DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A FORMAÇÃO DE UM
ESPAÇO POLARIZADO NA MESORREGIÃO SUL CEARENSE: os
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha
Cícero Alves dos Santos*
Francisco do O’ de Lima Júnior**
RESUMO
O ressurgimento das preocupações com o desenvolvimento regional a partir da dinamização das atividades econômicas
admite também a retomada de estudos como de aglomerados, urbanização e polarização. Este trabalho tem por objetivo
estudar a formação do espaço polarizado da Região do Cariri cearense, a partir da dinâmica dos municípios de Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha. Com isso, realizou-se estudo bibliográfico no intuito de fundamentar a discussão sobre
o processo de polarização. Posteriormente fez-se levantamento de dados secundários em órgãos de pesquisa (IPEA,
IPECE, IBGE, MTE), buscando a evolução de informações referentes à população, atividades econômicas e emprego.
Observou-se o nível de polarização dos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, além dos serviços atinentes
ao avanço de urbanização. No entanto, foi o setor da indústria de transformação um dos geradores de empregos nos
três municípios e, conforme observado, em 2010 foi responsável 17.789 empregos formais, que equivale a 28% dos
empregos dos três municípios. Considerando que a maior parte dos demais 23 municípios que compõem a Mesorregião
Sul Cearense, tem em média uma população de 20.000 habitantes, este número de empregos demonstra o processo
de polarização vivenciado por Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.
Palavras-chave: Processo de Polarização. Municípios de Crato. Juazeiro do Norte e Barbalha.
ABSTRACT
The resurgence of concerns for regional development based on promoting economic activities also admits the resumption of
studies such as clusters, urbanization and polarization. This work aims to study the formation of the polarized space of the
Ceará region, Cariri, from the dynamics of the municipalities of Crato, Juazeiro do Norte and Barbalha. With this, a study of
the literature was conducted with the intent to support the discussion of the polarization process. As a later consideration,
we collected secondary data in research institutions (IPEA, IPECE, IBGE, MTE), seeking the evolution of information regarding
the population, economic activities and employment. The level of polarization of the municipalities of Crato, Juazeiro
do Norte and Barbalha was observed, aside from the services related to the advancement of urbanization. However, the
sector of the processing industry was one of the generators of jobs in the three municipalities and, as noted, in 2010, it was
responsible for 17,789 formal employment jobs, equivalent to 28% of the jobs of the three municipalities. Whereas most of
the other 23 counties that comprise the South Ceará Mesorregion have an average population of 20,000 inhabitants, the
number of jobs demonstrates the process of polarization experienced by Crato, Juazeiro do Norte and Barbalha.
Keywords: Process Polarization. Municipalities of Crato, Juazeiro do Norte and Barbalha.
* Mestrando em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA).
[email protected]
** Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre em Economiapela Universidade Federal de
Uberlândia (UFU). Professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA).
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Cícero Alves dos Santos, Francisco do O’ de Lima Júnior
1. INTRODUÇÃO.
O presente trabalho tem por objetivo estudar os aspectos de polarização no
estado do Ceará tendo como caso específico os municípios de Crato, Juazeiro do Norte
e Barbalha, localizados na Mesorregião Sul Cearense, na Região do Cariri. Utilizou-se
durante sua elaboração a metodologia de caráter dedutivo partindo de uma
generalização teórica para um caso particular, procurará perceber o processo de
polarização da região do Cariri cearense, tendo como referência os municípios que
compõem o triângulo CRAJUBAR, ou seja, Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. A
hipótese que conduzirá a realização deste estudo é a admissão de que, com base no seu
dinamismo diferenciado, estes municípios vivenciam tal processo de polarização. O
desempenho dos seus setores de atividade econômica, a atratividade exercida por estes
municípios, entre outros elementos, podem ser apontados como concretização de tal
processo.
A base de informações que embasará a discussão empírica será levantada em
banco de dados de organismos públicos como Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada - IPEA e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado do Ceará – IPECE
cujas bases estatísticas são alimentadas por informações do Instituo Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE.
Para alcançar os objetivos propostos, o trabalho está dividido em três partes além
desta introdução. Na seção seguinte será trabalhado a construção de um quadro teórico
expondo principais correntes que têm na sua centralidade a problemática da polarização
dando fundamento à ocupação diferenciada do espaço pelas atividades econômicas.
Posteriormente no item três far-se-á uma breve discussão sobre as mudanças
econômicas que tomam corpo definitivo a partir dos anos 1980 e seus efeitos nas
redefinições do espaço econômico no Estado do Ceará. Em seguida, serão apresentados
os elementos de polarização da Região do Cariri presente na dinâmica dos municípios
de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha para. Para encerrar, são construídas algumas
conclusões.
