ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Maj Inf MAYKON DUTRA BARBOSA
A participação de Luís Carlos Prestes na
Intentona Comunista de 1935 e seus reflexos
para o Exército Brasileiro.
Rio de Janeiro
2015
A participação de Luís Carlos Prestes na
Intentona Comunista de 1935 e seus reflexos
para o Exército Brasileiro.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em Ciências
Militares.
Orientador: Ten Cel Cav RAFAEL CUNHA DE ALMEIDA
Rio de Janeiro
2015
B238p BARBOSA, MAYKON DUTRA.
A participação de Luís Carlos Prestes na Intentona
Comunista de 1935 e seus reflexos para o Exército Brasileiro
/ MAYKON DUTRA BARBOSA. 2015. 69 f. : il ; 30cm.
Trabalho de Conclusão de Curso - Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2015.
Bibliografia: f. 67 – 69 .
1. Luís Carlos Prestes. 2. Intentona Comunista. 3. Exército
Brasileiro. 4. Anticomunismo. I. Título.
CDD: 981.061
Maj Inf MAYKON DUTRA BARBOSA
A participação de Luís Carlos Prestes na
Intentona Comunista de 1935 e seus reflexos
para o Exército Brasileiro.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em Ciências
Militares.
Aprovado em ____ de março de 2015.
COMISSÃO AVALIADORA
________________________________________________
RAFAEL CUNHA DE ALMEIDA – Ten Cel Cav – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
________________________________________________________
JULIO CESAR TOLEDO SOUSA DE ALMEIDA – Ten Cel Inf – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_______________________________
CLAYTON VAZ – Ten Cel Inf – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
Dedico esta obra a minha esposa e a
minha filha como uma homenagem a tudo
que elas representam para mim.
AGRADECIMENTOS
A todos meus companheiros, subordinados e superiores hierárquicos que, direta ou
indiretamente, me incentivaram e colaboraram para que esta missão fosse cumprida.
Ao meu orientador, Tenente Coronel de Cavalaria Rafael Cunha de Almeida, meus
sinceros agradecimentos pela orientação objetiva na realização deste trabalho.
Aos meus pais, pela minha educação e formação, me mostrando a importância da
dedicação e da disciplina, como fontes prementes do sucesso pessoal.
A minha digníssima esposa, Leny Maria dos Santos Barbosa, pela compreensão e
paciência na conclusão de meu trabalho, apoiando-me nos momentos em que este
trabalho foi priorizado. Meu eterno amor e gratidão.
A minha filha, Maria Manuela dos Santos Barbosa, minha fonte de inspiração e
razão de viver.
Agradeço, principalmente, a DEUS, por ter me dado saúde, força e coragem, para
enfrentar todos os obstáculos e por ter colocado todas essas pessoas, citadas
anteriormente, em minha vida.
“Não há como a Força do Estado para
garantir a liberdade dos seus membros.”
(Jean-Jacques Rousseau)
RESUMO
Luís Carlos Prestes foi um político brasileiro que utilizava o pensamento marxistaleninista como a única forma do Brasil alcançar um nível de igualdade social jamais
vista pelo país. Pelo fato de ter sido militar do Exército Brasileiro e, posteriormente,
tornar-se um comunista, provocou uma reviravolta na política nacional, pois,
paradoxalmente, deixou de ser um militar positivista para transformar-se num
militante das causas marxistas. No início, assim como os outros militares rebeldes,
Luís Carlos Prestes possuía ideias moderadas, durante o movimento tenentista. Os
ideais revolucionários do grupo provinha, em grande medida, da revolta contra as
mazelas atribuídas às estruturas políticas em vigor, revolta essa associada a
sentimentos corporativos inflamados por choques com políticos civis, notadamente o
Presidente Artur Bernardes. Porém, a incursão pelo interior do Brasil e o testemunho
da situação miserável da maioria do povo brasileiro levaram Luís Carlos Prestes a
abraçar posturas mais radicais do que a maioria dos tenentistas. Após uma estadia
na União Soviética, Luís Carlos Prestes retornou clandestinamente ao Brasil, sendo
aclamado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora, chegando a liderar
uma tentativa revolucionária de tomada do poder contra o Presidente Getúlio
Vargas. Ao longo dos anos, atuou na política nacional, sempre defendendo o
comunismo, tentando promover a conquista do poder por meio da luta de classes e
da implantação do socialismo utópico de Karl Marx, sistema político-econômicosocial, segundo o qual considerava a única forma de eliminar as desigualdades no
país. Luís Carlos Prestes participou da Intentona Comunista de 1935, quando alguns
quarteis do Exército Brasileiro – em Natal, Recife e Rio de Janeiro – eclodiram um
levante comunista tentando promover um golpe de Estado que fora frustrado
rapidamente pelas tropas legalistas.
Palavras-chave: Luís Carlos Prestes; Intentona Comunista; Exército Brasileiro;
Anticomunismo.
RESUMEN
Luís Carlos Prestes fue un político brasileño que consideraba al pensamiento
marxista-leninista como la única forma para que Brasil alcance un nivel de igualdad
social como jamás se había visto en el país. Por el hecho de haber sido militar,
integrante del Ejército de Brasil, y posteriormente haberse convertido en comunista,
causó gran alboroto en la política nacional, pues, paradoxalmente, dejó de ser un
militar positivista para transformarse en un militante de las causas marxistas. Al
inicio, durante el movimiento tenientista, Luís Carlos Prestes poseía ideas
moderadas, al igual que los otros militares rebeldes. Los ideales revolucionarios del
grupo provenían, en gran medida, de la revolución contra las “llagas”, atribuidas a las
estructuras políticas en vigor, esa revolución estuvo asociada a sentimientos
corporativos inflamados por choques con políticos civiles, principalmente con el
presidente Artur Bernardes. Sin embargo, la incursión hacia el interior del Brasil y el
presenciar la situación miserable en la que se encontraba la mayoría del pueblo,
llevaron a Luís Carlos Prestes a adoptar posturas más radicales que las de los
demás tenientistas. Después de una estadía en la Unión Soviética, Luís Carlos
Prestes retornó de manera clandestina al Brasil, siendo nombrado “Presidente de
Honor” de la Alianza Nacional Libertadora, llegando a liderar un intento de golpe de
estado contra el presidente Getúlio Vargas. En los años posteriores actuó en la
política nacional, promoviendo la conquista del poder por medio de la lucha de
clases y buscando la implantación del socialismo utópico de Karl Marx, sistema
político-económico-social considerado por él, como el único capaz de eliminar las
desigualdades existentes en el país. Luís Carlos Prestes participó en el Intentona
Comunista de 1935, cuando algunos de los cuarteles del Ejército de Brasil – en
Natal, Recife y Rio de Janeiro – un levantamiento comunista estalló tratando de
fomentar um golpe de Estado que fue frustrado rápidamente por las tropas leales.
Palabras clave: Luís Carlos Prestes; Intentona Comunista; Ejército de Brasil;
Anticomunismo.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Comando da Coluna Miguel Costa – Prestes reunido na cidade de
Porto Nacional, norte de Goiás, em 28/10/1925.................................... 29
Figura 2 – Percurso realizado pela Coluna Miguel Costa – Prestes dentro do
território brasileiro..................................................................................
32
Figura 3 – Fachada do Regimento Policial de Natal após a ação do 21º BC e
dos civis comunistas..............................................................................
44
Figura 4 – Flagrante da condução dos prisioneiros que participaram da revolta
no 29º BC em Recife.............................................................................. 47
Figura 5 – Edifício da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, depois
transformado em sede do 3º RI.............................................................
50
Figura 6 – Prisão de Luís Carlos Prestes na Rua Honório, no Meier, no dia
05/03/1936.............................................................................................
53
Figura 7 – Monumento da Praia Vermelha em homenagem às vítimas da
Intentona Comunista..............................................................................
57
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANL
–
Aliança Nacional Libertadora
AIB
–
Ação Integralista Brasileira
BC
–
Batalhão de Caçadores
BG
–
Batalhão de Guardas
CMRJ
–
Colégio Militar do Rio de Janeiro
CPOR
–
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva
ECEME
–
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
ESG
–
Escola Superior de Guerra
EUA
–
Estados Unidos da América
PCB
–
Partido Comunista Brasileiro
RI
–
Regimento de Infantaria
URSS
–
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO............................................................................................. 11
2
METODOLOGIA........................................................................................... 16
3
OS ANTECEDENTES DE LUÍS CARLOS PRESTES................................ 20
3.1
O TENENTISMO......................................................................................... 22
3.2
A COLUNA MIGUEL COSTA – PRESTES................................................. 27
4
A TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO................................................... 33
4.1
OS PREPARATIVOS PARA O GOLPE DE ESTADO................................ 34
4.2
O LEVANTE COMUNISTA DENTRO DOS QUARTEIS............................. 41
4.2.1 O levante em Natal...................................................................................... 42
4.2.2 O levante em Recife.................................................................................... 45
4.2.3 O levante no Rio de Janeiro........................................................................ 49
4.2.4 A prisão de Luís Carlos Prestes.................................................................. 53
5
OS REFLEXOS DA INTENTONA COMUNISTA PARA O EXÉRCITO
BRASILEIRO.............................................................................................. 55
6
CONCLUSÕES............................................................................................ 62
REFERÊNCIAS............................................................................................ 67
11
1 INTRODUÇÃO
Luís Carlos Prestes é um dos personagens mais polêmicos e controversos da
história política nacional, pois se destacou por meio da liderança exercida, tanto
como tenente e capitão do Exército Brasileiro, durante sua curta carreira militar,
quanto na militância voltada para a ideologia marxista-leninista1.
Em sua obra literária, Silva afirma que:
“Ao tomar conhecimento das cartas atribuídas a Artur Bernardes contra o
Marechal Hermes da Fonseca, Luís Carlos Prestes começou a envolver-se
em questões políticas e sociais, dedicando-se ao combate contra o futuro
Presidente da República que estava sendo programado pelos militares
dentro dos quartéis. Já como capitão, liderou o foco de uma grande revolta
na região das Missões, em Santo Ângelo, no interior do Rio Grande do Sul.
Sua principal meta era mostrar ao povo brasileiro as mazelas da política das
oligarquias, favorecendo uma possível tomada do poder com o apoio
popular.” (SILVA, 2004, p. 176)
Abordar a vida política de Luís Carlos Prestes é uma tarefa de grande
responsabilidade, pois traz à tona o passado de uma figura relevante para a história
do Brasil. No entanto, não é simplesmente relatando a maioria dos fatos históricos
que a compreensão das polêmicas existentes em torno de seu nome seja possível,
pois há algo além das narrativas que deve ser apurado, debatido e divulgado.
Deve-se ter cautela durante a percepção das correntes ideológicas as quais
Luís Carlos Prestes defendeu, inicialmente, como militar do Exército Brasileiro; logo
após, como líder do movimento tenentista2, na década de 1920; e, posteriormente,
como militante comunista, durante grande parte de sua vida.
A biografia escrita por Jorge Amado – O Cavaleiro da Esperança: a vida de
Luís Carlos Prestes – é a fonte bibliográfica disponível mais conhecida que elucida
esse personagem histórico. Cabe ressaltar que, essa biografia foi um dos motivos
que contribuíram para a grande popularidade de Luís Carlos Prestes, tornando-se
um político de relevância nacional e internacional, devido às suas posições
ideológicas contrárias ao capitalismo e favoráveis ao comunismo, seguindo a
rivalidade existente entre estas ideologias, durante grande parte do século XX.
_____________
1
A ideologia marxista-leninista é uma linha de pensamento político que combina uma adaptação das teses do
filósofo alemão Karl Marx por parte de Vladimir Lenin, formando as bases ideológicas para a criação do bloco
comunista centrado na União Soviética.
2
O movimento tenentista surgiu na década de 1920 e era composto por jovens oficiais do Exército Brasileiro
que pretendiam levantar a população contra o poder da oligarquia dominante na época e, por meio da revolução,
exigir reformas políticas e sociais, como a renúncia do Presidente Artur Bernardes, a convocação de uma
Assembleia Constituinte, o voto secreto e, consequentemente, o fim da dominação política dos estados de São
Paulo e Minas Gerais.
12
A primeira metade do século XX foi um período que abalou as estruturas do
mundo. Nele, construíram-se, refizeram-se e reafirmaram-se identidades e
imaginários. Nas disputas pelos espaços de poder, um “novo” homem emergiu,
sobre a velha, mas repensada, economia de mercado. As duas grandes guerras
mundiais e a grave crise econômica de 1929 geraram, em parte, um sentimento de
derrota que indicava a inexistência de alternativas para o desenvolvimento políticoeconômico-social de todos os países do mundo. Além disso, surgiu a incerteza de
como o mundo seria regido por meio de um organismo internacional capaz de impor
a ordem e a paz mundial.
É nesse complexo contexto histórico que se encontra nosso objeto de estudo e
o sentido desta pesquisa, pois a imagem de Luís Carlos Prestes surgiu em um
período de intensas disputas, como exemplos que foram glorificados e seguidos
pelos partidários de seus ideais. Porém, na segunda metade do século XX, deve-se
ressaltar que houve uma reconstrução da imagem desse personagem, sofrendo
mutações que se seguem até os dias atuais e caracterizando uma condição de fiel
escudeiro das causas comunistas e inimigo do capitalismo.
Os diversos olhares sobre Luís Carlos Prestes constituem a intenção
dissertativa deste estudo, pois estes olhares estão voltados, majoritariamente, para o
campo das racionalidades, sendo a literatura o subsídio prioritário para o
desenvolvimento da análise a que esta pesquisa se propõe.
Apesar da biografia escrita por Jorge Amado tratar ou citar O Cavaleiro da
Esperança como o grande herói revolucionário, também tece uma reflexão em torno
do período histórico, do projeto de poder e da identidade dos grupos sociais em que
estão inseridos os líderes comunistas que projetavam uma tomada do poder por
meio da luta armada, principalmente o PCB3, a Komintern4 e, consequentemente,
seus organismos de controle das massas populacionais.
Durante o desenrolar do presente estudo, Jorge Amado não será tão evocado,
pois, em virtude do seu envolvimento com o movimento comunista ao longo de sua
vida, sabe-se que a tendência era bastante favorável a Luís Carlos Prestes e seus
ideais marxista-leninistas.
_____________
3
O Partido Comunista Brasileiro foi fundado em 1922 e é um partido político de esquerda, ideologicamente
baseado na teoria marxista-leninista.
4
Termo com que se designa a Terceira Internacional ou Internacional Comunista (do alemão Kommunistische
Internationale) uma organização internacional fundada por Vladimir Lenin e pelo Partido Comunista Soviético,
em março de 1919, para reunir os partidos comunistas de diferentes países, durando até 1943.
13
O debate sobre os campos da História e da Literatura entra em cena, pois a
produção artística de Jorge Amado, identificada como uma obra biográfica. Assim,
devem-se obter respostas ou reflexões sobre este tema, considerando a
compreensão da questão relativa ao poder que emana do povo, lema que não foi
obedecido após a consolidação das revoluções comunistas mais conhecidas da
história mundial: a Russa em 1917 e a Cubana em 1959.
Jorge Amado reivindica a veracidade histórica para as tramas narradas sobre
seu personagem, como também para o momento histórico abordado. Engajado e
muito bem situado em relação às elaborações construídas pelos seus grupos
políticos e sociais na época que seu livro fora escrito, o literato se coloca à
disposição da luta pelo poder, diretamente ou de forma subliminar, tendo no discurso
da verdade histórica uma das principais armas de convencimento do leitor para sua
causa política.
As possíveis interpretações do surgimento da memória são apresentadas
inicialmente como uma polarização ideológica. No entanto, a análise da utilização da
memória pela literatura e a consequente produção de efeito no leitor levam a
acreditar na defesa das ideias utilizáveis que são feitas da memória quando se
entrecruzam, voluntária ou involuntariamente.
Nesse sentido, será estabelecido um recorte temporal rígido para a análise
proposta e, dessa forma, o período de 1922 a 1935 será tratado com maior ênfase,
visto que Luís Carlos Prestes destacou-se na participação do movimento tenentista
de 1922 a 1924; liderou a grande marcha da Coluna Miguel Costa – Prestes, entre
1924 e 1927; refugiou-se na extinta União Soviética e viveu clandestinamente no
Brasil, durante o período de 1927 a 1935; e, especificamente, participou da
fracassada tentativa de golpe de Estado, no levante conhecido como a Intentona
Comunista, em novembro de 1935, sendo preso por quase 10 (dez) anos, por causa
dessa desastrosa ação.
Percebe-se que existem diversas opções documentais para compreender o
personagem de Luís Carlos Prestes, pois a gama de documentos e pesquisas é
muito ampla. Da participação no movimento tenentista, no princípio da década de
1920, até a campanha à eleição presidencial de 1989 conferem a Luís Carlos
Prestes quase 70 (setenta) anos de envolvimento com a política brasileira enquanto
partidário e dirigente político.
14
A participação de Luís Carlos Prestes na Intentona Comunista de 1935 é
exposta nesse trabalho se desenvolvendo em 3 (três) eixos e capítulos: I – os
antecedentes de Luís Carlos Prestes, abordando o movimento tenentista e a Coluna
Miguel Costa – Prestes; II – a tentativa de golpe de Estado, focando os preparativos
para o golpe de Estado e o levante comunista dentro dos quarteis; e, finalmente, III –
os reflexos da Intentona Comunista de 1935 para o Exército Brasileiro, questionando
o surgimento do mito e o seu papel na história política brasileira.
Cabe ressaltar que a imagem de Luís Carlos Prestes na contemporaneidade é
enfocada em diversos ângulos:
- pelas agremiações e organizações denominadas de esquerda existentes no
Brasil, que o idolatram e veem como líder carismático que teria plenas condições de
solucionar todos os problemas de desigualdade social no Brasil, por meio da luta
armada e a ditadura do proletariado, conforme imaginavam os comunistas;
- pela historiadora e única filha, Anita Leocádia Prestes, que escreveu diversos
livros sobre a vida de seu pai, tendo-o como homem de caráter ilibado, voltando-se
para a luta contra as desigualdades sociais no país;
- por historiadores que buscaram a fundo as reais intenções da luta
revolucionária de Luís Carlos Prestes, aliando-se ao sistema comunista soviético,
provocando diversas ações clandestinas, descumprindo as normas e leis brasileiras
ao confrontar o sistema político vigente da época; e
- pelos militares que não aceitavam suas convicções político-ideológicas, haja
vista Luís Carlos Prestes ser considerado o mentor da Intentona Comunista de 1935,
onde dezenas de irmãos de armas morreram sem o direito de se defender, sendo
atacados covardemente, dentro dos quarteis que serviam à Pátria, por comunistas
que cumpriam ordens da Komintern.
