ID: 60355705
29-07-2015
Tiragem: 33183
Pág: 6
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 25,70 x 30,32 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Santana e Sampaio unem-se para dar
dez bolsas a universitários sírios
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é o mais recente parceiro da Plataforma Global de Assistência
a Estudantes Sírios, lançada em 2013 por Jorge Sampaio. O protocolo foi assinado ontem
ENRIC VIVES-RUBIO
Refugiados
Sofia Lorena
Há pouco mais de um mês, num
encontro que juntou em Lisboa
alguns dos 63 universitários que
a Plataforma Global de Assistência
a Estudantes Sírios já conseguiu
trazer para Portugal, Alaa Alhariri,
aluna do segundo ano de Arquitectura na Universidade de Évora agradecia a oportunidade que
lhe foi dada e fazia um apelo: “Estamos a ficar sem tempo, são precisas
mais bolsas.” É nisso que o ex-Presidente Jorge Sampaio tem trabalhado e agora tem pelo menos mais
dez garantidas, com a colaboração
da Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa.
Com este memorando de entendimento, disse Sampaio na cerimónia de assinatura, no Convento de S.
Pedro de Alcântara, ao lado do provedor da Santa Casa, Pedro Santana
Lopes, “vai ser possível aumentar
já o número de alunos a estudar no
ano lectivo 2015/2016 e ainda dispensar uma assistência mais completa e sustentada a todos os que já
se encontram cá”.
Através deste protocolo, a Plataforma passará a contar com 50
mil euros por ano que permitirão
assegurar as bolsas de estudo, inscrições nas universidades e atribuição de residências a dez jovens que
estejam a completar a licenciatura,
mestrados ou doutoramentos. Vagas há muitas — da Covilhã a Faro,
as universidades portuguesas responderam desde cedo à iniciativa
de Sampaio e há centenas de lugares isentos de propinas à espera de
estudantes para os ocupar. Falta o
mais difícil, o financiamento para
garantir que estes jovens têm como
viver em Portugal.
Sampaio quis aproveitar para
defender que há um papel insubstituível de “cooperação entre vários
organismos de diferentes sectores”
para a resolução conjunta de “grandes problemas e tragédias sociais”,
em que “um mais um não é igual a
dois”, mas pode significar a concretização de iniciativas aparentemente
impossíveis. Como a própria Plataforma, que lançou em 2013 e só funciona graças ao apoio de uma série
de entidades, públicas e privadas,
nacionais e internacionais.
Há 11 anos, Sampaio pôs fim ao Governo de Santana Lopes. “Não temos nada por resolver, ficou tudo claro”, disse ontem o ex-Presidente
Num país em guerra há quatro
anos e meio, metade da população
síria está deslocada ou é refugiada.
Fora das fronteiras da Síria há hoje
mais de quatro milhões de pessoas, a maioria crianças e jovens. E é
por isso que se entende o apelo de
Alaa. Um dia, ninguém sabe dizer
quando, vai ser preciso começar
de novo, construir uma outra Síria.
E vão fazer falta sírios que viveram
estes anos em paz e num ambiente
onde puderam estudar e atingir o
seu melhor.
Num conflito sem fim à vista,
cada sírio que possa ser resgatado à violência é uma possibilidade
de futuro. “Este programa e estas
bolsas não se reflectem apenas nos
‘nossos estudantes sírios’, como
lhes chamamos. Cada vez que se
se atribui uma bolsa é a esperança
num futuro melhor que renasce em
todo um agregado familiar, pais, ir-
mãos, tios, avós”, disse Sampaio.
Tal como o provedor da Santa Casa, Santana Lopes, o ex-Presidente
da República repetiu a ideia por trás
da sua iniciativa: “Como europeus,
a tragédia síria não deve ser encarada como um problema alheio, que
não nos diz respeito, e o destino dos
refugiados sírios não nos pode ser
indiferente.”
A crise de refugiados
Começando por dar os parabéns a
Sampaio pela atribuição do Prémio
Nelson Mandela, entregue na sextafeira em Nova Iorque, Santana Lopes descreveu a homenagem como
“o reconhecimento do trabalho”
desenvolvido por Sampaio e “um
motivo de orgulho para todos os
portugueses”. Depois, enumerou
os números da tragédia síria: “Números que nos devem a nós, na Europa, fazer pensar.” “Não é tempo
de egoísmos bacocos”, disse. “Não é
a fechar fronteiras que construímos
a Europa do século XXI.”
Santana Lopes lembrou que Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa já se
manifestou disponível para receber
“um número significativo dos refugiados” que couberem a Portugal.
Em causa estão 64 mil pessoas que
a União Europeia quer colocar em
diversos Estados-membros, 40 mil
que já se encontram na Grécia e Itália (sírios e eritreus na sua maioria)
e outros 24 mil sírios e iraquianos
que a ONU quer tirar de países pressionados pela crise síria e alojar na
Europa. Isto quando o mundo vive a
maior crise de refugiados de sempre
desde que existem Nações Unidas,
com 60 milhões de deslocados e refugiados.
Dizendo ter “especial prazer em
assinar este protocolo ao lado do
presidente Sampaio”, embora “a
causa seja o mais importante”, o
provedor da Santa Casa lembrou
que “já em 1994” os dois assinavam
protocolos, a propósito de Lisboa
Capital Europeia da Cultura, era
Sampaio presidente da câmara e
Santana Lopes secretário de Estado da Cultura.
No final da cerimónia, os jornalistas lembraram-lhe uma década depois, era Sampaio presidente, e foi
ele a dissolver a Assembleia e a pôr
fim ao Governo que Santana chefiava desde que Durão Barroso aceitara presidir à Comissão Europeia e
o escolhera como sucessor. “Não,
não temos nada por resolver, ficou
tudo claro”, disse, admitindo não
ter memória de outros encontros
desde 2004. “Os seres humanos têm
coração, alma, mas também têm a
obrigação de olhar para o presente
e para o futuro, principalmente se
têm funções institucionais.”
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Santana e Sampaio unem-se para dar dez bolsas a