2. MARCO TEÓRICO E FORMAÇÃO DO ESPAÇO POLARIZADO.
O foco de discussão da questão regional surge com vigor após a Segunda
Guerra mundial, com base nas mudanças que ocorreram na composição do espaço seja
político, geográfico e/ou econômico. É a partir da adoção das políticas para o
planejamento regional, ancoradas na forma de intervenção capitalista no processo de
adaptação da sua lógica de penetrar em novos mercados que se manifesta a preocupação
com a ocupação desigual das atividades econômicas no espaço. Neste sentido, inúmeras
interpretações abordam tal problemática
Existem muitos exemplos da contribuição da ciência regional, da
geografia e do planejamento regional para a difusão do capital; é o
caso da polarização de teorias tais como as dos lugares centrais, a dos
pólos de crescimento, a da descentralização e desconcentração
industrial das grandes cidades, a da industrialização deliberada e
descentralização concentrada. (SANTOS, 1979, p. 12)
Na evolução do pensamento econômico, a preocupação com a ocupação do
espaço pelas atividades econômicas não está na centralidade das análises. Ela aparece
no caso específico de avanço da agricultura sobre terras improdutivas forjando a
concepção de rendimentos decrescentes no pensamento clássico ricardiano bem como
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sua justificativa de especialização em vantagens comparativas de custos por parte dos
países e regiões (FURTADO, 1968). A partir daí, a presença do espaço nos estudos
econômicos reaparece dentro numa concepção da organização industrial locacional
proposta por Marshall. Em tal perspectiva, a presença de vários empreendimentos num
mesmo espaço permite a percepção de externalidades, dado a convergência de fatores
que fluem atraídos pela presença dos empreendimentos, assim como o desenvolvimento
de redes inter-empresariais com base em nexos numa cultura de cooperaçãoconcorrência. (MARSHALL, 1982).
Já no século XX, com os estudos de François Perroux, no final dos anos 1950,
que o discurso sobre a ocupação espacial diferenciada pelas atividades econômicas tem
grande avanço subsidiando o debate em torno da problemática regional bem como o
processo de desenvolvimento como um todo,
[Partindo] da constatação de que o desenvolvimento é desequilibrado,
faz-se a partir de pólos (de núcleos de atividades) que é preciso
transformar, através de um ordenamento consciente do meio de
propagação, num desenvolvimento induzido organizado. (PERROUX
apud BENKO, 1999, p. 10)
Para Benko (1999) tal enfoque teórico é definido pela noção de economia
espacial dentro de uma perspectiva de teorias burguesas de pólo de crescimento, onde o
pólo não aparece em todas as partes simultaneamente, mas manifesta-se em pontos ou
pólos de crescimento de intensidade variável, difundindo-se através de diversos canais.
Esta percepção é uma das condições que levam ao desenvolvimento que por sua vez,
também se constitui num processo desequilibrado.
É na visão das políticas marxistas que vem a sua critica às idéias alinhadas à
concepção de Perroux, ou seja, apontando que as teorias burguesas em vez de contribuir
para o desenvolvimento regional, têm resultados contrários, convergindo para que haja
uma maior concentração do espaço e das formas produtivas mais voltadas para servir o
capital (LIPIETZ, 1998).
Por outro lado, seguindo a concepção de Perroux (1967), as teorias regionais de
natureza burguesa apontariam para ganhos econômicos propondo investimentos
públicos ou privados. Com relação ao espaço privado, quando bem estabelecido no
espaço formaria a região dominante passando a agir como centro pólo na ocupação.
Segundo Lemos, Santos e Crocco (2005) a relevância deste debate retomado no início
dos anos 1990 foi motivado também pelas transformações econômicas na economia
mundial que estão nos limites das discussões entre a economia industrial, as estratégias
empresariais e o desenvolvimento econômico, culminando com o processo de formação
de aglomerações produtivas.
O pensamento de Perroux passa a ser parte fundante da noção de economia
regional visto que os movimentos de polarização com base na aglomeração se
constituem na consolidação de um espaço com poder de dominação sobre os demais do
seu entorno, sob a presença de indústrias e setores motrizes que levam ao encadeamento
de demais setores e espaços.
Portanto, para se entender o processo de polarização regional é preciso observar
que ele se estabelece pela formação de aglomerados de regiões, sejam concretas ou
abstratas. Nesse contexto, as regiões concretas serão a própria instalação física do
espaço. Já no espaço abstrato as regiões irão depender da formação de um sistema no
espaço político, econômico e social. (FERREIRA, 1989).
Também buscando uma taxonomia em torno da classificação das regiões,
Perroux apud Lipietz (1998) afirma que no contexto espacial regional, as regiões estão
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classificadas em três fases: regiões homogêneas, que são representadas pelo espaço
homogêneo; regiões polarizadas, definida pela existência de um pólo e sua periferia; e
por ultimo, as regiões planejadas (plano-programa) que partem do gerenciamento
principalmente da participação do governo ou do setor privado, através da adoção de
políticas públicas eficazes.
A caracterização e formação de uma região polarizada ocorre pela
heterogeneidade de seus elementos, organizados pela existência de centro dominante
que se complementará com os outros espaços periféricos subordinados. Seus resultados
causarão o aparecimento de fluxos comerciais, demográficos, financeiros, culturais e
religiosos. Com isso, esses fluxos desencadearão a formação da periferia essencial para
a formação da região polarizada defendida por Perroux (1967).
