DESCONCENTRAÇÃO, DESINDUSTRIALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÕES PRODUTIVAS
NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO NO PÓS 1990
Dr. Robson Dias da Silva
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Brasil
Resumo
O artigo investiga as principais transformações ocorridas na estrutura industrial da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), entre os anos 1990 e a segunda metade da
década de 2000, analisando de que forma essas mudanças atuaram sobre a trajetória do
desenvolvimento econômico regional. Para isto, o trabalho foca o desempenho das
dinâmicas setoriais nos diversos municípios que formam a economia metropolitana
fluminense, concedendo especial ênfase às modificações observadas na composição do
emprego e produto interno industrial regional, derivados dos processos de
desindustrialização da cidade do Rio de Janeiro e de incremento da produção manufatureira
de setores e unidades localizados fora do núcleo metropolitano.
Palavras-chave: Rio de Janeiro – Desenvolvimento Regional - Desindustrialização
Abstract
The article investigates major transformations in the industrial structure of the metropolitan
area of the city of Rio de Janeiro in the period from 1990 to the latter half of the years 2000
and how they have affected the course of regional economic development. The focus is on
the performance of sector dynamics in the various municipalities that make up the greater
Rio metropolitan area with special emphasis on alterations to the composition of the
employment offer and the gross regional industrial product stemming from processes of deindustrialisation of the city of Rio and increased production of industrial manufacturing units
and sectors located outside the metropolitan nucleus.
Key Words: Rio de Janeiro – Regional Development – De-industrialisation
1 – Introdução
A dinâmica econômica do Estado do Rio de Janeiro foi marcada, por quase todo o século
passado, por um forte e contínuo processo de perdas de participação relativa no produto
interno bruto brasileiro. A redução da importância relativa fluminense (alusivo ao estado do
Rio de Janeiro) foi observada tanto no produto interno agrícola, quanto no montante
referente à indústria e aos serviços e se explica pela conjunção de dois fatores principais, a
fragilidade apresentada por algumas atividades em território estadual e a natureza do
processo de integração do mercado nacional, tanto na etapa de “concentração” econômica
em São Paulo, quanto durante a “desconcentração produtiva” 1 .
A partir dos anos 1990, a economia fluminense passou a apresentar certo grau de
recuperação de dinamismo, expresso pelo incremento nas taxas de expansão do produto
interno bruto e do investimento produtivo. Esse relativa recuperação de alguns indicadores
econômicos (notadamente PIB e investimento) trouxeram à discussão temas tais como o
perfil do crescimento experimentado, os impactos regionais provenientes das atividades
1
Sobre o assunto ver Cano (1998 e 2007), Silva (2004 e 2009), Limonad (1996) e Natal (2005).
econômicas em crescente expansão, a configuração urbana estadual e, em menor medida,
as regiões e setores estaduais economicamente estagnados.
Como se sabido, grande parcela desse dinamismo coube à produção petrolífera da Bacia de
Campos (situada no norte do estado) que tem experimentado intenso e rápido crescimento
da produção, alterando sobremodo importantes variáveis da economia fluminense. No
entanto, essa atividade ainda apresenta consideráveis fragilidades no que concerne à
capacidade de promoção de encadeamentos setoriais pelo território estadual, mantendo-se,
de certo modo, seus efeitos produtivos circunscritos aos espaços limítrofes à região
produtora.
Nesse cenário de forte expansão do produto interno bruto, a economia da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, não obstante o forte crescimento do interior, conseguiu
manter-se na posição de principal centro econômico estadual, abarcando não apenas a
mais ampla e diversificada estrutura urbano-produtiva, como a grande maioria da população
fluminense.
Contudo, consideráveis alterações se apresentam à RMRJ em meio ás transformações
produtivas vivenciadas pela economia fluminense. A redução da importância relativa para o
produto estadual e um provável novo reposicionamento frente à divisão regional do trabalho
estadual são fenômenos resultantes não somente do aumento da dinâmica expansivo de
outras regiões, como também de problemas estruturais enfrentados por seus municípios,
especialmente falando da cidade do Rio de Janeiro. Nesse sentido, processos como
desconcentração produtiva, espraiamento da produção industrial e desindustrialização se
estabeleceram na dinâmica econômica da RMRJ nas últimas décadas.
O trabalho que ora se apresenta faz breve análise acerca da estrutura produtiva da RMRJ,
buscando apresentar as principais transformações derivadas da dinâmica industrial
apresentada pelos municípios metropolitanos e quais são os principais determinantes desse
processo em escala regional, enfatizando a questão da desindustrialização da cidade do Rio
de Janeiro e o aumento do dinamismo industrial de alguns municípios da periferia
metropolitana.
2 – Desenvolvimento regional, dinâmica econômica e estrutura produtiva na RMRJ
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) foi instituída em 1974, um ano após a
institucionalização das primeiras regiões metropolitanas no Brasil. Embora o “Grande Rio”
fosse o segundo maior núcleo urbano brasileiro, sua institucionalização enquanto região
metropolitana não pode se efetivar em 1973, em razão da peculiar situação regional à
época, considerando-se que seu espaço “urbano-econômico” compreendia duas unidades
federativas distintas, o que só foi superado com a criação do novo estado do Rio de
Janeiro 2 . Lago (2009)
Originalmente, a região possuía 14 municípios, distribuídos ao longo de aproximadamente
6500 km2, na porção central do território fluminense, às margens da Baía de Guanabara.