Luís Carlos Prestes é discutido pelos historiadores como referência às
propostas de uma reconstrução de identidades. Os esquerdistas e comunistas o
veem como grande líder nacional e se apresenta como exemplo digno de ser
seguido pelos seus partidários, sendo considerado como O Cavaleiro da Esperança.
Em contrapartida, os demais escritores de centro e de direita, o enxergam por
meio de suas ações clandestinas, se apresentando como sujeito denominado de
traidor e inimigo da nação, posto como antíteses às imagens nostálgicas existentes,
o que lhe foi conferido o título sugestivo de O Cavaleiro da Desesperança.
15
Existe uma discussão sobre a fidelidade de Luís Carlos Preste à ética do
proletariado e de seu partido revolucionário, as questões distintivas entre os
gêneros, as origens e provações revolucionárias desse personagem, que lhe
concede honrosamente as imagens de exemplos dignos a serem seguidos pela
militância e pelo povo brasileiro, segundo os esquerdistas.
Deve-se, portanto, questionar a importância desse político para o país, levando
em consideração as reais intenções desse personagem, ao sugerir, em muitas
entrevistas, a implantação da ditadura do proletariado, devido às circunstâncias
políticas vivenciadas ao longo do período em que viveu no período de 1898 a 1990.
Sendo assim, o delineamento da pesquisa contempla uma pesquisa bibliográfica da
participação de Luís Carlos Prestes na Intentona Comunista de 1935, respeitando-se
as peculiaridades de sua vida durante os diversos períodos: inicialmente, sua
formação militar; a seguir, sua participação no movimento tenentista; o comando na
epopeia da Coluna Prestes; o fracasso da Intentona Comunista de 1935; e
finalmente os anos na prisão e na clandestinidade, concluindo com sua carreira
política e os reflexos para o Exército Brasileiro.
Contudo, deverá ser considerada a importância de realizar um estudo
aprofundado da personificação de Luís Carlos Prestes. Assim, o trabalho visa a
necessidade de uma análise interpretativa de um dos grandes protagonistas da
história política nacional, tendo como foco principal suas ações por meio de pesquisa
tanto daqueles autores que o idolatram quanto daqueles que o criticam.
Outra questão que fará parte do trabalho versa sobre a conjuntura política
brasileira naquela época, isto é, se havia um ambiente propício para a implantação
de um regime revolucionário; se a massa estava realmente preparada e se existia
uma consciência de classe que proporcionasse uma ação efetiva dos revolucionários
no sentido de solidificar uma revolução comunista no país, contribuindo para o
mesmo sucesso alcançado pelos russos em 1917.
Portanto, as concepções inverídicas concernentes ao tema, como os mitos e
estórias contadas pelos insurgentes, serão debatidos no decorrer da pesquisa. A
utilização de métodos e premissas teóricas de caráter científico será capaz de
discutir sobre os acontecimentos de 1935, suas causas e consequências para o
país, principalmente para o Exército Brasileiro, além de seu significado para os
militares que continuam, até hoje, povoando a memória dos mesmos.
16
2 METODOLOGIA
Esta seção tem por finalidade apresentar o caminho que se pretende percorrer
para realizar a pesquisa e solucionar o problema em questão, especificando os
procedimentos necessários para a conclusão do trabalho.
Será necessária uma dedicação imparcial para obter as informações de
interesse e analisá-las determinando a definição de procedimentos para a coleta dos
dados relevantes à pesquisa, pois o assunto abordado é polêmico e controverso.
2.1 TIPO DE PESQUISA
Seguindo a taxonomia definida por Gil (2002), a pesquisa será exploratória,
bibliográfica e qualitativa.
Quanto à classificação com base em seus objetivos será exploratória, pois o
levantamento bibliográfico far-se-á necessário para a compreensão do problema
proposto. Apesar de possuírem inúmeros trabalhos a respeito da Intentona
Comunista de 1935, não foi encontrado nenhum estudo na mesma direção, nem no
campo militar, nem no campo acadêmico que realizasse a mesma abordagem do
presente estudo. Assim, segundo Gil, essa pesquisa:
“[...] tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explicitou a construir hipóteses. Pode-se dizer
que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias
ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante
flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos
relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essa pesquisa envolve
levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos
que estimulem a compreensão. Embora o planejamento da pesquisa
exploratória seja bastante flexível, na maioria dos casos assume a forma de
pesquisa bibliográfica.” (GIL, 2002, p. 41)
Quanto à classificação com base nos procedimentos técnicos utilizados será
bibliográfica, pois terá sua fundamentação teórico-metodológica na investigação
sobre o assunto em questão, desenvolvendo os conteúdos disponíveis em livros e
monografias disponíveis. Logo, Gil confirma que:
“[...] a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir
ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla
do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se
particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados
muito dispersos pelo espaço. [..] A pesquisa bibliográfica também é
indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra
maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados
bibliográficos.” (GIL, 2002, p. 45)
17
Quanto à classificação desta pesquisa, definir-se-á como histórica, já que se
almeja apresentar os aspectos relevantes da Intentona Comunista de 1935,
destacando a participação de Luís Carlos Prestes nessa tentativa de golpe de
Estado, e por fim, concluindo sobre os reflexos para o Exército Brasileiro.
Nas palavras de Lakatos e Marconi, o método histórico pode ser definido como
uma forma indutiva que:
“[...] consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as
instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas
partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto
cultural particular de cada época.” (LAKATOS & MARCONI, 2003, p. 107).
Os passos para a elucidação do trabalho propriamente dito, conforme o Gil
(2002, p. 45) menciona, serão:
- levantamento da bibliografia e de documentos pertinentes, capazes de
elucidar o tema em questão;
- seleção desta bibliografia e destes documentos; e
- leitura da bibliografia e dos documentos selecionados, dando ênfase ao
recorte analítico das atividades de Luís Carlos Prestes no planejamento e nas ações
da Intentona Comunista de 1935, bem como da análise sistemática dos reflexos
dessa tentativa de golpe de Estado para o Exército Brasileiro.
2.2 COLETA DE DADOS
O presente trabalho histórico será construído por meio de consultas à
bibliografia disponível com dados pertinentes ao assunto, além de visitas à biblioteca
da ECEME, para consulta de livros e monografias existentes que tratam do tema em
questão.
As consultas à referida biblioteca serão, inicialmente feitas pela internet, por
meio da pesquisa no catálogo on-line da Rede de Bibliotecas Integradas do Exército
através do endereço eletrônico: “http://redebie.decex.ensino.eb.br/biblioteca”, na
Unidade de Informação ECEME, consultando os descritores para pesquisa
“Intentona Comunista” e “Luís Carlos Prestes”. Também será realizada uma
pesquisa bibliográfica no site “http://scholar.google.com.br/”, consultando os mesmos
descritores supramencionados, para a formulação do portfólio necessário para a
constituição da pesquisa bibliográfica.
18
Após o resultado da pesquisa on-line, os livros e monografias disponíveis para
a consulta serão revisados e utilizados como fontes de consulta secundária para a
revisão sistemática da literatura do tema a ser apurado.
As conclusões decorrentes da pesquisa bibliográfica permitirá estabelecer uma
relação direta entre a Intentona Comunista de 1935 e seus reflexos para o Exército
Brasileiro, pois Luís Carlos Prestes era um ex-militar que possuía forte influência na
classe militar e o principal palco da tentativa de golpe de Estado havia sido o 3º RI,
localizado na Praia Vermelha, na então capital federal – Rio de Janeiro.
2.3 TRATAMENTO DOS DADOS
Em decorrência da natureza do problema e do perfil desse pesquisador, foi
escolhida a revisão sistemática de literatura, para que haja um estudo secundário
que tenha como objetivo reunir estudos semelhantes, buscando avaliar criticamente
sua metodologia e obtendo as respostas para o problema em questão.
Quanto à classificação com base no tratamento dos dados será qualitativa,
uma vez que privilegiará análises de livros e documentos para entender os fatores
que levaram Luís Carlos Prestes participar da Intentona Comunista de 1935. Logo,
Gil confirma que, por meio desse entendimento que:
“[..] muitos estudos de campo possibilitam a análise estatística de dados,
sobretudo quando se valem de questionários ou formulários para coleta de
dados. A análise qualitativa é menos formal do que a análise quantitativa,
pois nesta última seus passos podem ser definidos de forma relativamente
simples. A análise qualitativa depende de muitos fatores, tais como a
natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de
pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação. Podese, no entanto, definir esse processo como uma sequência de atividades,
que envolve a redução dos dados, a categorização desses dados, sua
interpretação e a redação do relatório.” (GIL, 2002, p. 133)
Posteriormente, será feita uma análise dos dados obtidos na literatura
compulsada, no intuito de atingir o objetivo geral dessa pesquisa, tratando-se de
uma técnica que visa a identificação daquilo que está sendo exposto a respeito do
tema proposto.
Segundo Gil (2002), o método analítico a ser empregado, como metodologia de
tratamento de dados, deve basear-se no entendimento das causas dos fenômenos
históricos. Essa implicação é motivada pelo fato de que os dados obtidos podem
conter enfoques diferentes, pois suas fontes também as são, o que exige um
tratamento mais pormenorizado no presente trabalho.
19
A construção lógica do trabalho será a síntese, por meio da ordenação
inteligente das ideias, conforme as exigências racionais da sistematização própria da
pesquisa bibliográfica. Dessa forma, a visão clara do tema a ser tratado deve
completar-se, a partir de determinada perspectiva, com o raciocínio desenvolvido
num trabalho logicamente construído por uma demonstração que visa solucionar a
problemática proposta.
Assim, a gênese dessa problemática dar-se-á pela reflexão surgida por ocasião
das leituras disponíveis, proporcionando uma aprendizagem mais eficaz sobre o
tema em questão. Portanto, todo o discurso científico deve demonstrar uma posição
a respeito do tema problematizado.
2.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
A metodologia escolhida para esta pesquisa apresenta algumas dificuldades e
limitações em relação à coleta e ao tratamento dos dados.
Quanto à coleta de dados, o método limita-se à pesquisa e à análise da
bibliografia existente. A limitação quanto ao tratamento dos dados se reflete no fato
da condição de militar do pesquisador, mesmo sabendo da necessidade de manterse neutro e distante nas interpretações dos dados coletados.
Este fato é agravado quando associado ao tempo de serviço no Exército
Brasileiro, o que transmite a este pesquisador a vivência necessária para ter
argumentos pessoais, exigindo constante preocupação com a isenção no trabalho
em questão. Mesmo com limitações, acredita-se que a metodologia escolhida é
acertada e possibilita alcançar com sucesso o objetivo final desta pesquisa.
Partindo do princípio de que o Exército Brasileiro tem origem no passado, é
importante pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função. Assim
sendo, seu estudo promove uma melhor compreensão do papel que atualmente
desempenha na sociedade, devendo remontar aos períodos de sua formação, neste
caso particular, de suas modificações.
Portanto, colocando-se os fenômenos entre suas condições concomitantes,
torna-se mais fácil a análise e compreensão, no que diz respeito ao desenvolvimento
institucional, assim como às sucessivas alterações ocorridas ao longo do tempo,
pois se sabe que a instituição é secular e permanente, diferentemente de seus
componentes que são passageiros.
20
3 OS ANTECEDENTES DE LUÍS CARLOS PRESTES
Luís Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre, no dia 3 de janeiro de 1898, filho
do tenente positivista5 Antônio Pereira Prestes e de Leocádia Felizardo Prestes.
Logo após seu nascimento, a família mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro,
passando por sérias dificuldades financeiras. Sem muitas opções e com o
agravamento da situação econômica familiar em decorrência da morte do pai em
1908, ingressou no CMRJ6 – estabelecimento de ensino gratuito onde os filhos de
oficiais tinham preferência na matrícula.
Os pais de Luís Carlos Prestes tiveram uma importante contribuição para a
formação de seu caráter inovador e espírito revolucionário, o que, mais tarde, seria
sempre por ele reconhecido.
Seu pai – Antônio Prestes – foi um homem progressista para seu tempo, sendo
um dos signatários dos célebres “pactos de sangue”, firmados pelos jovens oficiais
que, sob a liderança de Benjamin Constant, integraram a “mocidade militar”,
participando ativamente das ações que contribuíram para a Proclamação da
República e, consequentemente, dos primeiros anos de governo republicano.
Sua mãe – Leocádia Prestes – era filha de um próspero comerciante de Porto
Alegre integrante da maçonaria, cujo pensamento ideológico voltava-se para a
política abolicionista e republicana.
Leocádia Prestes, ainda muito jovem, escandalizou a família ao revelar o
desejo de ser professora e trabalhar fora, o que na época era impensável para uma
moça de seu nível social. Desde cedo, ela manifestou interesse pelas artes, pela
literatura e, também, pela política, interesse que, mais tarde, transmitiu aos filhos. Ao
mudar-se para o Rio de Janeiro, abdicou-se de todos os bens familiares e após ficar
viúva com filhos pequenos para criar, não hesitou em trabalhar, sustentando a
família grandes dificuldades financeiras.
_____________
5
O Positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX. Os principais
idealizadores do positivismo foram os pensadores Augusto Comte e Stuart Mill. Esta escola filosófica ganhou
força na Europa na segunda metade do século XIX e começo do XX, período em que chegou ao Brasil. Em
linhas gerais, propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e a
metafísica, além de associar uma interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a uma ética
humana radical. Os positivistas defendem a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de
conhecimento verdadeiro e o progresso da humanidade depende exclusivamente dos avanços científicos.
6
O Colégio Militar do Rio de Janeiro é uma escola que pertence ao sistema de esnino do Exército Brasileiro
desde 1889 e situa-se no bairro da Tijuca, cuja principal missão é ministrar a educação preparatória e assistencial
nos níveis fundamental e médio, visando despertar vocações para a carreira militar e formar o cidadão,
prioritariamente, para dependentes de militares.
21
Leocádia Prestes começou a dar aulas de idiomas e música, trabalhou de
modista, foi balconista e costurou para o Arsenal de Marinha, trabalhando à noite,
nos cursos destinados às comerciárias, operárias e domésticas. Finalmente, em
1915, conseguiu ser nomeada professora de escola pública, como coadjuvante do
ensino primário, cargo que exerceu até 1930, quando viajou para o exterior.
Coragem e
grande
dignidade
humana
seriam traços
marcantes de
sua
personalidade, na luta cotidiana pela sobrevivência e educação dos seus filhos.
Embora seu pai fosse simpático às ideias positivistas e possuísse uma célebre
“biblioteca positivista” – da qual constavam desde as obras dos principais filósofos
da Antiguidade até as dos iluministas do século XVIII, como Diderot, Voltaire e
Rousseau – o jovem Luís Carlos Prestes sofreu, acima de tudo, a influência da mãe,
radicalmente contrária à doutrina positivista.
Aos 18 (dezoito) anos de idade, sob a influência do professor de latim do
CMRJ, batizou-se na Igreja Católica, porém a religião seria logo por ele abandonada,
na medida em que nela não encontraria respostas para suas variadas inquietações.
A vida militar de Luís Carlos Prestes foi muito curta, estendendo-se apenas de
1916 a 1924. Após concluir o ensino médio no CMRJ, ingressou na Escola Militar do
Realengo, em fevereiro de 1916, onde teria como companheiros Juarez Távora,
Siqueira Campos, Eduardo Gomes, Cordeiro de Faria, Newton Prado, entre outros
integrantes da geração que iniciou as revoltas tenentistas da década de 1920.
Com apenas 20 (vinte) anos de idade, após ter se destacado pelo brilhante
desempenho na Escola Militar de Realengo, sempre como primeiro aluno de sua
turma, Luís Carlos Prestes foi declarado Aspirante-a-Oficial, em dezembro de 1918,
além de ter sido diplomado Engenheiro Militar e Bacharel em Ciências Matemáticas.
Cerávolo (1992, p. 21) confirma ainda que em seus primeiros anos de
oficialato, Luís Carlos Prestes exerceu a função de engenheiro ferroviário na
Companhia Ferroviária de Deodoro, no Rio de Janeiro, até ser transferido para o
interior do Rio Grande do Sul, onde exerceu a função de Chefe da Comissão
Fiscalizadora da Construção de Quarteis em três cidades da região – Santo Ângelo,
Santiago e São Nicolau. Logo em seguida, tornou-se Chefe da Seção de Construção
do 1º Batalhão Ferroviário em Santo Ângelo, começando a participar ativamente dos
movimentos políticos regionais, após testemunhar a enorme desigualdade social
existente no interior do país.
22
3.1 O TENENTISMO
Luís Carlos Prestes sempre estava disposto a ajudar seus subordinados,
demonstrando ser um líder com tamanha empatia e atuando pelas causas sociais,
principalmente no início do século XX, onde o Brasil enfrentava uma grave crise
política e econômica, dificultando a vida do povo brasileiro e beneficiando apenas
algumas categorias da sociedade.
Em sua obra Silva confirma que, no início da década de 1920, o cenário político
nacional vivenciava uma grave crise, pois:
“[...] os ajustes e desgastes entre as oligarquias nas sucessões
presidenciais ganharam novos contornos. Um bom exemplo é a disputa pela
sucessão do Presidente Epitácio Pessoa. O eixo São Paulo-Minas lançou
como candidato, o governador mineiro Artur Bernardes. Contra esse
candidato levantou-se o Rio Grande do Sul, sob a liderança de Borges de
Medeiros, denunciando o arranjo político como uma forma de garantir
recursos para os esquemas de valorização do café, quando o país
necessitava de finanças equilibradas. Foi no curso dessa disputa eleitoral
que veio à tona a insatisfação militar. A impressão corrente nos meios do
Exército Brasileiro, de que a candidatura de Artur Bernardes era antimilitar
ganhou dramaticidade com uma carta publicada no jornal Correio da Manhã,
no Rio de Janeiro.” (SILVA, 2004, p. 136)
Desde o episódio das cartas falsas7, em outubro de 1921, Luís Carlos Prestes
passou a atuar no movimento da jovem oficialidade militar, consagrando-se na
história como o principal líder do movimento tenentista, apesar de não ter participado
dos levantes tenentistas mais conhecidos, tais como o episódio da Revolta dos 18
(dezoito) do Forte Copacabana8 e a Revolução de 19309.