No entanto, para se falar em termos de região polarizada, precisamos definir sua
solidificação, ou seja, quais os elementos que a induzem a sua formação ou
dinamização, compostos a partir da discussão das teorias de localização
(...) se estruturam, essencialmente, na interpretação das decisões empresariais,
e numa economia de mercado, sobre o melhor sítio onde localizar-se. Estas
decisões visam a minimizar os custos operacionais e, fundamentalmente, os
custos de transporte das matérias-primas e do produto final até o mercado
consumidor, ou então maximizar o lucro. (FERREIRA, 1989, p.67).
Atualmente, quando se coloca em discussão a presença dos elementos que
condicionam a formação de uma região polarizada, não podemos esquecer os
condicionantes favoráveis voltados para a participação do setor público, ou seja, o
Estado atuando principalmente na concessão de infra-estrutura, incentivos fiscais e
financiamento, contribuindo para desenvolvimento do pólo caracterizando a
relocalização industrial.
No próximo item, a partir de uma abordagem mais recente das políticas
desenvolvimento de atuação do capitalismo no espaço nordestino, ancorado pela noção
da formação de pólos de crescimento e seus resultados na conjuntura presente,
tentaremos conceituar suas decorrências para o Ceará, enquanto realidade em que se
insere o estudo de caso aqui em questão.
3. TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS E ALTERAÇÃO DA DINÂMICA DE
OCUPAÇÃO DO ESPAÇO PELA ATIVIDADE ECONÔMICA NO ESTADO DO
CEARÁ A PARTIR DE DÉCADA DE 1980.
É no final dos anos de 1980, que se verifica no país uma mudança na
conjuntura ocasionada pelo processo de globalização e mundialização dos mercados,
que também passa a afetar as economias regionais. Dada as particularidades do estudo
de caso de polarização do presente trabalho, dentro do contexto de economia regional
que por muito tempo esteve condicionada aos determinantes da ação governamental
através da Superintendência para o Desenvolvimento Regional – SUDENE, é relevante
abordar estes efeitos conjunturais em âmbito de políticas de desenvolvimento
econômico, dentre eles, o caso cearense, que é afetado pelas especificidades implicadas
por este processo.
A partir de meados da década de 1980 se avança definitivamente no
esvaziamento da referida Superintendência bem como nos instrumentos de ação de uma
política que incluísse a dimensão espacial nas preocupações com o desenvolvimento
(CANO, 2008). Este fato tem suas ligações com a crise de endividamento ocasionada
pelos estrangulamentos no balanço de pagamentos iniciados em fins dos anos 1970 e se
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estende durante toda a década seguinte, de estagnação e recorrente inflação. As políticas
e intervenções governamentais passam a priorizar o ajuste macroeconômico, inexistindo
qualquer possibilidade de uma política de desenvolvimento. Tal fato é reproduzido para
a questão espacial e/ou regional.
Desta forma, no caso nordestino, a dinâmica associada a qualquer ação se
voltaria para os efeitos ainda das fases da SUDENE que implicara certo avanço na
atividade produtiva, principalmente na sua indústria. Mesmo assim, tais efeitos
positivos não se generalizaram para todos os campos e, em alguns casos, implicou na
consolidação de diferenças intra-regionais. Para Diniz (2004) a maior parte dos
benefícios de ação da Superintendência se localizou mais nas regiões metropolitanas
como Salvador, Recife e Fortaleza intensificando o processo de polarização destas
respectivas regiões sobre todo o Nordeste.
No caso cearense, o direcionamento foi dado para a modernização de atividades
tradicionais nos setores têxtil, alimento e bebidas e com a implantação ainda em fins dos
anos 1970 do III Pólo Industrial do Nordeste, localizado na Região Metropolitana de
Fortaleza – RMF.
Na ausência de uma política específica de desenvolvimento regional, a partir dos
anos 1990, passa a ser adotado o instrumento de concessão de incentivos fiscais por
Estados e municípios não só do Nordeste, mas em todas as unidades da federação. Nesta
região os efeitos serão mais significativos dadas a permanência de seu relativo atraso
bem como a continência avidez na adoção deste instrumento. Tal situação consolida
aqueles espaços já tidos como dinâmicos, exercendo função de pólos em relação às suas
respectivas periferias.
Vale ressaltar a existência de um debate ferrenho sobre a concessão dos
incentivos fiscais que embora não seja objeto de estudo do presente trabalho, está
situado na discussão dos elementos que potencializam a constituição de pólos de
desenvolvimento regional. Cavalcante (1998) considera este instrumento “‘a pior
alternativa possível para a intervenção do setor público no processo de inversão
privada’, pois as suposições necessárias para um território obter ganhos reais com essas
políticas seriam‘heróicas’ e irreais”. (CAVALCANTE 1998, p.42). Já autores domo
Amaral Filho (2003) fazem parte de grupos que propõem confrontar ganhos e perdas da
adoção dos incentivos fiscais além de sistematizar acompanhamentos caso a caso,
balizando a adoção ou não da concessão.
Em termos de polarização, para Araújo (1998) os investimentos atraídos pela
concessão de subsídios fiscais consolidarão o que a autora define como ilhas de
prosperidades. O destaque dado por ela à região está nos casos do pólo petroquímico de
Camaçari na Bahia, de minério de ferro em Carajás, de fruticultura em Petrolina e
Juazeiro no Vale do São Francisco.
