LUIZ
ANTONIO
OA
SILVA
(USP e COLEGIO BANOEIRANTES)
Partindo-se do principio de que uma conversa~ao ja esteja em curso e os papeis dos participantes
ja estejam
defini-
dos, ha um sistema de sinais, por meio dOs quais os inte~lo~
tores verificam as contribui~oes de cada urn, seja falante
ouvinte. Monitoramento
e,
ou
pois, essa fiscaliza9ao que cada in
teractante do dialogo exerce sobre seu parceiro, no
sentido
de direcionar e regulamentar a conversa~ao.
Este trabalho tern por objetivo estudar a repeti~ao
urnprocesso de monitoramento do ouvinte
como
em rela9ao ao falan-
te. 0 estudo limitou-se as heterorrepeti90es
precisas,
tantes em Tannen(1985). Utilizei como corpus quatro
cons-
inqueri-
tos do Projeto NURC/SP, do tipo D2(Dialogo entre dois
infor-
mantes(N2 343, 62, 360 e 333), publicados em Castilho
e
Pre
ti(1987).
Nesta pesquisa foram considerados os casos em que
vinte repete a(s) mesma(s) palavra(s) do falante. De
0
ou-
acordo
com as fun90es exercidas, separamos as repeti90es do segmento
do falante em tres tipos: para ratificar, para responder e-p!ra manifestar surpresa.
Desses tres tipos,
caso,
0
ouvinte repete
assentir e confirmar
0
0
0
mais comum
e
para ratificar. Nesse
segmento do falante com
0
intuito de
que se estava dizendo, desempenhando
fun~ao importante no monitoramento do talante:
L2
que eram justamente um dos ••• um doadefeitos
muito
grandes do radio ••• daquele tempo que era •••
quando:: um:: •.. locutor ia tazer urnteste ••• 0:: ...
o chet. dizi ••
OS
ele ••. "dill- f;i 011 etl 08 es ••• e
errs •••.••••• e era 0 teste •.•
Ll
e ••.
L2
para saber se ele tinha... ah:·:·...boa dlc\;ao para
talar em radl0 ••• nao
e
e? ..
·entia ele caprichavll'"
is.o que 0 Chico Anisio esta .•• ah ah ah ••.
L2
no programa
dele ...
Ll
no· programa dele
L2
do Chico Anisio ... nao e? ele ... cal eh •.• eh •..
ele inSISte •.. DORme em cima dos esses e dos
erres ne?
dos erres ••• ann
e ... mas eu nota que agora ... sobretudo na nossa
tamilia que nos temos muita preocupagao ... da da
linguagem simples e da linguagem:: ... correta
~xata
e ... exata ... nos ticamos um pouco chocados com
o esse e
0
erre exagerados dos~ariocas
l.dos cariocas
que sao mesmo urn preciosismo
No exemplo ac1m., encontramos
inut1l ne?
tr~. C•• C). de repetiOio
segmento do talante. Todos t~m, como obJet1vo pr1nc1pal,
torar
0
do
man!
talante a reapeito de comuniC&\;ao e do desenvolvi~n-
to do topico. No prll11eiroC880_
"no programa dele"_
0 ouv1n
te intertere apos a paUsa de L2. 0 ouv1nte Ll, nao deseJando
assum1r a palavra, simplesmente,
repete 0 enunciado de L2 e
sanciona como falante. No segundo caeo,
0
0
ouvinte repete 0 t~
lante com 0 claro objetivo de partic1par, de mostrar aten\;ao,
isto e, pretender preservar a propria face positiva, aO
tr~que
e
mos-
um ouvinte participante. No terce1ro caso, oouv12
te repete 0 falante sem que ~aja qualquer hesita~ao ou
de LRT. Ao repetir 0 falante_
"dos car10cas"_,
monstra conhecimento do topiCO e ratifica 0
pista
0 ouvinte d£.
enunciado de L2,
evidenciando sua condi~ao de ouvinte-participante.
Neste
ca-
so, houve, no dizer de Tannen(1985), shadowing ou·sombr~amento. Esse termo designa a repeti~ao com uma diferen~a minima
de tempo. Tannen ressalta que as repeti~oes em falas sobrepo~
tas manifestam atitude cooperativa, por meio da ratifica~ao
do enunciado do falante, proporcionando
a coerencia global do
discurso conversacional.
A repeti9ao pode ser usada para responder a uma pergunta:
Or/ Orfeu do Camaval
foi feito .•.
[fOi feito pelo pelo:: .••
quem~ez
0 roteiro foi
pelo frances 0:: filho do::
o Camus nao
e?
