Nome dos entrevistados: Luís Manuel (LM)
João Nhemba (JN)
Mateus Culimacudja (MC)
Nome do entrevistador: Prof. Allen Isaacman (I)
Data da entrevista: 20 de Julho de 2000
Lugar de entrevista: Regulado Sangoma, Sena.
Fita 34, lado “A”
I: Como se chama o Sr.?
Chamo-me Luís Manuel (LM)
I: Sr. Luís, onde é que foi nasido?
LM: Fui nascido em Pango, aqui na Localidade de Sena.
I: E onde foi nascido o pai? E a mãe?
LM: O pai foi nascido cá em Sena. A minha mãe foi nascida em Inhangoma, Distrito de
Mutarare, em Tete.
I: Como é que se chama Mutupu de Luís Manuel ?
LM: O meu Mutupu é “Chumba”
I: Onde foi nascido Sr. João Nhemba?
João Nhemba (JN): Foi nascido no regulado de João, aqui Na Localidade de sena.
I: Onde foi nascido o pai do Sr.João? E a mãe ?
JN: Tanto a minha mãe como o pai ambos forma nascidos no Regulado de João, em Sena.
I: Como é que se chama o seu Mutupu ?
JN: O meu Mutupu é “Mbhande”
I: O Sr.Mateus Culimaculia, onde foi nascido?
MC: Fui nascido em Marringue,Província de Sofala.
I: E onde foi nascido o seu pai?
MC: O pai foi nascido em Chipende, localidade de Caia (Sofala).
I: E a mãe?
MC: a minha mãe é natural de Inhangoma, no Distrito de Mutarara (Província de Tete).
I: Seu mutupu, como é que se chama?
MC: O meu mutupu é “Ndhwo”.
I: Na altura dos seus pais, as pessoas dessas comunidades aqui o que cultivavam?
MC: Cultivavam: milho, mapira, mexoeira, arroz, batata-doce.
I: E naquela altura, qual era a cultura mais importante em termos de comida?
MC: Era a cultura de mapira e milho.
I: Sr. João, essa altura que é que se cultiva mais a cultura de milho ou de mapira?
JN: O que mais se cultiva era mapira, mexoeira, milho.E mais importante era mapira e
mexoeira.
I: Qual era a razão das pessoas daqui cultivarem amis mapira,mexoeira do que milho?
JN: Essas culturas eram mais importantes porque conseguia-se fabricar bebidas
alcoólicastradicionais que se vendiam e conseguia-se comprar roupa e outras coisas para
a família.
I: Naquela altura quantas machambas tinha o pai do Sr. João?
JN: O meu pai tinha uma única machamba.
I: E cultivavam todas as culturas que acabou de mencionar nessa única machamba?
JN: Era cultivadas na mesma machamba. Parcelava a mesma machamba para espalhar
pouc a pouco (em pequenas quantidades) as culturas diversas.
I: E o pai do Sr. Luís, quantas machambas tinha?
LM: O meu pai tinha 2 machambas.
I: Onde se localizavam tais machambas?
LM: Essas machambas localizavam-se no regulado de Pango.
I: Disse que tinha uma única machamba, quantas vezes fazia colheitas nela?
JN-Tinha uma única época.
I: E essa época foi chamada “tchaca”?
JN: Sim. Chamava-se “tchaca.
I: E as duas machambas do pai do Luís, tinham apenas uma única colheita tambem?
LM: Só tinha uma colheita por ano.
I: E nesta zona aqui, a maioria da população, antigamente, tinha uma única colheita por
ano?
LM: Os que tinham mais de uma colheita eram aquelas pessoas que tinham machambas
nas proximidades do rio, o resto, a maioria das pessoas tinha uma única colheita.
I: porque eles tinham “tchaca” e tambem “murope”?
LM: Sim!
I: Mas a maioria da gente aqui não tinha machambas perto do rio?
LM: Tinha – Sim! Tinha- porque lá perto do rio era possível praticar a 2ª época
(“murope”) ao passo que as machambas das zonas altas só dava – “tchava”. Muitas
tinham machamba perto do rio para cultivar a 2ª época.
I: Qual é a razão dos seus pais nao tinham machambas lá perto do rio, porquê?
LM: Não gostavam de ter machamba perto do rio.