Após algumas “autoexclusões” e o surgimento de novos municípios 3 (via emancipações
2
Em 1974, foi promulgada a lei que determinava a fusão institucional entre o antigo Estado do Rio de Janeiro e o Estado da
Guanabara (compreendido pela cidade do Rio de Janeiro).
3
No que diz respeito às “autoexclusões”, é preciso destacar que 4 municípios deixaram a RMRJ, passando a integrar outras
regiões de governo. Primeiramente, Petrópolis (em 1984) se associou à região Serrana, mais recentemente, em 2002, Maricá
passou a integrar as Baixadas Litorâneas, enquanto Itaguaí e Mangaratiba, a região da Costa verde. Em relação às
emancipações, assinala-se que a RMRJ foi uma das principais contempladas com esse processo, tendo em vista abrigar um
terço do total de municípios criados a partir de 1990 no estado do Rio de Janeiro.
municipais), a organização político-administrativa da região se alterou consideravelmente:
atualmente, a RMRJ é composta por 17 municípios 4 e ocupa porção territorial equivalente a
11% território fluminense 5 .
Estimativas dão conta de que, em 2008, a população da RMRJ ultrapassou a marca de 11,6
milhões de habitantes, contingente pouco acima do patamar referente a 2000 (10,9
milhões). Entre 2000-2008, a taxa média anual de crescimento demográfico ficou em 0,76%,
bem aquém do já não expressivo percentual do período 1991-2000 (1,14% a.a.).
O ritmo de expansão demográfica da região tem sido fortemente determinado pelo
desempenho da cidade do Rio de Janeiro, município no qual residem 53,2% do contingente
metropolitano. No intervalo mais recente em questão, a expansão carioca foi de 0,6%
anuais, o que ajudou a “segurar” as taxas regionais. Entretanto, deve-se registrar que a
baixa taxa carioca não pode ocultar a contribuição da cidade do Rio de Janeiro à expansão
da população metropolitana fluminense, tendo em vista que sua variação absoluta (335 mil
habitantes), no período 2000-2008, corresponde a 35,4% da variação total metropolitana.
A concentração populacional é um das características principais da estrutura urbana
fluminense. A título de ilustração, registra-se que na RMRJ residem 72,6% da população
estadual, cuja distribuição entre os municípios metropolitanos aponta acentuado grau de
concentração. Além da forte concentração populacional observada na cidade do Rio de
Janeiro, verifica-se a alta participação de um pequeno grupo de municípios no restante da
distribuição populacional, notadamente São Gonçalo, Niterói, Nova Iguaçu e Duque de
Caxias, que juntos, respondem por 27,5% da população regional 6 .
No que diz respeito à estrutura econômica, é possível assinalar como grande característica
regional a diversificação, notadamente nas atividades ligadas à indústria manufatureira e
aos serviços, e o alto peso relativo no produto interno bruto estadual. (Tabelas 1 e 2) A
RMRJ se destaca por suas funções sofisticadas de metrópole nacional, cujo raio de
influência alcança outros estados da federação 7 . Em 2006, a região respondia por
aproximadamente 58,0% do PIB fluminense. Em termos setoriais, as participações nos
respectivos produtos internos apresentaram grande discrepância, saindo de 80,8% no
terciário, passando por 34,6% na indústria e chegando aos 4,8% na agricultura. (CIDE,
2008)
4
Os municípios que compõem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro são: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim,
Itaboraí, Japeri, Magé, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Mesquita, Paracambi, Queimados, Rio de Janeiro, São Gonçalo, São
João de Meriti, Seropédica e Tanguá.
5
2
2
O estado do Rio de Janeiro possui 43864,3 km , dos quais 4686,5 km são compreendidos pela RMRJ.
6
Esses municípios respondem, em conjunto, por 27,5% da população metropolitana.
7
O estudo “Regiões de Influência das Cidades – 2007” (REGIC) classifica a cidade do Rio de Janeiro como um das duas
“Metrópoles Nacionais”, ao lado de Brasília, e hierarquicamente abaixo de São Paulo, considerada “Grande Metrópole
Nacional”. O estudo aponta que a área de influência da cidade do Rio estende a municípios dos estados de Minas Gerais e
Espírito Santo, envolvendo 264 municípios e mais de 20,7 milhões de habitantes.