Em fins de 1922 já havia sido promovido, por merecimento, ao posto de
capitão. Sua carreira militar esteve marcada por várias manifestações de protesto
contra as irregularidades por ele observadas nas unidades onde serviu,
_____________
7
As cartas falsas, então atribuídas ao candidato oficial à Presidência da República, Arthur Bernardes, foram
publicadas no jornal carioca Correio da Manhã, causando grande escândalo no meio da oficialidade militar, na
medida em que eram insultuosas aos militares. Provocaram, assim, tumultuadas reuniões no Clube Militar,
sediado na capital da República. Mais tarde, ficou esclarecido que tais cartas eram falsas e, provavelmente,
haviam sido forjadas para comprometer a candidatura oficial junto aos militares. Luís Carlos Prestes participou
dessas reuniões no Clube Militar, dando início ao seu engajamento nas conspirações da jovem oficialidade do
Exército Brasileiro contra os governos oligárquicos da República Velha.
8
A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana ocorreu em 2 de julho de 1922, na cidade do Rio de Janeiro, então
capital do Brasil. Foi a primeira revolta do movimento tenentista, no contexto da República Velha. Foi feita por
17 (dezessete) militares e 1 (um) civil que reivindicavam o fim das oligarquias do poder. O levante teve como
motivação buscar a queda da República Velha, cujas características oligárquicas atreladas ao latifúndio e ao
poderio dos fazendeiros se opunham ao ideal democrático vislumbrado por setores das Forças Armadas, em
especial de baixa patente como tenentes, sargentos, cabos e soldados.
9
A Revolução de 1930 foi o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande
do Sul, que culminou com o golpe de Estado, que depôs o Presidente da República Washington Luís em 24 de
outubro de 1930, impedindo a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pondo fim à República Velha.
23
primeiramente no Rio de Janeiro e logo após no Rio Grande do Sul. Sempre
descontente com os rumos tomados pela política nacional, Luís Carlos Prestes não
se conformava com o grande número de analfabetos que o país possuía, além de
não aceitar as políticas econômica e social do governo federal que até então,
revezavam-se entre paulistas e mineiros.
Por duas vezes solicitou demissão do Exército Brasileiro, a última às vésperas
de levantar-se contra o governo do Presidente Artur Bernardes, visando criar a
impressão de que abandonara definitivamente as Forças Armadas, o que viria a
facilitar sua participação na conspiração tenentista.
Segundo Fausto, durante a década de 1920, o movimento tenentista surgiu
baseado na insatisfação de alguns militares com a política nacional, na maioria dos
casos, jovens oficiais do Exército Brasileiro, mesmo assim seus ideais:
“[..] não tinham uma proposta clara de reformulação política. Pretendiam
dotar o país de um poder centrallizado, com o objetivo de educar o povo e
seguir uma política vagamente nacionalista. Tratava-se de reconstruir o
Estado para construir a nação. Sustentavam que um dos grandes males do
domínio oligárquico consistia na fagmentação do Brasil, na sua
transformaçã o em vinte feudos cujos senhores são escolhidos pela política
dominante.Embora não chegassem nessa época a formular um programa
antiliberal, os tenentes não acreditavam que o liberalismo autêntico fosse o
caminho para a recuperação do país.” (FAUSTO, 2012, p. 175)
Em 1922, ainda no Rio de Janeiro, já havia ficado famoso por intermédio de
sua grande capacidade de liderança, participando de reuniões preparatórias do
levante deflagrado contra o governo federal no dia 5 de julho do mesmo ano, dando
início ao ciclo de revoltas tenentistas. Entretanto, não chegou a participar das ações
propriamente ditas, durante o levante do Forte de Copacabana, pois se encontrava
acamado no momento da revolta, vítima de febre tifoide.
Após o fracasso do movimento, Luís Carlos Prestes foi punido com a
transferência para o Rio Grande do Sul, onde deveria inspecionar a construção de
quartéis, entretanto continuou envolvido na conspiração tenentista. Com a revolta de
5 de julho de 1924, em São Paulo, e a retirada dos rebeldes paulistas para o oeste
do Paraná, a preparação do levante gaúcho ganhou novo impulso.
Luís Carlos Prestes, em seu manifesto ao povo de Santo Ângelo, em 29 de
outubro de 1924, demonstrava grande insatisfação com as decisões do governo
federal e com a pretensão de inflamar as massas populares, redigiu um documento,
afirmando que:
24
“É chegada a hora solene de contribuirmos com nosso valoroso auxilio para
a grande causa nacional. Há 4 meses a fio que os heróis de São Paulo vêm
se batendo heroicamente para derrubar o governo de ódios e de
perseguições que só têm servido para dividir a família brasileira, lançando
irmãos contra irmãos como inimigos encarniçados. [..] Todos desejam a
vitória completa dos revolucionários, porque eles querem o Brasil forte e
unido, porque eles querem pôr em liberdade heróis oficiais da revolta de 5
de Julho de 1922, presos porque num ato de patriotismo, quiseram derrubar
o governo Epitácio Pessoa, o que esvaziou criminosamente o nosso
tesouro, e porque quiseram evitar a subida do governo Artur Bernardes, que
tem reinado a custa do generoso sangue brasileiro.” (PRESTES, 1924)
Sempre preocupado com seu subordinado, Luís Carlos Prestes dedicou-se em
organizar as atividades e o tempo dos seus soldados de forma que todos pudessem
estudar e num curto espaço de tempo, não havia mais analfabetos na Companhia,
pois recebiam educação física e instrução militar, além de trabalharem na
construção da linha férrea que ligaria Santo Ângelo a Giruá.
Durante o mês de outubro de 1924, Luís Carlos Prestes liderou um grupo de
rebeldes na região missioneira Rio Grande do Sul, saindo de Santo Ângelo, e
dirigindo-se para São Luiz Gonzaga onde permaneceu por 2 (dois) meses
aguardando munições do Paraná – o que não ocorreu, formando assim um grupo de
comandados que vieram de várias partes da região.
Ainda em seu manifesto ao povo de Santo Ângelo, de 29 de outubro de 1924,
Luís Carlos Prestes alegava que:
“Por ordem do General lsidoro Dias Lopes, levantam-se todas as tropas do
Exército das guarnições de Santo Ângelo, São Luiz, São Borja, ltaqui,
Uruguaiana, Alegrete, Dom Pedrito, Jaguarão e Bagé, hoje irmanados pela
mesma causa e pelos mesmos ideais levantam-se as forças revolucionárias
gaúchas da Palmeira, ljuí, São Nicolau, São Luiz, São Borja, Santiago,
Cachoeira do Sul e de toda a fronteira até Pelotas e, hoje entram no nosso
Estado os chefes revolucionários Honório Lemos e Zeca Netto, tudo de
acordo com o grande plano já organizado. E, desta mescla, desta
comunhão do Exército e do Povo, com nacionais e estrangeiros, resultará a
rápida terminação da luta armada no Brasil, para honra nossa e glória dos
nossos ideais e de nossos foros de povo civilizado e altivo. [..] São
convocados todos os reservistas do Exército a se apresentarem ao quartel
do 1º Batalhão Ferroviário, e fica aberto o voluntariado. Todos os
possuidores de automóveis, carroças o cavalos deverão imediatamente pôlos a disposição do 1º Batalhão Ferroviário e serão em todos os seus
direitos respeitados. Todas as requisições serão documentadas e assinadas
sob a responsabilidade do Ministro da Guerra.” (PRESTES, 1924)
Com esses fundamentos, pediam a absolvição, por que o movimento de 5 de
julho de 1924 foi uma resistência coletiva a atos arbitrários do Poder Executivo
Federal, a atos violadores da Constituição a quem devem igualmente obediência e
respeito governantes e governados.
25
O movimento subversivo, embora se propagasse por alguns estados da União,
obedecendo aos mesmos preceitos, não teve a generalidade e outros característicos
a atribuir-lhe a uma forma de resistência nacional à opressão e legitimá-lo como
exercício de defesa coletiva, ficando comprovada que os mesmos militares que
tomaram parte da revolta em 1922, preparam a de 1924, constituindo por uma
pequena parte dos oficiais e praças de todas as Forças Armadas, naquela época
Marinha do Brasil e Exército Brasileiro.
O principal intuito da revolta de 1922 era impedir a posse de Artur Bernardes,
em consequência dos agravos por ele feitos ao Exército Brasileiro, nas cartas a ele
atribuídas, provocando fortíssima exaltação de ânimo. Depois de sua posse, o
Presidente, então reconhecido, manteve a maior parte do país em estado de sítio
permanente, serviu-se da força para depor o governo legalmente constituído no
estado do rio de Janeiro, praticando numerosos atentados antidemocráticos que
constituíram os principais motivos da revolução de 1924.
No dia 5 de julho de 1922, um episódio marcou, quando, segundo Silva:
“O Tenente Siqueira Campos reuniu seus companheiros, que eram em
número de vinte e cinco, e, tomando a bandeira nacional, retalhou em vinte
e oito pedaços, que distribui pelos rebeldes, após o que concitou-os a
marchar em direção das forças legais que se achavam mais ou menos na
altura da rua do Barroso; que, ao defrontarem com as tropas fiéis ao
governo, abriram os rebeldes cerrado fogo, que lhes foi respondido pelas
forças adversas, tendo este tiroteio durado alguns minutos, terminando
desta forma pela subjugação completa dos rebeldes, o triste episódio da
insurreição do Forte de Copacabana.” (SILVA, 2004, p. 187)
Diversamente de 1922, quando se pronunciam em nome da instituição militar
atacada e ofendida, os integrantes do movimento tenentista passaram a falar, a
partir de 1924, em nome de toda a sociedade e de toda a nação brasileira. Por
detrás do combate à corrupção e da regeneração da República, visualizava-se já um
projeto
reformista
mais
amplo,
em
consonância
com
as
exigências
do
desenvolvimento do capitalismo e da revolução burguesa.
Daí, já se percebia um afastamento natural de Luís Carlos Prestes do
movimento revolucionário, pois acreditava que o sistema capitalista não seria a
melhor saída para o progresso do país, permanecendo da mesma forma que a
república oligárquica. Acreditava, pois, numa mudança radical de todo o sistema de
governo por meio de uma reforma política e econômica, atingindo, principalmente, as
camadas mais baixas da sociedade brasileira.
26
O movimento tenentista perdeu força após a Revolução de 1930, quando os
próprios “tenentes” levaram Getúlio Vargas ao poder. De certa forma, este
presidente conseguiu produzir uma divisão no movimento, sendo que importantes
nomes do Tenentismo passaram a atuar como interventores federais, enquanto
outros continuaram lutando contra o governo getulista, participando da ANL10.
Na produção historiográfica sobre o movimento tenentista, existem 3 (três)
correntes que se delineiam:
- a primeira é a mais tradicional e difundida, pois explica o Tenentismo como
um movimento que, a partir de suas origens sociais nas camadas médias urbanas,
por muitas vezes chamada de pequena burguesia, representando os anseios destes
setores por uma maior participação na vida nacional e nas instituições políticas;
- a segunda era formulada a partir de trabalhos produzidos nas décadas de
1960 e 1970, tentando contestar a concretização da origem social na definição do
conteúdo do movimento tenentista e entendendo este movimento como produto da
instituição militar; e
- a terceira criticava as vertentes anteriores, levando-se em conta tanto a
situação institucional dos “tenentes” como membros do aparelho militar, quanto a
sua composição social como membros das camadas médias.
A despeito das diferenças entre as correntes enunciadas, é lícito supor quanto
ao importante papel representado pelo movimento no processo de erosão do
sistema político vigente. Após os momentos de crise terem se passado, o pacto
oligárquico parecia completo, reinaugurando um novo momento de estabilidade.
Entretanto, esse acordo mostrou-se pouco duradouro, pois uma nova cisão
intraoligárquica se manifestaria fortemente fazendo eclodir a Revolução de 1930.
Como já foi destacado, os tenentes – pela sua origem, formação e ligações –
estavam muito próximos das camadas médias urbanas. Por isso, o tenentismo,
ideologicamente, viria a ser a expressão dos seus anseios, inspirados nos preceitos
do liberalismo brasileiro e, paralelamente a estes acontecimentos, surgia no interior
do Brasil a maior epopeia jamais vista na História do Brasil, a Coluna Miguel Costa –
Prestes, cuja ideologia era baseada na formação de uma luta armada para tentar
alcançar e tomar a capital federal na época – Rio de Janeiro.
_____________
10
A Aliança Nacional Libertadora era uma organização política fundada em 1935 e composta por setores de
diversas correntes ideológicas, congregando democratas, tenentistas, operários e intelectuais de esquerda, cujo o
objetivo era lutar contra a influência nazi-fascista no Brasil.
27
3.2 A COLUNA MIGUEL COSTA – PRESTES
Cerávolo (1992, p. 21) descreve que em 1924, Luís Carlos Prestes sublevou
sua guarnição e organizou a Coluna Gaúcha ou Divisão Rio Grande, deslocando-se
com ela em busca da junção com os revoltosos paulistas. Depois de vários
combates, os gaúchos foram ao encontro das tropas paulistas comandadas por
Miguel Costa, em Foz do Iguaçu, formando a Coluna Miguel Costa – Prestes, com o
propósito de percorrer o Brasil propagando as ideias tenentistas. Nessa mesma
época, com 26 (vinte e seis) anos de idade, pediu demissão do Exército Brasileiro.
A grande marcha empreendida pela Coluna Miguel Costa – Prestes
representou uma ruptura com alguns conceitos da Missão Militar Francesa11 e a
adoção de outros aspectos militares que correspondessem à própria natureza móvel
da doutrina militar terrestre em vigor atualmente no Brasil.
Portanto, segundo Prestes em entrevista: “A guerra no Brasil, qualquer que
seja o terreno, é a guerra de movimento. Para nós, revolucionários, o movimento é a
vitória”. Nesse sentido, diversos fundamentos de guerra são observados, a destacar
a Unidade de Comando, na pessoa de Miguel Costa como autoridade máxima,
refletindo na disciplina e no espírito de corpo dos rebeldes.
Ademais, Luís Carlos Prestes foi o principal líder da mais longa marcha
revolucionária do país, aonde seus integrantes – mais de 1.500 homens – realizaram
um percurso pelo interior do Brasil, percorrendo, a pé e a cavalo, cerca de 25 mil
quilômetros, passando por 13 (treze) estados da federação. Logo, Sodré afirma que:
“[..] enquanto o governo promovia a responsabilidade dos participantes do
movimento do Forte de Copacabana, articulava-se em todo o país levante
de proporções muito mais amplas embora ainda de caráter puramente
militar. [..] A missão da Coluna era manter aceso o facho da revolução,
animando os tíbios e provocando novos pronunciamentos. Conquanto os
seus efeitos diretos não tenham sido grandes, os indiretos foram muito
importantes.” (SODRÉ, 2010, p. 270-271)
Outro fator de destaque que caracteriza a força política de Luís Carlos Prestes
foi que a sua liderança exercida durante os anos que conduziram a marcha era tão
relevante que a maioria dos historiadores denominou a epopeia apenas de Coluna
Prestes, mesmo que Miguel Costa fosse seu superior hierárquico dentro do contexto
revolucionário.
_____________
11
Em 1919, a Missão Militar Francesa teve como objetivo principal modernizar a instrução das tropas
brasileiras, cuja doutrina militar predominou como modelo a ser seguido pelo Exército Brasileiro até 1940, sendo
posteriormente substituída pela doutrina norte-americana.
28
Os revolucionários que lutavam no Sul foram se reunindo em São Luís
Gonzaga, no interior do Rio Grande do Sul, em torno de Luís Carlos Prestes,
considerado por Cordeiro de Farias, Juarez Távora, Siqueira Campos, João Alberto
e Ari Salgado Freire como o mais apto a liderar a revolução.
Em São Luís, esse grupo analisou as opções que se lhes apresentavam para
continuar a luta, devendo de início tentar receber armas e munições de Isidoro, que
continuava controlando a situação na região de Foz do Iguaçu. Caso isso fosse
possível, os revolucionários prosseguiriam os combates no Rio Grande do Sul.
Outra possibilidade, se a primeira não fosse viável, seria marcharem rumo ao
norte para tentar invadir Santa Catarina. Diante dessas opções, o grupo resolveu
enviar um emissário a Isidoro para consultá-lo. Em resposta, o líder da rebelião em
São Paulo informou que seus estoques de armas e munições eram pequenos e que
o grupo deveria marchar para o norte. Nesse momento, a coluna gaúcha, sob a
chefia de Luís Carlos Prestes, decidiu ir ao encontro de Isidoro Dias.
No local chamado Queimados, perto da cidade de Barracão no interior de
Santa Catariana, Luís Carlos Prestes empossou Siqueira Campos no comando do 3º
Destacamento, enquanto o Major João Pedro Gay era destituído por haver
argumentado com a inutilidade da revolução, tentando convencer os soldados do
seu destacamento a emigrarem.
Em abril de 1925, no Paraná, a vanguarda da coluna fez junção com a Divisão
São Paulo no cruzamento das estradas de Benjamim com Santa Helena. No dia 12
desse mesmo mês deu-se a conferência entre Isidoro Dias, Luís Carlos Prestes e
Bernardo Padilha, da qual participaram, entre outros, o Coronel Mendes Teixeira e
os majores Álvaro Dutra e Asdrúbal Gwyer de Azevedo.
A 1ª Divisão Revolucionária, sob o comando geral de Miguel Costa, ficou
organizada em duas grandes unidades: a Brigada Rio Grande, comandada por Luís
Carlos Prestes, com cerca de 800 (oitocentos) homens; e a Brigada São Paulo,
comandada por Juarez Távora, com cerca de 700 (setecentos) homens. A coluna se
organizava em quatro destacamentos que se revezavam nas posições de
vanguarda, de quatro em quatro dias, o que lhe permitia abastecer-se de cavalos,
roupas e mantimentos, pois desta forma, o destacamento de retaguarda passava
então para o centro, permanecendo oito dias nessa posição, enquanto os
destacamentos da vanguarda e da retaguarda recebiam apoio dos demais.
