$ 4 bilhões devem ser injetados", diz o secretário-executivo do Conselho
Nacional de Educação, Ronaldo Mota.
Além disso, a proposta de emenda constitucional prevê o aumento da vinculação de
tributos federais à educação dos atuais 18% para 22,5%, em quatro anos.
A Unesco recomenda gastos anuais de 6% do PIB na educação (somando recursos
federais, estaduais e municipais). "Faz décadas que o Brasil não atinge o mínimo.
Fica entre 4,5% e 4,6% do PIB. Para pagar a dívida educacional, o país precisa
investir mais", alerta Werthein.
FOLHA ONLINE BRASIL - 31/03/2005 – Disponível em:
http://www.folhaonline.com.br
Acesso:31/10/06
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105
APÊNDICE I
Síntese de Diagnóstico Organizacional
Título
“Biblioteca Rubem Braga do Centro Educacional Unificado Cidade
Dutra: um diagnóstico organizacional”
Objetivo Geral
Avaliar o desempenho da Biblioteca Rubem Braga.
Objetivos Específicos
a) – Analisar espaço físico e sua adaptação ao acervo, públicos e funções;
b) – Analisar serviços executados;
c) - Analisar perfis de usuários, suas necessidades e o índice de satisfação.
Justificativas
Uma biblioteca tecnicamente subordinada a diferentes equipes de
Secretarias Municipais; desprovida de setorização, bem diferente de outras
bibliotecas públicas tradicionais; inserida num grande projeto educacional e
que ainda não foi avaliada. Enfim, o respectivo diagnóstico se justifica pelo
seu caráter exploratório e informativo sobre o desempenho geral de uma
biblioteca tão singular.
Metodologia
A coleta de dados foi apoiada em fontes variadas. O projeto inicial definiu
objetivos e metas organizacionais da biblioteca, apontando suas prioridades
em termos de serviços e atividades, com as respectivas etapas e a
formulação de problemas detectados. Foram aplicados questionários a cinco
funcionários e a quarenta usuários reais da biblioteca; entrevistas com os
coordenadores dos Núcleos de Ação Educacional e de Ação Cultural, além
de contato informal com um dos arquitetos responsáveis pelo projeto básico
dos CEUS – Centros Educacionais Unificados. Outras fontes consultadas
foram o respectivo projeto; relatórios; estatutos; normas; regimentos;
conversas informais, e muita observação in-loco.
Problemas detectados na Instituição CEU:
 Complexidade ao se reunir diferentes secretarias como
Educação/Cultura/ Esportes;
 Falta de sincronismo e interatividade entre gestão, núcleos, biblioteca e
comunidade, quanto ao fluxo de informações, inclusive internamente;
 Reuniões gerais inexistentes;
 Com recursos improvisados, a comunicação não chega ao grande
público;
 Problemas de relacionamento com equipes sem muito contato informal
etc.
106
Problemas detectados na Biblioteca:
 Escolarizada. Onde está o seu caráter público? (pouco trabalhado!);
 Apenas equipamento de apoio, sem autonomia, e sem organograma
próprio;
 Equipe de seis funcionários, sendo que a proposta inicial era de doze,
sobrecarrega; leva ao desvio de funções; compromete o atendimento e
serviços;
 Formação de acervo sem estudo de comunidade, e com faltas em muitas
áreas;
 Falta de orçamento próprio que gera falta de materiais e que interrompe
serviços;
 Há interrupções de assinaturas de periódicos;
 Os periódicos não são indexados;
 Faltam sinalização e móveis mais adequados;
 Não possui um site e se comunica de maneira improvisada;
 Problemas de automação: o sistema não gera determinados relatórios;
 Funcionários apostam na setorização para melhorar acústica e
atendimento;
 A política de atendimento não define prioridades;
 Faltam políticas de educação e reeducação de usuários;
 A biblioteca está no paradigma do acervo e se distancia do social;
 Falta conhecer as necessidades de informação da comunidade e oferecer
a ela informações práticas para que possa resolver problemas do seu
cotidiano etc.
Considerações finais: No regimento padrão dos CEUs, incluindo-se aí o
CEU – Cidade Dutra, diz que a biblioteca é um equipamento de apoio às
atividades fins e sua coordenadora de projetos dará auxilio ao coordenador
do Núcleo de Ação Cultural. O que se percebe nesse contexto é a falta de
autonomia da biblioteca, para se construir a sua identidade, e um largo
distanciamento entre esse núcleo e a realidade da biblioteca, com seus
serviços, seu público interno, seus funcionários, e sua comunidade externa.
