O OLHAR NA CLÍNICA PSICOMOTORA
Keila Cuzzuol Pimetel Piol
Departamento de Educação
Faculdade de Aracruz – Uniaracruz
[email protected]
RESUMO
Este artigo traz reflexões sobre a organização da clínica psicomotora como
uma prática diferenciada para ser trabalhada em algumas dificuldades de
aprendizagem. Nesse enfoque, aborda Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH), caracterizado como um distúrbio
psicomotor. O TDAH necessita de um olhar específico, sendo esse olhar o
ponto de destaque deste trabalho. Nossa intenção é fazer algumas
colocações mostrando a importância do olhar para a clínica psicomotora,
por meio da busca bibliográfica aqui expressa.
Palavras-chaves: Clínica psicomotora. Olhar psicomotor.
ABSTRACT
This article describes reflections about the organization of the psychomotor
clinic as a differentiated practical to be worked with some difficulties of
learning. In approach Attention/Hyperactivity Deficit Upheaval (AHDU),
characterized as a psychomotor riot. The AHDU needs a specific look,
being this look the point of prominence of this work. The objective is to
make some surveys about the importance of the look for the psychomotor
clinic, by means of the bibliographical search..
Keywords: Psychomotor clinic. Psychomotor view.
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INTRODUÇÃO
Historicamente os estudos referentes a psicomotricidade aparecem no final do
séc.XIX , quando o "discurso médico" começa a nomear a zonas do córtex cerebral
situada nas regiões motoras. Porém, a história da psicomotricidade começa desde
que o homem é homem. Um homem que para este campo de conhecimento é corpo
- corpo este simbólico que é marcado enquanto se constrói ao longo de sua própria
história.
Este corpo que, pela psicomotricidade, é observado, analisado, organizado, só é
assim visto diante de um "olhar" que o outro tem sobre ele.
Portanto este estudo justifica-se no interesse da autora de refletir sobre a
psicomotricidade e a necessidade de um “olhar” específico para este trabalho, a fim
de ajudar crianças, adolescentes, adultos e idosos a encontrar sua identidade.
Esse campo do conhecimento começa a se desenvolver após a descoberta da
Neurofisiologia, no final do séc. XIX, e é definido no início do séc. XX, com Dupré,
quando este estuda clinicamente casos de debilidade motora, tomando corpo a partir
daí
com as contribuições de Henry Wallon, Edouard Guilmaim, Julian de
Ajuriaguerra, que delimitam, já na década de 60, os transtornos psicomotores.
Assim, a psicomotricidade adquire campo específico e autonomia.
Dentro da clínica psicomotora, esse olhar se faz diferente do olhar instrumental; ele
se encontra voltado para o corpo, que indica, mostra, expressa e que deseja ser
olhado. Um corpo que se apresenta num sujeito, “[...] um corpo receptáculo,
erógeno, instrumental, investido, discursivo e simbólico” (LEVIN, 2003, p. 46), um
corpo imaginário que precisa do outro para torná-lo imagem repleto de significados.
Podemos, assim, afirmar que “o corpo fala” uma linguagem própria e que, em
alguma ocasião, é desvendado. Isso ocorre porque, “[...] não nascemos com um
corpo constituído, ele mesmo deve constituir-se” (LEVIN, 2003, p. 51).
O corpo, na clínica psicomotora, é constituído a partir da existência do outro (o olhar)
que entra como peça fundamental para esse desdobramento. Assim, esse outro
apresenta um corpo ao sujeito que, segundo Levin (2003, p. 52), é “pura coisa”, ou
seja, buracos, bordas, faltas, transformando-se em um corpo erógeno e simbólico, o
que nos conduz ao corpo psicanalítico do qual o olhar a que nos referimos é o
primeiro a ser notado para sua construção.
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Partindo desse ensaio, podemos citar Lacan (apud BRANCO, 1995, p. 74):
[...] em nossa relação com as coisas, tal como ela se constitui por
intermédio da visão e é ordenada nas figuras da representação,
alguma coisa desliza, passa, transmite-se, de degrau em degrau,
para estar sempre de alguma forma aí elidido - é isso que se chama
olhar.