Para o Ceará de acordo com dados do IPECE, entre 1987 e 2001 foram atraídas
por meio de incentivos fiscais e financeiros, cerca de 309 novas indústrias, pertencentes,
principalmente, aos setores coureiro-calçadista, têxtil, metal mecânico, de confecções e
de alimentos. As regiões mais beneficiadas com esta atração foi a Região Metropolitana
de Fortaleza com 55,9% das indústrias atraídas e, em segundo lugar, o Cariri, com
11,6%. (MORAIS E RODRIGUES, 2007, p. 201), sendo as duas principais regiões
econômicas cearenses nesta etapa.
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4. A REGIÃO DO CARIRI: A FORMAÇÃO DO SEU ESPAÇO POLARIZADO
NOS MUNICÍPIOS DE CRATO, JUAZEIRO DO NORTE E BARBALHA.
4.1. Caracterização da área de estudo
Os municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha formam o Triângulo
CRAJUBAR e estão situados na Região do Cariri cearense, que é definida como uma
das regiões pólo do Estado do Ceará, localizada no sul do Estado. Constitui-se no pólo
central da recém criada Região Metropolitana do Cariri – RMC (Lei Complementar
Estadual 78/2009, Mapa em Anexo)1.
O município do Crato possui uma área total de 1.117,5km2, densidade
demográfica de 94,05 hab./km2. Sua distância em relação à capital do Estado é de
402,4km. A cidade é conhecida como um dos pólos de cultura popular e artesanal. As
principais culturas produtivas que deram prosperidade ao Crato na sua constituição
histórica foram a cana-de-açúcar, o algodão e o gado.
O município de Juazeiro do Norte apresenta uma área total de 235,4km2,
densidade demográfica de 1.006,91 hab./km2. Diferentemente dos seus vizinhos,
Juazeiro do Norte possui um diversificado parque industrial, seu comércio é dinâmico,
devido principalmente às romarias associadas à figura do Padre Cícero, que trazem para
o município um elevado número de pessoas. Outro aspecto que caracteriza as atividades
econômicas deste município é a forte presença de atividades informais também ligadas à
realização das grandes romarias bem como do comercio varejista.
Já o município de Barbalha possui uma área de 451,9km2 e densidade
demográfica de 92,31 hab./ km2, sendo o menor dos três municípios em análise.
Concentra-se nesse município uma agroindústria de cana-de-açúcar, que se destaca não
só pela produção de açúcar e aguardente, mas também pelo potencial diversificado nas
áreas de sucos, doces. Após a vinda de empresas incentivadas, seu parque produtivo
teve crescimento nos setor de calçados.
A Tabela 1 apresenta, com base em dados do IPECE (2007), alguns indicadores
populacionais e sociais dos três municípios:
Tabela 1 - Indicadores populacionais e sociais dos municípios de Crato, Juazeiro
do Norte e Barbalha (2010).
Tx. urbani Mort. Infantil Tx. de Analf.
IDH** PIB per
Cidades População Densidade
Demográfica zação (%)
121.428
Crato
Juazeiro do 249.939
Norte
55.323
Barbalha
(mil nascidos) Funcional*
capita***
94,05
1.006,91
80,19
96,07
21,5
13,6
14,96
16,21
0,716
0,697
8.060
5.569
92,31
68,73
17,4
18,69
0,687
5.528
Fonte: Elaboração própria a partir IPECE (2011)
*15 anos ou mais
** para o ano de 2000.
*** para o ano de 2009
Em termos populacionais o pólo regional formado pelos municípios do triângulo
CRAJUBAR, possui uma população de 403.723 habitantes. Trata-se da formação de um
aglomerado urbano conurbado, sendo Juazeiro do Norte a cidade mais populosa
conforme apresentado. Um dos aspectos determinantes para o processo de polarização
1
A Região Metropolitana do Cariri é formada pelos três municípios em questão e seus municípios
limítrofes, Jardim, Missão Velha, Caririaçu, Farias Brito, Nova Olinda e Santana do Cariri.
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está no elemento populacional, visto que manifesta através do aumento de migrantes
que flui para determinado espaço, a sua capacidade de atração de fatores de produção.
(LUMBABO, 2007).
No que concerne aos indicadores sociais acima apresentados, o menor
município em população, Barbalha, é o que apresenta indicadores mais aviltantes: salvo
o caso das Taxas de Mortalidade Infantil, em que o Crato tem a taxa mais elevada,
Barbalha possui maior analfabetismo e menores IDH e PIB per capita, refletindo
características de município ainda em processo de evolução dos seus indicadores,
resultado das transformações econômicas e de políticas públicas que têm no perfil desta
realidade uma resposta mais retardada.
Juazeiro do Norte, município com maior peso econômico do aglomerado, tem a
menor Taxa de Mortalidade Infantil (13,6 em cada mil nascidos vivos), e Crato possui a
pior situação (21,5). Já com relação ao nível de Analfabetismo Funcional a situação é
inversa, como o município de Crato e destacando com a melhor taxa: uma taxa de
analfabetismo acima de 15 anos em torno de 14,96% seguido por Juazeiro do Norte,
com 16,21%. Esses indicadores podem refletir as demandas de que em geral apresentam
municípios mas diversificados em termos de atividades econômicas, principalmente no
setor de serviços, requerendo níveis educacionais mínimos.