29
11
8
6
9
5
10
12
2
14
13
1
16
15
3
17
4
18
7
Figura 1 – Comando da Coluna Miguel Costa – Prestes reunido na cidade de Porto Nacional, norte de
Goiás, em 28/10/1925: Miguel Costa (1), Luís Carlos Prestes (2), Juarez Távora (3), João Alberto Lins
de Barros (4), Siqueira Campos (5), Djalma Soares Dutra (6), Oswaldo Cordeiro de Farias (7), José
Pinheiro Machado (8), Atanagildo França (9), Emygdio da Costa Miranda (10), João Pedro Gonçalves
(11), Paulo Kruger da Cunha (12), Ary Salgado Freire (13), Nélson Machado de Souza (14), Manuel
Alves de Lira (15), Sady Valle Machado (16), André Trifino Correia (17) e Ítalo Landucci (18).
Fonte: CPDOC/FGV.
Iniciada a marcha, em 29 de abril de 1925 a coluna terminou a travessia do rio
Paraná, invadiu o Paraguai e marchou em direção a Mato Grosso. A vanguarda na
invasão de Mato Grosso era o destacamento João Alberto, que se juntou ao
destacamento Siqueira Campos para tomar a cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso
do Sul, que fora abandonada pela guarnição local e invadida pelos paraguaios da
cidade vizinha.
Por outro lado, as forças legalistas do Coronel Péricles de Albuquerque, que se
retiraram da cidade, foram engrossadas pelas tropas procedentes de Campo
Grande, atual capital de Mato Grosso do Sul, sob o comando do Major Bertoldo
Klinger. Siqueira Campos e João Alberto atacaram Klinger na cabeceira do rio Apa,
obrigando-o a se retirar em direção a Campo Grande. Os dois destacamentos
encontraram-se com o resto da coluna perto da estação do Rio Pardo, da estrada de
ferro Noroeste. Em 16 de maio, a coluna estava reunida novamente e continuou sua
marcha através de Mato Grosso.
30
Em 10 de junho, num lugar chamado Deserto de Camapuã, em Mato Grosso
do Sul, a coluna sofreu nova estruturação, uma vez que, durante a campanha de
Mato Grosso, surgiram divergências entre seus integrantes. A divisão em duas
brigadas – Rio Grande e São Paulo – criaram-se constantes atritos entre os dois
chefes, Miguel Costa e Luís Carlos Prestes, sobre a maneira pela qual devia ser
conduzida a campanha.
Na entrada de Mato Grosso, Miguel Costa pretendia sustentar um combate
decisivo, mas a opinião que prevaleceu foi a de Luís Carlos Prestes, o qual alegou
que, em vista da diminuta munição de que dispunham, seria impossível uma vitória.
Coube-lhe então a reorganização da coluna, que continuaria sob o comando de
Miguel Costa, mas passaria a contar com um estado-maior chefiado por Luís Carlos
Prestes, tendo Juarez Távora como subchefe e Lourenço Moreira Lima como
secretário. Cordeiro de Farias, João Alberto e Siqueira Campos continuaram no
comando dos 1º, 2º e 3º destacamentos, e criou-se ainda um 4º destacamento, sob
o comando de Djalma Dutra. Os soldados gaúchos e paulistas foram distribuídos
igualmente entre os quatro destacamentos com a finalidade de manter a união
dentro da coluna.
Com essa nova organização estratégica, a coluna invadiu Goiás e, sempre
combatendo as forças do Major Bertoldo Klinger e a polícia goiana, galgou a serra
do Paranã, ocupando São João do Pinduca, em Minas Gerais. Em seguida, os
revolucionários voltaram a Goiás e começaram a marchar em direção ao Maranhão,
ocupando a cidade de Santo Antônio das Balsas em novembro.
A coluna reuniu-se e marchou para Pernambuco em 10 de janeiro de 1926.
Sempre combatendo, atravessou o Piauí, o Ceará, o Rio Grande do Norte e a
Paraíba. Em 12 de fevereiro, o grosso da tropa rebelde entrou em Pernambuco,
registrando-se nessa travessia um sangrento combate em Piaucó, na Paraíba, onde
Cordeiro de Farias e seus soldados obtiveram uma grande vitória.
Foi também durante esse percurso que, sob o comando de Luís Carlos
Prestes, realizou-se uma das manobras militares que alcançaram na época enorme
repercussão. A operação ocorreu quando três colunas governistas, compostas de
15.000 (quinze mil) homens, tentaram cercar a coluna acampada na fazenda
Buenos Aires, num contraforte da serra Negra. Luís Carlos Prestes conseguiu
escapar das tropas legalistas e por muita sorte, não foi capturado.
31
A marcha de Luís Carlos Prestes descrevia um arco que saía do rio São
Francisco, atravessando o sertão rumo à Bahia. Essa manobra ficou conhecida
como "laço húngaro", pois o trajeto percorrido se assemelhava ao laço assim
chamado, que servia de ornamento ao uniforme do Exército.
Ainda em fevereiro de 1926, Luís Carlos Prestes e Miguel Costa redigiram uma
declaração de princípios da coluna, para ser distribuída à nação. Nesse manifesto,
intitulado “Motivos e Ideais da Revolução”, seus integrantes se colocavam contra os
impostos exorbitantes, a desonestidade administrativa, a falta de justiça, o
amordaçamento da imprensa, as perseguições políticas, o desrespeito à autonomia
dos estados e a reforma constitucional sob o efeito do estado de sítio.
De fevereiro a julho, os revolucionários percorreram a Bahia, entraram em
Minas Gerais e voltaram àquele estado, sendo mal recebidos por parte da população
e enfrentando, além das tropas do governo e da polícia estadual, os cangaceiros e
jagunços que passaram a combatê-los sob a chefia de Horácio de Matos, Franklin
de Albuquerque e Abílio Wolney.
Em julho, já em território pernambucano, a coluna ocupou os municípios de
Murici e Ouricuri. Sempre combatendo, entrou no Piauí e, em 20 de agosto, já em
Goiás, armou uma emboscada numa fazenda para as tropas do governo.
Os revoltosos entraram no estado de Mato Grosso em 15 de outubro,
acampando nas proximidades de Coxim, onde ficou decidido que emigrariam para a
Bolívia. A decisão de pôr fim à marcha foi tomada por várias razões, uma das quais
estava ligada ao fim do governo de Artur Bernardes, que seria substituído por
Washington Luís.
Ainda, segundo Luís Carlos Prestes, essa decisão se deveu à compreensão,
por parte dos comandantes revolucionários:
“[..] da inutilidade de nossos esforços, começamos a dar-nos conta de que
as consequências da luta que sustentávamos golpeavam a parte mais
pobre da população, pois atrás da coluna vinham as forças do governo,
capazes de todas as violências e arbitrariedades. Além disso, por falta de
um objetivo político claro, no seio da coluna começaram a aparecer
sintomas de degeneração, o que poderia conduzir muitos dos seus
componentes ao banditismo.” (PRESTES, 1930)
Após anos de luta contra as tropas legalistas, fazia-se necessário, pois,
reexaminar a situação, pensando em alternativas, meditando sobre os objetivos da
campanha revolucionária. Nesse sentido, o dilema de outrora voltou à tona:
continuar a luta ou emigrar?
32
Finalmente, chegou-se ao consenso revolucionário: emigrar para o país mais
próximo, a Bolívia. Sobre essa decisão, aborda Leocádia:
“Alguns dias antes de ingressar na Bolívia, Prestes reuniu os soldados para
explicar-lhes as razões por que iam emigrar: embora a Coluna não tivesse
sido desbaratada, nem derrotada, não havia sentido em continuar causando
tantos sacrifícios às populações das regiões por onde os rebeldes
passavam, pois um novo presidente já assumira o poder [Washington Luís],
tendo chegado a hora, portanto, de buscar outros caminhos para dar
prosseguimento à luta.” (LEOCÁDIA, 1990, p. 289)
Ainda no dia 4, Miguel Costa, João Alberto, Cordeiro de Farias e mais 100
(cem) revolucionários dirigiram-se para San Matías, enquanto Luís Carlos Prestes, à
frente de cerca de 400 (quatrocentos) de seus comandados, seguiu para La Gaiba,
ambas situadas no interior boliviano. Ao terminar a marcha da coluna, Luís Carlos
Prestes se projetara nacionalmente como líder militar, tendo adquirido ainda grande
prestígio popular.
Figura 2 – Percurso realizado pela Coluna Miguel Costa – Prestes dentro do território brasileiro.
Fonte: CPDOC/FGV.
33
4 A TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO
Apesar de tanto esforço, a marcha terminou em 1927 quando os revoltosos
exilaram-se na Bolívia e, neste país, Luís Carlos Prestes conheceu Astrogildo
Pereira, um dos fundadores do PCB, pelo qual foi convidado a firmar uma aliança
entre "os revolucionários e as massas populares, especialmente aquelas sob a
influência da Coluna Prestes". Contudo, Luís Carlos Prestes não aceitou essa
aliança e, dessa forma, obteve as primeiras informações sobre a Revolução Russa,
o movimento comunista e a URSS.
A partir de então, obteve as primeiras informações sobre a Revolução Russa
de 1917 e o movimento comunista, baseado na ideologia marxista-leninista,
transformando radicalmente sua vida. Após o exílio na Bolívia, Luís Carlos Prestes
mudou-se para a Argentina, onde travou contato com Rodolfo Ghioldi, um dos
principais dirigentes da Komintern, sendo convidado a assumir a chefia militar da
Revolução de 1930, porém rompeu com os tenentistas negando-se a participar do
movimento liderado por Getúlio Vargas.
Em seu manifesto, Luís Carlos Prestes alegou que:
“A última campanha política acaba de encerrar-se. Mais uma farsa eleitoral,
metódica e cuidadosamente preparada pelos politiqueiros, foi levada a
efeito com o concurso ingênuo de muitos e de grande número de
sonhadores ainda não convencionados da inutilidade de tais esforços.”
(PRESTES, 1930)
Após converter-se ao marxismo, Luís Carlos Prestes viajou para a URSS em
1931, retornando ao Brasil em 1935, junto com Olga Benário 12, cujo objetivo
principal era lutar contra os componentes da AIB13. Cabe ressaltar que o maior
inimigo dos comunistas era o regime fascista e acreditava-se que o governo de
Getúlio Vargas tinha um cunho político voltado para a centralização do Estado,
apoiado pela burguesia industrial.
Já no início de 1930, Luís Carlos Prestes declarara sua adesão ao comunismo
e em 1931 deixaria pública também sua aceitação da direção dos partidos
comunistas na luta revolucionária.
_____________
12
Olga Benário era uma jovem militante comunista alemã de origem judaica que foi enviada para o Brasil em
1934, por determinação da Internacional Comunista. Sua missão era apoiar o PCB e liderar, juntamente com
Luís Carlos Prestes – que tornaria-se seu companheiro futuramente –, uma revolução socialista armada que
gerou na Intentona Comunista de 1935.
13
A Ação Integralista Brasileira era um partido político fundado em 1932 por Plínio Salgado, sendo considerado
de extrema direita, firmando-se como uma extensão do movimento fascista italiano e sendo considerado como a
principal oposição aos comunistas.
34
4.1 OS PREPARATIVOS PARA O GOLPE DE ESTADO
Em outubro de 1931, Luís Carlos Prestes seguiu para Moscou e neste país
solidificou sua adesão ao comunismo, pedindo com insistência sua admissão no
PCB. Porém, o PCB não queria aceitá-lo em suas fileiras e só o fez em agosto de
1934, por ordens expressas da Komintern.
Luís Carlos Prestes, que desde o início de 1934 fazia planos para voltar ao
Brasil e retomar a luta revolucionária, queria voltar como membro do PCB. A ida da
delegação brasileira a Moscou só fez convencê-lo de que no Brasil a revolução
estava na ordem do dia, sendo urgente voltar para dirigi-la.
A partir de 1935, a ANL entrou no cenário político brasileiro, por meio de uma
frente política que aglutinava algumas categorias descontentes com o governo de
Getúlio Vargas, unificados por um programa comunista de conteúdo antifascista.
Durante o lançamento da ANL, o nome de Luís Carlos Prestes foi aclamado
como presidente de honra, entretanto assistiu ao crescimento da organização na
clandestinidade, buscando restabelecer antigos contatos nos meios militares para
desencadear uma revolução, acreditando possuir apoio necessário para tal.
A respeito do questionamento sobre a liderança do movimento revolucionário,
Morais interpreta sua participação de forma que:
“[...] o grande nome da Internacional Comunista no Brasil era o próprio Luís
Carlos Prestes. Pode ser que isso seja considerado como uma simples
formalidade, mas Luís Carlos Prestes acabara de entrar não somente para o
PCB; ele havia entrado também para a direção da Komintern; e agora o seu
nome estava ao lado de líderes como Dimitrov, Chou En-lai, Mao Tse-tung,
Marcel Cachin, Jacques Duclos, Maurice Thorez, Walter Ulbricht, Manuilski,
Dolores Ibarruri, Togliatti, Bela Kuhn e Josef Stalin, entre outros. Não é
pouca coisa e merece ser examinado dos dois lados. De um lado, esse fato
– um fato público – torna praticamente irrecusável a tese do envolvimento
da Internacional. Por outro lado, ele reúne num só homem a condução
"nacional" e "internacional" do movimento de 1935. Quem foi o dirigente
máximo? Prestes, o líder nacional, ou Prestes, o líder da Internacional
Comunista? Ou será que não foi o Prestes?” (MORAIS, 1986, p.89)
Luís Carlos Prestes havia expressado inúmeras vezes sua vontade de voltar ao
Brasil para a luta revolucionária, antes mesmo da ida da delegação brasileira a
Moscou, resolução que se viu reforçada depois das notícias que chegavam por meio
de seus correligionários, abordando a crise na qual o país vivia nos últimos anos.
Luís Carlos Prestes chegou ao Brasil acompanhado de Olga Benário em abril
de 1935, encontrando-se aqui com os enviados pela Komintern: Harry Berger, Franz
Gruber e Rodolfo Ghioldi, com suas esposas, além do norte-americano Victor Baron.
35
Nessa época já havia o consenso de todos os envolvidos que era chegada a
hora de promover uma revolução por intermédio da luta armada. Chegando ao
Brasil, já como presidente de honra da ANL, Luís Carlos Prestes buscou contatos
com seus ex-camaradas da Coluna Miguel Costa – Prestes, procurando exercer
efetivamente a liderança da ANL e aproveitando-se do vazio sobre as questões
relativas ao poder na plataforma-programa da organização.
Dessa forma, Luís Carlos Prestes lançou o documento “Por um governo
nacional popular revolucionário” que, se a direção da ANL não aprovou formalmente
também não desaprovou. Foi a partir desse período, entre maio e junho de 1935,
que o PCB começou a militar na ANL, buscando a hegemonia dentro dela.
Luís Carlos Prestes, à época, apesar de sua adesão ao comunismo, era
principalmente, um tenentista, como ele próprio reconheceria mais tarde. Seu
discurso de 5 de julho de 1935 foi um apelo do movimento revolucionário àqueles
companheiros de farda e da Coluna Miguel Costa – Prestes que continuavam a
querer para o país transformações mais radicais do que as até então realizadas.
O governo de Getúlio Vargas respondeu ao êxito extraordinário da ANL, com a
aprovação da Lei de Segurança Nacional. Além da mobilização da ANL, que recebia
milhares de pedidos de adesão, o cenário político era agitado pelas reivindicações
salariais de civis e militares e por uma infinidade de greves operárias.
Os militares, continuando a tradição de intensa participação política, que vinha
desde 1922, manifestavam abertamente suas simpatias políticas, seja na ANL seja
na AIB, caracterizando o apoio incondicional à manutenção da legalidade, custe o
que custar. Entretanto, a adesão dos militares à ANL preocupava o governo federal,
que já tramava a colocação da ANL na ilegalidade, iniciando para isso uma intensa
campanha de provocações, por meio da imprensa. Os jornais impressos da época
denunciavam o sinistro plano comunista para dominação da América Latina, onde
não faltavam sangrentos assassinatos e o discurso de Luís Carlos Prestes no dia 5
de julho, dando ao governo um pretexto para fechar a ANL e provocar a ira dos
revolucionários.
Os principais empresários da comunicação não aceitavam a postura governista
e da mesma forma, não aceitavam os planos comunistas, pois ambos queriam
controlar a mídia. Nessa época, os principais meios de comunicação que atingiam as
massas populares eram o jornal impresso e o rádio.
36
Todavia, menos de um ano depois, no processo de formação da Assembleia
Constituinte, O Jornal14 voltou a ser controlado por Assis Chateaubriand15, passando
a direção geral a seu sogro Zózimo Barroso do Amaral. Essa mudança influiu
consideravelmente na postura do periódico, uma vez que o novo diretor era da linha
governista, e conseguiu a reconciliação entre Assis Chateaubriand e o Presidente
Getúlio Vargas. A partir daí, o periódico passou a apoiar entusiasticamente as
medidas repressivas do governo, como Leal apresenta que:
“Assis Chateaubriand aproximou-se então da ala mais conservadora da
política getulista, estabelecendo contato com os irmãos Virgílio e Afonso
Arinos de Melo Franco, entre outros. O compromisso fez com que O Jornal
desencadeasse violenta campanha contra a ANL e seu líder Luís Carlos
Prestes, e contra a Revolta Comunista de 1935. O periódico mostrou-se por
outro lado favorável às reivindicações integralistas.” (LEAL, 2001, p. 2864)
Mas as antigas rusgas entre Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas se tinham
se arrefecido, não desapareceram. A partir de fins de 1936, O Jornal passou a
apoiar a candidatura do diretor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo16, Armando
Salles de Oliveira. As relações entre os dois periódicos era de grande amizade, por
vezes, citando matérias uma da outra e se diziam como “coirmãs”. Mas a oposição
ao Presidente Getúlio Vargas era moderada, e quando veio o golpe de 10 de
novembro de 1937, O Jornal adotou uma segunda forma de se comportar durante
esse período autoritário.
As duas posições possíveis, sem que fosse empastelado pelas forças do
governo, era apoiar entusiasticamente os feitos do “Pai da Nação” ou se calar,
direcionando seu olhar para outras demandas. Assis Chateaubriand diversificou
seus empreendimentos, e se afastou gradativamente do jornal. Mas, em um dos
seus artigos, ele apoiava o Presidente Getúlio Vargas e o Estado Novo, dizendo que
“era necessário atravessar um túnel, na esperança de que o futuro abrisse
perspectivas para a restauração de um regime democrático”. (O Jornal, 11/11/1935)
_____________
14
O Jornal foi um periódico brasileiro que circulava no Rio de Janeiro, sendo fundado em 1919 e comprado por
Assis Chateaubriand em 1924. O Jornal foi o primeiro veículo comprado por ele, tornando-se o embrião do que
viria a ser o império dos Diários Associados.