Tabela 1 – Participação regional no PIB Fluminense 2006 (em %)
Região
Estado
Metropolitana
Interior
Agricultura
100,0
4,8
95,2
Indústria
100,0
34,6
65,4
Serviços
100,0
80,8
19,2
Total
100,0
58,9
42,5
Noroeste
14,1
0,3
0,8
0,6
Norte
Serrana
Baixadas Litorâneas
Médio Paraíba
20,2
29,5
6,6
15,6
48,4
2,2
0,9
12,4
5,3
3,0
3,0
3,8
25,0
2,7
2,0
8,3
Centro-Sul
Costa Verde
8,4
0,9
0,3
1,0
0,9
2,4
0,7
1,7
Fonte: CIDE (2008)
Sobre a produção agrícola regional, é preciso sublinhar a fragilidade e estreiteza de sua
pauta produtora, territorialmente concentrada em alguns poucos municípios, cabendo à
Magé e à Nova Iguaçu o papel de principais centros produtores. Entre as culturas, têm
destaque a produção de hortaliças, verduras, mandioca e banana, realizadas quase que
exclusivamente em pequenas propriedades, em modelo característico de agricultura familiar
urbana, que vem a desempenhar papel fundamental no que se refere à sobrevivência e à
reprodução social de expressivo número de pessoas que residem nos espaços rurais
perimetropolitanos.
A indústria, por sua vez, possui importância bem mais acentuada, especialmente falando da
classe de transformação. Ainda que em termos de valor da produção, a RMRJ não tenha o
destaque obtido pela região do Médio Paraíba, em se tratando do número de
estabelecimentos ela figura como líder, concentrando 64,3% dos estabelecimentos da
indústria de transformação fluminense 8 , dentre os quais se destacam as indústrias gráficas,
de alimentos, bebidas, petroquímica, química, farmacêutica e têxtil (RAIS, 2008).
Diversamente das estruturas manufatureiras regionais do interior fluminense, nas quais o
perfil especializado da produção é evidente, na RMRJ o destaque fica por conta da
diversificação produtiva em relação ao número de setores.
Outra característica marcante é a acentuada concentração do produto interno bruto da
indústria de transformação regional nos municípios do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias,
que respondem por mais de 80% desse montante 9 . Embora detenham importantes plantas
fabris e certa representatividade no conjunto estadual, os municípios de Niterói, São
Gonçalo e Nova Iguaçu não alcançam, em conjunto, nem 4% do produto industrial regional.
8
Vale assinalar que a participação da RMRJ na indústria de transformação fluminense é bem menos acentuada quando a
variável em questão é o valor adicionado, no qual se destacam as regiões situadas ao sul do estado.
9
A indústria carioca, apesar de alguns reveses ao longo dos últimos tempos, manteve sua importância regional, notadamente
em alguns setores da indústria de transformação. Duque de Caxias, por sua vez, é um excelente exemplo das potencialidades
dinâmicas da indústria petrolífera no upstream. A indústria local é fortemente estruturada na indústria de derivados de petróleo
e química fina (petroquímica, matérias plásticas, metalúrgico e gás), tendo como mais importante unidade a Refinaria de
Duque de Caxias.
Tabela 2 – Estrutura do PIB - ERJ, RMRJ e municípios (2006)
Municípios
% PIB Interno
Agricultura
0,4
0,0
Indústria
49,7
29,8
Serviços
49,9
70,1
Rio de Janeiro
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaboraí
Japeri
Magé
0,0
0,0
0,0
2,1
0,3
0,2
1,1
25,2
38,4
63,4
23,9
21,1
5,7
11,9
74,8
61,6
36,6
73,9
78,7
94,1
87,0
Mesquita
Nilópolis
Niterói
Nova Iguaçu
Paracambi
--0,0
0,2
0,6
54,6
28,7
24,9
25,3
16,2
45,4
71,3
75,1
74,5
83,2
Queimados
São Gonçalo
São João de Meriti
Seropédica
Tanguá
0,1
0,1
0,0
0,9
1,1
17,7
28,9
34,3
21,0
19,8
82,2
71,0
65,7
78,1
79,1
Estado Rio de Janeiro
RMRJ
Fonte: CIDE (2008)
De fato, o grande setor da economia metropolitana fluminense é o terciário. Esse setor tem
se colocado, em grande medida, como o principal responsável pelo dinamismo interno e
pela manutenção da centralidade regional em escalas estadual e nacional. Responsável por
quase 70,0% do produto interno bruto metropolitano, o terciário é capitaneado pelas
atividades ligadas ao comércio, transportes, alojamento, aluguéis, comunicações e serviços
pessoais.
Sua predominância para as dinâmicas das estruturas econômicas municipais se torna clara
quando se observa que à exceção de Mesquita (45,4%) e Duque de Caxias (36,6%), todos
os demais municípios metropolitanos têm nas atividades terciárias a origem de mais da
metade de seus respectivos produtos. E mais: em alguns municípios, como Japeri (94,1%),
Magé (87%) e Paracambi (83,2%) a presença terciária é preponderante (Tabela 2).
O dinamismo econômico da RMRJ tem apresentado alguns elementos distintos em relação
ao padrão histórico do desenvolvimento regional, especialmente no que diz respeito a seu
posicionamento frente à divisão territorial do trabalho estadual e ao padrão de
desenvolvimento produtivo de seus principais municípios. Como apontando por Silva (2009),
o desenvolvimento regional do estado do Rio de Janeiro tem sofrido forte influência do
dinamismo industrial. Especialmente no interior do estado, a relação entre dinâmica
industrial e desenvolvimento regional tem ficado mais clara, notadamente no Norte
fluminense (onde se encontra a produção petrolífera) e no Médio Paraíba (principal centro
da indústria manufatureira), na Região Metropolitana, por conta da histórica amplitude das
atividades terciárias, essa relação nem sempre é devidamente considerada.
