CARACTERIZAÇÃO DE SENSOR INERCIAL E APLICAÇÃO EM BARCO AUTÔNOMO
José Maria Cipriano Torres (IC)
Elder Moreira Hemerly (PQ)
Resumo: Este trabalho teve por objetivo caracterizar sensores inerciais, especialmente os do tipo
piezoelétricos, e desenvolver um programa de aquisição de dados da plataforma inercial de um barco
autônomo através de um conversor analógico digital. Seis sinais foram lidos do sensor: três referentes
a acelerações lineares e três referentes a velocidades angulares.
Abstract: This work aims to characterize inertial sensors (INS), especially piezeletric sensors type,
and develops a computational program of data acquisition from a autonomous boat’s inertial platform
through analogical /digital converter. Six signals were read from the sensor: three signals of linear
acceleration and three signals of angular velocities.
1) Introdução
Este projeto de pesquisa visa ao estudo de sensores inerciais, particularmente os do tipo
piezoelétricos, bem como a aquisição de seus dados por um computador através de um conversor
analógico/digital, determinando assim a atitude (posição e orientação) de um corpo móvel. Neste caso,
os trabalhos foram voltados a um barco autônomo que se encontra em implementação nos
Departamentos de Sistemas e Controle - IEES e Telecomunicações - IEET do ITA.
Tipicamente vários sensores são utilizados para a navegação, havendo dois tipos
complementares de sensores: aqueles que possuem grande precisão em curto prazo, mas com deriva,
ou seja, dados que se tornam discrepantes com o decorrer do tempo, e aqueles cuja precisão não se
degrada com o tempo. O sensor tipo inercial é o principal representante da primeira classe, e o GPS é
um exemplo típico da segunda classe.
2) Navegação Inercial
Navegação pode ser definida como o processo de direcionar os movimentos de um corpo móvel
de um determinado ponto a outro. Tal definição implica dois tipos de operações: primeiro, a
determinação de uma posição e velocidade inicial do veículo em relação a um sistema referencial
conhecido e, segundo, guiar, ou seja, modificar o curso do veículo tal que o destino desejado seja
alcançado.
Desde a década de 40, os sistemas de navegação, em especial os sistemas de navegação inercial
(INSs: inercial navigation sistems) tornaram-se importantes componentes em aplicações científicas e
militares.
A Navegação Inercial baseia-se em medições das acelerações e velocidades angulares do corpo
em movimento em relação a determinado sistema de referência. Tais medições são obtidas por
instrumentos que empregam as leis newtonianas de movimento. Girômetros e acelerômetros podem
fornecer os sinais necessários para uma navegação autônoma, sendo que os girômetros medem as
rotações e os acelerômetros, as acelerações. Através de processos de integração, torna-se possível
obter velocidade e posição, bem como determinar a orientação do corpo.
Há vários motivos práticos pelos quais os sistemas de navegação inercial têm sido
desenvolvidos como substitutos, ou em suplemento, a outros métodos nos dias de hoje. No entanto, é
fácil citar um motivo bem evidente para tal fato: as leis de movimento são simples, exatas, completas e
universais.
Qualquer sistema de navegação inercial precisa resolver a equação de aceleração do corpo para
obter a velocidade e a posição através de valores pré-determinados de acelerações iniciais e intervalos
de tempo. Para tal, torna-se necessário escolher o tipo de mecanismo adequado a cada situação, tais
como o melhor arranjo mecânico, o sistema de coordenadas apropriado, o sistema de hardware a ser
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empregado, etc. No fluxograma abaixo, é mostrado o inter-relacionamento entre os diversos tipos de
sistemas empregados na navegação.
Figura 1 – Fluxograma
3) Plataformas Inerciais
Basicamente, há dois tipos de arranjos mecânicos possíveis: sistemas com plataforma
estabilizada (mechanized-platform) e sistemas com plataforma solidária (strap-down).
Nos sistemas mechanized-platform, a plataforma mantém-se orientada de acordo com um
sistema de coordenadas específico, que é o referencial de navegação. Isto é conseguido mantendo os
sinais de saída dos girômetros sempre iguais às taxas de rotação computadas para o referencial de
navegação. A orientação desejada requer, então, o emprego de um servomecanismo. Sendo assim, a
plataforma não experimenta nenhuma rotação em relação ao referencial de navegação, apesar do
veículo estar em movimento, mantendo-se sempre alinhada com este. Nessa aproximação, os
acelerômetros medem as acelerações relativas ao referencial de navegação, sendo a orientação do
veículo determinada pelas medidas dos ângulos relativos entre os eixos do veículo e da plataforma.
Já nos sistemas do tipo strap-down, os sensores são afixados ao chassi do veículo, mantendo o
eixo da plataforma alinhado ao eixo do veículo. Com essa aproximação, torna-se necessária uma
conversão entre o referencial de navegação e o do veículo. O referencial deste é definido da seguinte
maneira: a origem está situada num ponto que corresponderia ao centro de gravidade do veículo; o
eixo x aponta na direção do movimento; o eixo z aponta para o fundo do veículo; e o eixo y completa
o sistema ortogonal apontando para a direita. Os ângulos de rotação medidos em relação ao referencial
de navegação pelos girômetros são computados, operando nos sinais de saída dos acelerômetros,
permitindo-se obter os valores corretos de aceleração em relação ao referencial de navegação. Pode-se
concluir, portanto, que é exigido um aparato computacional bem maior neste tipo de sistema.