15
Assis Chateaubriand foi um magnata das comunicações no Brasil entre as décadas de 1930 e 1960, dono dos
Diários Associados, maior conglomerado de mídia da América Latina na época, que em seu auge contou com
mais de 100 (cem) jornais, emissoras de rádio e televisão, além de revistas e agências telegráficas.
16
O Estado de S. Paulo é um jornal brasileiro, fundado com base nos ideais de um grupo de republicanos e
abolicionistas, em 1875, sendo o pioneiro em venda avulsa no país, fato pelo qual, na época, foi ridicularizado
pela concorrência. A sua venda avulsa foi impulsionada pelo imigrante francês Bernard Gregoire, que saía às
ruas montado num cavalo e tocando uma corneta para chamar a atenção do público e que, décadas depois, viraria
o próprio símbolo do jornal aumentando a tiragem do jornal e tornando-se um dos meios de comunicação mais
influentes do Brasil.
37
Com a ANL na ilegalidade, a atuação de Luís Carlos Prestes tornou-se ainda
mais destacada e o PCB passou a dominar a organização. Luís Carlos Prestes
intensificou o contato epistolar com seus ex-camaradas da Coluna Miguel Costa –
Prestes, na intenção de revivê-la, sendo inúmeras as cartas que escreveu nesse
sentido, como a dirigida à André Trifino Corrêa:
“[..] a ti cabe fundamentalmente, pelo prestígio mais que justificado que alcançaste
dentre os combatentes de nossa Coluna, como imediato de confiança do
inesquecível Siqueira, a grande tarefa de mobilizar todos os companheiros da
coluna, bem como todos os outros lutadores honestos que contigo
combateram em 30 e 32. Peço-te que te dirijas a todos eles, empregando sempre
que for necessário o meu nome, explicando-lhes o momento atual e o programa da
ANL. É necessário que a coluna se reorganize e que seja multiplicada e
orientada. Multiplicada porque cada soldado da coluna deve ser, nos dias
de hoje, o comandante de um grupo ou destacamento a serviço da ANL.
Orientada porque os últimos anos de lutas e desilusões esclareceram os
nossos objetivos e tornaram claro nosso programa.” (WAACK,1988, p. 35)
Waack não tem dúvidas sobre a obediência do PCB a Moscou, pois os
documentos encontrados pelo jornalista caracterizam essa possibilidade, ao fim dos
quais, é possível concluir que:
"[...] o partido jamais se libertou de sua subserviência ao Partido Comunista
Soviético, o qual, até o seu desaparecimento em 1991, manteve sob estrito
controle a direção política do PCB, o modo como eram escolhidas as suas
lideranças e seus processos de formação ideológica, bem como aquilo que
sempre foi mais importante para o partido: o auxílio financeiro em dólares.
Em 1990, último ano de funcionamento ativo do Partido Comunista
Soviético, essa ajuda fraternal ao PCB foi de 400 mil dólares, segundo os
arquivos do Kremlin, conforme foi divulgado pelo Tribunal Constitucional
russo que em 1992 julgou os crimes do Partido Comunista Soviético."
(WAACK, 1998, p. 30)
Ainda, sobre o PCB, Waack confirma o estreito relacionamento entre ambos os
partidos, afirmando em sua obra que:
"O PCB sempre fora, como muitos outros partidos comunistas,
extremamente dócil em relação ao Partido Comunista Soviético. Por mais
nobre e bem intencionado que tenha sido, nos últimos cinquenta anos, o
esforço de muitos historiadores em procurar sinais de vida inteligente nos
escalões superiores do partido foram em vão, pois todas as diretrizes,
instruções ou sugestões de Moscou foram sempre a última palavra."
(WAACK, 1998, p. 185)
Essa avaliação sobre o PCB, em particular na medida em que se estende por
toda a sua existência posterior a 1935, afetava também a Luís Carlos Prestes.
Waack é também muito crítico em relação a Luís Carlos Prestes, mas a sua análise
em relação aos acontecimentos de 1935 dão uma conotação muito diferente à
atuação do Cavaleiro da Esperança.
38
Com a sua documentação disponível, Waack (1998, p. 121-122) indica que o
famoso e, para muitos, surpreendente discurso de Luís Carlos Prestes com a
palavra de ordem "todo o poder à ANL" não teria saído unicamente da sua cabeça.
Na verdade, essa era a orientação da Internacional Comunista, desde início de abril
de 1935. Orientação repetida várias vezes, até que Arthur Ewert se dignasse a
acusar o seu recebimento e assegurar a sua compreensão.
Além do mais, é preciso lembrar que o apoio à ANL, sem que o PCB estivesse
em condições de assumir o seu papel dirigente, envolve toda a divergência sobre a
aceitação da liderança de Luís Carlos Prestes, que, segundo muitos comunistas
brasileiros conduziriam à predominância da pequena burguesia no movimento
popular.
Assim, "todo o poder à ANL" significou concretamente também “todo o poder a
Luís Carlos Prestes”, que, aliás, deveria chefiar o governo, após a vitória do
movimento revolucionário, segundo pode ser lido nos documentos revelados por
Waack ou deduzido por qualquer um, tendo em vista a liderança exercida na
participação de Luís Carlos Prestes nesse movimento.
Não há razão para não se acreditar, como Waack (1988, p. 136), que os planos
revolucionários de Luís Carlos Prestes já haviam sido discutidos e aprovados, com
antecedência, em Moscou. Além disso, é possível afirmar que a Internacional
Comunista confiava demasiadamente no trabalho desse revolucionário.
Embora, se possa dizer a mesma coisa de outra forma, de maneira que Luís
Carlos Prestes havia convencido a Komintern a apoiá-lo, Luís Carlos Prestes, aliás,
parecia realmente conquistar seus correligionários, dentro e fora do Brasil.
“[..] entre os que sucumbiram inteiramente ao charme político de [Luís
Carlos] Prestes estaria o próprio [Arthur] Ewert. Foi amor à primeira vista,
desde os primeiros encontros em Montevidéu. Graças ao seu domínio do
vocabulário da Internacional Comunista, [Arthur] Ewert se encarrega de dar
uma versão politicamente correta às ideias e decisões prestistas, que
transformam uma revolução chinesa em quartelada brasileira.” (WAACK,
1988, p. 136)
As medidas adotadas pela direção do PCB, em maio de 1935 – por proposta
de Luís Carlos Prestes e Arthur Ewert – representaram na prática, “considerável
alteração dos planos inicialmente traçados em Moscou”, pois acreditava-se que esta
mudança havia proporcionado uma certa distinção entre aqueles que acreditavam
na revolução e aqueles que não levavam os planejamentos tão a sério, a ponto de
prejudicar tal atuação. (WAACK, 1988, p.125)
39
E, daí por diante, Waack apresenta um quadro em que, em meio a diversas
mensagens e telegramas, a direção da Komintern:
"[...] aparentemente surpresa, respondeu na hora ao Rio, repetindo o
pedido, do começo de outubro, para que o Bureau enviasse a Moscou
alguém capaz de fazer um relatório. Moscou parecia ter perdido o pé."
(WAACK, 1988, p. 196).
É possível perceber que a própria direção revolucionária não consegue entrar
num consenso para a execução dos planejamentos realizados. Assim, Waack
também deixa claro que:
"[...] diante de uma situação tão precária como a do PCB, que motivos
levaram [Luís Carlos] Prestes e [Arthur] Ewert a decidir por uma insurreição
em todo o país, assumindo no início até o risco de contrariar determinações
acertadas em Moscou? E qual a participação dos dirigentes do Komintern
nessa etapa final que levou aos levante de 1935?" (WAACK, 1988, p. 194).
O discurso de Luís Carlos Prestes no dia 5 de julho, dia que o governo utilizou
como argumento para o fechamento da ANL, padeceu de um duplo equívoco. Em
primeiro lugar, o erro da radicalização verbal que o discurso introduzia, ao terminar
exigindo: “Todo o poder à ANL!”. Em segundo plano, o erro da conclamação, que
soou como um chamamento imediato às armas, tornou-se patético quando a ideia
de tal apelo foi justamente a de fortalecer a ANL, evitando ações golpistas.
Luís Carlos Prestes, Harry Berger e Rodolfo Ghioldi, apesar de acreditarem
que as condições para uma insurreição amadureciam rapidamente, queriam evitar
aventuras. Assim, caberia ao PCB dirigir o próximo movimento revolucionário, mas
não provocá-lo, pois acreditavam que o planejamento da conquista do poder pela via
revolucionária poderia falhar caso houvesse alguma precipitação.
A ANL foi fechada sem provocar maior protesto popular e a passividade com
que essa situação foi aceita, contrastava com a grande mobilização popular que esta
vinha conseguindo. Porém, depois do fechamento da ANL as agitações políticas
continuaram por meio das ameaças de rompimento de bancadas estaduais com
Getúlio Vargas, atingindo o auge nas eleições de outubro e na greve da Great
Western Railway Company17 em novembro.
São inúmeros os documentos que, depois do fechamento da ANL, alertavam
para que não se desencadeassem golpes sem respaldo popular em nível nacional.
_____________
17
A Great Western Railway Company foi criada em 1873 e se destinava a construir ferrovias no Brasil. Em 1945
a companhia possuía mais de 1.600 quilômetros de ferrovias, ligando os estados do Nordeste ao Rio de Janeiro.
Suas atividades foram encerradas em 1950, sendo sucedida pela Rede Ferroviária do Nordeste, antecessora da
Rede Ferroviária Federal (RFFSA).
40
Foi justamente acreditando que evitariam uma quartelada e reforçariam o
movimento de massas que resolveram lançar a ordem – “Todo o poder à ANL!”.
Luís Carlos Prestes e Arthur Ewert estavam fascinados pelo descontentamento
militar, pois a agitação dos quarteis era muito intensa em 1934, e continuaria ao
longo do ano de 1935. No início deste ano, uma proposta de lei que aumentava os
salários dos militares ocasionou uma profunda crise ao ser barrada pelo Congresso
Nacional. Além disso, o Ministro da Guerra renunciou ao cargo, pois queixava-se de
que oficiais esquerdistas haviam realizado enorme agitação no Clube Militar 18.
A imprensa comentava a possibilidade de mais insubordinações em quarteis,
onde desordens menores provocavam constantes trocas de comando. E, ainda, no
ano de 1935, o país vivia uma grave crise política e Getúlio Vargas não conseguia
apoio político suficiente para contornar tal situação, pois os principais partidos
políticos rivalizavam-se entre si, medindo forças, daí Waack afirma que:
“[..] no período de julho até outubro, quando começou a tomar medidas para
destruir a base de Prestes e a ANL nas Forças Armadas, Vargas não dava
em público a impressão de possuir muitos grupos políticos ao seu redor. Ele
já perdera o apoio de interventores importantes nos estados do Sul, como
Flores da Cunha, o impulsivo interventor em Porto Alegre, que o desafiava
abertamente. Poucos eram os estados que não registravam tumultos
políticos de grandes proporções. No Congresso, diminuía a base de apoio
entre os deputados, iniciando uma guerrilha contra a política econômica, ao
mesmo tempo que exigiam urgente adoção de medidas para equilibrar o
orçamento público e frear a inflação. Os interventores federais tinham
plenos poderes de atuar na repressão contra aqueles que confrontavam o
regime. Para que o poder continuasse em suas mãos, era preciso utilizar a
toda a força contra os comunistas, que tentavam tomar o poder, servindo de
pretexto para a instalação do Estado Novo.” (WAACK, 1988, p. 194)
Com toda essa situação armada, todos os contatos e seguidores de Luís
Carlos Prestes na ANL ou no PCB, e aqueles que atuavam dentro das Forças
Armadas, garantiam apoio certo se alguma coisa fosse empreendida. Confiante de
sua rede de informantes, Luís Carlos Prestes convencera-se de que a ANL estava
praticamente nas mãos de seus oficiais.
De fato, o que sobrara da ANL a predominância de comunistas era forte a
ponto de surgir críticas a esse respeito, alegando que o partido deveria ter dado
mais iniciativa e liberdade à direção da ANL, e não permitir que seus órgãos
dirigentes fossem ocupados apenas por comunistas.
_____________
18
O Clube Militar foi fundado em 26 de junho de 1887, tendo participação decisiva em momentos relevantes da
História do Brasil, como a Proclamação da República e a Revolução de 31 de março de 1964, mantendo-se
atuante nas questões políticas brasileiras até os dias atuais, com a participação de militares da reserva que
pretendem manter a legalidade no país.
41
4.2 O LEVANTE COMUNISTA DENTRO DOS QUARTEIS
Na madrugada do dia 27 de novembro (quarta-feira), estourava no Rio de
Janeiro a rebelião chefiada à distância por Luís Carlos Prestes que ficou conhecida
como Intentona Comunista de 1935. O levante, iniciado no 3º RI e secundado por
rebeldes da Escola de Aviação Militar19 acompanhava, já anacronicamente, os
primeiros levantes que ocorreram no dia 23 de novembro (sábado), iniciado pelo 21º
BC sediado em Natal – capital do Rio Grande do Norte; e no dia 24 de novembro
(domingo), no 29º BC em Recife – capital pernambucana.
Durante as décadas de 1920 e 1930, a situação política no Brasil era muito
grave, pois a movimentação da sociedade se intensificou, inicialmente, com as
rebeliões tenentistas, passando pela Coluna Miguel Costa – Prestes culminando na
Revolução de 1930, quando tudo era posto em questão na busca de novos rumos
para o Brasil. Dessa forma, a Intentona Comunista de 1935 encerrou esse ciclo de
manifestações políticas que marcaram os últimos 15 (quinze) anos, considerados
por muitos historiadores, com o período mais conturbado da história do Brasil.
Além disso, as discussões, de que participavam muitos setores da sociedade,
estava polarizada naquele momento pela disputa ideológica vigente da época,
estendendo-se a combates de rua, entre os integrantes da ANL comunistas, de um
lado, contra os membros da AIB simpatizantes do nazi-fascismo, de outro.
As discussões sobre as ordens externas para o desencadeamento do levante
comunista são baseadas no sentido de desmoralizar duplamente os comunistas
brasileiros. Primeiramente, por serem meros fantoches de uma potência estrangeira
e em segundo plano, por serem traidores, que teriam sido capazes de cometer
assassinatos de colegas de farda que estavam dormindo no momento da rebelião.
Também é importante ressaltar que não houve continuidade do movimento
insurrecional de 1935, em qualquer parte do Brasil, pois a repressão havia sido
eficiente e muito forte, além de que a maioria dos integrantes da comunidade militar
não era vinculada ideologicamente ao PCB, assim como a sociedade civil também
mantinha esse afastamento natural dos comunistas, principalmente por que pode
testemunhar tudo aquilo que os revoltosos eram capazes.
_____________
19
A Escola de Aviação Militar situada no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, pertenceu ao Exército
Brasileiro no período de 1919 a 1941. A partir de então, com a criação da Força Aérea Brasileira, passou a ser
designada como Escola de Aeronáutica na Base Aérea dos Afonsos, onde funciona, atualmente, as escolas de
Aperfeiçoamento e Estado-Maior da Aeronáutica.
42
4.2.1 O levante em Natal
No Rio Grande do Norte, as eleições haviam deixado o estado bastante
conturbado, o que se exacerbou com a ordem para o desengajamento de militares
do Exército Brasileiro, deixando os cabos e soldados do 21º BC indignados com a
situação política estadual. Dessa forma, a direção estadual do PCB foi orientada
pela direção nacional, mostrando-se cautelosa quanto aos motins dentro do quartel,
pois não havia confirmação da total adesão dos militares para o levante.
A situação ficou mais tensa ainda quando o governador eleito – Rafael
Fernandes – mandou dissolver a Guarda Civil, organizada pelo governo anterior. No
início de novembro, por exemplo, quando da greve na Great Western Railway
Company, apesar da empolgação dos comunistas com a amplitude e a
combatividade dos grevistas, o diretório estadual do PCB foi obediente às diretivas
que chegaram do Rio de Janeiro, mantendo cerrado o controle da situação.
Para a ANL não era conveniente, ainda, tentar um grande movimento nacional,
nem mesmo precipitar os acontecimentos nos outros estados do Nordeste. Sem uma
ação simultânea nos outros estados, não seria viável nem oportuno lançar no Rio
Grande do Norte a palavra de ordem de tomada imediata do poder.
Poucos dias antes da eclosão do movimento em Natal, praças do 21º BC
assaltaram um bonde da cidade e foram presos pelo Tenente Santana, logo depois
vítima de um atentado, o que mostra bem como iam os ânimos e a disciplina no
quartel. Já no dia 23 de novembro, a notícia da expulsão dos baderneiros criminosos
deixou os militares em polvorosa.
Dessa forma, o Sargento Quintino e o Cabo Dias foram procurar a direção do
PCB, representada pelo sapateiro José Praxedes. Foi comunicado que os militares
subalternos do 21º BC rebelar-se-iam às 07:30 h (sete horas e trinta minutos) da
noite e queriam que o partido se colocasse à frente da revolta.
Entretanto, a direção era contrária à rebelião naquele momento, porém, diante
da insistência de Dias e Quintino, resolveu participar. Na hora marcada o quartel foi
tomado com facilidade, pois o Cabo Dias e o Sargento Raymundo Francisco de
Lima, conhecido como Raymundo Tarol, prenderam o Comandante da Guarda e os
outros militares que se encontravam no local, dando vivas à ANL e a Luís Carlos
Prestes. Os revoltosos saíram em busca de algum oficial que dirigisse a rebelião,
mas não conseguiram que nenhum aderisse.
43
A Polícia Militar foi a única que lhes opôs resistência, assim mesmo não por
muito tempo. A oficialidade do 21º BC não reagiu ao motim, pois a maioria se
escondeu, enquanto o pânico tomava conta de Natal, enquanto os rebeldes agiam
sem a menor organização.
Na noite do dia 24 de novembro, já de posse da cidade e sabedores que o 29º
BC, em Recife, havia se levantado, imaginaram que a revolução começava em todo
o país. Os comunistas locais assumiram então, abertamente, a direção da revolta e
então, foi nomeado um Comitê Popular Revolucionário, dirigido pelo próprio José
Praxedes, com o cargo de secretário de Abastecimento.
Os demais membros, todos do PCB, eram: Lauro Cortez Lago – funcionário da
Polícia Civil – no cargo de secretário do Interior; Quintino Clementino de Barros –
Sargento músico do 21º BC – como secretário da Defesa; José Macedo – tesoureiro
dos Correios e Telégrafos – como secretário das Finanças; e João Batista Galvão –
funcionário de uma escola – no cargo de secretário da Viação.