Um dos pontos que mais chamam atenção, no momento, em relação ao desenvolvimento
regional fluminense é o aumento de ganho de participação do interior na economia (geral) e
na produção industrial estadual. Esse processo, inequívoco, como atestam os números, tem
ensejado a algumas análises sobre um suposto processo de interiorização econômica em
território fluminense, aos moldes do ocorrido no estado de São Paulo décadas atrás.
Para Silva (2009), o ganho de participação do interior fluminense no produto estadual deve
ser contemplado à luz das transformações estruturais pelas quais o estado do Rio de
Janeiro vem passando nos últimos tempos e perante uma perspectiva analítica qualitativa
do processo, não se atendo, somente, ao caráter quantitativo. Em razão das escalas e
dimensões alcançadas pela “economia do petróleo” em território estadual, os percentuais de
participação do produto interno bruto têm aumentando em favor da economia interiorana
fluminense. No entanto, em função das especificidades técnicas e da, até o momento
apresentada, incapacidade de criação de maiores encadeamentos setoriais e regionais da
atividade petrolífera – o que parece vai se modificar em alguns poucos anos -, parece-nos
mais apropriado falar em desconcentração produtiva a interiorização econômica 10 .
Os dados trazem alguns elementos importantes:
Entre 1997 e 2006, a participação da RMRJ no Valor Adicionado Fiscal (VAF) fluminense
caiu de 73,0% para 62,8%, ao passo que a participação do interior saltou para 37,2% 11
(Tabela 3). Entre as demais regiões de governo do estado do Rio de Janeiro, as que
apresentaram maior expansão de participação do VAF foram Norte, Baixadas Litorâneas e
Costa Verde.
Tabela 3 - Participação regional no VAF Fluminense - 1997/2006 (em %)
Região
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
ERJ
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
Interior
C. Verde
Norte
Noroeste
Serrana
C. Sul
B. Litorâneas
M. Paraíba
RMRJ
27,1
3,5
5,0
0,4
3,7
0,7
2,5
11,2
72,9
28,9
3,2
6,4
0,4
3,8
0,6
3,0
11,3
71,1
33,4
4,0
10,0
0,4
3,4
0,6
4,5
10,4
66,6
33,2
5,0
9,4
0,4
3,2
0,6
4,2
10,3
66,8
33,2
5,8
9,6
0,3
2,9
0,5
4,2
9,8
66,8
32,0
5,4
8,4
0,3
2,8
0,6
3,4
11,0
68,0
33,6
7,2
8,3
0,3
2,8
0,6
3,6
10,5
66,4
36,1
10,0
8,7
0,3
3,0
0,5
3,4
10,0
63,9
37,3
8,6
10,3
0,3
3,2
0,5
3,9
10,3
62,7
37,2
7,7
11,6
0,3
3,3
0,6
4,2
9,4
62,8
Fonte: Secretaria Estadual de Fazenda do Rio de Janeiro (2008)
Porém, uma análise mais apurada desse movimento aponta, contudo, que a
desconcentração metropolitana foi fruto, efetivamente, do dinamismo “carioca”, tendo em
vista que a maioria dos municípios da RMRJ manteve ou expandiu suas taxas de
participação, em que pese muitas desses terem permanecido em patamares muito baixos.
(Tabela 4) Vale destacar que a redução da participação da cidade do Rio ocorreu em função
10
Interiorização econômica faria referencia a um estado de dinamismo econômico pelo interior fluminense sustentado por
atividades urbano-produtivas que apresentassem maior articulação setorial e cuja capacidade de ampliação estivesse
assentada preponderantemente em fatores internos. A desconcentração faz alusão pode ou não ser resultante de um processo
de interiorização, contudo, no caso fluminense, até o presente, a desconcentração se apresenta mais do “produto” que da
“estrutura produtiva”. Para mais detalhes, ver Silva (2009).
11
Em 2006, o VAF fluminense girava em torno de R$152 bilhões.
do forte acréscimo observado no VAF de outros municípios fluminenses e da estagnação do
montante carioca, que não apresentou crescimento real 12 no período, em contraste com a
expansão experimentada pelo estado (33,5%), pelo interior (83,7%) e pela RMRJ (14,8%).
Em relação aos municípios da RMRJ, salienta-se o aumento registrado por Duque de
Caxias, fruto da expansão das atividades nos setores de refino de petróleo e de química fina
(Pólo Gás Químico 13 ), que além de contribuir para o aumento da taxa municipal, atenuaram
a redução metropolitana 14 .