I: Qual é a razão dos seus pais não gostarem de ter machambas lá perto do rio?
LM: É que cada pessoa tem o seu gosto.
I: Mas aquela zona, perto do rio, onde a população tinha machambas eram do mesmo
tamanho lá do as das zonas planálticas?
LM: Não eram iguais. Quem tinha maior capacidade (possibilidade) tinha machamba
maior.O tamanho diferia de pessoa a pessoa. As machambas de maior tamanho eram da
zona planáltica por as pessoas tinham receio de perderem as culturas devido as cheias,
nas machambas próximas do rio.
I: As machambas maiores e nº era aqui na zona alta, será que em tamanho também?
LM: As zonas planalticas em tinham machambas de maior tamanho e em maior
quantidade porque ofereciam maior garantia de colher as culturas nelas lavradas
contrariamente as machambas próximas ao rio que a qualquer momento as suas culturas
podiam se perder pela acção das cheias do rio.
I: Naquela altura, há muito tempo, havia cheias anuais?
LM: Todos anos havia cheias.
I: E quando é que apareciam essas cheias?
LM: As cheias apareciam em todos os anos, no mês de Fevereiro porque os “brancos”
tinham medo de que a população podia perder suas culturas se elas se elas ocorresse –
mais cedo. Antes de ocorrerem as cheias, aparecia o aviso: Avisava-se previamente sobre
a ocorrência das cheias do rio isso antigamente.
I: Além dessas cheias períodicas anuais, havia cheias grandes que fariam chegado aqui?
LM: Havia heias grandes, nesse tempo.
I: Eles lembram os nomes?
LM: As primeiras grandes cheias chamaram-se “manzi a ku gwa na sekete ku gwa”
(“cheias de cair com carga nas zonas baixas do rio”). Foram as primeiras grandes cheias
em que a população atravessava o rio para a margem de Mutarara a procura de “nhica”
(tuberculo de nénufar) que chegava- até ao rio Chire. Havia águas em toda parte.
Depois destas, apareceram outras cheias numa altura em que houve muita chuva.
As pessoas tiveram que se tansferir para a zona de Mutarara onde comiam “nhica” (ném
fan). Aquelas cheias chamaram –se “Agora na sekete”, ou seja ,” caiu com a carga na
cabeça”: porque quando apareciam as cheias, as pessoas corriam de um lado para o outro
com carga na cabeça a procura de lugares mais seguros e acabavam caindo devido a
força da água.
I: Em que ano ocorreram essas cheias ?
LM: Nós não sabemos porque não sabemos escrever.
Após aquelas, houve outras, chamadas “sassira”.
Após as cheias de “ku gwa na sekete” (“cair com carga”) apareceram outras em 1952
chamadas localmente...
I: Não foram as cheias em que faleceu um padre?
LM: Sim foram essas cheias em que faleceu um padre que salvava pessoas e transportava
pessoalmente alimentação para as pessoas na zona de Inhangoma, mutarara.
I: Mas antes não houve outras cheias? Aquelas que os maus espiritos (“muzimu’) dizem
que foram as cheias de “Bomani” ...
LM: Sim! Houve as cheias de “Bomani”. Elas foram as primeiríssimas em relação as
outras duas mencionadas e ocorreram antes da contrução da barragem de Kariba nem
cahora Bassa.
As cheias que originaram a morte do padre Chubo da paróquia de Mutarara ocorreram em
1952 que carregava pessoas de Sena e ia deixá-las na outra margem do Zambeze, em
Mutarara. Outras as trazia de Inhangoma. Estas não tiveram denominação local, essas
cheias de 1952. A seguir foram as cheias de “Sassira”.
Cadete: Quando é que ocorreram essas cheias de “sassira”?
LM: Após as cheias de 1952 seguiram as de “Sassira”.
I: Mas eu acho que o Padre faleceu em 1952. As cheias que mataram o Padre são as
mesmas de “sassira”.
Cadete-Não. Ele está precisamente a explicar como é que ocorreram essas cheias de
“Sassira’”.
I: Ok! Continue.
Cadete: A seguir as cheias de 1952, ocorreram as cheias de “sassir”.
I: As cheias de “sassira”.
I: As cheias de “sassira” destruiram muitas machambas?