Algo mais estreito precisa se tornar o elo dessa relação. Algumas diretrizes
precisam ser estabelecidas e discutidas por todos, incluindo-se aí, claro, a
vontade política dos dirigentes para dar voz à Rubem Braga.
João Batista de Assis Neto.
Síntese de Diagnóstico elaborado a partir de proposta final de aproveitamento da
disciplina “Planejamento Bibliotecário I”, ministrada pela Profa. Dra. Maria
Christina Barbosa de Almeida, 7º semestre do curso de Biblioteconomia da
ECA/USP.
São Paulo – Agosto/2005
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APÊNDICE II
A MEDIAÇÃO EM FOCO: UM SIMPLES RELATO
Com grande prazer – e por que não dizer, com encantamento – inicio
este meu relato sobre a elaboração de um trabalho final de disciplina tão
singular. Singular por sair daquele enquadramento padrão “capa; página de
rosto; sumário; introdução...” e por deixar correr solta a liberdade de expressão,
sem abolir a importância de se reter conceitos e conteúdos discutidos em sala
de aula, claro. Afinal, eles foram os conectores de todo o processo de criação.
E quando se fala de processo, vem à tona a idéia de construção cotidiana
de algo no seu todo. Apesar dessa pluralidade, vou fazer apenas um recorte de
tudo que vi, ouvi e senti, ao tentar traduzir iconograficamente o conceito
“mediação” num ambiente de biblioteca com missão pública e escolar. Trabalho
nesse lugar, mas com uma câmera na mão e os conceitos na cabeça, confesso
que perdi a identidade de funcionário. Deixá-la morrer, por instantes, foi
fundamental na relação com o outro, no caso, aqui, os mediadores do espaço,
avaliado sob a ótica da câmera.
A lente permitiu um “outro olhar”. No enquadramento, tentei
ressignificar a realidade do lugar, há pouco tão igual. Explico: ao fotografar
catracas, alambrados, os senti como “barreiras à mediação”. Ao captar o belo
sorriso da contadora de histórias, vi algo pouco comum em recepção de áreas
públicas. Quando enquadrei lombadas de livros, os números de classificação
saltavam importantes dizendo: localize-me! Aqui está o que procuras! E onde
estariam as pessoas?
Bem, fotografei muitas. E muitas imagens disseram muito. Sobre
cadeirinhas, três meninas liam, teatralizando a história. Antes, a olho nu, juro
que não perceberia tal magia num gesto de leitura. Pude notar que elas estavam
se reconhecendo naquele pequeno espaço. Aquele, como poucos numa
biblioteca pública, era um momento de expressão. Eis, diziam-me os olhos da
câmera, aqui há “indício” de um processo interativo. Elas estavam produzindo
108
algo, e me pareciam bem felizes. Só não sei se veria isso novamente, pois isso,
talvez, não fizesse parte da política do lugar. Que pena! Continuei clicando e
imaginando essa tal “política do lugar”.
Política do lugar seria o que alguém decidisse colocar ali? Algo
estrategicamente pensado à disposição de outro alguém? Mas esse alguém me
parecia ser ninguém, sem forma, sem cor, sem nome. Impossível entender?
Explico: quem faz o quê pra quem? Há um projeto? Qual é a construção
simbólica? Ao fotografar, passei a questionar isso, também. Ah, reflitam
comigo: quando aquelas três meninas descerem das cadeirinhas, o processo de
aprendizagem delas terá continuidade?
Mesmo na dúvida, o meu olhar se apropriou da lente e captou outra
cena: um rapaz retira da estante um livro de “História do Brasil”. Tudo bem, ele
teve autonomia na localização, mas...quem ali está preocupado com o seu grau
de apropriação das informações contidas naquele exemplar? Será que ele irá
internalizar conhecimentos e modificar seus pensamentos e atitudes?
Ao computador, uma jovem posa para a foto. Retomo as indagações:
isso é mesmo inclusão digital? Está ocorrendo interação dela com a linguagem
da máquina? Alguém aqui se preocupa se suas habilidades estão sendo
desenvolvidas para resolver problemas do seu cotidiano? Digo-lhes apenas que
por detrás da câmera não obtive nenhuma resposta, mas a lente desnudava cada
problemática, como metáfora da intervenção.