O município do Crato dispõe do melhor IDH, 0,72, Juazeiro do Norte com 0,70
e Barbalha com 0,69. Em termos de renda per capita a cidade que tem a pior posição é
Barbalha, com R$ 5.528, seguida pelo Crato com R$ 5.569. Mas a maior renda per
capita na região pólo do Cariri é Juazeiro do Norte com R$ 8.060, um PIB per capita
maior que o nível estadual, de R$ 7.112. Isso favorece a ideia de constituição de um
pólo dentro do aglomerado. Ou seja, a cidade com maior população, densidade
demográfica, nível de urbanização e renda per capita apresenta os melhores indicadores
econômicos, embora isso não se reflita nos indicadores sociais.
Alguns aspectos da caracterização física dos três municípios contribuem para a
consolidação de um processo de polarização. Dentre tais características está a
localização geográfica, encravada em porção centro-nordestina cujo perímetro está
eqüidistante das principais capitais dos Estados do Nordeste. (LIMA, 2005). Tal fato
estabeleceu a construção de uma infra-estrutura de ligação por terra permitindo conexão
também com os demais centros urbanos do Nordeste facilitando fluxos de produção
intra-regional.
4.2. Formação de um espaço polarizado na Mesorregião Sul Cearense: os
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.
As preocupações com o desenvolvimento da Região do Cariri, mais
precisamente com os municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha bem como seu
destaque enquanto pólos regionais da economia cearense não são recentes (AMORA,
2007). Mesmo presente desde a própria ocupação cearense com as entradas
possibilitadas pela pecuária extensiva, é durante a década de 1960 que as atividades
urbanas dessa região começam a ter maior dinamismo, principalmente com base no
beneficiamento de produtos primários, como o algodão.
Em termos de políticas de desenvolvimento regional, a Região do Cariri teve a
experiência ainda nesta década com a implementação do projeto Asimow com a
participação da SUDENE em uma parceria do Governo do Estado do Ceará, a
Universidade Federal do Ceará – UFC, Universidade da Califórnia – UCLA. Esta
iniciativa teve o financiamento do Banco do Nordeste do Brasil – BNB com apoio do
Banco Estadual do Ceará. (OLIVEIRA, 1999). O projeto tinha o objetivo promover a
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industrialização no interior do estado do Ceará como forma de erradicar a pobreza e o
desemprego. Consistia em um plano de ação universitária em regiões menos
favorecidas, situadas no interior através da utilização dos recursos financeiros e
humanos provenientes da própria região (OLIVEIRA, 1999, p. 47). No caso dos
municípios do Triângulo CRAJUBAR, foram implantadas as indústrias de cimento,
cerâmica, fundições, rádio, revelando já neste momento o caráter diferenciado de suas
economias e as possibilidades de encadeamentos a partir destas instalações. A
prioridade estava em dar condições de dinamização da construção civil motivado pelo
crescimento populacional observado neste período.
Segundo Oliveira (1999), grande parte dos empreendimentos motivados pelo
Projeto Asimow deixam de atuar ainda em fins dos anos 1970, permanecendo ainda os
setores de cerâmica que vão até a década de 1990 e a indústria de cimento, funcionando
até os dias atuais. Mesmo assim, a partir da Tabela 2 é possível vislumbrar que durante
os anos de vigência dos principais empreendimentos advindos do Projeto Asimow,
houve dinamismo com maior destaque para os setores industriais. O caso da indústria de
transformação nos municípios de Juazeiro do Norte e Crato são os mais notáveis.
Tabela 2 – PIB municipal dos principais setores de atividade econômica dos
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha (mil R$) 1970 – 1990.
Setores
Localidade
Indústria da
Crato
Construção
Juazeiro do Norte
Civil
Barbalha
Indústria de
Crato
Transformação Juazeiro do Norte
e Extrativa
Barbalha
Mineral
Serviços
Crato
Industriais de
Juazeiro do Norte
Utilidade
Barbalha
Pública
Fonte: Compilado de LIMA (2005, p 56)
1970
1.436,13
2.494,95
6.633,51
10.595,81
24.567,32
7.114,73
1975
3.351,54
5.894,51
1.500,63
20.993,86
49.115,84
8.980,91
1980
8.079,53
14.385,42
3.671,87
44.063,32
71.120,13
37.214,03
1985
6.882,68
12.487,07
2.502,90
29.234,96
53.396,32
25.980,07
1990
12.996,14
16.794,53
3.735,60
6.132,16
23.581,10
13.581,10
1177,64
1.532,85
416,29
1.666,19
2.632,99
492,37
2.718,86
3.212,10
2.280,58
2.650,75
4.018,76
2.715,30
1.381,90
3.576,05
1.621,69
A diferenciação econômica dos três municípios é evidenciada já na década de
1970 e, por isso, já se constituindo como um pólo regional. A partir de então, tal
característica só se amplia como resultado não só desta dinâmica diferenciada de
polarização das atividades econômicas, com base na indústria de transformação, mas
fundamentalmente como resultado de ação de programas e projetos de desenvolvimento
regional. Estes, conforme tratado anteriormente, referem-se a ações específicas como o
caso do Projeto Asimow, ou ainda da ação desenvolvimentista maior impulsionada pela
SUDENE e complementada por programas estaduais.
