UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – FHS
CURSO DE PSICOLOGIA
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA NUNES
EXISTE SUJEITO NA PSICOSE?
Governador Valadares - MG
2010
1
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA NUNES
EXISTE SUJEITO NA PSICOSE?
Monografia apresentada ao curso de
Psicologia da Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais da Universidade Vale
do Rio Doce, como requisito parcial à
obtenção de título de Graduado em
Psicologia.
ORIENTADOR: Walter William Barreto.
Governador Valadares
2010
2
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA NUNES
EXISTE SUJEITO NA PSICOSE?
Monografia apresentada ao curso de
Psicologia da Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais da Universidade Vale
do Rio Doce, como requisito parcial à
obtenção de título de Graduado em
Psicologia.
Governador Valadares, ___ de ____________ de _______.
Banca Examinadora:
_________________________________________
Prof. Walter William Barreto – Orientador
Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE
_________________________________________
Prof. Adilson Rodrigues Coelho
Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE
_________________________________________
Profª. Solange Nunes Leite Batista Coelho
Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos Mestres que contribuíram para minha formação, em especial àqueles
que não se limitaram apenas a transmitir conteúdo teórico e prático, mas souberam
demonstrar com o próprio exemplo, compromisso ético e humano, aqui
representados pelos Profs. convidados Solange e Adilson (que tanto me ensinou,
mesmo fora do ambiente acadêmico), e pelo orientador Walter por sua compreensão
e paciência.
Também aos colegas de sala, agradeço pela cooperação e por dividir bons e maus
momentos.
A minha família e meus amigos novos e antigos, pelo suporte, apoio e amor.
Obrigado a todos!
4
“There is some flaw in me (…) I do not
know. I do not know myself sometimes, or
how to measure and name and count out
the grains that make me what I am”.
Virginia Woolf
5
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar se uma pessoa que apresenta uma
estrutura psicótica pode ser considerado um sujeito para a psicanálise. A obra busca
definir os conceitos de sujeito, estruturas psíquicas e psicose a partir de um
referencial psicanalítico, analisando os processos relacionados ao desenvolvimento
e à organização subjetiva e percorrendo a questão da formação das estruturas
clássicas (neuroses obsessiva e histérica, perversão e psicose) e das novas
subjetividades possibilitadas na hipermodernidade. Para tanto, explicita-se a
constituição e estruturação do sujeito como tal, iniciadas na trama das relações
edipianas, e lança luz sobre o modo como este processo parece estar afetado na
pessoa que apresenta sua estruturação numa psicose; pois a não entrada em jogo
de um significante que viria a ocupar o lócus de significante norteador de toda a rede
parece afetar de alguma forma as amarrações desta rede e a possibilidade de um
discurso que possa ser referenciado a um Outro que o legitima.
Palavras-chave: Psicose. Sujeito. Subjetividade. Estruturas. Psicanálise.
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ABSTRACT
This work aims to analyze whether a person with a psychotic structure can be
considered a subject for psychoanalysis. This paper intends to define the concepts of
subject, psychic structures and psychosis from a psychoanalytical reference,
analyzing the processes related to development and subjective organization and the
formation of classical structures (obsessive and hysterical neurosis, perversion and
psychosis) and new subjectivities made possible in the hypermodernity. For this
purpose, it will be explained the formation and structuring of the subject as such,
beginning in the plot of Oedipal relations, and it will make clear how this process
appears to be affected in people who presents its structure as a psychosis, because
the not entrance of the Signifier, that would occupy the main locus in the entire
network, seems to affect in somehow the moorings of the network and the possibility
of a discourse that can be considered in relation to one Other who legitimates this
discourse.
Keywords: Psychosis. Subject. Subjectivity. Structures. Psychoanalysis.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8
2 A CONCEPÇÃO DE SUJEITO
EM PSICANÁLISE .................................................................................................10
3 A ESTRUTURAÇÃO PSÍQUICA ...........................................................................20
3.1 Conceito de Estrutura ...............................................................................20
3.2 Neurose Obsessiva ...................................................................................23
3.3 Neurose Histérica .....................................................................................25
3.4 Perversão ..................................................................................................28
3.5 Hipermodernidade e Novas Estruturas Psíquicas ....................................31
4 PSICOSE E SUJEITO ............................................................................................33
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................46
8
1 INTRODUÇÃO
Ao ser criada por Freud há mais de um século, a psicanálise possuía como
modelo básico para a compreensão dos processos psíquicos (inconscientes), as
neuroses obsessiva e, em especial, a histérica. Mecanismos inconscientes,
processos psíquicos, etiologias e etc. Todas essas descobertas, avanços na
construção da teoria freudiana, foram fomentados, majoritariamente, por sua
abordagem analítica das neuroses. A psicose foi um fenômeno ao qual Freud não
dispensou tantas obras, e quando o fez, tentou interpretá-la (a psicose) pelos
moldes da neurose.
Posteriormente, Lacan, no decorrer de seu ensino, passa a tratar da psicose
de forma mais intensa – seria este o novo paradigma da psicanálise. Com suas
contribuições conceituais, Lacan colaborou para o desenvolvimento da psicanálise,
trazendo um pouco mais de luz, sobre o ainda sombrio fenômeno da psicose.
Lacan leva à frente a análise freudiana da constituição subjetiva dos sujeitos
e, com a noção de estruturas psíquicas, consegue fornecer ferramentas teóricoconceituais para a compreensão de como o Sujeito se torna o que é a partir de suas
relações edipianas, apresentando os mecanismos e fatores envolvidos.
Entretanto, a psicose ainda traz grandes questões e diferenças em relação às
neuroses e perversão, pois o principal agente (nome-do-pai) que age estruturando o
sujeito como sujeito barrado $, na psicose não vem a ocupar o lugar “destinado” a
ele na rede significante. Tendo em vista que esse processo subjetivante está
prejudicado nos psicóticos, somos levados à questão: é possível falar de um sujeito
na psicose?
Partindo deste referencial teórico psicanalítico, a presente obra, propõe-se a
analisar e discutir os diversos aspectos relacionados à constituição de um sujeito –
tal como este é compreendido pela Psicanálise ($ - sujeito barrado) – e ao processo
de estruturação psíquica derivada dos Complexos de Édipo e Castração, no intuito
de responder à questão: “uma pessoa que apresenta uma estrutura psicótica pode
ser considerada um sujeito em Psicanálise?”.
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A relevância desta pesquisa está em colaborar para a melhor e mais ampla
compreensão dos processos de subjetivação e de estruturação psicótica, o que nos
leva à questão de como se situa a pessoa psicótica na teoria psicanalítica.
Este trabalho estrutura-se como uma pesquisa descritiva bibliográfica. A partir
deste modelo de abordagem metodológica, é realizada a análise do material
bibliográfico produzido sobre o assunto, promovendo a discussão do problema
apresentado. Para tanto, a obra está dividida em três partes.
Na primeira parte, é apresentada a noção de Sujeito em psicanálise, pela
visão de vários autores da área. Esta noção de “o que é um sujeito” é contraposta à
concepção filosófica clássica e dominante no campo das ciências: a concepção de
um sujeito cartesiano, que se caracteriza pela certeza e consciência de si mesmo. À
medida que é apresentado o processo de constituição subjetiva da criança desde o
nascimento, tal como suas relações parentais e seu envolvimento na dinâmica
psíquica familiar, aponta-se, neste momento, o rompimento que a psicanálise opera
na tradição clássica, ao definir o sujeito de maneira distinta. O sujeito não é mais o
sujeito consciente de si, mas sim, sujeito barrado, sujeito do desejo.
No segundo momento, abre-se a discussão a respeito do conceito de
estrutura na teoria psicanalítica para, enfim, discutirmos as diversas possibilidades
ou “modos” de estruturação psíquica possíveis. Ressaltamos a importância das
relações edipianas nessa estruturação e, a seguir, desenvolvemos os comentários
sobre as características das estruturas clássicas: Neurose (obsessiva e histérica) e
Perversão. Deixando propositalmente a psicose para ser tratada no capítulo
seguinte, abordamos, ainda, as novas subjetividades, cuja gênese reside no
fenômeno da hipermodernidade, que propicia novas formas de estruturação e
relação consigo mesmo e com a cultura.
No terceiro capítulo, a questão da psicose é colocada. Neste momento, são
expostos a forma como a abordagem psicanalítica deste fenômeno se desenvolveu,
a partir de Freud – rompendo com o saber psiquiátrico vigente – até as contribuições
da psicanálise lacaniana, e os principais fenômenos e conceitos necessários para
sua compreensão. Passamos à abordagem da questão do sujeito na psicose,
atendendo
ao
objetivo
proposto.
Posteriormente,
são
apresentadas
considerações finais acerca de todo o material discutido ao longo deste trabalho.
as
10
2 A CONCEPÇÃO DE SUJEITO EM PSICANÁLISE
O conceito de “Sujeito” em psicanálise representa um corte, um rompimento e
uma modificação. Em termos lacanianos, uma subversão daquilo que se tomava por
sujeito na história do pensamento ocidental até então (LACAN, 1998). Entretanto,
esta própria questão do sujeito demorou a se colocar na tradição filosófica ocidental
que se ocupava de outras questões.
Assim, partindo de Platão, “encontramos a afirmação de que a ciência
(episteme) consiste na posse da verdade e que esta nada mais é do que a revelação
do ser” (GARCIA-ROZA, 2005, p.11). De acordo com Deleuze apud Garcia-Roza
(idem), o platonismo funda “todo o domínio que a filosofia reconhecerá como seu: o
domínio da representação”. Assim, preocupada com o ser e a substância, a filosofia
não se colocou a questão da subjetividade e do sujeito.
Esta questão (da subjetividade e do sujeito) só foi levantada formalmente por
Descartes já no período moderno da filosofia. Todo pensamento anterior a
Descartes não se colocou perguntas sobre o sujeito ou a subjetividade. Mas esta
questão teve origem no interior da tradição platônica, apesar de não diretamente
formalizada (ibdem, p. 14). O Cogito, ergo sum, proposição principal do filósofo,
representa a partir da dúvida metódica a gênese do sujeito moderno; representa o
sujeito como certeza. Este sujeito é o sujeito da ciência.
Nas palavras do próprio Descartes (1983 [1637], p. 46):
“notando que esta verdade; eu penso, logo existo, era tão firme e tão
certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não
seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem
escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava”.
Todavia, Garcia-Roza (2005, p. 14-15) afirma que “o cartesianismo supõe
uma universalidade do espírito como fundamento do cogito. Se este é tomado como
partida, não é para afirmar a singularidade do sujeito, mas a universalidade da
consciência”.
11
O sujeito, a partir de Descartes, se constitui como um campo privilegiado que
representa o lugar do conhecimento e da verdade. Ocupa uma posição central no
pensamento que se desenvolveu desde então; e mais que isso, ocupa o próprio
lugar do pensamento, já que esta tradição identificou sujeito com consciência
(ibdem, p.23).