Esse olhar aqui explicado por Lacan precisa ser trabalhado, apurado, aprimorado
para a práxis da clínica psicomotora. É diante dessa necessidade que se buscou
estudar a temática em questão.
Aqui o olhar ganha fundamento psicanalítico, tem algo mais que simples conotação
biológica e/ou cultural; ele está mais condicionado à experiência, ao desejo, a uma
falta, porque decorre da ação do inconsciente, o que irá possibilitar ao terapeuta
clínico a solução ou pelo menos a diminuição do problema observado/a ser tratado.
A CLÍNICA, O OLHAR EM PSICOMOTRICIDADE
Como já se sabe, historicamente, a psicomotricidade vem passando por diversas
transformações, sugerindo uma mudança de olhar sobre o corpo-movimento, para
um corpo-sujeito, que se forma.
Os estudos referentes à psicomotricidade tiveram seu início com Tissié, em 1894,
quando ele fez as conexões entre o movimento e o pensamento. A partir daí,
encontramos grande referencial em Dupré, Wernick, Wallon, Piaget, Ajuriaguerra,
Kephart, Frostig, Vygotsky, Luria, Liepmann, Freud ,
Le Bouch, Lapierre,
Aucoutorier e muitos outros que avançaram em pesquisas investigativas da
motricidade humana e suas relações. Toda evolução aglomerada
nos deu
pressupostos teóricos para a organização da atuação clínica da psicomotricidade. A
partir de Levin, com a utilização da Psicanálise, ela encontrou seu ponto forte, “[...] a
contribuição da teoria psicanalítica [...] já não centra seu olhar num corpo em
movimento, mas num sujeito com seu corpo em movimento” (LEVIN, 2003, p. 31).
Nessa vertente, a clínica psicomotora institui uma diferença das outras práticas e fixa
seu olhar não para o método ou para a técnica a ser utilizada, mas para um “sujeito
desejante”, ou seja, um “[...] sujeito dividido, escondido, que possibilita diferenciar o
corpo real, do imaginário e do simbólico” (LEVIN, 2003, p. 31).
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Quando a prática da clínica psicomotora referencia esse sujeito, está buscando, na
Psicanálise, informações que possam ser utilizadas a fim de constituir um sujeito da
linguagem, do significante, instalado por um “outro”.
Assim, como nos aponta Levin (2003, p.16),
A operação clínica no campo psicomotor (referimi-nos
especificamente à leitura, ao olhar, à intervenção, à 'corporificação', à
interpretação, à observação), é efeito dessa rede transferencial, que
se transforma em um dos eixos centrais do tratamento, já que o
corpo adquire sua consistência em relação ao simbólico, à lei (à
proibição), que introduz a castração no corpo, e com ela a hiância
por onde emerge o desejo.
O que diferencia, portanto, a clínica psicomotora das outras modalidades é que o
ponto de partida dessa vertente trata do corpo e da motricidade de um "sujeito".
Para, então, entendermos melhor essas modalidades, é preciso conhecê-las:
a) a primeira idéia a surgir é a da prática reeducativa – esse corte é centrado no
aspecto motor-mental, ou seja, o corpo é instrumental, algo que precisa ser
consertado. É influenciado pela Neuropsiquiatria. Esta prática veio a ser
aprofundada com o surgimento da Educação Psicomotora;
b) a segunda idéia é o da terapia psicomotora – esse corte é centrado em um
corpo em movimento, que se coloca, que constrói, que sente, que emociona,
segundo Levin (2003), portanto, um corpo que é transformado num
instrumento de construção da inteligência humana, fundamentado na teoria
genética. Assim, esse corpo apresenta algumas dimensões, como a
instrumental, a cognitiva, a tônico-emocional;
c) atualmente a clínica psicomotora – da qual nos utilizamos para explicar este
trabalho – é o modelo prático inovador que vem centrado não no olhar para
um corpo, mas para um sujeito com seu corpo em movimento. Fundamentado
na teoria psicanalítica, inclui o inconsciente no âmbito psicomotor, o que
diferencia expressivamente esta das outras duas modalidades, pois a clínica
psicomotora ocupa-se, como nos diz Levin (2003, p. 42),
[...] do sujeito e não mais da pessoa, da transferência e não da
empatia, do vínculo ou da comunicação corporal; ocupar-nos da
vertente simbólica e não da expressiva, ou seja, implica que nos
detenhamos na estrutura dos transtornos psicomotores e não apenas
em seus signos.