[0 Camus
que era um:: par[~te do Albert Camus
e ••• parente
No exemplo acima, ha uma evidente disputa pela palavra e~
tre os interlocutores. 0 falante Ll e interrompido pelo ouvin
teria feito 0 roteiro do filme Orfeu do Carnaval. 0 ouvinte,
querendo participar, intervem. A memoria, poram, Ira trai-lo
e ele nao consegue se lembrar do nome. Enquanto ls80, 0 falan
te continua a desenvolver seu tumo
e enuncia
0
nome da
pes-
soa"que teria fei to 0 roteiro e faz uma indaga<;;'io
para confe-
rtr a eltatid&o: "quem fez 0 rotelro fol 0 Camus nao e1". 0 o!!
vlnte responde
a
lnd8$aC;ao. repetlndo 0 nome "0 Camua". com a
!unc;ao de urn adverbl0 de aflrmaC;ao. Repare-se que a
lntervenC;ao de L2_
"0 C8muS"_
lntervenC;ao. como se pode pensar("o::
segunda
filho do::").
A repetiC;ao pode ser usada para manlfestar
te do enunclado
tercetra
nao 'e conttnuac;ao da
surpresa dl~
do falante:
EXEMPLO 3
L2
1... 1 eh mamae sempre como:: contava que elas
tlnham umas amlgas que eram sempre carinhosas
umas velhlnhas multo slmpaticas
eram
entao elae ee vl1
iam visita-las ••• e almoc;avam com elas e elas
diziam "comet batatin:: nha" •••
Ll
comei?«riu»
(NURC/SP 333, L.263-268.
presa pel0 fato de 0 imperativo afirmativo
p.240)
ser usado na segu~
da pessoa do plural em uma situaC;ao lnformal, lsto
e.
almoc;o entre amigas. 0 ouvinte repete para demonstrar
sa di80te do inusitado emprego do tratamento
Ll
em
um
surpre-
"vos".
I ... I entao voce nao... nao dlga "casa de madame H.
e nao e nem me chame de madame-- porque ela so
me
chamava de madame-- eu acho mutto desagradavel
voce me chame dona H. nao me chame de madame •••••
ai ela pos a mao no quadrl1 me olhou -- eu nunca
hei de me esquecer 1550 faz t8Otos 8005 ..•-- "por
que que a senhora nao quer que eu lhe de madamia?"
mas
~adamla ••. dellcioso
o falante
Ll de8envol~.
0 tOpico,
rOC~llj8ridO0 0"0
urna ernpregada que' Ihe dava 0 t!'e:~nto
gostasse
desse tratamento,
referisse
a ela dessa maneira.
Ihe fe!: wna pergunta
"JIlad8llle"'
Como
A empreglldatlcou
no de Ll para man1festar
COIID
nao
mais se
Intl'1sada e
inus1 tada: "por que' que a ••MO'"
quer que eu Ihe de ..madam1&? " • 0 ouvinte
pete
qu. neo
pediu • empresada
sua surpresa
.~
nio
L2 1n't;.rl'Cllllpe
otur-
dlante
do termo e 0 r~
enf!ise: "madam1a ..• de11010so".
Nem sempre,
a repet1oao
man1festa
apenas
surpresa
e
adm1rac;ao:
1 •.. 1 gozado a eonf1anoa
Ll
maquina
que
0
hornem tern em
ne? mas •.. eu estava pensando ••. sera
que isso e .•• sem::pre ••. desde que eome~ou
a
haver maqu1na ..• sempre ha desconfian~a?
L2
DESconf1anca?
Ll
e tanto que se propoe
sempre aquilo ...
0
homem
... e a maquina ne?
(NURC/SP 62, L.808-814,
o
falante Ll desenvolve
p.37)
seu turno, tocallzaQQo
0
tem.
"maqu1nai!l". Ll, no eomeoo do turno. havia declara<io: "gozado
a conf1anca
que 0 hOmem tern em.-qu1na
ele faz urna reflexao
coordenat1va
fato de as pessoas
ehegou a entender
turno foeal1za
contianca
a,~locaoio
de momento,
adversativa
De?". Subltamente,
lnician!So com
"mas". Essa retlexao
UIII&
e-
conjunoao
se refere
ao
desconf'1areJIIda" ~"qufn ••• 0 ouv1nte
nio
a reflexao
a eonflanca
na maquina.
dO fala~te. pois, no inleio
na m&quina e 8sora tocaliza
0 tato de
do falante mot1vou
0
ouv1nte
a repet1cao.
t~iE em s1 urn m1sto de surpresa,
do
a des
nao ter entend1do
Essa repet1cao
duv:da e Incredulidade.
Re-
..•.
.
-t~.H
....
po"'.~" ~.
pare-.. na en!••• que • ad. ao prefilto caaPala¥l'Il ~J)e~4a:
eM. flU etilcol
••• 0
WIO
6,..
lIUbHqtlen •••••
El•••
'ftl __
~!Ca
Hr.Pf.h«O..
0
'tato
..aqu1nas(.speol.lMn~. calculaQo-
••
1',,) "I' prol})1,..