De acordo com Hegel, a proposição cartesiana é incompleta, pois assinala o
que é o pensamento, mas não o que é o Eu (ibdem, p. 14). Hegel propõe em sua
filosofia a “Selbstbewusstsein, nomeado o ser de si consciente, todo consciente”
(LACAN, 1998, p. 812).
A psicanálise neste ponto opera a separação entre sujeito e consciência. A
atuação da psicanálise não se configura como uma tentativa de chegar-se ao sujeito
da verdade, mas à verdade do sujeito.
Cirino (2001, p. 50) afirma que:
“Freud, ao introduzir o conceito de inconsciente, des-centra o sujeito
e subverte a concepção de subjetividade dominante nos séculos XVII
e XVIII que encontra na psicologia clássica, proposta pela filosofia
cartesiana, sua principal referência teórica”.
O ser auto-consciente não tem espaço na teoria psicanalítica, como aponta
Garcia-Roza (2005, p. 23). Lacan (1998, p.196) ainda completa:
“Descartes nos falava do sujeito da ciência, Freud nos fala do sujeito
do desejo. Antes de Freud, o sujeito se identificava com a
consciência; a partir de Freud, temos de nos perguntar por esse
sujeito do inconsciente e por sua articulação com o sujeito
consciente”.
A própria produção do conceito de Inconsciente resulta na clivagem do sujeito
antes tido como consciência. Operando na contramão do pensamento racionalista e
cartesiano o sujeito da psicanálise é este sujeito cindido-barrado e possuído pela
linguagem.
Esta clivagem incide sobre a suposta unidade entre dizer e ser. A partir disto,
Lacan diferencia o sujeito do enunciado (sujeito do significado) do sujeito da
enunciação (sujeito do significante): o sujeito que diz, que usa a palavra, que afirma
“cogito, ergo sum”, por exemplo, que é o sujeito do enunciado, não é o sujeito da
12
enunciação, que é exterior à fala do primeiro, que é mascarado pela fala do primeiro.
(GARCIA-ROZA, 2005, p. 23)
Em Descartes, estes “dois sujeitos” (do enunciado e da enunciação)
coincidem. Exatamente porque ele considera que a consciência e a razão desvelam
o sujeito. Em psicanálise, é justamente o contrário: a fala e esta certeza absoluta de
consciência de si são o que esconde e turva a visão em sua busca pelo sujeito do
desejo.
“Daí a conhecida inversão lacaniana da máxima de Descartes: penso onde
não sou, portanto sou onde não me penso”. Em outras palavras, “o cogito não é o
lugar da verdade do sujeito, mas o lugar do seu desconhecimento” (Idem).
Sobre o sujeito em psicanálise, Bruder & Brauer (2007, p. 516) afirmam que
“não se deve confundir o homem, ser humano, o indivíduo, com o sujeito que
estamos buscando esclarecer”.
Sobre isto, Lacan apud Bruder & Brauer (idem) acrescenta: “No efeito de
linguagem, não se trata de nenhum ente. Trata-se apenas de um ser falante. No
ponto de partida não estamos no nível do ente, mas no nível do ser”.
Da mesma forma, pensar o Sujeito da psicanálise como simplesmente sendo
o homem ou o indivíduo é um engano. Segundo Lacan apud Cirino (2001, p. 50),
deve-se distinguir “o sujeito que interessa à psicanálise – o sujeito do inconsciente, o
sujeito do significante – tanto do indivíduo biológico quanto de qualquer evolução
psicológica classificável como objeto de compreensão”.
As noções de “eu”, “indivíduo” e “pessoa” não são sinônimos do sujeito
psicanalítico, logo, não devemos tomá-los como tal:
“O sujeito não se confunde com o indivíduo, a pessoa. ‘O sujeito está
descentrado em relação ao indivíduo’ (Lacan, 1978/1992, p. 16). O
sujeito do inconsciente é o sujeito por excelência, e se distingue do
eu, função imaginária, que pode ser consciente.” (BRUDER &
BRAUER, 2007, p. 517)
Lacan estabelece em seu ensino a diferença entre os conceitos de sujeito e
de eu. Resumindo, temos a máxima “o sujeito não é o eu” (LACAN apud CIRINO,
2001, p. 51).
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Inicialmente, podemos diferenciar o eu (moi) e o sujeito (je) com a distinção
dos campos que se baseiam: o eu é uma função do imaginário, enquanto o sujeito
se inscreve como tal na ordem significante – campo simbólico.
O eu possui um caráter de alienação, fruto da identificação (alienada) para
com um outro que lhe oferece uma identidade. O eu se constitui antecipadamente
em relação ao sujeito, antes mesmo da maturação neurofisiológica da pessoa.
Esta ficção e alienação fascinam e causam no indivíduo o desconhecimento
de seu próprio desejo e quando por ação de algum evento que propicie a emersão
destes conteúdos inconscientes (sonhos, chistes, atos falhos...), o eu se defronta
com este sujeito, o eu não o reconhece como “si mesmo”, mas como um “ele”,
alguém que lhe é estranho e exterior.
O sujeito do inconsciente, fundado no campo simbólico, é aquele que se
mostra através das formações inconscientes que o “eu” se nega a reconhecer. O
sujeito é excêntrico ao eu, e quebra esta relação de coincidência consigo mesmo
que o eu tenta a todo custo manter (CIRINO, 2001, p. 51).
São de Lacan estas formulações sobre a distinção entre “eu” e “sujeito”,
embora ele afirme que esta diferenciação já esteja presente nas obras freudianas,
quando diz que Freud “efetivamente escreveu Das Ich und Das Es [O Eu e o Isso]
para manter essa distinção fundamental entre o verdadeiro sujeito do inconsciente e
o eu, este constituído em seu núcleo por uma série de identificações alienantes”
(LACAN, 1998, p. 418).
A distinção entre sujeito e eu é expressa por Cirino (2001, p. 52) na
formulação: “o sujeito é esse ‘ele’ de que fala o ‘eu’, quando se quer designar como
inconsciente. Em outras palavras, o sujeito é a própria divisão entre esse ‘eu’ e esse
‘ele’”.
Uma grande diferenciação entre o sujeito cartesiano, sujeito da ciência e da
tradição da filosofia e psicologia ocidental, em relação ao sujeito ao qual se dedica a
psicanálise é que este é efeito, causado, engendrado; enquanto o primeiro é aquele
que “causa”. Em psicanálise, sujeito é um efeito engendrado.
Rivera (2007, p. 13) afirma que “o sujeito é efeito de um ato que se dá numa
trajetória, num circuito que necessita do outro, o convoca e só com ele se completa”.
Diante disto, devemos agora nos questionar, partindo da idéia de que o
sujeito é efeito, qual é esta trajetória, quais são estas relações e ocorrências que
uma vez estabelecidas dão margem para o surgimento de um sujeito?
14
Nas palavras de Lacan (2005, p. 100):
“o sujeito não pode estar exaustivamente na consciência por ser de
início e primitivamente inconsciente, em função do que devemos
tomar a incidência do significante como anterior a sua constituição.
(...) O problema está na entrada do significante no real e em ver
como disso nasce o sujeito. (...) Trata-se de saber justamente o que
permite que esse significante se encarne”.
O sujeito se constituirá como tal a partir das suas relações. Relações estas
estabelecidas primeiramente com os pais. Françoise Dolto apud Nasio (1995, p.
211) afirma que “o ‘infans’ só fundamenta sua existência na e através da sua relação
com um outro”. Estas relações são fundamentais para sua constituição enquanto
sujeito que se dará a partir da ação do Significante Paterno, lembrando “com
freqüência que a coesão do filho são seu pai e sua mãe” (LEDOUX, 1991, p. 59).
Dolto trabalha com a concepção de que a criança é a conjunção de três
desejos: da mãe, do pai e da própria criança. “O nascimento é a emergência de uma
força desejante: desejo de nascer, desejo de dar à luz através de um encontro dos
corpos, mas também através de uma comunicação interpsíquica” (LEDOUX, 1991,
p. 63).
Ao nascer, a criança ainda não se diferencia absolutamente da mãe,
compreendendo que esta é uma extensão do seu corpo, indiferenciada. Esta
interação, próxima à mãe ao extremo, possibilita à criança que ela experimente o
corpo da mãe e goze desse corpo sem impedimentos. Mas, na própria relação com
a mãe, nos momentos de ausência e presença em que a mãe está, e às vezes não
está disponível, a criança estabelece sua primeira relação de ambigüidade: ela ama
e odeia essa mãe (DOLTO apud NASIO, 1995, p. 211).
Dolto relembra que a presença contínua de um outro (especialmente nos
primeiros seis meses) na vida do infans é necessária para que ele se relacione
continuamente, afim de que este outro, comumente a própria mãe, sirva de apoio e
crie, além de um dispositivo de segurança para a criança, uma memória de um “elamesma-o-outro” – já que a criança vive primariamente a simbiose com a mãe, o
outro que detém a identidade da criança neste período de sua vida (LEDOUX, 1991,
p. 59).
Entretanto, temos no movimento de ausência/presença uma fonte importante
e propícia para o desenvolvimento na criança da percepção de que ela e a mãe são
15
corpos distintos, o que irá culminar na diferenciação e fim da simbiose mãe/filho, que
só acontecerá completamente com a inserção da figura paterna neste contexto.
Lacan fala sobre este momento lógico de identificação com o outro (mãe) no
Estádio do Espelho. A princípio, é necessária uma primeira identificação ao nível do
campo imaginário, para que o infans se apreenda como unidade (GARCIA-ROZA,
2005, p. 211 e 212).
O Estádio do Espelho representa o momento para a criança entre seis e
dezoito meses no qual ela forma uma representação de seu próprio corpo como
unidade através da relação com um Outro. Este momento vivido pela criança não se
refere a uma experiência concreta com um espelho. “Esta experiência deve ser
entendida, segundo ele [Lacan], como uma identificação no sentido pleno que a
análise dá a esse termo: a saber, a transformação produzida no sujeito quando esse
assume uma imagem” (LACAN, apud GARCIA-ROZA, 2005, p. 212).
De acordo com o próprio Lacan (1998, p. 100), “a função do estádio espelho
revela-se para nós, por conseguinte, como um caso particular da função da imago,
que é estabelecer uma relação do organismo com sua realidade – ou, como se
costuma dizer, do Innenwelt com o Umwelt”.
Lacan (2005, p. 41) ainda diz que a criança “(...) vindo captar-se na
experiência inaugural do reconhecimento no espelho, assume-se como totalidade
que funciona como tal em sua imagem especular”. É um primeiro esboço daquilo
que será constituindo como sendo seu eu.
Temos ainda no Artigo sobre o Estádio Espelho a afirmação de que “esse
momento em que se conclui o estádio espelho inaugura, pela identificação com a
imago do semelhante e pelo drama do ciúme primordial, a dialética que desde então
liga o [eu] a situações elaboradas” (LACAN, 1998, p. 101).