O primeiro ato do Comitê foi a ordem de arrombamento dos cofres dos bancos,
das repartições federais e das companhias particulares para financiar, desde logo, a
revolução e o Comitê Popular Revolucionário publicou um jornal com a denominação
de A Liberdade, no qual somente o primeiro número foi impresso:
“[...] enquanto o povo continuava festejando nas ruas a revolta do 21º BC,
lançamos um programa de governo: bonde barato e pão barato. Demos
transporte e comida ao povo. Tiramos 10 mil manifestos e falamos pelos
alto-falantes, chamando o povo para se unir contra o capitalismo. Que nós
queríamos pão, terra e liberdade. [...] Mas o povo não queria trabalhar, só
queria gritar: Viva Prestes! Viva Prestes! E Prestes era a menina dos olhos
de lá. O povo nas ruas festejava a queda de um governo impopular e a farra
da distribuição de comida e de dinheiro, enquanto a Junta continuava a
avaliar que se festejava a revolução nacional-libertadora e divulgava para
todos tomarem ciência.”(A Liberdade, 27/11/1935)
Em manifesto escrito na mesma data pelo jornal A Liberdade, os revoltosos
acreditavam que todo o país acompanhava a revolução:
“Ao eco de nossa metralha já responderam os companheiros da Paraíba do
Norte, Pernambuco, Alagoas, Espírito Santo, Maranhão e Estado do Rio de
Janeiro, os quais já estão nas mãos dos nacionais libertadores. São Paulo
está insurrecionado, com o povo em armas e o proletariado em greve
revolucionária, tudo indicando que o governo não se sustentará por muitas
horas, e mais para o Sul o proletariado se atira em greves combativas,
aclamando o nome de Luís Carlos Prestes. A gloriosa Marinha Brasileira
também já virou seus canhões contra a tirania, estando revoltada na Bahia
de Guanabara e bem assim no Pará; Santa Catarina levantou-se há poucos
minutos, sob o comando do valente companheiro Hercolino Cascardo.” (A
Liberdade, 27/11/1935)
44
No Rio Grande do Norte a rebelião estendeu-se pelo interior do estado, onde a
população, na sua grande maioria, via o movimento como coisa dos partidários do
ex-governador Mário Câmara, derrotado nas recentes eleições.
No dia 26 de novembro à noite, os membros do Comitê haviam recebido um
telegrama de Recife em que as autoridades legais exigiam sua rendição. A partir daí,
tomaram consciência da derrota do movimento em ambas as cidades, dando então a
ordem de debandar. Sendo que, no mesmo dia, todos os membros do Comitê foram
presos, com exceção de José Praxedes, que conseguiu escapar.
A maioria dos participantes do movimento não sabia explicar o porquê da
rebelião. Um dos poucos a ter clareza do que estava acontecendo foi o Cabo Dias,
pois era aquele que havia iniciado o movimento no quartel e acabando por libertar
todos os prisioneiros. Em depoimento à polícia disse que a rebelião não tinha chefes
e que havia sido um movimento de indisciplina, como protesto pela expulsão de
grande número de praças, nos dias 22 e 23 de novembro. Daí, os rebeldes se
aproveitaram da situação e o transformaram num movimento comunista.
Boa parte da população achava que a rebelião era apoiada por Getúlio Vargas,
contra o governo de Rafael Fernandes que havia derrotado Mário Câmara, aliado do
governo federal. Muitos aderiram por medo, outros por oportunismo, quando
acharam que o movimento tinha vencido. Poucos disseram que o levante era em
torno dos ideais de Luís Carlos Prestes, mas a maioria das pessoas não tinha a
menor ideia de que se tratava.
Figura 3 – Fachada do Regimento Policial de Natal após a ação do 21º BC e dos civis comunistas.
Fonte: CPDOC/FGV.
45
4.2.2 O levante em Recife
A capital pernambucana sediava a direção comunista regional, o Secretariado
do Nordeste, de que faziam parte o ex-tenente Silo Meireles, o padeiro Caetano
Machado e o funcionário público Pascácio de Souza. O trabalho do PCB entre os
militares era organizado pelo Sargento Gregório Bezerra, instrutor do Tiro de Guerra,
que, além dos militares, contactava também com as demais forças de segurança.
A greve na estrada de ferro da Great Western Railway Company foi
especialmente combatida em Recife, contando com a solidariedade de outros
setores, como da companhia de energia elétrica, dos transportes, do carvão, e,
inclusive, de cabos e soldados do 29º BC, fato que reforçou a crença na existência
de uma situação revolucionária na iminência de explodir, seguindo o mesmo destino
da capital potiguar.
No 29º BC, soldados armados desacataram oficiais que queriam combater os
grevistas e a desobediência dos militares chegou a resultar na morte de um tenente
integralista. No dia 15 de novembro, os operários das mais importantes usinas de
açúcar do estado aderiram à greve, o que só fez reforçar nos comunistas a ideia de
que a revolução não demoraria a começar.
Foi nesse clima que a notícia do levante do 21° BC em Natal chegou ao
Secretariado do Nordeste, na noite de 23 de novembro, resolvendo desencadear
imediatamente uma rebelião no 29° BC. Sendo assim, o Sargento Gregório Bezerra,
embora fosse a favor da insurreição, considerava loucura começá-la num domingo,
quando os soldados estavam dispensados do comparecimento ao quartel, mas o
Secretariado insistiu nesta data e o levante foi marcado para as 09:00 h (nove horas)
da manhã do dia seguinte, dia 24 de novembro.
Além disso, o Tenente Lamartine Coutinho, ligado à ANL e aos comunistas, foi
escolhido pelo Secretariado para desencadear o movimento. Silo Meireles transmitiu
as ordens e, disciplinado, o Tenente Lamartine foi cumpri-las, contando com o apoio
do Tenente Alberto Besouchet, também membro do PCB, sendo os únicos oficiais
do 29º BC a participar da insurreição.
O quartel foi logo tomado, apesar da resistência dos oficiais que lá se
encontravam. Os revoltosos, depois de prenderem os legalistas, começaram a
distribuir armas aos populares que apareciam na certeza de que o povo aderiria em
massa à insurreição, o que não ocorreu.
46
Outro oficial que participou ativamente do movimento foi o Capitão Otacílio
Alves de Lima, membro do PCB que servia no 22º BC – em João Pessoa – e,
coincidentemente, estava de folga em Recife. Dessa forma, Silo Meireles queria que
esse oficial fosse levantar o 22º BC, porém o capitão afirmou que nenhum militar de
João Pessoa o acompanharia, incorporando-se então ao grupo rebelde do Tenente
Lamartine.
O Sargento Gregório Bezerra, que havia passado a noite mobilizando os cabos
e soldados do CPOR de Recife, esperava a adesão de estivadores e outros
operários que o PCB garantia estarem prontos para a luta, mas ninguém
compareceu para apoiá-los. Sendo assim, Gregório Bezerra resolveu tomar o
Quartel General da 7ª Região Militar por conta própria, sendo rendido imediatamente
após uma atitude isolada.
No início da tarde de domingo as tropas legalistas já tinham cortado o acesso
dos rebeldes ao centro da cidade, enquanto no Largo da Paz, a ofensiva do Tenente
Lamartine e do Capitão Otacílio fracassava, sem receber as esperadas adesões.
Na segunda-feira, dia 25 de novembro, com a chegada de reforços da Paraíba
e a ameaça de bombardeio aéreo, o pânico tomou conta da população, de forma
que à tarde os rebeldes se retiraram do Largo da Paz e o quartel do 29º BC foi
abandonado, demonstrando que o movimento estava derrotado.
Apesar de os oficiais que dirigiam o levante terem resolvido continuar a luta do
interior, pouca gente os seguiu. Além do mais, Vitória de Santo Antão, onde
pretendiam se reorganizar, já estava ocupada por tropas do governo. Já no dia 27
de novembro, todos os chefes rebeldes já estavam presos.
Ao contrário do Rio Grande do Norte, a repressão em Recife foi eficiente e
muito forte e, como em Natal, atribuiu-se o levante às ordens de Moscou. Também
no Recife não estava claro para a população o que ocorria, pois quando o
movimento eclodiu, a população do Recife foi apanhada de surpresa, perguntando o
que estava acontecendo e ninguém sabia responder.
De qualquer forma, houve maior consciência do que se passava. A maioria dos
presos em Recife dizia que o levante era pelo “governo popular, nacional e
revolucionário, com Luís Carlos Prestes à frente” ou “por um governo em que o
proletariado não sofresse mais os vexames impostos pelo capitalismo”, ou mesmo
por “pão, terra e liberdade”.
47
Cabe ressaltar que no dia 23 de novembro, na mesma hora em que começava
o levante em Natal, terminava no Rio de Janeiro uma reunião da direção nacional do
PCB com representantes das direções estaduais, inclusive do Rio Grande do Norte,
sem que ninguém suspeitasse do que acontecia. Tanto a direção nacional do PCB
quanto Luís Carlos Prestes e os assessores da Internacional Comunista
desconheciam por completo os acontecimentos do Nordeste.
Os movimentos desencadeados em Natal e no Recife com certa precipitação
criaram sério problema para o Comitê Revolucionário do Norte e Nordeste. Este
Comitê tinha sido articulado no Rio de Janeiro, na fase preparatória da insurreição,
com a ampla finalidade de preparar e orientar o movimento da Bahia ao Amazonas.
Quando as notícias começaram a chegar mais tarde, todas eram muito vagas
e, dessa forma, nem o governo, nem a oposição, muito menos os comunistas
sabiam ao certo o que se passava em Natal e Recife.
Segundo Araújo (1973, p. 64), o número de mortos chegou a algumas dezenas,
enquanto o de feridos foi a quase uma centena. Além disso, mais de quinhentos
elementos foram aprisionados.
Figura 4 – Flagrante da condução dos prisioneiros que participaram da revolta no 29º BC em Recife.
Fonte: CPDOC/FGV.
48
A brilhante atuação dos militares legalistas do 22º BC – comandado pelo
Capitão Heitor Ulisses; da Bateria Independente de Artilharia de Dorso – comandada
pelo Capitão Leandro da Costa Júnior; além da Polícia Militar – comandada pelo
Tenente Coronel Afonso de Albuquerque – foi determinante para que os amotinados
recuassem e fugissem para o interior do estado, podendo classificar esse entrevero
como um autêntico combate de fogo e movimento.
O General Manoel Rabelo, Comandante da 7ª Região Militar, encontrava-se
fora da cidade de Recife e, por esse motivo, o Coronel Artur de Castro assumiu o
comando das tropas legalistas, interinamente, fazendo distribuir e irradiar a nota
destinada aos rebeldes, determinando segundo Araújo:
“Caríssimos camaradas, aconselho-vos à rendição com a deposição das
armas. A Tropa Federal auxiliada pela Brigada Policial deste estado iniciou
o ataque, a fim de conduzir-vos à ordem e à paz. Apelo para vossos
sentimentos patrióticos e humanos, para que seja evitado o derramamento
de sangue de nossos irmãos. Lembrai-vos da imagem sacrossanta da
Pátria, da Família e do patrimônio histórico e glorioso do nosso Exército
Brasileiro.” (ARAÚJO, 1973, p. 63)
O governo estava se preparando para enviar tropas ao Nordeste, pois, em todo
o país, as Unidades Militares foram colocadas em rigorosa prontidão. Além disso,
começaram também as prisões de líderes políticos oposicionistas, militares,
parlamentares e dirigentes sindicais, enquanto Plínio Salgado20 oferecia ao governo
100 mil homens para combater os rebeldes.
Juntando-se aos propósitos do governo federal, a AIB era a maior interessada
em combater os comunistas devido à sua base ser formada do apoio mobilizável no
espectro de extrema direita, que se extasiava com sua repressão de cunho fascista
contra a esquerda brasileira.
A intervenção federal não foi necessária, pois as tropas legalistas de
Pernambuco e da Paraíba, no fim do dia 26 de novembro (terça-feira) já havia
dominado a guarnição de reveldes e enviado destacamentos em perseguição aos
fugitivos que, acossados durante a debandada, foram abandonando, pelas estradas,
uma grande quantidade de material bélico. Aqueles que participaram da rebelião e
foram presos, cumpriram sua pena após o julgamento de seus atos criminosos de
lesa pátria, causando um enorme transtorno para o povo brasileiro.
_____________
20
Plínio Salgado foi aclamado chefe nacional da AIB, cuja principal atividade era perseguir os membros do
PCB, o que era visto diariamente em brigas de rua entre as facções rivais, sendo que esta rivalidade política tinha
o propósito principal de assumir o poder e acabar de vez com seu concorrente. Na década de 1940, tornou-se um
deputado atuante contra o avanço do comunismo no Brasil.
49
4.2.3 O levante no Rio de Janeiro
Apesar de tudo que já havia ocorrido no Nordeste, Luís Carlos Prestes tomou a
decisão de levantar as unidades militares do Rio de Janeiro. Ao saber dos levantes,
tentou encontrar-se com o secretário-geral do PCB – Antônio Bonfim21, para não
tomar uma decisão solitária. Miranda, que já havia sido informado do ocorrido, não
deu grande importância aos acontecimentos, o que caracterizou mais uma evidência
de que a direção nacional não era responsável por eles, demorando procurar Luís
Carlos Prestes e os assessores da Internacional Comunista.
Quando finalmente realizaram a reunião, Luís Carlos Prestes jogou todo o peso
de sua autoridade para desencadear a luta no Rio de Janeiro. Miranda vacilava em
apoiar a proposta de Luís Carlos Prestes, enquanto Rodolfo Ghioldi e Harry Berger
não queriam dar seu aval sem o apoio do secretário-geral do PCB. Entretanto, Luís
Carlos Prestes acabou por convencer a todos de sua posição, cuja decisão seria de
solidarizar-se com companheiros da região Nordeste do Brasil.
Na noite de 24 de novembro (domingo), Miranda foi discutir a resolução com os
demais membros da direção do partido usando, para convencê-los, os mesmos
argumentos de Luís Carlos Prestes. Com a concordância de todos, a insurreição
ficou marcada para a madrugada do dia 27 de novembro (quarta-feira). Luís Carlos
Prestes, imediatamente, procurou contato com a direção da Komintern, em Moscou,
para comunicar a decisão tomada. Também, escreveu cartas para as unidades
militares do Rio de Janeiro e para antigos companheiros da Coluna Miguel Costa –
Prestes, mesmo sem saber com quem poderia contar.
O 3º RI na Praia Vermelha, era uma unidade muito importante, pois possuía
um efetivo de 1.700 (mil e setecentos) homens, contando com três batalhões, cada
um deles com três companhias de fuzileiros e uma de metralhadoras. Naquele
momento, o PCB tinha somente dois oficiais do Regimento, ligados ao partido – o
Tenente Leivas Otero, que lá servia, e o Capitão Agildo Barata que estava preso
naquela Unidade.
Já a ANL contava com cerca de trinta militares subalternos do quartel, sendo
onze deles também filiados ao PCB. A ANL tinha, ainda, muitos simpatizantes que
pertenciam a outros quarteis.
_____________
21
Antônio Bonfim era o secretário-geral do PCB em 1935 e era mais conhecido por meio da alcunha de
Miranda.
50
No 3º RI, as ordens de Luís Carlos Prestes foram recebidas com enorme
entusiasmo e ninguém duvidava da vitória. A tensão era grande no quartel e
evidentemente não havia ninguém dormindo. Após a tomada do quartel, o 1º
Batalhão deveria ir para o Arsenal de Marinha ajudar a levantar o Batalhão Naval,
enquanto o 2º Batalhão tomaria a Polícia Militar, e o 3º Batalhão seria responsável
pela tomada do Palácio do Catete e do Palácio Guanabara. Além disso, o QG do
Exército seria o próximo alvo dos revoltosos após o cumprimento dessas missões.
A tomada do 3º RI não ocorreu de acordo com o planejamento de Luís Carlos
Prestes, pois a resistência da companhia de metralhadoras retardou o domínio do
Regimento, permitindo o cerco das forças governistas antes que os rebeldes
pudessem sair. Situado entre os dois morros da Praia Vermelha – Morro da Urca e
Morro da Babilônia, a Baía de Guanabara aos fundos e tendo como única saída a
Avenida Pasteur, quando esta foi ocupada pelas tropas do governo, os rebeldes
ficaram encurralados, esperando reforços da Vila Militar de Deodoro e da Escola de
Aviação Militar, que não chegaram. Sendo assim, por volta das 11:30 h (onze e
meia) da manhã do mesmo dia, o 3º RI começou a ser bombardeado, arrasando-se
o quartel e promovendo a rendição dos revolucionários.
Luís Carlos Prestes, que ficara em seu QG esperando a vitória para assumir o
comando revolucionário, ao saber da derrota voltou para casa, seguro de que
sofreram apenas uma derrota, pois a luta iria continuar.
Figura 5 – Edifício da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, depois transformado em sede do 3º RI.
Fonte: CPDOC/FGV.
51
Na Escola de Aviação Militar, onde o número de oficiais comunistas era maior,
o Capitão Agliberto Vieira e o Tenente Benedito de Carvalho, além do Cabo Correa
de Sá não contavam com o elemento surpresa, pois o levante tinha começado mais
cedo no 3º RI e a direção da escola já estava avisada. Apesar disso, depois de uma
luta ferrenha, os rebeldes conseguiram domina-la até o amanhecer. Porém, após o
dia clarear e a reação contra os rebeldes tornar-se cada vez mais forte, ficou
evidente que o movimento estava derrotado.
A Vila Militar de Deodoro era a maior concentração do 1º Exército e os
rebeldes, que consideravam sob seu domínio, não se revoltou. Assim como a Vila
Militar e a Marinha que não apoiaram o movimento, a população civil não tinha a
menor ideia do que estava acontecendo.
Mais uma vez, também no Rio de Janeiro, os participantes do movimento
insurrecional não tinham a clareza dos motivos da revolta. Se para uns a revolta era
liderada por comunistas e aliancistas para colocar Luís Carlos Prestes à frente de
um governo de libertação nacional, para muitos eram outros os chefes militares
envolvidos e a maioria dos militares subalternos, lutando por obediência aos oficiais
em quem confiava.