A evolução do PIB no período de 1970 a 1990 evidencia também um verdadeiro
processo de reestruturação observado em vários aspectos. Dentre eles pode-se destacar a
reversão do setor da construção civil no município de Barbalha que em 1970 era o
maior dos três municípios e já em meados da década sofre uma regressão. Dentre os
possíveis motivos para tanto está o crescimento urbano estimulando o setor imobiliário
a partir de então em Crato e Juazeiro do Norte.
Já a indústria de transformação apresenta seu auge neste período no ano de 1980
para os três municípios. É quando o movimento de retrocesso na economia brasileira
começa afetar as economias regionais. No Estado do Ceará este movimento é
acompanhado pelas mudanças no âmbito político que irão afetar a condução das
políticas econômicas, conforme observado anteriormente. Durante este auge em fins dos
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anos 1980, a indústria de transformação cresce mais devido a consolidação da vocação
calçadista que mais tarde será a vedete do programa de interiorização de investimentos
implementado com maior vigor na década de 1990.
Entretanto, a situação começa a se alterar já em meados dos anos 1980 em
virtude da desarticulação dos investimentos realizados, bem como dos instrumentos de
política de desenvolvimento da indústria local.
Conforme visto na seção anterior, face ao conjunturalismo e as preocupações
com as variáveis macroeconômicas, a década de 1980 será caracterizada pela extensão
da crise de econômica à região, comprometendo a capacidade de se pensar uma política
de desenvolvimento nos moldes da integração concretizada na experiência do Projeto
Asimow.
É quando se consolida a mudança no paradigma de gestão administrativa em
âmbito do governo estadual com a instauração de um novo grupo político no comando.
Tal grupo havia iniciado sua organização ainda em meados da década de 1970, dentro
do Centro Industrial do Ceará – CIC (PARENTE 2002). A sua característica
fundamental é a sintonia com o processo de modernização administrativa e econômica
dando início a uma etapa que será denominada por Parente (2002) de “Era Jereissati”,
por ter como primeiro governador o empresário Tasso Jereissati. O novo paradigma de
governo terá continuidade por mais de duas décadas com gestões de mesma inspiração,
consolidando, portanto as formas e instrumentos de gestão. Estas foram marcadas
inicialmente por uma organização fiscal e financeira pública, permitindo a posterior
retomada de ações objetivando o crescimento econômico.
É na implantação da segunda fase, ainda em fins dos anos 1980 que se avança na
prática de uma seqüência de programas para promoção da atração industrial com
prioridade na interiorização do desenvolvimento (LIMA, 2005). No contexto desta
política, os municípios pólo do Cariri, Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha serão
beneficiados por um conjunto de incentivos fiscais conhecido por Programa de
Incentivo ao Funcionamento de Empresas – PROVIN, por se enquadrarem na faixa de
concessão máxima devido a distância acima de 400 km da capital, conforme
detalhamentos em Anexos 2 e 3. Embora não seja objetivo direto deste trabalho, vale
ressaltar que este programa converge para a conhecida guerra fiscal entre as unidades da
federação, dada a ausência de uma política de desenvolvimento regional bem definida.
(CANO, 2008).
Mesmo assim, a realização de investimentos com base nestas medidas viabilizou
a implantação de indústrias que intensificaram o caráter de polarização pré-existente nos
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.
A Tabela 3 mostra a evolução no número de estabelecimentos industriais nos
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, no período de 1995 a 2003. Com
isso, além da trajetória do PIB até os anos 1990, evidenciado na Tabela 2, agora é
possível analisar tal dinamismo com o número de estabelecimentos industriais que vem
caracterizar o peso desses setores na região ou mesmo uma perspectiva de vantagens
comparativas. Estes números também confirmam a preeminência do município de
Juazeiro do Norte como um pólo dentro do pólo maior formado pelos três municípios.
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Tabela 3 – Estabelecimentos Industriais nos municípios de Crato Juazeiro do
Norte e Barbalha, 1995- 2010.
CRATO
1995
3
168
171
Estabelecimentos
Extrativa Mineral
Const. Civil
Util. Pública
Indústria de Transformação
Total
2000
2
1
1
202
206
2005
1
40
2
141
184
2010
2
24
2
183
211
1995
6
1
524
525
2000
8
764
772
2005
1
81
1
575
658
2010
3
104
1
811
919
1995
1
58
2000
1
81
2005
1
11
49
2010
3
14
70
59
82
61
87
JUAZEIRO DO NORTE
Extrativa Mineral
Const. Civil
Util. Pública
Indústria de Transformação
Total
BARBALHA
Extrativa Mineral
Const. Civil
Util. Pública
Indústria de
Transformação
Total
Fonte: Elaboração própria a partir de IPECE (2011)
Como mostrado na tabela acima, o setor que apresentou um número maior de
estabelecimento no triângulo CRAJUBAR foi a Indústria de Transformação que em
1995 possuía 750 elevando-se para 1.076 estabelecimentos em 2010. Vale salientar que
apenas Juazeiro do Norte como cidade pólo foi a que teve um crescimento expressivo
com 287 estabelecimentos entre 1995 e 2010. No entanto, o setor da Construção Civil
que não aparecia nas estatísticas em 1995 em número de estabelecimentos, em 2000
aparece com 9 unidades e em 2010 com um crescimento significativo, indo para 142
estabelecimentos nas três cidades. Isso pode estar associado diretamente ao movimento
de urbanização que ocorre com destaque para o crescimento das cidades médias,
associado à desconcentração populacional em relação às grandes metrópoles. Ademais,
investimentos decorrentes de programas de habitação governamentais como o “Minha
Casa, Minha Vida”, do Governo Federal contribui pesadamente para este dinamismo.