Sobre este momento de identificação da criança com um eu, Cirino afirma que
apesar de situável entre os seis e dezoito meses, o momento do estádio espelho
representa menos uma fase de desenvolvimento para Lacan e mais uma ilustração
do caráter conflitivo e alienado do eu desde a sua formação, e ainda afirma que “o
estádio espelho deve ser compreendido como processo de formação do eu através
da identificação do sujeito ‘infans’ com a própria “imagem especular”, com a Gestalt
visual de seu corpo” (CIRINO, 2001, p. 103).
Garcia-Rosa (2005, p. 211) argumenta, no entanto, que este momento do
estádio espelho ainda não é o momento de fundação do sujeito, mas sim, da
16
constituição do eu. É apenas a primeira identificação e acontece em nível
imaginário.
Nas palavras de Lacan (2005, p. 31): “só há aparecimento de um sujeito como
tal a partir da introdução primária de um significante, e do significante mais simples,
aquele que é chamado de traço unário. O traço unário é anterior ao sujeito”.
O traço unário é o termo designado por Freud para descrever aquele
elemento que faz com que o sujeito passe a se perceber como “um”, dá ao sujeito a
possibilidade de se reconhecer como um, de ser um significante e de significar algo
para o Outro (AZEVEDO, 2004).
O sujeito só emergirá com a inserção da figura paterna e do significante
paterno, chamado por Lacan, posteriormente, de Nome-do-Pai, este momento
coincide com o Complexo de Castração.
Para Dolto, “a função simbólica é fundadora do ser humano. Essa função se
exerce no seio de uma relação inter-humana cruzada num espaço triangular”
(LEDOUX, 1991, p. 22), e ainda complementa que “há que haver uma triangulação,
para que o sujeito fale de si num eu referido a um ele” (DOLTO apud LEDOUX,
1991, p. 22).
O pai (função) é necessário para que ocorra a triangulação e o corpo da mãe
não seja mais o objeto de gozo completo da criança, levando à sublimação de
algumas de suas pulsões e a transformação de outras em novos modos de relação
com a mãe, como, por exemplo, a apreensão da linguagem para se comunicar
(DOLTO apud NASIO, 1995, p. 215).
Apenas quando a figura que exerce a função paterna entrar em cena – e isto
quer dizer, ter uma experiência que tenha sentido de corte, de legislação, de
proibição para a criança – sua constituição como sujeito terá sido completada.
Cirino (2001, p. 53), sobre a inserção da metáfora paterna, afirma:
“o pai pode surgir sob as formas buscadas no imaginário – pai
bondoso, omisso, ameaçador, caseiro, passeador, seguro... –,
confundindo-se com o outro da rivalidade. Porém, por seu lugar no
discurso da mãe, sua evocação, enquanto Nome-do-Pai, impede a
confusão com as relações puramente fenomênicas entre pai, mãe e
filho. Esse Outro simbólico que, inicialmente, se constitui como uma
ordem vazia de representações, torna-se uma lei. O significante do
Nome-do-Pai é tomado nessa ordem formal como o elemento
organizador e articulador dessa lei”.
17
O pai de que se trata em psicanálise não é o mesmo da experiência comum e
cotidiana. Em psicanálise, “a noção de pai intervém no campo conceitual da
psicanálise como um operador simbólico a-histórico” (DOR, 1991, p. 13), pelo menos
não seguindo um ordenamento cronológico.
Segundo Joël Dor, o pai neste sentido é uma entidade essencialmente
simbólica que realiza uma determinada função: “a estruturação do ordenamento
psíquico na qualidade de sujeitos”, ele ainda assegura que “nenhuma outra saída é
proposta ao ser falante a não ser curvar-se ao que lhe é imposto por esta função
simbólica paterna que o assujeita numa sexuação” (ibdem, p. 14).
Neste ponto, Dor (ibdem, p. 15) destaca uma conclusão de que:
“nenhum pai, na realidade, é detentor e, a fortiori, fundador da função
simbólica que representa. Ele é o seu vetor. Esta distinção instaura,
sob alguns aspectos, o desvio que existe entre paternidade e a
filiação. Por se desenvolver num nível prioritariamente simbólico, a
filiação, do ponto de vista de suas incidências próprias, é prevalente
sobre a paternidade real.
Os complexos de Édipo e de Castração são os instrumentos que fazem com
que o significante paterno entre no jogo e regule a rede significante em torno de si.
Durante a vivência do amor edípico e incestuoso em relação à mãe por parte da
criança,
ambas
sofrem
uma
interferência
nesta
inter-relação
previamente
estabelecida: é o Nome-do-Pai que vem intervir sobre esta díade, constituindo a
triangulação.
O mito de Édipo, do qual Freud lança mão para explicar o processo pelo qual
todo sujeito passa, é uma alegoria e como tal não deve ser abordado de maneira
literal. O mito, simplificando-o, relata a tentativa de acesso da criança ao gozo (na
mãe), mas também o acesso ao mundo, à possibilidade de gozar livremente do que
o mundo oferece.
De acordo com Lacan (2005, p. 120),
“o mito do Complexo de Édipo não quer dizer nada senão isto:
na origem, o desejo, como desejo do pai, e a lei são uma e a
mesma coisa. A relação da lei com o desejo é tão estreita que
somente a função da lei traça o caminho do desejo. (...) O mito
de Édipo significa que o desejo do pai é o que cria a lei”.
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O pai institui a lei e, mais do que isso, simboliza essa lei para esta criança.
Essa lei barra o livre acesso ao gozo, faz com que o mundo não pertença
unicamente à criança e essa mãe (mundo) divide sua atenção e seu cuidado entre o
pai e a criança; este é o complexo de castração.
Importante ressaltar aqui que a castração da qual trata a psicanálise, não é a
castração física de um órgão, mas é o processo psíquico em que o pai é introjetado
e constitui o Supereu, como também as pequenas perdas e desistências de “gozar”
que enfrentamos pela vida. É um processo simbólico, por tanto se registra
psiquicamente nesse campo.
O que acontece é que o menino é colocado, no complexo de Édipo na
situação de realizar uma escolha extrema: o próprio pênis ou a mãe, ou seja, ser
castrado e perder o pênis ou abandonar seu amor pela mãe para mantê-lo. E o que
ocorre é que “entre o amor narcísico pelo pênis e o amor pela mãe, o menino
escolhe o pênis” (NASIO, 1997, p. 14).
A lei do pai, que é também o desejo do pai, funda o desejo na criança e a
partir disto surge o movimento que faz o sujeito do desejo emergir como tal, como
significante e como sujeito barrado ($).
Lacan (1988, p. 106) diz: “Foi a Coisa, portanto, que, aproveitando-se da
ocasião que lhe foi dada pelo mandamento, (mandamento da fala) excitou em mim
todas as concupiscências; porque sem a Lei a Coisa estava morta”.
Se não fosse a lei que proíbe, o desejo estaria morto. Mas, em contrapartida,
o que seria possível? A proibição da lei, diz indiretamente o que é permitido e
simboliza para o sujeito o que é isto que é proibido.
Tendo o sujeito sido introduzido na rede significante pela metáfora paterna,
ele próprio é um significante, pois:
“o jogo do símbolo representa e organiza, em si mesmo,
independentemente das particularidades de seu suporte humano,
este algo que se chama um sujeito. O sujeito humano não fomenta
este jogo [...]. Ele próprio é um elemento nesta cadeia que, logo que
é desenrolada, se organiza segundo leis” (LACAN apud CIRINO,
2001, p. 53 e 54).
19
Ainda citando Lacan, Cirino complementa que é preciso “limpar este sujeito
do subjetivo. Um sujeito não supõe nada, é suposto. Suposto, ensinamos nós, pelo
significante que o representa para outro significante” (Idem).
“Esse sujeito é o que o significante representa, e este não pode representar
nada senão para um outro significante (...)”. Lacan ainda conclui: “O efeito de
linguagem é a causa introduzida no sujeito. por esse efeito, ele não é causa dele
mesmo, mas traz em si o germe da causa que o cinde. Pois sua causa é o
significante sem o qual não haveria nenhum sujeito no real” (LACAN, 1998, p. 849).
Cirino resume este pensamento de Lacan dizendo que “o sujeito é uma
resposta do real ao encontro do significante” (CIRINO, 2001, p. 52), ou seja, fruto do
choque entre elementos dos campos real e simbólico.
20
3 A ESTRUTURAÇÃO PSÍQUICA
3.1 CONCEITO DE ESTRUTURA
A vivência dos complexos de Édipo e Castração são fatores determinantes
para a constituição psíquica do sujeito, conforme visto no capítulo anterior. Desta
forma, citamos:
“É em função dos amores edipianos que se constitui, para todos, a
entrada em cena de uma estrutura psíquica, ou, como assinalava
Freud, a ‘escolha’ de sua própria neurose. Esses amores edipianos
nada mais são que o desenvolvimento, (...) da relação que o sujeito
trava com a função fálica, ou seja, com a função paterna” (DOR,
1993, p. 24) [grifo meu].
Entramos, assim, na questão da estrutura, mais precisamente, estrutura
psíquica. A relação do sujeito com estes amores edipianos estrutura seu psiquismo.
Esta estruturação pode ocorrer de diversas maneiras. Destacamos aqui as
principais, como sendo, as estruturas neuróticas histérica e obsessiva, a estrutura
perversa e a estrutura psicótica (ibdem, p.18). De acordo com Lacan apud Lima
(2003), “toda a personalidade do sujeito traz a marca dessas relações estruturais”.
O conceito de estrutura utilizado em psicanálise, principalmente a partir das
contribuições de Lacan à teoria, se fundamenta na conceituação que Lévi-Strauss,
expoente da antropologia moderna e do estruturalismo francês, faz do termo,
conforme o próprio Lacan (1998, p. 685) propõe: “como nós mesmos fazemos do
termo estrutura um emprego que cremos poder pautar no de Claude Lévi-Strauss, é
para nós uma razão pessoal, cabe dizê-lo aqui, não tomar esse emprego como
genericamente confuso”. Assim, podemos definir este termo e seu emprego em
psicanálise:
“O termo estrutura (...) considerado no âmbito da psicanálise, é
bastante singular. Por ele se entende, neste campo, o campo
freudiano-lacaniano, uma cadeia de elementos distintos que têm em
comum o fato de pertencerem a um mesmo conjunto. Tais elementos
21
são articulados entre si, obedecem às leis da linguagem e se
denominam significantes” (LIMA, 2003).
A estrutura da qual se trata em psicanálise é a rede formada por significantes,
ou seja, a linguagem. Em Saussure e Jakobson, lingüistas (CALLIGARIS, 1989, p.