LM: Fez muitos estragos: destruiu casas, machambas, criação animal doméstica.
I: E matou muita gente?
LM: Sim! Houve muita gente que faleceu.Algumas delas por falta de canoas para se
salvarem.
I: Entre as cheias de “Bomani”, “sassira” e as que provocaram o falecimento do padre,
quais foram as maiores?
LM: as cheias de “Bomani” foram as maiores de todas porque foram acompanhadas com
grandes chuvas.
I: E muitas pessoas morreram?
LM: Morreu nuita gente.
Cadete: Mas morreram pessoas, porquê?
LM: As pessoas faleciam porque elas invadiam as áreas a grande velocidade e força e as
canoas não conseguiam resolver o problema.
I: E al”em das cheias de assira”, houve outras?
LM: Após “sassira”? Houve outras cheias tão grandes como estas? [...]
I: Não houe as cheias de Kariba?
Cadete: As cheias de Kariba quando ‘e que ocorreram?
LM: As cheias de Kariba ocorreram apenas quando quando estavam a experimentar o
funcionamento da barragem. Elas ocorreram como início da actividade da própria
Barragem.
Elas não tiveram grande efeito destruidor.
Cadete: Não houve machambas que foram por ela destruidas?
LM: Houve sim machambas que inundou e destruiu.
Cadete: Mas não chegaram atingir essa zona residencial de cá onde estamos?
LM: Não. Aqui onde estamos agora não chegaram. Só inundaram machambas e os
“brancos” (governo colonial) madaram vagões de comboio cheios de comida para
oferecer as pesoas.
I: Além das cheias que aqui referimos, houve cheias de Cahora Bassa em 1978...
LMAs cheias de Cahora Bassa chegaram. Mas Cahora Bassa tem aberto suas comportas
de uma má forma.
Cadete: As grandes cheias deste rio que foram últimas a ocorrer até hoje, quando que
aconteceram?
LM: as maiores grandes cheias foram de “sassira”.
Cadete: Mas, quando ocorreram essas cheias de “sassira”, a barragem de Cahora Bassajá
tinha sido destruida?
LM: Não! Foi antes da Barragen de Cahora Bassa existir. Não me recordo das cheias
grandes de Cahora Bassa.
I: Além de cultivarem (“Kulimar’) na zona de ““thunda” (zonas planálticas) e nas
margens do rio, havia gente que cultivava nas ilhas?
LM: Existem pessoas que tem machambas lá nas ilhas do rio.
I: Vivem lá com as suas famílias?
LM: Tem casas,. Família, crianças e lá vivem desde muito tempo incluindo suas crias de
animais domésticos.
I: E ainda vivem lá até hoje?
LM: Até agora estão lá.
I: Eles disseram que há muito tempo, havia cheias anuais pequenas que ocorriam e
passados 10 anos é que ocorriam as grandes.
Temos cheias pequenas anuais que ocorriam no mês de Fevereiro. Qual é a situação
agora?Agora , há cheias períodicas anuais que ocorrem no mesmo mês de Fevereiro?
LM: Não! Actualmente as cheias ocorrem em qualquer mês basta lançar as sementeiras
nas machambas logo há cheias que inundam as machambas e destroe as sementeiras.
I: Isto acontece nas ilhas e nas margens do rio ?
LM: tanto nas ilhas como nas margens do rio ocorrem cheias e até a linha fêrrea costuma
inundar-se com as cheias sobretudo nos anos de grandes chuvas. Quando as águas da
chuva juntam-se com as da abertura das comportas de Cahora Bassa, logo ocorrem
grandes cheias que destroem todas culturas alimentares. A linha fêrrea está a 200 metros
daqui, logo depois da estrada...
* Fim do lado “A” da fita 34.
*Lado “B” da fita 34. (Entrevista de 20.07.2000)
LM: Essas cheias ocorrem nos anos em que há muita chuva e simultaneamente abrem as
comportas de Cahora Bassa e é então que as cheias destroem as machambas todas
próximas ao rio.
I: qual é a distância entre a linha fêrrea e o rio Zambeze?
LM: são 4 kilometros.
I: Quanto tempo demora-se a caminhar a pé até chegar l’a no rio
LM: “É muito perto daqui, não leva uma hora de tempo.
