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AS MÍDIAS E A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
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Evelize Krüger Peres
RESUMO
O referido artigo vai tratar do uso das mídias digitais, como metodologia pedagógica
nas aulas das ciências exatas e em outras áreas do conhecimento. Traz a importância do uso
desses recursos atualmente, pelo fato de nossos educandos viverem em um mundo onde as
mídias estão presentes em nosso cotidiano. Entenderemos por mídias todo o universo das
mensagens que são difundidas com a ajuda de materiais como livros, cds, revistas em
quadrinhos, novelas, filmes, vídeos. etc; ou seja, todo um campo da produção de cultura que
chega até nós pela mediação de tecnologias, sejam elas as emissoras de TV, rádio ou internet.
Palavras-chave: mídias digitais, metodologia pedagógica e educação matemática
INTRODUÇÃO
Para tratar e pensar as relações entre mídias e educação, é preciso primeiramente ter
noção de cultura e socialização. Tendo em vista que cultura em seu sentido antropológico,
como produto da atividade material e simbólica dos humanos; cultura como capacidade de
criar significados, potencial humano de interagir e se comunicar a partir de símbolos. Sendo
assim, refletir sobre as mídias do ponto de vista da educação é admiti-las enquanto produtoras
de cultura e conhecimento.
Percebe-se a necessidade da introdução das tecnologias da informação e
comunicação na educação. Vivemos em uma sociedade cuja informação é sempre crescente, o
que, em si, poderia constituir-se no maior e irrefutável argumento em favor da inserção das
mídias na educação.
Fazendo referência aos PCNs, as novas tecnologias da informação e da comunicação
são relativas
“... as recursos tecnológicos que permitem o trânsito de informações, que
podem ser diferentes meios de comunicação (jornalismo impresso, rádio e
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Docente do curso de Licenciatura em Matemática da Ulbra Guaíba. Especialista em Matemática, Mídias
Digitais e Didática.
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televisão), os livros, os computadores, etc [...] Os meios eletrônicos incluem as
tecnologias mais tradicionais, como rádio, televisão, gravação de áudio e vídeo,
além de sistemas multimídias, redes telemáticas, robótica e outros.”
Quando falamos em tecnologia educacional, consideramos todos esses recursos
tecnológicos, desde que em interação com o ambiente escolar no processo ensino
aprendizagem.
AS MÍDIAS E A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Assim que uma nova tecnologia é introduzida na educação, cristalizam-se ao menos
três posições: indiferença, ceticismo ou otimismo.
Os que são indiferentes aguardam pacientemente o desenrolar dos acontecimentos
para aderirem ou não à nova tecnologia. Temem os modismos e, portanto, preferem esperar a
lançar-se em estudos que, acreditam, podem não passar de uma efêmera panaceia.
Os céticos cercam-se de vários argumentos para desacreditar do novo. Argumentos
do tipo: se a escola não tem sequer giz, quem dirá computadores; a educação vai acabar de
desumanizada, deixando a cargo dos computadores o ensino.
Os otimistas acabam por creditar a resolução de todos os problemas da educação à
introdução dos computadores e das mídias.
Porém hoje o mundo nos exige pessoas ativas e participantes que precisarão tomar
decisões rápidas e precisas. Portanto, é necessário formar cidadãos matematicamente
alfabetizados que saibam como resolver, de modo criativo e preciso, seus problemas do
cotidiano.
Dessa maneira é necessário que façamos uso de recursos tecnológicos para que
favoreçam ambientes de construção de conhecimentos.
Para Brasil (2001):
“Se entendermos a escola como um local de construção do conhecimento
e de socialização do saber, como um ambiente de discussão, troca de experiências e
de elaboração de uma nova sociedade, é fundamental que a utilização dos recursos
tecnológicos seja amplamente discutida e elaborada conjuntamente com a
comunidade escola, [...]” (apud Schneider, p. 3)
O uso das tecnologias auxiliando as atividades de construção do conhecimento
podem tornar–las mais agradáveis em qualquer nível. Cabe ao educador adaptar as atividades,
viabilizando desta forma as aprendizagens de conteúdos matemáticos muitas vezes
considerados sem significado.