Diversas unidades militares participaram da ação contra os amotinados,
cabendo destacar o Batalhão de Guardas, situado no bairro de São Cristóvão, após
o Tenente Coronel Pedro Leonardo, receber as ordens diretamente do Comandante
da 1ª Região Militar – General Eurico Gaspar Dutra, o Batalhão cumpriu,
brilhantemente, sua missão. Desse modo, o 1º BG conseguiu, no mesmo dia, impor
a legalidade por meio de um ataque frontal e o avanço de suas companhias de
infantaria e sua companhia de metralhadoras, além do reforço de uma companhia de
infantaria do 2º BC, pela Avenida Pasteur, sendo apoiados pelo 1º Grupo de
Obuses, também localizado no bairro de São Cristóvão.
Devido a curta distância de 10 (dez) quilômetros entre os bairros de São
Cristóvão e a Urca, o General Dutra decidiu que o 1º BG cumpriria a missão de
reestabelecimento da ordem no 3º RI. Assim, o acionamento das unidades da Vila
Militar de Deodoro não foi necessário, mesmo que já estivessem em condições de
atuar encontrando-se em estado de prontidão, em virtude da distância de 40
(quarenta) quilômetros que separam os bairros, desmentindo a falácia de que a Vila
Militar não se uniria às tropas legalistas.
52
Perderam sua vida durante a Intentona Comunista de 1935, lutando pela
legalidade, os seguintes militares: Tenente Coronel Misael Mendonça, Major
Armando de Souza Mello, Major João Ribeiro Pinheiro, Capitão Danilo Paladini,
Capitão Geraldo de Oliveira, Capitão Benedito Lopes Bragança, Tenente José
Sampaio Xavier, Sargento José Bernardo Rosa, Sargento Jaime Pantaleão de
Moraes, Sargento Coriolano Ferreira Santiago, Sargento Abdiel Ribeiro dos Santos,
Cabo Luiz Augusto Pereira, Cabo Alberto Bernardino de Aragão, Cabo Pedro Maria
Netto, Cabo Fidelis Batista de Aguiar, Cabo José Hermito de Sá, Cabo Clodoaldo
Ursulano, Cabo Manoel Biré de Agrella, Cabo Francisco Alves da Rocha, Soldado
Luiz Gonzaga, Soldado Lino Vitor dos Santos e Soldado João de Deus Araújo.
Apesar da derrota, os revolucionários queriam continuar a luta, achando que a
vitória seria possível com um pouco mais de tempo e organização, a tal ponto que
alguns presos dormiam vestidos, esperando ser libertados a qualquer momento. O
jornalista Otávio Costa, ao sair da prisão, mandou informar à direção do PCB que
estava seguro de que outros levantes e greves ocorreriam e por isso era preciso
manter a esperança com muito entusiasmo.
Segundo Araújo, a liderança revolucionária dentro do 3º RI não possuía
credibilidade tanto para aqueles que estavam do lado de dentro, quanto àqueles que
se encontravam fora do aquartelamento:
“Com uma demagogia ridícula, tentou o Capitão Agildo Barata mascarar o
caráter comunista do movimento, embora fosse chefiado por Luís Carlos
Prestes. Assim agindo, procurava adesões. Ninguém lhe dava crédito e era
constantemente aparteado por oficiais, que tudo faziam para não ouvir suas
palavras. Acabou saindo contrafeito. Não vingara o canto da sereia
vermelha camuflada em pomba da paz.” (ARAÚJO, 1973, p. 123-124)
Na operação para a retomada do aquartelamento do 3º RI, o General Dutra
projetou-se não só como chefe decidido e muito lúcido, como também autêntico e
bravo herói que soube lidar com os revoltosos de uma maneira firme, servindo de
exemplo pessoal aos soldados que comandou naquela manhã do dia 27 de
novembro de 1935.
O General Dutra não trepidou em avançar na direção do quartel e deu ordens
para que todos os rebeldes fossem presos, dizendo ainda “entrem em forma”. E foi
de recanto em recanto ver de perto a desgraça ali provocada por soldados
desgarrados, que tentavam entregar o país ao imperialismo comunista-soviético,
numa flagrante traição à Pátria.
53
4.2.4. A prisão de Luís Carlos Prestes
Na primeira avaliação que a direção do PCB fez dos movimentos dizia-se que o
levante nordestino deu-se repentinamente e num momento em que a situação em
outras partes do país não tinha ainda chegado ao ponto culminante de sua
madureza revolucionária. Ela se deu num momento de preparação ainda insuficiente
das forças revolucionárias para a luta decisiva.
Luís Carlos Prestes recordou, mais tarde que sua perspectiva, apesar de ter
considerado, inicialmente, um desastre, era continuar a luta, achando que haveria
condições para continuar a luta armada. Em dezembro de 1935, com a prisão de
dois membros da direção do PCB, Arthur Ewert foi identificado e pouco depois
localizado. Já Olga Benário teve tempo de avisar Luís Carlos Prestes, conseguindo
fugir a tempo.
Na manhã de 13 de janeiro de 1936, o PCB sofreu outro sério golpe, com a
prisão de Miranda e o cerco sobre Luís Carlos Prestes se fechava. Nessa ocasião,
Rodolfo Ghioldi resolveu fugir com a mulher por sua conta e risco, acabando sendo
preso em 24 de janeiro de 1936. Na prisão, forneceu à polícia as indicações que
tinha sobre o paradeiro de Luís Carlos Prestes.
Desde a prisão de Rodolfo Ghioldi, a polícia começou a fazer uma varredura no
Meier, seguindo de rua em rua, casa por casa, com quatro turmas que se revezavam
a cada seis horas. Até que, na noite de 5 de março, Luís Carlos Prestes e Olga
Benário foram presos.
Figura 6 – Prisão de Luís Carlos Prestes na Rua Honório, no Meier, no dia 05/03/1936.
Fonte: CPDOC/FGV.
54
Após sua prisão Luís Carlos Prestes perdeu definitivamente o posto de Capitão
e iniciou uma pena de prisão que durou quase dez anos. Já Olga Benário foi
entregue à GESTAPO22 e deportada grávida para a Alemanha nazista, por ordem
presidencial, onde morreu em um campo de concentração em 1942, haja vista que
possuía traços da descendência judia. A criança – Anita Leocádia Prestes – nasceu
em uma prisão, sendo resgatada pela avó paterna, após intensa campanha
internacional.
Em resumo, a sua análise reforça a tese do comando de Luís Carlos Prestes,
que não é meramente formal, mas a concretização das suas ideias sobre "o que
fazer". Note-se que, apesar de não concordar com a versão "romanceada" e de
"forte apelo popular" segundo a qual Luís Carlos Prestes teria sido o único a
defender claramente os levantes no Rio de Janeiro, Waack (1988) diminui a
importância da reunião do dia 25 de novembro, considerando que ela só fez
antecipar decisões já tomadas; o que nos remete, outra vez, às propostas de maio,
de Luís Carlos Prestes e Artur Ewert, alterando os planos iniciais de Moscou.
Cabe ressaltar que, para outro destaque nas descobertas de Waack, as
informações apresentadas por ele sobre essa reunião foram buscadas no relato de
um quinto participante, até então ignorado: Amleto Locatelli, outro assessor da
Komintern, que chegara atrasado para continuar sua viagem até o Nordeste – já
conflagrado – e estava na casa de Rodolfo Ghioldi nesse dia 25 de novembro.
Nesse sentido, foi feito o que Luís Carlos Prestes queria e sabia fazer. E foi
isso que a Komintern acabou apoiando, pois acreditava no seu carisma perante a
população brasileira. Assim, vale destacar que:
"[...] apesar de vários grupos terem participado da formação da frente, foram
os tenentes dissidentes da Revolução de 1930 os que tiveram maior
destaque na organização da ANL, o que deu à organização uma projeção
política e uma articulação nacional derivadas de suas experiências de lutas.”
(WAACK, 1988, p. 188-189)
De qualquer forma, tal como existiu, 1935 parece inegavelmente marcado,
antes de tudo, pela liderança, pelas decisões e pelos planos de Luís Carlos Prestes.
Afinal, não foi ele que "optou por uma quartelada em escala nacional, confiante que
seu nome incendiaria o espírito nacionalista e revolucionário dos militares" e, dessa
forma, receberia o apoio popular.
_____________
22
GESTAPO é o acrônico alemão de Geheime Staats Polizei, que significa Polícia Secreta do Estado, atuando
firmemente durante o regime nazista alemão.
55
5 OS REFLEXOS DA INTENTONA PARA O EXÉRCITO BRASILEIRO
A importância de uma ideologia dentro de uma instituição é medida por sua
capacidade de mobilizar forças e por seu poder de intervenção, logo, pode-se
afirmar que o anticomunismo desempenhou um papel fundamental na história do
Exército Brasileiro, sendo relevante para a compreensão e análise dos fenômenos
históricos diretamente ou indiretamente ligados a essa temática, ultrapassando o
campo do político e refletindo na sociedade, na economia e na cultura do Brasil.
A década de 1930 destacou-se como o momento em que o anticomunismo
tornou-se uma das características mais marcantes dentro do Exército Brasileiro.
Sendo assim, o apoio dos militares ao Estado Novo de Getúlio Vargas foi, em parte,
fruto da desconfiança da instituição e demais setores da sociedade que haviam sido
afrontadas por ideias subversivas, concretizadas pela Intentona Comunista de 1935.
Dessa forma, o anticomunismo tornou-se o principal elemento ideológico que
legitimava a ação direta dos militares no cenário político. Outros discursos como o
nacionalismo, o desenvolvimento e a moralização das instituições também eram
legitimadores para a intervenção militar na política.
Segundo Ferreira (1986), a importância do anticomunismo na compreensão da
relação do Exército Brasileiro como agente político na história do Brasil se evidencia
pelo fato de que:
“Não seria exagero nenhum afirmar que se a história política recente do
Brasil tem se caracterizado por uma constante e crescente presença das
Forças Armadas na cena política, esta presença tem sido justificada,
antecipadamente ou posteriormente, através da retórica anticomunista. Do
golpe de 1937 ao golpe de 1964, da cassação do PCB em 1947 até a
legalização dos partidos clandestinos em 1985 com a abertura política e a
devolução do poder aos civis [...] em suma, não há um acontecimento
relevante para a política brasileira nos últimos cinquenta anos e que com a
presença das Forças Armadas, ou setores expressivos delas, onde a
retórica anticomunista não seja utilizada.” (FERREIRA, 1986, p. 50-51)
Portanto, é com a eclosão da Intentona Comunista de 1935 que se
institucionaliza o anticomunismo como um discurso das Forças Armadas, prática que
acompanhou a ideologia dominante do Exército Brasileiro e que se faz presente na
instituição, apresentando resquícios até os dias atuais.
Segundo Castro (2002), a descrença na democracia era generalizada, sendo
este cenário político conturbado no qual a ameaça comunista no país deixava de ser
distante e se tornava real, quando o levante comunista eclodiu dentro dos quarteis.
56
Castro (2002) explica que nos meses seguintes à revolta:
“Getúlio Vargas e os chefes militares começaram uma perseguição
implacável aos ditos inimigos da nação, os comunistas. Também foi
decretado estado de sítio, ocorrendo inúmeras expulsões de militares de
esquerda das Forças Armadas. Os comunistas brasileiros foram acusados
de estarem a serviço de Moscou, sendo, portanto, traidores da pátria. Os
militares que participaram da revolta foram acusados de dupla traição, não
só com o país, mas também com as Forças Armadas que foram ultrajadas
em seus dois pilares: a hierarquia e a disciplina. As Armas nos anos
seguintes cristalizaram a ideia de traição criando um forte anticomunismo
dentro da instituição, embora a oposição dos setores militares ao
comunismo anteceda a Intentona Comunista de 1935. Foi a partir desta
data que a instituição passou a identificar e combater o comunismo como
principal inimigo.” (CASTRO, 2002, pag. 176)
Cabe ressaltar que a infiltração comunista se fez presente no seio do Exército
Brasileiro, inclusive na própria Escola Militar do Realengo, objeto de constante
propaganda comunista, pois havia o interesse em instalar as teorias bolchevistas na
mente dos futuros oficiais. Entretanto, em razão da marcante atuação do seu
comandante na época – o então Coronel Mascarenhas de Moraes23, a Escola não
permitiu que os comunistas atuassem dentro de seus muros e alcançasse êxito em
suas pretensões. Além disso, não obstante de ser um estabelecimento de ensino, a
Escola Militar do Realengo participou ativamente do movimento legalista para a
garantia da lei e da ordem na Escola de Aviação Militar no Campo dos Afonsos, que
se localizava apenas a 5 (cinco) quilômetros de distância.
Após o fatídico episódio da Intentona Comunista de 1935, o Exército Brasileiro
passou então a voltar-se para o cunho ideológico de seus integrantes de forma que
não viessem ferir os preceitos da hierarquia e disciplina. Além disso, o
posicionamento secular da defesa da pátria e do povo brasileiro seria mantido como
o baluarte institucional em benefício do Estado Brasileiro.
Ainda, como forma de evitar novas rebeliões dentro dos aquartelamentos,
surgiu dentro do Exército Brasileiro uma nova ideologia anticomunista, pois não seria
possível suportar outra traição de irmãos de armas na luta contra um regime político.
Tal situação ficou caracterizada pela crença nos valores éticos e morais de seus
integrantes, voltada para o cumprimento do dever de proteger a sociedade brasileira,
razão principal da existência da instituição militar. Ressalta-se, portanto, a distinção
entre o interesse público e particular de seus integrantes.
_____________
23
O Coronel João Batista Mascarenhas de Moraes comandou a Escola Militar do Realengo no período de 18 de
julho de 1935 a 5 de agosto de 1937, tomando parte na luta contra a Intentona Comunista de 1935 na Vila Militar
de Deodoro.
57
Certamente, o tratamento dado aos oficiais simpatizantes da esquerda em
1935 pelo governo federal e, também, pela cúpula militar afetou muito a imagem do
Exército Brasileiro como instituição nacional e permanente, aproximando-o das
forças conservadoras de direita. Uma nova aproximação foi feita na década de 1950,
sob forte influência da Guerra Fria, quando o Clube Militar passou a ser presidido por
militares da reserva mais conservadores de direita. Dessa forma, o debate político
naquela entidade reduziu bastante, pois havia o consentimento de todos integrantes
do que seria melhor para o desenvolvimento nacional.
Nos primeiros anos da Guerra Fria, grande parte dos oficiais do Exército
Brasileiro adotou o alinhamento com os EUA como postura ideal dentro do ambiente
de bipolaridade criado após a 2ª Guerra Mundial. Essa vertente encontrou apoio em
setores mais conservadores da sociedade, como a Igreja Católica, entre os adeptos
do anticomunismo e entre políticos que defendiam maior abertura econômica, sendo
considerados como liberais.
A outra ala nacionalista – defensora da neutralidade do país na agenda norteamericana – era interessada em um desenvolvimento pautado na intervenção estatal
em setores estratégicos da economia, encontrando apoio em setores voltados para a
autossuficiência nacional e até mesmo na esquerda radical.
Para os liberais, os nacionalistas eram comunistas. Para os nacionalistas, os
liberais eram entreguistas. Assim, tal adjetivação extrapolava as discussões do
Clube Militar, o que constantemente estampavam as capas dos principais jornais do
país, comprovando essa distinção entre as duas vertentes políticas.
Figura 7 – Monumento da Praia Vermelha em homenagem às vítimas da Intentona Comunista.
Fonte: CPDOC/FGV.
58
Em um artigo do Correio da Manhã, o jornal mostrava preocupação com as
atividades do Clube Militar, “na medida em que afetam a ordem, a segurança e os
compromissos da nação brasileira” e denunciava que “a agitação e o divisionismo
são provocados pelos que querem transformar o Clube Militar em uma ilha soviética,
dominada por comunistas” (PEIXOTO, 1980, p. 96).
Já no editorial Disciplina e Autoridade, o jornal criticava a direção do Clube
Militar, chamando a atenção do governo para punir o grupo de oficiais simpáticos ao
imperialismo soviético.
Paralelamente, a ESG se desenvolvia como principal difusora de uma nova
mentalidade aos oficiais, que aproximava os núcleos conservadores da instituição
militar, promovendo uma lógica intervencionista e anticomunista, necessárias para
impedir o avanço do comunismo no Brasil. Já na década de 1960, com a nova
polarização na cúpula militar, “mais de 1.200 militares, supostamente envolvidos
com o comunismo, foram expulsos das fileiras ou transferidos para a reserva, até
1968” (BORGES FILHO, 1994, p. 104), reduzindo sobremaneira a existência de
diferentes linhas de pensamento dentro da instituição.
Com o passar dos anos, novos elementos ideológicos foram inseridos à
doutrina da ESG, em especial, a Doutrina Truman 24, que a partir de 1962, influenciou
decisivamente as ações militares de contenção do comunismo no país.
Outra doutrina irradiada pela ESG foi a Doutrina de Guerra Revolucionária,
sofrendo influência direta da experiência francesa na Argélia e na Indochina. No
Brasil, essa doutrina visava um maior controle das informações que seria realizado
através da centralização do poder político e militar. Sendo assim, prescindia da
intervenção militar no governo, o que serviria não como uma prescrição do que fazer
nas relações políticas, mas como uma justificativa do que já vinha sendo feito.
Como em 1935, a aproximação com o comunismo foi entendida como perigosa
aos dois pilares da instituição militar – hierarquia e disciplina. Nesse sentido, havia a
preocupação não somente com os oficiais que apoiavam o Presidente da República
– João Goulart, mas também com as praças, principalmente os marinheiros, que
também haviam prestado solidariedade ao presidente deposto.
_____________
24
A Doutrina Truman surgiu durante o governo de Harry Truman, dando continuidade nos governos de Dwight
Eisenhower e John Kennedy – presidentes norte-americanos de 1945 a 1953, 1953 a 1961 e 1961 a 1963,
respectivamente – e designava um conjunto de práticas do governo estadunidense, em escala mundial, à época da
Guerra Fria, buscando conter a expansão do comunismo junto aos elos mais frágeis do sistema capitalista,
principalmente, nos países da América Latina.
59
Em 1973, após a última resistência armada por movimentos civis – a Guerrilha
do Araguaia – ser neutralizada, a percepção de que o comunismo ainda era uma
ameaça foi ficando cada vez mais segmentada dentro dos setores mais
conservadores da instituição. E apenas alguns desses setores, ligados à
comunidade de inteligência, mantinham os alertas sobre o comunismo.
Também, pode-se afirmar que outro reflexo da Intentona Comunista de 1935,
mesmo que tardio, foi a assunção do poder político por parte dos militares, a partir
de 31 de março de 1964. Tal fato ocorrido foi necessário porque o governo de João
Goulart pretendia implantar as suas reformas de base à revelia do Congresso
Nacional e o caos já estava instalado em todo o território brasileiro.