I: Ok! No sim poderá mostrar-nos onde fica a linha fêrrea.
LM: A linha fêrrea fica aqui mesmo perto. É esta que estamos a ver acolá depois da
estrada.
I: Após a construção de Cahora Bassa, como mudou o rio zambeze?
LM: O que mudou foi o seguinte: agora já não há peixe no rio. Porque a rede de
Barragem de Cahora bassa tem buracos pequenos comparativamente a barragem de
kariba cuja rede tem buracos maiores. Estes buracos pequenos da barragem de Cahora
Bassa não permite a passagem do peixe de tamanho maior.
Agora o tamanho do peixe é muito menor e a sua quantidade também diminuiu.
Outra mudança relaciona-se com as cheias Actualmente as cheias não tem seu tempo de
aparecimento, em todo momento há cheias e isso tem estragado as nossas culturas
alimentares nas machambas. Antigamente não era assim. Antigamente as cheias tinham
medida, ocorriam após as pessoas retirarem a sua colheita das respectivadas machambas.
As pessoas conseguiam cultivar batata-doce até retirá-la a qual ajudava supor a fome no
período anterior a colheita de “tchaca” (1ª época). Actualmente já nem sequer avisamnos que há-de haver cheias. Actualmente as cheias já não são períodicas nem previsíveis.
Cadete: Outra mudança, qual foi?
I: Tenho uma pergunta sobre isso: se não há aviso e se as cheias ocorrem em qualquer
momento, qual é a razão das pessoas ainda continuarem a fazer machambas nas ilhas e
nas zonas perto do rio?
LM: É que se cultivarmos apenas aqui em cima, na zona alta, não se consegue sucesso
em certas culturas alimentares. Certas culturas não se desenvolvem bem.
Lá em baixo, nas proximidades do rio épossível cultivar 2 épocas: “tchaca” e “murope”
(1ª e 2ª época, respectivamente ).
O segundo aspecto é que a produção das machambas é menor aqui e cima que nas
machambas próximas ao rio: lá as culturas desenvolvem-se melhor.
O terceiro aspecto é que nas machambas proximas ao rio é possível cultivar batata-doce ,
feijão, feijão-nhemba, cebola, abóbora.
I: Mas não é perigoso por causa das cheias?
LM: Como fazer? Se é lá onde nós conseguimos as sementes para a 1ª época (“tchaca”).
É de lá onde sair e toda nossa força e garantia alimentar sai naquelas machambas. As
machambas daqui em cima não se consegue sementes, também não garantem a segurança
alimentar e aqui dá apenas uma única época.
I: Vocês tem machambas lá nas proximidades do rio?
LM: Temos sim.
Cadete: Quantas machambas tem sr.João, lá?
João hemba: Eu tenho lá perto do rio uma machamba de 1 ha.
I: E o Sr. Luís Manuel?
LM: Eu tenho uma machamba de ½ lá em baixo. E a daqui em cima, no planalto é chega
atingir 1 ha.
I: Sr. João hemba, como é que consegue cultivar duas (2) machambas? Cultiva sózinho?
JN: Não. Uma pessoa não cultiva uma machamba inteira sózinha. Fez pequenos negócios
para arranjar dinheiro com que paga-se as pessoas que me ajudam a cultivar as
machambas. Também os meus filhos me ajudam a lavrar a terra e a minha esposa
também.
I: E essas pessoas vem daqui ou são estrangeiros?
JN: Tem sido entre nós cá. Tem havido pessoas que precisam de dinheiro para mandar a
mulher á moagem, para comprar roupa para as crianças ou para ir beber com amigos.
I: O seu pai também fazia a mesma coisa?
JN: Antigamente não havia moagem mas muitas outras necessidades que precisam
dinheiro para resolvê-los.
Cadete: Mas as pessoas não cooperavam?
JN: Cooperavam sim, no cultivo de machambas sobretudo aqueles que tinham pouca
comida iam trabalhar nas machambas de que em troca de produtos alimentícios.
I: E também organizavam festas nessa altura?
JN: Há muito tempo organizava-se o pagamento através de refeições e bebedeiras
colectivas onde a pessoa interessada convidava toda a comunidade vizinha a capinar na
sua machamba e após a jornada distribuia-se comida e bebida como forma de pagamento
e até matava-se cabrito, para quem a tivesse: parecia uma festa. Agora já não se faz
isso.Não se dava aguardente (“nipa”).