30), Lacan busca os referenciais para então propor teses como: “o inconsciente é
estruturado como uma linguagem” (LACAN apud GARCIA-ROZA, 2005, p. 183) e “o
homem pensa porque uma estrutura, a da linguagem, recorta seu corpo” (LACAN,
1993, p. 19).
O emprego do conceito de estrutura afeta inclusive a questão do diagnóstico
em psicanálise – diferenciando o discurso que lhe é próprio, do chamado discurso
médico.
O saber médico diagnostica sintomas, enquanto, ao propor a existência de
estruturas psíquicas, o diagnóstico em psicanálise passa a não ser pautado no
sintoma, mas sim na estrutura. O diagnóstico é estrutural, direto na constituição do
sujeito.
De acordo com Calligaris (1989, p. 31):
“a psicanálise é uma clínica estrutural num sentido forte, na medida
em que o diagnóstico é diretamente “na” estrutura do sujeito. A
hipótese é a seguinte: a partir do momento em que existe
transferência, a fala de um sujeito desdobra experimentalmente a
sua estrutura, e nesta estrutura o analista está incluído”.
Considera-se também que o sintoma não é representativo da estrutura. Ele é
analisado a partir de sua função na economia psíquica do sujeito, não havendo
relação direta entre a natureza do sintoma e a identificação da estrutura do sujeito
(DOR, 1993, p. 18).
Lima (2003) afirma que: “se o sujeito está incluído na estrutura, esta, em
psicanálise, é aquilo que localiza uma experiência para o sujeito que ela inclui”. E
continua:
“No centro da estrutura está o Édipo, universal, e a doutrina
psicanalítica concluiu que este complexo não ocorria apenas entre a
criança, a mãe e o pai, pois um quarto elemento, nomeadamente o
falo, foi acrescentado ao triângulo edípico desde que Lacan entrou
22
em cena neste ponto da teoria. A partir deste ponto, os elementos
pai-mãe-filho-falo são todos significantes, sendo que o significante
Nome-do-Pai veio para dar suporte a toda a estrutura” (idem).
Freud (1996 [1913], p. 341) utiliza a expressão “escolha da neurose” para
tratar da questão: “por que é que esta ou aquela pessoa tem de cair enferma de uma
neurose específica e de nenhuma outra”.
Neste artigo, A Disposição à Neurose Obsessiva, Freud considera que os
fatores determinantes da “escolha da neurose”, – ou utilizando terminação
lacaniana, a escolha da estrutura psíquica – se devem às disposições do sujeito
para tal. Estas disposições, neste artigo, são os fatores puramente constitucionais e
hereditários. Posteriormente, Freud amplia este pensamento e passa a considerar
também na “escolha da neurose”, a importância das experiências da infância.
Ele afirma: “as experiências infantis exigem uma consideração especial. Elas
determinam as mais importantes conseqüências, porque ocorrem numa época de
desenvolvimento incompleto e, por essa mesma razão, são capazes de ter efeitos
traumáticos” (FREUD, 1996 [1917], p. 364). As experiências marcantes da infância
não são outras se não aquelas que se desenvolveram entrelaçadas aos complexos
de Édipo e castração.
Sobre este ponto, citamos Joël Dor (1993, p. 24-25), que avisa: “a memória
dos amores edipianos ganha toda importância, visto ser nessas vicissitudes que o
sujeito renegocia sua relação com o falo, isto é, sua adesão à conjunção do desejo e
da falta”.
Podemos notar que “dessa articulação, fica estabelecida, depois da vivência
edípica, a definição da estrutura psíquica e conseqüentemente o modo como o
sujeito irá operacionalizar a castração, o desejo e o seu papel sexual” (TORRES,
2004, p. 173 e 174).
Temos em jogo a dialética do ser e do ter aquilo de que se trata, a saber, o
falo. O sujeito inicialmente identificado com o falo tem que se deslocar desta
posição, para a identificação com aquele que possui o falo ou com aquele que não o
possui. Ou seja, a questão é migrar de ser o falo para ter (ou não ter) o falo, o que
obviamente implica em abrir mão de ser o falo de alguém, comumente a mãe, numa
relação de assujeitamento da criança (DOR, 1993, p. 25).
23
Esta relação com o falo e a estruturação psíquica são impostas pela função
paterna, que possui caráter estruturante. Ainda acrescentamos: “se esta relação é
vetor de ordem – no sentido de organização -, é, igualmente, portador de desordem,
pois a estrutura psíquica apresenta a particularidade essencial de ser determinada
de uma vez por todas” (Idem) [grifo do autor]. Mas,
“uma coisa é a estrutura ser irreversivelmente determinada, outra, é
ser a economia do seu funcionamento sujeita a ‘variações de
regime’. (...) somos sempre sujeito, efeitos de significante. É na
intendência desses efeitos significantes que a estrutura trabalha e
nós em nada a dominamos” (Idem).
Em outras palavras, uma vez organizado o psiquismo de determinada
maneira, não é possível que ele seja estruturado de forma diferente, o que não quer
dizer que a análise, por exemplo, não possa transformar o “regime” desta estrutura.
Delineadas as bases da noção de estrutura em psicanálise, partamos, então,
para a distinção entre as principais estruturas, deixando a organização – se é que
assim se pode chamar – psicótica para análise específica no capítulo posterior.
Trataremos, basicamente, dos processos de constituição das organizações
psíquicas a partir de sua estruturação ocasionada pelas relações edipianas.
3.2 NEUROSE OBSESSIVA
Sobre a problemática do obsessivo, Dor (1993, p. 97) parte da idéia de que
este “sente-se amado demais pela mãe”. E partindo deste ponto, tece algumas
conclusões.
Ter se sentido amado demais pela mãe significa que, ao menos
fantasmaticamente, o obsessivo, em sua primeira relação com o falo, era o falo e
este era investido de muito amor oferecido por sua mãe. Ele foi, portanto, “objeto
privilegiado do desejo materno, ou seja, privilegiado em seu investimento fálico. (...)
os obsessivos são os nostálgicos do ser” (Idem).
Tendo sido privilegiado por este amor excessivo por parte da mãe, a criança
percebe-se como sendo aquele no qual a mãe poderá encontrar aquilo que o pai
24
não pode dar a ela. Isso propicia um investimento psíquico precoce por parte da
criança nessa relação mãe/filho-falo (idem).
E a criança vê aproximar o momento do deslocamento na relação com o falo.
A criança, se estruturando numa organização neurótica obsessiva, se move do ser
para o ter o falo. Esta mudança se processa devido à interpretação que a criança faz
de que a mãe é dependente do pai, no sentido de que este faz lei à mãe e que o
objeto de desejo dela é totalmente dependente da figura paterna. Esta dependência
confirma, para a criança, que o pai possui o atributo fálico. Este esquema força o
deslocamento do ser ao ter o falo (Ibdem, p. 98).
Ou seja, a criança que se sente amada demais, que se percebe sendo o falo
que a mãe ama, e do qual precisa, compreende que não é o falo. O que levanta a
questão da possibilidade de tê-lo, uma vez que não o é. A situação agora implica em
ter este falo do qual a mãe necessita e ama. Esta transição, note-se, é propiciada
pela inserção da função paterna: o Nome-do-Pai, causando a triangulação
mãe/pai/filho.
Neste ponto, a criança pode se situar nesta relação num lócus de “suplência à
satisfação do desejo da mãe” (Idem). Temos, de um lado, o pai que possui o objeto
de desejo da mãe e de outro, um resto insatisfeito, um quantum de desejo que o pai
parece não satisfazer. Nesse lugar a criança se encaixa: é um complemento do
pouco que não está satisfeito e solucionado pelo pai (Ibdem, p. 99).
Importante ressaltar que situar-se num lócus de suplência à satisfação do
desejo da mãe é diferente de situar-se como suplência ao objeto deste desejo. No
primeiro caso, “a criança só é convocada imaginariamente a suprir a satisfação do
desejo materno na medida em que esta satisfação lhe é significada como falha pela
mãe” (DOR, 1991b, p. 63 – 64).
No segundo caso, posicionar-se como suplência ao objeto de desejo da mãe,
“estaríamos na presença de determinações propícias à organização de estruturas
perversas, até mesmo psicóticas” (Ibdem, p. 63).
Mas, pode continuar pairando sobre o obsessivo certa dúvida de ser ou não
ser o falo e o desejo de um retorno à identificação com o falo. Mas, “por mais que
este retorno seja fortemente cobiçado em vista da satisfação falha do discurso
materno, ele nunca é plenamente conseguido.” (DOR, 1993, p. 99).
Característica dos obsessivos é a tendência a tudo controlar e dominar,
tentando
manter
tudo
sob
seu
controle
(DOR,
1991b,
p.
66).
Mas,
25
contraditoriamente, o obsessivo possui um Mestre, que é um avatar da figura
paterna.
Embora tente manter tudo sob seu controle, o obsessivo se subordina ao Pai
e “todas as estratégias de rivalidade e competição destinadas a desafiá-lo surgem
sempre apenas para melhor assegurar que este lugar é inconquistável”, ou seja, o
obsessivo estará sempre aquém de seu Mestre-Pai, uma vez que ele “tem
necessidade de um Mestre” (Idem).
Sintetizando este pensamento, Dor (1993, p. 106) afirma:
“Tentar tomar o lugar do Senhor é sempre esforçar para assegurar
que este lugar cobiçado é ilegítimo, ou seja, que o Pai não poderia
ser suplantado. Este senhor inabalável continua, assim,
metaforicamente, a proibir e a condenar a erotização incestuosa da
relação com a mãe, na qual o obsessivo está preso”.
Neste sujeito, “sua enfermidade estrutural se traduz pela servidão voluntária
do obsessivo, que o obriga a dever assumir todas as conseqüências de sua atitude
passiva. (...) ele se compraz em ocupar (...) o lugar de objeto de gozo do outro”
(DOR, 1991b, p. 65).
Ao se posicionar desta maneira, ocupando o lugar de objeto de gozo do outro,
o obsessivo é claramente remetido à lembrança de que no passado ocupava este
lugar junto à mãe, antes da intromissão paterna (Idem). Esta sensação aproxima-o
da ilusão nostálgica do voltar a ser o falo.
3.3 NEUROSE HISTÉRICA
Também para tratar da histeria, temos a passagem do ser ao ter na dialética
edipiana. Este deslocamento é determinado pela intrusão paterna, tal como na
neurose obsessiva.
Ao intervir, proibindo e legislando a relação mãe/filho, o pai tira a criança da
dimensão do ser e a insere na dimensão da castração. A castração leva a criança à
descoberta de que não é e que não tem o falo, exatamente como a mãe. O desejo
da mãe se mostra “como desejo inscrito na dimensão do ter” e é o pai que está
26
situado como o único que mobiliza o desejo da mãe através de seu falo. Logo, o pai
fica situado no imaginário da histérica como o pai depositário do falo (Ibdem, p. 65 –
66).