Tabela 4 – Participação no VAF estadual – RMRJ - 1997/2006 (em %)
Município
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Belford Roxo
1,1
1,2
0,9
1,0
1,1
1,2
1,3
1,3
1,1
1,0
Duque Caxias
8,0
7,0
8,0
8,0
8,2
11,5
10,7
9,9
11,0
12,3
Guapimirim
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,0
0,1
0,1
0,1
0,1
Itaboraí
0,3
0,3
0,4
0,3
0,2
0,2
0,3
0,3
0,3
0,3
Japeri
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
0,1
0,1
0,2
0,2
0,2
Magé
0,3
0,3
0,3
0,2
0,3
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
Mesquita
0,2
0,1
0,0
0,1
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
Nilópolis
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
Niterói
2,1
2,2
2,1
2,1
2,1
2,2
2,5
3,3
3,0
2,4
Nova Iguaçu
1,4
1,5
1,5
1,4
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,4
Paracambi
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
Queimados
0,6
0,5
0,4
0,4
0,4
0,3
0,3
0,3
0,2
0,3
São Gonçalo
1,9
2,0
2,0
1,8
1,8
1,8
1,7
1,6
1,5
1,6
S. J. Meriti
0,9
0,9
0,8
0,8
0,7
0,7
0,7
0,6
0,7
0,6
Seropédica
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
Tanguá
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
Rio de Janeiro
55,6
54,6
49,7
50,0
49,9
47,9
46,8
44,4
42,5
41,7
RMRJ
72,9
71,1
66,6
66,8
66,8
68,0
66,4
63,9
62,7
62,8
Interior
27,1
100
28,9
100
33,4
100
33,2
100
33,2
100
32,0
100
33,6
100
36,1
100
37,3
100
37,2
100
Total
Fonte: Secretaria Estadual de Fazenda do Rio de Janeiro (2008)
Assim, fica evidente a proeminência carioca na trajetória metropolitana. Contudo, sabendose que a participação agrícola é ínfima na economia da cidade do rio de Janeiro e que a
expansão das atividades ligadas aos serviços vem se mostrando o sustentáculo principal da
renda e do emprego local, cabe considerar que a atividade industrial tem impactado, de
modo forte e negativo, o ritmo de expansão de sua economia. Dados mais recentes
apontam que aproximadamente 75,0% do PIB carioca tem como origem o setor serviços,
cabendo à indústria 25,0%. (CIDE: 2008)
12
Em preços de 2006, o VAF da cidade do Rio em 1998 foi de R$ 63.239.006.289,89, enquanto em 2006 alcançou os R$
63.295.327.527,17. Taxas obtidas após deflacionamento usando o Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas (IGPDI), para o intervalo 01/1998 a 12/2006.
13
O Pólo Gás-Químico está instalado no município de Duque de Caxias. Trata-se de um grande complexo industrial, cujas
atividades vão desde o refino do petróleo (REDUC) à produção de plásticos. Nele está incluso a Rio Polímeros (RIOPOL),
projeto de US$ 1 bilhão que se propõem a produzir 540 mil toneladas de uma resina plástica a partir do gás obtido na Refinaria
Duque de Caxias. Os acionistas desse empreendimento são a Unipar, a Suzano, a Petrobras e o BNDES. Cerca de 20
empresas da referida cadeia produtiva se instalarão ao redor do empreendimento.
14
O crescimento real do VAF da RMRJ (14,8%) foi em grande medida sustentado pelo crescimento de Duque de Caxias
(106,5%).
O fraco dinamismo da produção industrial carioca faz-se notório, especialmente no período
pós-1980. A crise da indústria local, notadamente nas décadas de 1980 e 1990, resultou em
mudanças estruturais de peso, que acarretaram a redução da produção de diversos setores,
tais como têxteis, construção naval, química, metalurgia e alimentos. Dados da Pesquisa
Industrial Anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIA-IBGE) mostram que
entre 1996 e 2006, a participação da indústria da cidade do Rio de Janeiro no valor
adicionado da indústria brasileira, que já era baixa, caiu consideravelmente, de 4,1% para
2,1%. Em mesmo sentido, a participação na indústria estadual reduziu-se para 25,5%.
(Tabela 5)
Tabela 5 - Participação da cidade do Rio de Janeiro no valor da transformação
industrial do brasil e do estado do Rio de Janeiro – 1996/2006
Ano
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
BR
4,1
4,1
3,8
3,3
3,1
2,4
2,6
2,3
2,2
1.9
2,1
ERJ
52,2
56,8
55,0
46,0
41,3
34,8
36,1
29,6
27,2
24,9
25,5
Fonte: Medeiro Jr. & Medina (2008)
A amplitude dos setores atingidos e a velocidade das perdas sofridas pela indústria carioca
são um claro indicativo do generalizado processo de desindustrialização 15 pelo qual passou
a cidade do Rio de Janeiro no período. (Silva, 2010).