I: Os seus pais nesta zona, tinham que cultivar o algodão?
JN: Aqui e lá em baixo, tinham machambas de algodão.
I: E por causa disso, os seus pais tinham 2 machambas: uma de culturas alimentares e
outra de algodão?
JN: Havia uma machamba só para a cultura de algodão e a outra para culturas
alimentares.
I: E era forçada, não?
JN: antigamente, havia um “capitão” que circular aqui para circular o trabalho nas
machambas de algodão. Eles forçavam sobretudo aos preguiçosos.
I: antigamente, havia muita fome?
JN: Havia fome mas não era tão forte como agora não. Porque nessa altura havia lojas de
“monhés” onde se comprava a comida e m tempo de fome. Após a colheita as pessoas
iam vender suas culturas nessas lojas donde iam depois comprá-la.
I: Há muito tempo, qual era o mês que ocorria a fome nessa altura?
JN: O período de fome começava em Outubro até a colheita da 1ª época em Fevereiro,
março. Algumas pessoas iam pedir emprestado um saco de comida nas lojas e depois
devolviam-no após a sua colheita.
Cadete: Não havia outras formas de assegurar alimentaçao na época de fome, para além
de que mencionou?
JN: Eramos socorridos através das culturas de batata-doce era a cultura essencial no
tempo de foe. Bem como banana. No rio iam retirar “nhica” (nénufar”).
I: Depois da construçao da barragem de Cahora Bassa, o nível de fome aumentou,
diminuiu ou manteve-se na mesma?
JN: A fome aumentou muito após a construçao de Cahora Bassa porque não existe
nenhum mês em que não ocorrem as cheias do rio e isto provoca sofrimento na
populaçao.
Cadete: Porque que a fome aumentou?
JN: É porque ao abrirem as comportas lá em Cahora Bassa, as águas inundam e estragas
culturas das machambas antes da época de colheitas.Logo que se semeiam as machambas
não se consegue colher nada devido as cheias constantes.
I: Podemos dizer que por causa de Cahora Bassa a fome aumentou, o nº de peixe no rio
diminuiu. Havia outras desvantagens que procuravam outros sofrimentos a população?
JN: Os préjuizos que tem causado Cahora Bassa é o facto de não terem em conta o
período das sementeiras e das colheitas das machambas para abrirem ou não suas
comportas. Se fizessem como antes, abrirem as comportas quando a população já retirou
suas culturas das machambas, seria muito melhor tal como se fazia antigamente.
I: E qual é a sua preferência: ter esta situacão nos moldes actuais ou como se fazia
antigamente em termos de tempo de ocorrência das cheias?
JN: O que nós preferimos é o regime das cheias de antigamente, antes de construção de
Barragem de Cahora Bassa isso porque havia cheias após a retirada das culturas nas
machambas o que minimizava a fome nesta comunidade. Agora, as cheias não tem tido
em conta as colheitas nas machambas.E também lá no rio tem muito crocodilo.
Proibido matar crocodilo porque else tem mais valor que as próprias pessoas .
Agora também o número de hipopotamos
aumentou muito e eles destroiem
constantemente as machambas porque costumam penetrar neles e pastar as próprias
nossas culturas.Antigamente eram expulsos das machambas pelos tiros dos caçadores
colonias que se pediam na admnistraçao .Esses caçadores hoje já nao existem e também
dizem que nao se pode caçar hipopotamos porque atrai muito dinheiro pela venda da sua
pele vende de turistas.
I: Pode-se dizer que há muito tempo havia mais peixe do que agora o peixe era maior.
Na altura dos seus pais,havia muita gente que se dedicava a pesca ?
JN: Havia muita gente nesta comunidade que se dedicava a pesca .
I: Elas também tinham machambas ?
JN: Tinham machambas.Para pesca tinham redes de pesca pequenas (“marichera “) e
grandes (“macocota”).
I: E utilizaram uotros instrumentos para pesca?
JN: Nao .Eram principalmente esses apesar de que havia o anzol e “Konga,” “ wero” só
estes instrumentos eram de pequenas dimensoes .
Cadete: Colocavam no rio esses instrumentos?