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Assim, ainda nas palavras de Levin (2003, p. 42),
A clínica psicomotora é aquela na qual o eixo é a transferência e
nela, o corpo real, imaginário e simbólico é dado a ver o olhar do
psicomotricista. O sujeito diz com seu corpo, com sua motricidade,
com seus gestos, e, portanto, espera ser olhado e escutado na
transferência desde um lugar simbólico.
Diante do exposto, podemos dizer que a clínica psicomotora se ocupa do fazer e das
interrogantes que estão submersas no sujeito.
Para compreendermos melhor essa prática, é preciso conhecermos um pouco mais
sobre o sujeito que se pretende constituir, para, então, falarmos sobre a
necessidade do olhar e da transferência para essa formação.
[...] todas as manifestações de movimento corporal das quais o
indivíduo pode formar uma representação psíquica, através de
qualquer sistema de signos, e podem ser submetidas ao seu controle
voluntário. Compreendida como processo em construção, cujas
formas históricas se concretizam nas interações concretas do
homem com a natureza e com outros homens, emerge nas suas
diferentes manifestações como produto da interação dialética entre
as propriedades biológicas do organismo e as práticas sociais que
envolvem a ação de todas as instituições em seus aspectos
ideológicos e materiais (KOLYNIAK, 1997, p. 32).
Somos um todo, um complexo EU (CORPOREU), porém vivemos dissociados,
perdemos a relação harmoniosa que a natureza nos legou, dando à mente
soberania absoluta sobre nossa vida e ao corpo o papel secundário. Nosso corpo é
um manancial de informações precisas e verdadeiras. Por meio dele, podemos
tomar contato com os desequilíbrios instalados, amenizando-os, dissolvendo-os para
um melhor viver.
Os seres humanos são seres embutidos de linguagem, isso é o que o diferencia de
ser puramente “corpo”, portanto podemos dizer que somos sujeito com um corpo.
Essa linguagem simbólica que se estrutura vai determinar um sujeito, como
podemos perceber pela fala de Levin (2003, p. 50), “[...] o corpo humano , por assim
sê-lo, constitui-se por efeito da linguagem, e são estes efeitos dados pelo Outro os
que marcam o corpo de um sujeito desejante”.
Essa breve citação nos remete a uma outra também do próprio Levin (2003, p. 50),
que complementa dizendo, “Quer dizer que o simbólico, a linguagem, pré-existente
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ao nascimento da criança. O sujeito pré-existe ao corpo e subsiste após sua morte,
por exemplo, na lembrança, ou seja, no nome que nomeia este corpo”.
Assim, a constituição do corpo em sujeito começa antes mesmo de a criança nascer,
pela imaginação. Ou, melhor dizendo, pelo desejo de um Outro que simboliza um
corpo “feito”. Pela linguagem utilizada pelo Outro, esse corpo será apresentado à
criança, ou seja, ele será “tatuado” como um “mapa” construído, puramente “coisa”,
buracos, bordas protuberâncias, faltas, que irá marcá-lo e transformá-lo num corpo
erógeno e simbólico. Para esta tarefa de Outro, não poderíamos deixar de citar a
função materna e paterna, que se torna fundamental para o desenvolvimento
corporal.
Para reconhecer-se como corpo, é preciso que o outro também tenha um corpo. Por
isso, como nos mostra Levin (2003, p. 57),
Quando o processo de maturação fisiológica, neuromotora, permita
exercer o domínio real do seu próprio corpo e do seu funcionamento
motor, este domínio será exercido mas dentro do que previamente foi
constituído, transformado, no estádio especular.