A questão do pai ou de outro homem como possuidor ou não do falo é
recorrente na estrutura histérica, uma vez que ele (o suposto possuidor do falo) deve
provar que realmente o possui. “Como bem observa Lacan, é preciso que o pai, a
um dado momento dê a prova dessa atribuição. Ora, precisamente, toda a economia
desejante do histérico se esgota sintomaticamente na colocação à prova desse ‘dar
a prova’” (Ibdem, p. 66).
Duas posições podem ser supostas pelo histérico: a de que o pai tem o falo, é
direito dele tê-lo e sendo assim, o desejo da mãe em relação ao pai está explicado;
por outro lado, o pai só possui o falo porque ele priva a mãe de tê-lo. Esta segunda
opção (o pai só o tem porque priva a mãe de tê-lo) alimenta uma conseqüência: o
histérico vê a possibilidade de reivindicar a posse do falo, para si e para a mãe visto
que ela também tem direito a ele (Ibdem, p. 66-67).
Joel Dor afirma: “o modo estereotipado de se encarregar do jogo constituído
por esta problema do ter é que será representativo da estrutura histérica” (ibdem, p.
65). “Se pude dizer que os obsessivos são uns nostálgicos do ser, pode-se
igualmente dizer que os histéricos são uns militantes do ter” (DOR, 1993, p. 67).
Fenomenologicamente, esta reivindicação pode ganhar aspectos diversos
dependendo do sexo do histérico: a mulher pode bancar o homem ou o homem
pode dar provas incessantes de sua virilidade, ou seja, de que possui o falo,
estando, segundo Dor, implícita a confissão “de que o sujeito não o poderia ter”
(Idem, p. 67). Reivindicar tê-lo passa obviamente pela dedução de que não se tem o
falo.
Por estar despossuído do falo, surge a questão para o histérico de como
reivindicá-lo e como desejá-lo naquele que o possui, o Outro. “Daí a existência de
um traço inaugural que satura toda a economia psíquica da estrutura do histérico:
sua alienação subjetiva ao desejo do Outro” (DOR, 1991b, p. 69). Há um
assujeitamento do próprio desejo ao desejo do Outro, na tentativa de satisfazê-lo.
Alienar seu próprio desejo naquele que possui o falo (o Outro) é mais uma
característica da estrutura histérica, tal como pressentir que este é o possuidor das
respostas para suas questões sobre o desejo. Entretanto, ao alienar-se e colocar-se
sob o julgo deste Outro, “Mestre” nas palavras de Dor, a histérica não visa reiterar
27
que o Mestre possui o falo – tal como o Obsessivo –, mas sim fazê-lo dar prova de
que realmente o possui, para que então ela possa destituí-lo da posse da atribuição
fálica (Ibdem, p. 70).
Nasio (1991) diferencia três estados do eu na histeria que expõem
características desta estrutura: Eu insatisfeito, Eu histericizante e Eu tristeza.
No primeiro estado, “o eu está constantemente à espera de receber do Outro,
não a satisfação que plenifica, mas, curiosamente, a não-resposta que frustra”
(Ibdem, p. 14). Notamos, assim, o desejo de permanecer insatisfeito, característica
do histérico, pois “são justamente o medo e a recusa a gozar que ocupam o centro
da vida psíquica do neurótico histérico” (Ibdem, p. 16).
Segundo estado: o eu histericizante. Nasio (1991, p. 17) define: “histericizar é
erotizar uma expressão humana, seja ela qual for, embora, por si só, intimamente,
ela não seja de natureza sexual”.
Nasio aponta ainda que o corpo do histérico é um corpo-sensação-pura,
corpo fantasmático, não o corpo real. Este corpo fantasiado, histericizado, é um
corpo adormecido em suas áreas erógenas/genitais, mas que se reveste de libido
em todas as outras partes. E é exatamente isso que o histérico pode fazer com
qualquer objeto, corpo, fala ou sensação do mundo que o cerca. Ele pode
histericizá-lo, ou seja, revesti-lo de sentidos sensuais. Daí temos que “a sexualidade
histérica não é, de modo algum, uma sexualidade genital, mas um simulacro de
sexualidade” e ainda “o histérico é um notável criador de sinais sexuais, que
raramente são seguidos pelo ato sexual” (Ibdem, p. 17 e 18).
O corpo fantasiado do histérico é recortado por uma estrutura, apresenta uma
organização que não corresponde às leis da anatomia. “Sofrer segundo o modo
histérico é sofrer conscientemente no corpo, ou seja, converter o gozo inconsciente
e intolerável num sofrimento corporal” (Ibdem, p. 21).
Este corpo fantasia apresenta somatizações diversas: perturbações de
motricidade, de sensibilidade, distúrbios sensoriais, entre outros ainda mais
específicos, como o pseudocoma, por exemplo.
Podemos relacionar, neste momento, três pontos dos quais já tratamos: a
insatisfação histérica e a necessidade de por à prova o atributo fálico do Outro, à
questão deste simulacro de sexualidade experienciado pelo histérico.
Podemos ressaltar dois ganhos: ao evitar o ato sexual propriamente, o
histérico evita o gozo para manter-se insatisfeito e amedrontado frente a
28
possibilidade de gozar de alguma satisfação e, além disso, mantendo-se insatisfeito,
prova que o Outro não possui o atributo que poderia lhe dar alguma satisfação – o
falo.
O “eu tristeza”, terceiro estado do Eu histérico, corresponde à sua confusão
entremeio a tantas identificações freqüentes e contraditórias. Essas identificações
podem ocorrer com homens, mulheres e até mesmo com o sofrimento ou conflito em
uma relação.
A seqüência das identificações histéricas confunde o sujeito ao ponto de este
permanecer alheio a sua própria identidade de ser (a alienação no Outro, como
tratado anteriormente). Mais especificamente, alheio a sua identidade de ser
sexuado – não saber se é homem ou mulher. Há, portanto, a possibilidade de ser o
próprio sofrimento da insatisfação, eximindo-se ser homem ou mulher. “A tristeza do
eu histério [SIC] corresponde ao vazio e à incerteza de sua identidade sexuada”
(Ibdem, p.19).
Anteriormente, apontamos que é o posicionamento frente à castração que
determina a estrutura psíquica. No caso das neuroses, é, em termos freudianos, a
Verdrangung (o recalcamento) o posicionamento tomado pela criança: “o sujeito
reconhecendo a diferença dos sexos, instaura a falta como intrínseca ao ser humano
e a aceita: “lei do pai”. O resultado é a estrutura neurótica” (PIRES et al, 2004, p.
46).
3.4 PERVERSÃO
Novamente, tomemos a identificação fálica e o pai que intervém para cessar
esta identificação. O pai surge como rival fálico da criança na sua relação com a
mãe e Dor aponta duas realidades advindas da ocorrência desta rivalidade. A
primeira: o desejo materno não se refere somente à criança e assim a mãe possui
um desejo outro que não aquele que ela lhe direciona. A segunda realidade: a mãe
se mostra ausente e não satisfaz o desejo da criança (DOR, 1993, p. 39-40).
A mutação do ser ao ter acontece quando o pai mostra ter aquilo que a mãe
deseja. O pai se institui como pai simbólico. “Acontece que é precisamente desta
29
sombra carregada do pai simbólico que o perverso não quer saber, a partir do
momento em que se coloca para ele a questão de reconhecer algo da ordem da falta
do Outro” (Ibdem, p. 41).
A contestação tenta a todo custo recusar qualquer possibilidade de
simbolização da falta, contestar a inscrição desta falta pela castração. Em
conseqüência o perverso vai negar a castração, inclusive a castração da mãe.
Teremos neste ponto o fantasma da mãe-fálica e a manutenção imaginária da
atribuição fálica, inclusive à mãe, fazendo com que a diferença sexual seja anulada
(Ibdem, p. 41-42).
Sobre isto, Pires et al (2004, p. 47) afirmam que:
Ao fazer uso da recusa como o mecanismo básico de sua estrutura,
fecha-se para o perverso a entrada definitiva na castração simbólica
bem como o funcionamento do Nome do Pai. A recusa incide sobre a
castração da mãe e conseqüentemente seu desejo pelo pai. Desta
forma, a diferença dos sexos, mesmo reconhecida, é recusada”.
A estrutura do funcionamento perverso é ordenada “por uma lei do desejo que
não permite ao sujeito assumir nela a possibilidade para além da castração. Trata-se
de uma lei cega que tende a se substituir à lei do pai” (DOR, 1993, p. 42).
De acordo com Dor, os estereótipos mais característicos da perversão são o
desafio e a transgressão (Idem). Isso se manifesta no desafio perverso à lei do Pai,
“é relevante apontar que para transgredir é necessário conhecer, o que nos leva a
concluir que, nesse caso, o Édipo ficou sem efeito e a metáfora paterna funcionou
parcialmente” (PIRES et al, 2004, p. 47).
Dor (1991b, p. 62) confirma que “a atribuição fálica do pai que lhe confere a
autoridade de Pai simbólico (representante da lei) nunca será reconhecida, aqui,
exceto para melhor ser incansavelmente contestada”.
Freud parte, tendo por base a análise do fetichismo, para a compreensão de
outro importante processo perverso denominado clivagem do eu (DOR, 1991a, p.
102). Para a compreensão deste processo, esclareçamos em linhas gerais o que é o
fetichismo.
Nas palavras de Freud (1996 [1927], p. 155),
“o fetiche é um substituto para o pênis, (...) não é um substituto para
qualquer pênis ocasional, e sim para um pênis específico e muito
30
especial, que foi extremamente importante na primeira infância, mas
posteriormente perdido. (...) o fetiche, porém, se destina exatamente
a preservá-lo da extinção”.
O fetichismo é, portanto, um possível mecanismo de defesa frente à angústia
de castração e consiste na recusa da realidade, na negação do real da diferença dos
sexos. “O fetiche é um substituto do pênis da mulher (da mãe) em que o menininho
outrora acreditou e que (...) não deseja abandonar” (idem).
Entretanto, ele pode evidenciar outro aspecto da estrutura perversa: a
clivagem do eu, que está relacionada à recusa da realidade e esta “baseia-se
eletivamente na ausência do pênis na mãe (...) somos portanto remetidos à questão
geral da recusa da castração (...)” (DOR, 1991a, p. 86).
Ao eleger um objeto substituto para o pênis da mulher (mãe) no intuito de
igualar os sexos e negar a castração, postulando uma unissexualidade (DOR,
1991a, p. 104), o perverso reconhece a falta e conseqüentemente a castração, uma
vez que é necessária uma “prótese”, obviamente, algo falta. O perverso reconhece a
falta, mas, paradoxalmente, recusa este reconhecimento.
Neste ponto, “Freud não deixa de observar, diante destes dois conteúdos
psíquicos contraditórios, que eles não deixam por isso de coexistir no aparelho
psíquico sem jamais influenciar-se reciprocamente” (DOR, 1991a, p. 102).