A.
a
Vitllea,
,...,.UOu
pode indlcar Bla1s do que 8\WPreaa.
ate "lnc1'lldullcSade:
Ep:!!PLO
L2
Ll
§
um be10 fUme tol Orfeu do Carnaval
t01 .•• mas •••• ja • antlgo e tol
uma COrP:odu~ao n8.~ e?
lja antigo ja faz muito t.mpo
mas foi URlaCO-produ98.0•..
e
co-produQao ( ) com a Argentina?
agora voce Vel: a gente ima/ nao n8.0uma
co-produQao francesa ...
o toPlco glra em torno do f1lme Orteuclo Cainaval.Oa 1n
terlocutore. dlacutem a reapeito desse filme e L2 faz uaa i!
daga98.0aLl:
"co-produqao ( ) com a Arsentlna?". Ll at1rma
que toi uma co-produ~ao trancesa. Esse ult1mo enunc1ado de
Ll leva seu interlocutor a repeti-lo. A repetiQ&o com enton!
~ao ascendente revela surp~sa
o ouvlnte •• pl'04uoao e~
• 1ncredulldade. Ja que. pare
~Ientln.
e nio trancesa.
Yannen
acreacenta ••• UlIIUlfIIlPlo••••lbant•• que • l104Uiaqio
carre,••• po4e &4)""OOII\Q_atra clect
••credlto.
U'15)
lfOa1~l'tt!)
todaa a•••••
• ....,.~a.
UcOn: 0 .inte
toi taito
rep.t1nCo
UIIleV8h~
do ••glllentodo tat.nte) • 0 talante repeUndO
t1~io do seglllentodo O\lVlnt.). Pdos
.vidente que 0 ouvlnte ,.,.te ••1s
cae.
0 Man.h'llP~~tgio
0
.~.(~.!
dll<loscOlllPut_&.ti~u
0
t~ante.
0.. ~
clas l.vantad••• 69.7~ reterem-se .s repetiQoes dO
....-nto
do falante,
enquanto
31,3.
saa repeti90es
do segmento
dO ou-
vinte.
o
quadro abaixo demonstra
de repeti9ao
do segmento
a distrlbui9ao
dos tres tlpos
do falante entre os inquerltos
ana-
lisados:
PARA
INQ.
NR
PARA
PARA
RAT IFICAR
RESPONDER
NR
%
"
TOTAL
MANltESTAR
POR
SURPRESA
INQ.
NR
"
343
04
08
50,0
02
08
25,0
02
08
25,0
08
62
24
31
77,5
~
16,2
02
31
6,3
31
16
29
55,2
37,9
02
29
6,9
29
~
76,5
03
34
8,8
05
34
14,7
34
II
20,5
11
10,8
102
360
333
31
II
29
34
TOTAL
GERAL
1.Q
68,7
.
102
102
De acordo com
0
102
quadro aelma, podemos
fazer algumas
cO2
siderac;oes:
1. Foram
eneontradas,
tro inqueritos
a. 343:
b.
62:
_8_
102
..1.L
no total, 102 ocorrenclas
analisados,
assim dlstribu!dos:
7,7"
30,4%
102
c.
360:
.2L
102
28,5%
nos qU!
2!102
Oentre os inqueritoB,
sentou
um
apenas
percentual
(7.7~). Nos oUt~os,
0
de nl 343 nao
o mats significativo.
apre-
das repeti~oes
indice foi muito semelhante.
2. Entre todos os inqueritoB,
0 tipo para ratificar foi
No geral, representou 68,7~ do
total. Nos inque~itos,
com exce~ao do de nl
dOs os Outros apresentaram
Esse tiPo(para ratificar)
conversa~oes
0
significativo
e 0 mais comum, porque nas'
ha urna preocupa~ao
servar a face positiva,
to
343,
indices acima de 55,0%.
muito grande de pre-
ao marcar presen¢a e ao
d~
monstrar que esta entendendo 0 topico desenvolvido.
3. 0 tipo de repetiQao para responder apresentou urn 1n4ice de 20,5~. Entre os inqueritos,
o que apresentou
porcentagem
0 de nl 360 foi
mais alta. Nesse 1nque-
rito, ha urn 1nteresse maior no processo pergunta/re~
posta, pois os locutores
tern interesse ma10r em
sa-
ber informaQoes ~tuas.
4. A repetiQio
para manlfestar
sentou menor porcentagem:
mente compreensivel,
surpresa foi a que apre-
lO,8~ do total.
E
perfe1t~
pois esse tipo de repet1~ao re-
vela actmira~io. incredu11dade,
espanto e essas carac
teri.ticas nao sao mUito comuns nos 1nquer1tos
I'rojeto
do
kuRd/si>.
CASTILHO, Atal1ba T. cie, e PRETI. 01no(1987)
(Orgs.). ~-
guagem falada culta ns oidade de Sao Paulo. Sao Paulo, T.A.
QUEIROS/FAPESP,
Vol. II.
TANNEN, Oeborah(1985).
ous formulaici~y
Repetition
in conversation.
and variation
as spontane-
(Copia xerografada).
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LUIZ ANTONIO OA SILVA (USP e COLEGIO BANOEIRANTES