O município do Crato tem no seu conjunto em número de estabelecimentos o
destaque para a Indústria de Transformação no período entre 1995 a 2010. Há uma
pequena elevação neste setor do município: de 168 estabelecimentos em 1995 amplia-se
para 183 no último ano. Por outro lado, Crato apresenta uma expansão significativa no
número de estabelecimento da Construção Civil, passando de zero estabelecimento em
1995 para 24 em 2010. Já a Indústria de Extrativa mineral que tinha 3 estabelecimentos
reduz para 2.
Para o município de Juazeiro do Norte, além da estabilidade no crescimento da
Indústria de Transformação, há destaque para o setor da Construção Civil, que passa de
6 estabelecimentos em 1995, para 104 no final de 2010. Sendo o município de maior
densidade demográfica, provavelmente tal fato pressiona o crescimento da demanda nos
setores de construção em decorrência de demandas da estrutura urbana de habitação e
também aos efeitos de programas de acesso à moradia, segundo mencionado acima para
os três municípios.
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O número de estabelecimento em Barbalha relacionando os três setores
observados expõe uma elevação no setor da Indústria de Transformação que em 1995
era de 58 estabelecimentos, elevando-se para 81 em 2000, logo depois caindo para 70
estabelecimentos em 2010. Isso demonstra a ausência de um padrão estável de
crescimento para o setor no município que muito se beneficia das externalidades
resultado da proximidade dos outros dois, além de ser beneficiado pela política de
atração indústria.
Apontando para a relevância exercida pelos municípios em análise e sua relação
de polarização em relação à Mesorregião Sul Cearense, o Gráfico 1 a evolução do PIB
das cinco Microrregiões que compõem esta Mesorregião2. Além de partir de um nível já
mais elevado em relação às demais, a Microrregião Cariri, onde se localizam os
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, possui dinâmica expansiva durante
todos os anos.
Gráfico 1 – Mesorregião Sul Cearense: Evolução do PIB (a preços constantes) por
Microrregião (1999-2009)
Fonte: IBGE (2010)
Para corroborar na exposição dos elementos que contribuem para a formação de
um espaço polarizado nestes três municípios da Região Metropolitana do Cariri, é
necessária a exposição de elementos sobre o mercado de trabalho dos principais setores
da atividade. Assim sendo, a Tabela 4 demonstra o desempenho do número de
empregos das principais atividades econômicas para os três municípios. Conforme se
observa, a totalidade de empregos formais chega a 65.315 empregos em 2010. No
entanto, este número subestima as verdadeiras condições do mercado de trabalho
principalmente em Juazeiro do Norte por não considerar a informalidade intensa neste
município, conforme já destacado na caracterização da área de estudo. Seu efeito de
polarização sobre as demais regiões vizinhas é efetivado justamente nas atividades
2
A Mesorregião Sul Cearense é composta pelas seguintes Microrregiões e respectivos municípios:
Chapada do Araripe (Araripe, Assaré, Campos Sales, Potengi e Salitre), Caririaçu (Altaneira, Caririaçu,
Farias Brito e Granjeiro), Barro (Aurora, Barro e Mauriti), Cariri (Barbalha, Crato, Jardim, Juazeiro do
Norte, Missão Velha, Nova Olinda, Porteiras e Santana do Cariri) e Brejo Santo (Abaiara, Brejo Santo,
Jati, Milagres e Penaforte).
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informais dadas a atração exercida tanto no seu comercio quanto nas atividades
relacionadas às romarias.
Tabela 4 - Número de empregos criados nos setores dinâmicos nos municípios de
Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha (2007/2010).
Discriminação
Crato
Juazeiro do Norte
Barbalha
2007
2010
2007
2010
2007
2008
Extrativa Mineral
114
64
34
44
29
34
Indus Transformação
3.830
4.571
8.375
10.244
1.921
2.974
Ser. Ind. Util. Pública
49
78
253
384
2
2
Construção Civil
138
548
1.179
1.732
82
100
Comercio
2.675
3.536
7.534
10.666
650
949
Serviços
3.670
4.241
6.203
8.064
1.482
1.771
Administ. Pública
2.226
2.322
5.891
8.364
1.647
1.561
Agropecuária
73
80
5
8
86
TOTAL
13.175
16.440
29.469
39.503
5.821
7.477
Fonte: Construção própria a partir de RAIS-MTE (2007/2010).