JN: Sim !Porque nessa altura nao havia muito crocodilo no rio porque eram caçados e
mortos também
I: E naquela altura também, quando havia cheias no mês de Fevereiro era esta a melhor
altura para pescar?
JN: Era bom mês para pescar porque com as cheias, o peixe era abundante e tambem para
tirar as culturas das machambas.
I: O que faziam com o peixe?
JN: Vendiamos o peixe em forma de trabalho ou seja já salgado e seco e tambem para
fazer caril nas casas. Esta venda era nas lojas dos monhés
I: Actualmente, o n de pescadores reduziu porque muitoas são atacadas pelos crocodilos e
alguns até perdem a vida por isso. Outros tem receio do crocodilo que é muito violento
agora.
Cadete: Será que o tamanho do rio quando comparando com o passado aumentou de
largura ou não?
JN: O rio, em termos de tamanho, sua largura, está como dantes, não aumentou nem
reduziu.
Cadete: Há ilhas no meio do rio?
JN: Sim. Há ilhas no meio do rio
Cadete: Essas ilhas no meio do rio, aumentaram ou diminuiram?
JN: Não! Não aumentaram. Estão como dantes.
Cadete: Lá nas ilhas onde habitam pessoas, existem machambas próximas ao rio que
desapareceram como efeito da erosão do rio?
JN: Existem machambas que tem sofrido erosão devido a acção do rio, obrigando-nos a
ir lavrar noutros sítios. […]
FIM da Fita 34. Lado B
Início da fita nº35, lado “A” (Continuação de nº34).
Cadete: Eu estava a perguntar se o nº de machambas que se perderam devido a erosão do
rio são muitas ou não?
JN: A parte do rio que sofreu erosão abrangido as machambas não é muito grande. A
parte que tinha machambas e que sofreu erosão a que ficar é maior. Costumam estragar as
machambas até a metade das terras aráveis. Há certas ilhas que desapareceram devido a
erosão do rio e nasceram outras ilhas enquanto que algumas antigas ilhas ainda
continuavam a prevalecer até agora. Mas restaram a metade. Esta erosão ocorre tanto nas
margens como nas ilhas do próprio rio onde algumas ilhas só restaram metade da sua
porção normal devido a erosão.
I: Quais são as ilhas que desapareceram e quais restaram apenas metade?
JN: Uma das ilhas que até hoje ainda é habitada mas restou metade da sua porção normal
chama-se “José Ana”. Porque o seu primeiro habitante e o mais famoso chamava-se José
Ana, então a própria ilha ficou com esse nome.
I: Mas, quando éque esta ilha perdeu metade da sua porção?
JN: Foi a muito tempo e já passa entre 3-4 anos desde que perdeu metade das suas terras.
Cadete: Já existia Cahora Bassa, quando começou a erosão nessa ilha atéficar metade?
JN: Ah! Sim. Existia Cahora Bassa. Esse processo ocorre já há 4 anos.
I: Desde que construiu Cahora Bassa até agora, houve outras ilhas que desapareceram
devido a erosão?
JN: Há ilhas que tiveram erosão até desaparecerem totalmente mas isso ocorreu noutras
zonas. A ilha daqui perto que nós assistimos até ficar metade é essa chamada “José Ana”
a qual é habitada por pessoas. Houve outras que as pessoas tiveram que as abandonar
devido ao efeito de erosão. A maioria que vivia na ilha “José Ana” jáabandonou-se ainda
é habitada.
I: Pode descreve para mim esse processo de desaparecer a metade de uma ilha. Como é
que aconteceu isso?
JN: Nós não sabemos. Pensamos que foi por acção de chuvas para nivelar as águas do rio.
Cadete: Mas as chuvas tem provocado erosão, porquê?
JN: Devido a força das águas é que provoca a erosão do rio e das ilhas. A água das chuva
quando se junta com as do rio provoca uma grande corrente de água que também
provoca uma forte erosão que arrasta consigo árvores, bananeiras e terras fertéis são
arrastadas pelas águas.
A corrente das águas do rio não aumentou Mataram.
I: Para além da erosão, essas cheias na situação actual deixavam anualmente areia em
cima dos solos pretos chamados “ndrongo”?
