Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 Wille, Danielle Neugebauer; Universidade Federal de Pelotas [email protected] Souza, Helen Pinho; Universidade Federal de Pelotas [email protected] Silva, Mariana Britto Madruga da; Universidade Federal de Pelotas [email protected] Ferreira, Mauricio Machado Universidade Católica de Pelotas [email protected] Igansi, João Fernando; Dr; Universidade Federal de Pelotas [email protected] Resumo Tendo como referência o projeto desenvolvido no Instituto de Artes e Design: Memória Gráfica de Pelotas, 100 anos de Design, que propõe identificar, categorizar e analisar fontes bibliográficas e dados sobre o desenvolvimento do Design Gráfico em Pelotas, e a partir das fontes locadas no Acervo da Biblioteca Pública Pelotense, vêm-se, nesse artigo, aprofundar o estudo sobre a história do design e sua atuação na área editoral, assim como analisar os anúncios publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918. Através desta pesquisa, busca-se fazer um levantamento histórico, analisar o estilo gráfico utilizado, relacionando a linguagem gráfica dos anúncios com a época (tempo), com a temática (produto) e com a tecnologia, e determinar a relevância desse resgate da produção local através de estudo analítico dos elementos gráficos. Palavras Chave: Design; Almanaque; publicidade. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 Abstract With reference to the project developed at the Institute of Arts and Design: Graphic Memory of Pelotas, 100 years of Design, which proposes to identify, categorize and analyze data and bibliographic sources on the development of Graphic Design in Pelotas, and from sources in Collection Public Library Pelotense this article further study on the history of design and their work in editorial, and analyzing the advertisements published in the "Almanach de Pelotas" from 1913 to 1918. Through this research, we try to do a historical survey, analyze the graphic style used, relating the graphic language of the ads with the time (time), with the topic (product) and with the technology and determine the relevance of this rescue of the production place through analytical study of the graphics. Keywords: Design; Almanac; advertising. Metodologia Primeiramente, desenvolveu-se uma busca bibliográfica e documental acerca do tema. Tendo como base a pesquisa supracitada, ao analisarmos os anúncios presentes nos Almanachs de Pelotas, fez-se o recorte referente aos anúncios do Elixir de Nogueira, o recorte temporal foi de 1913 a 1918. Esta escolha deu-se em decorrência da grande presença de anúncios relacionados a produtos farmacêuticos nos almanaques e das características gráficas neles apresentadas, as quais muito informam sobre o estilo e valores da sociedade contemporâneos a sua produção. A análise, que contempla uma reflexão acerca dos aspectos sintáticos e semânticos próprios dos anúncios, propiciou as relações entre Design Gráfico e o contexto histórico requeridas neste estudo. Introdução Historicamente foi no século XIX que Pelotas evolui de simples povoação para próspera cidade. Sua economia, nesse período, centralizava-se na produção de charque, ao decorrer do tempo, os charqueadores passaram a ser aristocratas possuidores de riqueza e importância, o poder econômico advindos desse comércio permitia a eles o acesso a cultura européia, o hábito da leitura, a freqüência aos salões e aos teatros (MAGALHÃES, 1999) A expansão social possibilitou o crescimento populacional, através da alta taxa de natalidade, ou ainda por meio de imigrações, estes empreendimentos propiciaram condições para que Pelotas passasse de vila ao status de cidade. A partir da atividade econômica do charque, surgiu uma elite que propiciou o desenvolvimento de outras atividades lucrativas, como as indústrias de fabricação de velas e sabão, além da importação de maquinário europeu para implantação de um sólido setor secundário, com um distrito industrial que adquiriu importância, tanto em termos de quantidade como de qualidade. Nesse sentido o porto de Rio Grande foi significativo para o contato da emergente Pelotas com os países da Europa, constantemente e em larga escala, através dos navios a vapor, os produtos estrangeiros chegavam à cidade e, neles, o acesso aos costumes europeus. Nesses navios, que tanto exportavam o charque, quanto importavam maquinários chegavam também adereços e louças, bem como livros, revistas de moda, e o açúcar do nordeste (essencial para a produção dos reconhecidos doces pelotenses). Era também no porto que desembarcavam europeus que ofereciam seus serviços técnicos como artistas, músicos e educadores e outras profissões desejadas por uma sociedade que estava sedenta de cultura e de modernização. Neste cenário houve o desenvolvimento de escolas, clubes, associações e a 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 indústria gráfica, que surge para atender a demanda dos jornais. Nesse contexto estão inseridos os almanaques que se tratavam de periódicos