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A PEDAGOGIA DA FRATERNIDADE ECOLÓGICA:
ENSINAR A ÉTICA DO GÊNERO HUMANO
(1)Prof. Dr. Samir Cristino de Souza (IFRN)
(2) Prof . Dra. Maria da Conceição Xavier de Almeida (UFRN)
a
RESUMO
A Pedagogia da Fraternidade Ecológica é a pedagogia do amor, da poesia e da
sabedoria. Fundamentada nos sete saberes se propõe a vivenciar a ética do gênero
humano, o amor ao planeta Terra, a fraternidade, a sabedoria primeira, a lógica e escuta
sensível da natureza. Inspirada em dois personagens: São Francisco de Assis e
Francisco Lucas da Silva, que representam modelos significativos da experiência do
amor, da poesia e da sabedoria, essa pedagogia propõe o exercício da antropoética nas
relações e no fazer educativo das escolas e universidades. O objetivo deste trabalho é
apresentar a pedagogia da fraternidade ecológica como um modelo de vivência da ética
do gênero humano na educação. Assim, acredita-se que é possível uma educação
diferente que contribua na formação dos jovens para a vida em todas as suas dimensões.
Palavras-chave: pedagogia, fraternidade ecológica, antropoética, educação.
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INTRODUÇÃO
O Grupo de Estudos da Complexidade da UFRN (GRECOM) e o Grupo de
Estudos da Transdisciplinaridade e da Complexidade do IFRN (GETC) que
desenvolvem pesquisas a partir do pensamento complexo e transdisciplinar, tem
produzido, ao longo dos anos, trabalhos de monografia, dissertações e teses,
contribuindo com a reforma do pensamento e da educação proposta por Edgar Morin.
Assim, a obra Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro (2000), desde
a sua publicação, tem sido o fundamento epistemológico de diversas pesquisas que
apontam na direção de uma revolução paradigmática na educação. Acreditamos que
refletir os caminhos do presente e do futuro dos sete saberes é um passo importante para
vivenciarmos experiências de sucesso, tanto na pesquisa quanto na aplicação das idéias
de Edgar Morin.
Seguindo o pensamento de Hubert Reeves (2002), que propõe que sejamos os
artesãos do oitavo dia, queremos dar uma contribuição à reflexão de Edgar Morin que
afirma a necessidade de acrescentar aos sete saberes um oitavo. Assim, a Pedagogia da
Fraternidade Ecológica é uma proposição fundamentada nos sete saberes e se constitui
como uma contribuição do GRECOM e do GETC nessa reflexão acerca do oitavo saber.
A PEDAGOGIA DA FRATERNIDADE ECOLÓGICA
A Pedagogia da Fraternidade Ecológica foi inspirada e desenvolvida a partir da
vida de dois personagens que representam modelos significativos da experiência do
amor, da poesia e da sabedoria: São Francisco de Assis e Francisco Lucas da Silva, mais
conhecido como Chico Lucas.
São Francisco de Assis, o santo medieval, é considerado por muitos como um
homem que viveu uma intensa vida em fraternidade, amor e solidariedade com os
outros.
Chico Lucas, agricultor, morador da comunidade de Areia Branca as margens da
Lagoa do Piató no Rio Grande do Norte, na sua simplicidade de homem do campo nos
ensina outra forma de compreender a natureza, de exercitar a sensibilidade, a alegria, a
solidariedade e o amor ao lugar onde vive.
O estilo de vida desses personagens e os seus ideais nos fazem pensar no modelo
atual de educação que está sendo vivenciado na maioria das nossas escolas. A educação
dos nossos jovens está sendo conduzida a partir de um individualismo exagerado e uma
compreensão equivocada da vida, da natureza, do ser humano, além da insensibilidade
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diante dos problemas sociais, políticos, econômicos e ecológicos atuais. Isso é o que
vemos como consequência de uma formação voltada apenas para o mundo competitivo
do trabalho, deixando à margem a formação para a vida em toda sua
multidimensionalidade.
Fundamentada nos sete saberes a Pedagogia da Fraternidade Ecológica propõe o
exercício da antropoética nas relações e no fazer educativo das escolas e universidades,
visando promover uma educação mais sensível e próxima da natureza para vivenciar a
experiência do amor fraterno, a poesia da vida e a sabedoria. Assim, podemos acreditar
que é possível uma educação diferente, na qual os princípios da ética do gênero
humano, o amor, a solidariedade, a compaixão, a compreensão, o perdão, entre outros,
sejam vivenciados nas escolas num profundo espírito de fraternidade universal,
contribuindo na formação dos jovens para a vida em todas as suas dimensões.