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Figura 2 – Barco Autônomo com a plataforma inercial solidária.
4) Componentes de um sensor inercial
4.1 Acelerômetros
Tem-se basicamente três componentes básicos em um acelerômetro:
a) uma massa, geralmente chamada de massa de prova;
b) um arranjo, no qual está localizada a massa;
c) um dispositivo, que nos dá os valores de aceleração medidos.
Os sensores inerciais que estamos estudando são compostos por materiais do tipo
piezoelétrico, ou seja, materiais que, quando sujeitos a deformações, geram tensões em seus terminais.
Através da figura abaixo, que representa um sistema típico massa-mola, não fica tão óbvio estabelecer
uma analogia com sensores do tipo piezoelétrico e saber exatamente o que cada elemento representa.
A massa, por exemplo, seria o próprio bloco; a mola seria representada pela própria elasticidade do
arranjo; já as tensões elétricas geradas, decorrentes dos efeitos piezoelétricos, entrariam como
parâmetros nas medições das acelerações.
Figura 3 - Acelerômetro massa-mola ideal
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4.2 Girômetros
Um girômetro, em sua forma mais simplificada, pode ser encarado como um rotor montado
sob uma estrutura que permite uma liberdade de inclinação do eixo de spin relativamente à base na
qual é fixado. A essa estrutura mecânica, dá-se o nome de gimbal. O funcionamento de um girômetro
está baseado em um fato experimental: um corpo com seu eixo de spin apontando em determinada
direção preserva tal direção em um grau bem maior se comparado com um corpo não em rotação. Tal
fato decorre das leis de Newton.
O rotor é feito de material rígido, não sujeito deflexões angulares. Se aplicarmos um torque
sobre um eixo transversal ao eixo de spin, o rotor passa a girar em torno de um terceiro eixo. A esse
movimento inclinado, dá-se o nome de precessão.
Figura 4 – Esquema de um girômetro
4.3 Sensor Inercial Utilizado
Fig.5 - Desenho esquemático do MotionPack
O sensor inercial utilizado neste projeto é denominado de MotionPack, sendo fabricado pela
Divisão Inercial da Sistron Donner. É um sensor que apresenta seis graus de liberdade, empregando
três girômetros e três acelerômetros na medição de movimentos lineares e rotacionais. É alimentado
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por uma fonte DC, disponibilizando seis sinais analógicos de saída, três para aceleração e três para
velocidade angular.
5) Programa de aquisição de dados provenientes do sensor inercial
O grande objetivo do projeto foi a elaboração do software para aquisição de dados
provenientes do sensor inercial MotionPack. O conversor analógico-digital empregado inicialmente
foi uma placa conversora denominada PCL-711B PC-MultiLab. Encontraram-se duas dificuldades
principais: a primeira dificuldade foi ler os seis canais da placa e a segunda, o compilador empregado,
que só permitia trabalhar em ambiente DOS.
Passou-se a empregar o compilador Microsoft Visual C++ 6.0, o que permitiu que o trabalho
fosse realizado em ambiente Windows. O programa lê os dados provenientes do sensor e exibe na tela
a variação desses sinais com tempo através da projeção de um gráfico.
Sensor Inercial
•
•
3 velocidades
angulares
3 acelerações
lineares
Conversor analógico/digital
Programa em C
•
•
Lê os seis canais do sensor
Plota dois gráficos: o das acelerações lineares e o das
velocidades angulares
Figura 6 - Resumo esquemático do programa
6) Conclusões
Não foi possível dar uma atenção especial à aplicação em barco autônomo. Uma das razões
principais foi o grande tempo que foi necessário para efetuar a leitura dos canais do sensor inercial.
Apenas conseguia-se ler um dos canais isoladamente, não sendo possível ler mais de um
simultaneamente.
O Sistema de Navegação Inercial, que foi o objetivo deste trabalho, será de fundamental
importância para a automação do Barco Autônomo, que é fonte de outros trabalhos nos Departamentos
de Sistemas e Controle e Controle Aeroespacial, que incorpora o subproblema da Navegação. O
desenvolvimento e a implementação do software para aquisição dos sinais provenientes do sensor
inercial possibilitará para os trabalhos futuros desenvolver sistemas que possam controlar a trajetória
do barco, guiando por pontos pré-determinados.
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7) Agradecimentos
Agradecemos ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/ITA pelo
apoio e auxílio financeiro. Agradecemos também ao professor Elder Moreira Hemerly pelo apoio
técnico e orientação.
8) Referências Bibliográficas
[1] Jay Farrel e Matthew Barth, The Global Positioning System and Inertial Navigation,
McGraw – Hill Companies, 1999
[2] Anthony Lawrence, Modern Inertial Technology, Springer-Verlag, Nova Yorque, 1993
[3] University of California, Engineering and Physical Sciences Extension Series, Inertial
Guidance, Nova Yorque, Wiley, 1962
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Caracterização de sensor inercial e aplicação em barco