Se nas neuroses, o sujeito reage frente à castração com o recalcamento, na
perversão ele se posicionará num discurso de negação ou “rejeição”, por Freud
(1996 [1927], p. 156) chamada de “Verleugnung”, sendo o:
“mecanismo que sustenta a estrutura perversa na qual o sujeito
sabe, todavia “não quer saber”, recusa o reconhecimento da falta do
pênis na mulher-mãe, podendo em alguns casos “eleger” um objeto
em seu lugar, o fetiche, substituindo a falta do pênis: ele ao mesmo
tempo esconde e designa essa falta existente” (PIRES et al, p.46).
Desta forma, o sujeito nega que a castração exista, embora em suas
tentativas de preencher o lugar da falta com outros objetos que tencionam ser
substitutos do atributo fálico, torne mais e mais patente a obviedade de que ali a
falta de algo se inscreve, embora esta falta não seja simbolizável. Uma vez
“capturada na fronteira da dialética do ser e do ter, a criança vai se fechar então na
representação de uma falta não simbolizável” (DOR, 1991b, p. 61).
31
3.5 HIPERMODERNIDADE E NOVAS ESTRUTURAS PSÍQUICAS
Além das estruturas clássicas, atualmente alguns psicanalistas apontam o
surgimento de novos modos de estruturação que surgem propiciados pelo momento
histórico único de transformações rápidas e sucessivas que vivemos.
Partindo da concepção de Gilles Lipovetsky que assinala que o termo pósmodernidade não consegue abarcar o mundo tal como o temos hoje, nos
apropriamos do termo cunhado pelo próprio autor para tentar exprimir o que a
configuração além da pós-modernidade representa. O termo “hipermodernidade”
“é mais adequado por se tratar de uma modernidade desenfreada.
Segundo ele [Lipovetsky] o que deve preocupar na hipermodernidade
é a fragilização dos indivíduos, pois se antes os homens sentiam
seguros pelo fato de serem regidos por ideais coletivistas, hoje eles se
sentem (...) desorientados em função da multiplicidade de escolhas”
(MENDES & PARAVIDINI, 2007, p. 100).
De acordo com Paravidini et al (2008, p. 199),
“a espécie humana tem experienciado uma verdadeira crise das
referências simbólicas, de formas e intensidades diferentes, a
depender do contexto cultural e temporal, associadas ao exercício
das funções parentais que se mostram esvaziadas ou deslocadas”.
Tendo por base o pensamento de Lipovetsky, Forbes teoriza sobre a distinção
dos tempos da industrialização, que era “pai-orientada” e a transição para a era da
globalização, época do homem desbussolado (MENDES & PARAVIDINI 2007, p.
100).
O homem desbussolado é exatamente fruto dos tempos hipermodernos e de
uma de suas principais características: a fragilização dos vetores de interdição, ou
seja, dos “avatares” do Nome-do-pai.
Torres (2004, p. 175) assegura que
“isto nos é apontado através da desestabilização dos critérios
normativos a nós apresentados pela ética, dos preceitos religiosos,
da moral e das próprias teorias do conhecimento que passaram a ser
32
transitórias, impondo-nos uma sucessão contínua de novos padrões
e “verdades”.
Este enfraquecimento da função paterna, apontado por diversos autores,
fomenta modificações no ofício de analista, inclusive na clínica. Um saber que se
constrói contextualizado cultural e historicamente, tal como a psicanálise o faz, se
mantém construindo e modificando o próprio corpo teórico à medida que os
processos de subjetivação também se transformam.
Ainda nas palavras de Torres (ibdem, p. 177): “Como reflexo e conseqüência
desses processos identificatórios e de subjetivação do sujeito, constatamos na
clínica psicanalítica várias manifestações, configurações patológicas e formas de
apresentações narcísicas (...)”. O analista deve estar atento às diferentes
manifestações e configurações patológicas apresentadas e, em especial, se atentar
para as diferentes possibilidades de estruturação psíquica.
As novas possibilidades de arranjo que a hipermodernidade apresenta para a
função paterna, função simbólica e de inserção cultural, incluem a possibilidade da
não-interdição do gozo materno, do homem desbussolado (como sugere Forbes) ou
o homem errante (nas palavras de Calligares), enfim, da não-entrada da função
paterna no jogo da economia psíquica do sujeito.
Nessa configuração de enfraquecimento da função do pai e de seus
substitutos como polícia, religião, escola na vida dos “sujeitos hipermodernos” é
possível notar algumas características – como a ausência de um referencial – que
se encontram também numa estrutura psicótica, tal como veremos a seguir.
33
4 PSICOSE E SUJEITO
Embora já estivessem presentes no corpo teórico da psicanálise os
delineamentos primeiros para a compreensão das psicoses, na época, chamada por
Freud de paranóia, o primeiro grande texto sobre o assunto é seu estudo “Notas
psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia”, no qual
empreende uma análise do livro escrito por um paranóico, Daniel Paul Schreber,
intitulado “Memórias de um Doente dos Nervos” (CORIAT & PISANI, 2001, p. 44).
A questão da “loucura” e da paranóia no campo da psiquiatria clássica sofreu
várias transformações de nomenclatura e uma definição mais clara das diversas
formas com que esta poderia se manifestar ainda não havia sido feita (LOPES,
2001; CORIAT & PISANI, 2001). “Foi somente no início do século XX que Kraepelin
introduziu um pouco de clareza na definição da paranóia” (CORIAT & PISANI, 2001,
p. 44).
Lacan cita as palavras de Kraepelin:
‘A paranóia se distingue dos outros porque ela se caracteriza pelo
desenvolvimento insidioso de causas internas, e, segundo uma
evolução contínua, de um sistema delirante, durável e impossível, de
ser abalado, e que se instala com uma conservação completa da
clareza e da ordem no pensamento, no querer e na ação’
(KRAEPELIN apud LACAN, 1985, p. 26).
Freud, ao lançar-se em 1909 ao estudo do livro escrito por Schreber, o faz de
forma diferente da tradição psiquiátrica. E temos nova ruptura com a tradição - além
da subversão que o sujeito freudiano, Sujeito do desejo causou na tradição filosófica
de um sujeito pensante e autoconsciente, como anteriormente apontado. Freud
propõe nova abordagem dos fenômenos paranóicos. “Ele demonstrou que o desejo
era legível (...) desde que se dispusesse da chave certa, do código para decifrá-lo” e
“propôs a idéia de uma coerência específica a ser encontrada no delírio” (CORIAT &
PISANI, 2001, p. 44 e 52).
No texto supracitado, Freud (1996 [1911], p. 78) ainda nos diz que “a
formação delirante, que presumimos ser o produto patológico, é, na realidade, uma
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tentativa de restabelecimento, um processo de reconstrução”, imprimindo outra
diferenciação da abordagem psiquiátrica clássica.
Freud assinala alguns mecanismos que entram em jogo na paranóia, dentre
eles destacam-se a projeção, o recalcamento e o narcisismo.
Coriat & Pisani (2001, p. 58) dizem que Freud construiu uma teoria que
misturava esses dois elementos (recalcamento e narcisismo), uma vez que sua
teoria do recalcamento não se aplicava facilmente à paranóia.
De acordo com Freud (1996 [1914], p. 82), no artigo Sobre o Narcisismo: uma
introdução, um neurótico obsessivo ou histérico, “enquanto sua doença persiste,
também desiste de sua relação com a realidade. Mas a análise demonstra que ele
de modo algum corta suas relações eróticas com as pessoas e as coisas”.
O que acontece no caso do paranóico é bastante diferente, pois ele
“parece realmente ter retirado sua libido de pessoas e coisas do
mundo externo, sem substituí-las por outras na fantasia. Quando
realmente as substitui, o processo parece ser secundário e constituir
parte de uma tentativa de recuperação destinada a conduzir a libido
de volta a objetos” (idem).
Freud (idem) ainda nos diz que a “libido afastada do mundo externo é dirigida
para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser denominada de
narcisismo”.
Coriat & Pisani (2001, p. 58) afirmam que a característica da paranóia seria o
retorno dessa libido para o eu, não a retirada desta do mundo externo. Sintetizando
estas idéias, temos:
“Na paranóia, o recalcamento consistiria num desligamento da libido,
parcial ou geral. A libido anteriormente ligada a objetos externos
volta-se para o eu. Esse processo (...) seria a etapa do recalcamento
propriamente dito, enquanto o delírio seria a expressão de um
retorno do recalcado, reconduzindo a libido aos objetos que ela havia
abandonado”.
Sobre a projeção, Freud considera que este é o mecanismo que forma a
paranóia (ibdem, p. 57). Citamos suas palavras:
“A característica mais notável da formação de sintomas na paranóia
é o processo que merece o nome de projeção. Uma percepção
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interna é suprimida e, ao invés, seu conteúdo, após sofrer certo tipo
de deformação, ingressa na consciência sob a forma de percepção
externa. Nos delírios de perseguição, a deformação consiste numa
transformação do afeto; o que deveria ter sido sentido internamente
como amor é percebido externamente como ódio” (FREUD, 1996
[1911], p. 73).
Num segundo momento, apontou que estes “mecanismos projetivos
encontram-se em todas as configurações, patológicas ou não, ainda que
percebamos na paranóia um caráter particularmente cego de imputação ao outro”
(CORIAT & PISANI, 2001, p. 58). E indicou também uma diferença entre neurose e
psicose:
“Na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie
de fuga, ao passo que na psicose, a fuga inicial é sucedida por uma
fase ativa de remodelamento;(...) a neurose não repudia a realidade,
apenas a ignora; a psicose a repudia e tenta substituí-la” (FREUD,
1996 [1924], p. 207).
Freud (1996 [1911], p. 78) ainda aponta, no mesmo texto, que “foi incorreto
dizer que a percepção suprimida internamente é projetada para o exterior; a verdade
é, pelo contrário, como agora percebemos, que aquilo que foi internamente abolido
retorna desde fora”.
Anos depois, Lacan retoma esta afirmação atualizando-a em seus próprios
termos: “sucede (...) que tudo o que é recusado na ordem simbólica, no sentido da
Verwerfung, reaparece no real” (LACAN, 1985, p. 21) [grifo nosso].
Conforme
abordamos
as
demais
estruturas,
passemos,
portanto,
à
compreensão da estrutura psicótica, já partindo das colaborações de Lacan à teoria,
que com suas teorizações acerca dos campos Real, Simbólico e Imaginário, possuía
instrumentos mais sofisticados para o desenvolvimento e prosseguimento da teoria
freudiana de modo geral e especificamente um caminho de melhorar suas
concepções sobre a psicose e seu possível tratamento.
Calligaris (1989, p. 9) afirma que a clínica psiquiátrica clássica “é uma clínica
em que, se não há fenômenos psicóticos, se não aparecem fenômenos elementares
da psicose, não há psicose”.