JN: O processo das machambas serem enterradas por areia do rio ocorre na ‘epoca das
cheias.
Cadete: os solos aráveis que eram mais antigidos pela acção das areias do rio são os das
ilhas ou das margens do rio?
JN: Esse processo das areias enterrarem machambas era mais intenso nas ilhas do que ás
machambas situadas nas margens do Zambeze.
Cadete: Nas margens do rio, não havia machambas enterradas pelas areias do rio?
JN: Não. Não havia. Só nas ilhas situadas no meio do leito do rio.
I: Se uma machamba é coberta de areia, ainda pode se lavrar?
JN: Não. Essas machambas após serem enterradas ou cobertas por areia já não servem
para cultiva-las. É só abndoná-las arranjando outras em zonas de solo melhor.
Cadete: Tem havido pássaros, aves, lá o rio?
JN: Existem muitos tipos de pássaros lá no rio:
“Tchekwe”, “Masolili”, “Khango”, “Nhyasawakazi” “Kwreia”.
Cadete: Qual é a utilidade desses pássaros ou aves todos?
JN: A sua utilidade é só de estarem lá no rio. Não costuma criar problemas nas
machambas nem comerem as culturas alimentares.
I: E as pessoas daqui, não costumam comer os pássaros?
JN: Alguns costumam fazer armadilhas para apanhar pássaros mas não são muitos os que
costumam fazê-lo. E essas que o fazem é só para fazer caril naqueles pássaros
comestíveis.
E o nº dos pássaros aumentaram, estão na mesma ou se reduziram após a construção da
barragem de Cahora Bassa?
JN: Aumentaram muito porque não costumam ser caçados e grande quantidade pelos
pássaros e reproduzirem-se muito mais lá no rio por isso são muitos pássaros.
Cadete: Lá no rio tem havido plantas para tratar doenças humanas?
JN: Não sabemos das plantas que se tiram lá no rio para fazer medicamentos.
Cadete: Mas aqui na vossa Comunidade,não existem curandeiros existe mas onde tem
arrajado plantas medicinais conheçemos.
Só elas é que podem descrecer isso.
I: Os olhos enumeraram muitas desvantagens que foram produzidas pela barragem de
cahora bassa. Há alguma vantagem, algum beneficio de Cahora bassa para o povo desta
comunidade?
JN: Benefícios trazidos por Cahora Bassa agora não existem nenhuns. Só antes da
construção da mesma, sim , havia benefícios, agora não.
Não há nenhuma vantagem.
Cadete: Sr. Mateus, gostaria que nos informasse como a associação organizou os
camponeses para salvá-la no tempo das cheias?
Mateus: Há muito tempo, antes de termos machamba colectiva grande já preparada, nós
cultivavamos lá nas proximidades do rio mas abandonamos aquela machamba por falta
de vantagens e compramos uma outra machamba nas zonas altas da aldeia.
Esta machamba actual tem 250 hectares.
Cadete: Quando é que mudaram de machamba ?
Mateus: Trocamos de machamba em 1997.
Cadete: Quantos hectares (ha) tinha a machamba situada nas proximidades do rio?
Mateus: Tinha 30 ha.
Cadete-Mudaram de machamba, porquê?
MC: Mudamos de machamba por causa das cheias, as quais destruiam machambas e não
se conseguia grandes proveitos das mesmas.
I: Como é que se chama a associação?
MC: Associação dos camponeses de Magagade onde eu sou o Vice-Presidente.
I: E lá naquela machamba perto do rio onde tinham 30 ha, o que é que a associação
cultivava?
MC: Cultivavamos milho, cana-doce (para fazer fronteira de machamba) e abandonamos
porque na época das cheias não havia meios como canoas para nele ir cultivar e não se
conseguia grandes proveitos nelas.
I: Há muitas pessoas nessas regiões que abandonaram as suas machambas localizadas
perto do rio?
MC: Existem. Cerca de 18 abandonaram suas machambas perto do rio devido as cheias.
A Associação foi fundada aos 12 de Outubro de 2000.
Cadete: Quando é que foi nascido Sr. Mateus?
MC: Fui nascido aos 12.03.1960.
O Régulo daqui chama-se Simião Sangoma.
I: Fim da Entrevista.
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Nome dos entrevistados: Luís Manuel (LM) João Nhemba