Outro aspecto evidenciado está nos setores mais dinâmicos nos três
municípios: o setor que apresenta um maior número de empregos é a Indústria de
Transformação tanto em 2007 (14.126 empregos) quanto em 2010 (17.789 empregos).
Entre este pequeno período, o município que teve melhor desempenho neste setor foi
Juazeiro do Norte, com um crescimento de 1.869 unidades de trabalho, ou seja, um
crescimento de quase 25,9%. Embora a Indústria de Transformação tenha apresentado
bom desempenho, é o setor de Comercio que tem evolução de destaque: com 7.534
empregos em 2007 e 10.666 em 2010 ampliando o número de empregos em 3.132
postos significando um aumento de 41,47%. Acompanhando a dinâmica de setores que
crescem como consequência desse dinamismo de polarização urbana, outro setor
importante é o de Serviços com um aumento de 1.858 empregos, ou seja, 30%, tendo
alcançado 6.203 empregos em 2007 ampliando para 8.064 em 2008. O aquecimento do
consumo associado à relativa melhora do poder de compra, à elevação dos níveis reais
de rendimento da população e à retomada do crédito ao consumidor são elencados como
possíveis causadores destes avanços.
No que se refere a crescimento, se destacaram ainda os setores da Construção
Civil, com destaque para Juazeiro do Norte. A especulação imobiliária resultado da
intensa ação pública em investimentos de infra-estrutura e melhoria de serviços têm sido
responsável por este dinamismo. Além de construção do Hospital Regional de grande
porte, espaço para eventos e central de abastecimento, houve no ano de 2006 a
instalação de um campus avançado da Universidade Federal do Ceará – UFC, bem
como ampliação da rede de Ensino Superior privada e pública já instalada
anteriormente. A maior parte destes empreendimentos está presente em Juazeiro do
Norte, o que pode justificar o comportamento da Construção Civil.
É importante destacar que embora o processo de polarização que ora busca-se
demonstrar para os municípios do Triângulo CRAJUBAR em relação a todo o Cariri
esteja ligado às atividades de caráter urbano, existem ainda a presença de atividades da
agropecuária nos municípios de Crato e Barbalha sendo que no primeiro caso nos
deparamos com um crescimento de mais de 170%. A explicação para este desempenho
está no desenvolvimento de algumas ações voltadas para o campo a partir do Programa
Agropólos da Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará. Ademais, o município de
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Crato dispõe de uma extensa área rural com terras férteis adequadas às culturas do feijão
e hortifrutigranjeiros.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O objetivo deste artigo foi estudar a formação do espaço polarizado na Região
do Cariri cearense a partir da dinâmica dos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e
Barbalha, que formam o Triângulo CRAJUBAR. Esta discussão se situa no resgate da
preocupação com a ocupação diferenciada do espaço pelas atividades econômicas, que
vem de certa forma norteando no debate das inquietações com o desenvolvimento
regional.
Observou-se, com base na discussão teórica que uma região polarizada é
formada e caracterizada pela diversidade de seus elementos que assumem determinada
organização a partir de um centro ou pólo dominante fomentando o surgimento
gradativo de fluxos comerciais, demográficos, financeiros, culturais e religiosos. Tais
fluxos ocasionam a formação da periferia essencial para constituição da região
polarizada.
Com referência ao estudo de caso, pode-se observar um dinamismo diferenciado
na economia dos três municípios que datam já de fases da sua própria formação
econômica. Mas é a partir da década de 1970 que podem ser percebidas com mais
afinco o processo de polarização nos três municípios estudados. Embora não utilizando
comparação com a dinâmica de regiões vizinhas, a extensão do crescimento de Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha foram percebidos na evolução de suas principais
atividades econômicas que os tornam o segundo maior centro populacional e econômico
do Ceará, com aproximadamente 500 mil habitantes sendo a maior parte residente em
Juazeiro do Norte. Este município apresenta alguns contrates: além de apresentar maior
população, possui o maior PIB per capita, justaposto à maior mortalidade infantil e
menor IDH dos três.
A atividade que impulsiona o processo de polarização, além dos setores de
serviços atinentes a qualquer avanço de urbanização, é a Indústria de Transformação.
Embora beneficiado por uma série de ações governamentais priorizando a
atração/interiorização do desenvolvimento industrial via incentivos fiscais, este setor foi
constante gerador de empregos nos três municípios e, conforme observado, em 2008 foi
responsável pela geração de 21.713 empregos formais, que equivale a 33% dos
empregos gerados nos três municípios. Considerando que a maior parte demais 23
municípios que compõem a Mesorregião Sul Cearense têm em média uma população de
20.000 habitantes, este número de empregos ajuda a demonstrar o processo de
polarização vivenciado por Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.
Embora haja a necessidade de estudos mais amplos com comparativos
aprofundados com os espaços e Mesorregiões vizinhas, pode-se concluir que há uma
dinâmica diferenciada nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, fazendo
que exerçam polarização não apenas nos limites da Mesorregião Sul Cearense mas
também em regiões lindeiras a ela, a partir de sua diversificação econômica.
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Anexos
Anexo 1 – Mapa dos municípios que compõem a Região Metropolitana do Cariri –
RMC, com destaque para seus municípios pólo.
Fonte: IPECE e IBGE
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