Como tratado no capítulo anterior, a abordagem psicanalítica atual não se
atém unicamente ao sintoma, à doença ou à questão da etiologia. Atualmente,
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podemos dizer que “a psicanálise é uma clínica estrutural num sentido forte, na
medida em que o diagnóstico é diretamente na estrutura mesma do sujeito” (ibdem,
p. 31).
Exatamente por ser uma clínica estrutural e não fenomenológica que a
psicanálise pode dizer de uma psicose – ou estrutura psicótica – fora do delírio.
É após a vivência do Édipo que ocorre “a definição da estrutura psíquica e
conseqüentemente o modo como o sujeito irá operacionalizar a castração, o desejo
e o seu papel sexual” (TORRES, 2004, p. 173 – 174). Assim, a constituição destas
estruturas começa no drama do Complexo de Édipo.
A criança é chamada pela mãe a ocupar o lugar do falo, como um substituto.
É por essa via que a criança se inscreve no desejo materno. No primeiro momento
do Édipo, “o Outro materno encarna a lei. (...) não é que haja uma lei e a mãe seja
sua representante. [Ela] É a própria lei. Assim como o filho é o falo, ela é a lei”
(BLEICHMAR apud SOARES, 2007, p. 23 – 24).
No segundo momento edípico, temos o início da separação da díade mãefilho, propiciada pela terceira figura, o pai que interdita. Nas palavras de Soares
(2007, p. 25), notamos que
“no segundo tempo lógico do Édipo, o pai (...) que pronuncia a
interdição ainda não é o pai simbólico. (...) Ele dita a lei (...) mas não
a representa. Para ser simbólica, a lei pode ser evocada,
representada por alguém, mas não pode ser encarnada. A castração
remete justamente a essa separação, ao deslocamento de um
personagem com a lei”.
A castração de que se trata em psicanálise é a castração simbólica que
acontece no terceiro tempo do Édipo e é “quando, para a criança, há perda da
identificação com o falo, e que este passa a ser uma entidade independente de um
personagem (ibdem, p. 26). Ou seja, a criança já havia perdido a própria
identificação com o falo, havia deixado de ser o falo e agora ninguém mais se
identifica com ele, nem o próprio pai.
Neste terceiro tempo, a Lei simbólica é evocada, torna-se significante e “é no
nome do pai que se deve reconhecer o suporte da função simbólica” (LACAN, 1998,
p. 279).
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Tomemos uma rápida síntese sobre o já discutido Significante Nome-do-Pai e
sua função, como prévia para tratarmos do conceito da Verwerfung ou foraclusão,
partindo de Lacan.
O Pai, em psicanálise, representa uma função específica de legislador,
significante que simboliza a lei para a criança, promovendo a triangulação junto ao
segundo elemento da relação (a mãe) e propiciando o fim da simbiose.
Ao trazer a interdição do livre acesso da criança à mãe (e vice-versa), o Pai
simbólico, substitui o significante fálico (desejo da mãe) pelo significante estruturante
Nome-do-Pai.
Soares assegura que a entrada em jogo deste significante (Nome-do-Pai)
sinaliza “a entrada do sujeito na ordem simbólica permitindo a inauguração da
cadeia significante no inconsciente. Entretanto, na psicose, o terceiro não entra. O
significante fundamental para a instauração da ordem simbólica está foracluído”
(SOARES, 2007, p. 26) [grifo meu].
A partir de Lacan, observamos a ordem simbólica e seu caráter crucial na
etiopatogenia da psicose (DOR, 1991b, p. 103). Lacan (1998, p. 582) nos diz que
“é num acidente desse registro e do que nele se realiza, a saber, na
foraclusão do Nome-do-Pai no lugar do Outro, e no fracasso da
metáfora paterna, que apontamos a falha que confere à psicose sua
condição essencial, com a estrutura que a separa da neurose” [grifo
meu].
A análise do livro de Schreber lançou importantes instrumentos para a
compreensão da paranóia, mas, “é em ‘O Homem dos Lobos’ que Freud introduz
genialmente a noção de Verwerfung” (CHECCHINATO, 1988, p. 21) que será um
conceito crucial para as contribuições lacanianas para a compreensão da psicose.
Na obra que compreende o caso “O Homem dos Lobos”, História de uma
neurose infantil, Freud (1996 [1918], p. 88) escreve que “uma repressão é algo muito
diferente de uma rejeição”. Checchinato cita esta afirmação usando outra tradução e
a inovação presente nos termos lacanianos: “uma foraclusão [Verwerfung, rejeição]
é algo diferente do que um recalque” (FREUD apud CHECCHINATO, 1988, p. 21)
[grifo meu].
“A Verwerfung será tida por nós, (...) como foraclusão” (LACAN, 1998, p. 565).
O termo foraclusão se inscreve como efeito de tradução da palavra alemã
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Verwerfung (utilizada por Freud), mas também como prolongamento lógico do termo
freudiano (DOR, 1991b, p. 93), ou seja, trazendo novas concepções.
Foraclusão ou Forclusão vem do francês forclusion, um termo jurídico que
equivale à prescrição (SOARES, 2007, p. 25), ou como aponta Dor (1991b, p. 102),
refere-se à
“abolição simbólica de um direito que não foi exercido no prazo
prescrito (...) é principalmente essa idéia de uma anulação simbólica
que Lacan subscreve, ao utilizar o conceito de foraclusão. Trata-se,
para ele, de enfatizar a abolição de um significante”.
A foraclusão sempre se refere à Lei, ou seja, é a Lei (simbólica), o significante
Nome-do-Pai que é foracluído. Foraclusão é a abolição, a prescrição do momento
(lógico) no complexo de Édipo, no qual o significante Nome-do-Pai deveria ter
substituído o significante fálico (desejo da mãe), libertando a criança do desejo
materno, ou seja, o pai real interditor deveria ter acedido ao psiquismo da criança
como Pai simbólico (DOR, 1991b, p. 102; SOARES, 2007, p. 26).
Entretanto, o Nome-do-Pai não é um significante especial, mas exatamente
como todos os outros. A diferença é que ele ocupa um lugar de destaque como
significante primordial. Em outras palavras, é o lugar que ele vem ocupar – lugar na
substituição metafórica do significante fálico – que o torna diferenciado em relação
aos outros. “(...) o significante Nome-do-Pai é um significante qualquer que virá
ocupar este lugar decisivo. Neste sentido (...) os significantes Nome-do-Pai são
múltiplos” (DOR, 1991b, p. 105), pois há imenso número de significantes que podem
ocupar este lugar.
A foraclusão acontece quando nenhum significante vem para substituir o
significante fálico. Deduz-se, então, que “ela [a foraclusão] não se dá de uma vez
por todas. Ao contrário, não cessa de se reproduzir sucessivamente” (idem). Assim,
a sustentação da estrutura psíquica necessita que, constantemente, um significante
venha ocupar o lugar do desejo materno.
Nos Escritos, Lacan (1998, p. 389) nos diz:
“A Verwerfung, corta pela raiz qualquer manifestação da ordem
simbólica, isto é, da Bejahung que Freud enuncia como o processo
primário em que o juízo atributivo se enraíza, e que não é outra coisa
senão a condição primordial para que, do real, alguma coisa venha
se oferecer à revelação do ser”.
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Soares nos explica que “a foraclusão da lei significa que não há sequer
inscrição da relação com a lei. Em outras palavras, a lei não estrutura, não organiza.
Assim, quando ela aparece, é em forma de arbitrariedade, de abuso do outro”
(SOARES, 2007, p. 26).
Com a foraclusão do Nome-do-Pai, temos o fracasso da metáfora paterna e a
não-emergência do recalque originário, isto é, a assunção da castração simbólica.
A foraclusão do Nome-do-Pai e o fracasso da metáfora paterna trazem à
estrutura psicótica uma série de diferenciações em relação às outras estruturas
(neuróticas e perversa). A compreensão destas diferenças se dará tendo como
referência o próprio significante paterno.
Tomando por exemplo comparativo a neurose, podemos falar que, nesta, todo
o saber circunda e se estrutura em torno de um ponto nodal, o significante primeiro,
S¹, Nome-do-Pai. Assim, toda a rede de significantes se remete a este significante
principal, é medida e considerada tendo-o como referência. Há um ponto fixo que
sustenta toda a rede significante. Nas palavras de Calligaris (1989, p. 15), lemos que
“o sujeito neurótico, que resolveu confiar na função paterna, está
referido a um saber e, mais geralmente, habita um mundo orientado,
organizado ao redor de um pólo central ao qual se devem e se
medem todas as significações. (...) uma organização na qual a
referência a um centro decide do valor de cada ponto”
Na psicose, pode-se dizer que esta rede não está orientada ou organizada em
relação a este Um ponto nodal. Isto significa que neste caso “não há amarragem de
um ponto de ‘capiton’, tampouco haverá organização centralizada do seu saber e do
seu mundo” (idem).
Sem o norteamento propiciado pelo Nome-do-Pai, os significantes na rede do
psicótico circulam livremente sem possuir um ponto de amarra e sem ter um valor
específico em relação a um referencial – nenhum vale mais que o outro, todos
possuem o mesmo valor. “Todas as significações são significações em si mesmas”
(ibdem, p. 12).
Em seu seminário dedicado à questão das psicoses, Lacan fala algo sobre
trechos do livro de Schreber que representa estas “significações-em-si” claramente.
Ele nos diz que a significação das palavras de Schreber “é uma significação que
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basicamente só remete a ela própria, que permanece irredutível. O próprio doente
sublinha que a palavra tem peso em si mesma” (LACAN, 1985, p. 43).
Temos aí um exemplo das significações que não possuem um referencial que
as norteie ou em relação ao qual se situem com menor ou maior valor. Elas – cada
uma delas – possuem significações próprias que não se ligam a uma rede
significante, mas referem-se a si próprias.
Calligaris (1989, p. 12 – 13) nos fala ainda de que esse é um sujeito
eminentemente errante, não em referência ao erro, mas à errância, uma vez que
todos os significantes tenham valor em si mesmo, todos se tornam possíveis. Esta
idéia de alguém vagando indeterminadamente por todas as possibilidades é
bastante representativa de uma estrutura psicótica. Não há o ‘por quê não?’ e neste
caso, resta percorrer todos os caminhos, uma vez que todos são possíveis e têm o
mesmo valor. Não há uma razão fixa que faça com que uma possibilidade se
destaque e seja mais atrativa em relação às outras.
Calligaris (ibdem, p. 23) ainda diz que:
“Um psicótico que nunca encontrasse uma crise, seria um sujeito livre,
livre de filiação. Mas o problema fundamental da psicose é que
infelizmente o sintoma social dominante é a neurose, e que então o
psicótico encontra quase sempre a injunção a referir-se a uma
instância paterna e por conseqüência uma servidão paralela à do
neurótico, só que mais severas por dever servir um mestre real”.