É por esse motivo que Freud, segundo Levin (2003), insiste em dizer que o estádio
especular constitui-se a partir de um esquema corporal mental, isto é, na formação
do EU, que irá se projetar na elaboração de imagens que ele faz de si, criando
espaço entre o seu corpo e o do Outro. Nessa linha de reflexão, formam-se
conceitos corporalistas como o esquema corporal que se diferencia da imagem
corporal.
O esquema é o que podemos chamar de “configuração topográfica”, espacial do
corpo. É a representação que temos de nós mesmos; enquanto a imagem é
constituinte do sujeito desejante, está relacionada com o percurso libidinal que o
Outro esquematizou no corpo, portanto, inconsciente.
O corpo humano é feito da linguagem, que cria um sujeito e com ele o seu corpo e a
sua motricidade. Assim surgem as funções exercidas pelos psicomotricistas, que se
ocupam do ato psicomotor, do movimento e do fazer afetados e mediados pela
linguagem. Aqui um dos tipos de linguagem a que nos referimos é o olhar,
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Freud [...] chamaria esse olhar de energia, satisfação; ele o chamaria
de ‘objeto de pulsão, o olhar como objeto da pulsão. Portanto temos
o olhar como ato e como objeto pulsional, ou então o olhar como ato
pulsional e como maneiras de gozar na análise. O olhar é gozar na
análise; um dos modos pelos quais se goza na análise é olhando
(NASIO, 1995, p.17).
Por que o olhar é tão importante? Essa é uma questão que está sempre presente
em qualquer trabalho realizado. No trabalho psicomotor, vem ligado às experiências
vivenciadas com nossos clientes, ou seja, é uma manifestação típica de “sintomas”
que emerge na relação cliente – psicomotricista.
A função visual – escópica – do olhar no trabalho está intimamente ligada à escuta.
Assim, o olhar a que se refere não é só imagem, representa a palavra que é
escutada. Como podemos confirmar com Nasio (1995, p. 18),
A visão é o contexto em que se desenvolve, emerge, surge o olhar; e
é precisamente no campo global da visão – formado de imagens –
que vai surgir o olhar, num momento particular: o momento
fascinação.
Diante dessa afirmativa, podemos considerar, então, a relação existente entre o
olhar, o corpo e a linguagem. Um olhar que “escuta”, um corpo que “fala” e uma
linguagem que dá “significado”.
Ele ainda nos diz:
Ao contrário do ver, o olhar desperta fora de nós, é o resplendor
intenso de uma luz intermitente, da reverbação de uma luz
intermitente, de um foco luminoso intermitente, que não só nos atrai,
mas nos confunde, que nos cega e dissolve o eu imaginário que
somos.
O olhar, portanto, não está em mim, no EU, ele “surpreende” o EU. Isso porque ele é
um ato inconsciente desencadeado pela luz do Outro, traçado nas dimensões
simbólicas e reais das pulsões, advém de um significado expresso por meio da
linguagem.
É nessa fascinação do simbólico, do imaginário que surge o olhar, o olhar que
avalia, interage e responde.
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Um olhar que vê através de... além de... Neste trabalho, o olhar está focalizado no
TDA/H, popularmente conhecido e denominado hiperatividade. Mas que distúrbio é
esse?
O TDA/H é a desordem neuropsicomotora mais freqüente na infância e na
adolescência, afetando por volta de 6% dos indivíduos nessa faixa etária. Os
critérios para o diagnóstico do TDA/H incluem uma combinação de problemas com a
atenção, inclusive baixa concentração, distração, esquecimentos, erros freqüentes
por descuido e tarefas incompletas; e também por hiperatividade e impulsividade,
caracterizadas por inquietude, dificuldade para ficar sentado, fala excessiva,
interrupções freqüentes e tendência a não esperar a sua vez para fazer as coisas.
As crianças nessa idade têm dificuldades para manter atenção em atividades muito
longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Elas são facilmente
distraídas por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com
pensamentos “internos”, isto é, vivem “voando”. Como a atenção é imprescindível
para o bom funcionamento da memória, elas em geral são tidas como "esquecidas":
esquecem recados ou material escolar, aquilo que estudaram na véspera da prova,
etc. O fato de uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não
exclui o diagnóstico de TDA/H.
Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêem a pergunta até
o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de pensar).
Freqüentemente também apresentam dificuldades em organizar e planejar aquilo
que querem ou precisam fazer.
Seu desempenho sempre parece inferior ao esperado para a sua capacidade
intelectual. O TDAH não se associa necessariamente a dificuldades na vida escolar,
embora esta seja uma queixa freqüente de pais e professores. É mais comum que
os problemas na escola sejam de comportamento que de rendimento (notas).
Como a prática da clínica psicomotora pode auxiliar o sujeito a desenvolver-se?
Essa prática trabalha com uma interrogante psicanalítica denominada transferência,
que é o meio que o terapeuta usa para relacionar-se com o sujeito. Nesse processo
clínico, encontra-se o brincar, que é a manifestação espontânea da “singularidade
do sujeito”. Pelo brincar, o sujeito se coloca em jogo de transferência, movimentando
seu corpo livremente.
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Levin (2003, p. 124) nos expõe sobre isso, afirmando: “[...] é ali na transferência [...],
onde coloca em jogo o desejo da criança, onde o brincar do corpo, o seu
posicionamento corporal é dado a ver ao olhar do psicomotricista.”
Nessa manobra, a criança supõe que o terapeuta possui o saber, deixando-se levar
pela interação transferencial, indicando, inconscientemente, tudo que é necessário
para essa intervenção. O terapeuta então “encarna” nesse jogo simbólico do Outro –
sujeito acolhendo as informações de que precisa para desenvolver um trabalho
psicomotor.
Como o sujeito diagnosticado hiperativo usa seu corpo constantemente, por meio
dos movimentos, reações tônicas, sons, articulações, cria-se uma clínica em
transferência; lugar onde a retórica corporal do sujeito é dada a ver ao olhar do
Outro (terapeuta). Graças a essa ação, podemos intervir na relação corporal do
sujeito hiperativo analisando-o, desdobrando-o, sem necessidade de utilização de
medicamentos, testes padronizados, de ordem reeducativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa abordagem, ficou provada que o transtorno não é uma questão apenas de
motricidade, mas também psíquica. Aqui, o corpo é visto como um “receptáculo”, um
lugar de inscrição do Outro. Esse Outro se denomina geralmente aquele que serve
de fio condutor, que introduz esse corpo no universo simbólico. A criança portadora
do TDAH ou com instabilidade psicomotora não consegue metaforizar seu corpo,
representá-lo simbolicamente, ficando atrelada ao desejo e aos demandos do Outro.
É pelo jogo na relação com o Outro, no brincar, que a criança forma sua imagem
corporal. Quando isso não acontece, ela poderá apresentar sintomas do TDAH e
permanecer nesse estado instável por toda a sua vida, sendo, assim, rotulada,
excluída muitas vezes do meio ao qual pertence.
O que se propõe é que se faça um trabalho com o corpo, não para verificar a
motricidade, mas para observar a psicomotridade, o que deseja esse sujeito, quais
as suas queixas, ter consciência de que o corpo não é um amontoado de carne e
osso, mas algo que precisa atingir o simbólico.
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REFERÊNCIAS
1 LEVIN, Esteban. A função do filho: espelho e labirintos da infância. Tradução de
Ricardo Rosencusch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
2 _______. A infância em cena: constituição do sujeito e desenvolvimento
psicomotor. Tradução de Lúcia Endlich Orth e Epraim Ferreira Alves. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1997.
3 _______. A clinica psicomotora: o corpo na linguagem. 4. ed. Tradução de
Julieta Jerusalinsky. Petrópolis: Vozes, 1995.
4 CONSCIENTIA. Revista da Sociedade
Consciência, n. 2, abr./jun. 1997.
Brasileira
de
Pesquisas
da
5 GAIARSA, José Ângelo. O espelho mágico: um fenômeno social chamado alma.
13. ed. São Paulo: SUMMUS, 1984.
6
NASIO, Juan-David. O olhar em psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
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