A Pedagogia do Amor, da Poesia e da Sabedoria
A Pedagogia da Fraternidade Ecológica é a pedagogia do amor, da poesia e da
sabedoria. Ela se fundamenta na ética do gênero humano, na consciência e no amor ao
planeta Terra, nossa casa comum, nossa Terra-Pátria (Morin, 1995), na experiência da
fraternidade universal, na sabedoria primeira, na lógica e escuta sensível da natureza.
A sabedoria primeira é a vivência de uma relação mais próxima à natureza, a
partir da lógica do sensível (Lévi-Strauss, 1989), e da compreensão dos fenômenos
naturais, na relação com o meio ambiente que está para além do enfoque apenas
utilitário.
Para aqueles que acreditam, uma pedagogia que integra homem e cosmos está
implicada no modo como se vive as relações interpessoais na vida cotidiana, isto é, no
trabalho, na escola, no lazer, no ócio, nas relações amorosas, nas amizades e nas demais
relações com as alteridades. É a partir do cotidiano que se deve vivenciar os princípios e
valores fundamentais que a compõe. No processo educativo, o modo fraterno de tratar
os demais cria um estilo, e esse estilo espelha uma maneira singular que se manifesta no
gesto, na saudação, no tratamento cortês, na sensibilidade e em todos os momentos do
estar junto ao outro, de viver com o outro e de ser para o outro. Pois o “amor,
ontologicamente, é o poder de doação e de entrega ou capacidade de acolhimento do
outro enquanto outro” (BOFF, 1982, p. 23).
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Esses são princípios e valores de uma ética do gênero humano que precisam
compor as práticas pedagógicas diárias, seja na escola, seja na vida cotidiana, como um
exercício de vivência da antropoética.
Como a Pedagogia da Fraternidade Ecológica será vivenciada na formação para
o ensino educativo? A essa pergunta tento responder a partir de uma breve organização
de alguns valores e princípios para serem transformados em vivências da Pedagogia da
Fraternidade Ecológica na formação dos educadores.
O amor como princípio
A todo momento em nossas vidas estabelecemos relações com outros viventes.
As relações são oportunidades para fazer emergir virtudes éticas e sentimentos bons de
amor, solidariedade, magnanimidade, perdão, entre outros, para convivermos mais
harmoniosamente.
O cultivo dos sentimentos bons começa na família e hoje é tarefa fundamental
no processo educativo. A escola é o espaço essencial para o desenvolvimento desses
valores, pois o cerne da questão é a alteridade, o reconhecimento do outro; o lidar com a
diversidade e a diferença; sairmos do egocentrismo e, porque não, do antropocentrismo
para vivenciar relações mais amorosas e fraternas.
Quando se estabelece a relação objetivando esse processo, temos a possibilidade
de construir o saber e a aprendizagem significativa, com partilhas e não por imposições
sociais ou pessoais. Ao professor cabe a responsabilidade inicial de fomentar os seus
sonhos e os de seus alunos, incentivando-os com seu exemplo e ações amorosas,
solidárias e fraternas. Assim educamos para o amor. Estaremos caminhando para a
“esperança na completude da humanidade, como consciência e cidadania planetária”
(MORIN, 2000, p. 106). O que seria uma nova e verdadeira fase emergente para a
humanidade, para a sociedade planetarizada e humana, para a consciência cósmica.
A convivência como princípio
Toda relação humana implica em um determinado modelo de convivência que
pressupõe determinados valores, formas de organização, de relação, normas para
enfrentar conflitos, modos de expressar os sentimentos, expectativas sociais e
educativas, maneiras de exercer o cuidado, e assim por diante. E isso é assim porque
não há possibilidade de viver sem conviver. A fragilidade da vida humana é uma das
razões que explicam a convivência, ainda que não seja a única.
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Igualmente, a aprendizagem da convivência é inerente a qualquer processo
educativo, e tem sido assim historicamente. Aprender a conviver em um conjunto de
regras determinadas é uma das funções atribuídas à educação, tanto nos contextos
familiares quanto nos sistemas educacionais formais. Assim, a primeira incumbência é
nos interrogarmos sobre o tipo de convivência que queremos para os educadores e
educandos no momento presente e futuro.
O diálogo como princípio
O diálogo é outro princípio fundamental da Pedagogia da Fraternidade
Ecológica. Há uma estreita relação entre atenção e diálogo. Convém que o olhar com
atenção, como foi visto anteriormente, preceda ao diálogo para que esse seja mais rico;
a atenção deve acompanhar o diálogo, é uma de suas condições de possibilidade; e,
finalmente, o ato de dialogar aumenta e favorece a atenção sobre as coisas, ajudandonos a vê-las melhor.
O esforço do diálogo é não apenas esforço para falar, mas, sobretudo, para
escutar. E a palavra desse esforço é atenção. É pela frequente falta de atenção que a
maioria dos diálogos, na realidade, são pseudodiálogos, pois debaixo de sua aparência
se esconde o interesse por falar sem nenhuma capacidade, abertura nem vontade para
escutar.