Tendo por base a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS-MTE), verifica-se que a
participação da indústria manufatureira no mercado de trabalho carioca, entre 1985 e 2005,
foi reduzida de 15,3% para 7,6%, ao passo que a participação dos serviços saltou de 77,2%
para 87,2%. Em termos absolutos, a variação da indústria manufatureira foi negativa em
150.000 postos de trabalho, enquanto que aproximadamente 140.000 postos foram criados
nos serviços. (Tabela 6)
Sobre os dados anteriores é preciso tecer algumas considerações:
Primeiramente, chama-se atenção para o fato de que, no caso carioca, à semelhança do
observado em outras experiências de desindustrialização mundo afora, parte dos postos de
trabalho extintos na indústria manufatureira foi “recuperada” pelos serviços. Contudo,
assinala-se que parcela dessa recuperação foi dada na forma de ocupações mais precárias
e, em alguns casos, encobre mudanças de classificação setorial e processos de
terceirização (outsourcing) de atividades dentro da firma. Ademais, chama-se atenção para
a temporalidade desse movimento, tendo em vista que a maior parte das perdas de postos
de trabalho se deu no decênio 1985-1995 (cerca de 2/3 do total), indicando que o processo
foi mais acentuado durante o período de baixo nível de atividade econômica vivido pelo país
durante a década perdida e primeira metade dos anos 1990.
15
Para o conceito e debate sobre desindustrialização ver Allen & Massey (1988)
Tabela 6 – Empregos formais gerados por setor: 1985, 1995 e 2005
1985
Setores
1995
2005
Total
%
Total
%
Total
%
Agricultura
2910
0,10
4461
0,20
1883
0,10
Mineração
20461
1,10
10173
0,60
7190
0,40
Manufaturas
296563
15,30
200522
11,10
143300
7,60
Serviços Industriais
41042
2,10
40959
2,30
30207
1,60
Construção Civil
80563
4,10
78968
4,40
58812
3,10
Serviços
1500065
77,30
1464182
81,40
1642293
87,20
Total
1941604
100,00
1799265
100,00
1883685
100,00
Fonte: RAIS (vários anos)
Observando-se o quantum de estabelecimentos industriais em operação no período de
análise, a situação não se diferencia, tendo em vista a participação da indústria
manufatureira no número de estabelecimentos formais da cidade do Rio de Janeiro ter caído
de 11,1% para 5,0%, enquanto a participação dos estabelecimentos do setor serviços saltou
para 91,9%. Em números absolutos, a variação da indústria manufatureira carioca foi
negativa em 2903 unidades, sendo que as perdas foram mais acentuadas entre 1995-2005,
diferentemente do movimento observado na variável “emprego”. (Tabela 7)
Tabela 7 – Total de estabelecimentos por setor econômico: 1985, 1995 e 2005
Setores
1985
1995
2005
Agricultura
574
0,7
360
0,4
323
0,3
Mineração
650
0,8
1129
1,1
329
0,3
8663
11,1
7413
7,5
5760
5
149
0,2
159
0,2
147
0,1
1790
2,3
2940
3,0
2646
2,3
Serviços
66044
84,8
83989
84,6
105078
91,9
Total
77870
100,0
99328
100,0
114283
100,0
Manufaturas
Serviços Industriais
Construção Civil
Fonte: RAIS (vários anos)
A análise da dinâmica setorial mostra que entre 1985/2005 quase todos os ramos da
indústria de transformação carioca sofreram perdas absolutas na variável
“estabelecimentos”, tendo sido a indústria de “Alimentos e Bebidas” a única exceção.
(Tabela 8) Os piores resultados foram alcançados pelos setores de produção de têxteis, de
borracha, de fumo e couro e de madeira e mobiliário, ou seja, setores “bens-salário”, cuja
dinâmica de desconcentração se mostrou intensa no território brasileiro. Em relação à
variável “emprego” o cenário não se difere, tendo em vista todos os setores terem
apresentado perdas. As maiores perdas forma registradas nas indústrias têxtil, de borracha,
fumo e couro, química e de material elétrico e de comunicação e material de transportes.
(Tabela 9)
Tabela 8 – Estabelecimentos por setor da indústria na cidade do Rio de Janeiro
Setores
1985
1995
2005
Metalurgia
916
865
698
Mecânica
474
331
276
Elétrica e Comunicações
406
278
170
Material de Transportes
187
230
142
Madeira e Mobiliário
705
415
249
Papel e Gráfica
1.117
1.096
1.074
Borracha, Fumo e Couro
1.102
717
505
833
861
668
1.983
1.466
1.036
Calçados
249
90
32
Alimentos e Bebidas
691
1.064
910
78.915
99.611
114.283
Química
Têxtil
Total
Fonte: RAIS (vários anos)
Tabela 9 – Empregos por setor da indústria na cidade do Rio de Janeiro
Indústrias
1985
1995
2005
Metalurgia
22.693
16.843
12.145
Mecânica
18.825
11.678
9.180
Elétrica e Comunicações
21.887
9.332
4.182
Material de Transportes
21.531
11.216
7.394
Madeira e Mobiliário
12.784
4.545
2.526
Papel e Gráfica
35.749
29.283
19.329
Borracha, Fumo e Couro
34.750
13.433
11.540
Química
49.932
36.404
28.956
Têxtil
45.637
30.574
18.994
Calçados
3.501
1.047
353
Alimentos e Bebidas
29.274
36.167
28.701
1.951.562
1.825.424
1.883.685
Total
Fonte: RAIS (vários anos)
A forte desindustrialização sofrida pela cidade do Rio de Janeiro traz algumas
singularidades, dentre as quais se destaca a continuidade da centralidade regional no
investimento industrial. É preciso lembrar que os dados analisados mostram o estoque de
certas variáveis (no caso o emprego e o número de estabelecimentos) e pouco informam
sobre as “entradas”, a não ser, obviamente, que as “entradas” foram menores que as
“saídas”.