No dia 27 de novembro de 1962, durante a homenagem aos mortos pelos
comunistas na Intentona Comunista de 1935, no cemitério São João Batista, no Rio
de Janeiro, diversas cópias do discurso de Getúlio Vargas de 1º de janeiro de 1936
foram distribuídos com o intuito de ligar a imagem do ex-presidente com a repressão
aos comunistas. Outro folheto havia sido distribuído junto a este documento, com o
título de “Lembrai-vos de 35!”, afirmando que todo o brasileiro meditasse sobre o fato
ocorrido há décadas passadas, argumentando que “mais do que nunca, a ameaça
de uma nova Intentona Comunista pairava sobre a nossa pátria".
Nas palavras de Carvalho (1981) em sua obra de mesmo nome do folheto
distribuído naquela data:
“A Intentona Comunista de 1935 no Brasil é apenas um episódio no imenso
repertório de crimes que o bolchevismo vem cometendo no mundo inteiro
para submeter os povos ao regime opressor denominado como a ditadura
do proletariado [...] Não é necessário grande esforço de inteligência para
perceber-se o perigo que representa a ameaça bolchevista. Temos em
nosso país, incontáveis exemplos de sua atividade nefasta. São agitações,
greves, campanhas de descrédito e desmoralização, rebeliões, sabotagem,
terrorismo e outras variadas manifestações contra pessoas, organizações, e
contra a própria Nação.” (CARVALHO, 1981, p. 45-46)
A fala do autor estava pautada naquela época anterior aos acontecimentos de
31 de março de 1964. Assim faz todo o sentido que a Intentona Comunista de 1935
fosse rememorada como uma advertência e os que participaram do levante fossem
representados como assassinos e traidores. Dessa forma, pode-se concluir que a
maneira como se relembra e como se representa determinado fato tem papel de
grande relevância na batalha ideológica, mostrando que não basta uma vitória na
luta armada.
60
Ademais, é necessário garantir que a memória por eles construída seja capaz
de representar a realidade tendo como ponto de partida a visão de cumprir o papel
constitucional das Forças Armadas em proteger o povo brasileiro, voltando-se para a
defesa do Estado e não de um governo ideológico e característico das ideias
bolchevistas e bolivarianos.
Além disso, a cobertura jornalística dos levantes de 1935 também foi primordial
para o estabelecimento desse imaginário anticomunista, pois o “perigo vermelho”
apavorou a opinião pública, entre 1935 e 1937, legitimando assim, as ações
governistas que culminaria no Estado Novo. Sendo assim, a participação da
imprensa nessa tempestade de informações foi decisiva tanto para a derrota do
projeto liberal, quanto para a consolidação do projeto autoritário.
Por conseguinte, o anticomunismo tornou-se a principal base de sustentação
dessa engenharia, utilizado tanto nos discursos da imprensa, quanto nas ações do
Estado. Logo, pôde-se criar uma cultura política anticomunista que impediu o avanço
do comunismo dentro do país, além de evitar uma nova Intentona Comunista.
O governo colaborava com imprensa, lançando prováveis documentos relativos
a novos ataques e discursos, sobretudo de Filinto Muller25, explicando a situação
repressiva. Getúlio Vargas, por sua vez, legitimava a ação dos jornais,
reconhecendo a importância do seu papel, fazendo periódicas reuniões de
agradecimento aos jornalistas ao longo de 1936 e 1937. Contudo, percebe-se que
ambas as posições mais se complementaram do que se excluíram.
Como Chefe de Polícia do Distrito Federal, Filinto Muller, por sua vez,
apresentou um relatório sobre a estrutura conspiratória responsável pela revolta
comunista. Apesar dos extremistas atuarem em todo o território nacional, Filinto
Muller lamentou o fato de ter que se conformar com os limites estabelecidos em lei e
à ação desigual, precária e falha dos Estados que a Constituição de 1932 propunha.
Para Filinto Muller, uma solução definitiva do problema implicaria em profundas
modificações da Constituição, afim de que o governo fosse dotado de meios
enérgicos para a repressão ao extremismo comunista, além da remoção das causas
que determinavam, em parte, a formação de um ambiente propício ao seu êxito.
_____________
25
Filinto Muller foi o Chefe de Polícia do Distrito Federal (então no Rio de Janeiro) em 1933, permanecendo no
cargo durante o governo de Getúlio Vargas até 1942, onde participou de diversas operações na captura dos
subversivos do movimento comunista. Destacou-se perante outros agentes por ser considerado muito rigoroso,
sendo por diversas vezes acusado de realizar prisões arbitrárias e a tortura de prisioneiros, além de ser
considerado como símbolo do Estado Novo.
61
Com esse objetivo, Filinto Muller sugeriu – dentro da Constituição, como fez
questão de frisar – que algumas medidas fossem tomadas para a neutralização de
todos os elementos extremistas presentes nas Forças Armadas, na administração
pública e nos estabelecimentos de ensino.
Assim, pode-se perceber a existência do consenso em torno da insuficiência da
legislação existente para o combate ao comunismo. Os novos instrumentos
revelaram-se urgentes, pois no início de dezembro de 1935, já eram discutidos os
últimos detalhes do pacote de medidas que seria proposto.
A primeira Lei de Segurança Nacional no Brasil – a Lei nº 38, de 4 de abril de
1935 – tinha o intuito de limitar as liberdades constitucionais em prol da segurança
nacional além de conter a ameaça comunista por meio da extinção da ANL e da
distinção de crimes políticos daqueles considerados comuns.
Posteriormente, a Lei de Segurança Nacional foi reforçada pela Lei nº 136, de
14 de dezembro do mesmo ano, que instituía quatro novas alterações:
- criava novos crimes contra a ordem política e social;
- facilitava a demissão, a reforma e a aposentadoria de funcionários públicos e
a transferência para a reserva remunerada para os militares;
- facilitava a prisão e a expulsão de estrangeiros; e
- alterava vários dispositivos processuais, reduzindo prazos e diminuindo o
direito à ampla defesa.
A Lei de Segurança Nacional proporcionou novas condições para que Getúlio
Vargas perpetuasse no poder por meio da instauração do Estado Novo, um novo
regime de governo, que se manteve durante o período de 10 de novembro de 1937
até 29 de outubro de 1945. Dessa forma, o Estado Novo caracterizou-se pela
centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo,
proporcionando um período de grandes transformações nas questões ideológicas
para o Exército Brasileiro.
Em síntese, a partir do Estado Novo o anticomunismo dentro da caserna
passou efetivamente à fase doutrinária, momento esse que foi utilizado o mecanismo
de agenciamento institucional, buscando expressar a absoluta incompatibilidade do
comunismo com a condição militar. Nesse sentido, o anticomunismo militar
apresentou-se como uma máquina de coesão institucional, que classificava e
deslocava todos aqueles que haviam se desviado ideologicamente.
62
6 CONCLUSÕES
Segundo Michel Foucault (2004), não há exercício de poder sem uma
economia dos discursos que reivindica a verdade. Assim, o anticomunismo militar
foi, por certo, uma economia política do discurso institucional, por meio do qual
funcionavam as relações de poder. Efetivamente, foi esta economia política que
garantiu uma estrutura institucional capaz de apresentar um pensamento dominante
que resultou numa identidade específica de cunho profissional e voltado para o
desenvolvimento nacional.
Considerando-se a centralidade da figura política de Luís Carlos Prestes na
cultura comunista não é de surpreender que ele atraísse a atenção dos militantes do
anticomunismo. De fato, os grupos dedicados ao combate ao comunismo, que
tiveram importante atuação na vida política brasileira, notadamente entre os anos de
1930 a 1960 e, especialmente, durante a conjuntura crítica de 1935-37, ocuparamse bastante do personagem Luís Carlos Prestes (MOTTA, 2002), pois o
visualizavam como grande ameaça.
Após Getúlio Vargas assinar o decreto-lei de anistia26 – colocando Luís Carlos
Prestes em liberdade, após mais de nove anos na prisão, muitos comunistas
acreditavam que o Cavaleiro da Esperança ainda poderia ser a solução de todos os
problemas brasileiros, enquanto diversos anticomunistas temiam sua volta liderando
uma nova Intentona Comunista.
O mito do Cavaleiro da Esperança surgiu após o encerramento das atividades
da Coluna Miguel Costa – Prestes, quando o PCB percebeu a importância da
participação de Luís Carlos Prestes na sua luta ideológica contra o governo. Dessa
forma, ao enviar Rodolfo Ghioldi para convencê-lo a participar dessa empreitada, já
se visualizava que, naquela época, o único homem capaz de insuflar as massas
populares seria aquele que havia sido nacionalmente conhecido pela sua epopeia.
Em contrapartida, os anticomunistas trabalharam incessantemente no processo
de desconstrução do mito, tratando de combatê-lo e reduzi-lo. Assim, o mito que
havia sido construído pelos comunistas foi retratado negativamente por meio de
representações que apresentavam características contrárias daquelas que eram
normalmente expostas.
_____________
26
O decreto-lei de anistia foi assinado pelo Presidente Getúlio Vargas em 18 de abril de 1945, concedendo
anistia aos presos e exilados do Estado Novo, sendo que 565 presos políticos foram libertados.
63
Portanto, devido à sua condição de líder maior do comunismo brasileiro,
durante várias décadas, Luís Carlos Prestes teve sua imagem confundida com a do
PCB, e, por isso mesmo, sua figura foi bastante utilizada nas representações
anticomunistas. A imagem caricaturada do Cavaleiro da Desesperança era
facilmente encontrada na iconografia anticomunista, funcionando como símbolo do
comunismo brasileiro.
Assim, pode-se afirmar que o fenômeno do personagem de Luís Carlos
Prestes, por sua profundidade e longevidade, constituiu-se num dos principais eixos
da cultura comunista no Brasil. Afinal, as representações construídas em torno
desse ex-militar ajudaram a erguer alicerces indispensáveis para caracterizar uma
cultura política voltada para o socialismo marxista-leninista, sintetizando os ideais
desse grupo e despertando paixões em favor da causa.
Após o episódio da Intentona Comunista de 1935, o Exército Brasileiro
manteve o compromisso de honrar perante a nação, a firme determinação em
defesa dos sagrados princípios de direito e da justiça. O direito inspirado em cada
brasileiro, sobretudo a consciência do respeito ao império da lei e da ordem. Já a
justiça, assegurando as mesmas oportunidades a todos os compatriotas, sem
privilégios ou discriminações de qualquer natureza.
O emprego da força foi necessário, pois representou o recurso extremo de
legítima defesa da integridade e soberania da nação. Assim ocorreu durante a
Intentona Comunista de 1935, quando a reação das tropas legalistas traduziu a
vontade nacional, não permitindo, a uma minoria alienada, a conquista do poder por
meio da traição e da violência, visando eliminar os princípios da liberdade do povo
brasileiro, pela imposição de uma ditadura de esquerda.
Durante as crises políticas que antecederam a 1964, o Exército Brasileiro se
fez presente, encaminhando com sensatez e habilidade todas as soluções que
reconduziram o país ao clima de entendimento político. Em 1964, a ameaça
comunista se apresentava mais grave, preparando-se para uma nova investida
contra as instituições por meio de métodos subversivos. Contudo, a revolução de 31
de março de 1964 restabeleceu a ordem social e fortaleceu os princípios da justiça e
do direito, assegurando a estabilidade necessária para acelerar o processo de
desenvolvimento nacional. Logo após a consolidação do processo revolucionário, o
poder foi devolvido aos civis, no dia 15 de janeiro de 1985.
64
Por conseguinte, o herói é aquele homem capaz de colocar o interesse da
coletividade à frente dos interesses particulares. E, dessa forma, não foi observada
na figura de Luís Carlos Prestes essa vontade de mudar o país, pois pertencia a
uma instituição nacional e permanente capaz de promover melhorias significativas
na vida da população brasileira.
Logo, ao deixar as fileiras do Exército Brasileiro e partir para a clandestinidade,
observa-se que os interesses pessoais se afloraram para alcançar o objetivo da
implantação de uma ditadura do proletariado no país. Já os interesses coletivos
foram deixados de lado, pois a questão da defesa da Pátria a qualquer custo
conforme jurado perante a Bandeira Nacional não fora cumprido e Luís Carlos
Prestes alegava defender as ideias comunistas sem pestanejar.
O pragmatismo do Exército Brasileiro sempre prevaleceu sobre o idealismo de
Luís Carlos Prestes. Os interesses do Estado estavam sempre voltados para a
proteção do povo brasileiro, sem que as pressões ideológicas interferissem nas
decisões militares ao longo do século XX, contra as ações de Luís Carlos Prestes,
seja durante a Coluna ou durante a Intentona Comunista de 1935.
Esse trabalho de pesquisa, não se questiona sobre a relevância de Luís Carlos
Prestes na política nacional, pois sempre fora atuante, mesmo na prisão ou na
clandestinidade. O que deve ser questionado se suas atitudes foram benéficas ou
maléficas para o país.
Algumas perguntas são realizadas, pois é impossível compreender as
verdadeiras intenções do líder comunista para o país:
- Por que Luís Carlos Prestes concordava com algumas ditaduras, tanto a
soviética de Josef Stalin, quanto a cubana de Fidel Castro, e não aceitava os
regimes brasileiros de Getúlio Vargas e dos governos militares?
- Será que Luís Carlos Prestes seria capaz de corrigir os problemas políticos,
sociais e econômicos do Brasil, acreditando fielmente na ideologia marxista?
- Será que Luís Carlos Prestes se tornaria um ditador, caso tivesse a
oportunidade de assumir a Presidência da República, seja pela força ou pelo voto
direto?
- As intenções de Luís Carlos Prestes eram realmente consideradas boas para
a população brasileira ou apenas servia de pretexto para uma eventual tomada do
poder?
65
Muitas perguntas podem ser feitas e não haverá respostas concretas para tais
questionamentos. Assim, cabe lembrar que Luís Carlos Prestes não acreditava mais
na democracia, pois ao longo dos anos que a testemunhou, não visualizou muita
firmeza nos propósitos desse sistema político que, sem sombra de dúvida é o melhor
que já existiu e, ainda, não fora criado algo parecido que não houvesse tanta
injustiça e privilégios à classe dominante.
Não foi essa a última tentativa desses radicais de conquistar o poder para
estabelecer uma tirania no Brasil. Nas décadas seguintes, tentaram novamente. O
Exército viu-se compelido a contrapor-se a eles, vencendo-os em combates de rua e
em selvas inóspitas, mesmo experimentando o desgaste de um conflito prolongado.
Não apenas os derrotou, mas ajudou também a desenvolver o país.
Quase ao final do século passado, o tempo se encarregou de mostrar ao
mundo a decadência do comunismo, aniquilado por suas próprias contradições, por
seus inúmeros erros, por sua violência exacerbada, por milhões de mortos que
impuseram à humanidade. Sessenta e seis anos depois daquele trágico novembro,
os quartéis do Exército Brasileiro param, por alguns momentos, para refletir sobre
essa página negra de nossa História. Estamos convencidos, mais do que nunca, que
nossa luta não foi em vão, e que estivemos ao lado da sociedade brasileira todas as
vezes em que esta, em sua maioria, rejeitou o radicalismo, a desordem e o terror.
A Intentona Comunista de 1935 proporcionou diversas lições aprendidas para
que os militares não fossem surpreendidos com uma nova tentativa de tomada do
poder por parte dos comunistas, mantendo-se até os dias atuais, atualizados quanto
às questões que sondam o meio político. Outra preocupação institucional é em
relação à possibilidade de uma comunização da economia e a implantação de uma
ditatura do proletariado seguindo as ideologias marxistas-leninistas, o que seria
imediatamente rechaçado pelo Alto Comando do Exército.
Apesar de que, atualmente, o dia 27 de novembro é reverenciado
discretamente dentro da instituição militar, os trabalhos de pesquisa existentes
servem para cultuar a memória daqueles que sacrificaram suas vidas em defesa da
pátria, cumprindo o juramento solene e honroso perante a Bandeira Nacional.
Nas instituições civis, esta data nem sequer é lembrada, perdendo-se no tempo
e no espaço, pois não há interesse do governo em divulgar tais fatos históricos,
principalmente nos livros didáticos.
66
Entretanto, a figura de Luís Carlos Prestes é constantemente reverenciada nos
livros didáticos, como “um grande líder revolucionário e um verdadeiro herói
nacional, lutando contra o regime político e autoritário de Getúlio Vargas”.
Daí, a grande maioria da população brasileira, que nunca leu sobre a Intentona
Comunista de 1935, passa a acreditar apenas naquilo que está disponível para
consulta, invertendo-se os papéis dentro da História do Brasil. Aqueles que se
dedicaram na defesa da Pátria são considerados vilões e aqueles que pretendiam
implantar o regime comunista são homenageados como heróis.
Dessa forma, subentende-se que existem questões ideológicas dominantes,
capazes de proporcionar um conhecimento histórico moldado naquilo que apenas
interessa aos grupos esquerdistas.
A Intentona Comunista de 1935 foi, sem dúvida, a matriz ideológica do
anticomunismo militar; os militares conservadores transformaram o evento em
monumento. Efetivamente, os textos que relembram este momento histórico não são
simples documentos que traduzem a ojeriza militar aos comunistas, mas
representam monumentos de ação político-militar que possibilitaram constituir
práticas políticas que sustentaram as transformações no interior da instituição.
A conjuntura atual da Força Terrestre exige o resgate da brasilidade de outrora
e oferece a oportunidade de capacitação profissional e de emprego de armamentos
e equipamentos de alta tecnologia. Nas missões de paz, sob a égide da
Organização das Nações Unidas, a Nação brasileira garante sua representatividade
pela participação de um Exército formado, nos Montes Guararapes, por índios,
negros e brancos; reconhecido nos campos de batalha italianos; e respeitado, no
cenário mundial, por ser uma instituição credora dos mais elevados índices de
confiabilidade e credibilidade por parte da sociedade brasileira.
Por fim, cultuar as nossas tradições e os nossos verdadeiros heróis é resgatar os
valores de integração, a convivência pacífica e respeitosa de diferentes culturas e
etnias, o amor a uma Nação consolidada por aqueles que assumem o eterno
compromisso de construir um futuro digno para as próximas gerações.
________________________________________
MAYKON DUTRA BARBOSA – Major de Infantaria
Postulante
67
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A participação de Luís Carlos Prestes na Intentona