Calligaris ainda traz outra questão: a de que o problema na psicose com os
delírios é um problema de comunicação. Comunicação que deveria se articular em
torno do Outro (função paterna), no simbólico, como leis da linguagem.
Como o psicótico não consegue amarrar seu discurso em algum ponto
norteador do campo Simbólico, ele tenta organizá-lo ao redor de um pólo central
Real. A questão é: como realizar a comunicação entre dois campos distintos, a
saber, Simbólico e Real, se o Real não permite simbolização e o Simbólico
pressupõe a morte da coisa real como tal?
No primeiro capítulo, vimos que o sujeito da psicanálise é o sujeito do desejo
e que este é efeito engendrado de linguagem, é o encontro do simbólico com o real.
Miller apud Soares (2007, p. 25) nos diz que ‘a metáfora paterna remete (...) a
uma divisão do desejo a qual impõe (...) que o objeto criança não seja tudo para o
sujeito materno’. A entrada do Significante-mestre circunscreve uma relação “que
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determina que o outro seja, ao mesmo tempo, igual e rival” (MEYER, 2004, p. 118)
do sujeito.
Notamos ainda que
“alguns efeitos podem ser apontados em decorrência da foraclusão
do Nome-do-Pai na psicose. Em primeiro lugar, a questão do sujeito
psicótico como sujeito do desejo fica comprometida, uma vez que só
há desejo quando há falta, e uma vez que o significante Nome-do-Pai
está foracluído, não há a instalação da falta na psicose” (idem).
Assim, só há desejo a partir da substituição do significante Desejo da Mãe
pela Lei Paterna. Mannoni (1999, p. 31) nos diz que “é porque o significante paterno
não se opôs ao inconsciente materno que o indivíduo se acha desapossado do
sentido da própria vida, e em perigo de não se sentir dono das suas pulsões”.
Arnaut apud Torres (2004, p. 174) assegura que sem a introdução no campo
simbólico através da metáfora paterna, o ‘sujeito se reduziria à condição de ‘objeto’,
ou seja, um corpo gozoso sem a lei do desejo, incapaz de encontrar um lugar nas
trocas simbólicas, exposto à vertente do imaginário e do real impossível’, algo como
uma pessoa que não é um significante para outro, apenas um objeto, que não
possui desejo próprio e fica assujeitado, subordinado ao desejo materno.
Mannoni (1999, p. 30) nos alerta que o psicótico, quando criança, está fadado
“a permanecer numa certa relação fantasmática com a mãe que, pela ausência nela
mesma do significante paterno, deixa a criança reduzida ao estado de objeto, sem
esperança alguma de aceder ao nível de sujeito”.
Entretanto, de acordo com Meyer (2004, p. 117),
“Lacan indica que a não-inscrição desse significante que ele nomeia
de Nome do Pai especifica uma relação singular do psicótico com o
simbólico, sendo seu acesso a esse diferenciado em relação à
neurose, o que não significa, contudo, que ele esteja excluído do
simbólico, uma vez que esse preexiste ao sujeito”.
Em outras palavras, existe uma relação entre o psicótico e o campo simbólico.
Todavia, é uma relação muito específica, pois “a noção da foraclusão do significante
primordial abre nova perspectiva, que nos leva a nova concepção do inconsciente,
marcada por uma rejeição e não pelo recalque”. Recalque que protegeria o sujeito
de ser tomado como objeto para o gozo do Outro e não está presente na psicose.
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Sobre esta diferenciação no lidar com a linguagem, Lacan (1985, p. 237) nos
diz que o psicótico “dá testemunho efetivamente de uma certa virada na relação com
a linguagem”.
E, tal como Meyer (2004, p. 18) afirma, “é com base nessa relação especial
do psicótico com a linguagem que podemos pensá-lo como sujeito, sujeito da
linguagem, e não sujeito do discurso”.
Ainda com Meyer (2008, p. 306), notamos que “a relação do sujeito na
psicose com a linguagem se dá de um modo em que ele não se insere ou não é
inserido no que chamaríamos de discurso, ou seja, o sujeito está na linguagem, mas
não está no discurso”.
Ser um sujeito do discurso, ou estar no discurso, significa estar numa relação
dialetizável com o Outro, uma relação de troca e não de assujeitamento, como é
caso do psicótico. Ao falar, o sujeito da linguagem esboça uma comunicação que
não é compartilhada socialmente, o que o priva do laço social (idem).
O Outro, campo da linguagem, não reconhece o discurso do psicótico e disso
deduz-se que a relação entre ambos não é mediatizada. Neste sentido, o psicótico
sente a invasão do Outro em si. O desejo do Outro não será captado como vindo do
Simbólico, mas como vindo de fora, do Real, desse algo impossível de lidar. Como
já citado anteriormente, “o que é recusado na ordem simbólica, (...) reaparece no
real” (LACAN, 1985, p. 21).
O sujeito psicótico pode ser considerado um sujeito da linguagem, pois “se
apresenta neste caso, completamente exposto à ação do significante, falado e
boicotado pelos fenômenos elementares” (ibdem, p. 302-303). Ora, o que os
fenômenos elementares demonstram além da invasão do Outro?
Devemos também levar em consideração a diferenciação que Pequeno apud
Meyer (2008, p. 304-305) faz entre estes “sujeitos”. Como a metáfora paterna não
entrou em cena para instaurar a falta no psicótico, este poderia ser considerado um
sujeito do gozo, pois se posiciona como objeto para o gozo do Outro absoluto e não
castrado, sendo diferente do sujeito barrado e desejante de que se trata nas
neuroses e perversão.
Além destas caracterizações como sujeito da linguagem ou sujeito do gozo,
podemos pensar o psicótico como um sujeito advir, ou seja, “um sujeito que existe
como uma possibilidade” (ibdem, p. 301). Segundo Tenório apud Meyer (idem), é um
43
sujeito potencial: “a idéia de que o sujeito na psicose pode (ou não) advir supõe o
paradoxo de que ele está lá (a advir) e não está lá”.
O psicótico, portanto, não se apresenta como sujeito do discurso, sujeito
barrado, do desejo, mas como um sujeito com uma relação não dialetizada com o
Outro, mas ainda assim, situado numa posição de sujeito da linguagem e do gozo,
um sujeito advir tomado como objeto do gozo da mãe/Outro, tornado uma prótese
fálica, apenas uma suplência para a relação da mãe com sua própria falta. Esta
relação de uso estabelecida com a mãe resultará na manutenção do significante
fálico no local destinado a ser tomado pelo Nome-do-Pai, amputando o surgimento
do desejo e o advento do sujeito barrado como fruto da interação do real com o
campo simbólico. Entretanto, é possível “criar as condições para que ali, numa
existência aniquilada pela psicose, se produza essa possibilidade” (TENÓRIO apud
MEYER, idem), pois como já afirmamos, a estrutura não é mutável, mas o regime
em que ela opera pode ser modificado (DOR, 1993, p. 25).
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5 CONCLUSÃO
Rompendo com a tradição do pensamento ocidental do sujeito da ciência,
cartesiano, no qual o mesmo ocupa um lugar privilegiado de centro da consciência,
tendo certezas e controle sobre si, a psicanálise elucida e faz emergir o sujeito como
dissociado da consciência, diferente do “eu”, do indivíduo, do cidadão, da pessoa.
O sujeito será muito mais referido a um “ele” do que ao próprio “eu”. Indo
além disso, postulamos que todo o trabalho do “eu” é justamente contrário ao
sujeito, contrário a que este sujeito inconsciente e desejante emirja à superfície
consciente. O sujeito será considerado, então, não como aquele que causa, não
como aquele que é a fonte da realidade e da certeza, mas como aquele que é
causado.
Em psicanálise, o sujeito é efeito causado pelo encontro desse algo
inominável que vem do campo Real com o campo Simbólico, a rede significante que
se estrutura referenciada a um significante específico que corresponde à metáfora
paterna, lei simbólica, chamado de Nome-do-Pai.
Este significante (S¹) amarra toda estrutura simbólica, à qual serve como
ponto nodal. Entretanto, ele nada possui de especial em relação aos outros
significantes da rede, a não ser pelo lócus que ocupa.
Para compreender o processo da entrada em jogo do Nome-do-Pai e as
diversas maneiras como isso pode acontecer, precisamos retornar à vivência do
Édipo para a criança, pois a escolha da neurose ou escolha da estrutura deriva das
questões edipianas. Mais precisamente, a estruturação psíquica da criança será sua
“saída”, seu modo próprio de lidar e se relacionar com aqueles envolvidos em seus
amores edipianos, seu modo de operacionalizar a castração.
No Complexo de Édipo, primeiramente, temos uma criança identificada com o
falo, atuando como prótese fálica para a Mãe que representa a Lei. Esta díade mãefilho será então triangulada com uma terceira figura que surgirá como aquele que
anuncia a lei, a separação da díade. Separação esta que só estará efetivada, após o
enunciador da lei, tornar-se representante (simbólico) da Lei.
O Pai, função, aparecerá como legislador, fazendo com que um significante
venha a ocupar o lugar como Nome-do-Pai, dando início à cadeia significante e
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propiciando a entrada da criança no mundo simbólico. Mas, ocasionando também o
surgimento do desejo e o nascimento do sujeito desejante.
Das diversas maneiras da transição entre as questões de ser o falo, ter o falo
e de operacionalizar a castração resultam as diversas possibilidades de estruturação
do psiquismo. Nas neuroses e perversão, temos o significante Paterno exercendo
seu papel estruturante e norteador, de forma diferenciada em cada uma das
situações, mas ainda assim, é o referencial.
No caso de uma estrutura psicótica, não há amarração. Não há significante
ocupando o lugar S¹ de referência. Disto deriva que todos os significantes terão o
mesmo valor.
A foraclusão do Nome-do-Pai, ou seja, este significante não vindo ocupar o
lugar do significante fálico (desejo da mãe), faz com que a relação de objeto prótese
que a criança desenvolveu com a mãe seja mantida, quando deveria ter sido
barrada pelo desejo paterno, que é a Lei.
Conclui-se que mantida a relação com a mãe sem a intervenção da metáfora
paterna, o sujeito advir se organiza (precariamente) em uma “estrutura” psicótica e
sua subjetividade não emerge tal como poderia; não emerge como um sujeito
referido a um Outro, mas como invadido por ele. Logo, não é reconhecido por este
Outro estruturante e subjetivante. Temos, portanto, o psicótico como este sujeito
advir vitimado pelo assujeitamento materno que não o permitiu tornar-se sujeito do
próprio desejo, tomando-o em sujeito do gozo e da linguagem. Entretanto, temos
também, sob esta relação fantasmática com o desejo materno que o assujeita, um
“sujeito-advir”, um sujeito que já existe como possibilidade ainda não concretiazada,
alguém que pode vir a ser chamado por este Outro para barrá-lo pela Lei e fazer
emergir o desejo através desta.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1988. 122 p.
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