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O uso de ferramentas audiovisuais no ensino é bastante difundido, principalmente
com o desenvolvimento tecnológico. Porém, na área ligada as ciências exatas, a utilização
desses recursos ainda é muito restrito, talvez por apoiarem–se quase que exclusivamente em
didáticas voltadas à prática de exercícios, realizados após a exposição dos conteúdos.
Os educadores devem interagir com a mídia sem cobrança educativa, mas a partir de
sua adequação à proposta pedagógica em questão, integrando-a ao processo educativo em
consonância com a abordagem da tecnologia educacional. Além disso, a escola de hoje deve
ser problematizadora, desafiadora, agregadora de indivíduos pensantes que constroem
conhecimento colaborativamente e de maneira crítica. Nessa perspectiva o educador deve ser
mais do que nunca um estimulador, coordenador e parceiro do processo de ensino e
aprendizagem e não mais um transmissor de conhecimento fragmentado em disciplinas.
Ao se reconhecer a importância da utilização de recursos audiovisuais é que se
percebe o quão valioso é a utilização dos vídeos e de outras mídias nas aulas de Matemática.
Segundo Moran (1995):
“O vídeo ajuda a um bom professor, atrai os alunos, mas não modifica
substancialmente a relação pedagógica. Aproxima a sala de aula do cotidiano, das
linguagens de aprendizagem e comunicação da sociedade urbana, mas também
introduz novas questões no processo educacional.”
A importância das mídias nas aulas de matemática e também de outras áreas do
conhecimento se dá ao fato de que os alunos podem estudar o conteúdo solicitado de forma
diferenciada e criativa.
Segundo Dante (1989):
“Uma aula de matemática onde os alunos, incentivados e orientados pelo
professor, trabalhem de modo ativo – individualmente ou em pequenos grupos – na
aventura de buscar solução de um problema que os desafia é mais dinâmica e
motivadora do que segue o clássico esquema de explicar e repetir.” (p. 13 – 14)
Acredita-se que com a utilização das mídias o aluno se sentirá mais motivado para
frequentar as aulas. É preciso cuidar que as mídias sejam utilizadas para possibilitar a criação
de situações problema significativas aos alunos, auxiliando-os a desenvolver conceitos de
diferentes disciplinas, para que não aconteça das mídias pertencerem à rotina da escola,
desmotivando o seu uso por parte dos discentes e docentes.
A inserção da informática e das mídias na sala de aula é potencial para provocar
mudanças significativas em sua dinâmica. No entanto, o papel do professor é de fundamental
importância para a efetivação dessas mudanças.
Infelizmente, uma parte dos educadores adota uma certa tecnologia apenas um dado
momento de sua carreira: a televisão, o rádio, o retroprojetor, o projetor de slides e, mais
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recentemente, o computador, recursos que acabam sendo “parafernálias eletrônicas” que o
professor utiliza apenas para não ser considerado um “quadrado”, ou para ter maior
segurança, ou para obter status perante seus colegas. E a outra parte lamenta-se por não ter em
sua escola tecnologias disponíveis, ouvindo comentários do tipo: “eu quero me atualizar, mas
não me dão condições ...” . Notamos que, na maioria dos casos em que esses equipamentos
são adquiridos, acabam sendo jogados em um depósito, onde, por fim deterioram-se.
A má utilização das mídias educacionais, deve-se ao fato de muitos professores
demonstrarem medo em utilizá-las, pois muitos educandos demonstram maior conhecimento
tecnológico do que eles próprios.
De um lado, as inovações tecnológicas tem um apelo de deslumbramento, de outro,
elas não são integradas facilmente ao cotidiano escolar.
O uso das mídias digitais na sala de aula deve ser antecedido por reflexões
consistentes sobre o alcance destas e o papel da escola. Uma questão é sobre a utilização do
verdadeiro potencial das tecnologias computacionais no Ensino da Matemática.