populares anuais. Um almanaque é um guia, um instrumento onde se encontram elementos para a organização do cotidiano, sem perder um sentido original de contagem. A noção de almanaque tenderá a refletir a idéia de compilação dos saberes, em particular destinados aos públicos de pouco acesso a outras leituras (LISBOA, 2002, p.11-22) Os almanaques assim configurados obtiveram grande aceitação do público brasileiro e pelotense, pois acompanhavam o leitor o ano todo, além de fornecerem informações possuíam muitos artigos, histórias, poemas e publicidade. Em alguns locais eles antecederam os jornais e as revistas de grande circulação sendo, portanto de extrema importância para o acesso à leitura. O século XIX assistiu uma verdadeira explosão do público leitor que somado ao barateamento nos processos de impressão, levaram a uma grande progressão nos meios de comunicação. (Cardoso, 2000, p. 40) O Almanach de Pelotas Nosso objeto de estudo, trata do periódico Almanach de Pelotas, de publicação anual, impresso na gráfica do jornal Diário Popular. O almanaque entrou em circulação no ano de 1913. Seu conteúdo continha textos, e dados sobre melhorias na cidade, informações sobre cidadãos ilustres, instituições de atendimento ao público e do comércio local. É destacada a grande quantidade de anúncios, que estavam localizadas em uma seção especial e alternadamente entre as páginas e alguns rodapés, isso deixa explicito o caráter comercial do almanaque. Suas dimensões de página aberta são de 29,0 x 22,0 cm, e sua impressão era dada em tipografia e clichês. Nos anúncios esses recursos eram extremamente explorados, como nas orlas, filetes, além das ilustrações detalhadas utilizando a técnica de hachura, evidenciando o potencial existente nas gráficas instaladas na cidade de Pelotas. Elixir de Nogueira Como já mencionado, os anúncios formavam grande parte do conteúdo do Almanach de Pelotas, especialmente os destinados a saúde promovidos pelas indústrias farmacêuticas e os boticários. Cerca de 54% dos anúncios presentes no periódico possuem essa temática. Entre eles, está o “Elixir de Nogueira, Salsa, Caroba & Guáiaco”, o produto pertencia ao senhor João da Silva Silveira, farmacêutico de Pelotas, contudo desde 1918, o produto já era fabricado no laboratório instalado no Rio de Janeiro. O Elixir de Nogueira data de uma época em que não existiam antibióticos e que a população em geral ignorava a existência de microorganismos como causadores de doenças. A idéia corrente é que várias doenças eram causadas por impurezas no sangue, e que elas poderiam ser curadas por medicamentos ‘depurativos’. Atribuía-se às plantas contidas no elixir a capacidade de, principalmente, curar a sífilis e purificar o sangue, propriedades que não são confirmadas pela atual literatura farmacêutica (SIMÕES, 2007) O elixir era uma forma farmacêutica que continha geralmente de 20% a 50% de álcool que vinha, geralmente, de extratos alcoólicos de plantas medicinais usados para compor o elixir, como, por exemplo, extratos de nogueira, salsa, caroba e guáiaco no caso do Elixir de Nogueira. (PRISTA, 2003). Análise gráfica dos Anúncios 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 Ao desenvolver a análise foi levado em conta o caráter publicitário dos anúncios, onde assumem a postura de atuar sobre a sociedade, revelando suas prioridades, e suas transformações. Além disso, foi observada a evolução dos anúncios (Figura 1), propondo breves comparações quanto seus elementos gráficos e formais. . Figura 1: Anúncios do Elixir de Nogueira de 1913, 1914, 1915, 1917 e 1918, respectivamente. O Anúncio de 1913 (Figura 2) é o que mais se diferencia dos demais, suas medidas seguem o padrão da mancha gráfica do próprio almanaque, medindo 19,5 X 10,0 cm. O anúncio é envolvido por ornamentos orgânicos, característicos da época, eles transmitem apuro e refino. Nessa composição simétrica está inserida ao centro uma forma retangular de cor preta chapada e nele estão inseridas as informações textuais com letras vazadas, o que nos leva a supor que o anúncio foi criado a partir de um clichê previamente desenvolvido para anúncios em jornais da época, principalmente por causa do formato reduzido que causa estranhamento. Apesar do pequeno espaço que se condensa as informações, são utilizadas cinco tipografias, para o nome do produto, destacada ao centro, usa-se fonte bastão, condensada e bold. Figura 2: Anúncio do Elixir de Nogueira de 1913 Nos anos de 1914 e 1915 (Figura 3) o anúncio do Elixir de Nogueira ganha diferenciação através do formato, em 1914 seu tamanho é de 28,0 x 22,0 cm, assim o anúncio possui três dobras. A mancha gráfica é de 26,0 x 21,3 cm, neste exemplar há um pequeno deslocamento da impressão na parte inferior do anúncio, devido a um problema de encaixe, no verso da página é anunciado o Diário Popular (jornal responsável pela impressão do almanaque) que está corretamente centralizado. A grid do anúncio é composta por três colunas de 9,2, 7,6 e 9,2 cm respectivamente, cada uma possui adornos no seu entorno. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 Figura 3: Anúncios do Elixir de Nogueira de 1914 e 1915 respectivamente Na primeira coluna o ornamento é orgânico, lembrando a aplicação contida no anúncio de 1913, linear e simétrica, ao centro estão às informações de identificação do produto e o endereço da empresa na cidade de Pelotas. As tipografias são extremamente variadas, apenas no nome do produto são utilizadas três, a palavra “Elixir” está em bastão, caixa alta, bold e condensada; “De” em fonte serifada, caixa alta, baixa, com preenchimento hachurado, no “Nogueira” a fonte é bastão, regular, com a haste do n prolongada à esquerda da página. O contorno no segundo espaço é geométrico e contém a ilustração do produto. A simulação volumétrica é dada pela utilização de hachuras, e sua impressão era viável graças aos clichês. Ao centro do rótulo é observado o busto do proprietário da fábrica, e o número que supostamente se tratava do registro do produto, essa ilustração detalhada demonstra a preocupação do anunciante com as possíveis falsificações e busca através disso, estratégias para facilitar o reconhecimento pelo consumidor. Na última coluna, é destacada a frase “único que cura a syphilis”, e o endereço do depósito geral e da casa filial, localizados no Rio de Janeiro. A orla nesse segundo espaço é orgânica, menos expressiva que no primeiro, e existe uma profusão de elementos gráficos, criando a impressão de três ornamentos, colocados um dentro do outro. Em 1915 novamente tem-se um formato diferencial do periódico, menor que o anterior, possui dimensões de 26,0 X 22,0 cm, uma dobra, sendo que não são mais envoltos por ornamentos. No lado esquerdo está a ilustração do produto, e no direito o bloco de texto, contendo o nome do produto, “vende-se” logo abaixo acompanhada por uma ilustração de uma mão apontando para a palavra, local de venda, e o endereço pelotense, benefício e endereço carioca. Novamente há um grande uso de diferentes tipografias, além de diferenciação através do sublinhado, bold. Outros elementos gráficos reforçam a centralização das informações e a simetria do anúncio. Nos anúncios de 1917 e 1918 (Figura 4) verifica-se uma maior hierarquia das informações e o estabelecimento de uma identidade pela repetição dos elementos. A mancha gráfica segue o padrão do almanaque, e novamente são inseridos arabescos orgânicos com estilo art nouveau envolvendo o anúncio de forma retangular. À esquerda recebe destaque o próprio produto, e à direita estão listadas as moléstias para as quais o produto é indicado. Convém observar ainda, que embora nos anúncios exista uma grande variação da utilização de tipografia e elementos decorativos, a ilustração do rótulo permanece idêntica ao longo dos quatro anos em que é utilizada. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Análise Gráfica dos Anúncios “Elixir de Nogueira” publicados no “Almanach de Pelotas” de 1913 a 1918 Figura 4: Anúncios do Elixir de Nogueira de 1917 e 1918 respectivamente Conclusão Tendo em vista a contextualização e os pressupostos acima enunciados, podem-se identificar algumas características representativas nos anúncios Elixir de Nogueira, inseridos no Almanach de Pelotas. Primeiramente as informações textuais fazem referência à exclusividade do produto como na expressão “único que cura a syphilis”, e ainda chama a atenção do consumidor para os possíveis plágios do produto nas frases ”nada de enganos” e “cuidado com as imitações”, essa preocupação quanto às cópias é interpretada também na utilização de uma ilustração detalhada do próprio produto. No que se refere aos elementos gráficos é aparente uma grande variedade de ornamentos decorativos alterados a cada ano, a tipografia também e diversificada, esse recurso causava uma hierarquia de informações, contudo a excessiva diferenciação promove pouca unidade e coesão entre os anúncios. Essas características formais estão presentes em outras publicidades do periódico e refletem o estilo da época, ainda que estivessem ocorrendo grandes evoluções na área tecnológica, como por exemplo, a utilização dos clichês para ilustrações, o pouco conhecimento formal dirigia os esforços para chamar atenção dos leitores através da decoração por ornamentos. Referências CARDODO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000 LISBOA, João Luís. Os Sucessores de Zacuto: o almanaque na Biblioteca Nacional do século XV ao XXI. Portugal, 2002. MAGALHÃES, Mario Osório. Histórias e Tradições de Pelotas. Pelotas: Editora Armazém Literário, 1999. PARADEDA, Florentino. Almanach de Pelotas (1913 – 1918). Officinas Typographicas do Diário Popular. Acervo Histórico da Bibliotheca Pública Pelotense. PRISTA, Luís Vasco Nogueira. Tecnologia farmacêutica - V. II. 6ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G. Farmacognosia: da Planta ao medicamento, Porto Alegre/Florianópolis Ed.Universiadde/UFRGS/Ed. Da UFSC, 2007. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design