A sabedoria como princípio
O princípio da sabedoria está ligado ao amor e cuidado com a Natureza. Mas,
para cuidar dos seres da natureza, o homem precisa conviver e conhecer seus fenômenos
a partir de uma proximidade e de uma escuta sensível. Isso requer optar por um olhar de
amor sobre todas as coisas e, ao aprofundar a relação consigo mesmo, aceitar conviver
na fraternidade e no respeito.
Um paradigma novo e importante para as ciências é a transdisciplinaridade.
Hoje, as pessoas tomam consciência de que é urgente dialogar com todos os saberes,
com seus campos tão diferentes, para se reencontrarem e colaborarem.
A ecologia das ideias se nutre desse diálogo transdisciplinar. Trata-se de
aprofundar a compreensão do elo que une o universo, o conjunto vivo que Edgar Morin,
em muitos de seus escritos, chama com muita propriedade de pluridiverso. Para Morin,
a heterogeneidade humana é o tesouro da unidade humana e o é porque é heterogêneo.
A característica própria do que é humano é a unidade múltipla unitas multiplex
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(MORIN, 2002), essa unidade expressa na multiplicidade das formas e na
heterogeneidade das situações é um elemento não só da sociedade humana, mas de
todos os seres vivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Pedagogia da Fraternidade Ecológica é uma proposta em construção
permanente e se dá na convivência com todos os seres. Ela parte da necessidade de
compreensão dos princípios de uma ética do gênero humano, como um processo de
vivência e maravilhamento.
Assim, para atingir o objetivo dos sete saberes a condição primeira é o
aprofundamento de uma visão transdisciplinar que possa contemplar esses saberes
considerados indispensáveis para uma reforma da educação, que aponte para o ensino
educativo, em que as práticas pedagógicas fundamentadas em princípios éticos possam
transformar a escola.
Portanto, acreditamos que a Pedagogia da Fraternidade Ecológica é um projeto
que aspira a uma reforma do pensamento e da educação; que se fundamenta nos Sete
Saberes; que religa os saberes da cultura científica com a cultura humanística; que
ensina a ética do gênero humano e compreende o homem como parte da natureza e,
acima de tudo, ressalta que a ação pedagógica deve promover a formação integral do ser
humano.
REFERÊNCIAS
BOFF, L. São Francisco de Assis: ternura e vigor. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1982.
LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. Campinas-SP: Papirus, 1989.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro.
Cortez; Brasília: UNESCO, 2000.
São Paulo:
______. O método 5: a humanidade da humanidade, a identidade humana. Porto
Alegre: Sulina, 2002.
MORIN, E.; KERN, A. B. Terra-Pátria. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 1995.
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A PEDAGOGIA DA FRATERNIDADE ECOLÓGICA:
ENSINAR A ÉTICA DO GÊNERO HUMANO
(1)Prof. Dr. Samir Cristino de Souza
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
(2) Profa. Dra. Maria da Conceição Xavier de Almeida
Universidade federal do Rio Grande do Norte
Esquema do Pôster
A Pedagogia da Fraternidade Ecológica é a pedagogia do amor, da poesia e da
sabedoria. Fundamentada nos sete saberes se propõe a vivenciar a ética do gênero
humano, o amor ao planeta Terra, a fraternidade, a sabedoria primeira, a lógica e escuta
sensível da natureza.
Inspirada e desenvolvida a partir da vida de dois personagens que representam
modelos significativos da experiência do amor, da poesia e da sabedoria: São Francisco
de Assis, o santo medieval que é considerado por muitos como um homem que viveu
uma intensa vida em fraternidade, amor e solidariedade; e Francisco Lucas da Silva,
mais conhecido como Chico Lucas, agricultor, morador da comunidade de Areia Branca
as margens da Lagoa do Piató no Rio Grande do Norte, na sua simplicidade de homem
do campo nos ensina outra forma de compreender a natureza, de exercitar a
sensibilidade, a alegria, a solidariedade e o amor ao lugar onde vive.
Essa pedagogia propõe o exercício da antropoética nas relações e no fazer
educativo das escolas e universidades e será vivenciada na formação para o ensino
educativo a partir da organização de valores e princípios que serão transformados em
vivências pedagógicas. São eles:
O amor;
A convivência;
O diálogo;
A sabedoria.
Portanto, a Pedagogia da Fraternidade Ecológica é um projeto que aspira a uma
reforma do pensamento e da educação; que se fundamenta nos Sete Saberes; que religa
os saberes da cultura científica com a cultura humanística; que ensina a ética do gênero
humano e compreende o homem como parte da natureza e, acima de tudo, ressalta que a
ação pedagógica deve promover a formação integral do ser humano.
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