É preciso rever os processos de ensino tradicionais de Matemática que visam à
aquisição de técnicas aritméticas e aplicação demasiada de fórmulas para chegar a valores
numéricos sem significado desprezando o real fazer matemático.
Segundo os PCNs (1998):
“... a Matemática deve acompanhar criticamente o desenvolvimento
tecnológico contemporâneo, tomando contato com os avanços das novas tecnologias
nas diferentes áreas do conhecimento para se posicionar frente às questões de nossa
atualidade.” (p. 118)
Portanto deve-se oportunizar ao aluno a chance de desenvolver e utilizar o raciocínio
lógico para testar e validar suas hipóteses – evolução natural do conhecimento matemático,
“escondido” pela escola tradicional. Assim defende-se uma reforma nas práticas tradicionais,
revisando o impacto das novas tecnologias em tais práticas e no currículo matemático.
Para que haja uma mudança no processo ensino aprendizagem da Matemática é
necessário que alguns professores saiam da zona de conforto o qual procuram caminhar, onde
quase tudo é conhecido, previsível e controlável. Mesmo insatisfeitos, e em geral os
professores se sentem assim, eles não se movimentam em direção a um território
desconhecido. Muitos reconhecem que a forma como estão atuando não favorece a
aprendizagem dos alunos e possuem um discurso que indica que gostariam que fosse
diferente. Porém, no nível de sua prática, não conseguem se movimentar para mudar aquilo
que não os agrada. Acabam cristalizando sua prática numa zona dessa natureza e nunca
buscam caminhos que podem gerar a incertezas e imprevisibilidade. Esses professores nunca
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avançam para uma inovação, na qual é preciso avaliar constantemente as consequências das
ações propostas.
É necessário existir a possibilidade de gerar conjecturas e ideias matemáticas a partir
da interação entre professores, alunos e tecnologia. A experimentação se torna algo
fundamental, invertendo a ordem de exposição oral da teoria, exemplos e exercícios bastante
usuais no ensino tradicional, e permitindo uma nova ordem: investigação e, então, a
teorização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abre-se uma discussão teórica sobre o lugar do computador em práticas educativas
nas quais se enfatiza a produção de significado por parte de alunos e professores. É preciso
entender que uma nova mídia, como a informática, abre possibilidades de mudanças dentro do
próprio conhecimento e que é possível haver uma ressonância entre uma dada pedagogia, uma
mídia e uma visão de conhecimento, lembrando que uma determinada mídia não determina a
prática pedagógica.
Uma prática onde as mídias são utilizadas, tanto no ensino da Matemática, como em
outras áreas do conhecimento, estão em harmonia com uma visão de construção de
conhecimento que privilegia o processo e não o produto-resultado em sala de aula, e com uma
postura epistemológica que entende o conhecimento como tendo sempre um componente que
depende do sujeito.
As mídias são uma nova extensão de memória, com diferenças qualitativas e permite
que a linearidade de raciocínios seja desafiada por modos de pensar, baseados na simulação,
na experimentação e em “nova linguagem” que envolve escrita, oralidade, imagens e
comunicação instantânea.
O nosso trabalho, como educadores matemáticos, deve ser o de ver como a
matemática se constitui quando novos atores se fazem presentes em sua investigação.
Não acredita-se que a informática, ou outras mídias, irão terminar com a escrita eou
com a oralidade, nem que simulação acabará com a demonstração em Matemática. É bem
provável que haverá transformações ou reorganizações.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática – 5ª a 8ª série. Brasília, 1998.
DANTE, Luis R. Didática na resolução de problemas de matemática. São Paulo: Ática,
1989.
MORAN, José Manuel. Comunicação e Educação. São Paulo: Ed. Moderna, 1995.
SETTON, Maria da Graça. Mídias e Educação. São Paulo: Contexto, 2010.
SCHNEIDER, E. J. Procedimentos para a elaboração de um projeto transdisciplinar
utilizando o laboratório de informática. Dissertação de mestrado. Programa de Pós –
graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis: UFSC, 2001.
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