Observando somente as entradas, é possível ter uma noção mais clara da dinâmica
industrial nas diferentes regiões fluminenses, inclusive a RMRJ. Tendo por base
levantamento feito pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de
Janeiro, sobre os principais investimentos industriais realizados em território fluminense no
período 1996/2006 (CODIN, 2008), verifica-se que entre as oito regiões de governo do
estado do Rio de Janeiro, três se destacaram no que se refere à localização de
investimentos industriais, a saber, Metropolitana, Médio Paraíba e Norte fluminense. Essas
regiões concentraram cerca de 90% das “unidades” e do “emprego” gerados, cabendo
posição de destaque à RMRJ, dado que concentrou mais de 60% dos investimentos (Tabela
10).
A análise por setor e região confirma a existência de padrões industriais diferenciados
dentro do território fluminenses, notadamente quando cotejadas as escalas “metropolitana e
interior”. Ao perfil industrial mais diversificado da região Metropolitana se contrapõem a
estrutura mais especializada do interior estadual. Os dados corroboram a maior
diversificação da RMRJ em relação à estrutura industrial do interior, especialmente quando
observada a variedade de setores implantados em cada região. Coube à RMRJ, não apenas
a maior quantidade de investimentos, como também o maior número de setores presentes.
Somente dois setores (“confecções” e “eletroeletrônicos”) entre os listados não
apresentaram investimentos nessa região. Em sentido oposto, os setores minerais nãometálicos (14), metalúrgico (14), farmacêutico (12) e de matérias plásticas (11) foram os que
obtiveram as maiores participações.
Tabela 10 – Participação regional nos investimentos industriais – 1996/2006 (em %)
Região de Governo
Metropolitana
Médio Paraíba
Norte
Serrana
Centro-Sul
B. Litorâneas
Noroeste
Costa Verde
Total
Unidades
%
Empregos
%
117
63,0
29.398
61,0
29
22
6
5
4
3
1
187
15,4
11,6
3,2
2,6
2,1
1,6
0,5
100,0
10.707
3.956
956
3.404
1.225
195
262
50.103
18,5
8,1
2,0
7,0
2,5
0,4
0,5
100,0
Fonte: CODIN (2008)
Esse levantamento revela a acentuada concentração dos investimentos dentro da escala
metropolitana, tendo em vista que 99 das 117 unidades foram implantadas em apenas 3
municípios (Rio de Janeiro, Duque de Caxias e Queimados). Ainda que pese a alta
participação da cidade do Rio na atração desses investimentos (54 unidades), a informação
mais interessante apresentada pelo levantamento é o fortalecimento da periferia
metropolitana enquanto espaço industrial o que pode representar não somente a redução da
centralidade carioca, como a existência de novos padrões de expansão industrial pelo
território metropolitano, apoiados em setores e dinâmicas distintas dos padrões históricos da
região. (Tabela 11)
Tabela 11 – Participação municipal nos investimentos industriais – 1996/2006 (em %)
Município
Unidades
%
Emprego
%
Queimados
21
17,9
1606
5,8
Rio de Janeiro
54
46,2
14398
51,6
Duque de Caxias
24
20,5
5.599
20,1
São Gonçalo
5
4,3
718
2,6
Magé
3
2,6
492
1,8
Niterói
4
3,4
3000
10,8
Nova Iguaçu
4
3,4
342
1,2
Seropédica
1
0,9
43
0,2
Itaboraí
1
0,9
1.700
6,1
117
100,0
27898
100,0
Total
Fonte: CODIN (2008)
Na microrregião da Baixada Fluminense 16 , por exemplo, foram instaladas 53 unidades
industriais, resultando não apenas no seu fortalecimento no cenário nacional, como certo
processo de “espraiamento” do crescimento industrial em direção a regiões que apresentem
menores “custos metropolitanos”, proximidade com centros consumidores e bom acesso à
infraestrutura de logística 17 . Dentro da Baixada, além de Duque de Caxias e Queimados,
que receberam 24 e 21 unidades industriais, respectivamente, tem destaque o município de
Nova Iguaçu, no qual um importante pólo químico e de cosmético vem se estabelecendo.
Cabe assinalar que, em grande medida, o maior quantitativo de investimentos recebidos
pelos municípios metropolitanos (exclusive cidade do Rio de Janeiro) situados à margem
ocidental da Baía de Guanabara, em relação ao valor referente à porção situada na porção
oriental, é resultado de se seu posicionamento frente às principais vias de comunicação do
estado, que o conectam a dois dos mais importantes mercados consumidores do país, no
caso São Paulo e Belo Horizonte 18 .
Por fim, há de se destacar que os investimentos industriais realizados na RMRJ geraram
cerca de 28.000 postos de trabalho (acumulado entre 1996/2006), montante equivalente a
58,7% do total estadual. Entre os setores, as maiores contribuições couberam vieram de
telecomunicações, siderurgia, petroquímica, plástico, metal-mecânico e metalúrgico, sendo
que mais de 70% do montante ficaram concentrados no Rio de Janeiro e em Duque de
Caxias.