Vocês devem estar cansados de tanto questionamento, não? As fotos
também trouxeram afirmações tais como: quando fotografamos, a realidade tem
diversos ângulos de observação; a lente tem o poder de aglutinar aspectos
invisíveis a olho nu; a experiência do outro parece não valer muito numa
instituição pública; o mecanismo da interação, do olhar o outro, não se faz
presente nas atividades fotografadas, uma vez que não aparece claramente
nenhum vínculo entre elas, ou seja, algo que demonstre ser uma construção
cotidiana como parte de um projeto. Eis aí uma palavra que parece figurar
apenas no papel.
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A biblioteca em questão, por estar dentro de uma escola, sem nenhuma
atividade aparente integrada com professores e alunos, além de rodeada por
piscinas e casarões, pouco faz para que seus freqüentadores nela se
reconheçam; minhas lentes não conseguiram captar as veias – eu disse veias
com o “e” fechado -
educativas da biblioteca. Sei que elas existem, mas
parecem adormecidas a espera de alguém com interesse em despertá-las, ou
implementá-las, através não só de políticas públicas, mas de verdadeiras
relações interativas e de um processo de sensibilização.
Eis o clique final para abrir novos horizontes: ainda há tempo de
aprender a olhar mais o outro, com os nossos próprios olhos. Ah, aquela minha
identidade de funcionário está, agora, com seu foco mais ajustado e enxergando
com maior nitidez, graças as boas intervenções da “câmera” e de “Regina
Obata” ao expor com clareza o rico conteúdo da disciplina “A Biblioteca Com
Função Educativa: a Criança e o Jovem”. Todos foram grandes mediadores
de minha imersão no ambiente fotografado.
João Batista de Assis Neto
Texto elaborado a partir de proposta parcial de aproveitamento da disciplina
“Biblioteca com função educativa: a criança e o jovem”, ministrada pela Profa.
Dra. Regina Obata, 8º semestre, curso Biblioteconomia, ECA/USP, 2005.
Dezembro / 2005
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APÊNDICE III
Os meus mediadores
Os meus pais foram os primeiros “mediadores” que tive. Eles foram os
conectores entre mim e o mundo. A partir de uma relação, fui inserido no contexto
de suas vidas, criei formas, ocupei espaços e comecei a perceber tudo a minha
volta. Outros “mediadores” levaram-me a explorar o desconhecido na ânsia por
sobreviver: o choro era – acredito - para expressar emoções como o medo; a dor; a
fome, e logo ganhava o peito com leite, ou me livrava de fraldas molhadas; o riso
que dava logo vinha acompanhado de carícias, ou de palavras meigas; os membros
inferiores e superiores – ainda não tão fortes – sustentavam movimentos tímidos
rumo a longas caminhadas futuras; os olhos, os ouvidos, o paladar e o tato, iam
reconhecendo pelo caminho o que podiam. Enquanto isso, minha mente registrava
cada gesto, cada voz, cada cor, cada forma, cada sabor e dissabores. Enfim, cresci,
porque esse era o processo.
Cresci em meio a tantas outras fontes de mediação que me ajudaram na
criação e interpretação da idéia de mundo, continuamente. As instituições família,
igreja, escola, formaram o tripé de muitos ensinamentos e aprendizados; a cultura,
o poder de classes, o grupo étnico, as comunicações com seus meios, em especial a
linguagem, também me instruíram na construção de sentidos sobre o que eu via,
ouvia e sentia. E, com isso, meus pensamentos voaram, às vezes muito baixo,
outras vezes acima do condor. E desses altos e baixos fui somando experiências,
subtraindo dúvidas. O cotidiano e tudo que vivi e vivo se transformam em grandes
mediadores para que eu possa ter as minhas percepções, me apropriar de
informações, estabelecer relações com o “outro”, resolver crises, adotar uma
conduta e enfrentar os leões.
Enfrentamento, seja do que for, é um termo duro e requer força e ajuda de
facilitadores ao praticá-lo. Partindo desse pressuposto, reconheço “meus pais” – in
memorian - “meus bons professores democráticos” e “minha mente” como os
meus melhores mediadores! Mediadores entre o mundo que desenho; aquele que
tenho e o outro que eles esperam que eu conquiste.
João Batista de Assis Neto.
Texto elaborado a partir de proposta da disciplina
“Biblioteca com função
educativa: a criança e o jovem”, ministrada pela Profa. Dra. Regina Obata, 8º
semestre, curso Biblioteconomia, ECA/USP, 2005.
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JOÃO BATISTA DE ASSIS NETO