16
Região formada pelos seguintes municípios Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis,
Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti.
17
Sobre a formação e o processo de desenvolvimento econômico da Baixada Fluminense ver Rodrigues (2005)
18
Assinala-se que pela Baixada Fluminense passam as rodovias que ligam o Rio ao estado de São Paulo e Minas Gerais. A
região também se conecta à cidade do Rio por via férrea e tem ligação direta com o principal aeroporto estadual e aos portos
do Rio e Sepetiba.
3 – Considerações finais
Embora tenha perdido participação na produção estadual, a RMRJ ainda se mantém como
principal espaço econômico do estado do Rio de Janeiro, especialmente nas atividades
terciárias e, em menor monta, na produção industrial. Nos últimos anos, a região tem
perdido importância relativa na economia fluminense em razão não apenas do forte
crescimento da produção industrial no interior estadual, mas também pelo fraco
desempenho apresentando por seu principal município industrial, a cidade do Rio de
Janeiro.
Os dados apresentados mostram que durante as duas últimas décadas do século passado,
a cidade do Rio de Janeiro passou por um acentuado e amplo processo de
desindustrialização que atingiu duramente todos os setores manufatureiros, reduzindo em
grande quantidade o número de estabelecimento e mão-de-obra. Em meio à
desindustrialização, coube ao setor serviços a liderança econômica e, de certa forma, a
recuperação de parte dos empregos perdidos no setor secundário. Assim, dinâmica da
indústria da cidade do Rio de Janeiro respondeu, diretamente, pela perda de participação da
RMRJ na economia estadual, tendo em vista que a participação regional no produto terciário
fluminense ter aumentado.
Cabe registro, por fim, que não obstante esse cenário, a cidade do Rio de Janeiro ainda se
destacou em nível estadual no que diz respeito ao recebimento de novos investimentos
industriais, em diversos setores. Nesse ponto, chama-se atenção para o espraiamento da
produção indústria metropolitana para os municípios situados na periferia, notadamente na
porção oeste da Baía de Guanabara. Esse registro se faz importante por indicar uma
possível alteração em um padrão regional de desenvolvimento industrial, ao se assinalar
que os novos investimentos têm se localizado fora do núcleo industrial antigo, buscando nos
territórios dentro do espaço metropolitano.
4 – Referências
ALLEN, J. MASSEY, D. (1988) The Economy in Question (Restructuring Britain). London:
Sage Publications.
CANO, W. (2008) Desconcentração produtiva regional no Brasil 1970-2005. São Paulo:
UNESP.
CANO, W. (1998) Desequilíbrios Regionais e Concentração Industrial no Brasil: 1930-70 e
1970-95. Campinas, SP: Instituto de Economia – Unicamp. (30 Anos de Economia, n° 2)
CIDE (2008) - Anuários Estatístico do Rio de Janeiro - Fundação CIDE, Governo do Estado
do Rio de Janeiro.
CODIN (2008) Levantamento dos Principais Investimentos no Estado do Rio de Janeiro
entre 1996/2006 (mimeo).
IBGE (2007) - Pesquisa Industrial Anual (PIA) – (CD-ROM)
IBGE (2009) Estimativas da população residente em 1º julho de 2009, segundo municípios.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>, acesso em: 10 ago. 2009.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Demográficos Diversos.
LAGO, L. C. (2009) Como Anda o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Letra Capital Editora, v. 1,
p. 7-42.
LIMONAD, E. (1996) Os Lugares da Urbanização: o caso do interior fluminense. Tese de
Doutorado. São Paulo: FAU-USP.
MEDEIROS JR, H. and MEDINA, M. A. H. (2008) Indústria na cidade do Rio de Janeiro:
estrutura e conjuntura recente. Coleção Estudos Cariocas - IPP/Prefeitura da Cidade do Rio
de Janeiro, n. 20081203, dez. Rio de Janeiro.
NATAL, J. L. (org.) (2005) O Estado do Rio de Janeiro pós-1995: dinâmica econômica. Rede
urbana e questão social. Rio de Janeiro: Faperj-Pubblicati.
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho e Emprego do
Brasil. (CD-ROM)
REGIC (2008) - Regiões de Influência das Cidades - Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – Brasília.
RODRIGUES, A. O. (2005) Da Maxambomba a Nova Iguaçu (1833- 90’s): economia e
território em processo. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: IPPUR-UFRJ, 2005.
SEFAZ (2008) – Valor Adicionado Fiscal por Município do Estado do Rio de Janeiro.
SILVA, R. D. (2009) Estrutura Industrial e Desenvolvimento Regional no Estado do Rio de
Janeiro (1990-2008). Tese de Doutoramento. Campinas: IE-Unicamp.
SILVA, R. D. (2004) Rio de Janeiro: Crescimento, transformação e sua importância para a
economia nacional (1930-2000). Dissertação de Mestrado. Campinas: IE-Unicamp.
Download

desconcentração, desindustrialização e